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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com
. Evangelho de 05/09/2010 - XXIII Domingo do Tempo Comum
. Evangelho de 22/08/2010 - XXI Domingo do Tempo Comum


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

05.09.2010
XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

__ “OPÇÃO DE FÉ, OPÇÃO RADICAL” __

Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! O ato de fé em Jesus se realiza e se torna concreto abranmgendo a realidade do homem em todas as suas dimensões, tanto as do corpo como as sociais e históricas. A adesão à sua pessoa, que se vive na niova comunidade, tem exigências radicais e comporta rupturas e o sacrifício de certas realidades e certos valores. A renúncia que se faz a certas realidades e a certos valores ou é um ato de desespero e demissão ante o sentido da existência, ou a abertura da ordem terrena à realidade de Deus que vem do alto como graça. Entoemos cânticos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Sb 9,13-18): - "Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus?"

SALMO RESPONSORIAL (89/90): - "Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós."

SEGUNDA LEITURA (Fm 9-10.12-17): - "Eu, Paulo, velho como estou e agora também prisioneiro de Cristo Jesus..."

EVANGELHO (Lc 14,25-33): - "Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo."



Homilia do Diácono José da Cruz –XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

A Opção fundamental

Quem durante a infância ou adolescência, não brincou em uma casa inacabada? Na minha rua tinha uma que nos abrigava após as malandragens, só tinha uma parte do telhado e buracos disformes em lugar das portas e janelas. Invadida pelo matagal tornara-se um depósito de lixo, virando ainda esconderijo de casais mal intencionados e de bandidos de outras plagas que ali pernoitavam. É para isso que serve uma casa inacabada, para ser usada para o mal. Poderia ser uma bela casa e abrigar uma família de bem, mas acabou ficando daquele jeito, escura, triste, feia e abandonada, e tudo por falta de planejamento do seu construtor, que não teve o bom senso e a prudência de sentar-se para elaborar o orçamento, planejando o início e o término da obra, que desta forma tornou-se um testemunho vergonhoso contra ele.

Na outra parábola desse evangelho, Jesus é ainda mais claro, qual o rei que antes de sair para o combate, primeiro não se senta para avaliar se valerá a pena marchar contra o inimigo que vem com um exército numericamente superior, e depois envia mensageiros para negociar a paz? Em qualquer empreendimento humano é necessário um planejamento para atingirmos a meta. Em nossos trabalhos pastorais e, sobretudo na missão fundamental de evangelizar, pecamos muito por falta de planejamento, esse também é o pecado de algumas pastorais e movimentos, pois nem sempre nossos planos pastorais são levados a sério e daí, é claro que os resultados nem sempre serão os esperados.

Em resumo o evangelho quer nos ensinar que antes de tomar uma decisão importante, é preciso pensar e refletir, porque depois da decisão tomada, haverá conseqüências às quais temos que assumir. Um exemplo claro disso é o casamento, onde muitos casais recebem o sacramento, mas não têm consciência sobre o que estão assumindo e daí não perseveram na vida a dois e o casamento se transforma em uma casa velha, inacabada, que só trará desgosto e aborrecimento.

Pode assim entender por que as palavras de Jesus parecem ser tão duras e exigentes neste evangelho! No meio da multidão dos seus seguidores, e também nas comunidades de Lucas, havia muitas pessoas que ainda não tinham entendido o que é ser cristão, pois Jesus e seu evangelho não são apenas uma opção a mais, mas é a única e verdadeira opção para quem quer ser discípulo.

Ser cristão não é poder escolher em uma vitrine, algumas virtudes, ideologias ou tendências que mais nos agradem. Infelizmente há muitos que agem desta forma e acabam fragmentando o evangelho e os ensinamentos cristãos, idealizando a imagem de um Jesus Cristo mais "Light", esquecendo-se que Cristo não é apenas a parede da casa, mas o alicerce sobre o qual construímos a nossa existência e tudo se fundamenta nele: nossa relação com os outros, tudo o que somos e temos, absolutamente nada deve ficar fora do ideal cristão! É isso que Jesus quer dizer com a palavra desapego e renúncia, que não significa abrir mão de tudo que se tem, mas sim colocar o reino de Deus acima de todas essas coisas, até mesmo das relações afetivas com os familiares, simplesmente porque tudo o que temos e somos nesta vida é transitório e efêmero diante do Reino.

Há cristãos que planejam mal a sua vida de fé, muitas vezes almejam a glória da ressurreição tentando cortar por atalhos o caminho do calvário, esquivando-se da cruz que nos pertence, mas que o Senhor carregou por todos nós. Este é na verdade o grande perigo desse cristianismo da modernidade, ser discípulo de um Cristo sem cruz, onde não  precise fazer renúncias e nem desapegos, onde não seja necessário tomar decisão radical a favor do evangelho e nem  ser tão exigente conosco, no campo da ética e da moral.

As renúncias devem estar presentes em nosso dia a dia, como conseqüência natural de quem fez uma opção fundamental por Jesus, trata-se de uma escolha que se iniciou no dia do nosso batismo, quando pais e padrinhos falando em nosso nome, confiantes no efeito da graça de Deus em nossa vida, prometem solenemente naquele dia RENUNCIAR todas as forças do mal, contrárias ao reino que Jesus inaugurou.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

“Discípulo”

No Evangelho de hoje, a palavra “discípulo” aparece três vezes (Cfr. Lc 14,26.27.33); em todas elas o discípulo aparece como alguém que deve renunciar algo ou alguém. Não será uma visão um pouco negativa? Para compreender melhor a nossa vocação de discípulos do Senhor vale a pena fazer um pequeno passeio pelo Novo Testamento.

Um primeiro fato que chama a atenção é que não são os discípulos quem escolhem o seu mestre, mas é Jesus quem escolhe os seus discípulos e lhes dá uma missão concreta: “Vinde após mim e vos farei pescadores de homens” (Mt 4,19). A primeira coisa que há de notar-se, portanto, na vida do discípulo é que é uma pessoa chamada por Jesus para cumprir uma missão. Dentro desse contexto é que podemos entender as renúncias que Jesus pede aos seus discípulos.

Uma segunda característica do discípulo de Jesus encontra-se no contexto das bem-aventuranças, cuja clave de interpretação é o mandato de Cristo para que sejamos santos: “perfeitos como vosso Pai celeste” (Mt 5,48). Outra maneira de expressar a santidade querida por Jesus é a descrição que S. Marcos faz da escolha dos Doze: “designou doze dentre eles para ficar em sua companhia” (Mc 3,14). Santidade é estar na companhia de Jesus, junto a ele e compartir a sua mesma vida. A renúncia, portanto, é para que possamos viver essa vida nova à imitação do Divino Mestre.

Noutro momento, quando Jesus dava instruções aos seus discípulos e, mais em concreto, aos seus apóstolos, lhes diz: “o discípulo não é superior ao mestre; mas todo discípulo perfeito será como o seu mestre” (Lc 6,40). Ou seja, o seguidor de Cristo permanece sempre como discípulo, nunca será mestre, mas a sua imitação do Mestre pode ser perfeita.

O discípulo mantem sempre o desejo de aprender. Conta-se que uma criança ao voltar da escola um pouco desanimada, foi perguntada pelos pais: “E aí, foi bem de aula?”. E o menino respondeu: “Não. Vou ter que voltar amanhã”. Não se pode pretender aprender tudo num só dia nem cansar-se de voltar à escola do Mestre. Uma experiência que todo cristão tem quando passam os anos no seguimento de Cristo é a seguinte: a leitura do Evangelho, das mesmas passagens, recebe sempre distintos coloridos na mente e no coração do que o lê, sempre se descobre coisas novas ou, ao menos, o antigo já sabido se renova, ganhando assim todo o frescor da novidade de redescobrir algo já conhecido e, no entanto, com alguma luz nova.

S. Irineu dizia que o homem vai ser discípulo sempre, também na eternidade: nós sempre aprenderemos! E um autor moderno escrevia que a nossa viagem de peregrinação por esse mundo não termina numa cima definitiva, mas na descoberta maravilhosa de que as terras descobertas e conquistadas são tão somente promessas do que há, todavia terras mais belas por descobrir.

Recordemos essas palavras do Documento de Aparecida (nº 103): “Como discípulos de Jesus reconhecemos que Ele é o primeiro e maior evangelizador enviado por Deus (cf. Lc 4,44) e, ao mesmo tempo, o Evangelho de Deus (cf. Rm 1,3). Cremos e anunciamos “a boa nova de Jesus, Messias, Filho de Deus” (Mc 1,1). Como filhos obedientes á voz do Pai queremos escutar a Jesus (cf. Lc 9,35) porque Ele é o único Mestre (cf. Mt 23,8). Como seus discípulos sabemos que suas palavras são Espírito e Vida (cf. Jo 6,63.68). Com a alegria da fé somos missionários para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo e, n’Ele, a boa nova da dignidade humana, da vida, da família, do trabalho, da ciência e da solidariedade com a criação”. Os passos estão claros: reconhecer Jesus; crer de verdade na boa-nova que ele nos trouxe, ou seja, ele mesmo; escutá-lo e proclamar aos homens e mulheres da nossa época a vida, a alegria e a paz que só se encontra nele; fazer com que a nossa fé vá acompanhada das boas obras. Essa visão das coisas dista muito de ser negativa, ao contrário, a fé nos faz profundamente otimistas porque ela mesma leva em si o dinamismo do sim de Deus aos discípulos de Cristo.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (Fm 9b-10.12-17)

INTRODUÇÃO: É a carta mais curta de Paulo, só com 25 versículos, escrita por motivo de um envio a seu amo de nome Filêmon [=aquele que beija] de um escravo fugitivo de nome Onésimo [=aproveitável] que Paulo encontrou em Roma durante sua primeira prisão e pelo qual uma vez tornado cristão e arrependido, devolve por meio de Tíquico [=fiel] portador também da carta aos de Colossas onde morava Filêmon. Era este um cristão importante, convertido por Paulo durante sua pregação em Éfeso (v. 9), pois Paulo nunca esteve Colossas (v. 1 e 7). Sua casa era lugar de reunião dos fiéis (v. 2). Provavelmente, Ápia e Arquipo, mencionados na carta eram esposa e filho respectivamente de Filêmon. Paulo roga a Filêmon  que perdoe o seu escravo e para isso alude motivos de caridade e como pagamento da justiça Paulo se compromete a pagar os prejuízos causados pela conduta de Onésimo. Promete visitar Colossas uma vez livre de sua prisão romana. É importante o trecho em que Paulo diz escrever, ele mesmo, com sua própria mão (v.19).

APELO: Por causa do amor maior, suplico, como sendo o tal Paulo, ancião agora, e, pois,  prisioneiro de Jesus Cristo (9). Propter caritatem magis obsecro cum sis talis ut Paulus senex nunc autem et vinctus Iesu Christi. SUPLICO [parakalö<3870>=obsecro] convocar, citar, pedir, suplicar, apelar, confortar e consolar. Temos consolar em Mt 5,3: Bemaventurados os que choram porque serão consolados. E suplicar em Mt 8, 5: Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um centurião implorando. É evidente que aqui Paulo suplica apelando ao amor [agapë]. Ele afirma que é o Paulo conhecido que agora  está já um pouco velho e na prisão, por causa de sua atuação como ministro de Cristo. E usa estes três motivos para pedir a Filêmon o perdão do escravo fugitivo. Por vir o pedido de Paulo, o amigo de outrora em Éfeso, por chegar de um ancião que era especialmente respeitado nos velhos tempos  e finalmente, por estar encadeado por Cristo, ou ser um confessor, motivo que nos antigos cristãos representava o perdão de penas que mais tarde foi  a origem das indulgências.

O FILHO ONÉSIMO: Imploro-te por meu filho Onésimo, o qual gerei em minhas correntes (10). obsecro te de meo filio quem genui in vinculis Onesimo. Paulo suplica em favor de Onésimo a quem chama filho, pois o engendrou ou gerou por meio do batismo durante a sua prisão. É possível que também Onésimo, como escravo fugitivo, estivesse na mesma prisão que Paulo e foi aí onde o escravo se converteu e foi batizado. De todos os modos, Paulo tem com o escravo um vínculo cristão que a Igreja reconhece como de pai com filho e que inibe até o matrimônio. É, pois em nome de um pai que Paulo implora por um filho querido, gerado em termos de aflição, como dores de parto; ou seja, entre os sofrimentos das correntes de uma prisão. É, pois um apelo dramático que Paulo inteligentemente usa como meio para que o perdão  não seja só da culpa, mas da pena de seu protegido.

RECEBE-O: O qual enviei de volta. Tu, porém, a ele,  isto é, minhas entranhas, recebe (12). Quem remisi tu autem illum id est mea viscera suscipe. É sumamente interessante ver como a tradução literal do grego coincide com a latina da Vulgata, não só pelas palavras escolhidas [léxico], mas também pela ordem das palavras [construção da frase]. Neste versículo, somos testemunhas da delicadeza e ternura de Paulo que chama a Onésimo de minhas entranhas, o que não parece tão incomum, uma vez que chama os gálatas de filhos meus [tekna mou=filioli mei], como mulher que esteve de parto  para formar Cristo neles (Gl 4, 19). Paulo envia de volta o escravo, que não deve ser recebido como tal escravo, mas como um filho nascido de suas entranhas, das de Paulo.

MEU DIÁKONO: O qual eu desejaria conservar perto de mim para que, no teu lugar, me servisse nas cadeias do evangelho (13). Quem ego volueram mecum detinere ut pro te mihi ministraret in vinculis evangelii. Se fosse por seu desejo e por suas necessidades, o escravo estaria a seu serviço ou diakonia como concedido pelo próprio Filêmon, o dono do escravo a ele emprestado. Pois as necesidades da idade e das correntes da prisão assim o tornariam necessário.

AGE VOLUNTARIAMENTE: Porém fora de teu conhecimento nada quis fazer, para que nada como necessidade, [fosse causa] do bem de tua parte, mas pelo contrário como voluntário (14). Sine consilio autem tuo nihil volui facere uti ne velut ex necessitate bonum tuum esset sed voluntarium. Porém, Paulo nada quis fazer sem que Onésimo soubesse de sua atuação. A vontade de Onésimo era a que deveria ser tomada como última decisão, de modo tão livre que a necessidade de Paulo não fosse parte na decisão final. Onésimo devia neste ponto dar a última palavra de modo completamente livre, sem pensar que o escravo era útil para Paulo. No versículo 11, que é descartado na epístola, Paulo joga com a palavra útil [euchrëston] e inútil [achrëston] e o nome do escravo Onésimo [útil]. Paulo fala de que agora o escravo é útil [onësimos] para ele, mas que outrora foi inútil [achrëston] para Onésimo, cujo significado é precisamente útil ou valioso. Um escravo que não servia para nada, era imprestável e não tinha preço, era um escravo sem valor, como vemos em Lc 17, 10: somos servos imprestáveis, sem valor, porque fizemos o que devíamos fazer. Paulo se desprende de um escravo valioso e o entrega como um sem preço a seu antigo dono.

PROVIDÊNCIA: Talvez, pois, por isso foi afastado temporariamente para que para sempre o recebas (15). Forsitan enim ideo discessit ad horam a te ut aeternum illum recipere. Paulo acrescenta uma outra razão para receber perdoando o escravo fugitivo: o afastamento foi temporário. Agora a companhia será para sempre, pois não o receberá com um escravo, mas como um irmão, pois batizado, não existe distinção entre escravos e livres (Gl 3, 28). Assim o declara no versículo seguinte.

COMO IRMÃO: Não como escravo, mas por cima de escravo como irmão amado especialmente para mim, quanto mais para ti tanto na carne como no espírito e no Senhor (16). Iam non ut servum sed plus servo carissimum fratrem maxime mihi quanto autem magis tibi et in carne et in Domino. Pense Filêmon que tudo poderia te sido um ato da Providência que afastou um escravo e entregou um irmão, irmão tanto para Paulo como para Onésimo, que pela utilidade e a companhia próxima pode ser considerado carnal, para não falar do espírito que a todos impulsava e unia no Senhor.

COMO A MIM: Se comigo tens comunhão recebe-o como a mim (17). Si ergo habes me socium suscipe illum sicut me. Entramos na conclusão final: Paulo pede a Onésimo que receba o escravo como se fosse ele mesmo. É o apelo mais profundo, pois podemos escutar, como um eco, as palavras de Jesus a seus discípulos: Quem vos recebe a mim recebe. CONCLUSÃO: Paulo não destrói o sistema injusto da escravidão, mas pelo perdão e a caridade cristã transforma um escravo num irmão e, portanto, suaviza as duras condições do injusto sistema. A carta serve para nos relembrar que todo próximo deve ser considerado como um verdadeiro irmão em Cristo. Que diante das leis injustas o amor deve suprir o que a justiça denega.

Evangelho (Lc 14,25-33)
O VALOR SUPREMO DO SEGUIMENTO DE JESUS.

INTRODUÇÃO: O tema de hoje está precedido por uma introdução em que vemos muitas ou grandes multidões acompanhando Jesus. À vista disso ele terá que determinar quais são as verdadeiras características dos que querem realmente se tornarem seus discípulos. Temos, pois, duas exigências essenciais para formar parte do seu discipulado junto com duas parábolas ou exemplos, finalizando com uma conclusão que determina toda a matéria, unificando coerentemente a lógica dos argumentos precedentes.

1A EXIGÊNCIA: Acompanhavam-no, porém, grandes multidões e voltando-se lhes disse (25). ibant autem turbae multae cum eo et conversus dixit ad illos. Se alguém vem após mim e não odeia o seu pai e a mãe e a mulher e os filhos e os irmãos e as irmãs e até sua vida, não pode ser meu discípulo (26). Si quis venit ad me et non odit patrem suum et matrem et uxorem et filios et fratres et sorores adhuc autem et animam suam non potest esse meus discipulus. JESUS PREFERIDO A TODOS OS PARENTES. Jesus afirma: Se alguém vem a [pros do grego] mim. É um chegar com a finalidade lógica de se tornar discípulo, que na época era mais do que um ouvinte. Discípulo [mathetës <3101>=discípulus] significava todo aquele que seguia a vida e as instruções do mestre de forma contínua. Moravam juntos e participavam das mesmas ideias e comidas. O discípulo era uma réplica do mestre. Vendo Jesus as turbas que o seguiam declara terminantemente que nem todos os que ouviam suas palavras poderiam ser considerados verdadeiros discípulos. A primeira qualidade dos mesmos é preferir Jesus a todos os parentes. Como era clássico na moral semita, Jesus nomeia um por um os casos em que ele deve ser preferido e pela ordem em que eles deveriam ser considerados ou amados segundo a lei e a tradição: Pai, mãe, esposa, filhos, irmãos e irmãs. O texto grego usa uma palavra que hoje nos parece difícil se não escandalosa: misei, [do verbo miseö<3404>=odire] odiar. Se alguém não odeia, diz o mesmo… Na realidade, é um semitismo que o evangelista traduz literalmente e que indica a antiguidade de sua fonte e a fidelidade de sua tradução, revelando um estágio primitivo que pode ser a própria palavra de Jesus [ipsisima verba] sem retoques redacionais. De fato, os orientais não tinham tantas acepções e distinções como nós, e eram mais diretos nas suas expressões. No lugar de dizer amar menos ou desprezar, usavam o verbo antípoda: odiar. Tal é o caso de Paulo em Romanos 9, 13: Esta escrito: Amei Jacó e odiei [mesmo verbo miseo] Esaú. Por isso, as diversas traduções modernas do trecho de hoje usam notas explicativas como a Bíblia de Jerusalém que traduz o odeia por desapego completo e imediato, referindo-se ao texto 9, 57-62. Ou, a exceção da italiana que, como o latim, conserva o original odeio, usam expressões equivalentes: a francesa sans se détacher; a inglesa without being ready to give up your love for; a portuguesa não dá mais preferência a Mim; a espanhola no deja, e a latino- americana nao se desprende. Devemos, pois entender que Jesus exige prioridade a respeito dos parentes, seja qualquer o grau dos mesmos, prioridade que unicamente no AT era atribuída a Deus. A melhor interpretação desta passagem a temos em Mt 10, 37: Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. O texto grego fala de fileo yper eme, corretamente traduzido ao português. Lucas, como vemos, acrescenta esposa, pois não podemos esquecer que ele escreve para gentios em que a esposa contava como parte importante da vida. Temos também uma outra diferença: a alma, introduzida com uma expressão de reforço: mais ainda, até sua alma [psyché em grego, anima em latim]. Que significa psyché <5590>? Do texto original hebraico nefesh<05315> hayah <02416> do Gênesis 2, 7. A tradução da escrita em negrita dos setenta em grego é: eis psychen zösan. A vulgata traduz in animam viventem. Deste modo temos que psyché se confunde com nefesh e zosan com vivente. Onde NEFESH=anima e ZÖSAN=vivens. NEFESH é traduzido por anima [=alma] na maioria das vezes no Antigo Testamento. Nada menos que 475 vezes. Depois por vida 117 vezes; e com outros significados menos frequentemente, como pessoa, criatura, ser, ser vivo, etc. Psyché [<5590>=anima] tem como tradução mais essencial a de alma ou o alento vital e daí vida [58 vezes], a vida em si mesma [40 vezes] e outros num total de 105 vezes no NT. Ao traduzir o nefesh pode muito bem significar o ser, a vida, como vemos nos textos modernos. A Bíblia de Jerusalém traduz insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser [nefesh] vivente. E no nosso caso, o latim usa anima e os textos vernáculos vida (Esp e Port) vita (It) e life (Ingl). A melhor opção pelo contexto é, pois, vida. Mas Jesus exigia, abandonar não unicamente os planos pecaminosos do pecado, mas também os projetos bons e lucrativos da vida em particular. Tudo estará subordinado a Ele, como estavam no  AT as coisas e os seres dependentes de Javé-Deus. Lucas, em lugar paralelo, exige a negação a si mesmo: não tanto negação ao pecado como aos projetos e planos próprios, legítimos desde a liberdade do ser humano. Todo amor -escreve um autor – é portador de eternidade; mas nenhum amor é autêntico se prefere aquilo que se goza no tempo ao que é único e eterno.

2A EXIGÊNCIA: A CRUZ. E quem não carrega a sua cruz e vem após mim não pode ser meu discípulo (27). Et qui non baiulat crucem suam et venit post me non potest esse meus discipulus. Não pede ser morto na cruz, mas bastazein, traduzido ao latim por bajulare, ou seja, carregar a mesma. Quando falam os evangelistas da cruz expressam com duas palavras o fato de suportar o peso da mesma no caminho do suplício: airo e bastazo. Airö<142> significa tomar ou levantar e bastazö <941> carregar. A cruz era o suplício mais atroz dos tempos de Jesus entre os romanos, segundo testemunho de Cícero; e, além disso, o crucificado era, segundo Dt 21, 23, maldito por lei: o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus, que Paulo cita em Gl 3, 13: Cristo nos resgatou da maldição da Lei fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro. A cruz [staurós] em grego era inicialmente o Stipes ou madeiro vertical no qual se empalava o réu, daí a palavra grega stauroö <4717> (=empalar ou pendurar no madeiro). Mas nos tempos de Jesus a cruz estava constituída de dois madeiros: um deles fixo no lugar do suplício: era o vertical, que recebia o nome de stipes [estaca]; e o outro de nome patibulum, que era carregado pelo réu, abrindo os braços e amarrado a ele horizontalmente, como vemos em Jo 21, 18: estenderás os braços e outro te cingirá ou atará. Sempre eram vários os réus crucificados que formavam uma procissão em fileira de modo que o patibulum do anterior era amarrado ao pé do seguinte. Daí o lugar paralelo de Lucas: (9, 23). Se alguém quer vir após mim (…) tome a sua cruz cada dia e siga-me. Jesus está pedindo o impossível: a destruição do próprio ego. Tudo soa como aquilo de amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, etc.

PRIMEIRA PARÁBOLA: A TORRE. Quem de vós querendo construir uma torre não senta primeiro e  calcula os custos, se tem os (necessários) para terminar(28). quis enim ex vobis volens turrem aedificare non prius sedens conputat sumptus qui necessarii sunt si habet ad perficiendum. Não seja que postos os alicerces dela e não podendo terminar todos os que a vejam comecem a se mofar dele (29). Neque  posteaquam posuerit fundamentum et non potuerit perficere omnes qui vident incipiant inludere ei. Dizendo que este homem começou a edificar e não pode acabar (30). Dicentes quia hic homo coepit aedificare et non potuit consummare. Era a torre uma casinha de pedra, construída num ângulo da vinha para vigiar e impedir que bestas selvagens e ladrões pudessem roubar ou estragar a mesma. Tinha certa altura e, portanto era necessário que tivesse fundamentos sólidos. Caso não pudesse acabar o começado seria para o dono uma vergonha.

SEGUNDA PARÁBOLA: O REI. Ou que rei, indo a pelejar com outro rei, não se assenta primeiro a pensar se é possível com dez mil enfrentar quem com vinte mil chega  contra ele? (31), Aut qui rex iturus committere bellum adversus alium regem non sedens prius cogitat si possit cum decem milibus occurrere ei qui cum viginti milibus venit ad se. Mas se não, estando longe, enviando uma delegação, pede as (condições) para a paz (32). Alioquin adhuc illo longe agente legationem mittens rogat ea quae pacis sunt. Antes de iniciar uma guerra que pode ser um desastre total é preciso pensar seriamente se com o exército disponível podemos vencer o inimigo por vezes superior. Caso contrário é melhor optar por uma paz, embora seja menos honrosa. São comparações que podem ser entendidas do ponto de vista puramente natural pelo homem psychikós que diria Paulo, levado unicamente de sua razão e sentimentos.

CONCLUSÃO FINAL: Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a todos os seus bens não pode ser meu discípulo (33). Sic ergo omnis ex vobis qui non renuntiat omnibus quae possidet non potest meus esse discipulus. Ambas as parábolas explicam as dificuldades e inconvenientes que levarão muitos a abandonar o caminho empreendido. Por isso devemos enfrentar o nosso discipulado com a intenção de total e absoluta renúncia a tudo o que possuímos. O verbo grego apotasssomai [<657>=renuntiare] significa dizer adeus. É um esquecer definitivo, uma renúncia absoluta a todos [pasin] os bens [yparchousin <5224>]. Isso é que determina e fixa o verdadeiro discípulo.

PISTAS:

1) Os conselhos evangélicos, ou seja, o discipulado de Cristo é um chamado a todos. Mas unicamente serão verdadeiros discípulos os que estejam dispostos a uma renúncia total a começar por si mesmos, que é notada externamente pela pobreza de uma opção aparentemente irracional: Discípulo de um Mestre que teve uma cruz como fim e uma vida em que o sofrimento era parte essencial, especialmente o sofrimento da incompreensão e perseguição.

2)  A cruz não é unicamente um símbolo de quem sofreu por nós, mas uma opção necessária que deve dirigir nossas vidas de discípulos de Cristo. Não existe um cristianismo light em que a humilhação, o escárnio e o sofrimento possam ser referidos unicamente ao Senhor. Os discípulos devem, como ele pediu aos filhos do Zebedeu, optar por beber o cálice amargo de sua paixão.

3)  Seguir Jesus é continuar o projeto do Pai, experimentando um clima novo em relação com as pessoas, as coisas materiais e consigo mesmo. Trata-se de assumir com liberdade e responsabilidade a condição humana sem superficialismos, conveniências ou egoísmos. Decidir-se por uma humanidade que Jesus adotou como modelo, em que a renúncia a si mesmo é a base da entrega a Deus e ao próximo.


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22.08.2010
XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

__ “ESTREITA É A PORTA PARA ENTRAR NO REINO” __

Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Quando alguém nos ama realmente e nos fala chamando-nos por nosso nome, descobrimo-nos a nós mesmos e não estamos mais sozinhos. A vitória sobre a solidão gera a alegria; viver, então, é uma festa. O reino de Deus é comunhão; seu advento inaugura, por isso, um tempo de alegria. É festa que não se acaba, definitiva. Festa a que são convidados todos a humanidade. Entoemos cânticos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)

PRIMEIRA LEITURA (Is 66, 18-21): - "Eu que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória."

SALMO RESPONSORIAL (Sl. 116/117): - "Proclamai o Evangelho a toda criatura!"

SEGUNDA LEITURA (Hb 12,5-7.11-13): - "Meu filho, não desprezes a educação do Senhor."

EVANGELHO (Lc 13,22-30): - "E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos."



Homilia do Diácono José da Cruz –XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

A PORTA ESTREITA

Quando medito este evangelho sempre me lembro do “Miudinho”, apelido de um amigo da minha adolescência, que era bem “robusto” para não dizer que ele era “gordinho”. Por conta da obesidade ganhou fama de ser o molenga da nossa turma onde era sempre o último nas brincadeiras ou aprontações que fazíamos. Certa ocasião ficou entalado em um tubo de concreto que ficava no final da rua, por onde entrávamos sorrateiramente por uma galeria em desuso, tendo acesso a um terreno que pertencia a Dona Assunta, e onde deliciávamos com a doçura das mangas e amoras.

O muro era alto e o portão antigo era inacessível, até o dia em que descobrimos a tubulação e passamos a utilizá-la sendo para nós uma aventura porque engatinhando, varávamos coisa de três ou quatro metros por baixo do muro. Ao ficar entalado na galeria, por causa de ser gordinho, e não saindo para frente e nem para trás, Miudinho armou o maior berreiro chamando a atenção da vizinhança e assim, fomos pegos em flagrante pela proprietária do terreno, enquanto que os moradores, com muito esforço conseguiram desentalar o coitado do Miudinho. Decidimos, a partir daquele dia, deixá-lo fora de nossas aventuras porque ele não conseguia ter agilidade para nos acompanhar. O reino do céu é meio parecido com aquele terreno baldio, palco das nossas aventuras e onde curtíamos a doçura da fruta madurinha á sombra de grandes árvores: o acesso é por uma passagem bem estreita...

A pergunta dos discípulos, feita a Jesus, se é verdade que poucos irão se salvar, deve-se ao fato de que a salvação, para eles, era uma espécie de troféu, com que Deus premiava os que faziam boas obras e observavam com rigor a lei e todos os demais preceitos religiosos. Nós cristãos, que pertencemos à igreja, devemos também pensar nisso e perguntar se iremos nos salvar... Jesus nos alerta que a passagem é bem estreita e requer certo esforço de quem se fez discípulo. Há uma porta larga do ritualismo e do seguimento da lei, há eventos religiosos que reúne milhares de pessoas, há igrejas cristãs de todas as denominações, cujos templos ficam lotados de fiéis nos finais de semana. Será que nesta religião sem compromisso, todos já tem o passaporte carimbado para entrar no reino?

Para passar pela porta estreita é preciso se fazer pequeno e ter no coração e na mente esta consciência de que a salvação é dom de Deus e não fruto das nossas obras ou práticas religiosas, quem pensa diferente disso é semelhante ao meu amigo Miudinho e vai acabar ficando “entalado” no seu egoísmo e orgulho. Mas ser pequeno também significa servir aos irmãos e irmãs, a palavra servir vem de servo, escravo, aquele que se rebaixa, que se curva diante do outro, Jesus fez isso no “Lava-pés”, fazendo uma tarefa que pertencia a um escravo, o que prefigurou o rebaixamento final que iria ocorrer em Jerusalém, para onde Jesus caminha decidido a entregar-se por todos.

Portanto, o amor que se rebaixa traduzindo-se em serviço é que faz de nós verdadeiros cristãos, Filhos do Pai, que nos vocaciona para o amor, irmãos de Jesus, servo maior com quem nos identificamos e por quem somos reconhecidos. Os que pensam que já estão salvos, com um pé na vaga do céu, só porque pertencem a esta ou aquela denominação religiosa, e são observantes zelosos de toda doutrina e preceito, irão certamente ficar bem desapontados porque o Senhor não os reconhecerá como diz o evangelho: “Nós não saíamos de sua casa, comíamos e bebíamos na tua presença...”. “Sumam”! Não sei quem são vocês! Não os conheço!”--- dirá o Senhor”.

Fachada e aparência de nada adiantarão, só serão acolhidos no banquete do reino, e reconhecidos pelo Senhor aqueles que o imitando, doarem-se inteiramente aos irmãos e irmãs, não importando qual igreja ou denominação religiosa. Os que estiverem “inchados” de orgulho e auto-suficiência, achando-se os primeiros, porque já estão dentro, irão bater com o “nariz na porta” e verão cheios de espanto e surpresa, os que eram os últimos, adentrarem por primeiro no banquete.

Nunca mais vi meu amigo “Miudinho”, dizem que ele emagreceu eliminando a gordura que tanto o incomodava. Que a religião seja para todos nós um compromisso de vida com Deus e com os irmãos, caso contrário não conseguiremos entrar no reino dos céus, pois como meu amigo Miudinho, acabaremos entalados na soberba e no egoísmo, e não passaremos pela porta estreita! Daí haverá choro e ranger de dentes...

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)

“Salvação”

Um dos maiores desejos do ser humano é o da salvação. No entanto, tenho a impressão que algumas expressões utilizadas por nós, os cristãos, há muito tempo, já caíram no esquecimento ou ficaram, em certo sentido, vazias de conteúdo para muitos. O que é salvação? Quando uma pessoa está se afogando, grita pedindo socorro: que alguém o salve! Quando estamos enfermos, desejamos ser salvados, curados dos nossos males. Caso nos víssemos rodeados de feras selvagens, desejaríamos que aparecesse alguém mais forte que todas elas e nos salvassem. A salvação sempre vem ao encontro de quem está necessitado e só a pede quem se vê necessitado. Ainda que todos necessitem ser salvos, nem todos parecem percebê-lo. Esse é um dos grandes problemas da modernidade: quando se tem um bom salário, uma boa casa, o carro do ano, seguro médico, amigos com os quais divertir-se, etc. Que mais pode faltar? Salvação? De quê? De quem? Isso não acontece somente em ambientes ricos, também há muitos pobres que tendo um barraco e um pouco de comida para ir levando a vida, se contentam: salvação? De quê? Ganhar na loteria pareceria ser, nesse caso, a única salvação possível.

Há também misérias espirituais! Pobres e ricos terminam debaixo do chão ou numa caixinha destinada a guardar as suas cinzas; ambos podem pecar e contrair, também aumentar, os vícios; ricos e pobres podem ser – como de fato são – atacados pelo diabo. Essas misérias espirituais – morte, pecado, demônio – não ficam somente ao nível do espírito. No caso da morte está claro! Mas também em relação ao pecado e ao demônio: qualquer afinidade com essas realidades definha não só o nosso espírito, mas também o nosso corpo. O ser humano é uma unidade de alma e corpo inseparavelmente unida. Eu não posso ser atingido só no meu dedinho quando dou uma martelada errada no prego e acerto o polegar, a dor repercute em toda a minha pessoa, sou eu quem sofro essa dor, não só o meu dedo.

A salvação que Cristo oferece chega à pessoa em sua totalidade, mas começa pelo mais profundo. Quando se percebe que uma árvore está enferma na raiz é preciso remediar para sarar a raiz, as conseqüências serão folhas e frutos sadios. De maneira semelhante, Deus quis sarar-nos pela raiz, enviando o seu Filho para libertar-nos salvando-nos do pecado, do diabo e da morte. Salvou-nos pela raiz para que fossemos capazes de produzir folhas e frutos sadios. Ainda percebemos o poder do pecado, do demônio e da morte, não obstante, foi-nos dado o remédio para combatê-los sempre: a graça de Deus. A salvação total e definitiva acontecerá no céu. Nesses tempos, a salvação já realizada espera a consumação na Parusia, na segunda vinda de Cristo. Isso é assim porque se formos ao céu antes da Parusia, lá estaremos somente com a nossa alma, o qual indica que falta algo importantíssimo: o corpo. A consumação daquilo que já foi realizado, a nossa salvação, se dará nos novos céus e na nova terra.

Nesse contexto, entende-se perfeitamente a pergunta daquele incógnito: “Senhor, são poucos os homens que se salvam?” (Lc 13,23). Jesus dá duas respostas que se complementam: “Procurai entrar pela porta estreita” (Lc 13,24). Logo, parece que são poucos: a porta é estreita. “Virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e sentar-se-ão à mesa no Reino de Deus” (Lc 13,29). Logo, parece são muitos: do norte e do sul, do leste e do oeste. Logicamente, o fato de a porta ser estreita, não significa que passem poucos; nem o fato de virem de todas as partes significa que sejam muitos. Enfim, trata-se de uma curiosidade que Jesus não deseja satisfazer no momento.

Mas do que perguntar se são muitos ou poucos, é muito mais importante perguntar: Senhor, serei salvo? E como Deus “deseja que todos os homens se salvem” (1 Tm 2,4), é muito melhor perguntar: Senhor, faço tudo o que está ao meu alcance para ser salvo? A pergunta não é egoísta. Conscientes de que temos que pedir ao Senhor que nos salve – o homem não se pode salvar a si mesmo, é impossível! – é preciso colaborar para que a salvação já realizada por Jesus na Páscoa por cada um de nós esteja cada vez mais presente e atuante nas nossas vidas. “Já é hora de despertardes do sono. A salvação está mais perto do que quando abraçamos a fé” (Rm 13,11). O mesmo apóstolo que diz que “o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus” (Rm 6,23), nos diz também: “trabalhai na vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2,12). A salvação depende totalmente de Deus, é dom, e totalmente de nós, é tarefa. “Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti” (S. Agostinho).

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM – (Ano C)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (Hb 12,5-7.11-13)

INTRODUÇÃO: Como todo pai, Deus também usa da correção ou castigo para reformar condutas que de outro modo seria difícil ou impossível emendar. Claro que sua correção é dolorosa, mas finalmente serve para uma vida honrada e pacificamente serena. Fortalece os mais fracos e robustece os pés vacilantes de quem se encontra como parcialmente impossibilitado de caminhar. O autor fala do exemplo de Cristo que sofreu um máximo castigo sendo inocente. Até agora –diz ele- não derramaste o sangue. E por isso, exorta de novo seus designatários.

A CORREÇÃO: E tendes esquecido a consolação que a vós, como filhos, argui: Filho meu, não menosprezes a correção do Senhor, nem desanimes quando castigado (5). Et obliti estis consolationis quae vobis tamquam filiis loquitur dicens fili mi noli neglegere disciplinam Domini neque fatigeris dum ab eo argueri. CONSOLAÇÃO [paraclësis <3874>=consolatio]. O grego tem a mesma raiz que parakletos [=consolador ou confortador como advogado defensor]. Podemos falar de conforto, consolação, consolo, alívio. Um exemplo: Simeão que esperava a consolação de Israel (Lc 2, 25). ARGUI [dialegetai<1256>=loquitur] presente do verbo dialegomai com dois significados diferentes: pensar, matutar ou ponderar; e logo, como conversar, arguir, discutir. Com esse segundo sentido temos Mc 9, 34: Eles [os discípulos] discutiam entre si pelo caminho quem seria o maior. A JKV usa speaks, ou seja, diz e a TEB se dirige que é mais fácil de interpretar. MENOSPREZES [oligöreö<3643>=neglegere] o verbo grego é descuidar, despreocupar-se, negligenciar, menosprezar, desdenhar. É apax neste versículo. CORREÇÃO [paideia<3809>=disciplina], o grego significa o conjunto de ações para a educação de um menino, como o ensino, as ordens, admoestações, repreensões e especialmente os meios coercitivos, como o castigo. O vocábulo sai 4 vezes neste capítulo 12 com o mesmo significado que a JKV traduz sempre como chastening [castigo, punição] e que a TEB traduz como correção, sem dúvida de um modo eufemístico, já que o verbo usado mais tarde elegchö é repreender severamente, arreganhar e castigar. Traduzido como correção não descartamos o castigo, tão necessário nos tempos antigos em que o provérbio latino declarava pueri et naves per posteriora reguntur [crianças e naves são dominadas pelas partes posteriores]. DESANIMES [eklyö<1590>=fatigare] o verbo grego é desatar, soltar, afrouxar, enfraquecer, e em sentido metafórico, desanimar, enfraquecer, desmaiar. É com este sentido que em Mt 9, 36 se fala das multidões que estavam decaídas e exaustas como ovelhas sem pastor. CASTIGADO [elegchomenos<1651>=argueris] é o particípio de presente passivo do verbo elegchö que significa condenar, corrigir, repreender e finalmente castigar. O sentido é que não devemos nos sentir desanimados pelas humilhações e sofrimentos que nos acompanham na vida. Porque são uma forma de educar-nos. No livro dos Provérbios 3, 11, lemos: Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor nem te enfades da sua repreensão, um texto em grego da Setenta que coincide palavra por palavra com o texto dos Hebreus

CORREÇÃO DO AMADO: Porque a quem ama o Senhor corrige; açoita, porém, todo filho que acolhe (6). Quem enim diligit Dominus castigat flagellat autem omnem filium quem recipit. Temos aqui a razão dessa regra que podemos chamar de universal: O Senhor [Deus] corrige a quem ama. O verbo paideuö [<3811>=castigare] tem a mesma raiz que a palavra correção do versículo anterior. A correção é própria de quem ama, do amor; assim como a adulação corresponde ao que teme, ao servidor. Quem bem te quer te fará chorar, diz o provérbio, e é possível que a frase anterior de Hebreus tenha também um suporte proverbial. Em  seguida, o autor afirma que Deus, a quem acolhe como filho, castiga  [mastigoö <3146>=flagellare], com o significado de açoitar, usando o látego ou flagelo. Era o instrumento com o qual se castigava o escravo rebelde ou o filho culpável de uma falta grave. Mais tarde, será o cinto paterno o instrumento que seria usado com bastante frequência, até nos centros de educação inglesa como o próprio Churchil experimentou nos seus anos de juventude. Paulo sabia por experiência que para não se ensoberbecer, Deus lhe enviou um anjo de Satanás que me esbofeteasse. É interessante saber que em Pr 3, 12 a Setenta diz o mesmo que o autor dos hebreus e com as mesmas palavras gregas e na mesma ordem. Eis a tradução da RV: Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem, que outros traduzem como um pai ao filho querido.

O PAI CASTIGA: Se sofreis o castigo, como a filhos Deus vos trata: pois que filho há a quem pai não castigue? (7). In disciplina perseverate tamquam filiis vobis offert Deus quis enim filius quem non corripit pater. Um provérbio judeu diz: a doutrina do castigo é o silêncio. Melhor é ver no castigo uma bênção divina, como o Sl 94, 12: Bemaventurado o homem a quem tu repreendes. Pois do castigo segue-se uma conversão que de outro modo não seria possível. Assim lemos no Sirácida 23, 2: quem aplicará a vara a meus pensamentos e a disciplina a meu coração… para que não se multipliquem meus erros nem se acumulem meus pecados? A correção divina está motivada somente pelo amor divino para conosco, não pela justiça estrita que podemos igualar com vingança do olho-por-olho. Assim Paulo trata o incestuoso de Corinto, cujo corpo entrega a Satanás para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus (1Cor 5,5). O castigo se torna correção ou se preferimos causa de conversão, de reformar o que não faríamos de outro modo por desídia ou falta de compreensão. Sendo erro o segundo motivo,  o primeiro já entra dentro do pecado, como vemos no versículo do Sirácida anteriormente citado.  Melhor do que SOFREIS [ypomenö <5278>= perseverare] embora o significado seja o de suportar, continuar, permanecer, é melhor traduzir por sofrer. Assim é a tradução da TEB, com o qual o autor afirma que o sofrimento e a humilhação formam parte da pedagogia com a qual Deus, o Pai, ilustra e educa seus filhos.

BONS FRUTOS DO CASTIGO: Pois todo castigo, no momento, não parece ser de alegria, mas de tristeza; porém, finalmente fruto pacífico para os que por ele exercitados, produz boa conduta (11). Omnis autem disciplina in praesenti quidem videtur non esse gaudii sed maeroris postea autem fructum pacatissimum exercitatis per eam reddit iustitiae. É lógico que todo castigo, como sofrimento é, de imediato, causa de tristeza e não de alegria; mas deve ser considerado como uma ascese necessária para produzir frutos de boa conduta. Faltam nesta leitura epistolar os versículos 8, 9 e 10. É interessante ver como no 8 podemos ler: se estais privados de castigo…então sois bastardos e não filhos. Entende-se isto melhor, sabendo que o bastardo não estava ao cuidado do pai e este não se interessava pela sua educação, que, como temos antes descrito, frequentemente incluía o castigo. O fruto é de paz e de justiça (TEB). Ou frutos apassíveis de justiça (Nácar). A paz é um dom de Deus, como o expressou o anjo (paz aos homens) anunciando o nascimento do Messias (Lc 2, 14). Se recebermos o sofrimento/castigo como filhos que necessitam de correção, teremos paz e ao reformarmos condutas erradas, o fruto é justiça [dikaiosynë] que não é a justiça distributiva, mas a conformidade com a lei divina, que pretende se conformar com o aequum et bonum [justo e bom], neste caso com a vontade do Pai e que devemos traduzir como boa conduta [righteousness em inglês].

ANIMADOS: Por isso, as descaídas mãos e os trópegos joelhos restabelecei (12). Propter quod remissas manus et soluta genua erigite. Lemos em Isaías 35, 3 a mesma exortação: fortalecei as mãos frouxas e firmai os joelhos vacilantes. É a palavra do profeta diante da presença de Jahveh que pretende recorrer ao deserto transformado em vergel do Líbano com sua presença. É tempo de se levantar e trabalhar não de depressão e desânimo em que o pessimismo dá lugar a falta de esperança.

AO TRABALHO: E fazei sendas retas para vossos pés para que o coxo não se desloque, pelo contrário seja curado (12). Et gressus rectos facite pedibus vestris ut non claudicans erret magis autem sanetur. Parece concordar com Pr 4, 26-27:Traça um trilho  para os teus pés e sejam seguros os teus caminhos. Não te desvies nem à direita nem à esquerda. Afasta os pés do mal. Em termos metafóricos, Provérbios descreve o que deve ser a atitude do cristão que está sujeito à correção divina e o triunfo final como corresponde a atitude de quem se acomoda com os desejos do Pai.

Evangelho (Lc 13, 22-30)
QUANTOS SÃO OS QUE SE SALVAM?

SEGUNDA PARTE DA VIAGEM: E caminhava pelas cidades e vilas ensinando e fazendo caminho em direção a Jerusalém (22). et ibat per civitates et castella docens et iter faciens in Hierusalem. No grande resumo doutrinal que constitui a viagem de Jesus desde a Galileia a Jerusalém, encontramos um segundo propósito da subida a Jerusalém, precisamente neste evangelho. Jesus atravessava cidades [polis] e pequenas aldeias [kome]. Lucas diz que isso era na sua viagem em direção a Jerusalém. É um marco literário para o evangelista emoldurar nele uma série de ensinamentos que Mateus recolhe no seu sermão da montanha. Um deles é o problema da salvação.

A PERGUNTA: Então lhe disse alguém: Senhor, se [são] poucos os salvos? Ele então lhes disse (23). Ait autem illi quidam Domine si pauci sunt qui salvantur ipse autem dixit ad illos. Alguém perguntou. É um recurso de Lucas para introduzir um tema em profundidade que Jesus, como Mestre, deve resolver. O interlocutor introduz sua pergunta com Kyrie [Senhor]. Logicamente não é o Kyrios, título do Ressuscitado, de quem tem o máximo poder na terra como representante do Deus vivo, como diriam os judeus. Sem dúvida que aqui é um título de respeito e cortesia de quem se espera uma resposta sábia. A pergunta indica uma base semítica clara. Não tem o verbo ser e, traduzida diretamente do grego, seria: Se poucos os salvados? É uma pergunta que hoje, como antigamente, forma parte de nossas ansiedades mais íntimas. Formaremos nós parte desses privilegiados? Porque se são poucos, estaremos em perigo de não ser contados entre eles.

A RESPOSTA: Lutai para entrar através da porta estreita porque muitos, vos digo, buscarão entrar e não poderão (24). Contendite intrare per angustam portam quia multi dico vobis quaerunt intrare et non poterunt. Não é uma resposta direta mas uma exortação para se preparar porque o tempo é curto e a entrada estreita. Sem dúvida que temos necessidade de ambientar a resposta, segundo os pareceres da época: 1o) Os judeus, que acreditavam na vida após a morte, afirmavam que a salvação era monopólio do povo escolhido, deles, pois (ver Mt 3, 9). 2o) Tanto a pergunta como a resposta estão limitadas pelas circunstâncias do momento. Trata-se de saber quantos dentre os contemporâneos de Jesus e do kerigma apostólico entrariam no Reino. Isto pode ser deduzido das palavras do versículo 25. Por isso Jesus exorta a lutar e se esforçar seriamente para entrar através da porta estreita, restrita e difícil que dá acesso ao banquete e separa o mundo exterior dos rejeitados, do mundo interno dos escolhidos. De fato, essa luta deu-se no início do cristianismo. O Reino dos Céus sofre violência (Mt 11, 12). Assim começa a pequena parábola que tem como ambiente o banquete de bodas.

A PARÁBOLA: Pois, do momento que entrar o dono e ter fechado a porta e começardes de fora, a estar de pé e bater na porta dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos; e respondendo vos diga: Não vos conheço de onde sois (25). Cum autem intraverit pater familias et cluserit ostium et incipietis foris stare et pulsare ostium dicentes Domine aperi nobis et respondens dicet vobis nescio vos unde sitis. Está dirigida aos contemporâneos de Jesus. Tem como lugar paralelo a parábola das dez virgens em Mateus 25, 1-13 e como comentários Mt 7, 13-14; 8, 11-12 e 21-23. Temos também como complemento a essas dificuldades do Reino nos primeiros anos de sua proclamação um comentário que Marcos recopila em 10, 24-25. Por isso dirá Jesus em Mateus que os filhos do Reino serão lançados fora, nas trevas (8, 12). Para entender a parábola de hoje devemos partir do fato de que Jesus compara a entrada definitiva no Reino com a resposta ao convite para um banquete de um rei pelas bodas de seu filho, como lemos em Mateus 22, 1-14. Ou em Lc 14, 15-24. Nesta  pequena parábola do evangelho de hoje, Jesus não quer dar uma reposta definitiva ao número, porque depende de circunstâncias temporais. Mas bem se refere a seus conterrâneos e a seu tempo, tempo que ele magistralmente descreve como os dos que comiam e bebiam com ele, de modo que os ensinamentos de Jesus eram escutados nas suas praças (26). E é para esse tempo e esses homens que Jesus está falando. Realmente foram poucos os que entraram no Reino e Jesus foi rejeitado, tanto pelas autoridades judaicas como por grande parte do povo em geral. Desta forma se cumpria o que Jesus tinha previsto: Muitos desejarão entrar e não poderão fazê-lo. Porque a entrada não está aberta de modo contínuo. A porta será fechada pelo dono da casa e muitos ficarão de pé do lado de fora batendo à porta. Estes últimos pedirão: Senhor abre-nos! A resposta do dono será: Não conheço de onde sois.

NÃO VOS CONHEÇO: Então começareis a dizer: Comemos contigo e bebemos e nas nossas praças ensinaste (26). E dirá: Digo-vos, não vos conheço de onde sois. Afastai-vos de mim todos os fautores da maldade (26). Ttunc incipietis dicere manducavimus coram te et bibimus et in plateis nostris docuisti. Et dicet vobis nescio vos unde sitis discedite a me omnes operarii iniquitatis. E os pretendentes iniciarão sua identificação dizendo que ele, o dono da casa, tinha comido e bebido com eles e até ensinado nas suas praças. Tudo era verdade para os judeus do tempo de Jesus, na Palestina. E termina a narração repetindo: Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos os operários [ergates] da maldade [adikia]. O ergates é um operário, um trabalhador, exatamente como pede Jesus em Lc 10, 2: a colheita é grande os operários são poucos. Adikia significa coisa contrária à lei que pode ser injustiça, maldade ou iniquidade. A frase é uma cópia do Sl 6, 9: Afastai-vos de mim malfeitores todos. Que Mateus 7,13 traduz mais literalmente usando as mesmas palavras do grego dos setenta, ou seja, os que praticam a maldade. Por isso preferimos a tradução trabalhadores da maldade, ou operários do mal. Também no salmo 101, 8 lemos: A cada manhã eu farei calar todos os ímpios da terra, para extirpar da cidade de Javé todos os malfeitores [Ergazomenous ten anomian]. Deste modo se confunde adikia e anomia. No dicionário bíblico de língua inglesa adikia [sem justiça] sai 23 vezes traduzida como unrightneousness [injustiça] no sentido de não fazer o correto, e somente duas vezes como injustiça no sentido de ilegal. Anomia tem como tradução iniquidade (12) e na sua origem sem lei [lawlessness inglesa]. Não podemos traduzir a adikia, pois, como injustiça no sentido moderno de ir contra a virtude moral, de uma justa repartição de riquezas. Tem o sentido mais amplo de ser uma conduta contrária às normas da Torá ou lei divina.

A REJEIÇÃO: Lá haverá o pranto e o ranger de dentes, quando virdes Abraão e Isaac e Jacó e todos os profetas no Reino de Deus; mas vós lançados fora (28). Ibi erit fletus et stridor dentium cum videritis Abraham et Isaac et Iacob et omnes prophetas in regno Dei vos autem expelli foras. PRANTO E RANGER DE DENTES: É uma expressão usada muito frequentemente por Mateus (8,12; 13,42; 13,50; 22,13; 24, 51; e 25,30) Ela está unida ao lugar onde se encontram as trevas (3 vezes) ou a fornalha de fogo (2 vezes) e somente relacionada com os hipócritas (24, 51), que muitos traduzem por não dignos de confiança como em lugar paralelo de Lucas 24, 46, por ser uma deficiência do aramaico. No caso, Lucas usa a expressão de pranto e ranger de dentes, unicamente nesta passagem, indicando o lugar de fora, a exclusão do reino, ou banquete, onde estarão os três patriarcas representantes da fé e eleição de Israel. Estando fora do banquete, só encontrarão as trevas, pois não existindo luzes de rua, essa era a situação das mesmas à noite. Ao choro, ou melhor, às lamúrias próprias dos mendigos que clamavam por uma porção do jantar como esmola, unia-se o ranger dos dentes devido ao frio da noite ou à indignação de serem expulsos. Temos a tradição judaica que atribuía o ranger de dentes aos diabos no inferno; pois declaravam que à lisonja com a que bajulavam Coré, no caso da insurreição deste contra Moisés (Nm 16), o príncipe do inferno rangeu seus dentes a eles. O qual recebeu o nome de indignação ou tumulto do inferno. A frase aparece nos Salmos 35, 16 e 37,12 para expressar as injúrias dos ímpios contra os justos. No nosso caso seria para expressar o rancor contra o próprio dono da casa, seja o Senhor Jesus, seja o próprio Deus. A expressão, em Mateus, serve para indicar os castigos escatológicos como em 13,50, onde os que praticam o mal serão lançados na fornalha acesa onde haverá choro e ranger de dentes, como diz a conclusão da parábola da pesca onde se escolhem os peixes bons e se jogam os peixes proibidos. Podemos deduzir de tudo isso que o inferno será um lugar de fogo? Da expressão de Lucas é difícil argumentar definitivamente. Mateus se aproxima mais à ideia do inferno de fogo. Somente a Tradição resolverá o caso e tratará como formal um elemento que ao que parece é simbólico e narrativo.

PATRIARCAS E PROFETAS: Os três nomes são clássicos na literatura hebraica. Os profetas não acompanhavam o grupo de líderes dos escolhidos; porém, Lucas em várias ocasiões os agrupa como conjunto que forma parte do Novo Reino. E termina: vós mesmos sereis lançados fora do mesmo. Esta última conclusão indica que Jesus se refere aos seus ouvintes conterrâneos. E que foi uma decisão divina, esta de rejeitar o povo, ao qual até agora pertenciam os filhos do Reino, naturais herdeiros das promessas.

OS NOVOS HERDEIROS: E virão do Oriente e Ocidente e do Norte e Sul e se reclinarão no Reino de Deus (29). Et venient ab oriente et occidente et aquilone et austro et accumbent in regno Dei. Dos quatro pontos do mundo virão os novos membros, ou filhos do Reino. Já Isaías o profetizou: Para que se saiba até o nascente do sol e até o poente que, além de mim, não há outro (45,6;) que Malaquias completa dizendo que nesses limites é grande o meu nome e em todo lugar lhe é queimado incenso e trazidas ofertas puras, porque é grande entre as nações (1,11). Se realmente faltam os outros dois pontos, Norte e Sul os encontramos em 49, 12: virão do Norte e do Ocidente e outros da terra de Sinim, que alguns identificam com o sul da China. É importante que Jesus o afirme. São todos os povos convidados e de todos eles se formará o novo Reino, sem distinção, como diz Paulo dos dois povos até então inimigos Deus fez um só, pois ele [Cristo] é nossa paz, tendo derrubado o muro de separação e suprimido em sua carne a inimizade (Ef 2, 14).

A MORAL DA HISTÓRIA: Porque eis que há últimos que serão primeiros e há primeiros que serão últimos (30). et ecce sunt novissimi qui erunt primi et sunt primi qui erunt novissimi. Evidentemente nessa afirmação há duas asseverações dignas de reflexão: Não são todos os últimos, os primeiros; e vice-versa. A segunda é que fundados no parágrafo anterior, as duas classes diferentes são gentios e judeus. Estes pertencem ao grupo dos primeiros e aqueles ao grupo inicial dos últimos. Logicamente o juízo é baseado na formação do novo Reino.

PISTAS:

1) Temos aqui um relato evangélico, aparentemente constituindo uma unidade tanto lógica como real. Porém, comparando-o com outros evangelistas vemos que é mais uma unidade lógica e redacional. Lucas escolheu um fim que é a moral da história e reuniu diversos materiais para escrever esta página que, separada do contexto, poderia ser tomada em termos absolutos e, embora Jesus não o afirme, nós o declaramos rotundamente, porque está na Bíblia: poucos são os escolhidos, os que se salvam, afirmamos.

2) Os evangelhos são relatos com bases históricas, mas com finalidade catequética ou apologética e por isso podem ser composições arbitrárias de fatos reais e palavras verdadeiras, que os evangelistas nem se atrevem a alterar. Assim o comprovam os lugares paralelos, porém usados com diferentes objetivos. Daí a diversidade nos contextos e conclusões.

3) Neste trecho nos encontramos com uma realidade que não podemos esquecer; pelo fato de ser circuncidados e pertencer ao povo eleito, o antigo Israel não foi salvo como um todo para entrar a formar parte do novo Reino, do novo Eon como agora se diz. Mas poucos foram os escolhidos, precisamente aqueles que tiveram que lutar e se esforçar contra corrente para entrarem, entre eles os que nada tinham a perder, os pequeninos, os que não eram sábios nem ilustrados [leídos] (Lc 10 21).

4) Fazendo uma apropriação parenética, a escolha do Reino deve ser imediata, não deixada para última hora, porque a porta pode estar fechada. Formamos parte do novo Israel, mas a conduta individual da qual depende em grande parte a escolha, é nossa responsabilidade. A prática da justiça, isto é, do bem [fazer a vontade do Pai] será a que nos torna verdadeiros discípulos e a que obrigará o dono a escolher e abrir a porta definitiva.


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Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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