COM MEUS BOTÕES...
Criação e colaboração
do Diácono José da Cruz de Votorantim-SP, Contos com
diálogos do sonhador - O Dreamer - com o velho e sábio
botão - O Marechal.
Índice desta página:
. JUIZ CAIPIRA
. NOSSO CARTEIRO
. LAVADOR
. REENCONTRO
. BONEQUINHA
Participava de uma audiência trabalhista
em uma cidade pequena da região quando tive minha atenção
voltada para o Juiz que presidia os trabalhos. Desprovido de qualquer
ostentação de poder, ele saudou a todos antes de tomar
o seu lugar e com uma boa prosa interiorana nos deixou a vontade
chegando a fazer anedota com o advogado de uma das partes demonstrando
um ótimo bom humor.
___Marechal, você está aí?
--- cochichei com o meu Botão, que sonolento acomodado no
fundo do bolso, nem se dera conta de que já havíamos
adentrado à sala de audiências. Após ouvir minhas
breves considerações sobre a atuação
do Magistrado, ele comentou:
___Mesmo hoje, com o advento do modernismo, a cultura
interiorana é outra e as relações entre as
pessoas são mais autênticas chegando a quebrar o protocolo,
como é o caso desse juiz.
___Pois é Marechal, tanto eu como o advogado
que me acompanha, nos lembramos das audiências da grande metrópole
da região, que são às vezes bem estressantes.
___E como age o Magistrado de lá? Não
fui em nenhuma audiência com você, esta é a primeira
vez.
___Ah Marechal, eles em geral agem dentro do formalismo
jurídico, limitam-se a poucas palavras na interrogação
das partes. Dificilmente nos dirige a palavra, como fez esse “Juiz
Caipira” que nos deixou bem a vontade e ao terminar a sua
participação, educadamente pediu licença para
retirar-se da mesa. – observei.
Pouco
depois, quando já rodávamos pela SP-70 na viagem de
volta, o Velho Marechal arrematou a conversa enquanto se recolhia
ao fundo do bolso, já que não gosta de vento e eu
transitava com o vidro do carro abaixado.
___O seu Juiz Caipira é sábio, porque,
não desprezando o conhecimento jurídico que demonstrou
possuir no trato com as partes em demanda, valoriza muito as pessoas
colocando-as acima do protocolo e com sua simplicidade acaba cativando
a todos. A Lei está para as pessoas e não as pessoas
para a Lei.
A mulher chamou-me a atenção para
o desempenho do carteiro que atende a Barra Funda, e que quando
a nossa correspondência não cabe na Caixa de Cartas
afixada no pequeno portão, pacientemente ele dá a
volta pelo jardim do vizinho, que não tem muro, e estendendo
a mão com um certo esforço por cima do muro, coloca
a correspondência por baixo da nossa porta.
___Este é um bom profissional! – comentei.
___Discordo, não se trata disso. --- interviu
o Velho Botão,sentado na beira do bolso da minha camisa.
___Posso saber o por que dessa discordância?
– indaguei, olhando para o Marechal.
Então o Velho Botão deu a clássica
pigarreada, ajeitou os óculos na ponta do nariz e respondeu:
___Bom profissional é aquele que demonstra conhecimento técnico
aprimorado e o aplica nas tarefas que desempenha no cargo que ocupa.
Pense bem, será esse o caso? --- perguntou provocante Marechal,
olhando-me com o canto dos olhos.
Fiquei em silêncio, refleti sobre o caso
e acabei concluindo que a ação não faz parte
da técnica de um carteiro, que poderia até levar de
volta a correspondência alegando que a nossa caixa é
inadequada para correspondência volumosa. Como sempre, o Velho
Botão tinha razão, então lhe dei a resposta:
___Acho que não é esse o caso, não
se trata de técnica.
Então
Marechal posicionou-se melhor e iniciou seu discurso conclusivo:
___Mais do que um bom profissional, esse carteiro
é pessoa de bem, que executa seu trabalho pensando nas necessidades
das pessoas. Desempenha sua tarefa com alegria e faz de tudo para
que as pessoas fiquem satisfeitas. Você sequer o conhece,
mas ele está feliz porque sabe que você e sua esposa
perceberam que ele faz a diferença, porque trabalha com amor
e é essa a melhor técnica para o desempenho de qualquer
profissão.
Levei o carro do diretor para lavar no posto que
presta serviço à empresa onde trabalho.
O lava rápido automático não
mais funciona e no mesmo local o serviço é feito por
um lavador. Acomodei-me sentado na mureta à sombra,
e no sol escaldante das duas da tarde fiquei a observar o homem
fazendo a lavagem do veículo.
___Você viu o aviso afixado ali à
frente? – indagou o Velho Botão, que estava acomodado
na beira do meu bolso, aproveitando para refrescar-se na brisa que
vinha do jato dágua que o homem usava.
“Colabore com o Lavador” – dizia
a faixa colocada na estrutura do antigo lava rápido.
___Bom, esse posto presta serviço à
empresa e portanto não tenho obrigação de pagar
nada... - retruquei ao Marechal.
___Mas não é pagamento, apenas uma
colaboração! – observou o Velho Botão.
___Sabe Botão, eu preferia o lavador automático,
quando a gente apertava o botão ele fazia todo o serviço,
como cortesia do posto em cada abastecida.
___Pois é, mas quando você chegou,
este homem humilde sorriu e te falou “Boa Tarde” e veja
como ele está caprichando, esfregando o pano em cada sujeira
que está impregnada na lataria, coisas que a máquina
jamais iria fazer, seu eu fosse você daria uma gratificação
e faria um elogio ao trabalho desse homem.
___Está bem Marechal, vou dar “cincão”
e pedir reembolso à empresa. Você me convenceu. –
Conclui com ironia.
Então Marechal com um gesto de impaciência,
respondeu, enquanto descia indignado ao fundo do bolso:
___Se você não tem sensibilidade para
valorizar o ser humano que está lhe prestando um favor, não
dê nada!
Observei melhor o lavador, que aparentava ser uma
pessoa humilde, e devia ganhar um salário minguado que era
engordado pelas gorjetas que recebia. Notei o esforço e a
dedicação com que fazia a tarefa, dando o melhor de
si sob o sol causticante da tarde molhando a camisa de suor e água.
___Está pronto senhor... – disse-me
educadamente.
Apanhei algumas moedas e coloquei nas mãos
calejadas que se estenderam para apanha-las e falei:
___O carro é da empresa, mas faço
questão de colaborar, porque o seu trabalho é muito
bom, parabéns!
Ele sorriu alegre e erguendo a mão direita
agradeceu:
___Muito obrigado e que Deus o abençoe!
Voltei
calado e no trajeto até a fábrica senti uma grande
e inexplicável alegria. No fundo do bolso, Marechal piscou
e arrematou:
____Essa é a oração mais curta
e sincera que um pobre faz, quando alguém lhe ajuda, e que
Deus atende de imediato, eis a razão da alegria que agora
toma conta do seu coração.
Retornava do dentista onde a Doutora que vem cuidando
de mim é neta do “Sêo Antonio”, colega
de serviço da Via Férrea, onde entrei em meados dos
anos 70.
Eu o chamava de “Brusa” e ficamos
tão amigos que ele e a esposa Dona Leonilda batizaram minha
primeira filha. Vim a pé pela antiga Vila Albertina e ao
passar perto da fiação Alpina, não pude deixar
de olhar pros lados de onde se localizava a antiga estação
de Bondes e me lembrei do “Brusa” com sua calça
xadrez, espiando o movimento com as duas mãos enfiadas no
bolso da blusa vermelha.
___E como é que vai o seu amigo “Brusa”?
Era o Marechal, que sentado na beira do bolso da
camisa, pegou carona em minhas lembranças.
___Meu caro Botão, o “Brusa”
já é falecido já muito tempo, sua pergunta
não procede...
___Mas você o reencontrou esta tarde - argumentou
o Velho Botão.
___Eu não reencontrei o “Sêo”
Antonio, mas sim a neta dele, filha do Zé Brusarosco.
___Não adianta me retrucar, você o
reencontrou sim, ele está mais vivo do que nunca! - disse
com firmeza o Marechal.
Eu pressenti que o Velho Botão queria filosofar
e como há tempo não conversamos, fiquei em silêncio
e na mureta da Avenida Santo Antonio, na escadinha que desce para
o Clube Atlético, apoiei um pé no muro e fiquei calado,
olhando para o local onde vivi boa parte das lembranças na
convivência com o Brusarosco.
E logo Marechal, após refletir, ajeitou
o velho óculos que caia na ponta do nariz e arrematou a nossa
conversa:
___Um
homem que só faz o bem nessa vida, que cultiva muitas amizades,
constrói uma família e toda uma história, legando
às gerações futuras valores e virtudes para
bem viver, um homem que mesmo diante de uma dor e sofrimento, consegue
manter o bom humor e sorrir, o seu amigo “Brusa” como
você o chamava, era assim?
___Era exatamente esse o perfil do meu saudoso
amigo...
___Pois bem, esse homem nunca morreu, porque quando
trilhamos o caminho do bem, nos eternizamos no coração
e na lembrança das pessoas que amamos. Você o reencontrou
esta tarde, na sua neta Dentista. Só morre de fato os que
nessa vida enveredaram pelos caminhos obscuros do mal.
Fazia minha caminhada vespertina quando deparei
com uma pobre mulher levando pela mão uma criança
que armava o maior berreiro porque estava querendo algo. À
frente seguia um catador de papelão, com seu carrinho lotado.
___Mas que berreiro está fazendo essa menininha!
O que será que ela quer?
Marechal nada respondeu mas pouco depois me perguntou:
___Você conhece esse catador de papelão?
Será que ele é rico ou pobre?
Eu sabia que esta era uma pergunta estratégica,
mesmo assim dei um sorriso irônico e respondi:
___Bom, só se for algum milionário
disfarçado de pobre, porque com essa barba grande, chinelão
de dedo todo ensebado, a camiseta surrada e a bermuda que cabe uns
três, está na cara que ele é um pobre diabo
que não tem nem um gato pra puxar pelo rabo!
___Pois saiba que você está enganado---
retrucou o Velho Botão – ele tem algo a dar sim, e
vai fazê-lo daqui a pouco, bem diante do seu nariz. Agora
repare na menininha...
___Ah sim! Na chorona gritadeira? Coitada da mãe,
essa aí veio para “pagar o pito”, como diziam
antigamente.
O Catador de papelão parou o carrinho para
pegar umas latinhas na calçada. Depois ficou olhando a mulher
e a criança.
___Preste atenção no que vai acontecer
agora.--- disse o Botão.
___Ah, mas eu já sei! A criança
vai chorar ainda mais, porque esse Barbudo parece o “Bicho
Papão”- comentei.
Mas Marechal nada respondeu e apontou-me o catador
de papelão, que naquele momento apanhou do meio da carga
do seu carrinho, uma bonequinha encardida faltando um olho e uma
perna, acariciou a mecha de cabelos e entregou todo sorridente a
bonequinha para a menina, que imediatamente parou de chorar, depois
tomando-a com toda delicadeza, colocou-a sentada em cima da carga
de papelões e seguiu em frente puxando o pesado carrinho,
levando em cima a menininha, que agora era só sorriso, abraçada
a bonequinha mutilada, para alegria da mãe que ia ao lado.
Desta vez foi Marechal que abriu um sorriso e concluiu:
___Aí está !Ninguém é
tão pobre que não tenha nada a oferecer, esse humilde
Catador de Papelão, fez nascer um sorriso de alegria no rosto
dessa criança, que estava marcado pelo pranto e isso, não
há dinheiro que pague! Ele é portanto um rico, porque
possui um coração generoso, que é a maior de
todas as riquezas.
ESTA PÁGINA
É DEDICADA A CRIAÇÃO DO DIÁCONO JOSÉ
DA CRUZ.
QUE DEUS ABENÇOE
A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores
se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje!
Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!
Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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