GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
01.08.2010
XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C
__ “O DINHEIRO, UMA FALSA SEGURANÇA” __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Uma das necessidades fundamentais do homem é a segurança. Ele procura, apaixonada e necessariamente, um fundamento estável onde apoiar sua existência. Ora, um movimento tão antigo quanto o home é o dos que escolhem, como pedra fundamental da própria vida, as coisas, o dinheiro. O homem que escolhe o dinheiro como fundamento de sua vida se torna homem sozinho, homem alienado, escravom, pois o dinheiro transforma-se em prisão. Cristo não escolheu o caminho do poder para fazer justiça, porque sua missão não é fazer justiça pelo caminho do poder. Cristo retoma acima de tudo o ensinamento da sabedoria humana, traduzindo-o na parábola do rico insensato. A meditação da morte liberta o homem de uma ilusão, uma primeira libertação das coisas. O dinheiro é necessário para o sustento e o salário é sua recompensa pelo esforço, mas o dinheiro não deve jamais ser colocado como fundamento da própria vida. Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Ecl 1, 2; 2, 21-23): - "Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade."
SALMO RESPONSORIAL (Sl 89 / 90): - "Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós!"
SEGUNDA LEITURA (Cl 3, 1-5.9-11): - "aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres."
EVANGELHO (Lc 12,13-21): - "Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?"
Homilia do Diácono José da Cruz – XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
O VERDADEIRO TESOURO
Certamente que as dúvidas de um desempregado, aposentado ou assalariado, são outras, bem diferentes do homem que protagoniza o evangelho desse domingo. Enquanto os primeiros se perguntam como irão sobreviver e pagar tantas contas, o segundo está com uma dúvida cruel: onde irá armazenar o trigo, que produziu muito mais do que o esperado... Será que vale a pena derrubar os celeiros e fazer outros maiores para armazenar a produção excedente?
Segundo a lógica capitalista que prioriza o lucro e o patrimônio, nem é preciso pensar duas vezes, seria uma burrice não investir. Mas segundo a lógica do evangelho, e a linha de raciocínio de um sábio chamado Coélet, é uma grande perda de tempo correr atrás da felicidade, pensando que ela está nas riquezas que este mundo pode oferecer, pois tudo é vaidade, conclui o sábio. Jesus por sua vez, não faz nenhum discurso inflamado contra o capitalismo, ou contra os grandes latifundiários que monopolizam a economia, para decepção dos que querem uma revolução, ele apenas constata o terrível engano que cometem os que depositam toda sua segurança e felicidade, apenas nos bens deste mundo.
De fato, podemos imaginar a frustração e o terror que se apodera do coração de um homem, que chegando de maneira consciente ao derradeiro instante de sua vida, descobre que passou toda sua existência acumulando riquezas, que na verdade não passavam de quinquilharias sem valor, perto do tesouro inestimável do amor e da graça que em Jesus o Pai ofereceu ao mundo. E o que é pior, tudo isso vai ficar para trás, nenhum centavo irá com ele, e outros que talvez nem trabalharam, irão usufruir do seu capital. Ele bem que poderia ter investido no verdadeiro tesouro, partilhando seus bens e sua riqueza com os pobres, poderia ter feito para os empregados uma forma de participação nos lucros, dando aos mesmos esta alegria, poderia quem sabe, ter investido forte no social, não apenas de uma maneira mesquinha, visando incentivo fiscal ou isenção tributária,, mas com o objetivo verdadeiro de melhorar as condições de vida de tantas pessoas. Poderia ainda ter gerado novos empregos, elaborar uma política salarial digna e séria, onde os empregados pudessem crescer e dar mais conforto á família, e não apenas oferecer alguns míseros percentuais para repor a inflação. Isso também vale para os governantes, que muitas vezes colocam a saúde e o social em segundo plano, deixando morrer à míngua e sem assistência os infelizes que não podem contar com um plano de saúde que atenda suas necessidades Quantas bênçãos para o patrimônio de uma empresa ou nação, Deus envia do céu, quando se coloca a vida do ser humano em primeiro lugar, e não os seus interesses políticos, ou os seus gordos lucros!
Mas não! Nada disso fez este homem, que preferiu relacionar-se de maneira possessiva com seus bens: “MEU trigo, MEUS celeiros”, armazenar, acumular, ganhar mais para ter um lucro ainda maior, em nenhum momento ele fez planos que incluíssem a família, a mulher e os filhos, em nenhum momento ocorreu-lhe a idéia de ajudar seus empregados. O fim de tal homem será terrível! Não porque Deus irá se vingar mandando-o para as profundezas do inferno, mas sim porque, como já o dissemos, na última hora vai “cair à ficha” descobrirá amargurado, que viveu de maneira egoísta, o remorso e o arrependimento lhe baterão no coração, e a dor por estar longe de Deus e do seu reino, será eterna e insuportável! Isso é o inferno! Esse homem durante a sua vida não conseguiu se descobrir como um Filho de Deus, vocacionado ao amor, que partilha que é generoso e solidário com os que não têm. Uma partilha que não pode ser imposta pelo poder de alguma lei, mas ditada por um coração transbordante de amor, esta é a razão porque Jesus se recusa a interferir em uma briga de irmãos na disputa de uma herança.
Na verdade este homem perdeu toda a sua existência correndo atrás do brilho falso e ilusório das riquezas materiais, cultuando o deus dinheiro e fazendo das grandes magazines as imponentes catedrais de adoração ao poderoso deus do consumo, permanecendo no “Homem velho”, não se dando conta que a ressurreição de Jesus marcou uma “virada” definitiva na vida do homem, que precisa sim dos bens deste mundo para viver, mas que em seu coração só busca as coisas do alto onde está a verdadeira glória e o mais valioso de todos os tesouros da terra.
Enquanto lhe restar um dia de vida, este homem mesquinho, avarento e egoísta poderá mudar o seu destino, abrindo-se á graça de Deus para esta lhe inunde a alma e o coração. Mas depois... será tarde demais.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
“Avareza”
Faz tempo que eu não assisto desenhos animados, mas me lembro ainda da figura do tio Patinhas, esse emblemático personagem que apareceu por primeira vez nos quadrinhos em 1947 e que sempre me pareceu um pouco avarento. Zeloso do seu “rico dinheirinho”, tio Patinhas faz de tudo para aumentar o seu tesouro, utiliza a violência em alguns casos e, no entanto, busca sempre manter um fundo de honestidade. A mansão do tio Patinhas e a sua “piscina” de dinheiro sugerem à minha imaginação um paralelismo com os grandes celeiros do homem rico da parábola de hoje (cfr. Lc 12,16-21).
“Guardai-vos escrupulosamente de toda avareza” (Lc 12,15) – é Jesus quem nos diz. Além do mais, como é curta a alegria dos avaros: “nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma” (Lc 12,19). Mas, vejamos: não se trata de ter ou não ter. A avareza é uma atitude, uma disposição má que nos leva a estar demasiado preocupados com os bens materiais, em juntá-los, em não gastá-los, em não partilhar. A avareza vai corroendo a pessoa humana e não a deixa ser feliz já que a um bem material sempre se pode juntar um novo bem, e assim por diante com a consequente preocupação de efetivamente conseguir esse novo objeto. O problema não está nas coisas, de fato as chamamos bens materiais, a avareza é uma atitude da pessoa, algo que está dentro do coração humano, como os outros vícios capitais.
Até parece que os produtos estão gritando nas grandes lojas: “Compra-me! Você necessita de mim! O que você tem já está velho! Sou muito melhor! Compra-me! Compra-me!” E nós, diante desse constante estímulo do “ter”, nos rendemos! O nosso “rico dinheirinho”, ou melhor, o “meu” (dinheiro não se partilha!) dinheiro tem que render cada vez mais, não pode sofrer nenhum prejuízo, e melhor ganhar mais que muito. Consumismo, hedonismo, avareza!
Como é importante praticar o desprendimento dos bens materiais, a generosidade e a magnificência, caso queiramos ver-nos livres da avareza. Um exercício interessantíssimo para começar a vencer a avareza é emprestar com alegria. Como custa! E, no entanto, esse desprendimento momentâneo de um bem material – que depois retornará a nós – pode ser um primeiro caminho de generosidade. Logicamente, não se trata de emprestar o próprio diário a outros para praticar o desprendimento e a generosidade!
A avareza destrói amizades. Conta-se que três amigos que eram assaltantes, na hora de dividir o produto do roubo, pediram que um deles fosse comprar um garrafa de whisky para comemorar o êxito da empresa. Enquanto o companheiro foi comprar a bebida pensou consigo o quê fazer para ficar com todo o dinheiro sem ter que dividi-lo: “- já sei, vou comprar o whisky e coloco veneno dentro, os dois morrem e o dinheiro será todo meu”, pensou decidido a colocar o seu plano em ação. Os outros dois que tinham ficado à espera do amigo que fora comprar o whisky pensaram entre si que seria muito mais interessante dividir o dinheiro entre dois que entre três: daria mais para cada um. Combinaram que quando o outro chegasse o matariam e ficariam com o dinheiro só para os dois. Decididos a executar o plano, assim que chegou o outro amigo com o whisky, mataram-no, e, em seguida, para comemorar um novo êxito… beberam o whisky! Morreram os três! E de quem seria o dinheiro, fruto do roubo e da avareza?
A avareza vai tirando a nossa vitalidade, impede a felicidade e nos faz mesquinhos. Quando notemos que a avareza, a preocupação desmedida por acumular, está tomando conta do nosso coração, reajamos imediatamente: ela corrói por dentro e nos faz infelizes. Está claro que um pai de família tem que se preocupar em garantir um futuro para os seus filhos, um universitário terá que preocupar-se em fazer uma pequena biblioteca pessoal, uma mãe de família terá que guardar as roupas da família para outros que virão, isso não é avareza. Além do mais, não se trata de ter ou não, mas de que haja uma atitude de desapego daquilo que temos… ou não temos!
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Epístola (Cl 3, 1-5. 9,1-11)
INTRODUÇÃO: Parênese de Paulo baseado na analogia da vida, cristã com a de Cristo: mortos à vida carnal e seus desejos, vivamos já a futura vida essa que está esperando-nos no mais alto dos céus, da qual a ressurreição de Cristo é penhor e testemunho.
RESSURGIDOS: Se, portanto, tendes ressurgido com Cristo, buscai as coisas do alto onde o Cristo está sentado na direita de (o) Deus (1). Igitur si conresurrexistis Christo quae sursum sunt quaerite ubi Christus est in dextera Dei sedens. TENDES RESSURGIDO do verbo [synegeirö<4891>=conresurgere] a tradução direita é erguer-se junto com. Logicamente Paulo refere-se à ressurreição de Cristo da qual toma como imagem o batismo que a ele nos conforma na morte e na ressurreição, pois após o mesmo, temos em nós uma nova vida conforme a da vida de Jesus atualmente à direita do Pai. Este é o ensino do versículo atual. Se, pois, temos uma vida nova é lógico que busquemos as coisas pertencentes a essa vida nova onde Cristo está como supremo poder delegado do Pai. SENTADO: a palavra lembra o trono próprio dos reis e poderosos governadores do mundo, como o faraó que diz a José: por tua palavra governar-se-á todo meu povo: somente no trono serei eu maior do que tu (Gn 41, 10). O Trono era o assento era disposto em plataformas graduadas e dossel, usado pelos monarcas e outras dignidades, especialmente em atos de cerimônia. Assim falou Betsabeia a Davi pedindo o trono para seu filho Salomão (1Rs 1, 17). Sentar-se no trono era, pois, sinal de realeza, como bem distingue o Faraó ao falar a seu primeiro ministro José, como temos citado anteriormente. O céu era o trono de Deus (Mt 5, 34). No plural era a terceira classe de anjos que formam o coro celestial. DIREITA [dexia<1188>=dextera] na realidade o lado bom do corpo, onde a força e o poder se demonstrava; e, no caso do trono, a dignidade do herdeiro tinha a primazia como no caso do primogênito do faraó:morrerá todo primogênito, desde o primogênito do faraó que se assenta no seu trono (Êx 11, 5). Como primogênito de toda criatura (Cl 1, 15) foi introduzido na terra dizendo Deus o Pai: adorem-no todos os anjos (Hb 1, 6). É precisamente o objetivo do trono: a veneração ou acatamento dos súditos. O caso de cristo é como vemos no texto aos hebreus adoração. É lógico que a linguagem empregada é analógica e metafórica, usando imagens para descrever realidades que não têm materialidade nem podem ser vistas como tais. O sentido real do versículo é que todo batizado está identificado com Cristo tendo no corpo como um amálgama e logicamente deve viver uma vida nova em que as coisas do alto têm a primazia sobre as terrenais.
AS COISAS DO ALTO: As do alto prestai atenção, não as sobre a terra (2). Quae sursum sunt sapite non quae supra terram. DO ALTO [ta anö<507>=quae sursum] o grego anö significa acima, nas alturas, como advérbio de lugar e anterior, como advérbio de tempo. Paulo invita aqui aos colossenses a pôr seu olhar no alto e não nas coisas terrenas de telhas para baixo como vulgarmente se diz, pois estas últimas além de serem temporárias, são insuficientes e aquelas são eternas e totalmente satisfatórias. Mas, com Cristo estamos mortos a esta vida e a glória, suprema ambição de um heleno está nesta vida terrena, fora do alcance de um cristão.
A MORTE COM CRISTO: Morrestes, pois, e vossa vida está escondida com Cristo em (o) Deus (3). mortui enim estis et vita vestra abscondita est cum Christo in Deo. Mais uma vez Paulo traz à tona a morte de todo cristão no momento do batismo (Cl 2, 12 e Ef 2, 16). Morto às leis mosaicas e especialmente à da circuncisão; morto às concupiscências da carne e dos olhos e a soberba da vida das quais fala João em 1, 2, 16. A nova vida está escondida com Cristo que disse: aprendei de mim que sou manso e humilde de coração [de pensamento] e encontrareis descanso para vossas almas (Mt 11, 29). De um mestre que foge de ser aclamado rei (Jo 6, 15) e que impede aos seus discípulos falar sobre seu messiado (Mt 16, 20)e que impõe silêncio sobre sua transfiguração (Mt 17, 9). De um Deus que ocultou sua glória, assumindo a condição de escravo, esvaziando-se de sua glória (Fp 2, 7) nascendo como um pobre mortal e vivendo como um simples artesão sem ter título ou reputação alguma (Mc 6, 3), de modo que seus conterrâneos se admiravam de sua sabedoria (Mt 13, 54). De um mestre que ensinava que a mão esquerda não soubesse o que fazia a direta ao fazer o bem da esmola (Mt 11, 25), que ao orar não buscassem praças públicas, mas o secreto do quarto fechado (Mt 6, 6). Finalmente que dava graças por ver escondidas as coisas do reino aos sábios e entendidos e reveladas aos pequeninos (Mt 11, 25).
MANIFESTAÇÃO DA GLÓRIA: Quando o Cristo se manifestar, vossa vida, então também vós junto com ele vos manifestareis em glória (4). Cum Christus apparuerit vita vestra tunc et vos apparebitis cum ipso in gloria. Até agora Cristo é um desconhecido, especialmente para as autoridades e sábios do mundo (Mt 11, 25). E com ele a vida dos seus seguidores, cópia da vida do Mestre (Mt 10, 24) estará oculta aos favores e honras o mundo; porém o dia da manifestação da glória do Senhor, eles terão sua manifestação, igualmente prometida aos doze de modo especial, pois assentar-se-ão em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel (Mt 19, 28). Mas também os simples fiéis são convidados ao triunfo final, pois como vencedores, levantarão as cabeças quando a redenção ou libertação estiver perto (Lc 21, 28), ao contrário dos vencidos que terão que se jogar no chão. Sem dúvida, que esta conformidade com Cristo vitorioso está presente na mente de Paulo neste versículo.
MORTE AOS DESEOS CARNAIS: Matai, pois, vossos membros os terrenos: fornicação, impureza, paixão, lascívia, e a avareza que é idolatria (5). Mortificate ergo membra vestra quae sunt super terram forniccis ationem inmunditiam libidinem concupiscentiam malam et avaritiam quae est simulacrorum servitus. Agora vêm consequências dessa premissa de viver com Cristo, cuja primeira conclusão é aspirar às coisas do alto. Começa Paulo com as coisas às quais devemos estar mortos. Devemos matar ou considerar como mortos os nossos membros com suas aspirações que são perecíveis como todo o terreno: FORNICAÇÃO [porneia<4202>=inmunditia] em grego é todo ato de relação sexual cometido com uma mulher que não seja a própria e legítima esposa. Um illicit sexual inertcorse como dizem os de língua inglesa. Se distingue do adultério propriamente dito que tem uma palavra própria Moichea [<3430>= adulterium] reservando-se a porneia para a prostituição, pois a meretriz era a pornë [<4204>=meretrix] derivada do verbo pernëmi [= vender] sem saída no NT e sem número de Sprong. A mulher do prostíbulo era denominada de Quastuosa. Junto a estas existiam as sacerdotisas de diferentes templos como as bacantes, um dos templos sendo o dedicado a Ísis, deusa egípcia. Meretrizes eram as mulheres solteiras que exerciam a prostituição como amateurs e em cujo caso não tinha necessariamente que haver dinheiro no meio. Temos o caso de Messalina, imperatriz romana que ingressava periodicamente no templo/prostíbulo sob o pseudônimo de Licisca. Metaforicamente é o culto aos ídolos como foi o caso de Roma, a grande Babilônia, que de a beber a todas as nações do vinho da fúria de sua prostituição (Ap 14,8) ou a prática e comer carnes sacrificadas aos ídolos como o caso de Jezabel que seduzia os cristãos a praticarem a prostituição e comerem coisas sacrificadas aos ídolos (Ap 2, 20). No caso, não estamos numa fala metafórica e a palavra tem o significado real de união ilícita com uma mulher. Dois são os casos em que a palavra porneia tem sido a cruz dos intérpretes: 1) Mt 19, 9: quem repudiar sua mulher, se não por causa de porneia [ei më epi porneia] e casar com outra, comete adultério. 2)Atos 15, 29: Pareceu bem…que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, bem como de sangue, de carne, de animais sufocados e da porneia [kai porneias]. Que significa porneia em ambos os casos? Evidentemente que não podemos confundir com moichea [adultério]. Que é uma relação não lícita entre um homem e uma mulher. Que no caso de Mateus essa relação é inicialmente proveniente do homem, que a repudia. Que evidentemente não é um matrimônio válido. Portanto, teremos que ver entre os ritos ou costumes judaicos que classe de matrimônios eram considerados inválidos ou ilícitos. A tradução da RA de porneia de relação ilícita. A TEB fala de união ilegal e a católica de concubinato. A CEI traduz também como concubinato. Mais literal, Colunga fala de fornicação.Na nota explicaremos melhor o significado de porneia pelo que diz respeito ao matrimônio. [akatharsia <167>=inmumditia] propriamente não limpo ou sujeira que no plano moral será luxúria, lascívia ou concupiscência, como em Rm 6, 19: assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza que não a legal, mas a substancial da vida dissoluta. PAIXÃO [pathos <3806>=libido] um sentimento que atinge a mente, emoção ou paixão que no NT sempre é uma depravação ou vileza, um desejo ruim. Distingue-se de epithimia porque este é um desejo ativo e o pathos é um sentimento passivo constituindo ambos um vício ou uma desordem interna, como diz Apóstolo Paulo em Rm 1, 26: entregou Deus a paixões infames porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro contrário à natureza. LASCÍVIA [epithimia <1939>=concupiscentia] Já temos visto a diferença com pathos. Um desejo que no NT quase sempre é por coisas proibidas, Em Marcos 4, 19 o evangelista fala da ambição das riquezas e os demais desejos que em Lc 22, 15, em palavras de Jesus, se traduzem em epithimia epithimasen [=com desejo tenho desejado] comer esta páscoa convosco. Mas neste versículo esse desejo está determinado pelo adjetivo Kakos [<2556>=malus] que o transforma em desejo maligno, que é lascívia. AVAREZA [pleonexia<4124>=avaritia] cobiça ou avareza que também tem um sinônimo como filargyria< 5365>=cupiditas [literalmente amor à prata] que aqui Paulo diz ser uma idolatria em 1 Tm 6, 10 declara ser a raiz de todo mal.
A MENTIRA: Não mintais uns aos outros, despidos do velho homem com suas práticas (9). Nolite mentiri invicem expoliantes vos veterem hominem cum actibus eius. Paulo retoma sua alegoria do velho e novo homem, separados pelo batismo. Além dos vícios do primeiro com respeito à carne, temos o pior que atinge o espírito: a mentira que se torna hipocrisia e dobrez quando do exercício da religião. Se alguma coisa Jesus combateu foi a hipocrisia da elite religiosa de seu tempo: Ai de vós escribas e fariseus hipócritas foi a maldição que encabeçava as sete diatribes contra os mesmos de Mt 23,13 até 23-29. A hipocrisia é um pecado duplo: uma mentira e uma simulação, que indica falsidade e disfarce para a própria exaltação de virtudes inexistentes ou dissimulação dos defeitos reais. As práticas que saem do interior, assim deformado pela mentira, são as que sujam o homem e impedem ver a verdade que todos pretendemos como caminho real de nossas vidas.
IMAGEM DO CRIADOR: E revestidos do novo, o renovado em pleno conhecimento, segundo imagem de quem o criou (10). et induentes novum eum qui renovatur in agnitionem secundum imaginem eius qui creavit eum. O cristão é um novo homem que tem conhecido o verdadeiro Senhor que o criou. Fala-se muito de um Deus-Amor, mas também devemos anunciar um Deus-verdade, que ama o pecador, este arrependido, mas que não deixa sem castigo o pecado cometido. Pois é também um Deus que fala do dia da ira e do justo juízo que retribuirá a cada um, segundo o seu procedimento (Rm 2, 5-6). Ira e indignação aos que desobedecem à verdade e obedecem à injustiça (Rm 2, 8).
SEM DISTINÇÃO DE PESSOAS: Onde não há heleno e judeu, circuncisão e prepúcio, bárbaro, e cita, escravo, livre, mas todas as coisas e em tudo Cristo (11). Ubi non est gentilis et Iudaeus circumcisio et praeputium barbarus et Scytha servus et liber sed omnia et in omnibus Christus. Paulo termina com uma conclusão muito cara a ele por ser o apóstolo dos gentios: entre judeus e gentios não existe distinção. Paulo enumera uma série de distensões que separavam os homens de seu tempo entre felizardos e amaldiçoados, entre eleitos e rejeitados. Vamos explicar alguns dos termos hoje menos compreensíveis. BÁRBARO [barbaros<915>=barbarus] era aquele que falava e se comportava rudimente; também que tinha como língua uma não compreendida pelo grego falado. Os gregos, especialmente após a guerra contra os persas, de uma pessoa ignorante do grego e que se distinguia por sua conduta incivilizada. CÍTIA [skytës<4658>=Scytha] A Cítia era o sul da Rússia moderna. Os seus habitantes eram vistos como os mais incivilizados entre os considerados bárbaros pelos gregos. Uma outra divisão que a fé cristã tem anulado é a existente entre escravos e livres. A igualdade será o desideratum do novo mundo que tem como base Cristo em tudo. Será sua cruz a insígnia da vitória final e o símbolo que avaliza o perdão e magnifica o amor.
NOTA: a PORNEIA grega merece uma aclaração nos dos textos anteriormente citados no comentário do versículo 5. PRIMEIRO GRUPO DE TEXTOS: Mas vejamos os dois textos de difícil interpretação. Mt 5,31 e 19, 9. Ambos respondem aos costumes da época, que Jesus repudia: No 1° (Mt 5,31-32) Jesus se põe contrário ao que “foi dito: Qualquer que repudia sua mulher dê-lhe libelo de repúdio”. Precisamente esse libelo garantia que a mulher estava disponível e, portanto, não cometia adultério ao casar de novo; e assim o novo marido não estava sujeito à impureza (Lv 18,20). A questão era qual era a causa suficiente para dar o libelo [guet] de modo que o primeiro marido não fosse causa de fazer com que a mulher adulterasse. Aqui, como no segundo texto, aparece a palavra porneia, que logo explicamos. O texto grego diz “parektós lógou porneías”. O logou porneia, comparado com o hebraico de Dt 24,1 parece uma tradução literal. Podemos traduzir o parektós como “exceto no caso de”. Logos é palavra, razão, mandato; portanto a tradução seria: fora do caso de uma conduta sexualmente perversa. Nesse caso, o esposo poderia dar o libelo de divórcio. Esta é a interpretação que Jesus dá ao texto de Dt 24, 1. Desse texto se serviam os escribas e fariseus para conceder o divórcio. O motivo para tal divórcio legal foi, pois, explicado por Jesus como tendo unicamente uma razão de conduta sexual imprópria por parte da mulher. No 2°texto (Mt 19,3-9) temos no grego as mesmas razões, sendo que parektós logou porneias, é substituído por “me epi porneia” (não sobre (a) fornicação). Ambos os textos querem dizer: quando se despede uma mulher que se comportou ou era na realidade prostituta, não se comete adultério ao dar o libelo de repúdio. As traduções modernas de porneia em ambos os casos (Mt 5 e 19) segundo as diversas bíblias são: concubinato (E), impudícia (I), concubinato (CEI), fornicatio (Vul), fornicação (Jerus), relações sexuais ilícitas (RA). e fornication (J K).
INTERPRETAÇÃO: Era costume entre os orientais o matrimônio entre parentes que era considerado matrimônio de porneia. O texto base que servia de referência é o texto Massorético de Dt 24, 1. Ele emprega as palavras “tserwath dabar”que podem ser traduzidas literalmente por “palavra de nudez”. O texto dos setenta traduz por “áskhemon pragma” que poderíamos traduzir por conduta indecorosa. As diversas traduções das bíblias modernas são: Propter aliquam foeditatem da Vulgata, (alguma coisa torpe), algo indecente (E), qualcose di sconveniente (I), qualche coisa di vergonhoso (CEI), coisa indecente (RA), algo inconveniente (Jerus), alguma coisa indecente (Lei, do Rabino Meir) e finalmente some uncleannes in her (J. K). Vejamos as interpretações: O termo hebraico zenuth é traduzido ao grego por porneía e por fornicatio ao latim. Existiam os matrimônios chamados de fornicação (matrimônios zenuth) É o caso dos matrimônios assim chamados porque eram considerados inválidos segundo a lei e as uniões eram como as que se mantinham com uma prostituta. Por isso eram chamados de matrimônios de fornicação. Alguns deles eram nulos pela lei natural, como o efetuado entre irmãos. Eram, pois, verdadeiros concubinatos, ou incestos nalguns dos casos. Dos três casos de Zenuth admitidos pelos legistas, somente o zenuth por erro ou inadvertência é o que admite a anulação. O shem zenuth ,ou zenuth por malícia, e o derek zenuth ou por via de fornicação, eram inválidos em raiz. Os rabinos chamavam-nos derek zenuth ou caminho de fornicação pelo modo incorreto de realizar-se. Parece que esta é a solução mais correta. Poderia haver alguns casos em que o repúdio era lícito segundo a antiga lei?
RESPOSTA: Que coisa transforma uma mulher casada em prostituta, e o matrimônio pode ser chamado de Zenuth, para poder assim repudiá-la? 1° Não querer ter filhos. É o caso de Onan (Gn 38,1-11), mas do ponto de vista feminino. A conduta dessa mulher é como a das prostitutas. De fato, atualmente na lei canônica essa determinação invalida o matrimônio.2° Vemos um outro caso em que um homem correto e cumpridor da lei (justo) está resolvido a dar libelo de repúdio a sua esposada: é o caso de José quando descobre que Maria está grávida. Não pode provar o adultério, mas sabe perfeitamente que ele não é o pai da criatura e que, segundo a lei, seria um ato de impureza contínua seguir com sua prometida esposa. ( ver Lv 18,20). 3° Uma terceira causa seria ter uma outra mulher como concubina ou amante. Possivelmente, admitida a poligamia, essa união era legal; mas diante da restituição da origem do matrimônio de Jesus, outras esposas eram simplesmente prostitutas. Cremos que esta é a resposta mais apropriada aos textos do escriba que redatou o evangelho de Mateus. Era o caso de uma união com uma segunda mulher, que constitui um matrimönio Zanuth ou de Porneia.
SEGUNDO GRUPO DE TEXTOS: Atos 15, 29: Pareceu bem…que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, bem como de sangue, de carne, de animais sufocados e da porneia [kai porneias]. São as proibições da chamada lei de Noé. Além disso temos a proibição da porneia. Pelo que temos visto anteriormente, a porneia está ligada a uma relação ilícita com uma mulher. Cremos que nem a prostituição sagrada com mulheres sacerdotisas, nem as relações com mulheres que os romanos chamavam de quastuosas, entram dentro desta proibição, por serem óbvias demais. Não era necessária essa proibição. Fica assim o caso de poligamia que a nova lei cristã de um com uma, proibia. Que não tivessem duas mulheres, ou mais, como era frequente no Oriente, entre os que contavam com meios suficientes. Ou seja, proibiam-se as concubinas.
Evangelho (Lc 12, 13-21)
A COBIÇA
INTRODUÇÃO: No grande parêntese da viagem para Jerusalém, Lucas aproveita a ocasião para agrupar diversos ensinamentos de Jesus, à maneira como Mateus fez no sermão da montanha. No trecho de hoje temos uma lição do ponto de vista evangélico, isto é, de Jesus mesmo, sobre a cobiça com respeito às riquezas. Temos dois exemplos: o caso de uma herança e a pequena parábola do rico agricultor. Os dois trechos não têm paralelos nos outros dois sinóticos.
MESTRE: Disse-lhe, então, um da multidão: Mestre, diz a meu irmão que reparta comigo a herança (13). Ait autem quidam ei de turba magister dic fratri meo ut dividat mecum hereditatem. Um (ouvinte) dentre o povo, lhe disse: Mestre! Esta era a palavra que estava em uso na época para designar os juristas, hoje diríamos advogados, porque a Torá era a única lei que admitia o direito civil judaico. O caso apresentado pelo demandante era clássico: Uma herança em que o irmão maior tinha direito a dois terços ou uma porção dupla da que era repartida entre os outros irmãos. O caso estava declarado em Dt 21, 17. Reconhecerá como primogênito o filho da mulher da qual ele não gosta, dando-lhe porção dupla de tudo quanto possuir, pois ele é a primazia de sua virilidade e o direito de primogenitura lhe pertence. Aparentemente este era o caso; e o primogênito não queria dividir com o outro irmão a herança paterna. A questão da herança não era uma coisa trivial. Temos em Nm 27, 1-11 o caso de herdeiros que não sendo do sexo masculino, é resolvido com todo detalhe. A questão, pois, parecia de importância.
HOMEM: Ele, pois, lhe disse: homem, quem me constituiu juiz ou partidor entre vós?(14). At ille dixit ei homo quis me constituit iudicem aut divisorem super vos. Lucas usa a mesma palavra em 5,20 e 22,58. É uma palavra que indica distanciamento, como de alguém com quem não queremos amizade, ou não temos as mesmas ideias e que fere, em certo sentido, nossos sentimentos. É também uma expressão de surpresa que nos coloca num plano defensivo. JUIZ: Na realidade, o que pedia o demandante era que Jesus se constituísse em verdadeiro juiz de um caso contencioso, como se fosse um simples jurista, ou um repartidor entre os dois irmãos. Não era esse o verdadeiro ofício de Jesus que o subordinaria às riquezas como se estas fossem o leit motive de sua obra salvífica. Eram os mestres rabínicos os que deviam resolver semelhantes casos. Daí a sua direta e intransigente rejeição. Em Êx 2, 14 os israelitas reclamam de Moisés quando este mata o egípcio para salvar o hebreu maltratado: Quem te constituiu nosso chefe e nosso juiz? Eram estas as palavras que Jesus usa em sua defesa para rejeitar o caso como um simples jurista.
AS RIQUEZAS VISTAS DESDE O EVANGELHO: Então lhes disse: vede e guardai-vos de toda avareza, porque não em qualquer abundância está a vida daquele que possui bens (15). Dixitque ad illos videte et cavete ab omni avaritia quia non in abundantia cuiusquam vita eius est ex his quae possidet. Sabemos que Lucas não é muito favorável às grandes fortunas. É mais fácil um camelo [máximo animal conhecido] entrar pelo olho de uma agulha [mínima abertura ou passagem] do que um rico entrar no reino de Deus (18, 25). O parágrafo se inicia com uma advertência séria: Vede! [ou cuidado!] Deveis estar em guarda de modo a evitar toda forma de cobiça ou ambição [pleonexias] de ser ricos. Pois a verdadeira vida não depende da abundância [periseuo] dos bens materiais [yparchonta]. Na realidade, Jesus usa em presente de infinitivo o verbo periseuö que significa exceder. A tradução seria: porque na realidade a vida de alguém não consiste em ter excesso de posses. É lógico que busquemos uma tradução mais literária para transmitir o verdadeiro pensamento de Jesus. Por isso podemos optar por: A vida não consiste em acumular riquezas. E na continuação Jesus explica o porquê desta afirmação que já Paulo descrevia como sendo a cobiça uma forma de idolatria (Cl 3,5).
A PARÁBOLA: Disse-lhes, pois uma parábola dizendo, de um homem rico, o campo produziu em abundância (16). Dixit autem similitudinem ad illos dicens hominis cuiusdam divitis uberes fructus ager adtulit. Segundo os comentaristas é uma explicação prática de 9, 25 : Que aproveita ao homem ganhar o mundo se vier a perder-se ou causar dano a si mesmo? Na Escrituras não é a primeira vez que aparecem semelhantes reflexões. No Eclesiástico ou SIRÁCIDA, 11, 18-19 encontramos: Há quem se enriquece por avareza; esta será a sua recompensa: Quando ele disser: ”Encontrei descanso, agora comerei dos meus bens”, não sabendo quando virá aquele dia, deixará tudo a outros e morrerá. O livro dos Provérbios tem uma reflexão semelhante: Não te glories do dia de amanhã, porque não sabes o que trará à luz (27,1). O RICO: Era, segundo Jesus, um homem qualquer, porém rico, cuja terra ou melhor diríamos em português cujas terras produziram uma colheita copiosa.
A REFLEXÃO: E cogitava entre si dizendo: Que farei porque não tenho onde estocar os meus frutos? (17). Et cogitabat intra se dicens quid faciam quod non habeo quo congregem fructus meos. E disse: isto farei destruirei os meus celeiros reconstrui-los-ei maiores e ai recolherei todos os meus produtos e meus bens (18). Et dixit hoc faciam destruam horrea mea et maiora faciam et illuc congregabo omnia quae nata sunt mihi et bona mea. E direi à minha alma: alma, tens muitos bens depositados para muitos anos; descansa, come, bebe, desfruta (19). Et dicam animae meae anima habes multa bona posita in annos plurimos requiesce comede bibe epulare. Esta colheita abundante e generosa foi a ocasião de uma reflexão: Que farei, pois não tenho onde estocar semelhante riqueza? Ele só pensou em si mesmo, para viver uma vida de descanso e prazer. Como diz o apóstolo em 1Cor 15, 32 comamos e bebamos que amanhã morreremos. E com a finalidade que também propõe o livro do Sirácida, encontrei descanso; agora comerei de meus bens (11, 19), pensa em aumentar a capacidade de seus celeiros para ter uma vida fácil, sem preocupações, para descansar, comer, beber e gozar. Uma solução mais fácil seria repartir o que não coubesse nos celeiros com os mais necessitados, ou vender a preço mais acessível o excedente. Seria uma maneira de ajudar a quem não tem, e cumprir com o que Tobias recomendava a seu filho: Dá esmola de tudo que te sobrar e não sejas avaro na esmola (4, 16).
A MORAL: Porém disse-lhe Deus: Insensato, esta noite demandarão a tua alma de ti; as que tens preparado para quem serão? (20). Dixit autem illi Deus stulte hac nocte animam tuam repetunt a te quae autem parasti cuius erunt. Assim [será] o que entesoura para si mesmo e não [é] rico para Deus (21). Sic est qui sibi thesaurizat et non est in Deum dives. Segundo o último versículo de hoje, existem duas maneiras de ser rico: para si mesmo ou para [diante de] Deus(21). A primeira maneira é uma verdadeira idolatria (Cl 3, 5) quando atinge os limites da avareza. E será uma insensatez, sem miolos, pensar que as riquezas vão trazer a verdadeira felicidade como diz Jesus no trecho de hoje (20). A segunda maneira de ser rico tem duas opções que não são diametralmente opostas: a) A perfeita: enriquecer o coração optando pela pobreza em cuja escolha teremos outros desejos que não a ambição e desejos insensatos e funestos, que afundam os homens na ruína e perdição (1 Tm 6, 9). Por isso Jesus aconselha para o jovem rico: Uma coisa te falta ainda. Vende tudo o que tens, distribui aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-me (Lc 18, 22). Neste caso descobrimos a verdadeira felicidade que é ser discípulo de Cristo. b) A segunda é fazer amigos com as riquezas de modo que no dia em que elas faltem e sejam inúteis eles vos recebam nas tendas eternas (Lc 16, 9). Neste caso o dinheiro compra a verdadeira felicidade que é imorredoura. Desde os tempos de Tobias sabemos que a esmola era um dever de todo judeu justo ( 4, 7-11 e 16-17). O Sirácida o dirá com palavras muito próximas às de Jesus em Lc 19, e compara a esmola com o sacrifício de louvor (35,2). Além dos pobres era o próprio Jesus e o colégio apostólico que foi favorecido pelas posses de suas discípulas. Sabemos que eles tinham uma caixa comum e que dela participavam os pobres (Jo 12, 5-6). Quando Zaqueu disse que a metade de seus bens seria dada aos pobres, Jesus exclamou: Hoje a salvação entrou nesta casa (Lc 19, 8). Quando as multidões perguntam a João que devemos fazer? Ele respondeu: Quem tiver duas túnicas reparta-as com aquele que não tem, e quem tiver o que comer, faça o mesmo (Lc 3, 10). Do evangelho deduzimos que o reparte deve ser generoso, até a metade dos bens, quando o outro nada tem. Sem dúvida que existe muita ostentação desnecessária na vida. Por isso é bom recordar as palavras de Tobias: o supérfluo pertence aos pobres, e a advertência dos Papas nos últimos tempos: Toda propriedade tem uma hipoteca social.
PISTAS:
1) Aparentemente o caso do homem que interpela Jesus era um caso de justiça. Mas Jesus recusa ser juiz. A justiça, considerada do ponto de vista humano, é falha e deixa muito a desejar. No litígio, os homens enfrentam uma guerra que mata não só os corpos, mas a amizade e o amor. Por isso Jesus dirá: Assume uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás no caminho, para não te acontecer que teu adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e assim, sejas lançado na prisão (Mt 5, 25). Porém a caridade não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade (1 Cor 13, 5-6). De fato, todas as revoluções em nome da justiça, da igualdade e da liberdade têm sido extremamente cruentas e abundantes em mortes humanas. Muitas buscam a desforra e a vingança, Por isso todas as encíclicas sociais terminam com a mesma advertência: a justiça deve ser temperada pela caridade que é a que tem a última palavra nas relações sociais.
2) Talvez não tenhamos em conta que num mundo tão injusto como o romano de escravos e cidadãos diversamente classistas, Jesus nada disse a respeito. Porém, a ênfase evangélica está na justiça divina para a qual Lucas deixa a definitiva sentença, como Ai de vós ricos, porque já tendes a vossa consolação (Lc 6,24).
3) O problema da desigualdade, por não dizer péssima distribuição das riquezas, tem como solução uma voluntária redistribuição das mesmas, de modo que os mais ricos enriqueçam os mais pobres com as riquezas que para eles sobram e para estes faltam. A chamada esmola deve ser considerada como uma necessidade voluntária de distribuição das riquezas. Assim se conseguem dois objetivos altamente prioritários e necessários: Paliar uma injustiça presente e conseguir amigos eternos. (vide nota).
4) Mais do que condenar os ricos devemos pregar a pobreza voluntária, desterrando a ambição como programa humano e oferecendo a simplicidade e austeridade de vida como objetivo evangélico e ideal social.
NOTA: Eis uma página que deve ser lida como atual por todos. É da homilia de S. Basílio Magno, De caritate: “ Imita a terra, ó homem! À semelhança dela produze fruto, não te reveles inferior a uma coisa inanimada. Ela nutre frutos não para seu consumo, mas para teu serviço. Tu, no entanto, todo fruto de beneficência que produzisses, colherias para ti mesmo, porque o prêmio das boas obras reverteria a ti. Como o trigo que cai na terra redunda em lucro para o semeador, assim o pão dado ao faminto, grande proveito te trará no futuro. Seja, portanto, o final de tua lavoura o início da sementeira celeste: Semeai, está escrito, para vós mesmos na justiça. Mesmo contra a vontade, terás de deixar aqui teu dinheiro. Pelo contrário, enviarás ao Senhor a glória conseguida pelas tuas obras. Ali, na presença do Juiz de todos, o povo em peso te proclamará o provedor, o generoso doador e te cobrirá com todos os nomes significantes de bondade e de benignidade.Com efeito, não vês como aqueles que, nos teatros, nos estádios, nos circos, aqueles que combateram contra as feras, cujo aspecto nos horroriza, por uma breve fama e pelos aplausos vibrantes do povo, malbaratam riquezas? Tu, porém, tão parco em gastar, donde conseguirás tamanha glória? Deus te aprovará, louvar-te-ão os anjos, todo homem criado desde o princípio do mundo te proclamará feliz. Glória eterna, coroa de justiça, reino dos céus, tudo isto premia as coisas corruptíveis que bem usaste. Nada te cause cuidado daqueles bens, objeto de esperança, pelo pouco caso dado às coisas temporais. Ânimo então, e reparte de diversos modos as riquezas, sendo liberal e magnânimo nos gastos com os indigentes. De ti dirão: Distribuiu, deu aos pobres, sua justiça permanecerá para sempre. Como deverias ser grato ao benéfico doador que teve considerações por ti. Não te alegras, não te regozijas por não teres que ir bater à porta dos outros, mas que eles venham à tua? Agora, no entanto, és rabugento, com dificuldade consegue alguém te falar: evitas encontros, não te aconteça teres de abrir mão nem que seja um pouquinho. Conheces só uma frase: “Não tenho nem dou; também sou pobre”. És pobre na verdade, indigente de todo bem: pobre de amor, pobre de bondade, pobre de fé em Deus, pobre de esperança eterna”. ( 2a leitura terça feira 17a semana)
25.07.2010
XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C
__ “COMO REZA O DISCÍPULO DE JESUS” __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Em sua definição mais universal e partilhada por todas as religiões, a oração é um diálogo com Deus. Mas, pôr-se em diálogo com Deus pode ser um desafio para o homem. Na oração, o homem pode desfigurar-se a sí mesmo e a Deus. Pode reduzir Deus a um bem de consumo, a uma solução fácil para suas próprias insuficiências e preguiça. E pode reduzir-se a sí mesmo a um ser que lança sobre outro suas próprias responsabilidades. Entoemos cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos
em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Gn 18,20-32): - "Que o meu Senhor não se irrite, se eu falar só mais uma vez."
SALMO RESPONSORIAL (Sl 137 / 138): - "Naquele dia em que gritei, vós me escutastes, ó Senhor!"
SEGUNDA LEITURA (Colossenses 2,12-14): - "Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus"
EVANGELHO (Lucas 11,1-13): - "Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos"
Homilia do Diácono José da Cruz – XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
A Oração do Senhor...
A qualidade da nossa oração depende muito da visão e do conceito que temos de Deus e nesse sentido, o “Pai Nosso” introduz algo novo na oração: Deus, cujo nome até então era até proibido de se pronunciar, é agora chamado de PAI porque Jesus tornou possível essa intimidade entre o Homem e Deus ao nos dar o seu espírito que em nós clama ao PAI. A oração ensinada pelo próprio Cristo não evoca a imagem de um Deus distante, ao contrário, esse céu, lugar da morada de Deus, desceu até os homens em Jesus Cristo, pois céu significa comunhão plena com Deus, que só foi possível porque o verbo Divino se fez homem.
Dessa invocação inicial emanam todas as demais e assim, o nome de Deus é santificado quando damos testemunho dessa santidade que se realiza e acontece somente na perfeição do amor, Deus não precisa de nenhum elogio, aplauso ou louvor, mas ele é glorificado precisamente no testemunho autêntico do evangelho de Cristo, e que consiste em ser solidário com quem sofre ter compaixão dos pobres, perdoar quem nos ofende, ser paciente com todos, essas são algumas formas de se santificar e glorificar o santo nome de Deus. Certamente fazemos isso de maneira ritualista em nossas liturgias, mas é preciso que esse louvor não fique só em nossos lábios, mas esteja em nosso coração, que desta forma, batendo no mesmo ritmo do coração misericordioso de Cristo, esteja realmente perto de Deus.
O reino de Deus precisa ser construído, ele não cai do céu, e essa construção requer em nosso dia a dia, muita paciência, mansidão e perseverança, portanto, desejar que esse Reino venha até nós, é em primeiro lugar ter total disponibilidade para acolhê-lo em nossa vida e em nosso coração. Mas há um ponto chave de toda oração, que aqui é realçado pelo Senhor “seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. Muitas vezes entendemos como oração poderosa, aquela que consegue convencer Deus, para que ele nos socorra e nos favoreça em tudo o que pedimos, sempre de acordo com nossas conveniências e interesses. A nossa oração fica muito pobre quando se limita a apresentar a Deus o nosso mesquinho projeto humano, pedindo para ele realiza-lo exatamente dessa forma, que nos agrade e satisfaça.
Deus para muitos não passa de um super-herói a quem se recorre quando se chega ao limite. A verdadeira oração é também uma escuta em uma abertura total á vontade Divina á nosso respeito. Neste evangelho Jesus ensina que temos que ser insistentes naquilo que pedimos que o Senhor nos dê o pão de cada dia, a vida e suas múltiplas formas e manifestações, mas que haja em nós esse desejo e disposição de buscá-la, de construí-la, e principalmente de partilhá-la, pois pão que não é partilhado deixa de ser pão. Que nunca nos falte o perdão do Pai diante das nossas ofensas, mas que o nosso coração deixe de ser tão estreito e se alargue para também saber perdoar, mesmo porque, só experimentaremos a alegria do perdão de Deus, quando o nosso perdão dado de modo incondicional e gratuito, faz aflorar um sorriso de alegria no rosto de quem antes era nosso inimigo.
Que ele nos livre das tentações, principalmente da mais terrível que é a de querermos colocá-lo ao nosso dispor, para nos servir sempre que solicitado, invertendo a ordem das coisas, porque na verdade nosso Deus já fez isso em Jesus Cristo, que se aniquilou a si mesmo e por nós se entregou, fazendo-se servidor do Pai, agora é a nossa vez de nos abaixarmos para lavar os pés, na entrega generosa no amor ao próximo.
E se formos mesmo insistentes, como nos ensina o senhor, um dia alcançaremos tudo o que pedimos, porque de tanto nos entregarmos a oração, como Jesus fazia, iremos conhecer ainda mais o nosso Deus e a sua vontade a nosso respeito.
A conclusão final a que se chega com a reflexão deste evangelho, é de que nossas orações não mudam a Deus, mas, com a perseverança e insistência, ela vai transformando o nosso coração e toda nossa vida,e assim vamos nos moldando segundo a santa vontade de Deus. Nesse dia podemos afirmar categoricamente que a nossa oração foi atendida.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
“Oração dominical”
Das três leis do astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1630), a segunda nos diz que os planetas, em suas elipses, movem-se mais rapidamente quando estão mais próximos ao sol que quando se movem no extremo das órbitas. Na vida espiritual, também é assim: movemo-nos mais rapidamente quanto mais perto estamos do Senhor, nosso Sol, através da oração, dos sacramentos, das boas obras.
Ao pedido “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1), Jesus responde ensinando-lhes o Pai-nosso, a oração do Senhor (oratio Domini) ou oração dominical, por referência ao Dominus, Senhor. Os cristãos dos primeiros séculos tinham um respeito tão grande pela oração dominical, pelo Pai-nosso, que se tratava de uma oração que só era revelada aos que queriam ser cristãos e no curso do catecumenato ou preparação para a recepção do Sacramento do Batismo. Ao começo da quaresma, os que desejavam ser batizados se inscreviam nos livros da Igreja e entravam na luz (fotizomenoi), a partir desse momento começava um tempo de preparação imediata que durava toda a quaresma e que consistia em participar de várias catequeses e serem exorcizados; era uma espécie de retiro espiritual. Na quinta semana da quaresma se dava assim chamada traditio symboli, ou seja, a entrega e a explicação do Credo. No domingo anterior à Páscoa, tinha lugar a entrega e a explicação do Pai-nosso, a Traditio orationis. A cada traditio, entrega, correspondia uma reditio, a recitação, por parte do batizando, da oração que lhe fora entregue. Na Vigília Pascoal os que iam ser batizados faziam, voltados ao ocidente (símbolo das trevas), a apotaxis, ou seja, a renuncia ao demônio e às suas pompas; depois, voltados ao oriente (região da luz) eles faziam a syntaxis, a adesão a Cristo. Finalmente eram batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Já eram cristãos!
Que bonito observar que a oração do Pai-nosso é realmente a oração dos filhos de Deus e, que, por tanto, propriamente falando, só a reza bem e com toda a sua significação aquele que é batizado. Um não-batizado poderia recitá-la, mas não teria a mesma eficácia nem a mesma capacidade de chegar ao coração de Deus que no caso de um batizado. O Pai-nosso é a oração dos filhos dele, de Deus.
Há vários comentários sobre o Pai-nosso. São Cipriano, por exemplo, aconselhava no seu tratado sobre essa oração, rezar considerando-se “sub conpectu Dei stare”, ou seja, sob o olhar amoroso de Deus. Além desse conselho, façamos também como Santa Teresinha do Menino Jesus: saborear em espírito de contemplação cada uma dessas palavras que saíram da boca de Jesus começando por considerar que Deus é Pai. Estar próximo dele, chamá-lo de Pai, amá-lo, garantir-nos-á uma velocidade impressionante no caminho rumo à santidade. Dessa maneira, seremos como um planeta na própria órbita girando sempre rápido em torno ao Sol.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Epístola (Cl 2, 12-14)
O BATISMO SUSTITUTO DA ALIANÇA
INTRODUÇÃO: Preocupado Paulo pela fé dos colossenses usa os últimos argumentos contra os judaizantes, e admite que o manuscrito de nossa condenação foi pregado na cruz, onde todo pecado [dívida] foi pago [resgate] e toda discrepância foi anulada[restituição].
BATISMO COMO MORTE E RESSURREIÇÃO: Sepultados com ele no batismo no qual também ressurgistes por meio da fé da obra de Deus que vos ressuscitou dentre os mortos (12). Consepulti ei in baptismo in quo et resurrexistis per fidem operationis Dei qui suscitavit illum a mortuis. Na preocupação de Paulo pela fé dos colossenses, ele usa diversos argumentos para confortá-los. Ausente na carne, ele diz, mas no espírito no meio deles, é por meio da carta que os anima a não serem enganados com argumentos capciosos e filosofismos falaciosos e vãos, fundadas em tradições humanas e não em Cristo. A circuncisão verdadeira é a recebida no batismo que atinge o espírito e é pelo Espírito divino realizada e não a carnal do corpo, feita por mãos humanas. É neste ponto que Paulo descreve os efeitos dessa circuncisão batismal como vemos no início deste versículo. SEPULTADOS [sintafentes <2916> =consepulti]: do significado da palavra e da ação mesma batismal, Paulo toma seu primeiro argumento. A imersão batismal e a saída posterior da água são como uma morte e uma nova vida ou ressurreição. O batismo é um símbolo de uma morte ao velho homem, penetrado do fermento da maldade e malícia (1 Cor 5, 8) e, no batismo, crucificado com Cristo, destruído o corpo do pecado (Rm 6, 6), para livre do velho fermento, ser imbuído do esmo da sinceridade e da verdade (1 Cor 5, 8). Destes textos deduzimos que os vícios principais que nos apartam de Deus são a maldade definida como a opção de fazer o mal, ou o contrário da opção pelo bem; e a malícia que definiríamos como a intenção de optar pela mentira como forma de pensar e atuar. Também inferimos que a sinceridade e a verdade formam parte do verdadeiro homem que quer viver como autêntico discípulo de Cristo. A opção pela verdade é um requisito fundamental de nossa vida nova, junto com a sinceridade que evita a hipocrisia e falsidade, como filhos da luz, em que as boas obras são vistas para glória do Pai dos céus (Mt 5, 16). OBRA DE DEUS: Na sinergia entre o poder divino e a vontade humana, Paulo atribui o papel principal à força de Deus de modo a considerar tanto a fé como as obras que dela surgem, como é o amor (Gl 5, 6), como feitos principais da ação divina que é realmente a que dá o querer e o poder (Fp 2, 13).Como conclusão, vemos em Paulo a dicotomia humana que divide a mesma entre o homem natural [psikikós] e o homem assumido pelo espírito [pneumatikós], com resultados diferentes nas diversas obras: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias… etc, obras da carne, opostas ao amor; alegria, paz, longanimidade, benignidade ….etc que Paulo diz serem frutos do espírito (Gl 5, 19-23).
VIVIFICADOS: E a vós, mortos sendo nas faltas e no prepúcio da vossa carne, vivificou com Ele perdoando-vos todos os delitos (13). Et vos cum mortui essetis in delictis et praeputio carnis vestrae convivificavit cum illo donans vobis omnia delicta. MORTOS [nekrous<3498>=mortui] segundo Paulo os gálatas estavam mortos, ou seja, sem vida por dois motivos: 1) pelas transgressões [paraptömasin <3900> =delictis], sendo que a palavra paraptöma é a usada em Mt 6, 14: se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai Celeste vos perdoará. 2) pelo prepúcio [akrobystia<203>=praeputio]: para Paulo a circuncisão era a garantia da eleição, segundo o pacto de Jahveh com Abraão, diante de Deus. Quem não entrava dentro desse pacto, estava como morto diante de Deus. Os colossenses, cuja maioria era de origem pagão, estavam mortos por causa dos dois motivos apresentados: os pecados e a falta de circuncisão. VIVIFICOU: na alegoria imersão/saída no batismo e morte/ressurreição em Cristo, esta vida nova do Jesus ressuscitado é causa de nossa ressurreição; pois sua morte foi o resgate pago pelo pecado, que a teologia chama de redenção. Nas palavras da cruz: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que estão fazendo (Lc 23, 34) encontramos uma atuação da teoria da reconciliação que o próprio Jesus declarava na última ceia: este é o cálice da nova aliança do meu sangue derramado em vosso favor (Lc 22, 20). A cruz foi um sacrifício de perdão e aliança que substituia perfeitamente a feita por meio da circuncisão.
1.O QUIRÓGRAFO:Tendo cancelado o manuscrito com os mandatos contra nós, o qual estava contrário a nós, e o retirou do meio, cravando-o na cruz (14). Delens quod adversum nos erat chirografum decretis quod erat contrarium nobis et ipsum tulit de medio adfigens illud cruci .MANUSCRITO [cheiroyrafon <5498> =chirografum]: Cheirografon, que temos traduzido por quirógrafo, é um manuscrito concernente a uma obrigação contratual sem tabelião nem outro testemunho público, mas válido pela palavra nele escrita de punho e mão do devedor. O sentido original da palavra era manuscrito, mas legalmente era uma espécie de bilhete comprovante de uma dívida que o devedor se compromete em data determinada a pagar. A palavra só sai neste versículo no NT. A pergunta è: existiu esse documento; e se a sua existência foi real, por que Paulo fala de que foi cravado na cruz? Qual é o significado de tudo isso? Sobre a existência: o único documento que fala sobre o pecado é a Lei que Jahveh escreveu nas duas tábuas de pedra, segundo Êx 24, 12: Dar-te-ei tábuas de pedra e a lei e os mandamentos que escrevi para os ensinares.. De fato, Moisés tomou o livro da Aliança e o leu ao povo e eles disseram: Tudo o que falou o Senhor faremos e obedeceremos. E tomou Moisés aquele sangue e o aspergiu sobre o povo e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de todas estas palavras (Êx 24, 7-8). Como os judeus não cumpriram a Lei, e entre eles abundou o pecado, (Rm 3, 9 e 5,20) as tábuas da lei eram um quirógrafo pendente sobre a conduta do povo eleito, que o homem não podia pagar ou rescindir. Existia pois, um compromisso que foi rasgado na cruz, pois a antiga aliança foi substituída pela nova, carimbada com o sangue de Jesus: Tomou o cálice dizendo: Este é o cálice da nova Aliança no meu sangue, derramado em favor de vós (Lc 22, 20). Mateus acrescenta: Para o perdão dos pecados (Mt 26, 28). Logo, Paulo fala de um modo histórico ou real dessa Aliança, escrita e não cumprida, que agora, pelo sangue derramado, foi substituída pela cruz de Cristo. Essa cruz deve ser o novo manuscrito segundo as palavras do próprio Jesus: Quem quiser vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me (Mt 16, 24). Palavras que repetem quase literalmente os outros dois sinóticos. De modo que as tábuas ou o livro da Lei é agora substituído pela cruz de Cristo. CRAVADO NA CRUZ: O título da cruz era o motivo da morte do réu e estava bem visível para denunciar quem nele se achava cravado ou suspenso. Cravar na cruz era, pois um ato de justiça em que o réu era condenado. Assim, como condena e anulação da validez do AT foi a cruz para Paulo. Pois na cruz foram perdoados os pecados em raiz [resgate] e foi feita uma Nova Aliança que não admite distinção de raça ou condição social [reconciliação]. O único pecado que não será perdoado é o cometido como blasfêmia contra o Espírito Santo; ou seja, o daquele que não quer admitir o bem e a verdade e publicamente rejeita ambas realidades.
Evangelho (LC 11, 1-13)
O PAI NOSSO – CONSTÂNCIA NA ORAÇÃO
INTRODUÇÃO: Duas partes temos no evangelho de hoje: Um modelo de oração que hoje é nossa prece universal; e em segundo lugar, um ensinamento sobre como deve ser a constância e a confiança na mesma. Na primeira parte, encontramos o que temos chamado com o nome geral de Pai Nosso. A fórmula que recebe o nome de Pai Nosso sai três vezes nos escritos primitivos antes do final do século I: Mateus 6, 9-12; Lc 11, 2-3 e Dídaque 8, 2. A formulação mais antiga é a de Lucas. Mateus e a Dídaque são praticamente iguais, acrescentando esta última a doxologia final e o preceito de recitar a oração três vezes ao dia.
ENSINA-NOS A ORAR: Então sucedeu que ao estar Ele em certo lugar orando, como terminasse, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar como também João ensinou seus discípulos (1). Et factum est cum esset in loco quodam orans ut cessavit dixit unus ex discipulis eius ad eum Domine doce nos orare sicut et Iohannes docuit discipulos suos. ORAÇÃO DE JESUS: Lucas circunscreve o momento da apresentação do Pai Nosso a uma circunstância que podemos chamar de fórmula literária: Porque sucedeu que estando ele [Jesus] em oração num certo lugar, quando acabou, um de seus discípulos perguntou-lhe: Ensina-nos a orar como João ensinou os seus discípulos. Evidentemente que o exemplo de Jesus era fundamental para que a petição fosse formulada. Mas o dito discípulo também apela para o exemplo de João, que nas orações se afastava da Keriat Shemá [leitura da Shemá], a reza diária dos israelitas adultos, duas vezes por dia. Vejamos, pois, quais eram os modos e fórmulas de oração em uso entre os judeus da época para compará-los com os que Jesus escolheu como fórmula própria de seus discípulos.
EXCURSO: ORAÇÃO ENTRE OS JUDEUS
TEFILÁ: É a palavra que significa oração entre os judeus. Como encontrei um artigo claramente esclarecedor do que é a oração entre os hebreus, vou resumir o mesmo, pois é como se tivéssemos encontrado as formas de orar de Jesus, verdadeiro judeu em hábitos e costumes religiosos. A palavra inicial do parágrafo [TEFILÁ] provém do verbo Palal [julgar ou meditar] na forma reflexiva: é um ato de introspecção e auto-análise pelo qual o Mitpael [orante] medita sobre si mesmo e julga a si mesmo. O homem ora para compreender a vontade de Deus, a fim de que possa distinguir entre o que deve e o que não deve; que possa saber o que esperar e o que Deus espera dele (não o que ele espera de Deus), a fim de que ele possa perceber o propósito divino e servi-lo. A oração, do ponto de vista judaico, é a conversa do homem com Deus acerca das suas esperanças. É também a forma pela qual o homem descobre, cada dia, que a vida tem sentido. A oração é o processo pelo qual o homem atinge o que há de melhor em si mesmo. A maioria das orações é um comprometimento dos nossos recursos para cumprir nossos deveres para com Deus, meditação sobre a sabedoria das nossas escrituras sagradas, expressões de louvor e de gratidão pelas maravilhas da vida e declarações de segurança e confiança no poder de Deus. A oração é parte integral da fé judaica e um fator indispensável do ponto de vista teológico. Todas estas posturas entram dentro das orações de Jesus que encontramos narradas nos evangelhos. Para falar só de Lucas: Jesus acostumava se retirar a lugares desabitados (5,16) ou ao alto das montanhas (9,18) para orar passando a noite inteira (6,12). O tipo de oração era uma reflexão sobre a sua missão (9, 30) e a conformidade com a vontade do Pai (22, 42). Mas vejamos como os judeus descrevem as diversas orações de sua tradição. CLASSES DE ORAÇÃO: A) Adoração: Considera-se o poder, a majestade, a grandeza e o mistério de Deus. Deus não necessita da nossa adoração, mas nós necessitamos adorá-lo. As orações de adoração protegem o homem, evitando que se apegue ao que é falso e degradante; o propósito da oração é encontrar nossa relação com o Deus vivo. Essa oração é expressa em palavras que entoam louvores a Deus. O louvor a Deus é uma resposta à sua majestade e glória. À medida que enunciamos esses louvores somos levados a um plano mais alto de sentimento e pensamento. B) Agradecimento [berahá]: Tem como objetivo tornar-nos conscientes das bênçãos que nos cercam e das quais recebemos benefícios diariamente. Só após louvar e agradecer, o judeu, nas suas orações, chega às preces nas quais exprime o seu pedido. C) Suplicatórias: Suplicamos a Deus em favor daqueles que estão enfermos e encorajamos mesmo o agonizante a orar pela restauração da saúde para o serviço útil a Deus. As orações suplicatórias exigem que o adorador se concentre na vontade de Deus em vez da própria vontade. Nossa súplica (pedindo a bênção para a vida) deve ser motivada pelo desejo de usar essa bênção para a glória de Deus. As orações judaicas de súplica são feitas no plural em vez do singular a fim de aguçar a consciência a respeito dos outros. D) Penitenciais: O homem confessa seu erro e pede perdão. Essas preces recebem o nome de SELIHOT. O judeu pede ajuda a Deus a fim de que possa superar seus maus desejos. Apela por outra oportunidade tendo intenção de agir diferentemente e confia no misericordioso perdão de Deus. Se estudarmos o Pai Nosso veremos como ele se conforma com o dito: Pai[adoração]. Santificado teu nome [berahá]. Venha teu reino e dá-nos o pão [suplicatórios]. Perdoa [penitencial]. E) SHEMÁ: Porém existe uma oração própria de todo judeu que deve ser recitada duas vezes por dia: o Shemá. A recitação do mesmo recebe o nome de Keriat Shemá [leitura do Shemá] pois, era semicantada, em voz alta. Dados do segundo Beit Mikdash [ casa sagrada ou templo], dizem que se recitava diariamente, entoada pelos sacerdotes após o Korban Tamid Saharit [sacrifício ao alvorecer]. O povo reunido no Mikdash [santuário] respondia: Abençoado seu nome, cujo Reino [é] glorioso para sempre, como forma de adesão ao culto e cumprimento das Mitzvoth Torá [preceitos da lei]. A Mishná [repetição ou lei falada] estabelece que uma pessoa deve esmerar-se em ler o Shemá e recitar a Amidá [principal oração suplicatória da liturgia judaica]. Os judeus têm três momentos de oração marcados por lei: Tefilat-sakarit [oração da manhã] Tefilat- Minká [oração da tarde] e Tefilat-Arvit [oração da noite]. Segundo a Mishná, o Shemá deve ser recitado na oração da manhã e na oração da noite, seguindo o preceito [mitzvá] da Torá: Estas palavras as inculcarás aos teus filhos e delas falarás …ao deitar-te e ao levantar-te ( Dt 6, 7).
AS TRÊS PARTES DO SHEMÁ
A) PRIMEIRA PARASHÁ (Dt 6, 4-9): Parashá, em plural pareshot, é cada um dos parágrafos em que os massoretas [os fixadores do texto através de vogais sublinhares] dividiam o texto da Torá. Os Hahamim (rabinos) deduziram do texto, que fazia referência a certos momentos do dia e nos quais obrigatoriamente deviam ser pronunciadas estas palavras, que pertencem à primeira parashá ou trecho dos três que eram recitados no Shemá: (Dt 6,4-9) Shemá [Ouve] Israel: Jahvé (hoje substituído por Adonai [meu Senhor], ou Hashem [o Nome]) Elohenu[nosso Deus]. Jahvé Ehad [único](4). We[e] ahabeta [amarás] eth [a] Jahvé Eliheika [teu Deus] bekol [com todo] lebabeka [teu coração] we[e] becol [com toda] nefeshka[tua alma] we [e] becol [com todo] meodka [teu poder] (5). Atualmente os judeus substituem Jahvé por H ‘. Devemos ler da esquerda para direita. O ‘ é o Yod, inicial das consoantes do nome de ‘HWH e H [o he], a segunda consoante, ou talvez a última de O Nome que eles traduzem como Hashem. Podemos ler com letras românicas o hebraico original em negrito, ao que acompanha em colchetes a sua tradução. O versículo 4 inicia-se com Shemá cuja última letra é E [y] e a última letra de Ehad é D. Com estas duas letras se forma a palavra ED que significa testemunho. Por isso estão escritas de forma destacada, como letras grandes, no livro da Torá. Porque este versículo era o escolhido pelos mártires judeus para morrerem com estas palavras pronunciadas no último suspiro de sua existência, tal como vemos no filme dos assassinados na olimpíada de Munique (1972). O grande Rabi Akiba, na época das perseguições do Império Romano, ensinava que bekol nefeshka [com todo teu ser] devia significar até o sacrifício da vida. No meio dos suplícios de seu martírio entoava o Shemá. Os discípulos estranharam ao ver o gozo com que ele entoava a oração e ele respondeu: Durante toda a minha vida, quando recitava o Shemá, me preocupava de quando poderia entender o que significava amar a Deus sem esperar recompensa. Agora chegou o momento de cumprir esse preceito. O momento da Shemá da manhã [Tefilá sakarit] é quando se colocam os Tefilim [filactérios] caixinhas de couro com rolos de pergaminho contendo quatro trechos ou parashot da Torá (ver figura), que eram obrigatórios para recitar o Keriat [leitura] da manhã. A tradição afirma que o versículo 4 foi dito pela primeira vez pelos filhos de Jacó/ Israel ao pai moribundo, quando este perguntou: Meus filhos, estais bem firmes na vossa crença num único Deus? Em resposta, os filhos levantaram as mãos ao céu e disseram: Shemá Israel [ouve Israel ou Jacó], o Eterno é nosso Deus; o Eterno é um. Então Israel pronunciou de forma apenas audível o berahá [bênção] que também os judeus recitam em voz baixa: Bendito seu nome cujo Reino glorioso, para sempre. Como anedota contam que os Judeus hindus foram reconhecidos muitos séculos após sua diáspora porque recitavam esta primeira parte do shemá em hebraico, tendo esquecido por outra parte a língua de seus antepassados. O Tefilá da noite [Tefilá Arvit] era recitado ao se acostar. Finalmente o Tefilá da tarde [Tefilá Minká] era só recitado aos sábados, no dia de Yom Kippur [dia da expiação] e nos dias de jejum geral de todo o povo. Esta última recitação não era obrigatória por lei.
B) SEGUNDA PARASHÁ: Corresponde a Dt 11, 13-21. Se a primeira se dirige ao indivíduo, a segunda é para o coletivo. A primeira é o amor sublime em estado puro. A segunda é o amor prático. A primeira é o compromisso com o Eterno, a segunda é a compenetração com suas palavras e ações, pela qual se deve cumprir com certas prescrições: os tefilim [filactérios], os tzitzit [franjas], e o mezuzá [pergaminho] que consistia em escrever com as palavras do Shemá as jambas e os umbrais das casas. Atualmente o Mezuzá é um estojo que contém as duas parashás do Shemá e numa abertura se distingue a palavra Shadai [todo-poderoso] que dizem foi um composto das palavras Shomer[guardião] Delaot [portas] Israel. Além desses símbolos a serem usados na roupa, ou nas portas das casas, o judeu deve ensinar seus filhos, quer seja na casa ou no caminho fora da mesma, o significado do Shemá (ver os desenhos).
C) TERCEIRA PARASHÁ: Nm 15, 37-41. O preceito do Tzitzit é determinado com os números correspondentes às letras pelo nome [tzitzit] representados. Na recitação do Shemá, além do kipá ou solidéu, cobrem seus ombros com o talit, em forma de toalha, o manto ritual com as famosas listas azuis ou pretas paralelas aos lados mais curtos e que os fariseus ampliavam como distinção de sua piedade, segundo Mt 23, 5. Na parte superior que rodeia o pescoço tem um galão de prata ou ouro. E nos quatro cantos do retângulo pendem as borlas do Tzitzit como vemos na figura. O valor numérico da palavra TZITZIT é 600 junto com os 8 fios e 5 nós em cada canto chega a 613, o número total das mitvás [preceitos]da Torá, justo para se lembrar dos mesmos no momento da reza. Olhar para o tzitzit significa lembrar-se de toda a lei de Moisés.
Vemos nas figuras acima da esquerda para direita o Talit com os tzitzit correspondentes, os filactérios em forma de caixas com os cordões de couro para atá-los na fronte e no braço esquerdo e a mezuzá das casas.
O PAI NOSSO (1ª PARTE)
O PAI E O REINO: Disse-lhes, pois: Pai, o dos céus! Santificado seja o teu nome, venha o teu Reino (2). Et ait illis cum oratis dicite Pater sanctificetur nomen tuum adveniat regnum tuum. Voltemos à oração que Jesus ensinou. Lucas une num conjunto, que forma uma série à parte, três passagens dedicadas à oração: a fórmula do Pai Nosso, a parábola do amigo impertinente e algumas máximas sobre a eficácia da oração. Na antiguidade cristã temos três diferentes fórmulas sobre o Pai Nosso: Esta de Lucas, considerada a mais antiga pela brevidade; a de Mateus 6, 9-13 com três explicações de tipo catequético, e a da Dídaque que é igual a de Mateus mas com uma doxologia no final. PAI: Como início da oração temos um vocativo: Pai. A Ele nos dirigimos como filhos. É uma invocação que não só atrai a atenção divina como próxima de nossas vidas, mas também nos coloca em disposição de aceitar suas ordens e cumprir sua vontade. Esperamos seu carinho e sua bondade e oferecemos nossa debilidade e nossa confiança. Mateus acrescenta: Nosso, o dos céus (9, 6). Na concepção tripartida do mundo, os céus eram do domínio absoluto de Deus, onde nada nem ninguém impedia a realização de seus planos. No AT também Javé era considerado como Pai, pois se fala de que o povo de Israel era filho de Deus e até seu primogênito (Êx 4, 22), como também o rei (2 Sm 7, 14). É pai como criador (Dt 32, 6), como ofendido pelo pecado de Israel (Jr 3, 4), como fonte de misericórdia e perdão (Sl 103, 13). Mas o emprego deste apelativo na oração individual é raro, por não dizer fora do comum. O início das orações judaicas era o de reconhecimento da Majestade e Transcendência de Deus. Os títulos de Rei, Senhor, são os mais usados. Um exemplo é o de Ester: Ó meu Senhor, nosso Rei, tu és Único (4,17) Na oração do Kadish [oração falsamente atribuída aos velórios], lemos: Seja louvado e santificado o nome do Senhor, no mundo criado por Ele segundo sua vontade. Faça reinar seu reino na vossa vida e na vida de toda a estirpe de Israel agora e sempre Amém. Na oração Shemoné esré [das dezoito bênçãos], recitamos: Bendito sejas, Eterno [Jahweh], Deus nosso e de nossos pais , Deus grande, esforçado e terrível, Deus altíssimo. Bendito sejas, Eterno, Rei que ajuda, liberta e defende, defensor de Abraão. Como vemos pelos exemplos, os atributos que se invocam de Deus são o seu poder e senhorio e as suas ligações com o povo de sua escolha como defensor do mesmo contra seus inimigos. Nestas orações encontramos muito de retórica, exclusivismos e desejos de vingança contra inimigos, longe da simplicidade do Pai a quem nos dirigimos todos como filhos sem distinção. Como nota curiosa podemos trazer as citações em que o Pai Nosso era considerado por Tertuliano breviarium Totius Evangelii [resumo de todo o evangelho] e por S. Cipriano coelestis doctrinae compendium [compêndio da doutrina celeste]. Por isso, na Igreja antiga, era transmitido solenemente ao batizando antes do batismo, submetido à disciplina do arcano [das verdades que não podiam ser reveladas aos não-cristãos]. Revelar que Deus era Pai dos novos batizados, os gerados de novo no Batismo, o Abbá, do qual é a tradução literal grega Pater, era, segundo Paulo, a base do sentimento cristão. O termo ABBÁ [no original], recebido pelo espírito de adoção pelo qual clamamos: O Pai (Rm 8, 15). Da mesma forma, com as mesmas palavras temos Gl 4,15 em que o ABBÁ é traduzido por O PAI. O que significa ABBÁ? Contrariando J. Jeremias, que diz significava papai, os modernos dizem que o Abbá era utilizado como tratamento dado por pequenos e adolescentes ao seu pai e também como tratamento a pessoas maiores (Mt 23, 9). No nosso caso, é uma nova relação íntima com o ser, que os judeus não ousavam de chamar pelo seu nome e até nem o escreviam, e que na língua vernácula representam pela grafia H’ de Yahveh [Hevha’] [ler de esquerda direita], ou HÁ SHEM [o nome]. SANTIFICADO SEJA TEU NOME: Tanto Mateus como Lucas têm a mesma súplica. É uma exclamação ou uma prece? Judeus e árabes, imediatamente após o nome de Deus, exclamam: Seja ele bendito. Será também um louvor do orante e não, como temos aprendido, uma súplica para que Deus mostre sua presença transcendente? De fato o Kadish [traduzido por santificação] inicia-se com Seja seu nome exaltado e santificado. Evidentemente é um desejo este do Kadish ou uma exclamação como quando os árabes após o nome de Alá exclamam, Bendito seja para sempre! De modo que esta que comentamos é uma exclamação e não uma petição de que Deus mostre a transcendência de seu nome, que, por outra parte, não é mais Jahweh [ou Hashem traduzido por Eterno] mas Pai? A tradição vê, nesta que temos chamado de invocação exclamatória, uma petição que, por estar na passiva, parece ser súplica de que Deus atue de forma a demonstrar sua grandeza e realeza, como Daniel pede que sejam vistos seu poder e sabedoria de eternidade em eternidade (2, 20). No Kadish, recitado ao fim da homilia na sinagoga, junto com O Nome justapunha-se a petição de que fosse exaltado, engrandecido e santificado, e que fizesse dominar sua realeza em nossas vidas e em nossos dias. Sem dúvida, que temos duas ações simultâneas: a divina, como absoluto domínio e a humana, como submetimento à vontade dos planos de Deus. Por isso na Shemoné lemos: Tu és santo [o agathos grego] e santo é teu nome e os santos te louvarão sempre e cada dia. Bendito sejas, Eterno, Deus santo! E na oração do Kadish temos esta bênção: Seja bendito e santificado o nome do Senhor no mundo, por Ele criado segundo sua vontade. (…) Seja bendito, louvado, honrado, engrandecido e glorificado o nome do Santo. Seja ele bendito sobre toda bênção e todo canto, sobre todo louvor e toda consolação que se pronunciam neste mundo. Amém. O REINO: Tanto no Kadish como na Shemoné Esré temos alusões claras ao reino. Vamos citá-las. Kadish: No mundo que Ele criou segundo a sua vontade, seja estabelecido seu reino na vossa vida e nos vossos dias e na vida de toda a estirpe de Israel agora e sempre. Amém. E na Shemoné : Bendito sejas Eterno, Rei que ajuda, liberta e defende, defensor de Abraão (…) Faze que voltemos à Torá e aproxima-nos a teu serviço, Rei nosso, e faze que voltemos o rosto para a frente com íntegro arrependimento. Como podemos ver, o reino era uma aspiração constante nas orações do tempo entre os judeus. O simples adveniat regnum tuum [venha o teu reino] de Lucas é explicado por Mateus de forma breve, mas magistral: que tua vontade se cumpra na terra do modo que ela é acatada no céu. A universalidade do Reino é oposta à estrita e reduzida ideologia das orações judaicas em que o reino está fundado no triunfo político de Israel.
O PAI NOSSO (2ª PARTE)
O PÃO: O pão nosso, o necessário, dá-nos cada dia (3). Panem nostrum cotidianum da nobis cotidie O PÃO: As petições em Lucas e Mateus sobre o pão coincidem com as mesmas palavras; só que Lucas usa o verbo em presente [dá contínuo] e Mateus em aoristo [dá aqui e agora]. A palavra que tem dado a diversas interpretações é epiousios <1967>. A opinião mais provável é que seu significado é seguinte como corresponde adjetivamente ao emera [dia] epiousia [seguinte]. Assim em At 7,26: No dia seguinte, apareceu Moisés [të te epiouse ëmera öfthe; sequenti vero die latino]]. Também a noite é seguida por epiousia At 23, 11: [Të de epiousë nyhti. Sequénti autem nocte latino]. A tradução, pois, do texto seria: o pão nosso o de amanhã, dá-nos a cada dia. Esta tradução é confirmada pela versão antiga do evangelho dos nazarenos ou dos hebreus que usa a palavra MAHAR [prontamente] para traduzir: dá-nos [continua a dar-nos] hoje o pão do amanhã, ou seja, o pão que nos darás no teu reino. Com o presente imperativo de Lucas poderíamos traduzir: Continua a dar-nos (como sempre) o pão, o de amanhã, que vamos necessitar a cada dia. Uma outra tradução seria dar a epiousios o significado de necessário em que ousia não significa substância, mas existência e, portanto, epiousios significaria vital. A tradução seria: dá-nos o pão necessário a cada dia. Esta é a tradução preferida hoje em dia. A tradução incorreta de Mateus 6,11 do epiousios, como supersubstantialis [supersubstancial], pela Vulgata, dando origem a de que se pedia o pão eucarístico, está hoje descartada, já que a mesma Vulgata traduz a mesma palavra epiousios em Lucas por cotidianus [de cada dia], como temos visto no versículo que comentamos. É a tradução literal de Green: Give us our needed bread. Como nota curiosa damos as traduções da versão King James: Give us this day our daily bread (Mt 6, 11) e Give us day by day our daily bread (Lc 11, 3).
O PERDÃO: E remite-nos os nossos pecados, já que também nós remitimos todo devedor nosso; e não nos leves dentro (da) tentação, [mas livra-nos do maligno] (4). Et dimitte nobis peccata nostra siquidem et ipsi dimittimus omni debenti nobis et ne nos inducas in temptationem. OS PECADOS: Lucas fala de amartia [pecado]/ofeilontes [os que estão devendo]; a tradução de amartia por pecado acontece uma única vez das 148 vezes que ela é traduzida como ofensa, enquanto Mateus usa ofeilema [dívida] [chobim] debita latino / ofeiletas [devedores, como substantivo]. Já Lucas identifica dívidas com pecado quando o devedor é o homem e o sujeito da dívida, o próprio Deus. O tema do perdão também é típico do judaísmo da época. Rei nosso faz que voltemos o rosto para a frente com íntegro arrependimento (Shemoné ). Perdoa ao teu próximo a injustiça, e então ao rezares ser-te-ão perdoados os teus pecados (Eclo 28,2). Mas não atinge os inimigos, nem os não pertencentes a povos diferentes de Israel. Pelo contrário, o perdão é básico na literatura cristã (Lc 6, 37). Perdão de Deus para nós, e perdão dos inimigos por parte dos homens que desejam se comportar como o Pai, segundo afirma Mateus no versículo seguinte (6, 14-15). Em Mt 5, 23 s Jesus fala sobre a importância de se reconciliar antes de oferecer o sacrifício ou de levar o contencioso ao juiz. E como norma de vida não devemos condenar para não sermos condenados (Mt 7,1). O cristão se compromete a atuar como o Pai e propõe sua conduta como filho para que o Pai atue realmente como tal Pai. Sem dúvida que esta proposição não é muito bem aceita pelos que só propõem a fé como base da salvação. Aqui temos uma proposta baseada nos méritos, nas obras boas do homem, e não na fé confidencial. Jesus não afirma que não seremos perdoados se não perdoamos, mas oferece uma boa razão para Deus cumprir suas promessas: perdoar aqueles que demonstram misericórdia com o próximo. Além do texto anterior do Eclesiástico temos: Pela misericórdia e pela verdade se expia a culpa (Pr 16, 2). Ou mais claramente como afirma Tiago o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo (2, 13). A TENTAÇÃO: Lucas e Mateus usam a dupla eisfero/peirasmós [levar/prova]. Tudo depende de que classe de prova ou tentação é a referida no versículo. Peirasmós significa também tribulação e sofrimento. A causa da diversa interpretação deste parágrafo é o verbo com o qual se determina a ação divina: eisferö, significa introduzir, transportar, arrastar. Como Deus pode ser causa de uma tentação em que o homem não tem força para superá-la? Os termos em que está formulada a petição são os mesmos em que Jesus pede aos discípulos que orem para não entrar em tentação (Lc 22, 40.46). Qual era a tentação a que estavam os discípulos propensos a cair nesse momento? Sem dúvida a de desertar de seu seguimento, ou por covardia, ou pelas dúvidas que a paixão de Jesus suscitaria neles ( Lc 24, 21). Deus no AT é visto como tentando o seu povo (Êx 16, 4 e 20, 20 entre outros). Ou seja, pondo o povo à prova. Ainda não existia a diferença entre vontade absoluta e vontade permissiva divina. Em Rm 9, 18 Deus endurece o coração de quem quer. Por isso suscitou e endureceu o coração do faraó para mostrar nele o seu poder, e assim seu Nome pudesse ser celebrado em toda a terra (Rm 9, 17). Foram as disputas teológicas sobre a predestinação que fizeram a distinção entre absoluto e permissivas. Deus não quer o mal em absoluto, mas o permite porque de sua permissão resulta maior benefício para as criaturas e maior glória para sua divina Providência. Já o apóstolo Tiago afirma claramente: Quando alguém está tentado não diga que é Deus quem o tenta, porque Ele não tenta ninguém (Tg 1, 13). Temos o caso de Jesus no deserto. Ele foi levado pelo Espírito para ser tentado pelo diabo (Mt 4,1). E as tentações de Jesus eram sobre a sua missão salvífica para desviá-lo da mesma, e assim se render às sugestões do maligno. Por isso muitos afirmam que a tentação da qual os discípulos pedem para serem liberados seria a da apostasia em relação a Jesus. O MALIGNO: apo tou ponëros <4190> que a vulgata traduz por a malo. Evidentemente o ponerós não é um adjetivo, mas um nome e pode ser traduzido por maligno ou mal. Se optamos por maligno o personagem seria o diabo. Se optamos pelo mal pode ser até o sofrimento ou a enfermidade. O texto grego inclina-se pelo maligno ou malvado. O Malum latino, pelo contrário, significa mal físico ou moral, com um segundo sentido com significado de o maligno. Em Lucas, o ponerós é quase sempre adjetivo significando mau ou perverso, sendo o adjetivo que acompanha os espíritos malignos expulsos por Jesus. Maligno e inimigo é o que semeia o joio pois os filhos do maligno são o joio (Mt 13, 25+).O Maligno é o Diabo, que trabalha, arrebatando a semente do coração, para que os ouvintes não creiam e se salvem (Lc 11, 12). Precisamente esta é provavelmente a natureza do pedido desta última parte do Pai Nosso. Como final, devemos dizer que esta parte B do versículo falta na maioria dos códices e por isso o encerramos entre colchetes. É uma transposição do texto paralelo de Mateus 6, 13. Tudo indica que o Pai Nosso de Mateus era a oração comum das comunidades eclesiais e por isso o versículo foi acrescentado em diversos códices mais modernos.
SEGUNDA PARTE: PARÁBOLAS
A) DO AMIGO
O AMIGO: E disse-lhes: Quem dentre vós terá um amigo e vier a ele à meia-noite e lhe disser: amigo, presta-me três pães (5), já que agora um meu amigo veio de caminho a mim e não tenho o que oferecêr-lhe (6). Et ait ad illos quis vestrum habebit amicum et ibit ad illum media nocte et dicit illi amice commoda mihi tres panes quoniam amicus meus venit de via ad me et non habeo quod ponam ante illum. Lucas prossegue este discurso sobre a oração, da qual ele tanto gosta, com outras duas narrações típicas dele: A parábola do amigo inoportuno e uma série de conselhos sobre como é respondida a oração pelo melhor dos pais. A parábola é melhor compreendida quando estudamos os costumes da época na Palestina. O pão era a comida praticamente única dos menos ricos. Três pães respondiam à comida de um dia. O pão era cozido de manhã cedo, após a dona-de-casa moer o trigo com um moinho de mão. Logo a farinha assim obtida, era misturada com água e em forma de grandes hóstias, como é o pão sírio atual, e era colocado sobre uma prancha quente até ser assado. O amigo chega de noite. Na realidade, as viagens, devido ao calor do dia, muitas vezes eram realizadas à noite, daí que fossem essas horas as da chegada do vizinho.
A RESPOSTA: E aquele, de dentro, tendo respondido, disse: Não me tragas moléstias agora; a porta está fechada e os filhos estão comigo no leito; não posso, levantando-me, te dar (7). Et ille de intus respondens dicat noli mihi molestus esse iam ostium clausum est et pueri mei mecum sunt in cubili non possum surgere et dare tibi. As casas humildes tinham unicamente uma habitação, separando nela por um cortinado o himeneu [lugar dos esposos] que ficava no fundo da habitação em que dormiam os outros membros da família; e durante a noite todos dormiam sobre esteiras, de modo que para passar do fundo até a porta deviam se levantar todos os membros da família. Compreende-se a resposta do dono da casa: a porta esta trancada e meus filhos estão deitados.
CONCLUSÃO: Digo-vos: Se por acaso não dará a ele, levantando-se por ser ele um amigo, porém pela “cara-de-pau” dele, levantando-se dará a ele o quanto necessita(8). Porque todo o que pede recebe e o que busca encontra e a quem bate se abrirá (9). Dico vobis et si non dabit illi surgens eo quod amicus eius sit propter improbitatem tamen eius surget et dabit illi quotquot habet necessarios. Omnis enim qui petit accipit et qui quaerit invenit et pulsanti aperietur. A palavra chave é anaideia <335>[anaideia] que o latim traduz por falta de vergonha ou como diz Green pela sua desavergonhada insistência, que hoje chamaríamos melhor de inoportuna. Diante, pois, da insistência do inoportuno amigo, Jesus se atreve a concluir que certamente conseguirá os pães, mesmo que seja pela insistência se não for suficiente a amizade. E Jesus termina talvez com o que era provérbio na época que recalca a insistência na oração até de um ponto de vista meramente humano: Pedi e vos será dado. Buscai e encontrareis. Batei e abrir-se-vos-á (9). Mateus traz em lugar paralelo as mesmas palavras que parecem formar parte de um poema ou um aforismo: Pedi e vos será dado. Buscai e encontrareis. Batei e vos será aberto (Mt 7, 7). E ambos terminam com as mesmas palavras: Todo aquele que pede, recebe. E o que busca, encontra e ao que bate, abre-se. Não existe melhor trilogia para indicar que grande parte de nossas conquistas em todos os âmbitos têm como fundamento a oração e a constância.
B) DO PAI
O PÃO E O PEIXE: Pois a quem de vós, pai, pedirá pão o filho, jamais lhe dará uma pedra. E se um peixe, nunca dará no lugar do peixe uma serpente(11). Ou se lhe pedisse um ovo, jamais dará a ele um escorpião(12). Quis autem ex vobis patrem petet panem numquid lapidem dabit illi aut piscem numquid pro pisce serpentem dabit illi. Aut si petierit ovum numquid porriget illi scorpionem. Jesus, à parte essa conclusão que mais parece uma coleção de ditos populares anima seus discípulos a fundar sua vida na oração como base de confiança num Deus que é, desde a primeira invocação, apelidado de Pai. E compara esta paternidade divina com a humana: se um pai humano trata da melhor maneira possível seus filhos em necessidade, como o Pai verdadeiro deverá falhar com os que o invocam com tal título e nele depositam sua confiança e deixam em suas mãos suas esperanças? As antíteses são também clássicas ou populares como o demonstra o lugar paralelo de Mateus. Em Lucas, temos as antíteses pão/pedra, peixe/serpente e ovo/escorpião (ver 11-12). E Mateus de pão/pedra, peixe/serpente (7,9-10). O peixe e a serpente d’água têm certa afinidade, especialmente se se trata de moreias, na época comida esquisita entre os romanos. O escorpião, quando se enrola parece uma espécie de ovo. E a pedra pode ter forma de pão. Mais importante do que a semelhança entre os termos é a qualidade dos produtos enumerados. O primeiro termo é bom; o segundo é um veneno ou um mal. A serpente e o escorpião eram modelos do mal ou do maligno. (ver comentário em Presbíteros.com.br, exegese, do Domingo XIV sobre poderes dos enviados).
CONCLUSÃO FINAL
ESPÍRITO SANTO: Se, pois, vós sendo malvados sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais o Pai, o do céu, dará Espírito Divino aos que o pedem(13). Si ergo vos cum sitis mali nostis bona data dare filiis vestris quanto magis Pater vester de caelo dabit spiritum bonum petentibus se. No lugar do espírito divino de Lucas, Mateus fala de dar coisas boas (7, 11). A Vulgata traduz spiritum bonum [espírito de bem]. Falta o artigo O diante do espírito, de modo que a versão da Vulgata é correta. Para Lucas, esse espírito era a paz com todas as qualidades e atributos que semelhante expressão abrangia. Que devemos dizer? Tertuliano tinha toda a razão quando afirmava ser o Pai Nosso o resumo de todo o evangelho: A oração de Jesus nos coloca frente à frente a um Pai, que é a revelação que Jesus veio anunciar e propagar a todos os homens. Viver a filiação era viver a oração do Pai Nosso e era viver a essência do Evangelho, na intimidade com a divindade, e na fraternidade com a humanidade. Por isso podemos afirmar que a frase do grande apologista africano é verdadeira e exata.
PISTAS:
1) A oração deve ser a forma usual de vida com Deus. É como uma conversa com um ser superior que Teresa chamava de Majestade; mas viver a familiaridade com Deus na intimidade do sentimento e do coração. Como temos visto nas múltiplas orações dos judeus, a adoração e a ação-de-graças devem ter prioridade. Sem elas é impossível se dirigir a Deus, pois com Ele nos enfrentaríamos como um igual a um igual, com a soberba de quem exige, não com a humildade de quem pede. O Pai Nosso é precisamente essa oração em que a santidade de Deus e sua vontade precedem às nossas necessidades.
2) As últimas preces se dirigem a quem como Pai pode remediar nossas deficiências: as vitais do corpo de cada dia, as espirituais necessárias do perdão, e a libertação de toda ação do maligno. Que este não tenha sobre nós o poder de uma tentação impossível de superar. Jesus pediu a seus discípulos essa oração na hora da escolha dolorosa da paixão. Sem essa súplica, o verdadeiro Espírito Divino não nos seria dado e facilmente seríamos arrastados pela tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26, 41).
3) Com as duas parábolas Jesus mostra que a oração deve ser até importuna mas constante e ao mesmo tempo confiante, pois a quem pedimos não é um estranho ou um inimigo, mas um Pai e um Pai boníssimo. E faz uma comparação analógica entre os pais terrenos e o Pai do céu, dando a este a preferência em bondade e amor.
4) Segundo Lucas, o objetivo principal da oração é a recepção de um espírito que provenha da parte de Deus porque o nosso espírito é de tendência ao mal, sendo como somos perversos e o espírito do maligno nos pode atingir com a tentação. Ver as coisas no seu verdadeiro valor é ter o Espírito Divino que rege suas atuações e deve guiar nossos passos. Sentir-nos como filhos e ver nos outros os verdadeiros irmãos é viver esse espírito que podemos chamar de espírito que vive a Paternidade em Deus e a filiação nos homens.
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em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE
A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores
se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!
Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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