GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
25.04.2010
4º Domingo de Páscoa - ANO C
__ “O CORDEIRO-PASTOR DA HUMANIDADE” __
Comentário: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
Na realidade da pessoa do Cristo se identificam as imagens do cordeiro-servo de Javé e do pastor-guia do povo em seu contínuo êxodo religioso. Na primeira imagem é expressa a proximidade conosco, pela qual o Filho de Deus quer assemelhar-se em tudo a seus irmãos, partilhar seu destino até à morte, derramando seu sangue inocente para nos resgatar. Na outra, é expresso o amor misericordioso de Deus que o Cristo nos deu a conhecer, vivo em sua pessoa, diversamente dos outros chefes religiosos e políticos do povo, que também se apresentavam como pastores em nome de Deus. O pastor supremo das nossas almas percorreu pessoalmente o itinerário que nos indica: a "grande tribulação" que tem como termo - dom gratuito de Deus - uma felicidade paradisíaca simbolizada nas "fontes das águas da vida". Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Atos 13,14.43-52): - "Eu te estabeleci para seres luz das nações, e levares a salvação até os confins da terra"
SALMO RESPONSORIAL (Sl 99/100): - "Sabei que o Senhor, só ele, é Deus, nós somos seu povo e seu rebanho."
SEGUNDA LEITURA (Apocalipse 7,9.14-16): - "Aquele que está sentado no trono os abrigará em sua tenda."
EVANGELHO (João 10,27-30): - "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem."
- “NINGUÉM VAI ARRANCÁ-LAS DE MIM”
Reflexão do Evangelho por Diácono José da Cruz
Vivemos em um tempo em que infelizmente somos muitas vezes dominados
pelo medo e a insegurança porque vemos a ação
do mal por todos os cantos.
Em nossa cidade vivemos dias assim, quando em poucos dias tivemos
cinco mortes contabilizadas pela polícia. Em outras cidades
da nossa região, e nas grandes metrópoles o crime
virou acontecimento banal e a idéia de que estamos todos
sob o domínio e a influência do mal, vai ganhando
cada vez mais pessoas, que pensam em soluções drásticas
como o extermínio ou a pena de morte.
Olhamos para nós mesmos e sentimos que embora nos esforcemos
por viver bem, inúmeras vezes pecamos, por falta de amor,
de fidelidade, de perseverança, de confiança em
Deus, na própria igreja só olhamos a instituição,
a igreja humana e às vezes o desânimo é tanto
que não enxergamos a igreja divina, instituída por
Jesus e da qual participamos pelo nosso Batismo, apesar de sermos
indignos.Sentimo-nos ameaçados a todo o momento e o medo
de sucumbir no mal, é muito grande e diante do avanço
das forças do mal, sentimo-nos impotentes.
Possivelmente era também esse o estado de espírito
das comunidades de João no primeiro século da era
cristã, por causa das intensas perseguições
do império romano e dos próprios judeus ao cristianismo.
O medo e a insegurança podem fazer–nos render diante
do mal.
“Elas jamais hão de perecer e ninguém as
roubará de minha mão. Meu pai que mas deu, é
maior que todos; e ninguém as poderá arrebatar do
meu pai. Eu e o pai somos um” - é uma afirmativa
de Jesus no evangelho desse domingo, que refletido em profundidade
irá nos tirar a todos desse marasmo, do comodismo e conformismo
diante do mal.
A primeira idéia é de proteção, estamos
nas mãos do Pai e do seu Filho Jesus e nada de mal irá
nos ocorrer, podemos ficar tranqüilos e basta apenas que
cumpramos nossas obrigações religiosas para com
Deus e a igreja de Cristo. Esse pensamento é nefasto porque
nos conduz a passividade e perdemos a capacidade de nos indignar
diante de fatos ocasionados pelo mal. A outra idéia errada
que podemos ter, é de que o nosso Deus é possessivo
quando fala que ninguém nos arrancará de suas mãos.
Mas a mensagem é bem outra e aqui podemos nos lembrar
das narrativas do livro dos reis, que enfoca a bravura e a coragem
de Davi quando ainda pastor, que quando via o seu rebanho atacado
pelo lobo, se atirava sobre ele e o estraçalhava com a
força do seu braço e dos seus dentes. Talvez nos
falte hoje essa bravura e esta coragem diante das forças
do mal, temos medo do que vemos e assistimos no dia a dia, não
queremos nos envolver ou nos comprometer com algum posicionamento
mais radical contra a maldade presente no coração
de muitos que matam, roubam, enganam, manipulam.
Temos medo de testemunhar o evangelho e sermos taxados de antiquados,
retrógrados, preferimos muitas vezes nos deixar levar pela
onda, “é melhor não falar, é melhor
não dar a minha opinião, alguém pode não
gostar” .Agimos assim no trabalho, na política, no
ensino, na comunidade e na família. Preferimos ficar rezando
para que Deus toque no coração dos que estão
dominados pelo mal, fazemos a nossa parte rezando.
O evangelho de hoje é um incentivo e um grito de esperança
e de ânimo para quem quiser ir à luta, combatendo
abertamente o mal, não as pessoas, presente em todos os
lugares. Cristo Jesus nosso único pastor nos deu a vida
eterna, nos libertou e nos redimiu com seu sangue, fomos assim
resgatados das forças do mal, pertencemos a Deus e o Pai
nos confiou a seu Filho Jesus, “ninguém conseguirá
nos arrebatar de suas mãos poderosas” , Jesus e o
Pai são um, e com ele nós somos a Igreja, com a
missão de evangelizar, de anunciar a verdade, a justiça
e a paz, o shalon que evoca a presença de Jesus em nosso
meio. Não há o que temer ! Mas é preciso
ser discípulo, seguidor de Jesus, não tremer, não
vacilar e nem recuar diante do mal.
É preciso conhecer a sua voz, sua palavra de ordem do
evangelho, diante de tantas falsas palavras que nos iludem, oferecendo-nos
um mundo novo que não passa de uma fantasia. Só
Jesus é o nosso pastor e mais ninguém.
Ele é a nossa rocha, nossa fortaleza e segurança,
o mal presente em nós, o pecado dos nossos irmãos,
o mal presente na sociedade de tanta morte e violência,
não conseguirá nos arrancar de suas mãos.
Basta crer e se comprometer com o seu reino. E assim podermos
rezar na firmeza do salmo 99 “sabei que o Senhor, só
ele é Deus, nós somos seu povo e seu rebanho”.
José da Cruz é
diácono permanente da Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim -
e-mail:jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Pe. Françoá Rodrigues – 4º DOMINGO DE PÁSCOA - (Ano C)
Escutar no silêncio
“Vejam se vocês são as suas ovelhas, vejam se o conhecem”. Assim exortava São Gregório Magno numa homilia. Depois o mesmo Papa e Santo continuava dizendo que há duas maneiras de conhecer: pela fé e pelo amor, pela inteligência iluminada pela fé e pelo coração aquecido pela caridade.
O conhecimento que vem da fé diz respeito a verdades como a existência de um só Deus em três Pessoas realmente distintas: Pai e Filho e Espírito Santo; a encarnação do Filho de Deus, ou seja, o fato do Filho, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, ter se tornado homem por obra do Espírito Santo nas entranhas puríssimas da Virgem Maria para a nossa salvação; a vinda gloriosa de Jesus Cristo na consumação dos tempos, chamada Parusía; entre outras verdades. Mais a fé não é só um conhecimento intelectual, em primeiro lugar ela é uma entrega amorosa de todo nosso ser a Deus porque ele se mostra como é, Amor, porque a sua Palavra arrebatou o nosso coração, porque percebemos que não podemos ser felizes longe dele. A fé e o amor são virtudes que vão, portanto, juntas.
No entanto, enquanto o conhecimento que vem da fé se encontra mais relacionado com a nossa inteligência, o conhecimento que vem do amor eleva a nossa vontade, o nosso querer. Humanamente falando, quando nós sentimos alguma simpatia por uma determinada pessoa é muito mais fácil conhecê-la e saber por intuição aquilo que ela deseja. Uma mãe, por exemplo, sem estudar medicina, é capaz de detectar uma dor de ouvido do seu filhinho de poucos meses que não fala e apenas chora. As mães têm um amor que intui, elas sabem que quando a criança chora ou quer comer ou mamar ou tem alguma dor. Nós também, quando amamos a Deus, temos-lhe simpatia, sabemos por co-naturalidade o que ele quer de nós, qual é a sua vontade para a nossa vida. Nós também intuímos aquilo que Deus quer que façamos.
Agora podemos voltar às palavras de São Gregório: Será que nós somos, de fato, as suas ovelhas? Nós escutamos na passagem do Evangelho de hoje: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10, 27). Jesus Cristo, Bom Pastor, conhece a cada um de nós pelo nome, ele sabe o que há de mais íntimo em cada um de nós e que nem nós mesmos chegamos a conhecer. O conhecimento que Jesus tem de cada um de nós é perfeito. Nós, ao contrário, não o conhecemos perfeitamente. O que fazer? Ouvir a voz do Pastor e segui-lo!
É preciso ouvir! Mas, há tanto barulho ao nosso redor! Por outro lado, por mais que admiremos o silêncio, quando temos oportunidade de fazer um pouco de silêncio, fazemo-lo com música. Que pena! Há pessoas que não podem estar sequer cinco minutos em silêncio. Você já observou como algumas pessoas ficam inquietas quando o sacerdote guarda uns minutinhos de silêncio depois da proclamação do Evangelho ou depois da homilia, outras não sabem o que fazer na ação de graças depois da comunhão caso não haja um canto. O silêncio às vezes parece que nos incomoda! Outra coisa: você já notou que às vezes numa discussão todo mundo está de acordo, mas não se entendem? Finalmente, quando chega alguém e diz que todos estão dizendo a mesma coisa e que a única diferença está na ordem dos fatores, então talvez alguns percebam que o problema é que eles não se escutavam.
Nós queremos seguir o Senhor e fazer a sua vontade. Não a realizaremos, porém, se não o escutarmos atenciosamente. Como? Com alguns propósitos concretos: escutar atentamente as leituras da Missa e a homilia, ler a Sagrada Escritura procurando entendê-la, evitar tanto barulho quando possível, fazer uns minutinhos de oração mental todos os dias. A oração mental não é nenhum bicho de sete cabeças, basta ler um trecho do Evangelho, por exemplo, e depois ficar uns minutinhos em silêncio conversando com Deus: pense naquela passagem, imagine-a, converse com Jesus sobre a cena do Evangelho, sobre a sua vida e a dos seus amigos, escute-o já que ele nos fala nesses momentos. Uma outra coisa: se soubermos escutar, também descobriremos a voz de Deus nas circunstâncias mais ordinárias da nossa vida: você vai ver como ele vai pedir que a sua ajuda para animar aquele companheiro de trabalho que está triste, para conversar um pouco com aquela pessoa que ninguém dá atenção, para sorrir para aquela outra que parece que está sempre amargurada. Esse conhecimento vem da fé e do amor; efetivamente, a fé atua pela caridade (cf. Gl 5,6).
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 4º Domingo de Páscoa - Ano C
feito por Pe Ignácio, dos padres escolápios (extraído do site http://www.presbíteros.com.br)
EPÍSTOLA (Ap7, 09, 14b-17)
INTRODUÇÃO: Há uma festa no céu, que pode ser comparada à festa dos tabernáculos ou das Sucoth à qual está chamado a participar o povo que representa a Igreja perseguida e que confirmou a fé com seus mártires, durante essa tribulação, que é considerada como grande, por não dizer a máxima, em que os amigos dão a vida fiéis à memória do amigo. Uma outra consequência: a multidão era composta de todas as etnias do mundo, indicando a universalidade da Redenção.
A MULTIDÃO: Depois destas coisas vi, e eis que grande multidão que ninguém pode enumerar de toda raça e tribos e povos e línguas, estava de pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de estolas brancas e palmas em suas mãos (9). Post haec vidi turbam magnam quam dinumerare nemo poterat ex omnibus gentibus et tribubus et populis et linguis stantes ante thronum et in conspectu agni amicti stolas albas et palmae in manibus eorum.Continua João, o presbítero, com suas visões. Desta vez é a multidão dos mártires, que suportara a grande tribulação, isto é, a perseguição de Domiciano. RAÇA [Ethnos <1484>=gens]: a palavra grega é usada como multidão, companhia, tribo, nação, sendo que no AT significava nações pagãs ou gentios [Goim<01471>=gentes], como em Is 42, 1. Paulo no NT usa o termo para designar os cristãos provindo dos gentios, ou do paganismo (Rm 11, 13). E é neste sentido que temos o ethnos do versículo atual. Logicamente, também nos tempos finais do século I, os cristãos e os mártires pertenciam à humanidade sem distinção de nações [como eram os israelitas, nação escolhida], de povos [Fylë <5443>=tribus] como a distinção dos filhos da tribo de Levi, especialmente escolhida para o serviço divino, povos [Laos<2992>=populus] que no AT era ‘am <05971> indicando um conjunto de gente unida por tradição, língua e costumes. Finalmente, línguas [Glössa <1100>=língua] que eram sinais de divisão como vemos em Gn 11, 9 em que Deus confundiu as línguas e por isso chamou a torre de Babel, ou confusão. A passagem é uma réplica moderna de Dn 7, 14 em que as pessoas de todos os povos e línguas serviam o Ancião, que representava Jahveh. Estavam de pé diante do TRONO [Thronos <2362>=thronus]. Era este o assento de Deus, como rei supremo de toda criação e magistrado para julgar toda criatura. Mas junto dele como seu maior representante estava o Cordeiro Imolado; e era aqui que a multidão estava de pé revestida de ESTOLAS [Stola <4749>=stola] que eram os vestidos talares próprios dos oficiais e das mulheres que chegavam até os calcanhares; pois talares eram chamadas as asas de que estavam dotadas, para melhor correr, as sandálias de Mercúrio, o deus grego do comércio e mensageiro dos outros deuses. Oposto da estola, e vestido dos humildes, era o Chiton ao qual todo o mundo tinha direito de modo a ser devolvido antes da noite (Êx 22, 26). Embora não tenhamos no AT uma palavra própria para chiton, o vestido feito para José por Jacob [Kethoneth<03801>= túnica Pas<06446>=colorida], traduzido por túnica talar na Nova Vulgata latina. Estavam, pois, vestidos em traje de cerimônia. A cor era BRANCA [Leukë<3022>=alba], cor que pode ser brilhante e que significava a túnica branca dos sacerdotes do AT que de Aarão passariam a seus filhos e que são begedi hakodesh [vestidos sagrados] em Êx 29, 29. Pois segundo Ap 5, 10, fizeste deles [hombres de toda raza,lengua, pueblo y nación].um reino de sacerdotes que reinarão sobre a terra. Ou em 20, 6:ditoso e santo quem tem parte na primeira ressurreição: serão sacerdotes de Deus e de seu Cristo com quem reinarão mil anos. PALMAS [Foinikes <5404>=palmae] de fato foinix é a árvore chamada de palmeira o tamar hebraico e em plural são as palmas ou galhos de palmeira. Há uma passagem evangélica em Jo 13, 13, quando o povo tomou ramos de palmeiras no dia de Ramos para sair ao encontro de Jesus como messias. Em Jeremias 10, 5 lemos: os ídolos são como espantalhos no palmeiral e em Sl 92, 12: o justo florescerá como a palmeira. Mas principalmente era o símbolo da vitória e do triunfo sobre os inimigos, como era o mundo hostil dos imperadores romanos. Fílon fala da palmeira como symbolon nikës [símbolo de vitória]. Assim os conquistadores usualmente levavam palma em suas mãos. Os gregos se adornavam com coroas de palmas após a vitória nos combates; e os romanos usavam a toga palmata, um vestido talar com figuras de palmas bordadas nele. A medalha que Tito mandou cunhar, após sua conquista de Jerusalém, tinha uma palmeira e uma mulher cativa, sentada na base da mesma, com a inscrição: Judaea capta. Na festa dos tabernáculos, os judeus, na procissão, portavam lulavs, em cuja composição era básico um galho de palmeira (Lv 23, 40). E temos o provérbio: pois se um homem leva um galho de palmeira em sua mão conhecemos que ele é um homem vitorioso (Rabi Bajikra).
QUEM ERAM: E um dos anciãos me disse:estes são os que vem da tribulação, a grande, e lavaram suas estolas e branquearam suas estolas no sangue do Cordeiro (14). Et dixi illi domine mi tu scis et dixit mihi hii sunt qui veniunt de tribulatione magna et laverunt stolas suas et dealbaverunt eas in sanguine agni. ANCIÃO: A tradição judaica era a que provinha dos anciãos, segundo Mt 15, 2. Eram, pois, extremamente respeitados. Mas principalmente o grupo dos anciãos era uma das três partes em que estava composto o Sinédrio ou grande tribunal judaico (Mt 16, 21). Eram os anciãos os que presidiam e governavam as igrejas particulares (1 Tm 5, 17). Porém, no Apocalipse, constituíam a corte de honra do trono e do Cordeiro em número de 24, como as horas do dia, ou como as classes sacerdotais do AT. Estavam vestidos de roupas brancas, como sacerdotes, e tinham coroas de ouro na cabeça, como príncipes reais, pois eram os escolhidos da nova classe sacerdotal e real do cordeiro (1Pd 2, 9). Um deles, pois, explica como mestre e intérprete da vontade de Deus (At 15, 22) quem eram os que constituíam a grande multidão. TRIBULAÇÃO [Thlipsis <2347>=tribulatio] era a grande, ou seja, máxima, segundo o sentir semítico que não tem superlativos e com certeza que se referia à perseguição de Domiciano, ainda presente quando o apóstolo escreve estas linhas. ESTOLAS [Stola <4749>=estola] era a veste sacerdotal talar [até o calcanhar]; era de linho branco e por isso fala de branquear ou torná-las brancas para o serviço sacerdotal que não é unicamente o sacrifício mas o louvor no santuário, como João vê o espetáculo do céu. Este louvor fora descrito no versículo 12; O louvor e a glória e a sabedoria e as ações de graças e a honra e o poder e a força sejam ao nosso Deus pelos séculos dos séculos. Amém. Parece uma transcrição cristã da grande festa dos Tabernáculos. Como era de preceito, antes de exercer seu ofício sacerdotal, todo sacerdote deveria se purificar e tomar sua estola branca, recém-lavada. Só que a purificação da água, totalmente externa, é agora substituída pelo sangue do Cordeiro, segundo vemos em Rm 5, 9: justificados pelo seu sangue seremos por ele salvos da ira. Precisamente no batismo, com água representando a Igreja, se dava o mistério de purificação total [justificação] por causa do sangue de Cristo, quem, segundo o Batista, tira o pecado do mundo (Jo 1, 29).
A ADORAÇÃO: Por isso estão diante do trono do Deus e adoram-no dia e noite em seu santuário e quem está sentado sobre o trono pôs o tabernáculo sobre eles (15). Ideo sunt ante thronum Dei et serviunt ei die ac nocte in templo eius et qui sedet in throno habitabit super illos. Com estas palavras está o autor transformando o céu num gigante santuário em que os sacerdotes, os únicos que podem entrar no átrio do naós [santuário] exercem o mais sublime ministério sacerdotal: o louvor e adoração do único Deus, com um holocausto de eterno culto para glória do mesmo. Para isso, como diz o Salmo 24, 4, deve se ter as mãos limpas e puro o coração. TABERNÁCULO [Skënösei <4637>=habitabit]: Na realidade é armou o tabernáculo, que era a tenda da presença divina entre o povo, onde se manifestava por meio da Shekinah [habitação], tudo era anualmente recordado na festa dos tabernáculos. O texto grego fala que Deus [quem está sentado sobre o trono] pôs o tabernáculo, ou seja, sua tenda sobre eles. Como no deserto, Deus será seu Deus e eles serão seu povo (Lv 26, 12).
A FELICIDADE: Não terão fome, nem tampouco terão sede, nem também cairá o sol sobre eles, nem calor algum (16). Non esurient neque sitient amplius neque cadet super illos sol neque ullus aestus. Claramente temos uma imagem do deserto em que Jahveh alimentou com o maná o povo e com a água de Meriba apagou a sede do mesmo. E como estamos no deserto, o sol não cairá sobre eles e o calor do estio não se deixará sentir. É um ambiente de claro bem-estar corporal, dirigido por Deus, para a felicidade do povo eleito. Sua shekinah, como no deserto, protegia do sol durante o dia como nuvem (Êx 13, 21). A shekinah era como um Chupah, o sólio ou dossel que cobria os esposos no dia das bodas. E como não haverá noite, daí que não se use outro modelo metafórico para indicar a felicidade dos escolhidos. A revelação do Tabor entra dentro do olhar profético do autor, com as tendas que Pedro queria montar. Esse Pedro que fala em 2 Pd 1, 13, de seu corpo como um tabernáculo.
O PASTOR: Já que o Cordeiro, o do meio do trono, os apascentará e os conduzirá sobre fontes vivas de águas e Deus enxugará toda lágrima (17). Quoniam agnus qui in medio throni est reget illos et deducet eos ad vitae fontes aquarum et absterget Deus omnem lacrimam ex oculis forum. APASCENTARÁ [Poimanei<5692>=deducet]: Seguindo a alegoria do deserto, Moisés é substituído pelo Cordeiro, que sabemos é Jesus, como degolado, ou seja, Cristo. Agora ele se transforma em pastor e como tal, seu principal ofício é conduzir as ovelhas para as nascentes de água, que serão puras. FONTES VIVAS [Zösas <2198> pëgas <4077>=vitae fontes]: A palavra Zösas é o particípio de presente do verbo Zaö [viver] cuja tradução seria viventes, ou melhor, vivas. Os antigos israelitas distinguiam entre águas de poço e águas vivas de manancial. Jesus mesmo disse à samaritana: aquele que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, pois a água que eu lhe der se tornará uma fonte que jorrará para a vida eterna (Jo 4, 15). Eram as águas que a Escritura chama rios de águas vivas (Jo 7, 38). Sem dúvida que o autor do quarto evangelho, aqui também como autor, desenvolve a festa dos tabernáculos em que o oitavo dia significava o primeiro dia da nova semana da eternidade. Semana que não tem fim. Era o dia mais gozoso da festa. Divididos os sacerdotes em três grupos, o grupo do Sumo sacerdote [Kohen ha-Gadol] saia pela porta conhecida como porta da água e ia ao estanque de Siloé que significa suave corrente de águas. Lá, o Sumo Sacerdote, com uma jarra de ouro, tirava a água conhecida como águas vivas [mayim chayim]. Seu ajudante tinha uma jarra de prata com vinho e juntos, marchavam ao templo, O segundo grupo tinha cortado salgueiros que eram levados em procissão e entravam pela porta oriental. No templo se uniam ambos os grupos, os sacerdotes que agitavam árvores de Salgueiro e os que acompanhavam os dois jarros de líquido. Assim entravam no santuário onde esperava o terceiro grupo que tinha preparado o altar. O vinho e a água eram derramados nos cantos do altar e logo, com os salgueiros, os sacerdotes do turno correspondente formavam uma cabana com a qual cobriam o altar. O povo cantava o grande Hillel [Salmos 113 e 114] em que o hosanna [vem, salva] era repetido, ao mesmo tempo que os sacerdotes agitavam os salgueiros, rodeando o altar sete vezes. Este era o maior dia de festa em Israel. Como vemos, temos suficientes elementos para uma alegoria da festa do dia eterno no reino dos céus onde a cabana do cordeiro cobria seus eleitos. LÁGRIMA : É o que Is 25, 8 profetiza: Tragará a morte para sempre e assim enxugará Deus as lágrimas de todos os rostos e tirará de toda a terra o opróbio do seu povo.
Evangelho (Jo 10, 27-30)
AS VERDADEIRAS OVELHAS
PREFÁCIO: Os quatro versículos do domingo atual pertencem a um discurso de Jesus pronunciado durante a festa da Dedicação (Chanucá com ch=jota espanhol, ou encénias em grego) no pórtico de Salomão (Jo 10, 23), resguardado do vento invernal por ser o único fechado do lado do oriente de onde provinha o vento frio nessa época (novembro – dezembro). Poucos meses antes, na festa das Tendas, (sukoth) ou tabernáculos (Jo 7,2), Jesus tinha pronunciado duas parábolas que indicavam sua função perante o povo de Israel: Ele era a porta (Jo 10, 7) e ele era o pastor verdadeiro de um rebanho que se supunha ser o povo escolhido por descendência ( Jo 10, 11). Mas, nesta ocasião, os judeus, formando um círculo como se fossem discípulos do novo Mestre, dirigem-lhe duas perguntas importantes: És tu Messias? És tu Filho de Deus? (sic no grego). São as mesmas perguntas que servirão para condená-lo no Sinédrio, presidido por Caifás. A primeira foi clara e especificamente perguntada (Jo, 10, 24). A segunda será implicitamente introduzida no versículo 33. Na resposta à primeira das mesmas, Jesus declara ironicamente que não vê nos seus interrogadores suas ovelhas; e com isso reclama da sinceridade dos mesmos de ouvirem uma voz que deveriam escutar como a voz verdadeira do pastor (27). Com esta afirmação se inicia o evangelho de hoje, onde encontramos a conclusão da parábola do bom pastor. O evangelho destaca a comunhão de vida entre Cristo e seus seguidores, sua ovelhas. Duas são as disposições fundamentais para entrar dentro do seu domínio e receber a vida plena e eterna como ovelhas fiéis: reconhecer o pastor e escutar a sua voz como único mandato. Como comenta o Papa atual é a escuta da Palavra para saber a vontade do Senhor. Como prêmio a esta obediência, Jesus reconhece unicamente essas ovelhas e lhes dá a vida eterna de modo a viver uma vida sem fim, sem que nada nem ninguém possa arrebatá-las das mãos do pastor porque ele, não unicamente representa o Pai-Deus, mas é uma mesma coisa com Ele.
AS MINHAS OVELHAS: As ovelhas, as minhas, ouvem a minha voz e eu conheço as mesmas e me seguem (27). Oves meae vocem meam audiunt et ego cognosco eas et sequuntur me. Jesus claramente esclarece que existem dois tipos de ouvintes: os que constituem ou formarão parte de seu rebanho (suas ovelhas) e os que vendo suas obras, os sinais, que dirá o evangelista, fecham seus ouvidos à voz de quem deveria ser seu pastor e por isso se desgarram de seu rebanho desde o início. Ao afirmar que tem um rebanho a cuidar e pastorear, Jesus se apresenta como Pastor, mas um pastor do qual depende a vida do rebanho. Ele tem como fim a vida dessas ovelhas a ele encomendadas pelo Pai. A própria vida pessoal não é tão importante como a vida do rebanho pelo qual ele dará sua vida (10, 11). Porém o tema principal da metáfora do trecho de hoje é a distinção entre o seu rebanho e o grupo dos desgarrados que não querem ou não escutam a voz do verdadeiro e único pastor. Jesus afirma ter um verdadeiro conhecimento de quem são suas ovelhas (a palavra probaton indica gado menor como ovelhas e cabras) e que distingui-las não é difícil, pois são aquelas que escutam sua voz. É por isso que os judeus sentados à sua frente, aparentemente como discípulos, não formam parte de seu rebanho. Não vieram para escutar a sua voz mas para interrogar sobre seu ministério como pastor. Quem hoje lê os evangelhos buscando outra coisa que não seja a voz do Pastor, não pode ser chamado discípulo de Cristo, mas estudioso da História das religiões, crítico radical do evangelho, ou político que se serve de uma propaganda emprestada, na qual ele nem acredita nem conforma sua vida, mas dela extrai seus interesses. Tal é a atitude que reduz Jesus a um subversivo, ou sua mensagem como dirigida unicamente aos operários contra os donos do capital, em nome da evangelização dos pobres. A voz deve ser escutada com humildade e obediência em todas as suas partes, sem omitir parágrafos, considerados duros, como aconteceu em Cafarnaum (Jo 6, 60). O seguimento de Cristo é a melhor prova de que suas palavras não foram voz, mas mandato que traz como consequência uma vida nova. Por isso, dirá Jesus: Dou-lhes a vida eterna ou vida sem fim.
VIDA ETERNA: Já que eu dou-lhes vida sem fim, e de modo que não pereçam para sempre; e ninguém as arrebatará de minha mão (28). Et ego vitam aeternam do eis et non peribunt in aeternum et non rapiet eas quisquam de manu mea.ZOÉ AIÔNIOS (vita aeterna em latim) é o termo usado várias vezes pelo evangelista. Vamos explicar o significado começando pelo aiônios. A palavra tem sua origem em aion derivado de aiei ou aei de significado sempre, inalterado. No inglês seria o everlasting, que dura sempre, ou perpétuo. Sem fim, seria talvez a melhor tradução, preferida à eterna, usada nas línguas vernáculas latinas. Zoé derivada de Zaô, estar vivo, não teria conotação especial de não estar acompanhada pelo adjetivo que a qualifica e determina. É, portanto, uma vida especial em que a qualidade tem tanta importância como a duração. Nos evangelhos temos várias citações sobre a vida eterna: João a define como constituída pelo conhecimento do único Deus verdadeiro e daquele que foi por Ele enviado, Jesus Cristo (Jo 17, 3). Este versículo é um parêntese do evangelista que segue a invocação de Jesus pedindo o poder para dar a vida eterna a todos os que foram a Ele confiados pelo Pai. Esse conhecimento, em sentido bíblico, de ser tanto intelectual como amoroso, só será perfeito no além, mas é antecipado neste mundo, mediante a fé e a união com Cristo: Quem crê no Filho tem a vida eterna. Quem recusa crer no filho não verá a vida. Pelo contrário, a ira de Deus permanece sobre ele (Jo 3, 36). Já que Jesus assegura: Quem escuta minhas palavras e crê em quem me enviou tem vida eterna e não será condenado, pois passou da morte para a vida (Jo 5, 24). Porque ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar (Mt 11, 27). Os evangelhos falam de conhecimento ginosko (João), ou melhor, de reconhecimento epiginosko (Mateus) não no sentido de volver a conhecer, mas de admitir e entender plenamente o que estamos vendo ou sentindo. S. Tomás dirá que a bemaventurança consistirá em contemplar a essência divina como visão beatífica, ou seja, como contemplação-causa de nossa felicidade; porque algo disso terão também os proscritos em certo grado, mas como visão oposta, causante de temor, dos quais se pode afirmar o que dizia o apóstolo Tiago dos demônios: que também acreditam mas tremem (Tg 2, 19). Muito se fala de que Deus castiga, mas na realidade, Ele se mostra como é, bondade e verdade, que os condenados rejeitaram durante sua vida; e agora se contemplam tão distantes que não aguentam essa visão ou conhecimento intelectual puro e direto. Contava uma pessoa que teve uma visão da presença do anjo do mal e sentiu tal perturbação interior como presença mórbida do mal que seu corpo tremia de temor e sobressalto. Pois bem, o que aquela pessoa sentiu diante da presença do Mal, os condenados sentirão diante da presença do Bem. Acostumados a escolher-se a si mesmos em puro egoísmo de paixões e orgulho, o amor e a bondade divina, agora manifestados como inalcançáveis, serão seu maior tormento, porque serão causa de se ver representados como opostos frontalmente ao que eles escolheram e viveram. Todos nós sabemos o quanto é desagradável a presença de uma pessoa com a qual tivemos uma duríssima discussão ou foi motivo de uma morte de um familiar. Por isso, a presença divina, que será motivo de felicidade para os que não rejeitaram o bem e a verdade, será motivo de profunda mágoa e rejeição para os que sempre optaram pela mentira e a maldade como fontes de sua vida. O mal dos outros, que eles escolheram como bem próprio, será agora visto como MAL em si mesmo que eles escolherão definitivamente, sabendo que é BEM para os outros e mal para eles mesmos. Tornar-se-ão PECADO não para remi-lo, como Jesus nos outros (2 Cor 5,21) mas para ver em si mesmos a justiça divina que, como dizem almas místicas, é terrível quando é vista sem ter como sombra a sua misericórdia (Hb 10, 31). E os salvados por Jesus, as suas ovelhas, possuirão a verdadeira vida definitiva, ou seja, viver plenamente a bondade humana sem mistura de êrro nem transgressão, ao contrário da vivência dos proscritos, que experimentarão a mentira e a desobediência como fundamento de sua vida que o Apocalipse chama, com propriedade, segunda morte (Ap 21, 8) já que Paulo dirá que o salário do pecado é a morte, e a graça de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 6, 23). A angústia de Jesus e a tristeza do Getsêmani, eles a experimentarão, não como redenção, mas como desesperação. Pois a (verdadeira) vida era a luz dos homens, já que o que foi feito nele era a vida (Jo 1,4). Por isso, a fé, que é entrega e submissão à verdade divina em Jesus, claramente manifestada pelas obras extraordinárias de sua vida pública, é a resposta à luz que veio aos seus e estes, em seu conjunto, não a receberam (1,11). DOU A ELES: Jesus, pastor, não é unicamente o guia, mas o que outorga a vida de suas ovelhas, de modo a que não possam perecer para sempre. E é tal a autoridade e poder de Jesus, que ninguém poderá arrebatar de sua mão as ovelhas que lhe seguem.
O PAI: O meu Pai, que me deu é maior do que todos (todas as coisas) e ninguém pode arrebatar da mão do meu Pai (29). Pater meus quod dedit mihi maius omnibus est et nemo potest rapere de manu Patris mei. O MEU PAI: É uma afirmação verdadeiramente de um valor teológico indubitável. O artigo e o adjetivo possessivo determinam de um modo muito particular tanto o Pai como o Filho. Exclui a paternidade de origem de outros homens ou criaturas e a fixa em Jesus de modo particular. O MAIOR DE TODOS: Há duas interpretações diferentes: 1ª) Meu Pai que me deu é maior do que todos. 2ª) Pelo que respeita a meu Pai, o que me deu é maior do que todas as coisas. Neste ponto a Vulgata opta pela segunda, pelo fato de que traduz o meizon [comparativo de megas=grande] neutro [e não o meizôn, como outros manuscritos no masculino], pelo neutro maius [não maior masculino], que se refere ao objeto dado.A primeira está em conformidade com o versículo anterior que afirma que ninguém tem poder para arrebatar essas ovelhas dele, e aduz como razões, duas absolutamente essenciais: 1ª) São gado que o Pai encomendou e 2ª) O poder do mesmo é superior a qualquer força oposta, pois não existe maior. A segunda opção é também a preferida pela tradução evangélica RA: Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo. A segunda hipótese realça o valor que para ele têm as ovelhas como máximo bem a ele encomendado pelo Pai. Cremos que a primeira hipótese é a mais correta, pois até o final deste versículo adapta-se melhor à mesma: Por isso (kai =e) ninguém as poderá arrebatar da mão do meu Pai. A vontade do Pai é que não se percam essas ovelhas, mas que sejam ressuscitadas no último dia (Jo 6, 39).
SOMOS UM: Eu e o Pai uma só coisa somos(30). Ego et Pater unum sumus, O grego ‘en <1520> [Hen] é neutro de modo que deveríamos traduzir eu e o Pai somos uma única coisa. Este texto serviu como chave para as controvérsias trinitárias dos primeiros séculos do cristianismo. Por uma parte, os sabelianos ou monarquistas viram nele a identidade total do Filho com o Pai, de modo que não havia distinção, e por outra parte, os arianos só encontravam nele a união de vontades e não de substância. Um comentarista, seguindo S. Agostinho escreve: Pela palavra somos, fica refutado Sabélio e pela palavra um, acontece o mesmo com Ário.
PISTAS:
1) Se em versículos anteriores, Jesus se afirma como porta única e pastor verdadeiro, agora nos encontramos com uma definição que demarca suas ovelhas, separando-as daquelas do rebanho que não é o seu próprio. Quem são elas? São as que escutam sua voz e o obedecem. Mas esta voz está determinada pelos evangelhos, que a conservam escrita, e pela tradição, que a preserva transmitida.
2) A incumbência do pastor é cuidar delas, de modo que não pereçam, nem sejam arrebatadas do rebanho por mãos estranhas e tenham a vida eterna. Qual é, pois, no dia de hoje, a base da segurança de estarmos no verdadeiro rebanho, ou de sermos verdadeiras ovelhas, já que sempre existiram heresias de separação (2Pd 2,1)? Dado que a Escritura é tão diversa e erroneamente interpretada ( 2 Pd 3, 16) mais do que o escrito em si é a interpretação que avalia o sentido da palavra. Portanto essa interpretação não pode ser deixada ao gosto e arbítrio pessoal (2 Pd 1, 20) mas feita por aqueles a quem Jesus declara: Quem a vós ouve é a mim que ouve (Lc 10, 16). Por isso, o magistério universal constitui a base da segurança de que nós escutamos a verdadeira voz do Senhor Jesus.
3) A vida eterna da qual Jesus fala e que não explica aqui, é o oposto à morte eterna. Como Jesus e o Pai são um, assim os discípulos devem ser um também ( Jo 17,11) entre si e com Jesus. Para essa unidade, a melhor ascese (=prática) é se desprender do que egoisticamente procuramos, começando a repartir nossa riqueza, tanto material como espiritual, com os que são mais pobres. Isso que os pais fazem com seus filhos, deve ser feito com todos, pois todos somos irmãos em Cristo e filhos de Deus. O exame de consciência que realizamos é falho demais; pois sempre nos detemos no mal que causamos. Devemos nos interrogar pelo bem que não compartimos; pois há maior mal que causar inveja ou deixar famintos a quem poderíamos saciar? Então veremos a raiz do mal que dentro de nós existe e veremos como nossas vidas são bastante deficientes e pecadoras. Olhar pelo bem que devemos realizar é sentire cum Christo, é abundar em suas riquezas disponíveis, é aprender a amar que, em definitivo, é entrega e sacrifício. É perder a vida para encontrar a eternidade (Mc 8, 35); porque se a verdadeira vida consiste, com diz Paulo, na fé, na esperança e no amor (1 Cor 13,13) é este, que não perece, que a determina na eternidade (ibidem 13, 8).
18.04.2010
3º Domingo de Páscoa - ANO C
__ “LITURGIA DO CÉU E DA TERRA” __
Comentário: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
A grande liturgia do céu, que constitui o modelo ideal da liturgia cristã no dia de domingo, é celebrada diante do trono de Deus e do seu Espírito por vinte e quatro anciãos e quatro seres vivos (símbolo da humanidade e das forças cósmicas). As primeiras aclamações dirigidas à Deus são sucessivamente atribuídas ao Cristo que aparece como "cordeiro", vivo, mas com os sinais de sua paixão. O coro de louvor, que inclui as criaturas espirituais do céu e todos os seres vivos e inanimados do cosmos, reconhece ao "Cordeiro Imolado" as próprias prerrogativas de Deus. Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (At 5,27b-32.40b-41): - "É preciso obedecer a Deus, antes que aos homens."
SALMO RESPONSORIAL (Sl 29): - "Eu vos exalto, ó Senhor, porque vós me livrastes."
SEGUNDA LEITURA (Ap 5,11-14): - "Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, o louvor e a honra, a glória e o poder para sempre"
EVANGELHO (Jo 21,1-19): - "Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?"
- “O Homem da Praia...”
Reflexão do Evangelho por Diácono José da Cruz
Um grande amigo que acompanha atentamente as reflexões, me alertou sobre o evangelho desse terceiro Domingo da Páscoa: “Olha Diácono, é aquele evangelho onde o “Pedrão”, joga a toalha e vai pescar..” “Pedrão” é o jeito carinhoso que ele chama São Pedro, eu não o censuro porque, de fato, a primeira impressão que se tem é essa: Que o apóstolo Pedro desistiu de tudo e voltou á vidinha antiga, indo pescar. O mais interessante, é que a sua reestréia na profissão de pescador, foi uma lástima: lidou a noite inteira com a sua equipe de trabalho, e não pescaram nada, pelo que diz o texto. Depois, um fato mais estranho aconteceu: Jesus, que era carpinteiro e não pescador, aparece na praia, pede alimento e depois dá palpite na atividade pesqueira de Pedro e dos outros pescadores experientes, mandando jogar a rede do lado direito. Dá para imaginar a cara de “poucos amigos” que Pedro fez, com aquele palpite de um estranho.Por que, vamos e convenhamos, que diferença faz, jogar a rede do lado esquerdo ou direito da barca? Aquele estranho não entende nada de pesca. Entretanto, seguindo exatamente a sua palavra orientadora, aconteceu uma pesca milagrosa, e as duas barcas ficaram tão cheias de peixes graúdos, que por pouco não afundaram. Antes que alguém diga que isso mais parece lorota de pescador, deixa-me informar que essa história é absolutamente verdadeira, mas... É claro que não se trata de peixes....
Quando Jesus chamou Pedro, Thiago e João, um belo dia á beira mar, prometeu que daquele dia em diante, iria fazer deles, pescadores de homens. Não se pode também, imaginar que Pedro decidiu sair pelos lugarejos, fazendo uma pregação meio louca, da sua própria cabeça, e que daí as coisas não deram certo. Mas o evangelista se reporta aos primeiros tempos da comunidade primitiva. Que dureza tentar cumprir a missão, sem Jesus por perto! A primeira sensação é realmente de um grande fracasso, em nossas comunidades a gente experimenta muito isso, a própria vida da comunidade, ás vezes se acha comprometida e parece que todo trabalho não vai dar em nada.
Os apóstolos sabiam muito bem qual era a missão que o Senhor lhes havia confiado, nós também nos dias de hoje, já estamos até carecas de saber qual é a missão primária da igreja, e o que compete a cada batizado fazer, para que o anúncio do evangelho aconteça, mas o problema são os métodos que nós utilizamos, será que estão corretos, será que são os mais adequados, será que não estamos querendo fazer as coisas do nosso jeito?
Há os que confundem o evangelho com ideologias políticas, ou com uma Filosofia de vida, há os que pensam que o evangelho não tem nada a ver com a nossa vida e a nossa história, com a realidade onde estamos inseridos, e pensando desta forma, lá se vão noites e noites de uma pescaria infrutífera, trabalhos pastorais, reuniões cansativas e desgastantes, projetos que não saem das gavetas, catequese “arroz com Feijão”, normas e regras na Vida dos Sacramentos, que não agregam nada. As pessoas chegam, procurando alimento, e vão embora esfomeadas, esta é uma grande verdade.
Tudo isso porque falta ás vezes o essencial, o reconhecimento de Jesus presente em nossa lida comunitária, aqui um detalhe extremamente importante: para reconhecê-lo, só a fé não basta, é preciso uma relação amorosa com Deus presente em Jesus, por isso João, o discípulo que Jesus amava, exclama feliz, ao constatar o resultado surpreendente da “pescaria” “É o Senhor!”. Jesus jamais será percebido na comunidade se faltar aquilo que é essencial: a relação de amor para com ele. Há os que o buscam somente na razão, outros o buscam e pensam tê-lo encontrado na emoção, qualquer um desses caminhos não será válido, se faltar essa relação amorosa.
Mas o coitado do Pedro quase morreu de vergonha quando escutou falar que aquele homem na praia era Jesus, e correu vestir-se porque estava nu. Sem a consciência de que Jesus caminha conosco na igreja, a gente não se reveste da graça santificadora, quando estamos nus, expomos a nossa vergonha, pois não temos como ocultá-las, mas revestidos da roupa nova que Jesus nos oferece com a Salvação, tornamo-nos homens novos, e a Luz da Graça Divina nos dá a roupagem nova, ocultando nossas fragilidades e limites, somos enfim, recriados, essa seria a palavra certa para o processo de salvação.
Comunidade é lugar de acolhimento, portanto de calor humano, que aquece com brasas fumegantes alimentando todos os que a buscam, Na brasa daquele homem misterioso á beira da praia, e que eles não sabiam ainda bem, quem era, já tinha um peixe e pão, mas ele pede alguns dos peixes que eles haviam pescado. Comunidade é lugar de alimentar e ser alimentado, de receber e de dar. Feito isso, juntando o peixe de Jesus e o seu pão, e os peixes graúdos, que são os frutos do trabalho em comunidade, seja ele qual for, o alimento está assegurado a todos. Jesus indicou o lugar, isso é, o como fazer, e eles acreditaram... Eis aí o eco das palavras da mulher das Bodas de Cana “Fazei o que ele vos disser...”
Na comunidade, Deus e Homem se unem, em uma parceria misteriosa chamada comunhão de vida, é isso, somente isso, que garante alimento em abundância a todos...
José da Cruz é
diácono permanente da Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim -
e-mail:jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Pe. Françoá Rodrigues – 3 º DOMINGO DE PÁSCOA - (Ano C)
É o Senhor!
Aquele discípulo que Jesus amava percebeu e disse: “É o Senhor!” (Jo 21,7). Além dessa vez, a palavra “Senhor” aparece cinco vezes mais no Evangelho de hoje. Esta palavra nos lembra do nome de Deus no Antigo Testamento. O livro do Êxodo nos relata que Deus apareceu a Moisés e lhe disse: “EU SOU AQUELE QUE SOU” (Ex 3,14). Deus é! Poucos capítulos depois aparece consignado num mandamento o respeito que se deve ter pelo nome de Deus: “não pronunciarás o nome de Javé, teu Deus, em prova de falsidade, porque o Senhor não deixa impune aquele que pronuncia o seu nome em favor do erro” (Ex 20,7). A tradição judaica, numa mescla de respeito e escrúpulo, deixou de pronunciar o santo tetagrama, YHWH, e utilizou “Adonai”, Senhor. Na Sagrada Escritura, Senhor é, por tanto, sinônimo de Deus, do seu nome. Fica claro, por outro lado, que a revelação de Ex 3,14 indica a transcendência de Deus já que “Aquele que é” nos diz algo do que é Deus, permanecendo, porém, no mais além.
Deus é! Ao contrário, a criatura não é! Apresenta-se assim à nossa inteligência cristã uma doutrina básica, uma distinção de primeira ordem: Deus é, a criatura não é. Deus é tudo, nós não somos nada! Deus é criador, nós somos criaturas e, por tanto, a nossa existência depende totalmente dele. É muito sadio saber quem somos, dessa maneira não iremos por aí vangloriando-nos, cheios de soberba e vaidade. É verdade: nós não somos! Somente depois, num segundo momento podemos afirmar: e o que somos vem de Deus! A nossa dependência de Deus é tal que se por algum momento ele deixasse de pensar em nós e de nos amar, deixaríamos de existir imediatamente. Isso é muito importante: Deus não me ama porque eu sou bom, mas eu sou bom e eu posso ser melhor porque Deus me ama, a minha existência e tudo o que eu tenho depende radicalmente do amor de Deus. Aquele que permanece no mais além se fez presente no mais aquém.
Ele é o Senhor! São João o reconheceu e avisou a Pedro. Depois dessa afirmação, a atitude dos discípulos vai mudando: Pedro se oculta, os discípulos se calam e não ousam perguntar nada a Jesus, ao mesmo tempo a confiança deles no Senhor vai aumentando. Quando nós tivermos mais consciência do senhorio de Deus nas nossas vidas, quando reconhecermos a transcendência de Deus, quando percebermos que ele nos ama com amor eterno, a nossa atitude também será outra. A força do Ressuscitado está se manifestando durante esses dias na Igreja. É uma realidade! Observe um pouco ao seu redor e verá na vida dos seus irmãos as maravilhas da graça. Mas, é verdade, para ver essas coisas, é preciso amar a Deus. Você percebeu que somente S. João, esse discípulo apaixonado por Deus, percebeu que era o Senhor? Como não reconhecer a Deus nas encruzilhadas da nossa vida se nós o amamos? Como não viver em sua presença se tudo o que existe nos fala dele? Meu Deus do céu, como ainda somos cegos! Vivemos frequentemente como se Deus não existisse. Estou pensando em tantos cristãos que muitas vezes atuam como se Deus não os visse, como se Deus não se importasse com eles, como se pudessem fugir da sua face adorável.
É o Senhor! Nós o temos também, e principalmente, no Sacramento da Eucaristia. Jesus é Deus, o Criador, o Senhor. Quando os sacerdotes e os leigos perceberem de verdade que é o Senhor, muita coisa mudará: as nossas celebrações eucarísticas estarão repletas desse sentimento de presença de Deus, de transcendência de Deus, e da sua proximidade amorosa. Quando isso acontecer, as paróquias serão lugares de adoração de Jesus na Eucaristia, de silencio, de respeito. Quando percebermos de verdade que Jesus está presente na Eucaristia verdadeiramente, realmente e substancialmente com o seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, participaremos da Santa Missa e da Adoração eucarística cuidando também dos detalhes do culto católico, não por escrúpulo, mas por amor: não teremos problema nenhum em adornar dignamente as nossas igrejas, em dourar ou pratear os cálices utilizados na celebração eucarística, em dar ao Senhor um sacrário fisicamente digno dele, em comportar-nos com a “urbanidade da piedade” sabendo que somos filhos amados de Deus e que, por tanto, podemos aproximar-nos com confiança do trono da graça. É o Senhor!
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 3º Domingo de Páscoa - Ano C
feito por Pe Ignácio, dos padres escolápios (extraído do site http://www.presbíteros.com.br)
EPÍSTOLA (Ap 5, 11-14)
INTRODUÇÃO: O trecho de hoje é parte da abertura do livro selado, pelo cordeiro que rompe os selos. A perícope é a introdução desse cordeiro a quem todos adoram como Deus que está no trono, e que por ser imolado, é digno de romper os selos, já que por seu sangue remiu todo homem sem distinção de tribo, língua, povo e nação (Ap 5, 9). Esta imagem de Cristo, como cordeiro, é uma das mais frequentes no Apocalipse. Provém, sem dúvida, de Is 53, 7: Como um cordeiro é arrastado ao matadouro, como uma ovelha emudece diante dos tosquiadores e não abre a boca. É também figura do cordeiro pascal de Êx 12, 3-6. Os sete chifres indicam um poder absoluto e os sete olhos de Zc 4, 10 são figuras da onisciência de Deus, pois o número sete é sinal de completa perfeição. Sete os dias em que o mundo foi feito por Deus e tudo era bom, como diz o Gn no capítulo primeiro. O cordeiro é hoje mostrado como o único que pode descobrir os mistérios da vida humana na sua História, passada, presente e futura e é por isso que é aclamado pelos habitantes do céu.
O CÂNTICO: Então vi e ouvi voz de muitos anjos ao redor do trono e dos viventes e dos anciões. E milhões e milhões (11) falantes com grande voz: digno é o cordeiro imolado de tomar o poder e riqueza e sabedoria e força e honra e glória e louvor (12). Et vidi et audivi vocem angelorum multorum in circuitu throni et animalium et seniorum et erat numerus eorum milia milium dicentium voce magna dignus est agnus qui occisus est accipere virtutem et divinitatem et sapientiam et fortitudinem et honorem et gloriam et benedictionem. TRONO [Thronos <2362> =thronus] derivado do verbo Thraö [sentar-se] é uma cadeira com escabelo para os pés, própria dos reis e magistrados. No AT Ez 1,26 viu como uma espécie de trono sobre um tablado de safira [pedra preciosa de cor azul] sobre o qual estava sentada uma figura como de homem. Era a manifestação do Senhor [Jahveh] em glória e poder. Também Satanás tem o seu trono
(Ap 2, 13) e Cristo tem o trono junto ao do Pai (idem 3, 21). Esse trono de Deus está nos céus (4, 2), reino absoluto, onde a vontade do Pai se cumpre totalmente. Ezequiel descreve a figura divina que representa Jahveh, como uma figura como de homem, sentada sobre o trono, brilhante como metal, como fogo, e ao redor dela, um resplendor como de arco íris. Não era propriamente Deus, o Senhor, como diz Ezequiel, mas a sua glória. João no Apocalipse (4, 2-3) a descreve assentada no trono, como semelhante no aspecto a uma pedra de jaspe [variedade de quartzo opaco de diversas cores] e de sardônio [ágata de cor amarela]. Uma glória, [auréola ou arco íris] nimbava o trono com reflexos de esmeralda [pedra preciosa de cor verde]. A figura do sentado no trono é Deus, segundo 7, 10: Salvação é do nosso Deus que está sentado no trono. Segundo um targum [comentário em aramaico] o nome de Jahveh [o que é] tem como comentário o triplo o que é, o que era e o que será. O Apocalipse substitui o que será pelo que vem, para implicar a expectativa escatológica de Cristo (1, 4; 8), que deveria vir entre nuvens (1, 7). Junto ao trono está o cordeiro, e em seu redor, uma série de personagens como anjos, viventes e anciãos. Saindo do trono havia relâmpagos, vozes e trovões, à semelhança do monte Sinai (Êx 20, 18). Na frente do trono estão os sete espíritos, como sete lâmpadas de fogo. Representam o multiforme e completo Espírito Divino que, na dogmática cristã, é a pessoa do Espírito Santo. Ao redor do mesmo, os anjos, os 4 seres viventes e os anciãos. ANJOS [Aggelos <32>=angelus]:antes de mais nada temos que falar que todas as criaturas celestes de alguma relevância estão diante do trono, como servidores do que é, do que era e do que será, expressão que é uma maneira de dizer o Eterno, como traduzem os modernos rabinos o nome Jahveh e que vemos em outros tempos substituído por Adonai [meu Senhor]. Entre eles, os anjos, verdadeiros cidadãos e moradores do céu ocupam o primeiro lugar, segundo diz Jesus em Mt 18, 10 e Mt 24, 36. Por isso, fala de muitos e logo na continuação dirá dez milhares e dez milhares e milhares e milhares que, em termos modernos, podemos falar de bilhões e bilhões. De seu número podemos afirmar que Jesus conhecia bem esse número, quando afirma que em sua defesa o Pai pode lhe dar 12 legiões de anjos (Mt 26, 35) quase a metade do número total [28] das legiões que constituíam o exército romano no seu século. OS VIVENTES [Zöon<2226>=animal] na realidade é um ser vivo que pode ser um animal, embora para estes tenhamos o grego Therion [besta]. A maioria traduz animais, seguindo o livro de Ezequiel, cp 1 e 10. Seu número era quatro, assim como os quatro seres vivos que, segundo Ezequiel, rodeavam o trono de Jahveh (Ez 1, 5) [hai<02416>=animal] e que a Vulgata traduz como animalia. Seu aspecto era de leão, de touro, de homem e de águia (4, 7). OS PRESBÍTEROS [Presbyteroi<4245>=seniores] em número de 24 que eram como os senadores ou consultores dos reis de antigamente. Os milhões e milhões podem ser também outros seres não nomeados especificamente, como os bemaventurados que seriam diferentes dos anjos antes nomeados como uma multidão. O LOUVOR: Todo o drama está disposto para louvar o Cordeiro imolado, que não éoutro que Cristo. A ele proclamam digno de tomar o poder e riqueza e sabedoria e força e honra e glória e louvor. São sete atributos que em número coincidem com a perfeição que é devida a todo ser superior que obtém o mando e a autoridade sobre todo o Universo. Este está representado pelos anjos do céu, pelos seres viventes, que são os representantes de todo ser vivo em suas melhores qualidades: o leão, a realeza entre os animais; o touro, a força e preeminência entre o gado; o homem, a sabedoria e como tal rei da criação; e a águia, rainha das aves e a rapidez de movimento. São como os quatro pontos cardinais em que o Universo tem sua base de sustentação. Os presbíteros em número de 24 representam as 24 classes sacerdotais do AT, ou as 24 horas do dia, ou em duas partes divididos, os 12 patriarcas ou profetas do AT e os doze apóstolos do Senhor aos quais Deus confiou o reino.
O UNIVERSO: E toda criatura que está no céu e na terra e debaixo da terra e sobre o mar, as que existem e as que neles, todas ouvi dizendo ao que está sentado sobre o trono e ao cordeiro: o louvor e a honra e a glória e o poder pelos séculos dos séculos (13). Et omnem creaturam quae in caelo est et super terram et sub terram et quae sunt in mari et quae in ea omnes audivi dicentes sedenti in throno et agno benedictio et honor et gloria et potestas in saecula saeculorum.Até este momento, o louvor provinha dos céus mais altos, onde o trono se encontrava. Agora será toda criatura do Universoque entra para formar parte do hino de louvor e da proskinesis correspondente. CRIATURA [Ktisma <2938>=creatura] o significado é ser feito (logicamente por Deus) como em 1Tm 4, 4: pois toda criatura de Deus é boa. No Apocalipse, Ktisma sai de novo em 8, 9 ao falar da terceira parte das criaturas do mar que morreram. Trata-se, pois dos seres vivos criados por Deus, segundo o que diz o Gênesis: Deus criou os animais selvagens… os grandes e os pequenos, segundo a sua espécie (1, 25) e viu tudo que havia feito e eis que tudo era bom (1, 31). Ou como diz o quarto evangelho: Tudo foi feito por meio dele; e sem ele, nada se fez do que foi feito (1, 3). E o evangelista amplia a definição de criatura a todo o âmbito universal com centro na terra; e no céu e no mar e no mundo inferior como rodeando a mesma. Nada do que existe, como mundo animado, está fora de sua visão universalista. Quando fala do mar coloca as criaturas sobre ele, pois o abismo [o profundo do mar] era o mundo de Satanás e este não podia louvar nem a Deus, nem ao cordeiro, objetos da louvação do canto em questão. Tudo o que pode louvar une-se a essa glorificação dada a Deus [o sentado no trono] e ao Cordeiro imolado [Cristo]. O CORDEIRO [Arnion <721>=agnus] A palavra é diminutivo de arén [<704>=cordeiro, que não estava em uso], e é usada 30 vezes no NT, das quais uma única vez em Jo 21, 15 quando Jesus pede a Pedro que alimente meus cordeirinhos [ta arnia mou]. Fora deste versículo, todas as demais entradas estão no Apocalipse, como título com que é conhecido o Cristo. Fora destas passagens em Jo 1, 29 o Batista chama Jesus de amnos [<289>=agnos]. Esta palavra é a própria para cordeiro, não o diminutivo, e sai 4 vezes no NT: duas em João (1, 29 e 1, 36) e uma em At 8, 32 e a outra em 1 Pd 1, 19. Arnion é usado pelo autor do Apocalipse precisamente porque quer ressaltar a ideia do cordeiro ou seh [<07716>=agnus], no sentido geral de rês pequena, pois podia ser um cabrito, distinto do Kebes [<03532>=agnus] cordeiro; e de ‘ez [<05795> =haedus] cabrito. O cordeiro pascal devia ter menos de um ano e, portanto um cordeirinho (Êx 12, 5). O arnion como vítima pascal deve ser diferenciada dos dois cordeiros [kebes] sacrificados diariamente em holocausto [òlah<59930>=oblatio]. Estes recebiam o nome geral de Tamid segundo Êx 29 38-42. Os dias de lua nova o número de vítimas se multiplicava, assim como nas grandes festividades, especialmente na semana dos tabernáculos. Era holocausto em ação de graças e não pelos pecados. Mas no dia do Pessah (Êx 12, 27) o cordeiro [seh] seria imolado e comido e o que não fosse consumado seria através do fogo, de modo que era também uma espécie de holocausto. Porém a verdadeira imolação de Cristo, como cordeiro [amnos] por [hyper] o pecado do mundo (Jo 1, 29) foi feita na cruz, e seria a réplica única e irrepetível do dia do Yom Kippur, segundo Hb 9, 12; pois foi feita de uma vez e não todos os anos, repetida pelo Sumo Pontífice, como no AT. O LOUVOR: É um canto de ação de graças e de reconhecimento do poder e sabedoria a quem se rende eternamente as vontades e o acatamento de todo o Universo. Assim será a ida futura e assim deve começar nossa vida na terra.
A ADORAÇÃO: E os quatro viventes diziam: Amém. E os vinte e quatro anciões caíram e prostraram ao que vive pelos séculos dos séculos (14). Et quattuor animalia dicebant amen et seniores ceciderunt et adoraverunt. AMÉM: Pode ser traduzido por assim éou assim será (Ap 22, 29). Sai 13 vezes no texto massorético e 16 no texto grego da Septuaginta. Nas doxologias do Kaddish, como oração final nas sinagogas, era a resposta dos fiéis às bênçãos do presidente recitadas após a leitura da Escritura, ou de uma homilia religiosa, nas sinagogas. O significado real é certamente ou em citações: que conste. Popularmente tem o significado de Palavra de Deus. Em serviços religiosos significa estar de acordo com o anteriormente expressado como em I Cor 14, 16. Do hebraico passou a todas as línguas e é praticamente uma palavra universal, de modo a ser a mais conhecida das palavras em língua humana. É quase idêntica a palavra amam que significa crer ou fiel, do qual temos um exemplo em Ap 3, 14 em que Cristo é o amém, testemunha fiel. Assim significa certamente ou verdadeiramente, expressão de absoluta verdade e confiança, como em Ap 22, 20. João, no quarto evangelho, a usa repetidamente, amém, amém 25 vezes o que significa com toda certeza. PROSTRARAM: É a proskinesis como ato de homenagem aos reis que consistia em se ajoelhar, tocando a frente no chão e estendendo os braços em gesto de súplica. QUE VIVE: Com o sufixo de pelos séculos indica a pessoa do Pai de que anteriormente disse o que é, o que era e o que será, como tradução da palavra Jahveh, o Eterno. Este canto segue ao canto do cordeiro em Apocalipses capítulo 5.
Evangelho (Jo 21, 1-19)
APARIÇÃO NA GALILEIA
INTRODUÇÃO: No relato de hoje, advertimos duas cenas distintas: 1ª) Uma aparição de Jesus a seus discípulos na Galileia. 2ª) Uma conversa particular com Pedro a quem encarrega o mando como pastor de seu novo rebanho. A barca, a pesca, a comida, apontam para a dimensão universal da Igreja constituída por aqueles que Jesus designou como pescadores de homens. É a renovação da missão apostólica começada precisamente no mesmo mar e com os mesmos pescadores. Daí que a conversa com Pedro tenha um objetivo particular como representante dessa mesma missão. Jesus, com a tríplice pergunta, quer reabilitar o apóstolo, covarde diante de um testemunho que podia implicar castigos e penalidades, mas que, uma vez declarado seu amor pelo Mestre, corajosamente o declarará perante as autoridades religiosas dos hebreus e civis dos romanos. A sua morte será como a firma da verdade de sua pregação. Ninguém poderia, diante dos fatos últimos de sua vida, repreendê-lo ou menosprezá-lo pela covardia no pátio da casa de Caifás.
A APARIÇÃO: Depois destas (coisas), manifestou-se de novo Jesus aos discípulos, junto ao mar de Tiberíades.Manifestou-se, pois assim (1). Postea manifestavit se iterum Iesus ad mare Tiberiadis manifestavit autem sic. DEPOIS DISTO: O grego meta tauta [depois disto] é mais uma conjunção literária do que cronológica ou histórica. Admite, portanto, outras aparições às quais o evangelista não presta atenção por não considerar importante ou relevante a catequese delas derivada. MANIFESTOU-SE: O verbo com o qual o evangelista descreve a aparição é FANEPOÖ [<5389>=manifestare], cujo significado é manifestar, deixar claro, tornar visível. Esta última acepção é a mais conveniente no trecho de hoje. Jesus se tornou visível junto ao mar de Tiberíades. Segundo Mateus, era o lugar que o anjo apontou às mulheres, como próprio para se manifestar como ressuscitado (Mt 28, 10).TIBERÍADES: O nome do lago em hebraico é Kinneret ou kinnerot, que, traduzido ao grego, tomou a forma de Gennesaret. A palavra original deriva do nome Kinnor, cítara, devido à forma da sua superfície. No NT seu nome é de mar ou lago de Galileia (Mt 4, 18) ou de Genesaret (Lc 5, 1). No ano 20, Herodes Antipas transformou uma pequena aldeia de nome Rikkat, na capital de seu tetrarcado. Com esse nome de Tiberíades desejava Antipas honrar o imperador reinante, amigo de sua juventude em Roma. Por sua vez, Tibério deriva de Tíber que muitos afirmam ter o significado etrusco de rio-deus [river-god]. No tempo de Jesus, o mar era conhecido como mar de Tiberíades, uma das quatro cidades santas do judaísmo, [Jerusalém, Hebron, Tiberíades e Safed], pois foi nela que os rabinos se refugiaram após a queda de Jerusalém e redigiram a Mishná e o Talmud. O mar de Tiberíades, segundo a tradução judaica, era um mar de peixes puros, peixes que qualquer pessoa podia pescar com anzol; mas que, com rede, unicamente tinham direito a fazê-lo os descendentes da tribo a quem correspondeu a região, como sorte da divisão territorial da terra prometida.
OS DISCÍPULOS: Estavam juntamente Pedro e Tomé, o apelidado Dídimo, e Natanael, o de Caná da Galileia, e os do Zebedeu e outros dois dos seus discípulos (2). Erant simul Simon Petrus et Thomas qui dicitur Didymus et Nathanahel qui erat a Cana Galilaeae et filii Zebedaei et alii ex discipulis eius duo. TOMÉ: O nome do discípulo era Tomé, forma sincopada de To‘am [gêmeo] em grego Thomas de quem sabemos algumas coisas, devido a pena do quarto evangelho, pois os três sinóticos só trazem seu nome na lista dos doze. Pelo quarto evangelho conhecemos algumas características do discípulo: que seu apelido era Dídimo [duplo, ou gêmeo como nome], tradução do To’am hebraico, tudo nos leva a um ambiente greco-hebraico, próprio das cidades do norte da Galileia; de seu espírito forte e resoluto, ao convidar os outros discípulos a seguir Jesus a Jerusalém para morrer com o mestre(Jo 11, 16); que era curioso e queria saber das coisas claras ao pedir na última ceia explicações a Jesus sobre sua partida e o caminho (Jo 15, 5), de sua ausência no domingo, quando Jesus se apresentou pela primeira vez ressuscitado (Jo 20, 24); de seu ato de fé uma vez que viu e creu no domingo seguinte (Jo 20, 26) e agora neste trecho final do evangelho. NATANAEL: Nathanaël <3482> em grego, significa, segundo o hebraico original Dom de Deus. No AT era uma das cabeças de família da tribo de Issacar (Nm 1, 8). No NT é o nome de um discípulo do Senhor, que segundo a tradição se confunde com Bartolomeu, sendo este nome patronímico para indicar o pai, e significando filho de Tolmai. Segundo o quarto evangelho, Natanael era de Caná da Galileia (Jo 21, 2). Era amigo do apóstolo Filipe (Jo 1, 46) e tinha em pouco caso os nativos de Nazaré. Dele, diz Jesus que era um autêntico israelita sem mentira (Jo 1, 47), que o conhecia quando estava sob a figueira, ao que Natanael respondeu declarando Jesus como Messias (Jo 1, 49). Ao estarem juntos, significa que Natanael formava parte dos 12, entre os quais também se encontravam outros dois que João não nomeia nesta ocasião. Aqui, a palavra mathetés tem o sentido de apóstolo, indivíduo do grupo que formava os doze, apontados por Jesus como seus íntimos seguidores. Temos, pois, um total de sete, reunidos em torno de Pedro que se dispõem a pescar, dos quais cinco aparecem com nome próprio. Estavam juntos, provavelmente na casa de Simão Pedro, já que este toma a iniciativa de pescar durante a noite ou muito de madrugada (v. 3 ).
O CONVITE: Diz a eles Simão Pedro: vou pescar. Dizem-lhe: Vamos também nós contigo. Saíram e subiram ao barco de imediato. E naquela noite nada capturaram (3). Dicit eis Simon Petrus vado piscari dicunt ei venimus et nos tecum et exierunt et ascenderunt in navem et illa nocte nihil prendiderunt. É Simão Pedro que levado de sua vivacidade, como homem tremendamente ativo, convida a todos a pescar. Saíram, diz João, o que significa que estavam reunidos numa casa, e entraram no barco para pescar. Mas naquela noite nada apanharam. Repete-se o caso da pesca milagrosa de Lucas 5, 4+ . Alguns intérpretes pensam que ambas as pescarias são redutíveis a uma só.
A PESCA: Chegada já, pois a manhã, apresentou-se Jesus, de pé, na praia (todavia não conheceram os discípulos que é (sic) Jesus)(4). Diz-lhes então Jesus: Moços, não tendes por acaso alguma coisa de comer? Responderam-lhe: Não (5). Ele, pois, lhes disse: Lançai ao lado direito do barco a rede e encontrareis. Lançaram, portanto e já não puderam puxar pela multidão dos peixes (6). Mane autem iam facto stetit Iesus in litore non tamen cognoverunt discipuli quia Iesus est. Then Jesus said to them, Children, do you not have anything to eat? They answered Him, No. dixit eis mittite in dexteram navigii rete et invenietis miserunt ergo et iam non valebant illud trahere a multitudine piscium. A inutilidade dos esforços durante a noite e primeiras luzes do dia [o tempo mais propício para a pesca] vê-se interrompida pela presença na praia de um estranho, a quem não conhecem, mas que ordena lançar a rede à direta do barco. A palavra moços, na realidade, seria meninos, tradução direta de paidia grego, um diminutivo de pais, filho, criança ou servo, que na tradução espanhola é muchachos e ragazzi em italiano. O grego prosfagion significa propriamente um acompanhamento para o pão, geralmente peixe. A vulgata traduz por pulmentarium manjar composto de farinha e legumes cozidos, ou qualquer manjar. Assim se explica como viram as brasas arrumadas sobre as quais estavam os peixes e o pão. Jesus trazia, pois, o pão e esperava que os peixes fossem ofertados pela pesca que estava no ponto de terminar, pois era de manhã cedo que os pescadores do lago traziam suas capturas. A reposta foi Não. LANÇAI A REDE: Era um mandato, ou uma proposta? Vejamos alguns pontos interessantes. Já temos em outra ocasião falado do significado da direita para a cultura judaica da época.A pesca foi tão volumosa que não conseguiram puxar ou arrastar a rede. Esta é descrita com o genérico nome de diktyon. A rede diktyon, era o nome comum que poderia ser diferenciado em amfiblestron (=tarrafa) e sagene (=rede de arrastão). Pela continuação, veremos que parece ser a rede do tipo tarrafa, pois lemos que não podiam puxá-la por causa da multidão dos peixes, que eram grandes em número de 153. E se admiraram de que a rede não estivesse rota. O número indica duas coisas: a primeira, que os pescadores tinham que pagar impostos pelo número de peixes fisgados, logo temos a valoração de um experto, e em segundo lugar o número tinha um sentido cabalístico como veremos no parágrafo correspondente.
É O SENHOR: Diz então o discípulo, aquele que Jesus amava, a Pedro: É o Senhor. Simão, pois, Pedro, tendo ouvido que é o Senhor, cingiu o colete (de pescador), pois estava nu, e lançou-se ao mar (7). Dicit ergo discipulus ille quem diligebat Iesus Petro Dominus est Simon Petrus cum audisset quia Dominus est tunicam succinxit se erat enim nudus et misit se in mare. O DISCÍPULO AMADO: O discípulo amado reconheceu no fato extraordinário da pesca a presença de Jesus. Era a segunda vez que semelhante pesca acontecia em suas vidas de calejados pescadores (Lc 5, 4-7). Por isso, disse a Pedro: O senhor é Jesus ressuscitado, pois não poderia ser outro devido ao fato tão extraordinário. Quem era esse discípulo? Há 4 possibilidades: um dos filhos do Zebedeu, ou um dos outros dois discípulos que não são nomeados. Descartados estes últimos, podemos pensar num dos dois irmãos filhos do Zebedeu. E dentre Tiago e João este tem a maior possibilidade porque era o companheiro de Pedro em muitas ocasiões de modo que entre os dois existia uma íntima amizade, como vemos na pergunta final de Pedro em 19, 20. Pedro e João serão os dois discípulos que prepararam a Páscoa (Lc 22, 8). E do momento em que pela terceira vez Jesus aparece, estarão unidos como em At 1, 13; curam o paralítico 3, 11, e são chamados ao sinédrio após serem presos (4, 3,7). Por isso, o mais provável é supor que era João o discípulo amado, também predileto de Pedro como amigo íntimo, que por ser amigo do pontífice abriu as portas a quem, no instante da prisão, não teve medo de lutar; mas que logo caiu, renegando conhecer Jesus diante dos criados. Pedro, também nesta ocasião, não esperou ter no barco os peixes e se cingiu da capa, ou colete (de pescador), pois estava sem a túnica, e se lançou ao mar. Esta é a tradução que pensamos expressa melhor o original grego. Pedro não podia cumprimentar o Senhor nu, ou seja, só com o calção, pois o intercâmbio de saudações era considerado como um rito religioso. Para um judeu vestir só a túnica era estar nu. Já a tradução das duas palavras chave: epenyitês e diazônnymi tem o significado respectivo de casaco de pescador e cingir. Eis, pois, a razão da tradução que temos antes oferecido. Alguns autores traduzem que cingiu o blusão, pois não tinha embaixo outra roupa e assim se atirou ao mar. Nas margens do lago, a terra afunda rapidamente, de modo que Pedro teve que nadar antes de encontrar o chão de areia da praia. Comparando o relato de Lucas da primeira pesca milagrosa com esta de João, vemos como Pedro, uma vez em terra faz a proskinese e se declara homem indigno e pecador. Desta vez, ele se aproxima adiantando-se a seus companheiros.
OS OUTROS DISCÍPULOS: Então os outros discípulos no barquinho, vieram, pois não estavam longe da terra senão como duzentos côvados, puxando a rede dos peixes (8). Ora como desceram na terra, veem brasas preparadas (no chão) e um peixinho sobre elas e pão (9). Alii autem discipuli navigio venerunt non enim longe erant a terra sed quasi a cubitis ducentis trahentes rete piscium. Ut ergo descenderunt in terram viderunt prunas positas et piscem superpositum et panem. O trabalho de arrastar a rede com os peixes foi deixado aos outros discípulos, que estavam na barca [pequena nave, segundo o original grego]. Os duzentos côvados eram aproximadamente 100 m de distância da margem, pois o cubitus romano era aproximadamente 532 mm. Mas quando chegaram viram um peixe sobre umas brasas (andrakian= prunas latino) que estavam preparadas (keimenên, ou positas, como se descreve o estado dos panos vazios do sepulcro e que no caso traduzimos por arrumados, Jo 20, 6) sobre elas um peixinho superposto, e pão. Provavelmente o pão estava também sobre as brasas, como era costume assá-lo. Jesus tinha preparado o café da manhã de seus discípulos. É quando veem o café preparado, Jesus lhes pede que tragam dos peixinhos (sic) assim pescados. Foi quando Pedro subiu ao barco e arrastou a rede até terra, rede que estava cheia de 153 peixes; e sendo tantos, não se rompeu. Nada diz o evangelista sobre o que Pedro viu, tudo o que demonstra que o evangelista somente narra o que ele próprio viu, sendo, portanto homem diferente do apóstolo Pedro, e só escrevendo como testemunha vidente e não pelo que ouviu, como testemunha de testemunhas.
FALA JESUS: Diz-lhes Jesus: Trazei dos peixinhos que capturastes, agora (10). Subiu Simão Pedro e arrastou a rede sobre a terra, cheia de peixes grandes, 153; e, sendo tais, não se rompeu a rede (11). Dicit eis Iesus adferte de piscibus quos prendidistis nunc. Ascendit Simon Petrus et traxit rete in terram plenum magnis piscibus centum quinquaginta tribus et cum tanti essent non est scissum rete. CENTO E CINQUENTA E TRÊS: O número é exato, não redondo, e pode significar, na gematria [numerologia hebraica] da época, algum mistério que S. Jerônimo explica dizendo que os gregos distinguiam exatamente 153 espécies de peixes, com os quais a captura era símbolo da totalidade da pesca que os discípulos, já como pescadores de homens viriam realizar. Mas esse número de espécies é contestado porque outros apontam números superiores ou inferiores. Uma outra solução é que o número 17 composto do 10 e 7, que simbolizam a perfeição, são pontos que, colocados como lado de um triângulo e multiplicados por 3, dá 51 e como são três lados teremos 153. Sabemos da gematria, ou seja, da representação numérica de letras e frases, tal como o número 666 no Apocalipse 13, 18. Mas parece que o número é um claro indício de que o narrador estava lá e sabia bem e narrava corretamente o que tinha presenciado. Esta é a mais correta solução do caso. Por isso, pode ele afirmar que esta era a terceira vez que Jesus apareceu aos discípulos, havendo sido ressuscitado dos mortos. O evangelista era também pescador e sabia que esse número tão grande de grandes peixes tinha necessariamente que ter rompido a rede. Daí que identificá-lo com Lázaro, como sendo o autor do evangelho, seja uma hipótese impossível. O quarto evangelista era um dos doze, um pescador, a quem Jesus distinguia com seu afeto especial: dos três apóstolos de tal forma distinguidos, devemos excluir Pedro, pelo que veremos na continuação. Não era Tiago, pois este estava morto quando o evangelho foi escrito. Logo só fica João , que aliás tem toda a tradição atrás de seu nome.
A REFEIÇÃO: Diz-lhes Jesus: Vinde, comei. Porém ninguém dos discípulos se atrevia a lhe perguntar tu quem és, porque eram conscientes que és o Senhor (12). Vem, pois Jesus e toma o pão e dá a eles e o peixe semelhantemente (13). Esta é a terceira vez que se manifestou Jesus ressuscitado dentre os mortos. Dicit eis Iesus venite prandete et nemo audebat discentium interrogare eum tu quis es scientes quia Dominus esset. Et venit Iesus et accepit panem et dat eis et piscem similiter. Hoc iam tertio manifestatus est Iesus discipulis cum surrexisset a mortuis Esta já a terceira (vez) se manifestou Jesus a seus discípulos, tendo surgido dos mortos (14). Dicit eis Iesus venite prandete et nemo audebat discentium interrogare eum tu quis es scientes quia Dominus esset Et venit Iesus et accepit panem et dat eis et piscem similiter. Hoc iam tertio manifestatus est Iesus discipulis cum surrexisset a mortuis Temos traduzido respeitando os tempos verbais de modo especial que és o Senhor. Não é uma simples asseveração de um fato, mas uma afirmação clara de fé no Ressuscitado, como o novo Senhor de suas vidas. Jesus toma o pão e o peixe e reparte aos seus discípulos, fazendo de sua manifestação uma comida, como tinha dito anteriormente na parábola do banquete, que representava o Reino (Mt 22, 2). E o evangelista termina esta parte do seu evangelho afirmando que era a terceira vez em que Jesus se manifestava uma vez ressuscitado a seus discípulos reunidos. Aqui, discípulo está em sentido restritivo do conjunto dos doze.
PEDRO: Uma vez, portanto tomaram o desjejum, diz Jesus a Simão Pedro: Simão de Jonas me amas (agapas) mais que estes? Diz-lhe: Sim, Senhor, tu tens conhecimento que te amo (filo). Diz-lhe: alimenta (boske) meus cordeirinhos (15). Cum ergo prandissent dicit Simoni Petro Iesus Simon Iohannis diligis me plus his dicit ei etiam Domine tu scis quia amo te dicit ei pasce agnos meos. Jesus, após a refeição da manhã, como indica o verbo aristeö grego, se dirige especialmente a Pedro e em três perguntas formais exige do apóstolo uma retificação de suas três negações. As palavras empregadas por Jesus não parecem uma simples escolha literária, mas também uma marcada seleção intencional. Jesus chama Pedro pelo seu nome inicial: Simão de Jonas, como se esse momento e circunstâncias fosse uma citação judicial. Jesus usa o nome real e o sobrenome patronímico do apóstolo. Quem era o pai de Simão? João ou Jonas? Segundo o quarto evangelista era filho de João (1, 42 e 21, 15-17), segundo o texto grego de Marcos é de Jonas [segundo o texto de Nestlé]. Já Mateus em 16, 17 diz ser ele barjona o que significa filho de Jonas. Uma outra questão é que o latim traduz Simon Johannis unicamente no trecho de hoje, ou seja, filho de João, quando no grego temos filho de Jonas, segundo o grego de Nestlé. Efetivamente em duas ocasiões os evangelistas usam o verdadeiro nome oficial do apóstolo: Mateus quando Jesus o coloca como chefe da Igreja e o chama em aramaico como Simão bar Iona (Mt 16, 17) e nesta ocasião também ao revesti-lo com o cuidado pastoral de todo o rebanho, chamando-o Simão Iona. Ionah ou Ionas significa pomba em hebraico e João significa presente de Deus. Mais que estes: O comparativo pode ser traduzido por estes ou estas coisas, ou seja, seu barco, suas redes, seus peixes, seu trabalho. Parece que pela conclusão de toda a perícope devemos pensar nestes, ou seja, os outros discípulos. Ao verbo agapaö, amar em termos gerais, Pedro responde com o fileö, um amor especial dedicado ao amigo, muito mais que ao senhor. Apapáô expressa um amor mais espiritual, como o que existe entre homem e Deus ou usado para o amor para com os inimigos e filéô o amor entre amigos. Nas respostas, Pedro sempre usa o filéô, mas não parece existir grande diferença entre os dois verbos; pois antes de dar a terceira resposta o evangelista une os dois verbos ao afirmar que Pedro ficou triste por Jesus ter perguntado três vezes se o amava (filéô). O verbo saber (eideö) tem como significado original ver, mas também a Vulgata traduz por scire (saber) como o fazem as línguas vernáculas. A resposta de Jesus traduzida diretamente do grego é: Alimenta (Boske) meus cordeirinhos (arnia). Na segunda proposta, no lugar de boske usa poimaine, cujo significado primário é apascentar.
SEGUNDA PERGUNTA: Diz-lhe de novo pela segunda vez: Simão de Jonas. Amas-me (agapas)? Diz-lhe: Sim, Senhor, Tu conheces que te amo (filo). Diz-lhe: apascenta minhas ovelhas. Dicit ei iterum Simon Iohannis diligis me ait illi etiam Domine tu scis quia amo te dicit ei pasce agnos meos. Comparada esta segunda pergunta e declaração com a primeira, vemos que a pergunta é a mesma, usando os mesmos verbos, agapaö e fileö; mas na resposta de Jesus encontramos duas diferenças: o verbo boskö (alimentar) é substituído por poimainö (apascentar) e o arnia (cordeirinhos) por probata (sheep, gado menor, como ovelhas e cabras). Podemos pensar que as diferenças são unicamente redacionais. Porém creio que as palavras foram escolhidas com sumo cuidado: Boskö para alimentar os cordeirinhos (arnia) e poimeine para apascentar ou pastorear as ovelhas (probata).
TERCEIRA PERGUNTA: Diz-lhe pela terceira vez: Simão de Jonas amas(fileis) me? Contristou-se Pedro porque lhe disse pela terceira vez amas (fileis) me e lhe disse: Senhor tu percebes todas as coisas tu conheces que te amo (filo). Diz-lhe Jesus: Alimenta minhas ovelhas. (17). Dicit ei tertio Simon Iohannis amas me Contristatus est Petrus quia dixit ei tertio amas me et dicit ei Domine tu omnia scis tu scis quia amo te. Dicit ei pasce oves meas Na terceira resposta usa o verbo gignoskö, conhecer, como complemento de eidö. A tradução seria: todas as coisas tu soubeste (viste), tu conheces (gignoskeis) que te amo. O emprego do passado indica que Pedro tem consciência de que Jesus está querendo tirar dele tantas respostas afirmativas quantas negações obtiveram os criados na noite em que Jesus esteve em casa de Anás. A cada resposta Jesus acrescenta um pastoreio especial. Como temos narrado anteriormente, os verbos usados boskö e poimainö têm significados parecidos. Boskö é usado na pergunta 1 e 3 e tem como significado fundamental alimentar, e poimainö significa tomar conta, ou guardar. Porém não parece que estes detalhes entrem nos preceitos de Jesus. Os animais que metaforicamente representam os homens a serem pastoreados são cordeirinhos (1) e reses menores como ovelhas e cabras (2 e 3). Na metáfora existe alguma distinção com sentido especial entre cordeirinhos e ovelhas? Provavelmente não. Os três mandatos seguem as três disponibilidades de Pedro, mas poderiam ter sido uma só pergunta e um só mandato; mas, como temos dito, foi um ato premeditado de Jesus para indicar que cada uma das negações tinha um sentido tanto teológico como humano especial. Jesus também sentiu cada uma das negações como um golpe baixo de quem era seu amigo e de quem se esperava mais coragem e amor. Mas existe também uma conclusão óbvia: O amor apaga toda culpa e toda pena de pecados anteriores. Jesus já o havia afirmado quando a pecadora regou com pranto os seus pés: Seus numerosos pecados são perdoados porque ela demonstrou muito amor (Lc 7, 47). Esta conclusão é suficiente para admitir a existência do pecado e sua permissão pela providência divina. Jesus mesmo dirá, como confirmação desta disposição divina, que há maior alegria por um pecador que se arrepende do que por 99 justos que não necessitam de arrependimento (Lc 15, 17). E esse foi o destino de Jesus: buscar os pecadores (Lc 5, 32). Uma outra conclusão é a de que Pedro é o novo pastor do rebanho de Jesus, seu sucessor e não somente como pastor, mas também como oferenda ao Pai a quem devia dar glória, como Jesus fez com sua morte, exatamente como, na continuação, afirmará profeticamente Jesus.
A PROFECIA: Certamente, certamente te digo: quando eras mais jovem cingias a ti mesmo e andavas onde querias; quando, porém tenhas envelhecido, estenderás tuas mãos e outro te cingirá e te levará onde não queres(18). Isto, portanto disse, significando com que classe de morte dará glória a Deus; e dizendo isso diz-lhe: acompanha-me (19). Amen amen dico tibi cum esses iunior cingebas te et ambulabas ubi volebas cum autem senueris extendes manus tuas et alius te cinget et ducet quo non vis. Hoc autem dixit significans qua morte clarificaturus esset Deum et hoc cum dixisset dicit ei sequere me. O DESTINO: As palavras certamente, certamente [amém, amém] são o início com o qual Jesus reclama a atenção e propõe uma espécie de juramento em que o narrador empenha sua palavra sobre a verdade do que afirma. A palavra amém tem origem hebraica: era a resposta que os ouvintes davam à oração do dirigente, como confirmação, à semelhança do que fazem os evangélicos após ouvirem um sermão, [amém, aleluia] e significaria assim seja. Mas também temos o amém no início de uma afirmação, exatamente como faz o quarto evangelho, que tem o costume de repetir a palavra, e significa que a declaração equivale a um juramento e traduziríamos por verdadeiramente os asseguro. O destino de Pedro era perder a liberdade de modo a ter que estender as mãos (ou braços); porão um cinto [ou atadura ] ao teu redor e serás levado onde não desejas. E isto na velhice. O evangelista comenta que essa foi a morte com a qual daria Pedro glória a Deus. Significava morte de cruz? Ágabo, o profeta, predisse a Paulo que seria preso (At 21, 11-12), ligando pés e mãos com o cinto do apóstolo. Pelo menos Jesus profetiza a prisão de Pedro e uma morte como consequência da mesma, que nas palavras deste versículo não podemos afirmar seja de cruz. Porém existe uma circunstância que sempre foi admitida como símbolo da cruz: estender os braços. Tendo em conta que o kai grego é tradução do wau hebraico e que este nem sempre é uma conjunção copulativa, poderíamos traduzir: estenderás os braços(= morte de cruz), já que outro te cingirá (ser preso) e te conduzirá onde tu não desejas. Por isso o evangelista dirá que essas palavras seriam sinal da morte com a qual ele daria glória a Deus e o anima a seguí-lo. A glória seria dar a vida em obediência como Jesus declarou: Meu Pai é glorificado quando produzis muito fruto e vos tornais meus discípulos (Jo 15, 8). Estas palavras indicam que o evangelista as escreveu, após a morte de Pedro no ano 64 em Roma, no império de Nero. Ao mesmo tempo confirmam as palavras de Jesus: O discípulo não é maior do que seu mestre (Mt 10, 24).
PISTAS:
1) Temos aqui um perdão dado, pecado por pecado, e com uma penitência que exige o amor onde antes existia uma apostasia. Se Jesus assim perdoa o pecado gravíssimo de seu apóstolo e o confirma em seu ministério, não se compreende como alguns rigoristas dos primeiros séculos recusaram o perdão aos apóstatas que, levados pela covardia, renegaram sua fé oferecendo incenso aos ídolos.
2) A conduta de Jesus não é unicamente de perdão, mas também de restituição de um ministério do qual Pedro mostrou-se indigno com sua conduta. A conduta dos homens constituídos como pastores não deve ser motivo de tanto escândalo como para desanimar e anular a fé dos crentes.
3) Jesus exige amor tanto dos que quer sejam seus pastores, como também amor dos que um dia quebraram seus vínculos. Um pecador arrependido não é só um desgarrado que volta, mas todo aquele que admite sua maldade e quer voltar ao caminho do amor e da fidelidade.
4) O perdão divino segue o amor humano, que realmente restitui e regenera o pecador. O amor é a base dos que querem ser admitidos como membros da família divina, ou seja, filhos de Deus. Este mundo é uma ocasião de aprender a amar, um amor do qual, como diz S. João da Cruz, seremos julgados no último dia.
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agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão
em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE
A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores
se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!
Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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