GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
18.07.2010
XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C
__ “A CASA DO CRISTÃO E A HOSPITALIDADE” __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Jesus não se comporta como um hóspede com um, também quando é recebido por amigos de longa data, como Marta e Maria, ele exige atenção especial à sua mensagem e à sua pessoa. Acolher Cristo hóspede é principalmente "ouvi-lo", por-se em atitude de receptividade, mais do que de dar. É ouvindo-o que se entra em comunhão com ele e se é transformado. Quem se preocupa mais com as coisas a dar do que com a pessoa com quem se comunica, fica distante. Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Gn 18,1-10a): - "Meu Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem, sem parar junto a mim, teu servo."
SALMO RESPONSORIAL (Sl 14 / 15): - "Senhor, quem morará em vossa casa?"
SEGUNDA LEITURA (Cl 1,24-28): - "Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo"
EVANGELHO (Lc 10,38-42): - "Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada"
Homilia do Diácono José da Cruz – XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
Hospedar ou acolher, eis a questão...
Há uma grande diferença entre hospedar e acolher . Quando Jesus chegou na casa de Marta, ela mal teve tempo de saudá-lo e já se entregou às tarefas domésticas, limpar e organizar toda casa, preparar o quarto para o hóspede ilustre e ainda fazer a refeição. Jesus era um hóspede e foi assim que Marta o tratou, de maneira formal tendo como lema, primeiro o serviço e depois a amizade. É mais ou menos assim, quando chegamos de surpresa na casa de alguém, e que não tendo quem nos faça sala, a pessoa diz “Olha, estou ocupada, mas pode falar que estou ouvindo”. Acho que se Maria não estivesse em casa, era isso que Marta iria acabar fazendo: “Olha Senhor sinta-se a vontade, daqui a pouco minha irmã chega para lhe fazer sala, não repare se estou trabalhando, pois hoje é dia de faxina e ainda tenho de preparar a refeição”. Maria ao contrário, sentou-se aos pés de Jesus para ouvi-lo, sem pressa ou nenhuma outra preocupação.
E que diferença, quando a pessoa nos acolhe de maneira fraterna, carinhosa, dando-nos toda atenção, e faz o clássico convite “olha, você já é de casa, vamos lá prá cozinha bater um bom papo que vou passar um café fresquinho”. E a conversa vai longe, e o cheirinho bom do café sendo coado, quem sabe um biscoitinho, um docinho caseiro, isso é mais que uma simples hospedagem, é acolhimento e faz uma diferença enorme porque é um tratamento personalizado.
Parece-me que esse evangelho está querendo nos perguntar, se em relação a Jesus Cristo e o seu Santo Evangelho, sua palavra cheia de sabedoria e seu ensinamento, a nossa atitude é de quem recebe um hóspede, por algumas horas ou dias, ou o acolhemos realmente, como alguém que faz parte da nossa vida? É muito importante respondermos a essa pergunta, mesmo porque, a casa onde acolhemos ou simplesmente hospedamos Jesus, é exatamente a nossa vida. Será que ele é nosso íntimo e pode adentrar em nossa “cozinha”, isso é, dentro do nosso coração, ou o recebemos com pressa, no portão da casa, e nem o convidamos para entrar...
Maria o acolheu, não apenas como alguém importante e ilustre, mas como seu Senhor e Mestre, um amigo querido, que com suas palavras sábias lhe conquistava o coração, ouvi-lo não era tarefa cansativa, mas algo edificante, extremamente gratificante e prazeroso, com ele Maria aprendia e sentia, pois as palavras lhe tocavam o coração. Notem que Maria nada diz e nem se revolta ou reclama da atitude grosseira da irmã, não faz ares de santinha, que está com a razão, ao contrário, Lucas não narra essa parte, mas provavelmente Maria, com palavras suaves se desculpou com Jesus, pela má educação da outra.
Maria não é vaquinha de presépio que só diz “amém”, mas sabe relacionar-se com as pessoas, com respeito, ternura, delicadeza, com toda certeza, pensamento meu, ela chamou Marta de lado e pediu-lhe calma, que depois ela a ajudaria em todas as tarefas. Já Marta andava bastante estressada, provavelmente não tinha planejado as tarefas, e Jesus chegara meio sem aviso, e agora tinha de dar conta do recado, “assoviar e chupar cana”, limpar a casa, preparar o quarto de hóspedes e ainda por cima, preparar a refeição. Gostava de Jesus, mas não tinha tempo para ficar ouvindo-o, ou porque já sabia tudo de cor, ou porque achava que aquilo nada tinha a ver com sua vida, como muitos cristãos fazem quando vão a missa ou celebração do domingo, muitos saem até sem receber a bênção final, vivem com pressa e falta-lhes paciência para ouvir.
Vivemos em uma sociedade onde as pessoas estão sempre apressadas, em um ativismo doentio, fazendo um monte de coisa ao mesmo tempo, às vezes sem planejamento e organização (não é assim em nossas comunidades?) tem que se produzir para consumir, ninguém tem tempo para mais nada, fala-se muito e ouve-se pouco, ou quase nada, escuta-se o outro, já pensando no que vamos responder, o que o outro fala não é tão importante como aquilo que temos a dizer (ah...nossas reuniões pastorais....).
Nas celebrações onde o Senhor nos fala, nas orações, nos cantos, nas leituras e na Eucaristia, até o ouvimos, mas não nos colocamos como discípulos que querem apreender cada vez mais, para poder segui-lo. Nem nos sentamos para ouvir, ficamos em pé, com uma pressa danada de que ele termine logo, pois outras tarefas mais importantes nos aguardam. Como Marta, colocamos a Palavra de Deus em um segundo plano.
As conseqüências disso estão na relação com as pessoas, começamos a achar que estamos fazendo sozinhos, que ninguém colabora, ninguém ajuda, e despejamos o nosso amargor, destilamos o nosso veneno “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todas essas tarefas? “ Maria escolheu a melhor parte, porque bebeu das palavras de Jesus, abriu-lhe o coração e a mente, deixou que Ele entrasse em sua vida e certamente aprendeu com o Mestre, como servir as pessoas, com alegria e humildade, de maneira gratuita e incondicional.
Quanto a parte que Marta escolheu, além de dor nas costas, irritação e palavras amargas ditas a Jesus e a irmã, em tom de cobrança, nada restou, nada se aproveitou. Se o mesmo acontece em nossos trabalhos pastorais, está na hora de sentarmo-nos aos pés de Jesus, sem pressa nem correria, para saborearmos cada momento da celebração, e depois sentirmos no coração esta incontida alegria que nos leva a amar e a servir, com qualidade, eficiência, alegria e ternura... Essa é sem dúvida a melhor parte, o resto não passa de “choramingos e resmungos”, que geram desconfiança e inimizades no seio da comunidade. Que parte nós escolhemos?
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
“Contemplativos no meio do mundo”
Conta-se que um senhor da roça, um “cientista do campo”, resolveu fazer uma experiência. Motivou-o a isso o fato de que, segundo a sua experimentada opinião, o seu burrinho de carga comia demasiado. Pensou consigo: “vou diminuir a alimentação do animal pouco a pouco e observarei quanto trabalha e se o trabalho rende tanto quanto antes”. O nosso “pesquisador” começou a sua experiência com grande êxito, pois no primeiro dia o burrinho trabalhou da mesma maneira que antes. No outro dia, o nosso trabalhador continuou diminuindo a ração do animal. Resultado: o animal trabalhava quase da mesma maneira. E aquele senhor pensou consigo: “ainda que coma um pouco menos e renda só um pouco menos, não há problema”. Algo semelhante aconteceu no terceiro e no quarto dia. No quinto dia, aquele senhor teve uma grande surpresa: não sabia o porquê, mas o burrinho amanheceu morto.
Muito trabalho, pouca comida! Nós, cristãos, tampouco poderíamos viver “durante algum tempo” nesse regime: “muito trabalho, pouca comida” ou – com outra expressão – “muito trabalho, pouca oração”. Talvez fosse exatamente isso que Jesus reprovava na conduta de Marta: ela trabalhava muito, preocupava-se demasiado, e, no entanto, tinha pouco espírito de oração. Não faz muito tempo, a Igreja celebrou a memória de São Josemaria Escrivá, que pregou com a vida e com a palavra que todo cristão está chamado à santidade em meio às atividades ordinárias do cotidiano. Para que isso fosse realidade, o fundador do Opus Dei aconselhava a seguinte norma de conduta: “primeiro, oração; depois, expiação; em terceiro lugar, muito em “terceiro lugar”, ação” (Caminho, nº. 82). Esse santo dizia que temos que ser contemplativos no meio do mundo.
E isso é aplicável à vida de qualquer cristão. Enquanto as monjas de clausura dedicam-se à contemplação nos mosteiros, nós, fiéis de Cristo que continuamos realizando tarefas habituais, nos dedicamos à contemplação, com a mesma intensidade que elas, só que no meio do mundo: no trabalho, na família, entre amigos, em meio ao barulho das cidades e das fábricas, ao pegar um metrô, ao divertir-nos. Como isso é possível? Com a graça de Deus e com uma luta contínua para estar sempre em sua presença. É preciso considerar frequentemente que Deus é o nosso Pai, sempre nos vê e nos ama e de que nós podemos conversar com ele em qualquer momento e em qualquer lugar. Deus está, não somente próximo a nós, mas dentro de nós.
Logicamente, Jesus quer que trabalhemos. Com certeza o trabalho de Marta agradava ao Senhor e, no entanto, ele a anima a dar novas dimensões ao trabalho: além de bem-feito, que seja elevado pela graça de Deus, transformado em oração e oferecido a Deus. Nós, que desejamos dar testemunho de Cristo nas situações mais normais da jornada, não podemos fazer as coisas de qualquer maneira. Um bom católico necessariamente se destaca por ser um bom trabalhador. É impossível que a sua vida de relação com Deus não redunde na sua vida de relação com os outros. Além do mais, procurará ser um profissional de categoria: o melhor advogado, a melhor dona de casa, o melhor médico, a melhor dançarina, o melhor estudante, o melhor agricultor. Que ninguém me venha a dizer que isso é orgulho! É só retificar a intenção: para a glória de Deus e para o bem dos irmãos. Guardemos isso no coração: a Deus se oferece da melhor maneira possível aquilo que sabemos fazer: com amor, com perfeição.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Epístola (Cl 1, 24-28)
AS TRIBULAÇÕES COMO NECESSÁRIAS PARA OS CRISTÃOS
AS TRIBULAÇÕES: Agora me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e preencho as deficiências das tribulações do Cristo na minha carne em favor de seu corpo, o qual é a Igreja (24). Qui nunc gaudeo in passionibus pro vobis et adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea pro corpore eius quod est ecclesia. PREENCHO: [antanaplërö <466>=adimpleo] como significado de encher a medida, cumprir, executar, suprir, ocupar, completar. DEFICIÊNCIAS: [ysterëmata<5303>=quae desunt] a tradução de ysterëma é deficiência, ausência, necessidade, pobreza, o que falta. DAS TRIBULAÇÕES: [thlipseön <2347> =passionum] tribulação, aflição, aperto. Com o nome de tribulação [tribulation] aparece 12 vezes, aflição [afliction] nove e dificuldade [trouble] três na KJV, versão inglesa bastante confiável. Tribulações é a tradução da TEB e que mantém a oficial espanhola. Talvez, do latim passiones a tradução sofrimentos seja a que tem prevalecido na interpretação da passagem, levando o leitor a pensar que os sofrimentos da cruz eram compartidos por Paulo como uma necessidade para completar os mesmos. Mas o verdadeiro significado da palavra não é sofrimentos, mas tribulações, adversidades ou dificuldades. Cristo as encontrou durante sua pregação do Reino e Paulo sofreu muito dos inimigos do evangelho de modo que exclamou: no meu corpo trago os estigmas do Senhor Jesus (Gl 6, 17). Destas dificuldades e adversidades o próprio Jesus disse que o reino dos céus sofre violência e os violentos se apoderam dele (Mt 11, 12). E se a mim me perseguiram, também perseguirão a vós outros (Jo 15, 20). Daí que Paulo possa dizer, como verdadeiro discípulo e pregador do reino: Em tudo recomendamo-nos a nós mesmos como ministros de Deus na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias (2 Cor 6, 4). NOTA: Este texto tem sido interpretado, através da tradução latina, como uma participação direta de Paulo no mistério da paixão e morte de Cristo. Segundo S. Tomás de Aquino, a morte e paixão de Cristo têm valor total e infinito. Ela não admite uma corredenção em si mesma, mas a Igreja, como parte do corpo místico de Cristo, deve ser em tudo conforme a sua cabeça e não participará de sua glória [da correspondente à cabeça] caso não participe dos padecimentos da mesma (Rm 8, 17 e 20). Cristo já padeceu o que estava disposto nos desígnios do Pai [Consumatum est] (Jo 17, 4 e 19, 30). Falta, pois o que corresponde aos membros para se conformar à cabeça, cada um devendo assumir sua parte até que se colme a cruz individual que devemos tomar como verdadeiros discípulos de Cristo (Mt 10, 38). Somos parte desse Cristo místico que não só é esposo da Igreja, em vida comum, mas que deseja ser esposo em matrimônio místico, mas experimental, como última união de cada membro da mesma. Exatamente assim o demonstram as experiências místicas dos santos que chegam a dizer: padecer e não morrer. Deste modo, cada cruz de um membro é também a cruz de Cristo e contribui aos méritos que são parte da saúde e redenção do corpo total. É uma consequência que Paulo claramente expressa em 1 Cor 12, 26: se um membro padece todos os membros sofrem com ele e se um membro é honrado todos com ele se regozijam. Daí que, neste mundo de pecado, Maria pede em Fátima que se façam atos de penitência para a conversão dos pecadores.
MINISTÉRIO PAULINO: Da qual eu fui feito servidor em conformidade com a administração de(o) Deus a mim entregue para cumprir a palavra de(o) Deus (25), Cuius factus sum ego minister secundum dispensationem Dei quae data est mihi in vos ut impleam verbum Dei. Como sempre, Paulo, para distinguir o verdadeiro Deus dos deuses pagãos, usa o artigo determinante que temos posto entre parêntesis. SERVIDOR: [diakonos<1249>=minister] diferente de doulos [<1402>=servus] este verdadeiro escravo. Podemos dizer que diakonos era o servidor à mesa como vemos em Jo 2, 5 e 9, geralmente um homem ou mulher livre, à diferença do doulos que sempre era um escravo, ou do ‘yperetës <5257> que era o servidor real. Na Igreja primitiva, os diakonos eram os designados para o serviço material dos necessitados, dentro da comunidade (At 6, 1-6). No grego também encontramos ‘yperetës [<5257>=minister] que se traduz por serventuário ou oficial de uma autoridade, como temos em Mt 26, 58, quando Pedro entrou no pátio do Sumo Sacerdote e assentou-se entre os servidores ou serventuários como diz RA evangélica. ADMINISTRAÇÃO [oikonomia <3622>= dispensatio] inicialmente administração ou gerência de uma casa para terminar com a administração de uma empresa ou um negócio. Quando falamos da economia de Deus, podemos dizer que se trata da dispensação de sua providência com os planos de salvação dos homens, através das graças necessárias para levar ao término os mesmos. Tal Ef 3,2 e 1 Cor 9, 17 em que essa planificação passa pela cooperação livre, mas necessária, de Paulo, como apóstolo escolhido por Deus. Paulo é o instrumento de Deus para CUMPRIR A PALAVRA, ou seja, para que a palavra, como ele chama o evangelho cumpra sua missão de excitar os pagãos à penitência e conversão. Tal como era a primeira voz a ser escutada na Galileia no início da vida pública de Jesus (Mc 1, 14-15) e que Paulo reclama na sua epístola aos de Corinto: não me enviou Cristo para batizar mas para pregar o evangelho (1 Cor 1, 17). Daí que termina dizendo: eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus (1 Cor 3, 6).
MANIFESTAÇÃO DO MISTÉRIO: O mistério, o escondido desde as idades e desde as gerações, mas agora manifestado aos consagrados dEle (26). Mysterium quod absconditum fuit a saeculis et generationibus nunc autem manifestatum est sanctis eius. Essa palavra [logos] exprime agora uma realidade que Paulo designa como MISTÉRIO [mystërion <3466> =mysterium]. Mistério, coisa oculta, escondida, secreta, um enigma que deve ser conhecido e manifestado. IDADES: Esse mistério é agora revelado. Paulo diz que foi escondido desde os inícios dos tempos [apo tön aiöniön<165>=a saeculis]. Aiön em latim aevum é a idade de um homem ou seu período, que pode significar também um período longo de tempo e até uma eternidade ou para sempre [eis ton aiöna].Uma frase comum é eis tous aiönas tön aiöniön [per saecula seaculorum] pelos séculos dos séculos, em que a idade se transforma em século. Apo tön aiönön é a frase atual que se repete em Ef 3, 9 e que em ambos os casos, o latim traduz a saeculis, que é traduzida por dos séculos (RA) ou com melhor conformidade com o original, no decurso das idades da TEB. DESDE AS GERAÇÕES [apo tön geneön <1074>=a generationibus]. Genea pode ser família, membros de uma família, geração que nos tempos de Jesus correspondia a um período de 30-33 anos. A frase, pois, tem o significado desde a origem [dos homens]. Esse mistério oculto agora é manifestado a seus CONSAGRADOS [agioi<40>=sanctus] a palavra agios significa reverenciado, e se diz de uma coisa que está dedicada à divindade, como o templo, que recebe o adjetivo substantivado to agion [ o sagrado] ou de uma coisa que pertence a Deus (Lc 1, 35). Os demônios falam de Jesus como sendo o agios tou theou [o eleito de Deus]. O povo de Israel era santo (Dn 7, 28), assim como os cristãos são santos; e é neste sentido que se deve tomar a acepção antes indicada.
A GLÓRIA EM CRISTO: Aos quais quis o Deus dar a conhecer. Qual a riqueza da glória deste mistério no meio das gentes: o qual é Cristo em vós, a esperança da glória (27). Quibus voluit Deus notas facere divitias gloriae sacramenti huius in gentibus quod est Christus in vobis spes gloriae. RIQUEZA DA GLÓRIA: [ploutos <4149>tës doxës <1391> =divitias gloriae]. Em singular, ploutos pode ser traduzido por abundância, embora em plural signifique preferentemente riqueza ou riquezas. A glória é majestade, poder, que neste caso é a sabedoria e conhecimento do secreto divino que se manifestou entre os gentios como resultado da pregação de Paulo. Precisamente o mistério estava concretado em Cristo, Cristo no meio dos convertidos como esperança última de vida. Num momento histórico em que a vida era tão difícil e curta, a esperança de uma vida imortal tinha ainda um sentido muito maior de se esforçar e lutar por uma expectativa que prometia uma riqueza inabalável, sem que nada pudesse eliminá-la (Lc 12, 33).
ANUNCIADO POR PAULO: O qual nós anunciamos admoestando todo homem e ensinando todo homem em toda sabedoria para apresentarmos todo homem completo em Cristo Jesus (28). Quem nos adnuntiamus corripientes omnem hominem et docentes omnem hominem in omni sapientia ut exhibeamus omnem hominem perfectum in Christo Iesu. O QUAL: Evidentemente é Cristo o anunciado por Paulo, como ele afirma em 1 Cor 1, 23: nós pregamos Cristo crucificado. Nada de justiça ou outros valores humanos; mas a cruz de Cristo era o objeto da pregação de Paulo. Essa era a sabedoria que devia salvar o mundo segundo Paulo: 1) Porque essa é a sabedoria divina que governa o mundo, pois Cristo é o poder de Deus e sabedoria de Deus (1Cor 1, 24); pois sendo a cruz loucura, é mais sensata que toda sabedoria humana e sendo fraqueza, é mais forte que toda fortaleza humana (1 Cor 1, 25). 2) Porque Ele e sua cruz são os únicos que aperfeiçoam o homem, que só encontra sua plenitude em Cristo Jesus, se tornando novo exemplo de seu modelo: o discípulo deve ser como o mestre e o servo como seu senhor (Mt 10, 24).
Evangelho (Lc 10, 38-42)
O ÚNICO NECESSÁRIO
AO SEGUIR CAMINHANDO: E sucedeu ao caminharem eles, que também Ele entrou numa vila, uma mulher, pois, de nome Marta o recebeu em sua casa (38). Factum est autem dum irent et ipse intravit in quoddam castellum et mulier quaedam Martha nomine excepit illum in domum suam. Lucas quer iniciar uma nova perícope de sua narração que tem como circunstância externa a sua viagem para Jerusalém, um marco do qual Lucas se serve para narrar diversos ensinamentos junto de alguns fatos de Jesus, ao modo como Mateus enquadra as palavras do Mestre no sermão da montanha. Eis, pois, que entra numa pequena vila [kómê] ou aldeia. A Vulgata traduz por castellum [forte ou cidadela]. Sabemos que Marta e Maria moravam em Betânia [casa das tâmaras ou palmeiras], aldeia perto de Jerusalém (Jo 11,1). Mas segundo a lógica da narração de Lucas, Jesus ainda se encontrava na Samaria, ou no máximo perto de Jericó, ao qual chegamos no final do capítulo 18 (18,33). Porém, pelos relatos de Marcos, Mateus e João, sabemos que Betânia estava a poucos quilômetros de Jerusalém. O próprio Lucas em 19, 29 dirá que Betânia estava junto ao monte das Oliveiras. E era em Betânia onde Marta tinha sua casa (Jo 11,1), na qual se hospeda Jesus (Lc 10, 38). Vemos como, cronológica e geograficamente, Lucas está fora da realidade histórica. Não lhe interessa esse marco narrativo e prefere a perspectiva catequética ou lógica, sem que desvirtue fatos e ditos. Por isso, os seus escritos são cópia da realidade, vivida como anúncio, pelas suas fontes. MARTA: O nome Marta significa Senhora ou Dona, forma feminina do substantivo aramaico Maré [=senhor]. Parece que era nome usual na época entre os judeus; nome que podemos ler nos papiros egípcios e num ossário [urna que contém os ossos dos mortos] no distrito nor-oriental [lugar do cemitério] de Jerusalém. Quem era Marta? Certamente irmã de Maria (Lc 18, 39 e Jo 11, 1) e Lázaro (Jo 11,2). Supostamente, era a mulher de Simão, o leproso (Mt 26,6 e Mc 14, 3), pois é no jantar oferecido por ocasião da ressurreição de Lázaro (Jo 12, 1) que Marta, como dona de casa, servia (Lc 10, 28; 40). Parece que este jantar não é diferente do oferecido na casa de Simão, o leproso, e que é narrado por Marcos em 13, 3-9 e Mateus em 26, 6-13. Sabemos que os relatos evangélicos são incompletos, breves resumos do que na realidade aconteceu. Por isso, com os indícios de Lc 10, 38-42, podemos supor que o banquete de Lucas na casa de Marta era o mesmo que o banquete de Mc, Mt e Jo da unção em Betânia, na casa de Simão, o leproso (Mt 26 e Mc 14). Já é um indício forte a afirmação de Lucas que Jesus estava como hóspede na casa de Marta. Naqueles tempos, como uma mulher podia ser considerada dona de casa quando o marido, o filho mais velho ou o irmão, eram os que tinham a propriedade? Só se Simão fosse um leproso que devia estar fora do convívio familiar e mais tarde foi curado. Não estando morto ainda era o dono; mas não podia tomar conta da casa que era deixada aos cuidados da mulher. Não se devia a cura a um favor de Jesus, que assim se torna hóspede, na viagem para Jerusalém dos proprietários da casa? Tudo isto se combina com Jo 12, 1 que afirma que ofereceram um jantar a Jesus em Betânia em que Lázaro ou Eleazar [Javé o ajudou] estava à mesa e Marta servia. A palavra parece indicar que, como dona de casa, Marta se encarregava do serviço, como diz Lucas no trecho de hoje (38). De todas as formas, admitimos que o caso de hoje poderia ter uma circunstância diferente, como um banquete de sábado entre o grupo [collegium] de fariseus do qual Simão formava parte.
MARIA: E lá, estava uma irmã, chamada Maria, a qual também, sentada aos pés de Jesus, escutava sua palavra (39). Et huic erat soror nomine Maria quae etiam sedens secus pedes Domini audiebat verbum illius. O nome em grego é MIRYAM ou Marianne, de significado escuro. Nada tem a ver com a Madalena de Lc 8,2 de nome também Maria, que Lucas, no caso de Nossa Senhora seguindo os setenta, chama de Mariam. É um nome cananeu de origem ugarítico [mrym] cujo significado próprio é altura, cume. Como nome de mulher tinha uma certa conotação de excelência. No trecho de hoje, Lucas a descreve como sentada junto aos pés do Senhor (39), que era a postura característica do discípulo ao ser ensinado (Lc 8, 35). Ou como foi educado Paulo aos pés de Gamaliel para aprender a observância exata da Lei [Torah]. Maria, pois, como discípula, escutava a palavra [instruções, recomendações], pois logos significa tudo isso.
KYRIOS: Marta, então, estava ocupada pelo muito serviço. Tendo-se, pois, apresentado disse: Senhor, não te importas de que minha irmã deixe de servir? Diz-lhe para me ajudar (40). Martha autem satagebat circa frequens ministerium quae stetit et ait Domine non est tibi curae quod soror mea reliquit me solam ministrare dic ergo illi ut me adiuvet. KYRIOS: É o título que com maior frequência se atribui a Jesus. Com o artigo o Kyrios, o Senhor, ou sem o artigo. Não é nome próprio, mas título, atribuído a Jesus como a Deus. O título de Kyrios a Deus tem origem nos Setenta; porém, nos antigos manuscritos gregos parece que se conservava o nome Yahweh com caracteres hebraicos, como afirmam Orígenes e Jerônimo, no seu tempo, de certos manuscritos gregos. Parece que no chamado terceiro estágio do cristianismo [primeiro de promessa, segundo de Jesus e terceiro da Igreja], esta última, segundo Paulo, poderá afirmar que para nós não existe mais do que um Deus, o Pai, de quem procede o Universo e a quem estamos destinados nós; e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem existe o Universo e por quem existimos todos nós (1Cor 8, 6). Por outra parte, o Judaísmo pré-cristão referia-se a Deus com o nome de Adon (daí o Adonai=meu Senhor) e em aramaico Maré ou Marya (daí o nome de Maria) e a expressão de Marana tha [Senhor, vem] (1 Cor 16, 22). Atualmente na recitação do Shemá, no lugar de Javé, para não pronunciar o nome santo [Hashem], eles recitam Adonai e traduzem ao português por O Eterno: O Eterno é nosso Deus, o Eterno é único. Atualmente também no lugar de Adonai recitam Hashem com esse significado de Eterno. Por isso a primeira profissão de fé é Jesus é o Senhor (1Cor 12, 3). O título de Kyrios é atribuído a Jesus após sua ressurreição, como diz Pedro: Deus constituiu Senhor e Cristo [Messias] a este Jesus a quem vós crucificastes (At 2, 36). O título de Kyrios passa pois, de Deus [o Javé de Israel] a Jesus na sua condição de ressuscitado, mas para o fim de ser o Rei Salvador, como o anjo anuncia aos pastores: Nasceu-vos um Salvador, o qual é Messias Senhor.(Lc 2, 11). A DIAKONIA: No grego temos diversas palavras que definem o serviço: Doulos escravo, que sendo doméstico recebia o nome de oiketes. Diakonos, criado, destinado a certos serviços especiais como o serviço da mesa. Yperetes um subordinado, inicialmente um submetido ao trabalho do remo. Finalmente o Therapôn, um temporário para um determinado serviço. Como vemos, Marta servia à mesa. Era a que cozinhava e preparava a mesa com velas, divãs, talheres e toalhas correspondentes. Nestes afazeres estava muito preocupada a nossa protagonista. Era o banquete que queria fosse particularmente especial para um hóspede que desejava agradar do fundo da alma porque a ele devia a vida do irmão e talvez a cura do esposo. Esse serviço era próprio das mulheres, enquanto os homens estavam reclinados no triclinium, ou mesa baixa disposta em forma de U, de modo que os serventes podiam entrar pelo centro para servir os comensais, individualmente.
MARTA, MARTA: Tendo respondido, então, disse-lhe Jesus: Marta, Marta. Estás preocupada e turbada por muitas coisas (41). Et respondens dixit illi Dominus Martha Martha sollicita es et turbaris erga plurima. Marta se queixa a Jesus de que sua irmã não a ajuda nos afazeres da casa. A resposta de Jesus é uma chamada de atenção que implica carinho e suave reprimenda: não espero de ti que te empenhes em fazer tantas coisas que não são convenientes ou razoáveis. Por que te empenhas em realizar tantas coisas ao mesmo tempo e te angustias por isso? Uma só coisa era a necessária como consequência de minha visita. E sabes? Tua irmã Maria a escolheu como quem escolhe o melhor. É por isso que eu não vou repreendê-la, nem tirar dela essa atitude que é a mais adequada neste momento.
A PORÇÃO: Porém, uma só coisa é necessária. Maria, pois, escolheu a boa parte da qual não será retirada dela (42). Porro unum est necessarium Maria optimam partem elegit quae non auferetur ab ea. Qual é essa parte ou porção que fez de Maria a mais sábia na sua escolha? Sem dúvida a de receber Jesus como Mestre e não como hóspede. Como hóspede, a atitude de Marta estaria plenamente justificada e poderia ser absolutamente aplaudida: ótimo. Ele merece a melhor e a mais abundante de minhas viandas. Mas recebê-lo como mestre significa, antes de tudo, ouvi-lo como palavra de vida e escutá-lo para aprender a realizar uma existência em plenitude da verdade. É se tornar discípula e não simples hospedeira. E nesse ponto, Maria estava com a força da razão que proporciona a verdade. Escutar Jesus como Mestre é o primeiro e principal dever de todo aquele que quer se tornar seu discípulo.
PISTAS:
1º) No contato com Jesus, qual é a coisa principal, ou como diz o evangelho, o necessário? Em toda vida existem momentos de escolha. Por que escolhemos, que escolhemos, qual é a norma-guia para a escolha? O Evangelho é uma proclamação e um anúncio de modificação de conduta e de fé comprometida (Mc 1, 15). Quem o ouve e quer que se torne existencial na sua vida, se torna discípulo, deixa tudo diante do segue-me. As parábolas do tesouro escondido e da pérola (Mt 13, 44-46) confirmam a periferia dos outros projetos humanos. O tesouro e a pérola significam o Reino, exemplificado no próprio Cristo. Por isso Jesus passa da perspectiva da refeição [pouca coisa é necessária, segundo alguns códices] ao único é necessário: A pessoa do Filho do Homem [o Verbo como homem] é o principal, pois dentro do Reino a figura de Jesus é tudo: o único que transforma em realidade interior de vida e salvação o que aparentemente era um fato social externo.
2º) Jesus define-se Mestre da Verdade que com Ele se identifica. Por isso Maria, sentada aos pés de Jesus, se identifica com o verdadeiro discípulo. No filme A paixão de Cristo de Mel Gibson, Cláudia, a esposa de Pôncio Pilatos, diz estas palavras: Si non vis audire veritatem, nemo tibi dicere potest. Cujo sentido é: Se não estás disposto a ouvir a verdade, ninguém a poderá dizer a ti. Em todas as ordens, a verdade é a maior vítima. Ela é unicamente escutada quando estamos dispostos a ouvi-la, mesmo que atinja negativamente nosso bem-estar e nossa comodidade. Jesus não a impõe mas deixa a cada um de nós que busquemos e encontremos a resposta certa como fez com o jurista no evangelho do domingo passado. Por isso, S. Agostinho só se converteu quando a voz da verdade chegou a ser mais forte que a voz de suas paixões.
3º) Todos temos que receber Jesus como hóspede. Como? Paulo o declara em duas passagens de suas cartas, que lembram o trecho de hoje. a) Pela palavra: A palavra de Cristo habite em vós ricamente (Cl 3, 16). b) Pela fé e o amor: pois Cristo deve habitar pela fé em vossos corações para que sejais arraigados e fundados em vosso amor (Ef 3, 17): A riqueza da palavra só pode ser descoberta pela fé e unicamente será o amor que a fará frutificar.
4º) A escuta da palavra não se dá unicamente através da leitura da Bíblia, mas nos fatos da vida, no apelo dos necessitados (Mt 25, 35+), no anúncio dos que pregam a paz (Is 52, 7); pois quem vos escuta a mim ouve (Lc 10, 16).
11.07.2010
XV DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C
__ “QUEM AMA OS IRMÃOS REVELA DEUS” __
Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! O homem da religião natural, experimentando "dentro" da existência a fragilidade da vida, pensa encontrar fora de sí, em Deus, a segurança. Procura então atingir a Deus, tornar-se como ele, divinizar-se através de ritos e do culto. A imitação do Pai dev ser feita através de Cristo. O cristão se configura a ele no batismo e nos outros sacramentos, mas essa configuração deve ser vivida plenamente nos acontecimentos, nos encontros da vida cotidiana. O sacrifício de sí e o amor gratuito e universal pelo próximo fazem resplandecer na face do cristão a própria face de Cristo e de Deus. Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Dt 30,10-14): - "Ouve a voz do Senhor, teu Deus, e observa todos os seus mandamentos e preceitos, que estão escritos nesta lei."
SALMO RESPONSORIAL (Sl 188): - "Os preceitos do Senhor são precisos,/ alegria ao coração."
SEGUNDA LEITURA (Cl 1,15-20): - "Cristo é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação."
EVANGELHO (Lc 10,25-37): - "Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?"
Homilia do Diácono José da Cruz – XV DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
QUEM É O MEU PRÓXIMO?
O Sacerdote e o Levita são membros da hierarquia e, portanto representantes oficiais da igreja, Lucas menciona que eles passaram adiante, não falando o motivo, os dois são conhecedores da Lei de Deus e o que ela ensina em relação a Deus e ao próximo. Com toda certeza não pararam porque estavam sem tempo, porque iam ao templo exercer suas funções sagradas, mas também pode ser, porque julgaram que o homem estivesse morto e a lei proibia-os de se aproximar e tocar em um morto, por causa da questão da Impureza, ainda mais quando no exercício do sacerdócio.
Em nossas comunidades cristãs, em sua grande maioria, não há uma estrutura para atendimento de emergência a alguém ferido, indigente, faminto ou enfermo, dos muitos que perambulam pelas nossas ruas e praças das grandes cidades, mesmo porque, quando alguém insiste em algum projeto assim, vozes veementes defendem a igreja, alegando que tal atribuição pertence ao estado. Um ministro da igreja, que ao se dirigir para o culto, se depara com alguém caído abeira do caminho, poderá no mínimo usar o celular para solicitar o resgate, e isso se tiver tempo... Na comunidade temos a pastoral dos enfermos e os vicentinos que oficialmente assumem essa assistência aos pobres e enfermos e assim, muitas vezes, sempre por absoluta falta de tempo, delegamos ou terceirizamos a caridade. Também não vamos desmerecer as lideranças religiosas, os ministros da igreja, talvez ao chegarem à comunidade, para exercerem as suas funções, irão comunicar a pastoral responsável, para que tome providências em relação ao homem ferido na beira do caminho.
Aquele doutor da lei, que abordou Jesus fazendo a clássica pergunta “O que devo fazer para ir para o céu”, esbanjou conhecimento teológico respondendo exatamente o que dizia a lei, a respeito do amor a Deus e ao próximo. Foi realmente brilhante na prova oral, porém, na aula de laboratório, que envolve a prática, o sabidão tremeu na base, quando Jesus lhe propôs: “Vá e faze o mesmo!” e perguntando “com ares de importante:” "E quem é o meu próximo?” Geralmente não sabemos quem é o nosso próximo, muito embora às vezes esteja tão perto...”.
O Samaritano é alguém “desqualificado” e em uma prova oral, sobre o conhecimento da lei, certamente iria levar “bomba”, pois além de não pertencer à religião oficial, muito menos freqüentava a gloriosa escola dos mestres da lei, e nem conhecia dogma ou doutrina, revelações divinas ou profecias. Entretanto compadeceu-se do homem ferido, que estava caído à beira da estrada, que talvez nem fosse “flor” que se cheirasse, algum dependente químico ou usuário de droga pesada, alguém fichado na polícia, vamos ser bem sinceros, quem vai perder tempo com um tipo desses, nos dias de hoje?
Mas em um coração compadecido não há lugar para dúvidas ou qualquer outro questionamento, e o samaritano, mal visto pelos judeus, deu aquele homem desconhecido um atendimento de primeira, prestou o primeiro socorro, amenizou a dor das feridas derramando óleo e vinho, carregou-o ao colo colocando-o sobre o seu próprio animal e o levou, não ao SUDS, mas para uma hospedagem particular, onde procurou o dono da pensão e pagou adiantadas duas moedas de prata, tendo recomendado que desse todo atendimento necessário aquele homem, e que ao retornar se sua viagem de negócios acertaria o restante da despesa pela hospedagem. O mais interessante é que Jesus deixa para o doutor da lei a incumbência de responder, qual dos três passantes agiu corretamente, segundo a vontade de Deus e neste momento, o samaritano desqualificado supera os membros oficiais da hierarquia, pois segundo a resposta daquele especialista em leis, ele fez a vontade de Deus porque agiu com misericórdia para com o próximo.
E assim podemos concluir que nesta vida somos a todo instante avaliados por Jesus, em uma prova prática, quando deparamos com pessoas feridas, que têm necessidades das mais diversas, e nem sempre precisamos procurar a beira do caminho, já que às vezes, esse ferido e semi morto está bem ao nosso lado, na família ou na comunidade. Que o nosso amor seja sempre sem medidas, pois ele deve estar bem acima de qualquer lei, dogma ou conhecimento teológico, sendo este o culto verdadeiramente agradável a Deus, segundo a liturgia desse XV Domingo do Tempo Comum.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – XV DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
Mentalidade universal
Quantas vezes nós escutamos que a palavra “católico” significa “universal”? Várias. A Igreja de Cristo nasceu selada pela universalidade. Ela não devia estar restringida aos judeus. “Ide por todo o mundo” – disse Jesus. Ninguém nasce cristão, é feito cristão no sacramento do batismo. Quando somos gerados para essa vida nova em Cristo, recebemos imediatamente essa nota característica: universalidade. Nesse sentido, o coração do católico abraça a todos, a começar pelos católicos. Não se pode viver um amor universal desvinculado do amor às pessoas com as quais convivemos. Fico impressionado com algumas atitudes, por exemplo, em relação ao ecumenismo: somos muito tolerantes com os irmãos chamados evangélicos e pouco tolerantes com irmãos católicos caso tenham outra maneira de ver as coisas. Que tenhamos por certo: é totalmente lícito pertencer a distintas manifestações da catolicidade, a esse ou àquele movimento, a essa ou àquela pastoral, a essa ou àquela organização. Também é lícito e maravilhoso que entre os católicos haja várias opções temporais: esse ou aquele partido político, essa ou outra equipe de futebol, essa ou aquela filosofia. A catolicidade admite a unidade formada pela variedade. Unidade na fé, nos sacramentos, na moral, na obediência ao Papa e aos bispos em comunhão com ele; variedade em todas as outras coisas.
Não estou fugindo da passagem do evangelho de hoje ao fazer essas afirmações tão amigas da liberdade. O samaritano, a diferença do sacerdote e do levita, “fez o bem sem olhar a quem”, simplesmente moveu-se de compaixão e começou a agir pelo bem daquele pobre homem que tinha caído na mão de malfeitores. O samaritano era um homem de coração e deixava que a compaixão o movesse a ajudar o próximo. Aprendamos desse homem: tenhamos um coração compassivo, a começar pelos nossos irmãos. Peçamos a Deus a graça de não ficarmos insensíveis diante das misérias da humanidade, das vicissitudes dos nossos irmãos, da pobreza, da falta de educação, da falta de vida espiritual. O bom samaritano, estando de viagem, soube atrasar os seus próprios projetos para realizar uma obra de misericórdia; não só viu as feridas daquele pobre homem, mas dedicou-lhe tempo e pôs-se a curá-las; não só o levou a uma hospedaria, mas até pagou as despesas.
Jesus nos quer ensinar uma caridade que não é simplesmente uma espécie de filantropia, já que brota de um coração compadecido que faz ver quais são as verdadeiras necessidades dos nossos irmãos, ou seja, nos faz compreender os outros. Às vezes, o coração compassivo, movido pela caridade, nos dirá que em lugar de dar alguma moeda a um mendigo, o escutemos com carinho; outras vezes, a caridade que vem de Deus e que habita nossos corações nos dirá que não é só dar atenção e dizer que vai rezar por essa pessoa, mas também ajudá-la economicamente; outras ainda, o amor compassivo nos mandará fazer ambas as coisas. Quando estamos atentos ao que amor pede de nós em cada momento, não nos perguntaremos por uma suposta obrigação de caridade, mas a grande questão será a necessidade do outro. A pergunta não é “estou obrigado ou não a fazer isso?”, mas “o que essa pessoa necessita nesse momento?”. Na primeira pergunta está o nosso “eu”, na segunda está o “tu” dos outros. A caridade vai ao encontro, não é egoísta. A caridade alarga as nossas perspectivas e nos faz ter uma mentalidade universal. Por outro lado, uma visão “católica” das coisas nos oferece uma percepção aprimorada das distintas situações e nos faz ser mais eficazes à hora de ajudar os outros.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – XV DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Epístola (Cl 1, 15-20)
SUPREMACIA DE CRISTO
INTRODUÇÃO: Cristo, como fim do mundo criado por Deus, primeiro na intenção e último no alcance e consecução é a trama sobre a qual Paulo raciocina neste trecho de sua carta aos colossenses. Cristo como imagem visível de Deus, como primogênito dentre os mortos de modo especial, constituiu princípio e plenitude de tudo, especialmente cabeça de um corpo que é a Igreja. Finalmente Cristo como reconciliador e instrumento da paz com Deus e com os homens. Cristo que deve ser tudo em todos. Esse é o motivo deste início da carta aos colossenses.
CRISTO IMAGEM: O qual é imagem do Deus o invisível, primogênito de toda criatura (15). Qui est imago Dei invisibilis primogenitus omnis creaturae. IMAGEM DE DEUS: Paulo, certamente, como rabino judeu, sabia do fato que, no Gênesis, 1, 26 Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem [Betselamonu <6754>= eis eikona ëmeteran] conforme a nossa semelhança [kidmutenu < 1823> = kath’omoiösin]. TSELEM [<06754>= imago] é propriamente sombra. De onde imagem, forma, retrato, aparência. Quando Adão concebeu Set o fez conforme a sua imagem [betsalmu], usando o mesmo substantivo (a imagem dele) que quando Deus formou o corpo de Adão, indicando a correspondência entre pai/filho. Em Gênesis, o autor indica, de um modo poético, que essa identidade é uma DEMUTH<01823>, semelhança, modelo, aparência. Um exemplo é Is 13, 4: A gritaria da multidão sobre os montes semelhante [demuth] à de um grande povo. É possível que a ideia de Elohim [Deus] fosse antropomórfica, nos tempos primitivos, de modo que, inicialmente, fosse uma figura humana com as duas propriedades divinas dadas pelos frutos das duas árvores [da vida e do bem e do mal] ? Da leitura direta de Gn 3, 5, vemos como a serpente diz à mulher: se comerdes da árvore do bem e do mal sereis como deuses [ kelohim =esesthe ‘ös theoi] conhecedores do bem e do mal. Que no significado concreto do autor sagrado, indicava a sabedoria correspondente à divindade. E temos a outra passagem em 3, 22: eis que o homem é como um de nós [kiahad=´ös eis ëx ëmön], sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão e tome também da árvore da vida e coma e viva eternamente… De tudo isto podemos deduzir: 1) Nos tempos em que foi escrita, a passagem pertencia a uma cultura francamente monoteísta, mas imperfeita, que podemos chamar de monoteísmo relativo: Havia muitos deuses, e entre eles Jahveh era único para o povo judeu. Esse Deus-Jahveh tinha um corpo como os homens e pertencia a um gênero divino em que sua sabedoria era fruto de uma árvore e sua imortalidade de outra. Jahveh Elohim poderia ser assim traduzido como o existente entre os deuses o Deus vivo, ou finalmente o verdadeiro Deus. Os outros eram secundários, de categoria inferior, sendo suas estátuas vãs ou inconsistentes. Pois Jahveh era o Deus dos deuses que podia mais do que todos juntos. 2) Adão, uma vez comido o fruto proibido, era como um deus, claro que de categoria inferior mas muito semelhante ao Deus que o formou e de quem dependia como uma obra depende de seu criador. 3) O antropomorfismo do capítulo 3, 8 , em que Jahveh Elohim passeava pela viração do dia no jardim, indica que a ideia de Deus era a de um ser com corpo humano, ou semelhante, que tinha como elementos distintivos de sua essência a sabedoria e a imortalidade. 4) Também temos, neste conceito primitivo da essência divina, uma fonte de explicação para os versos do capítulo 6,: os filhos de Deus tomando mulheres das filhas do homem suscita a ideia de que deuses e homens são semelhantes (3) e os filhos nascidos como mestiços, dentre deuses e mulheres humanas, foram os gigantes (4), pois seus corpos de alguma maneira tinham que se distinguir dos puros homens. Esta interpretação tem como base a inspiração rudimentária do AT que só seria aperfeiçoada com o decorrer dos tempos; e finalmente, com a vinda do Verbo feito carne, em que claramente Jesus diz que Deus é espírito (Jo 4, 24). Porém, submeto esta minha interpretação ao juízo da Igreja, mas creio que não contém valor dogmático algum e só cultural, querendo, através da cultura, iluminar passagens escuras do AT. Já no NT, a ideia de que Deus é puro espírito pertence ao mundo revelado tanto como ao cultural. Portanto a IMAGEM [Eikön<1504>=imago] de que aqui Paulo fala é de um Deus que não tem forma humana [invisível ou em grego aoratos]. Nos evangelhos eikön aparece no caso em que Jesus pergunta sobre um denário de prata: de quem é esta imagem? (Lc 20, 24). Paulo usa eikön em diversas ocasiões: em Rm 1, 23 em que a glória de Deus [sua maneira de se manifestar] foi mudada em imagens de homem, de aves, quadrúpedes e de répteis. O varão é imagem de Deus, como glória ou majestade, não como forma visível do mesmo (1 Cor 11, 7). Pois assim deve ser interpretado o texto. Mas especialmente pelo que diz respeito a este versículo, Cristo é a imagem visível do Deus invisível, quer dizer que o homem-Cristo, visto e ouvido pelos seus conterrâneos, era como se Deus se fizesse homem e fosse visto e ouvido pelos homens que com ele conviveram. NOTA: Vamos explicar isso de que o varão é imagem da glória de Deus. Paulo afirma em 1 Cor 11, 7: O homem não deve cobrir a cabeça por ser ele imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem. Segundo a tradição rabínica, o homem é imagem da kabod Hasham [glória do Nome], em que Nome está no lugar de Jahveh. Rabi Hunah ben Joshua nunca andou 2 m com sua cabeça descoberta, porque a divina presença –dizia ele – está sempre presente sobre a minha cabeça. É um ato de kiddush Hashem [louvor do Nome (de Jahveh)]. Já no NT onde Cristo, como temos visto, é imagem visível do Deus invisível, um homem qualquer é imagem ou cópia de Cristo no corpo e alma por ser o corpo cópia do corpo de Cristo e na alma principalmente, segundo os rabinos pelo, poder e dominação que o homem tem sobre todas as criaturas e sobre a mulher que como auxiliar [ezer <05828>=boëthos <998>] lhe é comparável [neged<05048>= omoios <3664>]. Outros traduzem por idôneo e que na setenta se traduz por kata’ auton, segundo ele [o varão] (Gn 2, 18 e 20). Em tempos de Paulo, os libertos usavam o gorro frígio símbolo de liberdade, provavelmente para cobrir o estigma [carimbo] de ferro, feito pelo senhores que foram seus donos. Os romanos cobriam com um véu a cabeça quando realizavam atos de culto como pontífices. Porém, sabemos como os hebreus cobriam a cabeça para lembrar que o que temos acima de nós é Deus no céu, sempre presente sobre nós, observando-nos. O Kippah é um meio de lembrar-nos que acima de nós devemos respeitar alguém que é nosso superior. Que estamos submetidos aos seus desígnios sempre. Daí que Paulo, seguindo a tradição cultural da época, que sujeitava a mulher ao homem, diga que a modo de Kippah cívico esta devia cobrir a sua cabeça por respeito ao seu marido ao qual estava submetida. O que Paulo afirma em 1 Cor 11, 7 é pois, tradição e cultura e não preceito dogmático ou religioso.
CRISTO PRIMAZIA DA CRIAÇÃO: Porque nele foram criadas todas as coisas as que (estão) nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam senhorios, sejam principados, sejam potestades: todas as coisas por meio dele e nele foram criadas (16). Quia in ipso condita sunt universa in caelis et in terra visibilia et invisibilia sive throni sive dominationes sive principatus sive potestates omnia per ipsum et in ipso creata sunt. Aqui Paulo explica o modo como o Cristo é glória de Deus: porque ele foi a causa de toda a criação, tanto da visível ou terrena, como da angélica ou invsível. Ou seja, céus e terra. E como essa causa se manifesta como doxa [majestade ou domínio], Paulo descreve, numa lista praticamente completa, os diversos domínios que na época se encontravam na terra: sejam estes Tronos [Thronoi=throni], senhorios [kyriotës =dominationes], principados [archai=principatus], potestades [exousiai=potestates]. Paulo termina declarando que tudo foi feito por meio dEle e nEle, ou seja, para que Ele dominasse céus e terra. Com isto se explica em que consiste a glória [domínio] que representa tanto Cristo como imagem visível de Deus como o homem em sua qualidade de imagem de Deus [de sua glória ou domínio] como da glória [domínio] da mulher.
CRISTO UNIFICAÇÃO DO UNIVERSO: E ele é ante todas as coisas e todas nele estão constituídas (17). Et ipse est ante omnes et omnia in ipso constant. E Paulo, remata a descrição do poder de Cristo ao propô-lo como primeiro de tudo e como base desse mesmo tudo que existia; ou, como diz o grego sunestëken [<4921>=constant] que do verbo sunystëmi, com o significado de reunir, aglutinar, reunificar, sintetizar. Além de recomendar, estar da parte de alguém. Com o primeiro significado, temos também 2Pd 3, 5: houve céus bem como terra, a qual surgiu [synestösa] da água. Ou com o segundo: não é aprovado quem a si mesmo se louva [synistön]. Logicamente aqui é o primeiro significado o que prevalece.
CRISTO CABEÇA: E ele é a cabeça do corpo da Igreja o qual é princípio primogênito dentre os mortos para ser em todos primazia (18). Et ipse est caput corporis ecclesiae qui est principium primogenitus ex mortuis ut sit in omnibus ipse primatum tenens. CABEÇA: [kefalë<2776>=caput] Paulo em 1 Cor 12, 12-14 descreve a Igreja como um corpo, cuja cabeça é Cristo. Quando falamos do corpo [soma] pensamos sempre num corpo místico em que o principal é a fé e o amor como unidade em espírito. Mas para Paulo o corpo é muito mais do que uma analogia. Segundo ele, a Igreja é a esposa, e, portanto, ele dirá que ambos, Jesus e a Igreja constituem um só corpo, de modo que a eles se pode aplicar o que diz o Gênesis: a Igreja será osso dos meus ossos e carne de minha carne (Gn 2, 23). A comunhão com o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia nos dá também base para essa identificação de Cristo com o corpo eclesial, que constitui o pleroma de seu corpo biológico. Daí que Paulo tira o argumento de que é necessária a ressurreição de Cristo para que nós ressuscitemos, pois formamos um só corpo com Ele ao modo como uma esposa forma um só corpo com o esposo. E tanto é assim que não somos dois corpos, mas um só, no qual todos somos membros (1Cor 12, 12). A frase christianus alter Christus [o cristão, outro Cristo] não tem só um sentido espiritual [o Espírito sendo o mesmo] mas também sentido somático e corporal, de modo que todo corpo de um batizado é sagrado [agios] e não só representa, mas forma parte do corpo de Cristo, sem se confundir com ele, mas como uma esposa se une a um esposo para formar um só corpo. Desse corpo, Cristo é cabeça e nós somos os diferentes membros, com diferentes dons, atividades e ministérios (1 Cor 12, 4-6). PRINCÍPIO: [archë<746>=princípium] o começo e a origem como fundador e primeiro membro dessa Igreja que é o novo povo de Deus, constituindo o Reino dele aqui na terra. PRIMOGÊNITO: [Prötotokos <4416> =primogenitus] era o primogênito em sentido legal, que correspondia geralmente ao primeiro varão nascido de um matrimônio legítimo e que, como tal, tinha direito à primogenitura, ou seja, a herança correspondente. Como tal, o primogênito estava dedicado ao serviço divino e só podia ser resgatado por meio de cinco siclos, na realidade o preço de um escravo na idade infantil. Segundo as Escrituras, Jesus é primogênito de toda a criação (Cl1, 15), primogênito entre muitos irmãos que levam a sua imagem (Rm 8, 29) e finalmente, primogênito dentre os mortos com sua ressurreição (Cl 1, 18). Segundo Hebreus 12, 23, todos os salvos no céu são também primogênitos porque herdeiros da mesma fortuna (12, 23), basicamente a filiação divina. PRIMAZIA: [pröteuön<4409>=primatum] é a única vez que sai e significa preeminência, a preferência no que diz respeito a outra pessoa por razão ou mérito especial. De modo que aos olhos de Deus, Cristo está sobre toda criatura como afirma Paulo, pois é a razão de toda a criação e o fim da mesma (Vers 16).
PLENITUDE DE CRISTO: Porque nele aprouve habitar toda a plenitude (19). Quia in ipso conplacuit omnem plenitudinem habitare. São duas as razões que Paulo aduz para essa primacia: a primeira é a PLENITUDE [plëröma <4138> =plenitudo] O pleroma grego era o barco completo ou só a totalidade da mercadoria nele embarcada. Dai pleroma como a plenitude de uma coisa ou ser. Cristo é a plenitude da criação como um completo compêndio de tudo o que foi criado.
RECONCILIADOR E PACIFICADOR: E por meio dEle reconciliar todas as coisas nEle, fazendo a paz por meio do sangue de sua cruz tanto das coisas sobre a terra como das nos céus (20). Et per eum reconciliare omnia in ipsum pacificans per sanguinem crucis eius sive quae in terris sive quae in caelis sunt. Neste versículo encontramos a segunda razão da hegemonia de Cristo: A reconciliação que foi substancial nEle ao ser como a lente através da qual Deus olha o mundo, pois ele foi a causa, com seu sangue na cruz, de trazer a paz entre a terra e o céu. Ou melhor, de apaziguar terra e céu. O andar inferior do universo, que é o inferno, está submetido, mas não aceita a paz porque se opõe ao seu [de Cristo] reino de amor e pretende viver no ódio. Porém sempre se cumpre a palavra do apóstolo: todo joelho se dobrará nos céus, na terra e debaixo da terra ao nome de Jesus (Fp 2, 10).
Evangelho (Lc 10, 25-37)
COMO OBTER A VIDA ETERNA? QUEM É O MEU PRÓXIMO?
O evangelho pode ser dividido em duas partes diferentes: 1o A pergunta do nomikós [advogado, ou intérprete da lei] sobre a obtenção da via eterna. 2o A resposta de Jesus sobre quem deve ser considerado o nosso próximo. Vamos estudar cada um dos dois pontos extremamente interessantes.
A PERGUNTA
A PERGUNTA DO ESCRIBA: E eis que um intérprete da lei levantou-se tentando-o e dizendo: Mestre, que fazendo herdadarei a vida eterna? (25). Et ecce quidam legis peritus surrexit temptans illum et dicens magister quid faciendo vitam aeternam possidebo. A perícope é narrada também pelos outros dois sinóticos, Mt 22, 34-40 e Mc 12, 28-31. Segundo Marcos e Mateus, mais próximos da cultura semítica, parece que Jesus estava ensinando. Daí o levantou-se (23) e o título de Didáskale (magister ou mestre). Pelas circunstâncias narradas pelos outros dois evangelistas, sabemos que estamos em momentos de discussão e que os primeiros a brandir uma lança foram os saduceus, que tiveram que se retirar emudecidos (Mt 12, 28); e foi então que os fariseus entraram na lide com a pergunta, também capciosa, do nosso jurista. A palavra Nomikós significa um jurista ou jurisconsulto, perito em dar solução a problemas sobre a lei [nomos]. Como a lei jurídica dos judeus era a Torá, daí que o nosso jurista era um perito na lei mosaica. Segundo os outros dois evangelistas, o jurista pergunta qual é o primeiro (Mc) mandamento, ou grande (Mt) no sentido de superlativo que o hebraico não tem. Era a disputa de sempre entre as diversas escolas que deviam escolher dentre os mandatos maiores, qual deles era o mais importante.
RESPOSTA DE JESUS: Ele portanto lhe disse: Que está escrito na Lei? Como interpretas? (26). At ille dixit ad eum in lege quid scriptum est quomodo legis. Para Lucas o problema era de justificação, como diz Paulo, e por isso a pergunta é diferente: Que devo fazer para herdar a vida eterna? Vamos fazer uma distinção: Nomos era a tradução de Torá, a Lei de Moisés, que tinha 613 mandatos ou entolai dos quais 248 eram positivos e 365 negativos. Os rabinos diziam que o Santo só revelou a recompensa para dois deles, o mais importantes entre os importantes, como era honra teus pais (Êx 20,12) e o menor entre os pequenos que era deixa livre a mãe quando apanhares os passarinhos (Dt 22,7). A Torá não era problema entre os gentios de Lucas, que talvez nem a conhecessem. Daí que a pergunta do nomikós fosse referente à salvação. Precisamente o problema mais angustioso entre os gentios era como obter a vida eterna. E a pergunta do jurista entrava dentro de seu anseio essencial. Um jurista judeu ensinava a lei e a interpretava. E um dos problemas que devia solucionar era precisamente esse: Que deve ser feito para herdar a vida eterna? A pergunta surge com a leitura de Daniel 12, 2-3. O profeta prediz tempos difíceis em que haverá uma ressurreição dos que dormem [mortos]: Estes para a vida eterna, aqueles para o opróbrio, para o horror eterno. A Setenta tem eis aiónion zoén [para a vida eterna]. De um intérprete, pois, da Escritura podemos esperar essa problemática que considera essencial, assim como a samaritana perguntava sobre o lugar mais apropriado para adorar o Senhor (Jo 4, 20).
O ESCRIBA: Ele, pois, respondendo, disse: amarás o Senhor teu Deus com todo teu coração, e com toda tua alma e com toda tua força e com toda tua mente; e ao próximo como a ti mesmo (27). ille respondens dixit diliges Dominum Deum tuum ex toto corde tuo et ex tota anima tua et ex omnibus viribus tuis et ex omni mente tua et proximum tuum sicut te ipsum. Marcos cita textualmente o Shemá a oração que duas vezes ao dia deviam recitar ou entoar os israelitas maiores de idade. Essa prece reconhece o Senhor como único e manda amá-lo de todo o teu coração [kardia] de toda a tua alma [psyché] e de toda a tua força [dýnamis](Dt 6,5, cita direta da Setenta). Marcos acrescenta mais uma potência a dianóia [mente ou pensamento]. Mateus usa só três termos mas substitui a força pela dianóia. Vejamos as faculdades com as quais devemos amar. A bíblia usa o leb [kardia, cor, coração] em sentido figurado principalmente,e significa muito mais do que pretendemos nas línguas modernas. Designa a personalidade consciente, inteligente e livre, a vontade e os desejos, as emoções e os sentimentos: no fim, o homem na sua mais profunda intimidade. Em especial no nosso caso, é a sede do entendimento, fonte do pensamento, da vontade e dos desejos. Nefesh: A segunda faculdade humana é a nefesh [psyché, anima, alma (traduzimos para o grego, latim e português)] que embora em termos bíblicos designa todo o homem enquanto vivo, como faculdade, podemos dizer que é seu alento vital, que anima o corpo e se mostra principalmente na respiração. É o elemento que não desaparece com a morte. MEOD: O terceiro elemento é meod [dýnamis, fortitudo, posses ou forças]. Marcos e Lucas acrescentam ou dividem o meod em duas faculdades: Dianóia [mens, mente] e ischyos [virtus (vires em Lc) , força]. Que dizer de toda esta abundância de detalhes? Tanto o Deuteronômio como os evangelistas usam uma fartura propositada de faculdades humanas para afirmar que o amor que devemos a Deus não tem limites e é com tudo que devemos amá-lo, ou melhor, servi-lo. Como sendo o único Senhor que dispõe e propõe de nossa existência; pois o sentido do amor que a Ele devemos, está determinado, tanto pelas faculdades a Ele submetidas como pelo atributo que acompanha a palavra chave de Deus: Ele é Senhor e as faculdades que formam o homem completo, como composto das mesmas [kardia, psyché,ischys e dýnamis] estão todas subordinadas ao seu serviço total [ex holes, ex toto, de todo]. O homem depende do que Deus quer e como Deus quer. E até quando Deus quer ( S. Maravillas). Mais um detalhe: na reposta de Lucas, Jesus usa o método socrático de responder perguntando e nessa pergunta ele pede ao escriba que lembre do que está escrito na Lei e que ele reconhece bem, ou recita como Keriat Shema; recitação que era obrigatória desde que se possa distinguir entre o azul e o branco, segundo a Mishná. O PRÓXIMO: RÉA ou REYA é a palavra que usa o Pentateuco para designar o próximo. Com o número de Strong <07453> aparece inúmeras vezes no AT. Sua tradução originária é ASSOCIADO; mas aparece com os significados de irmão, companheiro, camarada, amigo, esposo, amante e vizinho, segundo os diversos textos. Como mandato dentro da lei, aparece em Dt 5, 20: Não dirás falso testemunho contra teu próximo. Com o significado de amigo lemos: teu amigo que amas como à tua alma (Dt 13, 6). A passagem que o nomikós cita é Lv 19, 18: Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. O famoso Hilel, o ancião, ditou este preceito em outras palavras: Não faças a teu companheiro o que não queres que te façam. Segundo o comentário bíblico moderno do rabino Meir Matziliah, as palavras que designam companheiro, próximo e irmão são réa – amith- ben- am- ah. Ah é irmão e era usado para todo israelita. Em Lv 19, 17-18 saem esses quatro termos [ ah (irmão) amith (companheiro), bem (filho) am (povo) e réa (próximo) A citação será: Não odiarás o teu irmão [ah 0251] no teu coração; repreenderás a teu companheiro [amith 05997] e por causa dele não levarás sobre ti pecado(17) . Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos [ben 01121] do teu povo [am 05971]; mas amarás o teu próximo [reya 07453] como a ti mesmo. Marcos e Mateus, após terminar a exposição do Shemá como mandato primordial, acrescentam umas palavras de Jesus: o segundo é semelhante: amarás o próximo como a ti mesmo. Marcos dirá que não existe outro mandamento maior (12, 31). E Mateus, que nestes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas ( 22, 40) Lucas é o único dos três evangelistas que narra a parábola como resposta à pergunta imediata do nomikós: A quem devo considerar meu próximo? A resposta da lei [Torá] era clara: Não levantarás uma acusação que faça derramar o sangue de teu próximo (Lv 19, 16) e tratarás o migrante que mora entre vós como um de vós; ama-lo-ás como a ti mesmo (Lv 19, 34) Mas Jesus com uma parábola que é uma página das mais belas da literatura universal, e com detalhes se não reais, pelo menos verossímeis no estilo de hagadá [narração] nos oferece um mashal [exemplo ou parábola] em que o importante é a moral da história embora possam existir pormenores que sejam utilizados alegoricamente. A parábola tem muitos detalhes que foram tomados da realidade do tempo. Vamos explicar alguns deles.
COMENTÁRIO DE JESUS:: Disse-lhe então Jesus: Corretamente respondeste. Faze isso e viverás (28). Dixitque illi recte respondisti hoc fac et vives.Jesus confirma o bom-senso do escriba, e afirma que realmente a vida verdadeira consiste em cumprir esse mandato supremo em suas duas ordenações. Hoje em que o mundo busca com maior ímpeto a felicidade é bom lembrar que esta só pode ser encontrada no cumprimento do mandato do amor em sua dupla finalidade.
A PERGUNTA FINAL: Ele, pois, querendo se justificar disse a Jesus: E quem é meu próximo? (29). ille autem volens iustificare se ipsum dixit ad Iesum et quis est meus proximus. Jahveh era o único Deus e não existia dúvida sobre o objeto do primeiro e máximo amor. Mas quem realmente era ou é nosso próximo? Jesus responde com uma parábola, que hoje denominamos do Bom Samaritano.
A PARÁBOLA
DESCIA DE JERUSALÉM A JERICÓ: Jesus prosseguiu dizendo: Certo homem descia de Jerusalém a Jericó e veio cair em mãos de salteadores, os quais depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos retiraram-se, deixando-o semimorto (30). Suscipiens autem Iesus dixit homo quidam descendebat ab Hierusalem in Hiericho et incidit in latrones qui etiam despoliaverunt eum et plagis inpositis abierunt semivivo relicto. Na realidade, Jerusalém está a 800m sobre o nível do Mediterrâneo e Jericó a 300m sob o mesmo nível, havendo pois, uma diferença de 1100 m e sendo o caminho descendente. Jerusalém era a cidade sacra por excelência e Jericó uma cidade que Herodes o Grande tinha como lugar de prazer. Em Jericó estava também uma colônia de sacerdotes, de modo que era uma cidade dormitório dos mesmos. A distância entre Jerusalém e Jericó era de aproximadamente 150 estádios ou 28 Km. O caminho era praticamente desértico e pedregoso, como era o deserto de Judá do qual forma parte. OS BANDIDOS: O grego distingue entre Kleptes [ladrão às escondidas] e lestes [bandido ou salteador]. Estes últimos eram frequentes nos tempos de Jesus em forma de salteadores de caminhos ou piratas do mar. Ambos eram condenados à morte na cruz. Assim eram os dois que acompanharam Jesus segundo Mt 27, 38 que Lucas 22, 33, chamará de malfeitores [kakourgos]. Seriam zelotas que, devido à sua vida fora da lei, se tornavam de revoltosos em bandidos como atualmente acontece, por exemplo, na Colômbia? É provável. O caso é que despojaram o nosso homem de tudo, deixando-o nu e coberto de feridas, como morto. Não era infrequente este fato e precisamente num trecho do caminho chamado subida de Adummim [dos vermelhos] que parece indicar sangue. Aí deixaram, como se fosse um cadáver, o infeliz assaltado.
O SACERDOTE E O LEVITA: Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e tendo-o visto, passou de largo (31). Accidit autem ut sacerdos quidam descenderet eadem via et viso illo praeterivit. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e tendo-o visto, também passou pelo outro lado (32). Similiter et Levita cum esset secus locum et videret eum pertransit. Como temos visto, Jericó era uma cidade dormitório de sacerdotes e levitas. Talvez existisse uma outra razão para que Jesus colocasse estes personagens: a impureza que, como servos do templo, deviam evitar a contaminação com um cadáver, que era uma das impurezas mais graves (Nm 5,2) e até o templo do Senhor estaria impuro se o sacerdote ou levita não fizessem antes a sua purificação. Um sacerdote ou um levita só podiam contaminar-se com um cadáver no caso deste ser um parente dos mais próximos (Ez 44, 25). E sabemos como a lei da impureza era de suma importância entre os judeus. Até a aproximação com um cadáver podia ser causa de tal impureza, como era entrar na tenda onde estava o morto (Nm 19, 14). Especialmente era impuro aquele que tocar um cadáver, morto pela espada no campo (19, 16). Daí que ambos deram um rodeio para evitar semelhante impureza, pois consideravam que o homem estava morto. Sem dúvida que Jesus escolheu as circunstâncias e os atores para indicar que a lei não devia estar por cima da misericórdia (Mt 9, 13).
O SAMARITANO: Porém um samaritano de caminho, veio perto dele e tendo-o visto moveu-se a compaixão (33). Samaritanus autem quidam iter faciens venit secus eum et videns eum misericordia motus est. E aproximando-se, vendou-lhe os ferimentos aplicando óleo e vinho e colocando-o sobre a sua cavalgadura levou-o a uma hospedaria e tratou dele (34). And coming near, he bound up his wounds, pouring on oil and wine. And putting him on his own animal, he brought him to an inn and cared for him. No dia seguinte tirou dois denários e entregou ao hospedeiro dizendo: Cuida deste homem e se alguma coisa gastares a mais, eu to endenizarei quando voltar (35). Et altera die protulit duos denarios et dedit stabulario et ait curam illius habe et quodcumque supererogaveris ego cum rediero reddam tibi. Jesus escolhe o homem mais odiado pelos judeus, um herege, que do ponto de vista de um jurista era pior do que um pagão. E este homem tão desprezado foi o que realmente atuou como próximo [vizinho-amigo] de um outro a quem devemos amor. O que fez o samaritano não era comum na época. Também eles tinham as leis de impureza. Mas a compaixão (33) o obriga a cuidar de um estranho que estava em perigo de morte. O verbo usado por Lucas é o mesmo que usa quando Jesus se move a compaixão por doentes ou necessitados (Lc 7, 13). A primeira coisa que o samaritano fez foi vendar as feridas, após aplicar óleo e vinho, remédios da época. Misturados, serviam para curar feridas e até a chaga da circuncisão como está escrito na Mishná. Pois até em sábado se podia executar o rito, só que não se podia misturar óleo e vinho, cuja mistura devia ser feita antes, para não infringir o descanso prescrito nesse dia. Por isso estava prescrito que se aplicassem por separado. Após vendar as feridas, o samaritano montou o ferido na besta; o asno era a montaria permitida pois o cavalo era usado só pelos homens de guerra. E o levou a uma hospedaria [pandocheion] de pan [todo] e dechomai [receber] e o cuidou. No dia seguinte pagou dois denários ao hospedeiro dizendo que na sua volta pagaria tudo quanto fosse devido. O denário era a moeda com a qual se pagava o trabalho de um dia. Visto o que temos escrito sobre próximo, é evidente que o feito pelo samaritano é o que se espera de um amigo ou de um parente. Por isso não é uma conduta irreal ou extremamente fora do comum.
A PERGUNTA: Qual destes três te parece que foi o próximo do homem ferido pelos bandidos? (36). Quis horum trium videtur tibi proximus fuisse illi qui incidit in latrones. Aquele que se comportou com o ferido como um réa [próximo] que, segundo a Lei do AT, era um ah [irmão], um do am [povo], ou amith [companheiro].
CONCLUSÃO: Ele então disse: quem fez misericórdia com ele. Disse pois Jesus vá e faz tu da mesma maneira (37). At ille dixit qui fecit misericordiam in illum et ait illi Iesus vade et tu fac similiter. Logicamente o escriba teve que responder que o samaritano. Porém, ele usa um circunlóquio: o que usou de misericórdia. Dizer a palavra maldita para um judeu que correspondia a um herege não entrava dentro dos costumes lógicos de um escriba, que além do mais, correspondia ao seu ofício, era um fariseu. Aqui encontramos mais um detalhe da autenticidade do texto e da sua veracidade. Jesus, então, responde: vai e procede tu de igual modo. E Jesus parece que igualmente nos está demandando agora: procede tu do mesmo modo.
OBSERVAÇÕES: Jesus não muda a lei, a antiga, Torah, mas explica o significado da mesma indicando quem deve ser considerado como próximo, ou melhor, quem atua ou ama como próximo. É uma lição de amor mais do que uma lição semântica de quem deve ser considerado como próximo. O amor é o que nos salva ou em palavras do jurista nos dá o direito de herdar a vida eterna. O samaritano é a figura chave de como devemos nos comportar para que a lei do Levítico seja norma de nossa vida: amarás o próximo como a ti mesmo. Por isso o samaritano cuida com perfeita lógica de um aparentemente estranho, como ele mesmo queria ser tratado: Sem poupar qualquer cuidado ou solicitude. E neste trato não existe diferença por causa de religião ou etnia. Todos devemos tratar o outro, qualquer que seja, como queremos ser tratados, especialmente os mais necessitados. Deste modo seremos verdadeiros próximos dos que convivem conosco.
PISTAS: A lição do evangelho de hoje é uma lição de amor. De como devemos viver evangelicamente nossas vidas para que os nossos deveres com Deus e o próximo sejam devidamente cumpridos. A frase de Madre Maravillas, anteriormente citada, é a que nos indica de maneira prática o exercício do amor a Deus.
2) A lição de Jesus é dificilmente explicada nos comentários da parábola. Sem saber o significado de próximo nos tempos de Jesus, dificilmente poderíamos entender a moral da história. Próximo não é o necessitado, mas aquele que trata os outros como ele quer ser tratado, até com mordomias que parecem desnecessárias, como vemos na parábola. Quando eu encontrar um médico, um amigo que por mim faz tudo o que eu pediria que fosse feito, eu encontro o verdadeiro próximo como uma dádiva de Deus.
3) Diante dessa prescrição final de Jesus faz isso e viverás, temos que aceitar com humildade que somos extremamente falhos na vivência do amor para com os outros homens. Sempre, ou quase sempre, nos aproveitamos deles e praticamente nunca pensamos como Paulo servi uns aos outros por causa do amor (Gl 5,13). Desta última forma perderemos a nossa liberdade [vida] mas ganharemos a nossa eternidade.
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em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE
A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores
se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!
Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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