GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
27.03.2011
3º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A
__ "CRISTO, ÁGUA PARA NOSSA SEDE" __
Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! O tema da água que salva volta com frequência na liturgia quaresmal. A partir deste domingo, a Igreja oferece à comunidade cristã que revive seu batismo uma síntese da história da salvação, servindo-se do rico simbolismo da água.
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Ex 17,3-7): - "Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber."
SALMO RESPONSORIAL (94/95): - "Não fecheis, irmãos, o vosso coração, como outrora no deserto!"
SEGUNDA LEITURA (Rm 5,1-2.5-8): - "... a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores."
EVANGELHO (Jo 4, 5-42): - "O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra."
Homilia do Diácono José da Cruz – 3º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A
"A MULHER SAMARITANA"
Cada um de nós tem o seu “poço” onde em todos os dias se busca matar a sede das realizações humanas, procurando de alguma forma concretizar os nossos ideais. É uma tarefa constante e que se torna monótona e rotineira, correndo até o risco de perder o seu sentido. Um belo dia se descobre que, aquilo que buscamos de maneira tão insistente, está fora do nosso alcance. É verdade que em nossa trajetória conseguimos chegar a alguns horizontes que vislumbramos, mas onde pensamos ser o ponto de chegada, acaba se tornando ponto de partida porque novos horizontes são vislumbrados. Na infância eu gostava de fazer essa tentativa de ficar perto das nuvens do céu, e certa ocasião, em férias na capital, escalamos o pico do Jaraguá, um lugar muito alto de onde se avista a grande São Paulo, mas que está muito longe das nuvens que eu imaginara poder tocar, na minha visão lá de longe e foi frustrante.
Quando colocamos toda nossa esperança nesses horizontes aqui de baixo, encarnamos o personagem de “Dom Quixote de Lã Mancha”, e corremos atrás de ilusões, uma carreira bem sucedida, no esporte, na arte, na vida profissional, ambições e escaladas de postos que vão sendo galgados, mas quando chegamos ao topo, percebemos que ainda falta algo.
A mulher samaritana, que se encontra com Jesus á beira de um poço, vem dessa busca humana, de algo que a satisfaça plenamente. A água do poço de Jacó, que ela vai buscar diariamente, parecer ser suficiente para alcançar seus objetivos, ela experimenta Deus no cumprimento da Lei e nas Tradições religiosas do seu povo, e isso lhe basta.
A catequese quaresmal nos atiça a mente e o coração para intensificarmos a busca do transcendente. Na história da Igreja, Santo Agostinho, que julgava ter encontrado a plena alegria nos prazeres carnais, após a conversão irá afirmar, com base nessa experiência; “o meu coração inquieto, só terá sossego quando em Deus repousar...” Todo ser humano traz em si essa inquietude que perpassa toda a existência, corremos sempre atrás de algo que parece inatingível...
Jesus encontra-se diante de alguém que não conhece outro caminho na busca dessa realização, que não seja a esperança humana, fundamentada na tradição, para a mulher, nada é mais importante do que o Pai Jacó, que ouviu de Deus as promessas, e que fez aquele poço para saciar a sede do seu povo. Nós cristãos, às vezes nos apegamos em demasia á igreja Instituição e esquecemos do essencial que é ser a “Eclésia” dos que conhecem a Verdade e a buscam, não nas ambições humanas, mas Naquele que é a Verdade.
Se não nos acautelarmos, o ativismo pastoral e religioso na igreja ou nos movimentos, poderá ser esse Poço do Pai Jacó, que nos satisfaz por aquilo que somos e que fazemos. Quando por alguma razão, somos tirados de certas funções, parece-nos que falta o chão. Por que será? O poço de água viva em nossas comunidades cristãs, não é o que somos, ou quem somos, ou o que fazemos, mas é Jesus Cristo, quando fazemos com ele e nele essa experiência, o que somos, quem somos ou o que fazemos, ganha um novo sentido e um novo significado.
Mas é preciso um diálogo franco e aberto com o Senhor, por isso esse terceiro domingo do grande retiro quaresmal somos convidados a fazer esse encontro e a compararmos a diferença dessas duas águas, aquela que nós oferecemos á comunidade, naquilo que somos e fazemos, e a que Jesus nos oferece com sua graça. Em nossas pastorais e movimentos, muitas vezes nos achamos o máximo, mas se alguém disser que a nossa água está salobra o mundo se acaba e desistimos de tudo.
Aquela mulher vai confrontando a sua vida conforme o diálogo com Jesus se aprofunda. Ela não é um personagem isolado criado pelo evangelista João, mas representa o Povo de Israel e as nossas comunidades com todos os organismos e instituições que a compõe. E como essa mulher, muitas vezes não nos damos conta de que na comunidade encontramos Aquele que é a verdadeira e única água Viva. Perdemos tempo enchendo nossos baldes de ambições, prestígio, sucesso, poder. Nossa doação é na verdade um “alisar” o nosso ego e exaltar nosso carisma. Não nos damos conta de que o Reino é muito maior do que aquilo que enxergamos, e que as coisas que fazemos irão passar pois outros virão, melhores do que nós.
A mulher, que começou o diálogo de maneira ríspida, logo se dá conta de que Jesus oferece algo que ela ainda não havia experimentado. Algo que com seu próprio esforço jamais iria conseguir. Quem está á sua frente não é um estrangeiro, nem um homem comum ou Profeta, como chegou a pensar, mas descobre que ele é o Messias, e que Nele poderá encontrar algo muito mais significativo do que as tradições do seu povo, os ritos e a Lei. Sua atitude não é mais a de isolar-se em seu grupo, raça ou cultura, mas agora se torna anunciadora da Verdade na região da Samaria. Parece que o viver em uma religião fechada, com sua doutrina, ritualismo e preceitos, ainda continuam para muitos, a ser o caminho mais fácil de percorrer. A Samaria do mundo aguarda impaciente o grito maravilhado dos cristãos, que fizeram a experiência com Cristo em sua vida, que o encontraram ao encontrarem-se a si mesmo e aos irmãos.
O homem não vai saciar a sua sede com a água salobra dos poços disponíveis, perfurados pela tradição, ou pelas vãs idelogias, todos aguardam ansiosos por esse grito dos cristãos, sobre a descoberta de Jesus, a Água Viva que nos transforma em fontes borbulhantes saciando a todos com quem nos relacionarmos. A grande Samaria nos espera... Vamos em frente, e que sejamos bem sucedidos como a mulher Samaritana, que com seu testemunho conduziu muitos a Jesus.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 3º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A
“Sede de Deus”
“O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).
Deus está apaixonado pelo ser humano, tem sede do pobre amor dos nossos corações. Nós pedimos de beber a alguém que afirma claramente que tem sede. Essa sede de Deus por cada pessoa humana ficou claramente expressada naquele grito que somente o evangelista João conservou no Evangelho: “Tenho sede” (Jo 19,28). Deus tem sede de que nós tenhamos sede do seu Espírito, da sua vida, da sua graça, da sua glória. Ele tem água abundante, mas tem sede de que nós a bebamos.
“Dá-me de beber” (Jo 4,7) é a expressão daquilo que todo ser humano tem: sede de Deus, que pode ser saciada: aqui pela graça e no céu pela glória. André Frossard no famoso relato da sua conversão, “Deus existe. Eu encontrei-o”, terminava com essas palavras: “l’éternité sera courte” – a eternidade será curta. Trata-se de uma maneira poética de afirmar que diante da grandeza de Deus, a mesma eternidade –um presente sem começo nem fim– será “curta” para deliciar-nos com a presença do Senhor.
Essa sede de viver conforme aquilo que Deus pensou para nós, de apetecer aquilo que constrói realmente uma existência cheia de sentido, de contemplar todas as coisas com a visão purificada e descobrir o esplendor de cada criatura, é uma sede existencial, é uma insatisfação da alma que não encontra sentido fora de Deus. Santo Tomás de Aquino fez uma análise cientificamente rigorosa sobre a felicidade do ser humano (cfr. S.Th. II-II, q. 2–5), na qual começava por estudar o fato de que a felicidade não pode consistir nas riquezas, nem na honra, na fama ou na glória; tampouco consiste no poder, no bem do corpo, no prazer, nalgum bem da alma ou num bem criado qualquer. Talvez, na sociedade atual, vale a pena enfatizar que a felicidade não consiste nas riquezas nem nos prazeres. Penso somente nessas duas questões porque, infelizmente, os nossos tempos não se destacam pelo cultivo das coisas do espírito e, por tanto, a honra, a glória, os bens da alma e o conhecimento das dimensões mais profundas dos elementos criados geralmente importam pouco.
Como poderia consistir a felicidade do homem nas riquezas, naturais ou artificiais, se estas são sempre finitas? A uma riqueza sempre se pode acrescentar outra. Como se pode ver, podemos passar a vida acumulando riquezas sem saciar-nos. Por outro lado, como poderia consistir a felicidade do ser humano nos prazeres se esses são apenas um principio de conhecimento? “O apetite veemente pelo deleite sensível deve-se ao fato de que as operações dos sentidos são mais perceptíveis, porque são princípios do nosso conhecimento. É por isso que a maioria deseja os deleites sensíveis” (Santo Tomás de Aquino). Logicamente, o prazer, quando surge de um bem real, é bom. Sem dúvida, é bom e agradável a Deus o prazer que os membros de uma família experimentam numa deliciosa comida dominical num ambiente festivo e moderado pela virtude; é bom e agradável a Deus o prazer que o homem e a mulher, unidos por santo matrimônio, sentem ao gerar os filhos; é bom e muito agradável a Deus o prazer que podemos sentir ao cumprir os nossos deveres de estado. Não obstante, o prazer, quando procede dos desejos desordenados, pode absorver de tal maneira as faculdades superiores, inteligência e vontade, que poderia cegar-nos. Os prazeres desordenados poderiam levar ao desprezo da virtude, inclusive poderia levar ao pior pecado que dar-se pode: o ódio a Deus. Neste caso, Deus seria odiado porque apareceria aos olhos do pecador como inimigo da sua vida desordenada de prazeres.
A leitura atenta descobre facilmente a importância da água para S. João. É somente nesse Evangelho que nós lemos o relato das bodas de Caná, onde Jesus transforma a água em vinho (cfr. Jo 2,1-12); no capítulo seguinte encontramos aquela afirmação que sempre nos comove: “quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5); depois a passagem, que acabamos de escutar, que nos relata o encontro de Jesus com a Samaritana (cfr. Jo 4,1-42); era pelo movimento da água que os enfermos eram curados na piscina de Betesda (cfr. Jo 5,1-18). De fato, o Catecismo da Igreja Católica afirma que o simbolismo da água significa a ação do Espírito Santo, que brota do lado aberto de Cristo crucificado (cfr. Cat 694).
É no Coração de Deus que nós encontramos o nosso descanso, a nossa paz, os nossos prazeres, a nossa felicidade, a nossa bem-aventurança. Distanciar-nos daí é sair do caminho da felicidade, é correr pelos prados da insensatez, é viver uma vida que só pode levar à escuridão mais profunda e ao pior absurdo da vida humana, não ser feliz.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Doutrina e Apologética
Caríssimos Irmãos e Irmãs,
Transcrevo abaixo mais um texto de Doutrina da Santa Igreja, extraído do mesmo site, bastante interessante para Grupos de Estudo Bíblico.
Vejam também a página Roteiro Homilético para um maior entendimento da liturgia deste domingo. ATENÇÃO: a página Roteiro Homilético fica no site apenas durante esta semana; não guardamos arquivo dela, portanto, se desejarem guardá-la devem salvar ou imprimir a página.
Desejo a todos uma Santa e Feliz Semana, na Graça de Deus Pai.
Dermeval Neves
Webmaster - NPDBRASIL
A Igreja aceita comunicação com os mortos?
Em síntese: Mais uma vez os espíritas propagam a falsa noticia de que a Igreja Católica já reconhece e aceita a comunicação com os mortos. O fundamento de tal notícia é inconsistente e confuso. Não há perspectiva de que tal tenha acontecido ou venha a acontecer, já que se trata de algo proibido pelas Escrituras e amplamente explicado pela parapsicologia; os fenômenos mediúnicos nada tem de transcendental, mas são expressões do psiquismo do médium respectivo.
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Por e-mail a Redação de PR recebeu a seguinte mensagem: “Mais uma da nossa “amada” Igreja Católica…
O Vaticano admite Consulta aos Mortos...
Matéria transcrita da revista “O Espírita”, de Brasília /DF, que, por sua vez, o transcreveu do Jornal “O Popular” de Goiânia:
Há anos radicada na Europa, psicóloga goiana divulga a aprovação pela Igreja da comunicação com os mortos através de médiuns.
Oficialmente a Igreja Católica nunca admitiu o contato com os mortos, como prega a doutrina espírita. Nem mesmo a atividade de médiuns e paranormais até há bem pouco tempo, era levada em consideração pelos religiosos. Essa opinião mudou. Através do jornal “L’Osservatore Romano”, órgão oficial da Igreja com sede em Roma, em edição de novembro de 1996, o padre Gino Concetti concedeu uma entrevista, depois reproduzida em outros periódicos, como os italianos “Gente” e “La Stampa” e o mexicano “El Universal”, revelando os novos conceitos católicos em relação as mensagens ditadas pelos espíritos depois da morte carnal. Padre Gino Concetti, irmão da Ordem dos Franciscanos Menores, considerado um dos mais competentes teólogos do Vaticano, admite ser possível dialogar com os desencarnados. Segundo ele, o catecismo moderno ensina que Deus permite aqueles que vivem na dimensão ultra terrestre enviar mensagens para nos guiar em determinados momentos da vida. Após as novas descobertas no domínio da psicologia sobre o paranormal, a Igreja decidiu não mais proibir as experiências do diálogo com os trespassados, desde que elas sejam feitas com finalidades religiosas e científicas e com muita seriedade’.
Alegria
A medida ditada pela nova cartilha da Igreja Católica deixou eufórica a espirita Terezinha Rey psicóloga e ex-professora goiana, que reside há mais de 40 anos na Suíça. Ela é tradutora e divulgadora do texto do padre Gino Concetti. De férias em Goiânia, faz a divulgação desse material. Terezinha diz que as novas opiniões dos católicos a respeito da doutrina pregada por Allan Kardec são uma questão da evolução natural das coisas. “Tenho um grande respeito pela Igreja Católica e creio ser oportuna esta revisão de suas opiniões sobre o espiritismo”, afirma ela, que preside um centro espírita em Genebra, freqüentado por centenas de pessoas. Terezinha considera importantes as pregações do padre italiano porque tiram a culpa dos católicos por procurar os espíritas em busca de contatos com seus entes queridos. “Conheço padres na Europa que são médiuns”, revela a professora, citando como exemplo o padre Biondi, capelão dos jornalistas de Paris. Fundadora do Instituto Pestalozzi, Terezinha Rey foi para a Suíça em 1957 para fazer um doutorado em psicologia. Lá conheceu o renomado professor André Rey um dos criadores da psicologia clínica, e acabou ficando em Genebra, onde também foi aluna da professa Hélène Antipoff educadora de grande prestígio no mundo inteiro. Hoje, paralelamente as atividades que desenvolve no centro espirita, faz palestras e organiza os arquivos científicos do marido”.
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O QUE DIZER?
1. Inconsistência da notícia
Não é esta a primeira vez que o espiritismo procura atrair para si o abono da Igreja Católica. Já em PR 434/1998, pp 324-327 foi publicada uma refutação da notícia em foco, transmitida (tal notícia) aproximadamente nos termos do texto acima transcrito.
Voltamos ao assunto propondo quatro reflexões:
1) Toda decisão doutrinária da Santa Sé e publicada em documento assinado pelo Santo Padre ou por seus colaboradores; a coleção “Acta Apostolicae Sedis” é o órgão através do qual são divulgados todos os atos oficiais da Santa Sé. Um teólogo isolado, dando entrevista a um jornal vagamente citado, não pode ser tido como representante do pensamento da Igreja.
2) O jornal LOSSERVATORE ROMANO (*) ao qual G. Concetti teria concedido a sua entrevista, é citado de maneira imprecisa, sem data de edição – O que foge às normas de uma noticia cientifica. (* - A notícia anterior afirmava que Gino Concetti falara ao jornal ANSA.),
3) O novo Catecismo da Igreja Católica também é vagamente aduzido, sem indicação de parágrafos alusivos a mediunidade. Aliás, estes não se acham no Catecismo; quem o percorre, só encontra aí a clássica doutrina da Comunhão dos Santos, sem referência a “diálogo com os falecidos”. Vejam-se os parágrafos seguintes:
§ 958 “A comunhão com os falecidos. Reconhecendo cabalmente esta comunhão de todo o corpo místico de Jesus Cristo, a Igreja terrestre, desde os tempos primeiros da religião cristã, venerou com grande piedade a memória dos defuntos (…) e já que é um pensamento santo e salutar rezar pelos defuntos para que sejam perdoados de seus pecados” (2Mc 12, 46), também ofereceu sufrágios em favor deles. A nossa oração por eles pode não somente ajudá-los, mas também tornar eficaz a sua intercessão por nós.
§ 959 Na única família de Deus. Todos os que somos filhos de Deus e constituímos uma única família em Cristo, enquanto nos comunicamos uns com os outros em mútua caridade e num mesmo louvor a Santíssima Trindade, realizamos a vocação própria da Igreja.
§ 2683 As testemunhas que nos precederem no Reino, especialmente as que a Igreja reconhece como santos, participam da tradição viva da oração, pelo exemplo modelar de sua vida, pela transmissão de seus escritos e pela sua oração hoje. Contemplam a Deus, louvam-no e não deixam de velar por aqueles que deixaram na terra. Entrando na alegria do Mestre, eles foram postos a frente de muitos. A sua intercessão é o mais alto serviço que prestam ao plano de Deus. Podemos e devemos pedir-lhes que intercedam por nós e pelo mundo inteiro”.
A Igreja aceita a invocação dos santos (orações humildes dirigidas aos justos do céu para que intercedam por nós), mas não aceita a evocação dos mortos (pratica ritual que julga obter respostas e mensagens dos mortos).
4) O estudo da paranormalidade é algo de científico; consiste em observar o comportamento psíquico paranormal (= ao lado do normal). Precisamente a consciência de que existe um comportamento paranormal dissipa a concepção de que os fenômenos estranhos produzidos no espiritismo se devem ao além, pois se verifica que são suficientemente explicados pelo psiquismo do indivíduo paranormal.
A Igreja aceita tranqüilamente o estudo da paranormalidade que ela distingue da comunicação com os mortos. O sensitivo é o indivíduo dotado de paranormalidade mais ampla; não é necessariamente um médium espírita; só será médium se julgar que os seus fenômenos psíquicos paranormais são produzidos por espíritos do além.
Estas observações permitem concluir que a notícia em foco é falsa.
2. O testemunho bíblico
Para o católico, é importante o testemunho da Sagrada Escritura. O mesmo Deus que, segundo seus inescrutáveis desígnios, permite as vezes a aparição de santos ou defuntos, proibiu terminantemente a evocação dos mortos:
“Se alguém se dirigir aos que evocam os espíritos e aos advinhos, para se entregar as suas práticas, voltarei minha face contra esse homem e o afastarei do meu povo”. (Lv 20, 6).
“Todo homem ou toda mulher que evocar os espíritos ou se der a adivinhação, será punido de morte; lapidá-lo-ão; seu sangue recairá sobre ele”. (Lv 20, 27). Ver ainda Lv 19, 31, Dt 18,11.
Não obstante estas proibições, sabe-se que o rei Saul, atribulado numa campanha bélica, foi ter com a pitonisa (ou adivinha) de Endor, pedindo-lhe que o pusesse em comunicação com a alma de Samuel, seu guia de outrora (cf. iSm 28, 7-14). O cronista bíblico acentua bem que esse feito foi ilícito: “Saul… se tornara culpado diante do Senhor… porque interrogara e consultara os que evocam os mortos” (1Cr 10, 13). Não obstante, Deus se dignou permitir que o espírito de Samuel evocado respondesse: permitiu-o, não por causa dos ritos da pitonisa, que eram totalmente ineptos para tanto, mas tornando como mera ocasião a visita do rei à adivinha o motivo por que então o Senhor atendeu a Saul foi, como se depreende das palavras de Samuel, o desejo de admoestar o rei à penitência ao menos no fim de sua vida (o rei Saul havia de morrer no dia seguinte); a exortação dirigida a Saul em circunstâncias tão extraordinárias seria particularmente eficaz. Disto, porém, não se segue que Deus se dirija aos homens por via tão estranha todas as vezes que estes o desejem.
A razão por que é proibida a necromancia, não é o falso pressuposto de que esta incomoda os mortos; deve-se simplesmente ao fato de que é uma crendice ou superstição.
3. E as visões dos Santos?
Bem diferentes dos fenômenos espíritas são as visões que os santos tem.
Estas são totalmente gratuitas, não resultando de ritos previamente executados para as provocar. Não há dúvida, tais visões podem ser a resposta do Senhor a preces de almas justas desejosas de obter um sinal sobrenatural. Contudo, assim como o Senhor Deus pode atender a essas orações (caso isso ocorra para o bem dos fiéis), pode também não as deferir; nunca será lícito ao cristão crer que dispõe de meio seguro para se comunicar com as almas dos defuntos; todo o nosso intercâmbio com eles se realiza mediante insondável e soberana permissão de Deus. Mesmo quando uma pessoa devota julga estar sendo agraciada por visões, os mestres da vida espiritual aconselham-lhe toda a cautela na interpretação de tais fenômenos, pois Satanás não raro se dissimula em “anjo de luz” (cf. 2Cor 11, 14). As autênticas aparições de santos ou almas neste mundo (mesmo não provocadas) não são tão freqüentes quanto propalam as noticias!
Como se vê, este ponto de vista não se identifica com a posição dos espiritas, que afirmam poder entrar em contato com tal alma, por ocasião de tais ritos… Procedem como se ainda tivessem jurisdição ou poder sobre aqueles que não são mais da nossa convivência e cuja sorte só Deus conhece.
20.03.2011
2º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A
__ "O RISCO DA FÉ" __
Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Revelar-nos ao outro é um ato de confiança, porque lhe dá poder para intervir sobre nós, e partilhar a mesma vida como acontece na amizade e no matrimonio é deixar que seja envolvida toda nossa existência.
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Gn 12, 1-4a): - "Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar."
SALMO RESPONSORIAL (32/33): - "Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, venha a vossa salvação!"
SEGUNDA LEITURA (2Tm 1, 8b-10): - "Jesus Cristo não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho."
EVANGELHO (Mt 17,1-9): - "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!"
Homilia do Diácono José da Cruz – 2º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A
"O AMOR QUE TRANSFIGURA"
Para quem não conhece, o Monte Tabor onde teria ocorrido a transfiguração de Jesus, é uma alta colina localizada no Leste do Vale de Jizreel, 17 km a oeste do Mar da Galiléia e o seu topo está a 575 metros acima do nível do mar. Entretanto, não se pode afirmar com absoluta certeza, que essa referência geográfica no episódio da Transfiguração do Senhor, é verdadeira, principalmente quando se sabe, que o evangelista São Mateus escreveu para os Judeus e sempre há em seus relatos, uma forte relação entre Jesus Cristo e Moisés. De qualquer forma o texto nos revela que os discípulos Pedro, Tiago e João, fizeram essa profunda experiência, onde Jesus lhe revelou a sua Divindade. Não é por acaso que na narrativa de Mateus, aparecem ao lado de Jesus o Libertador Moisés e Elias, uma das maiores referências como profeta do Antigo Testamento, é uma catequese que tem como pano de fundo o Judaísmo, comprovando que Jesus é de fato io Messias, aquele que havia sido prometido na Escritura Antiga, e até prefigurado em alguns personagens da História de Israel. A partir de agora, a humanidade não irá mais precisar da Lei e dos Profetas, Jesus não trouxe uma nova Lei ou Aliança, Ele próprio é a Nova Aliança, aquele que de modo único e excelente nos revela o Pai.
Mas o que esse fato refletido no evangelho pelas comunidades de Mateus, tem a ver com a realidade das nossas comunidades cristãs? Sabemos que Jesus é Nosso Deus e Senhor, mas quais as consequências que esta Fé traz em nossa vida? A cada domingo, Dia do Senhor, Jesus convida todos os cristãos a “subirem a montanha”, isso é, a fazerem essa “ascese” nas nossas celebrações. Embora humana, com uma Liturgia que comporta elementos culturais, cada celebração é envolvida pelo Mistério de Deus, como a nuvem que desceu sobre a montanha.
No ambiente celebrativo de nossas igrejas cristãs, de muitos modos Jesus manifesta a glória da sua Divindade, mas de modo excelente na Eucaristia e na Palavra, onde mediante a Fé, podemos sim contemplar a sua glória, sentir a sua presença a conduzir, animar e alimentar os seus, em comunhão com Ele em torno de uma mesa que é a Mesa da Palavra ou da Eucaristia. Moisés e Elias são uma referência importante para todos nós, não como meros personagens históricos, mas como homens que fizeram a experiência de Deus, enquanto anunciadores de uma Libertação que em Jesus atinge a sua plenitude e transcende o meramente histórico, libertando-nos do mal do pecado. O profetismo de Elias anuncia a Palavra Libertadora, o homem nasceu para ser livre, mas a sua liberdade está em Deus, que não permanece impassível diante do sistema opressor que não considera o dom da Liberdade, por isso, a Palavra libertadora se faz ação em Moisés deus vê, ouve, desce e liberta o seu povo. Jesus eleva essa liberdade á sua plenitude, concretizando as promessas de Deus nesse sentido.
O entusiasmo de pertencer a uma comunidade cristã, o privilégio de poder fazer essa experiência com os irmãos e irmãs nas celebrações dominicais, pode nos levar a cometer o mesmo erro de Pedro: o de querermos permanecer apenas na dimensão celebrativa- contemplativa, acomodar-se na Mística e fazer da experiência com Cristo algo muito particular, é esse o significado de querer fazer tendas, e de fato muitos fazem, isolando-se na comunidade ou no seu grupo ou pastoral, achando que a vivência cristã se resume apenas nessa experiência religiosa.
Quando contemplamos a Divindade de Jesus e ficamos só nisso, sentimos medo, porque é impossível compreender um Deus revestido de glória, encarnado em nossa miséria humana. O Sagrado sempre e Sagrado sempre exerceu essa ambiguidade sobre o homem, o encanta, o atrai e fascina, mas também causa medo, quando se está diante do Mistério. Mas Jesus, que tocou nos discípulos, toca também em cada membro da comunidade: “Levantai-vos, não tenhais medo”. E ao descer da montanha, só vêem Jesus caminhando com eles pela encosta da montanha. Eis aqui o grande desafio, vermos Jesus no irmão ou irmã da comunidade, que caminha com a gente, perceber esse Deus extremamente humano, percorrendo nossos mesmos caminhos,, sem nunca deixar de ser o “Outro”, o Transcedente.
E assim, pela sua encarnação recebemos a Graça Divina, e podemos nos abrir para que o Espírito Santo nos renove, nos transforme e nos transfigure no dinâmico processo da conversão, e diferente dos apóstolos Pedro, Tiago e João, ao término da celebração, quando descemos da “montanha”, somos enviados para proclamar bem alto as maravilhas de Deus, a darmos testemunho do evangelho, mostrando que somente na Ressurreição do Senhor encontramos o sentido para a nossa vida terrena.
Derrubemos, portanto, as tendas do nosso comodismo, de uma Fé desvinculada da Vida, nesse segundo domingo da quaresma, e como o Patriarca Abraão, coloquemo-nos á caminho dessa Terra das Promessas, onde cada homem e cada mulher, vivendo em Deus, atingirá a felicidade em seu sentido mais pleno, irradiando em si, a mesma luz fulgurante do Cristo, Homem Deus e Deus Homem, o novo Moisés que nos conduz com segurança a esta terra, cuja estrada passa exatamente na experiência humana, estrada que nosso Deus feito homem também percorreu, e que nos conduz á glória de uma Vida em comunhão definitiva com Ele, que em Cristo nos aceitou também como “Filhos e Filhas, em quem Ele põe todo o seu agrado”. ( 2º Domingo da quaresma MT 17, 1-9)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 2º DOMINGO DA QUARESMA – ANO A
“Entre os boatos da vida”
“O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).
O Papa nos propõe, para esse domingo, algo bem concreto: distanciar-nos dos boatos da vida quotidiana para imergir-nos na presença de Deus. Logicamente, não podemos pensar que Bento XVI utilize a palavra “boatos” como sinônimo de “fofoca”. É muito mais! Esses “boatos” não se referem necessariamente a pecados, ainda que poderiam sê-lo. E, no entanto, esses boatos tem que ver com as feridas do pecado das quais falávamos na semana passada. Depois do pecado original, ou seja, o pecado que os primeiros representantes do gênero humano cometeram, a natureza humana foi ferida. A ignorância, a malícia, a concupiscência e a debilidade do ânimo são as quatro feridas que nos fazem cair nos “boatos da vida”. Quais? Poderíamos fazer uma lista enorme de ocasiões de pecado, distrações do que realmente vale a pena, tentações, questões ambientais malsãs, vícios, pecados. Mas não é o caso. O importante é que tenhamos bem claro que devemos afastar-nos de tudo aquilo que nos aparta de Deus.
Cada pessoa precisa ir vendo quais são essas coisas que poderiam levá-la a afastar-se de Deus. O cristão foi curado pela graça; a sua inteligência e a sua vontade, também as suas paixões e tudo aquilo que tem que ver com o seu ânimo, foram lavados pela graça de Deus e elevados pelas virtudes da fé, da esperança e da caridade, virtudes estas que nos permitem alcançar a Deus. No entanto, levando esse tesouro da graça e das virtudes em nós, não podemos esquecer-nos de que somos “pessoas que caminham rumo a Deus” e enquanto estamos a caminho poderia acontecer que, por um ou outro motivo, nos afastássemos de Jesus: caminho, verdade e vida (cfr. Jo 14,6). E isso seria terrível! Sair do caminho de Deus é perder-se!
Mas também poderia acontecer algo mais sutil: estando no caminho de Deus, seguir nos “boatos” da vida, ou seja, buscar-nos a nós e viver uma vida cristã pela metade. O Evangelho da Transfiguração nos diz que temos que viver “totalmente no céu e totalmente na terra”. Isso significa que enquanto temos a cabeça e o coração totalmente em Deus, os nossos pés estão bem apoiados na terra e tendo os pés em terra firme, em meio das nossas ocupações, não nos esqueçamos do Senhor. “Corações ao alto”, diz o sacerdote em cada Santa Missa. Nós respondemos dizendo que “o nosso coração está em Deus”. Mas, o nosso coração está realmente em Deus? Não somente durante a Missa, mas também noutros momentos, nas vinte e quatro horas do dia.
Sabe-se que o rei visigodo Leovigildo, no século VI, ameaçou o bispo de Mérida, Marona, com o desterro. Caso o prelado permanecesse fiel à fé católica e não se fizesse ariano, iria ao exílio. O arianismo era uma heresia muito estendida nesse período e que consistia em não aceitar a divindade do Filho de Deus. O bispo, ao ser ameaçado, disse ao rei: “eu não temo as ameaças. O exílio não me intimida de maneira alguma. O sr. poderia me enviar para um lugar onde Deus não está?” O rei disse ao bispo: “imbecil! Em que lugar Deus não estará?” Então o bispo continuou o seu raciocínio: “como o sr. sabe que Deus está em todas as partes, por que ameaçar-me com o desterro? Para onde eu for desterrado não me faltará a ajuda de Deus. Isso é tão certo que quanto mais o sr. me aflija, tanto mais a misericórdia de Deus me auxiliará e a sua clemência me consolará”.
O único desterro que seria realmente exilio para esse bom bispo era um lugar onde Deus não estivesse, mas como Deus está em todas as partes, é possível aproveitar sempre o auxilio e a clemência de Deus. Em meio dos boatos da vida, sejamos conscientes da presença de Deus. Ele está cuidando de nós continuamente, não abandonemos o Senhor porque ele não nos abandona nunca.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Doutrina e Apologética
Caríssimos Irmãos e Irmãs,
Transcrevo abaixo mais um texto de Doutrina da Santa Igreja, extraído do mesmo site, bastante interessante para Grupos de Estudo Bíblico.
Vejam também a página Roteiro Homilético para um maior entendimento da liturgia deste domingo. ATENÇÃO: a página Roteiro Homilético fica no site apenas durante esta semana; não guardamos arquivo dela, portanto, se desejarem guardá-la devem salvar a página ou imprimí-la.
Desejo a todos uma Santa e Feliz Semana, na Graça de Deus Pai.
Dermeval Neves
Webmaster - NPDBRASIL
É bom fazer promessas?
Em síntese: O presente artigo analisa a prática das promessas feitas a Deus ou aos santos por pessoas desejosas de obter alguma graça. Tal prática tem fundamentado na própria Bíblia (cf. Gn 28,20-22; 1Sm 1,11). Todavia verifica-se que os autores bíblicos faziam advertências aos fiéis no sentido de não prometerem o que não pudessem cumprir (cf. Ecl 5,4). No Novo Testamento São Paulo quis submeter-se às obrigações do voto do nazireato (cf. At 18,18; 21,24). Estas ponderações mostram que a prática das promessas como tal não é má. É certo, porém, que as promessas não movem o Senhor Deus a nos dar o que Ele não quer dar, pois Deus já decretou desde toda a eternidade dar o que Ele nos dá no tempo, mas as promessas contribuem para afervorar o orante, excitando neste maior amor. Acontece, porém, que muitas vezes os cristãos não têm noção clara do porquê das promessas ou prometem práticas que eles não podem cumprir. Daí surgem duas obrigações para quem tem o encargo de orientar os irmãos: 1) mostre-lhes que as promessas nada têm de mágico ou de mecânico, nem se destinam a dobrar a vontade de Deus, como se o Senhor se pudesse deixar atrair por promessas, à semelhança de um homem; 2) procure incutir a noção de que o cristão é filho do Pai e, por isto, não precisa de prometer ao Pai; o amor filial com que o cristão reze a Deus, é mais eloqüente do que a linguagem das promessas, que podem ter um sabor “comercial” ou muito pouco filial.
Comentário: Entre os fiéis católicos não é raro fazerem-se promessas a Deus ou a algum santo,… promessas de algum ato heróico a ser cumprido caso a pessoa receba a graça que deseja. Em conseqüência, fala-se de “pagar promessas”. Não raro os fiéis que prometem, depois de atendidos, não têm condições físicas, psíquicas ou financeiras para pagar as suas promessas. Sentem-se então angustiados, pois receiam que algo de mau ou um castigo lhes sobrevenha da parte de Deus por não cumprirem as suas “obrigações”. O problema é tormentoso e merece ser analisado desde as suas raízes, ou seja, a partir do conceito mesmo de piedade que os fiéis cristãos devem alimentar. É o que vamos fazer nas páginas subseqüentes, examinando: 1) a fundamentação bíblica, 2) a justificativa teológica das promessas, 3) a casuística ocasionada, 4) uma conclusão final.
1. Fundamentação bíblica
O costume de fazer promessas ou, segundo linguagem mais bíblica, votos tem origem na piedade popular anterior a Cristo. É documentado pela própria Bíblia, que nos mostra como pessoas, em situações difíceis necessitando de um auxílio de Deus, prometeram fazer ou omitir algo, caso fossem ajudadas pelo Senhor. Foi, por exemplo, o que aconteceu com Jacó, que, ao fugir para a Mesopotâmia, exclamou: “Se Deus estiver comigo, se me proteger durante esta viagem, se me der pão para comer e roupa para vestir e se eu regressar em paz à casa de meu pai,… esta pedra… será para mim casa de Deus e pagarei o dízimo de tudo quanto me concederdes” (Gn 28, 20-22). Ana, estéril, mas futura mãe de Samuel, fez a seguinte promessa: “Senhor dos exércitos, se vos dignardes olhar para a aflição da vossa serva e… lhe derdes um filho varão, eu o consagrarei ao Senhor durante todos os dias de sua vida e a navalha não passará sobre a sua cabeça” (1Sm 1,11). Alguns salmos exprimem os votos ou as promessas dos orantes de Israel; assim os de número 65. 66. 116; Jn 2,3-9.
A própria Escritura, porém, dá a entender que, entre os membros do povo de Deus, houve abusos no tocante às promessas: algumas terão sido proferidas impensadamente: “É melhor não fazer promessas do que fazê-las e não as cumprir” (Ecl 5,4). Havia também quem quisesse cumprir as suas promessas oferecendo o que tinha de menos digno ou valioso em vez de levar ao Templo as suas melhores posses; é o que observa o Senhor por meio do profeta Malaquias: “Trazeis o animal roubado, o coxo ou o doente e o ofereceis em sacrifício. Posso eu recebê-lo de vossas mãos com agrado?… Maldito o embusteiro, que tem em seu rebanho um animal macho, mas consagra e sacrifica ao Senhor um animal defeituoso” (Ml 1, 13s). Com o tempo os mestres de Israel procuravam restringir a prática das promessas, pois podiam tornar-se um entrave para a verdadeira piedade. No Evangelho Jesus supõe que certos filhos se subtraiam ao dever de assistir aos pais, alegando que tinham consagrado a Deus todo o dinheiro disponível:
“Vós por que violais o mandamento de Deus por causa da vossa tradição? Com efeito, Deus disse: “Honra teu pai e tua mãe” e “Aquele que maldisser pai ou mãe, certamente deve morrer”. Vós, porém, dizeis: “Aquele que disser ao pai ou à mãe: Aquilo que de mim poderias receber, foi consagrado a Deus, esse não está obrigado a honrar pai ou mãe”. Assim invalidastes a Palavra de Deus por causa da vossa tradição” (Mt 15, 3-6).
Todavia não consta que o Senhor Jesus tenha condenado o costume de fazer promessas como tal; ao contrário, os escritos do Novo Testamento atestam a prática de S. Paulo, que terá sido a dos cristãos da Igreja nascente e posterior:
“Paulo embarcou para a Síria… Ele havia rapado a cabeça em Cencréia por causa de um voto que tinha feito” (At 18,18).
“Disseram os judeus a Paulo: “Temos aqui quatro homens que fizeram um voto… Purificar-te com eles, e encarrega-te das despesas para que possam mandar rapar a cabeça. Assim todos saberão que são falsas as notícias a teu respeito, e que te comportas como observante da Lei” (At 21, 23s).
Em síntese, a praxe das promessas não é má, pois a S. Escritura não a rejeita, mas, ao contrário, torna-se objeto de determinações legais, como se depreende dos textos abaixo:
Lv 7,16: “Se alguém oferecer uma vítima em cumprimento de um voto ou como oferta voluntária, deverá ser consumida no dia em que for oferecida, e o resto poderá ser comido no dia imediato”.
Nm 15,3: “Se oferecerdes ao Senhor alguma oferenda de combustão, holocausto ou sacrifício, em cumprimento de um voto especial ou como oferta espontânea…”.
Nm 30,4-6: “Se uma mulher fizer um voto ao Senhor ou se impuser uma obrigação na casa de seu pai, durante a sua juventude, os seus votos serão válidos, sejam eles quais forem. Se o pai tiver conhecimento do voto ou da obrigação que se impôs a si mesma será válida. Mas, se o pai os desaprovar, no dia em que deles tiver conhecimento, todos os seus votos… ficarão sem valor algum. O Senhor perdoar-lhe-á, porque seu pai se opôs”.
Dt 12,5s: “Só invocareis o Senhor vosso Deus no lugar que Ele escolher entre todas as vossas tribos para aí firmar o seu nome e a sua morada. Apresentareis ali os vossos holocaustos,… os vossos holocaustos,… os vossos votos…”
Verifica-se, porém, que a prática dos votos nem sempre é salutar, merecendo por isto advertências da parte dos autores sagrados.
2. Qual a justificativa das promessas?
É certo que as promessas não são feitas para atrair Deus como se atrairia um homem poderoso, capaz de ser aliciado por dádivas e “pagamentos”; Deus não muda de desígnio; desde toda a eternidade Ele já determinou irreversivelmente dar-nos o que Ele nos concede dia por dia. Todavia, ao determinar que nos daria as graças necessárias, Deus quis incluir no seu desígnio a colaboração do homem que se faz mediante a oração; com outras palavras: Deus quer dar…, e dará…, levando em conta as orações que Lhe fazemos. Sobre este fundo de cena as promessas têm valor não tanto para Deus quanto para nós, orantes; sim, as promessas nos excitam a maior fervor; são o testemunho e o estímulo da nossa devoção; supõe-se que quem promete e cumpre a sua promessa, exercita em seu coração o amor a Deus; ora isto é valioso. Por conseguinte, quem vive a instituição das promessas em tal perspectiva, pode estar fazendo algo de bom, pois concebe mais amor e fervor. Diz o Senhor no Evangelho, referindo-se à pecadora que lhe lavou os pés pecados lhe estão perdoados” (Lc 7,47). Paralelamente diríamos, pode estar-se abrindo mais plenamente à misericórdia e à liberalidade do Senhor Deus.
3. E a casuística das promessas?
Há pessoas que, depois de receber o dom de Deus, se vêem embaraçadas para cumprir as suas promessas, porque não têm condições de saúde, de tempo ou de bens materiais para executar o que prometeram.
Que fazer?
- Antes do mais, afastem a hipótese, às vezes comunicada por religiões não cristãs, de que, se não “pagarem as suas obrigações”, estarão sujeitos a graves desgraças; na verdade, Deus não é vingativo nem é policial que pune contravenções, mas é Pai…, de tal modo que pensar em Deus deve despertar no cristão sentimentos de paz, confiança e alegria. Isto, porém, não quer dizer que o cristão despreocupadamente deixe de cumprir as suas promessas. Quem não as pode executar, procure um sacerdote e peça-lhe que troque a matéria da promessa. Esta solução condiz com os textos bíblicos que, de um lado, exortam a não deixar de cumprir o prometido (cf. Ecl 5,3), e, de outro lado, prevêem a insolvência dos fiéis e a possibilidade de comutação dos votos (ou promessas) por parte dos sacerdotes:
“Se aquele que fizer um voto não puder pagar a avaliação, apresentará a pessoa diante do sacerdote e este fixá-la-á; o valor será fixado pelo sacerdote de acordo com os meios de quem fizer voto” (Lv 27, 8; cf. Lv 27,13s.18.23).
Poderá acontecer que, em certos casos, o padre julgue oportuno dispensar, por completo, de certa promessa o fiel cristão.
A propósito convém incutir que, se alguém quer fazer uma promessa, evite propor certas práticas que são um tanto irracionais (como ocorre na peça “O pagador de promessas”); procure, ao contrário, prometer práticas não somente exeqüíveis e razoáveis, mas também úteis à santificação do próprio sujeito ou ao bem do próximo. Não tem sentido prometer algo que outra pessoa deverá cumprir, como é o caso de pais que prometem vestir o seu filho “de São Sebastião” no dia da festa do Santo; esta prática como tal não fomenta o amor a Deus e ao próximo. Quanto aos ex-voto (cabeças, braços, pernas… de cera), que se oferecem em determinados santuários, podem ter seu significado, pois contribuem para testemunhar a misericórdia de Deus derramada sobre as pessoas agraciadas; assim levarão o povo de Deus a glorificar o Senhor; mas é preciso que as pessoas agraciadas saibam por que oferecem tais objetos de cera, e não o façam por rotina ou de maneira inconsciente. Entre as práticas que mais se podem recomendar, apontam-se as três clássicas que o Evangelho mesmo propõe: a oração, a esmola e o jejum (cf. Mt 6,1-18). Com efeito, a S. Missa é o centro e o manancial, por excelência, da vida cristã, vida cristã que se nutre outrossim mediante a oração; a esmola e a colaboração com o próximo recobrem a multidão dos pecados (cf. 1Pd 4,8; Tg 5,20; Pr 10,12); o jejum e a mortificação purificam e libertam das paixões o ser humano, possibilitando-lhe mais frutuoso encontro com Deus através dos véus desta vida. Se a prática das promessas levar o cristão ao exercício destas boas obras, poderá ser salutar. Requer-se, porém, que os pastores de almas e os catequistas instruam devidamente os fiéis a fim de que compreendam que as promessas nada têm que ver com as “obrigações” dos cultos afro-brasileiros, mas hão de ser expressões do amor filial e devoto dos cristãos ao Senhor Deus.
4. Conclusão
Como se vê, a prática das promessas pode ser fundamentada na própria Bíblia. Verifica-se, porém, que já os autores sagrados lhe faziam certas restrições. Hoje em dia nota-se que freqüentemente alimenta uma mentalidade religiosa “comercial” ou amedrontada e doentia, gerando facilmente o escrúpulo mórbido. Muitas pessoas se sobrecarregam com promessas e mais promessas que elas não conseguem cumprir; em vez de fomentar a vida cristã, as promessas a prejudicam não raras vezes. Por isto é de sugerir que os cristãos reconsiderem tal costume, que de resto parece mais fundado numa concepção antropomórfica de Deus (concebido como o Grande Banqueiro, cuja benevolência é preciso cativar) do que na autêntica visão que o Cristianismo tem de Deus. Este é Pai, Aquele que nos amou primeiro, antes mesmo que O pudéssemos amar (cf. 1Jo 4,19.9s; Rm 5,7s); por conseguinte, somos seus filhos, certos de que o amor do Pai é irreversível ou não volta atrás, cientes também de que, antes que Lhe peçamos alguma coisa, Ele já decretou dar-nos tudo o que seja condizente com o nosso verdadeiro bem; diz São Paulo: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não nos terá dado tudo com Ele?” (Rm 8,32).
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb.
Nº 262 – Ano 1982 – Pág. 202.
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( Salmos )
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