COM MEUS BOTÕES...
Criação e colaboração
do Diácono José da Cruz - Votorantim-SP - Diálogos
do sonhador - O Dreamer - com o velho e sábio botão
- O Marechal.
Índice desta página:
. VIDA & FLORES
. SALVANDO UMA VIDA
. VALENTE SOLDADO
. CARIDADE VICENTINA
. INGRATIDÃO
. PIERRÔ E COLOMBINA
. O MORTO
Hoje pela manhã avivou-se em meu pensamento
uma lembrança do último outono, onde aprendi mais
uma sábia lição, que vale a pena recordar:
Ainda de longe, quando se embica para os lados
da Barra Funda, nesse mês de agosto, logo após o Clube
Atlético, avista-se lá em cima, próximo ao
cemitério, na Avenida Santo Antonio, o amarelo de um ipê
magnificamente florido. Todos os dias a sua beleza exuberante me
chama a atenção, e em certa tarde ao chegar em casa,
peguei a máquina digital e convidei o meu Botão:
___Vamos Marechal, que hoje quero fotografar aquela
belezura, que todo dia avisto ali da curva, quando venho para casa!
O Velho Botão, demonstrando muita alegria,
foi logo pulando na beira do bolso da minha camisa, concordando
imediatamente:
___Fotografar algo belo da natureza nos dá
grande alegria e faz bem a alma e ao coração---exclamou.
Em poucos minutos chegamos bem perto do ipê,
carregado de flor, que forrava de amarelo todo o chão ao
seu redor, sobre o canteiro e a avenida pavimentada com lajota.
___Repare
bem, como a natureza não tem vaidade --- filosofou meu Botão
---depois de ostentar por alguns poucos dias toda a sua exuberante
beleza, as pétalas humildes não se recusam a cair
ao chão, onde irão secar e morrer.
Ouvindo a filosofia do Botão, e após
ter reparado no grande volume de folhas no chão, algumas
secas e outras pisoteadas, eu me preparava no meio da rua para tirar
mais uma foto no “capricho”, quando apontou um cortejo
fúnebre subindo lentamente, em frente a escola “Pereira
Inácio’.
___ Veja Botão, um enterro! – exclamei,
apontando para baixo e tirando o boné da cabeça.
Marechal ficou observando o enterro que se aproximava
e depois que passou o último carro, voltou-se para o Ipê
florido e arrematou:
___Na exuberância e beleza de suas flores,
que duram pouco e logo desfalecem ao cair por terra, esse Ipê
consola os passantes do cortejo fúnebre ao lembrar-lhes que,
a semelhança de suas flores, essa vida, com todo o seu encanto,
apesar de muito bela, é efêmera e passageira.
O Dreamer
SALVANDO UMA VIDA!
___Veja Marechal, a ousadia e a determinação
desses dois policiais, que na última sexta feira, jogaram-se
nas águas do rio, para prender um infrator da lei.
O Velho Botão interrompeu a meditação
que fazia, sentou-se na beira do bolso e inteirando-se do assunto:
-comentou:
___Esses policiais são heróis, pois
salvaram a vida desse moço!
Fiquei pasmo e imaginei por momentos que o Velho
Botão Filósofo havia perdido a lucidez. “Credo!
Será que a caduquice também afeta botão velho?”
–pensei, e em seguida expliquei:
___Olha meu Botão, acho que você
não entendeu o espírito da coisa! Esse moço
não foi salvo coisa nenhuma, ele é um trombadão,
uma pessoa má, que cometeu um delito e tentou fugir jogando-se
nas águas do rio.
___Discordo com veemência! – disse
o Botão, erguendo a mão e pedindo um aparte ---- Ele
não pode ser mal já que é imagem e semelhança
do Criador!
Quase dei uma gargalhada de sarcasmo:
___Roubando a bolsa de uma senhora, com todos
os seus pertences? Acho que ele está mais é para imagem
e semelhança do capeta, isso sim! --- exclamei, desabafando
a minha indignação.
Acometido de uma crise de tosse, Marechal não
se deu por vencido:
___Deus não criou o mal, mas o bem, não
criou a feiúra da imperfeição, mas a beleza
das virtudes.Todo ser humano é originalmente bom e perfeito,
criado para viver o bem e ser feliz.
___Está certo Marechal, mas parece que
esse moço não sabe disso, pois fez uma má ação.
O Velho Botão, fazendo um ar de vitorioso,
arrematou o debate.
___Agora
sim, você usou a expressão correta, ele cometeu uma
ação má, o mal tem a força de uma correnteza
que nos arrasta para a profundidade sinistra de águas turvas.
Em um combate heróico o PM derrotou o Mal presente no coração
do delinqüente juvenil ao arranca-lo das águas, mostrando-lhe
o poder da força do bem. Uma vez na prisão, ele terá
tempo para refletir e redescobrir, quem sabe, o bem presente nele,
mudando sua atitude no relacionamento com o próximo. Deus
é Poderoso !
O Dreamer
VALENTE SOLDADO
___Veja meu Botão, quem vai ali! É
o Reniéri, PM aposentado, que até hoje mantém
a mesma valentia e firmeza, daquele soldado dos anos 60, que trabalhava
na pequena cadeia do saudoso Jardim Bolacha, e com seu jeito de
soldado alemão, daqueles brabos, metia medo em todos nós,
moleques que fazíamos nossas traquinagens.
O Velho Botão bateu os olhos no homem que
caminhava lentamente, mas muito firme, empurrando um velho carrinho
carregado com coisas que ele considera úteis, e comentou
em sua profunda filosofia:
___Eis aí um homem, que apesar de ser de
linha dura, não consegue esconder nesses olhos azuis, toda
a bondade que traz em seu coração!
___Ah, isso é verdade! --- exclamei, lembrando-me
de uma história que meu pai contava...de que em certa ocasião,
em uma gelada manhã de inverno, dos anos 60, ao chegar na
pequena delegacia o Delegado foi surpreendido naquela manhã,
ao flagrar um preso, detido por bebedeira, dormindo tranqüilamente
em uma cama do alojamento, enrolado em um cobertor.
O soldado Reniéri acordou assustado, praguejando
contra o relógio despertador que não funcionara, possibilitando
o flagra do “Doutor”. “Mas o que é que
está acontecendo aqui?” Perguntou o Delegado, com seu
vozeirão indignado, assustando ainda mais o soldado Reniéri,
plantonista daquela noite.
“Olha Doutor, perdoe-me, mas é que
me senti incomodado, por estar dormindo aqui no quentinho da cama,
enquanto esse pobre diabo não parava de tremer nessa cela
fria, foi uma noite braba dotor, até gear geou, e então
fiquei com dó e chamei ele pra vir dormir aí nessa
cama” – explicou o soldado.
E pouco depois, enquanto trancava novamente o preso
no Xadrez número 1, o soldado Reniéri deu uma “piscada”
dizendo “De noitão você volta pra cama quentinha,
o Dotor é bão, e não há de ficar bravo”.
Findo a narrativa o Velho Botão sorriu todo
satisfeito, encerrando a nossa conversa, enquanto o Reniéri
dobrava a esquina:
___Não
falei? A Bondade torna as pessoas sábias, Reniéri
não anda por aí sem rumo, meio perdido, como alguns
podem pensar, pois enquanto caminha, ele mantém sempre ocupada
a mente, o corpo e o coração, onde nutre esse devotado
amor, aos familiares e ao próximo. Vida longa ao valente
soldado Reniéri!
O Dreamer
CARIDADE VICENTINA
Olhando para uma mulher de vestido surrado e chinelo
de dedo, que na porta da igreja aguardava impaciente para pegar
uma cesta básica, com um vicentino que fazia o atendimento
aos carentes naquela manhã de domingo, comentei com o meu
botão pensador;
___Olha Marechal, esta mulher espera com certa
ansiedade pelo momento da entrega da cesta, ela está cabisbaixa
e parece trazer uma certa tristeza no olhar.
O Velho Botão olhou para a senhora que
eu falara e argumentou:
___De fato ela tem o olhar triste por causa da fome, da dor e do
sofrimento que a carência tem causado em sua família,
se ela não contar com a caridade vicentina, com certeza a
sua dor poderia ser ainda maior.
Refletindo sobre o que o Botão havia dito,
resolvi retrucar, levando o debate adiante;
___Marechal, você falou em caridade, mas
há muitos que definem esse trabalho vicentino, como um assistencialismo
dentro da igreja, uma espécie de filantropia.
O Velho Botão ajeitou os óculos que lhe caiam na ponta
do nariz, e acometido de uma crise de tosse que demonstrava indignação,
respondeu com severidade:
___Pois estão muito enganados os que pensam
assim, o que os vicentinos praticam, é a verdadeira caridade
cristã.
___Mas Marechal há um cem números
de entidades sociais de fins filantrópicos, que fazem o mesmo,
através de campanhas que arrecadam mantimentos ou agasalhos,
que são destinados aos mais carentes.
___Sem
dúvida alguma, todas essas instituições fazem
um bem enorme atuando dentro dos princípios da filantropia,
promovendo ações que não passam despercebidas
diante de Deus --- disse o Botão, enquanto descia ao fundo
do bolso, de onde já acomodado fez a conclusão;
___ Os Vicentinos realizam esse trabalho em nome
de Cristo, com aquele mesmo espírito de São Vicente,
que os inspira nessa obra, e de Frederico Ozanan, o fundador dessa
importante associação religiosa, que ameniza e muito
a dor desses pobres. Para eles, a ação caritativa
é uma forma de evangelizar, revelando aos carentes que Deus
os ama!
O Dreamer
INGRATIDÃO
Acordei mal humorado e com uma certa nostalgia
na alma e no coração, o cachorro balançou o
rabinho quando passei por ele na sala, mas não lhe dei atenção.
Tomei o medicamento para controle da pressão arterial e me
veio o pensamento de que, apesar do controle, sempre há o
risco de qualquer hora “apitar na curva”. Medo da morte!
Quem é que não tem? Não fui até o quarto
despedir da esposa e saí na rua meio amargurado, à
espera do ônibus.
Percebi que Marechal já estava acordado,
no fundo do meu bolso, mas optei por ficar em silêncio durante
a curta viagem até a Fábrica. Já na rodovia,
na reta final após o trevo de acesso, o Velho Botão
subiu até a beira do bolso e comentou:
___ A ingratidão é uma coisa detestável!
____ O que foi Marechal? O que foi que você
me fez e que eu não reconheci? – perguntei já
meio enfezado
O Velho Botão disse então com a
voz branda:
____Não foi para mim...Olhe pela janela,
bem à sua frente está uma pequena montanha. Repare
como o sol brilha mais intensamente deixando o verde das folhas
brilhante. Olhe lá no horizonte aonde o sol acabou de nascer,
as nuvens branquinhas como ovelhas. Olhe o azul do céu. Veja
ali, nas águas da Prainha, tudo isso refletido.
Olhei o horizonte e tudo mais que Marechal tinha
observado, realmente estava uma manhã magnífica. No
alto do morro, bem no topo, um Ipê branco, balançado
levemente pela brisa, parecia me acenar e essa impressão
foi tão forte que gesticulei para ele de dentro do coletivo.
____ Que beleza de manhã Marechal! Não
tinha reparado.
Então Marechal concluiu:
___Pois
é, o cão balançou o rabo te saudando com alegria,
mas você não deu atenção, a sua esposa
ficou esperando o seu costumeiro “Tchau”, mas você
carrancudo saiu pisando duro. Deus preparou tudo isso e abençoou
o amanhecer para que você fosse feliz o dia inteiro, mas você
preferiu se fechar no seu medo e na sua nostalgia e, entretanto
--- frisou o Velho Botão apontando-me a paisagem pela janela
--- o dia continua lindo, porque Deus, para sua sorte, nunca fica
de mau humor.
O Dreamer
PIERRÔ E COLOMBINA
___Marechal escute essa, tenho um amigo separado
da esposa, e que em um baile carnavalesco de sábado encontrou-se
com ela em pleno salão no meio da “folia”!
O Velho Botão subiu até a beirada
do bolso, como de costume, e indagou:
___ Mas como foi isso? Eles haviam combinado esse encontro?
___ Claro que não! Ele pulava no meio da farra quando sentiu
que alguém colocou as duas mãos em seu ombro, para
brincarem de “trenzinho” com outros foliões.
E daí ele viu que era a sua ex.
___ E ela estava acompanhada de algum parceiro? E ele, estava com
alguma mulher?
___ Não! Ela estava com algumas amigas, ele estava sozinho,
segundo me disse.
___ E como ele reagiu a esse encontro? Gostou ou não gostou?
___Pelo jeito gostou, porque na seleção seguinte,
quando começou a tocar “Bandeira branca amor / eu quero
paz /Pela saudade que me invade eu quero paz” ambos saíram
dançando pelo salão, sendo aplaudidos pelas amigas
que acompanhavam a ex-esposa.
O Velho Botão tendo ouvido o meu relato,
tirou os óculos e já descendo ao fundo do bolso, comentou:
___ Está aí uma história bonita! Pelo jeito
eles se reconciliaram e retomaram o relacionamento!
Não pude deixar de rir, antes de dar a
resposta:
___ Que nada Marechal! Terminado o baile, cada um retirou-se para
seu canto. Ele mora sozinho em uma pensão, e ela está
com outro homem. A alegria deles durou somente uma noitada de carnaval.
___Então esse Pierrô e Colombina são dignos
de pena! Nada mais triste do que se experimentar uma falsa alegria
e fazer de conta que se é feliz! - Exclamou o Botão.
___Olha Marechal, eles ainda se amam, só não estão
juntos porque o casamento não deu certo!
E
já descendo ao fundo do bolso para o seu repouso, tirando
os óculos o Botão concluiu:
___ Eles não se amam coisa alguma! Pois
quem ama, não admite a idéia de ficar separado, após
ter encontrado o velho amor. Nenhuma alegria no mundo é comparável
a de viver junto de quem a gente ama.
O Dreamer
O MORTO
Fomos no velório de um conhecido que morreu
prematuramente em acidente automobilístico e chegamos no
momento mais crítico, quando o caixão acabara de ser
aberto e os familiares e amigos viram o defunto e começaram
a pranteá-lo.
___Olha Marechal, que horinha mais ingrata fomos
chegar, não gosto de ir a velórios, principalmente
de pessoas com quem tive convivência, como esse moço.
O Velho Botão corrigiu-me, aproveitando
que fui para um canto mais deserto, conter as lágrimas pela
dor de perder um amigo:
___Não se vai a um velório por causa do morto! ---
disse o Botão Filósofo.
Procurando me refazer da emoção
momentânea, perguntei admirado:
___Ué? Se não é pelo morto, que sentido tem
vir a um velório?
___Não fale muito alto, as pessoas estão
olhando e irão estranhar pois você está sozinho
– disse-me Marechal, querendo poupar-me de algum constrangimento
por sua causa.
___Não há problema, direi que estou
rezando pelo falecido. Mas retomemos a nossa conversa...
___Ah sim, como eu ia dizendo, não se vem
a um velório por causa do morto, ele nunca irá saber
que você esteve aqui. A gente vem para dar consolo aos familiares
e reconfortá-los com a nossa amizade nesses momentos de dor
e tristeza.
Nesse momento entrou uma irmã do falecido
que se debruçou sobre o corpo e chorou copiosamente dizendo
entre soluços que ele era uma pessoa muito boa, relacionando
algumas virtudes.
___Olha
Botão, estou com dó dessa irmã dele, há
pouco tempo desentenderam-se por causa de nada e parece que não
tinham feito as pazes. Ela deve estar sofrendo um grande remorso.
O Botão, que até então estava
no fundo do bolso, pendurou-se na beirada aproveitando que eu tinha
saído do salão mortuário, indo para um pequeno
jardim ao lado do Velório.
___Abraçar o irmão e acarinhar-lhe
o rosto, ressaltando sua bondade e falando de suas virtudes, poderia
fazer um bem enorme a ele, se estivesse vivo! Infelizmente os mortos
não sentem. Deve-se viver bem cada momento, com nossos entes
queridos, perdoando seus defeitos, pois nunca sabemos se aquele
momento é o último. – concluiu o Velho Botão.
O.Dreamer
ESTA PÁGINA
É DEDICADA A CRIAÇÃO DO DIÁCONO JOSÉ
DA CRUZ.
QUE DEUS ABENÇOE
A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores
se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje!
Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!
Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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