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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 08/05/2011 - 3º Domingo de Páscoa - DIA DAS MÃES
. Evangelho de 01/05/2011 - 2º Domingo de Páscoa


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

08.05.2011
3º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A - DIA DAS MÃES
__ "JESUS RESSUSCITADO MANIFESTA-SE NA EUCARISTIA" __

Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! "Eles reconheceram o Senhor ao partir o pão". Esta observação, de caráter litúrgico, ritualiza para nós a experiência da primeira comunidade cristã, das refeições fraternas nas casas dos cristãos, lembrando o Senhor Jesus, suas palavras e seus gestos de salvação, seu sacrifício supremo. Só pode reconhecer o Senhor quem percorreu os caminhos dos problemas do homem, deles participando plenamente: o fracasso, a solidão, a busca pela justiça e verdade, a coerência em direção a um mundo melhor, a solidariedade. Então o Cristo, anônimo e misterioso companheiro, testemunha e interlocutor das hesitações e dúvidas, revela-se não como aquele que tem a solução para todas as questões, mas como alguém que, tendo aceito entrar no Plano de Deus, tornou-se o primogênito de uma nova humanidade. Entoemos cânticos jubilosos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (At 2,14.22-33): - "Jesus recebeu o Espírito Santo que fora prometido pelo Pai, e o derramou, como estais vendo e ouvindo agora."

SALMO RESPONSORIAL (15/16): - "Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós, felicidades sem limites!"

SEGUNDA LEITURA (1Pd 1,17-21): - "Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, e assim, a vossa fé e esperança estão em Deus."

EVANGELHO (Lc 24,13-35): - "Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!"



Homilia do Diácono José da Cruz – 3º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A

"CAMINHANDO COM JESUS"

Nhá Maria era uma senhora bem pobre que gostava muito de vir em nossa casa para receber alguma ajuda. Naquele tempo, o pedinte não era um estranho que causava medo e insegurança como hoje, e nós a acolhíamos na mesa da refeição, porque jamais minha mãe permitia que ela ficasse na porta ou na calçada, um filho de Deus tem que sentar-se á mesa, nos dizia sempre. Claro que os tempos eram outros e ninguém pensava em seqüestro ou assalto. Depois de ouvi-la atentamente, a conversa sempre terminava com a frase tão batida lá em casa, “Se for da vontade de Deus, tudo vai melhorar e dar certo”, que minha mãe dizia, enquanto preparava um cafezinho fresco que a Nhá Maria tomava antes de ir embora, toda agradecida, não sem antes ajudar a arrumar a cozinha.

Este evangelho mostra algo que hoje não se pratica muito em nossas relações: ouvir as pessoas, caminhar com elas, saber como está a vida, o que anda pensando ou sonhando, ou porque andam tristes. Passamos de carro, sempre apressados, e no máximo fazemos um aceno ou buzinamos para os conhecidos.

O caminhante que se junta aos dois peregrinos age diferente, percebe que estão tristes e desanimados, se junta a eles, quer saber o que aconteceu, qual a causa da tristeza, ouve com atenção e somente depois é que vai falar, não deixou suas inquietações sem uma resposta, não terminou a prosa com aquele jeito resignado “fazer o que, a vida é assim mesmo...” Como muitas vezes encerramos nossa conversa com alguém que está sofrendo ou desanimado. É bem verdade que os censurou por serem tão lerdos na compreensão da escritura antiga, mas a conversa foi agradável, marcada pela ternura, pois não se pode anunciar o evangelho com gestos bruscos e cara feia, como se quisesse dar uma lição de moral em quem ouve, isso é perda de tempo! O texto não deixa dúvidas quanto a isso, seus corações ficaram abrasados, enquanto Jesus lhes falava, levando-os a descoberta de algo novo, o sofrimento faz parte da vida, mas não é a última palavra.

Considerando-se a intencionalidade do autor, o texto trata de uma celebração eucarística, com duas partes bem distintas: a Palavra e a Eucaristia, aliás, coisa que nós cristãos herdamos do Judaísmo em uma junção da Sinagoga, lugar da reflexão da Palavra, e Templo, lugar do Sacrifício. Vivemos um tempo histórico diferente do que viveram esses discípulos, porém a situação é quase a mesma, achamos difícil perceber a presença do Senhor em meio a um quadro muitas vezes  desolador, e a história de Emaús, mais parece uma bela lembrança. Eis uma fé distorcida e fragilizada como a dos dois discípulos peregrinos! No coração do Cristão, Jesus Ressuscitado na maioria das vezes é alguém distante de nossa vida e de nossos problemas, parece que o Jesus da história é um, e o Jesus da Salvação é outro,

Pois o evangelho desse domingo, belíssimo por sinal, nos mostra que na comunidade, em cada celebração a história se repete o Senhor nos questiona sobre o que estamos falando pelo caminho desta vida, em que acreditamos, quais são nossas aspirações, o que queremos ver realizado. A palavra que celebramos nos fala da vida de Jesus e de nossa vida também, ela nos encoraja porque penetra em nosso coração, não se restringindo a um mero rito.

Uma caminhada com uma prosa saudável e edificante, fortalecedora e motivadora, não tem coisa mais revigorante neste mundo, assim é que Jesus vem ao nosso encontro em cada domingo. A palavra de Jesus que caminha com eles, não é conversa fiada, lamentação e choramingos, porque as coisas não vão bem, em casa, na comunidade, no trabalho ou na política, Jesus é alguém diferente, que encontrou um sentido novo e sua palavra renovadora, fortalecedora é revigorante, porque nos faz dar a volta por cima, por isso, aos seus discípulos de ontem e de hoje, ele vem confirmar o seu projeto de salvação, anunciando que a morte e a força do mal, não têm nenhum poder sobre o Reino que ele instalou no meio dos homens.

E depois de uma boa conversa, em uma mesa de refeição, Cleofas e seu amigo de caminhada sentem que não podem mais viver sem aquele homem, e o acolhem no coração, quando o conhecem no partir do pão, onde o Senhor partilha com eles seus sonhos e projetos de vida, que ajudam a construir o reino novo.

Não tenhamos medo de percorrer o caminho de Emaús, onde levamos, é verdade, nossos desânimos e fracassos, mas diante da palavra que nos aquece o coração, , manifestemos o desejo de que o Senhor fique sempre conosco, “Fica conosco Senhor pois é tarde, e a noite vem chegando”. E no pão que se parte e reparte, nos fortalecemos, e voltamos com pressa á nossa comunidade, onde não há mais noite, mas na fé caminhamos com os irmãos e irmãs, diante da luz sempre reluzente que é o próprio Deus, presente em Cristo - Jesus!

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 3º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A

Fica conosco, Senhor!

Mane nobiscum, Domine! Este foi o título daquela Carta Apostólica que o Beato João Paulo II escreveu um ano antes de morrer. Quem não se lembra do “ícone dos discípulos de Emaús” proposto pela Papa e que norteou o Ano da Eucaristia? Completou-se apenas uma semana desde a solene beatificação do querido João Paulo II em Roma. Que acontecimento tão comovente! Ele foi o Papa que a nossa geração conheceu e acompanhou durante tantos anos. Tantas recordações vêm à nossa mente! João Paulo II foi uma dessas pessoas que sabia, de maneira experiencial, que “Cristo é o caminho do homem” e por isso era consciente de que não somos nada sem ele, sem Jesus. Fica comigo, Senhor! Trata-se de uma bela oração, de uma frase altamente significativa para este segundo domingo do Tempo Pascal.

Bento XVI, com o coração cheio de gratidão a Deus, nos contava na semana passada, durante a homilia na Missa da beatificação, que durante os 23 anos que passou junto a João Paulo II, de 1982 a 2005, colaborando com ele, muito o tinha surpreendido a vida de oração no novo beato. Era uma pessoa imersa em Deus em meio às várias ocupações da jornada; era um homem de fé, de esperança e de uma preocupação constante pelos demais. Bento XVI falava que pela fé Simão se converteu em Pedro. Parafraseando o Papa, podemos afirmar que pela fé Karol Wojtyla se converteu em João Paulo II.

Fica conosco, Senhor! Que o Senhor permaneça conosco em pleno século XXI, no ano 2011, porque nós queremos continuar servindo a Deus e a todas as pessoas. “Nós queremos servir a Igreja como ela deseja ser servida”, não conforme os nossos caprichos ou gostos pessoais. O Santo Padre nos recordava também na já citada homilia como o Bem-aventurado João Paulo II soube descobrir as riquezas do Concilio Vaticano II, como ele se imergiu na doutrina conciliar e soube expressá-la de distintas maneiras. “O homem é o caminho da Igreja e Cristo é o caminho do homem”. Quem já não tinha escutado alguma vez essa frase tão significativa?

É preciso redescobrir essa realidade: a pessoa humana como caminho da Igreja para apresentarmos a cada ser humano o caminho que realmente é o seu, Cristo. Precisamos compreender as pessoas, amá-las, participar das suas alegrias e tristezas, entender o mundo no qual habitamos junto a elas, acompanhar as situações de pobreza e de riqueza, descobrir o poder da técnica e dos novos meios de comunicação.

Andar por um caminho que não se conhece é muito difícil! A Igreja, como entende que o homem é caminho para ela, se sabe e se declara “mestra de humanidade”: há dois mil anos a Igreja Católica tem acompanhado o ser humano, ela sim entende quem é a pessoa humana e sabe o que é melhor para ela. E nós temos que colocar todos os meios para que sejamos, na Igreja e como Igreja, mestres em humanidade. É preciso conhecer os nossos semelhantes através da simpatia e do amor, conduzidos pelo Espírito Santo, que nos faz apreciar retamente todas as coisas. O Senhor continua no meio de nós.

Cristo é o caminho do homem. Nós não podemos silenciar esta verdade. João Paulo II –afirmava o Papa Bento XVI– nos ensinou a não ter medo de ser cristãos e de pregar o Evangelho. Ele nos ensinou a beleza da fé através da verdade e do amor. Jesus continua atraindo as pessoas desde a cruz. Jesus Cristo continua atual, a sua mensagem nunca passará de moda, ele está sempre presente no hoje da história universal e pessoal.

Para permanecermos sempre com o Senhor, fiquemos sempre na companhia de Nossa Senhora. No domingo passado, Bento XVI também comentava a bem-aventurança de Maria, que é a da fé. Falava também do grande carinho do beato João Paulo II para com a Mãe de Deus. “Totus tuus!” (todo teu, Maria) era o lema do novo Beato. Maria que sempre sustentou a fé dos apóstolos, susteve também a de João Paulo II e sustém a nossa fé para que permanecemos com aquele que quer ficar sempre conosco.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético — 3º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (1Pd 1, 17-21)

O PAI: E se chamais de Pai a quem julga sem acepção de pessoas, segundo a obra de cada um, procedei em temor o tempo de vossa peregrinação (17). Et si Patrem invocatis eum qui sine acceptione personarum iudicat secundum uniuscuiusque opus in timore incolatus vestri tempore conversamini. A intenção do apóstolo é afirmar que a fé, e não as obras fundadas na lei de Moisés, é a que salva, pois foi o sacrifício de Cristo que com seu sangue pagou o resgate pelos pecados. E foi esta fé na ressurreição de Cristo que causa a esperança em Deus como Pai. Porém, Pedro não esquece que, em definitivo, a fé sem obras está morta (Tg 2, 20). É por isso que neste versículo chama a Deus o Pai que julga SEM ACEPÇÃO DE PESSOAS [aprosôpolêptôs<678>=sine acceptione personarum] O grego é um composto de a (sem) prosopôn (pessoa) e lambano (tomar) cujo significado é imparcialmente ou sem acepção de pessoas, que responde evangelicamente às palavras do Batista, sobre o julgamento divino na nova era messiânica: Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo (Mt 3,10) e em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo e queimará a palha com fogo que nunca se apagará (Mt 3, 12). Nesse juízo, segundo Paulo, Deus recompensará cada um segundo as suas obras, a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer o bem, procuram honra, glória e incorrupção, mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade (Rm 2, 6-8). Para deduzir que esse juízo é exato, pois para Deus não há acepção (prosopôlêpsia) de pessoas (idem 11). PROCEDEI [anastrafête<390>=conversamini] é o imperativo do aoristo do verbo anastrefö com o significado de revolver, retornar, reverter e como típico da conduta humana é comportar-se, conviver, proceder. Ou seja, devemos nos portar com esse temor saudável de nossa parte de perder o trem como vulgarmente se diz, porque as nossas obras não correspondem ao que deveríamos realizar. E o apóstolo acrescenta no tempo de vossa PEREGRINAÇÃO [paroikia<3940>=incolatus] a paroikia grega tem o significado de moradia em terra estranha, como vemos na outra ocasião em que aparece a palavra: O Deus deste povo de Israel escolheu nossos pais e exaltou o povo, sendo eles estrangeiros na terra do Egito (At 13, 17). Como adjetivo [paroikos] aparece também em 1Pd 2, 11 : peço-vos como a peregrinos [paroikous] e forasteiros. De modo que os fieis pertencem a uma paróquia ou grupo que na terra considera-se como peregrino na terra. A mesma palavra peregrino indicava em Roma um sujeito não cidadão, mas estrangeiro.

A REDENÇÃO: Sabendo que não por corruptíveis (meios) de prata e ouro fostes remidos da vossa inútil conduta tradicional (18). Scientes quod non corruptibilibus argento vel auro redempti estis de vana vestra conversatione paternae traditionis. CORRUPTÍVEIS [fthartoi<5349>=corruptibiles] a palavra grega indica uma coisa corruptível, perecível. A palavra sai 6 vezes no NT: 4 em Paulo e dois em Pedro, sempre com o significado de coisa perecível, que em si leva a corrupção e destruição de modo especial o homem (Rm 1, 23), pois seu corpo, uma vez que a morte toma conta de sua existência, chega a corromper-se de modo que todos sabem do resultado. Por isso, Paulo fala sempre da diferença entre o corpo mortal corruptível e o corpo dos ressuscitados, incorruptível e imortal (1Cor 15,53). Pedro trata do ouro e da prata como coisas corruptíveis, ou seja, perecíveis máxime dando a elas um valor praticamente nulo, pois não podem ser usados eternamente. Pedro alude aqui ao resgate (lytron) usando o verbo remir [lytro<3084>=redimere] próprio do preço pago em ouro ou prata pelo livramento de um escravo. Pedro coincide com Paulo ao definir a obra de Cristo como um resgate de escravos que se em Paulo é do pecado e da morte, aqui, falando aos pagãos neoconversos, é dos cultos politeístas, que define como inúteis [mataias<3152>=vana] palavra que em grego significa sem força, inútil, desnecessário, imprestável, fútil, vão. Inútil conduta é a expressão que a Setenta e o NT aplicam ao culto dos ídolos como vemos em At 14, 15: Vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, dirá Paulo aos de Icônio. E aos de Éfeso: E testifico no Senhor para que não andeis como andam os outros gentios, na vaidade [mataioteti] da sua mente (Ef 4, 17). Eram costumes que tradicionalmente receberam de seus antecessores.

O SANGUE DE CRISTO: Mas com precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e mancha, de Cristo (19). Sed pretioso sanguine quasi agni incontaminati et inmaculati Christi. Pedro agora define qual foi o preço do resgate: o sangue de Cristo, que ele chama de PRECIOSO [timios<5093>=pretiosus] o termo grego indica um valor precioso, um grande preço, de muita estima, especialmente caro. Nada menos que o de Cristo a quem compara com um cordeiro sem defeito e sem mancha como eram os escolhidos para o sacrifício. É o que Paulo afirma em 1 Cor 6, 20: fostes comprados a bom preço. Um comentário de Pelágio diz: se comprado por um preço pequeno, de um escravo se exige plena servidão, quanto mais exigirá de nós que nos comprou por um preço altíssimo? A figura de Cristo como cordeiro pascal é coisa conhecida pelos primeiros cristãos e fundamentada nos escritos evangélicos. O Batista o define como cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29), coisa que o próprio escritor do quarto evangelho reafirma ao atribuir a Jesus na hora da morte dos cordeiros pascais esta profecia: isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: Nenhum dos seus ossos será quebrado (Jo 19, 36). E Finalmente Paulo em 1Cor 5, 7: Cristo nossa Páscoa foi sacrificado por nós. Diante destas palavras que cremos tão claras como poderemos interpretar as de um moderno comentarista afirmando que REDENÇÃO é um termo metafórico que implica uma mudança de situação sem que Cristo tenha pago nada. A Cristo ele custou muito, mas não no sentido de preço, que é pura imagem. Falar de seu sangue e falar de sua morte não implica necessariamente num sacrifício expiatório que tem o sentido pagão de volver favorável a um Deus ofendido. (É que os sacrifícios expiatórios não existiam entre os judeus? Ver Êx 29, 33 e 30, 10 em que o animal para a expiação é precisamente um carneiro [ayil<352>] para a expiação [kippur<3725>]).

PLENITUDE DOS TEMPOS: Já de antemão conhecido desde (a) fundação do mundo, mas manifestado em últimos tempos por causa de vós (20). Praecogniti quidem ante constitutionem mundi manifestati autem novissimis temporibus propter vos. CONHECIDO DE ANTEMÃO [proegnôsmenou<4267>=precognitus] o verbo é composto de pró [antes] e gignoskò [conhecer] com o qual temos um preconhecimento. O texto diz desde a FUNDAÇÃO DO MUNDO [katabolê <2602> kosmou<2889>=constitutio mundi] uma frase que em Mateus 13, 35 significa desde que houve habitantes na terra é o mesmo que o reino preparado desde a fundação do mundo (Mt 25, 34). Também Lucas fala do sangue de todos os profetas derramado desde a fundação do mundo (Lc 11, 50). O conhecimento era, sem dúvida, o que tinha Deus em seus planos ocultos e que foi revelado como diz Paulo na plenitude dos tempos, (Ef 1, 10) e não em outras gerações (Ef 3, 5). O conhecimento estava reservado aos tempos messiânicos que eram considerados como a última etapa da História ou plenitude dos tempos em que Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei (Gl 4, 4). POR VÓS [di ymas<5209>=propter vos] é uma expressão que indica a finalidade do sacrifício de Cristo: se imolou por nós pois como diz Paulo em Gl 2,20 todos podemos dizer que vivemos a nossa vida na fé, como crucificados com Cristo, que nos amou e se entregou por nós, cujo sangue foi derrammado por nós (Lc 22, 20).

A ESPERANÇA CRISTÃ: Os crentes por causa dele em Deus, o qual o ergueu dentre os mortos e deu-lhe glória, de modo que a vossa fé e esperança estejam em Deus (21). Qui per ipsum fideles estis in Deo qui suscitavit eum a mortuis et dedit ei gloriam ut fides vestra et spes esset in Deo. CRENTES [pisteuontas<4100>=fideles] na realidade muitos manuscritos têm pistous [fideles] ou fieis que para o sentido total não introduz muita diferença. Por causa de acreditar em Cristo temos a segurança de que Deus que o ressuscitou dentre os mortos será a nossa glória como foi a de Cristo de modo que a fé seja causa de uma esperança que o próprio Deus avalia.

EVANGELHO Lc 24, 13-35
OS DISCÍPULOS DE EMAÚS

EMAÚS: Ora, eis que dois deles estavam caminhando nesse dia a uma vila, distante sessenta estádios de Jerusalém, de nome Emaús (13). Et ecce duo ex illis ibant ipsa die in castellum quod erat in spatio stadiorum sexaginta ab Hierusalem nomine Emmaus. EMAÚS: Seu nome significa banhos quentes e era uma vila [komes], ou seja, um conglomerado de casas rústicas para servir de habitações para os camponeses e outros, chamados teknos [marceneiro, pedreiro e ferreiro numa só pessoa] com uma população talvez inferior a 400 habitantes. Na atualidade, existe um local a 60 estádios ou aproximadamente 10 Km de distância de Jerusalém, que corresponde ao relato de Lucas. O Emaús bíblico [El- Qubeibah] está situado ao lado de uma via romana que ia de Jerusalém ao mar. Perto existe uma fonte que diz era onde Jesus lavou os pés após a caminhada com os dois discípulos.

A CONVERSA: E eles conversavam entre si acerca de todas as coisas acontecidas (14). E sucedeu que, enquanto eles conversavam e discorriam, também ele, (o) Jesus, tendo-se aproximado, caminhava com eles (15). Et ipsi loquebantur ad invicem de his omnibus quae acciderant Et factum est dum fabularentur et secum quaererent et ipse Iesus adpropinquans ibat cum illis. ACONTECIDAS [Symbebëkotön <4819>=acciderant]: Evidentemente eram os sucessos da morte de Jesus e de sua desaparição, tendo como sinal de discussão o sepulcro vazio. Era o domingo e o acontecido estava recente em suas mentes. Disso falavam entre si enquanto caminhavam. DISCORRIAM [Syzëtein <4802>=quaererent]: O verbo grego significa buscar, inspecionar, examinar e também debater, comentar. Temos optado por um verbo neutro como discorrer, ou seja, comentar em sentido de querer compreender o que tinha sucedido, pois para eles, os fatos não tinham uma razão compreensível. Nesse momento, Jesus, que no grego tem o artigo determinante para indicar que era Ele precisamente, uniu-se a eles, como nova companhia.

OLHOS IMPOSSIBILITADOS: Porém, os olhos deles estavam travados de modo a não o reconhecerem (16). Oculi autem illorum tenebantur ne eum agnoscerent. TRAVADOS [Ekratounto <2902>=tenebantur]: Segundo o sentir da época, os olhos tinham dentro uma espécie de lanterna ou lâmpada, que se iluminava e assim podiam ver as coisas (Mt 6, 22 e Lc 11, 34). O verbo grego Krateö significa agarrar, se manter firme, resistir, conter, e por isso, optamos por travar; daí entupir, estar fechado. Os seus olhos estavam atenazados, segurados; o latim diz tenebantur [estavam retidos ou reprimidos]. A consequência é que Jesus não foi reconhecido. NÃO O RECONHECERAM: Muitos falam de que na ressurreição existe uma diferença corporal que transforma a aparência natural, como viram os apóstolos o rosto de Jesus no monte Tabor. Ou melhor, como foi a aparência que tomou Jesus ao aparecer a Maria Madalena (Jo 20, 14) ou aos discípulos na margem do lago (Jo 21, 4-7). Sem dúvida que Jesus não tomou a aparência usual de seu rosto terreno, para não causar pânico ou medo, como devia ser, caso vissem um morto ressuscitado que seria tomado por um fantasma (Lc 24, 37).

A PERGUNTA: Então lhes disse: Quais as palavras essas que discorríeis entre vós, caminhando; e (por que) estais tristes?(17). Et ait ad illos qui sunt hii sermones quos confertis ad invicem ambulantes et estis tristes. Sem dúvida que Jesus fala sobre o que pode escutar deles entrando na conversa sem produzir sobressalto algum. Foi um encontro normal entre caminhantes. No versículo 21 explica a causa da tristeza como sendo a perda de uma grande esperança que a morte tinha defraudado.

A RESPOSTA: Tendo respondido então, um deles, de nome Cléofas, disse-lhe: tu só dos que moras em Jerusalém e não conheces as (coisas) acontecidas nela nestes dias? (18). Et respondens unus cui nomen Cleopas dixit ei tu solus peregrinus es in Hierusalem et non cognovisti quae facta sunt in illa his diebus. CLÉOFAS: O grego diz Kleopas<2810> que o latim traduz por Cléophas e que aparentemente pode ser uma abreviatura de Cleopatros nome grego que significa [filho] de pai ilustre. Alguns distinguem entre este Kléopas e um outro que em grego tem um nome parecido, Klöpas[<2832>=Cleophas], mas que o latim traduz da mesma forma. Este Cleophas [latino] é o esposo da irmã de Nossa Senhora, também chamada Maria, a de Klöpas, e que estava ao pé da cruz, segundo João 19, 25: a irmã de sua mãe, Maria a de Köplas [Cleophas em latim, Cléofas português e Cleofás castelhano]. Klöplas tem a mesma origem que o aramaico Achab<0256> e significa tio. Como a mulher tinha o mesmo nome de Maria, [a da mãe de Jesus] daí deduzimos que Klöpas era realmente o irmão de José, esposo de Nossa Senhora e que a sua mulher era cunhada e ao mesmo tempo era a mãe de Tiago, chamado o menor e irmão de Jesus. Klöpas é a tradução aramaica de Cleopas. Kleopas e Klöpas eram, pois, a mesma pessoa, ou seja, tio de Jesus por parte de pai. Há quem, por esta circunstância, identifica Kleofas com Alfeu ou Alfaios, que em Mt 10, 3 se diz ser o pai de Jacob ou Tiago. Em todo caso ao indicar um nome, Lucas quer nos dizer que o relato tem uma boa fonte testemunhal. Que é uma narração de primeira mão.

PERGUNTA JESUS: Então lhes disse: Quais? Eles, pois, lhe disseram: as coisas acerca de Jesus o Nazoraio (sic), que se tornou homem profeta poderoso em obra e palavra diante de (o) Deus e de todo o povo (19). E como os chefes dos sacerdotes e os dirigentes [civis] o entregaram a um juízo de morte e o crucificaram (20). Quibus ille dixit quae et dixerunt de Iesu Nazareno qui fuit vir propheta potens in opere et sermone coram Deo et omni populo. Et quomodo eum tradiderunt summi sacerdotum et principes nostri in damnationem mortis et crucifixerunt eum. NAZORAIO [Nazöraios<3480>=nazarenus]: Qual é a diferença entre Nazareno e Nazoraio? Sem dúvida que nazareno significa oriundo de Nazaret. Mas que Significa nazoraio? Segundo alguns, a distinção está em que nazoraio vem de Naziyr [<05139>=sanctificentur] e que se traduz como Nazirado em português (nazireato em espanhol e italiano). Em Nm 6, 2: era o nome dado aos consagrados a Deus com voto especial, tanto homens como mulheres. Podia ser perpétuo como o caso do João, o Batista (Lc 1, 15); ou temporário, como em Paulo (At 18, 18). Pouco sabemos de como se fazia e temos muito maior conhecimento dos ritos para terminar esse estado especial. A Setenta usa o Euchë [<2171>=votum] voto, sem usar uma palavra para o Nazir. O voto impedia toda bebida de vinho ou fermentada, o corte de cabelo e o afastamento de todo cadáver mesmo do pai ou da mãe. Não parece que Jesus tivesse feito esse voto, pois bebia e comia (Mt 20, 22) e não teve inconveniente em tocar um cadáver (Mc 5, 41 e Lc 7, 31). Nazarenos [<3479>=nazarenus] é propriamente latim e Nazöraios é grego. Temos o exemplo em João 19, 19 no título da cruz em que usa o grego Nazöraios. Mateus em 2, 23 usa o mesmo Nazöraios como apodo próprio de Jesus. Uma única vez, em Lucas, vemos o Nazarene [de Nazaré] em 4, 34: Que a mim e a ti Iësou Nazarëne? Dirá o demônio. É Marcos quem usa o Nazarenos (grego latinizado) com o qual temos uma prova de que ele escreveu para os gregos de Roma. Cremos que nas três passagens de Marcos (1, 24; 14, 67 e 26, 6) o nome Nazarenos, tem um final latinizado e, portanto, equivale ao grego geográfico Nazöraios. Pois a terminção os é própria do patronímico grego, enquanto a nus é própria do latim. Estavam tristes, porque esse Jesus era PROFETA [profëtës <4396>=propheta]. Tanto o grego como o latim acrescentam homem (anër/vir) de modo a ser a tradução varão profeta a mais exata. Fundamentalmente profeta é quem fala em nome de Deus, iluminando e orientando a vida e a história do povo, denunciando tudo que seja ruptura com a aliança. Jesus reivindica para si mesmo essa condição de profeta (Mt 13, 57, Lc 13, 33 ; Jo 6, 14 e 7, 40). Poderoso em obra e palavra. Dos profetas do AT sabemos que pelo menos Elias e Eliseu realizaram milagres além de falar em nome de Jahveh. E este poder extraordinário foi em Jesus testemunho de sua palavra como procedente de Deus: Se não credes em mim, crede nas obras (Jo 10, 38). Por isso, era profeta diante de Deus e de todo o povo. Como muitas vezes, a palavra Deus está acompanhada do artigo determinante o que ressalta o verdadeiro Deus dos muitos deuses pagãos da época. Os chefes dos sacerdotes [archiereis <749> = summi sacerdotum]. A maioria das versões vernáculas traduz por sumos sacerdotes (exemplo TEB). É verdade que um sumo sacerdote mantinha o título por vida e que em tempos de Jesus exixtiram muitos que obtiveram o título porque o cargo era venal e mudava quase anualmente; Josefo fala que houve 28 sumos pontífices entre Herodes e os anos 64, um total de 170 anos, o que dá um a cada dois anos e meio. Mas, neste caso, significa chefes dos sacerdotes (príncipes de los sacerdotes –diz Nácar Colunga e a KJB fala de chief priests), como parece indicar o latim [summi sacerdotum], que segundo Josefo eram os chefes das principais famílias além dos que tinham sido sumos pontífices e o atual chamado Nasi, que presidia a tribuna, o Sagan, o tesoureiro do templo e outros. E os nossos dirigentes [archontes <75,8> = príncipes], que também eram chamados de bouletes [conselheiros] ou dygnatoi, [dignatários] que eram os aristocratas das famílias mais ricas da cidade. Lucas, que em 9, 22, claramente alude aos três componentes do sinédrio, aqui não diz nada sobre a terceira parte do mesmo que era formada pelos escribas. Sem dúvida que estes últimos, como respeitados pelo povo, tinham entre seus membros Nicodemos que se opôs à condena de Jesus (Jo 7, 50). O entregaram [paredökan <3860>=tradiderunt] O verbo tem como significado entregar uma pessoa ou coisa nas mãos de outra. Daí atraiçoar como em Mt 5, 25 te entregue nas mãos do juiz. A entrega terminou com a morte em cruz, a mais horrível e humilhante para um romano e a mais maldita para um judeu. Deus não podia permitir semelhante morte para um profeta seu. Morrer nas mãos do príncipe inimigo, como o Batista nas de Herodes Antipas, era um martírio; mas na cruz era uma maldição.

ESPERANÇA VÃ: Já que nós esperávamos que viesse libertar Israel. Mas já sobre estas coisas prevalece o terceiro dia desde que passaram elas (21). Nos autem sperabamus quia ipse esset redempturus Israhel et nunc super haec omnia tertia dies hodie quod haec facta sunt. E explicam a causa de sua tristeza que, em definitivo, é uma perda de esperança: Jesus tinha fomentado a esperança messiânica [libertação de Israel] e agora tudo acabou. Nestas palavras está resumido o sentimento mais profundo e a alma de todos os discípulos de Jesus. Tanto esforço, tanta ilusão perdida. Tudo foi um sonho bonito que agora se transforma em dolorosa desilusão. Eram três dias de profunda tristeza, como o Mestre tinha anunciado Klausete [plorabitis=lamentareis] e thrënësete [flebitis= chorareis] (Jo 16, 20), como faziam as plangentes na morte dos que pranteavam.

OS RUMORES: Mas também certas mulheres das nossas nos deixaram surpresos havendo estado muito de manhã sobre o túmulo (22). E não tendo encontrado o corpo dele, voltaram dizendo também ter visto uma visão de anjos os quais dizem que ele está vivo (23). E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e encontraram assim como as mulheres falaram, mas a ele não viram (24). Sed et mulieres quaedam ex nostris terruerunt nos quae ante lucem fuerunt ad monumentum et non invento corpore eius venerunt dicentes se etiam visionem angelorum vidisse qui dicunt eum vivere et abierunt quidam ex nostris ad monumentum et ita invenerunt sicut mulieres dixerunt ipsum vero non viderunt. Havia, porém uma coisa estranha que eles duvidavam fosse realidade interessante: Temos traduzido o mais literalmente possível, respeitando tempos de verbos e significado das palavras. O caso é que os dois discípulos se mostraram tão céticos como hoje muitos dos leitores do evangelho, que só admitem como históricos o sepulcro vazio e a ausência do corpo. As visões e aparições são tidas como imaginárias, sem fundamento real. Jesus não aparece como apareceu Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima. A Virgem não era vista pelos assistentes. Era, pois, uma aparição interna sem que uma máquina fotográfica pudesse recordar a cena. Mas no evangelho de hoje temos a resposta: ele tinha um corpo como um homem qualquer. Precisamente a ¨cegueira¨ dos dois discípulos de Emaús, indica que ele não foi uma aparição do tipo que certos teólogos indicam: ele, para todos os efeitos, era de carne e osso, indistinguível como se fosse um homem comum. Os evangelistas distinguem perfeitamente a visão dos anjos [vestes resplandecentes], que podem ser semelhantes às aparições de Fátima, das aparições de Jesus durante os 40 dias: é o mesmo Jesus de sempre, o Jesus ainda não transformado porque não tinha ido ao Pai (Jo 20, 17). Quer dizer que só depois da Ascensão ele tomou o corpo espiritual que dirá Paulo (1 Cor 15, 43-45)? É uma hipótese que não tem nada contra a teologia e que não pode ser descartada, já que a visão de Paulo de Jesus Ressuscitado parece ser uma visão, cuja fonte era a luz (At 9, 3). Neste trecho, escrito muito antes do evangelho de João, segundo o que nos diz a tradição, temos um resumo das primeiras aparições de Jesus que concorda plenamente com o relato joanino. Estes dois evangelistas devem ser tomados como base real do sucedido e não como descrição catequética do mesmo.

APOLOGIA DE JESUS: Então ele lhes disse: Ó sem inteligência e tardos no coração para crer em todas (as coisas) que falaram os profetas! (25). Et ipse dixit ad eos o stulti et tardi corde ad credendum in omnibus quae locuti sunt prophetae. Começa censurando-os: Sem entendimento e tardos de mente [coração no original]. Usando termos mais claros poderíamos traduzir por tontos e estúpidos, não no sentido de um insulto, mas de um fato certamente real e comprovável. A compreensão das Escrituras não depende unicamente da graça de Deus, mas também da disposição de ânimo do leitor. Com uma mente perturbada por prejuízos como a dos saduceus, que não admitiam a ressurreição, era impossível admitir a de Cristo. Com uma mente como a moderna em que o milagre é menosprezado, é lógico que os relatos dos evangelhos sejam tomados exatamente como os das mulheres foram aceitos pelos discípulos: lendas, fantasias.

A INTERPRETAÇÃO: Certamente, não convinha Cristo padecer essas coisas e entrar na sua glória? (26). E começando desde Moisés e desde todos os profetas interpretava-lhes em todas as Escrituras os (acontecimentos) acerca dEle (28). Nonne haec oportuit pati Christum et ita intrare in gloriam suam. Et incipiens a Mose et omnibus prophetis interpretabatur illis in omnibus scripturis quae de ipso erant. Jesus, como companheiro de viagem, se torna agora mestre de sabedoria para interpretar as Escrituras, fazendo apologia de sua paixão: Era necessário que o Ungido [Messias] padecesse, para assim entrar na sua glória [a posse do seu reino]. O verbo Deo [<1163>=oportuit] significa atar, e em termos teóricos obrigar, por estar sujeito a uma lei. O singular impessoal dei significa uma obrigação iniludível, porque estava escrito, isto é: era um plano de Deus transmitido através dos profetas (25). E começando por Moisés, diz Lucas. Na realidade, Moisés diretamente não fala do Messias a não ser em Dt 18, 15: Javé, teu Deus suscitará um profeta como eu, no meio de ti, dentre os teus irmãos, e vós o ouvireis. Temos uma outra citação em Gn 3, 15: A descendência da mulher esmagará tua cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar. Porque o Pentateuco era o livro escrito por Moisés, ao menos substancialmente. Além destas profecias que podemos chamar diretas e que são as únicas que nos tempos modernos aceitamos como verdadeiras, não podemos esquecer que, muitas vezes, os antigos viam na Escritura tipos e imagens do futuro como verdadeiras profecias. Entre esses tipos temos Isaac levando a lenha para o sacrifício que ia ser executado pelo pai, mas que no último momento foi substituído por um carneiro (Gn 22, 6-14). Temos a serpente de bronze, da qual o próprio Jesus comentou que era sua figura (Nm 21, 8 e Jo 3, 14). Também podemos ver nos sacrifícios ordenados por Moisés, figuras do sacrifício de expiação pelos pecados da Nova Aliança de Jesus, especialmente no dia do Yom Kippur pelo holocausto do bode expiatório (Lv cap 9), que a epístola aos hebreus, no capítulo 9, afirma ser figura imperfeita de Jesus. Pelo que diz respeito aos outros profetas, tais como Davi nos salmos 22, 1-31, Isaías 53, 1-12 e Daniel 9, 1-27 as referências são muito notáveis. Por isso Jesus interpretava as Escrituras, embora não saibamos em que termos, pois o evangelista não o declara.

FICA CONOSCO: Então se aproximaram da vila para a qual caminhavam e Ele pareceu passar adiante (28). E o coagiram dizendo: fica conosco já que é a tarde e o dia declina. Então entrou para ficar com eles (29). Et adpropinquaverunt castello quo ibant et ipse se finxit longius ire. Et coegerunt illum dicentes mane nobiscum quoniam advesperascit et inclinata est iam dies et intravit cum illis. Só devido a uma pequena dificuldade para a volta, vamos explicar o vocábulo grego por TARDE [espera <2073> =advesperascit]. De fato, o original diz que é a tarde [substantivo] e não que é tarde [adjetivo, fora do tempo]. A Vulgata com o verbo advesperascit indica que já chegou a tarde. Esta começava às três horas, e era o momento do almoço. O dia, ou melhor, a luz do dia acabava às seis horas.

AO PARTIR O PÃO: E sucedeu ao se recostar ele com eles, tomando o pão, (o) abençoou e tendo (o) partido (o) dava a eles (30). Et factum est dum recumberet cum illis accepit panem et benedixit ac fregit et porrigebat illis. Segundo a Mishná, se são três os que devem comer juntos, são obrigados a benzer a mesa, porque se são três os que comem juntos não podem separar-se para a bênção (Berajot 7, 4). Segundo a tradição judaica, na liturgia da Páscoa após a segunda copa, copa de Haggadá [das narrações da tradição] se iniciava o banquete com a bênção da mesa, feita pelo pater-famílias sobre o pão ázimo: tomava o pão e o abençoava com estas palavras: Louvado sejas tu, Senhor nosso Deus, Rei do mundo que fazes sair o pão da terra. Os comensais respondiam Amém; e, na continuação, o pai de família repartia o pão. O pai da casa tomava o último pedaço e começava a comer; com isso ele dava o sinal para todos de que o banquete tinha começado.

OS OLHOS SE ABRIRAM: Os seus olhos então se abriram e conheceram-no e Ele se tornou invisível para eles (31). Et aperti sunt oculi eorum et cognoverunt eum et ipse evanuit ex oculis eorum. É precisamente nesta bênção e no partir o pão que os dois discípulos reconhecem a pessoa de Jesus. Os olhos se abriram e o reconheceram. Os três sinóticos falam de como Jesus, erguendo os olhos ao céu (exemplo Lc 9, 18) e abençoando o pão partiu-o e o entregou a seus discípulos. A oração, entre os judeus, sempre se fazia com o olhar baixo, em sinal de submissão; e Jesus pronunciava o nome de Pai no lugar do Adonai usual entre os conterrâneos. Os olhos, que estavam travados, agora reconheceram o Mestre; mas não puderam gozar da visão por muito tempo, porque a figura que foi seu acompanhante no caminho, agora se desvaneceu. Ele se tornou invisível [afantos] a eles. A palavra grega indica um não ser visto, um desvanecer ou desaparecer. Indica que é assim que nós vamos encontrar o Cristo: desvanecido nas Escrituras, e sem poder ver seu rosto, que pela fé encontramos no partir o pão, como os dois contaram aos onze [que na realidade eram dez] após a volta de Emaús.

OS DISCÍPULOS: Então disseram entre si: não estava ardendo nosso coração dentro de nós enquanto falava conosco no caminho e nos abria as Escrituras?(32). E tendo se levantado, na mesma hora, voltaram para Jerusalém e encontraram reunidos os onze e os que (estavam) com eles (33), dizendo que ressuscitou o Senhor verdadeiramente e foi visto por Simão (34). Et dixerunt ad invicem nonne cor nostrum ardens erat in nobis dum loqueretur in via et aperiret nobis scripturas. et surgentes eadem hora regressi sunt in Hierusalem et invenerunt congregatos undecim et eos qui cum ipsis erant dicentes quod surrexit Dominus vere et apparuit Simoni. Somente eram dez, mas como Lucas não narra a aparição particular a Tomé, daí que ele o inclua entre os apóstolos e fala dos onze. Quando chegam os de Emaús que particularmente não pertenciam aos onze, encontram junto com estes, outros discípulos congregados e falando de que realmente Jesus tinha ressuscitado e tinha sido visto por Simão [Pedro]. Esta aparição é confirmada por Paulo: Apareceu a Cefas e depois aos doze (1 Cor 15, 5). Vemos como aqui também o número 12 é usado como uma relação genérica, sem incluir no caso a Judas e Tomé.

SEU TESTEMUNHO: Então eles contaram as coisas no caminho e como foi por eles conhecido ao partir o pão (35). Et ipsi narrabant quae gesta erant in via et quomodo cognoverunt eum in fractione panis. Então eles acrescentaram sua história que, além de vê-lo vivo, continha uma lição de como interpretar as Escrituras. Jesus não olvidava seu ministério de Rabi, como Mestre de seus discípulos. É um fato, que muitos exegetas apresentam como significativo, que Ele fosse reconhecido ao partir o pão. Ele foi pela primeira vez reconhecido como rei após a primeira multiplicação dos pães, quando os abençoou e partiu (Mt 14, 19) e depois mandou que os discípulos os dessem à multidão. Esse foi o momento em que a multidão o declarou como o profeta que deveria vir ao mundo e alguns até queriam torná-lo rei (Jo 6, 14-15). Foi também ao partir o pão que Ele foi reconhecido pelos dois discípulos.

PISTAS:

1) A pergunta inicial: Por que a vida é sempre vencida pela morte? Por que o mal sempre triunfa do bem? O Pai abandona o Filho Jesus, ou este era simplesmente um impostor? Essencialmente as perguntas que se faziam os dois discípulos eram estas. Jesus não usa o raciocínio humano para responder, mas os escritos sagrados. Sem Jesus, as Escrituras não têm mais sentido que o dado pela comemoração de uma História particular e parcial do povo hebreu. Em Jesus encontraremos a culminação da História e a razão de nossa história porque em Jesus encontramos a justificação de como o mal deve ser vencido pelo bem: pelo sacrifício da própria vida para que, perdendo-a, outros a encontrem e a vivam melhor.

2) S. Agostinho afirma que o Senhor foi conhecido ao partir o pão; e também o conheceremos hoje ao partir o pão: a) O pão da Eucaristia onde o encontramos substancialmente. b) O pão repartido entre os necessitados, com os quais ele quis se identificar.

3) A vida, como uma dádiva de Deus, está se tornando uma circunstância para gozar da mesma sem sentido de solidariedade. Os cristãos não param na dádiva, mas no Senhor da mesma e vemos, como sendo Ele amor e ela produto do amor, devemos responder com amor. Ou seja, como entrega e não como posse definitiva. Por isso o padecer temporal é a base para a glória definitiva.

4) Apareceu a Simão: ele era o irmão que devia manter a fé dos irmãos (Lc 22, 32). A contrariedade e o sofrimento nos tornam fracos em nossa fé. Mas é aí onde a fortaleza de Deus se manifesta (2 Cor 12, 10). Os judeus pediam milagres e profecias (Lc 22, 64 e 23, 8) e os romanos poder, porque, quando Pilatos ouviu que Jesus veio a dar testemunho da verdade, o desprezou (Jo 18, 38). Mas é essa verdade que Jesus afirma: o Messias deve sofrer e assim unicamente entrar na glória do seu reino (25).


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01.05.2011
2º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A
__ "JESUS RESSUSCITADO MANIFESTA-SE NA ASSEMBLÉIA DOMINICAL" __

Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! O evangelho apresenta a aparição de Jesus ressuscitado num quadro "litúrgico". Os discípulos estão reunidos, no domingo à noite (dia da ressurreição) e novamente oito dias depois. Jesus apresenta-se com os sinais gloriosos da paixão; transmite-lhes, com seu Espírito, os dons pascais resumidos na paz, na reconciliação; confirma-lhes a fé e anuncia a bem-aventurança dos que creram sem tê-lo visto. Entoemos cânticos jubilosos ao Senhor!

(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (At 2,42-47): - E, cada dia, o Senhor acrescentava ao seu número mais pessoas que seriam salvas."

SALMO RESPONSORIAL (117/118): - "Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! Eterna é a sua misericórdia!"

SEGUNDA LEITURA (1Pd 1,3-9): - "Graças à fé, e pelo poder de Deus, vós fostes guardados para a salvação que deve manifestar-se nos últimos tempos."

EVANGELHO (Jo 20,19-31): - "Bem-aventurados os que creram sem terem visto!"



Homilia do Diácono José da Cruz – 2º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A

"VIMOS O SENHOR!"

Uma boa pergunta, para entrar no clima desse evangelho, seria essa: será que sabemos declinar os nomes daquelas pessoas que faltaram na celebração do último domingo? Será que as conhecemos, sabemos onde moram e por que não vieram?Nas grandes comunidades de nossas metrópoles isso é quase impossível, mas nas pequenas comunidades as pessoas se conhecem mais e tem uma convivência mais consistente, a ponto de podermos presenciar o testemunho, como o da Dona Maria, que em certo domingo, após a celebração, saiu as pressas para visitar uma das comadres “Ela não é de faltar, vou na casa dela para falar dessa maravilhosa celebração, saber o que aconteceu, e se precisa de alguma ajuda”

Naquele domingo, Dia do Senhor, Tomé faltou na celebração, o evangelista não informa o por que, as pessoas tem suas razões, seus motivos e não podem ser julgadas por não estarem presentes. A comunidade estava ainda muito tímida, se reunindo de portas fechadas, por medo dos Judeus, com muitas dúvidas e incertezas no coração sobre o seu futuro. Não muito diferente das pequenas comunidades de hoje, que ás vezes se preocupa muito com a quantidade de membros participantes, não se dando conta de que o que realmente importa, é a qualidade, isso talvez explique o surgimento de tantas comunidades alternativas, formadas por leigos que querem viver mais profundamente a comunhão de vida. Observe-se porém, que qualidade não se refere à questão de uma vida moral, pois sob esse aspecto não há comunidade perfeita, mas uma qualidade nos padrões do evangelho, que se reflita em uma comunhão de vida, amizade, convivência, solidariedade, em uma estima e uma relação fraterna, que supera as paredes da igreja templo.

Com medo, inseguros, mas unidos na Fé e em perfeita comunhão, assim nos é apresentada a comunidade primitiva onde o Ressuscitado se manifesta, trazendo o Shalon da Paz e as marcas visíveis da paixão, prova irrefutável do amor pelos seus. Os discípulos se alegraram ao verem o Senhor, pois quando a comunhão se torna completa porque o Senhor está ali, o sopro do seu Espírito os recria. Essa presença misteriosa de Jesus em nossas comunidades, também hoje nos renova e fortalece, transformando nosso medo em coragem, a nossa dor e tristeza em alegria, o desânimo em entusiasmo, superamos as dificuldades, as nossas fraquezas, porque ele, o próprio Cristo vai à nossa frente, conduzindo a sua Igreja há três milênios da nossa História, onde nem mesmo os erros e pecados da própria Igreja conseguiram impedir que o Reino de Deus avançasse em sua peregrinação por este mundo, rumo a plenitude, “As portas do Inferno não prevalecerão contra ela”, palavra do próprio Jesus, explicitando que nenhuma manifestação do Mal, de dentro ou fora da Igreja, irá prevalecer sobre ela, impedindo-a de realizar a sua missão de anunciar o Reino, inaugurado por Jesus.

E naquele dia, segundo a narrativa de João, os discípulos saíram da celebração encantados, tocados pela palavra de Jesus e da sua presença grandiosa, vivificante e renovadora. Mas, e o irmão Tomé, o que houve com ele, por que não tinha comparecido? Eles notaram a sua ausência. “Nossa, como as pessoas desanimam fácil...Aquele ali é turista, vem de vez em quando...Aquela outra só vem em missa de sétimo dia ou batizado...E aquele ali, que só vem na missa do Padre Fulano....Ah ele não veio porque amanheceu na “gandaia” e não tem fé, como nós...” Como é fácil julgar e condenar as pessoas que não vêm na celebração! As más línguas não perdoam...

Os discípulos não mandaram recado, não fizeram cobrança e nem ficaram “espinafrando” Tomé, mas fizeram coisa bem melhor, indo até a casa dele, como fez a Dona Maria, de quem lhes falei, para anunciar a maravilhosa experiência que tiveram com Jesus no encontro dominical: “Vimos o Senhor!” E então aconteceu o imprevisível. Tomé não acreditou que o Senhor apareceu a eles. Que ducha de água fria, quando em nosso anúncio nos deparamos com alguém que não acredita! Achamos que é uma perda de tempo anunciar o evangelho em certos ambientes, achamos que é gastar boa vela com mau defunto. Não sabemos o desfecho da conversa, nem como terminou a visita à Tome, mas certamente os irmãos o incentivaram a comparecer, foram compreensivos, pois se o tivessem ofendido, taxando-o de desaforado pela falta de fé, certamente Tomé seria mais um a mudar de religião.

Assim, o evangelho mostra a história de uma comunidade que resgatou alguém fragilizado na fé, integrando-o à vida de comunhão, onde não só ele viu e tocou no Senhor, como testemunhou publicamente a sua Fé, quando se prostrou exclamando contrito “Meu Senhor e meu DEUS!”.
Jesus é o único e verdadeiro Sacramento do Pai, na comunidade o ouvimos e tocamos nessa graça sacramental, e o nosso coração se enche de uma incontida alegria.Somos discípulos, mas também missionários do Pai, e os “Tomés” de nossas comunidades esperam por nós...

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 2º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A

Meu Senhor e meu Deus!

Trata-se de uma bela profissão de fé e de um ato de adoração magnífico. Quão necessário é esse reconhecimento de Deus na própria vida e na sociedade atual! Na cultura do progresso e da técnica, da informação e das facilidades comunicativas, da exaltação do poder do homem e da cultura do mínimo esforço, o cristão tem que saber propor a aceitação de Deus, a profissão de fé na Trindade Santíssima e amor que provém de um coração renovado pela graça do Cristo Ressuscitado.

A Igreja deve continuar com o seu grito sem ruídos espaventosos a favor da primazia de Deus e dos valores espirituais em meio ao materialismo, hedonismo e relativismo reinantes. O cristão deve fazer ressoar esse grito em qualquer lugar onde se encontre, já que todo cristão é Igreja. Ainda que percebamos que há momentos em que o mal parece dominar a situação, é preciso manter a fé de que o bem sempre tem a última palavra e que nós, filhos e filhas de Deus, somos a voz de Jesus Cristo no meio do mundo.

Ninguém pode manter-se afastado dessa responsabilidade! Ninguém pode desinteressar pela salvação dos demais! Um cristão egoísta, preocupado somente consigo mesmo, e com horizontes que se restringem ao seu microcosmo, está perdendo tempo. Nós fomos feitos servos uns dos outros. A primeira leitura de hoje mostra como os primeiros cristãos viviam: na escuta da Palavra de Deus, na participação da Eucaristia, na oração constante, unidos, desprendidos dos bens materiais, no louvor de Deus e na caridade fraterna. Imitemos os nossos antepassados porque o resultado não decepciona: “O Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação” (At 2,47). Os primeiros cristãos tinham dificuldades? Claro que sim. E não eram poucas: perseguições, divisões, egoísmos, misérias humanas em definitiva. No entanto, o frescor de um ideal que enchia as suas vidas os fazia seguir adiante com a esperança de chegar à santidade, à entrega cada vez mais plena ao Senhor Jesus. Assim sendo, podiam dizer com a consciência em paz: Meu Senhor e meu Deus! Nós também, com essa luta constante por ser santos podemos dizer que Jesus é nosso Deus e Senhor.

A Igreja não arrebanha mais gente e as multidões não vêm correndo às nossas paróquias porque nem sempre vivemos esse estilo de vida evangélica dos primeiros cristãos. Sem dúvida, na sociedade atual, entre os valores que mais se admirariam nos cristãos estariam a generosidade e o consequente desprendimento dos bens materiais. Atualmente, há uma preocupação geral pelo bem estar, pelo acúmulo de posses e de bens de consumo que causam admiração num coração magnânimo. A preocupação por ganhar dinheiro numa sociedade cada vez mais competitiva tem conduzido a muitas pessoas ao sacrifício de tantas realidades importantes que deveriam ocupar um lugar mais destacado na vida cotidiana: estar em família, cuidar dos mais necessitados, cultivar os bens do espírito e da cultura, saber descansar de maneira inteligente e serviçal. Alegremo-nos: Deus fez o Domingo! Talvez é esse o momento de lembrarmos que há um mandamento que reza que devemos “guardar domingos e festas”.

Temos que descobrir o valor da harmonia na própria vida. Saber conjugar o trabalho e o lazer, a família e os amigos, a gravidade e a diversão, o calar-se e o expressar-se, faz a vida mais agradável e ajuda a evitar as enfermidades que se encontram entre as que mais êxito tem nos nossos tempos: o estresse e a depressão. O coração do ser humano é tão grande que não pode contentar-se somente com o material, por mais abundante que seja. Toda pessoa necessita da adoração a Deus, de relacionar com um ser transcendente, de abrir-se ao mistério de Cristo morto e ressuscitado para a nossa salvação, ou seja, para a nossa felicidade temporal e eterna.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético — 2º DOMINGO DE PÁSCOA – ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

Evangelho ( Jo 20, 19-31)
PRIMEIRA APARIÇÃO AOS DOZE

1ª PARTE: JESUS APARECE AOS DISCÍPULOS

OS LUGARES PARALELOS: Temos, além do relato de João, outros dois paralelos, muito mais breves, como corresponde a um resumo auricular e não a um testemunho ocular. São Marcos 16, 14-18 e Lucas 24, 36-49. Contrastaremos todos eles para determinar o grau de historicidade e o valor teológico das afirmações como catequistas bíblicos.

TEMPO: Sendo, portanto, o entardecer naquele dia o primeiro da semana e as portas trancadas donde estavam os discípulos reunidos por medo dos judeus, veio o Jesus e ficou em pé no meio e diz-lhes: paz convosco (19). Cum esset ergo sero die illo una sabbatorum et fores essent clausae ubi erant discipuli propter metum Iudaeorum venit Iesus et stetit in medio et dicit eis pax vobis João é o mais detalhado neste respeito: estando, pois, aquele dia perto do fim [opsies], o primeiro da semana, temos traduzido por entardecer. Comparado com o relato de Lucas anterior ao sucesso de João, que este não narra, da aparição aos dois de Emaús, parece que temos uma pequena contradição de tempo. Os dois de Emaús pedem a Jesus que fique, pois está na tarde e o dia já há declinado [temos traduzido literalmente]. Como pode dizer João que depois de uma caminhada de sessenta estádios, aproximadamente 9 mil metros, ou duas horas de caminho ainda era a tarde do dia? Vamos explicar esta aparente contradição. A tarde começava às quinze horas. Era este também o tempo em que se iniciavam as jantas. O dia, na primavera palestina, termina entre 17:30 e 18 horas. Caso estejamos, segundo Lucas, no início das 16 horas teremos mais duas horas de volta e os dois discípulos estariam com os doze às 18 horas, precisamente o fim do dia como afirma João. OS DISCÍPULOS: Além dos doze [melhor onze, porque Judas estava morto] estavam os dois de Emaús e provavelmente mais, dentre os quais logo nos Atos se dirá eram cento e vinte. Dentre os onze faltava Tomé o chamado Dídimo. Tanto Tomé como Dídimo significam o mesmo: gêmeo. Como diz Lucas estavam reunidos os onze (!) e seus companheiros comentando uma aparição a Pedro [Simão] (Lc 24, 33-34) que João não narra porque ele não foi testemunha do fato. Temos uma falha de informação em Lucas porque não sendo ele testemunha narra na totalidade, os onze, quando na verdade faltava um: Tomás. Também vemos como em Marcos existe uma narração formal e genérica, quando resume todas as aparições afirmando finalmente que apareceu aos onze quando estavam à mesa e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração, porque não haviam dado crédito aos que o tinham visto ressuscitado (34, 14). Vemos que esta última afirmação é só em parte verdadeira  como constatamos em Lucas 24, 34. Esta falta de detalhes indica claramente que eles tratam o assunto na sua generalidade, como um fato que transcende a história e forma parte da tradição. Não assim em João onde hora, lugar e circunstâncias permitem conhecer o que uma testemunha viu e ouviu. Por isso temos dois detalhes importantes: o medo aos judeus [propriamente jerosolimitanos] e as portas fechadas, ou melhor, trancadas. JESUS VEIO: É desta forma como aparece para estar na frente de todos a figura do ressuscitado. Nada de ruídos, de resplendor, de experiências impactantes. Como entra a luz quando uma janela é aberta, assim o corpo de Jesus entrou e se colocou no meio deles. A PAZ: A figura na frente deles não é uma estátua; fala e comerá logo, para demonstrar que não é um espírito, uma fantasia, um fantasma. Mas vamos agora estudar suas palavras. A primeira palavra de Jesus é uma saudação que podemos dizer entra dentro do costume ambiental: PAZ. A palavra hebraica Shalom da qual a grega Eirene e a latina Pax são traduções, significa evidentemente ausência de guerra e vida tranqüila Lc 14, 32, mas também significa bênção, glória, riqueza, descanso, bem-estar, saúde física, esperança de êxito, justiça, salvação: ou seja tudo que acostumamos chamar de estado feliz. Especialmente paz e justiça aparecem unidas (Mt 5, 9-10). A paz é dom precioso de Deus (1 Cor 1, 3). Daí que o futuro Messias, Jesus em definitivo, seja antes de  tudo um porta-voz da paz e inclusive se identifique com ela (Rm 5, 1). É o Messias que a comunica por meio do Espírito como antecipação da paz definitiva (Rm 14, 7). Se a primeira vez, a palavra pode ter o significado de uma saudação (19), quando é repetida pela segunda vez, tem um significado profundamente teológico: ela é a base do Espírito que transforma os discípulos em enviados do Pai, recebendo o principal carisma da nova era: o espírito de reconciliação que basicamente é perdão. Algo novo está ocorrendo; e esse algo novo é um bem divino:  essa profunda e definitiva paz, que Deus está disposto a partilhar como doador com simples seres humanos.

AS CHAGAS: E dito isto, mostrou-lhes as mãos e o seu lado; alegraram-se, pois, os discípulos vendo o Senhor (20). Et hoc cum dixisset ostendit eis manus et latus gavisi sunt ergo discipuli viso Domino. Jesus mostrou suas chagas: mãos e pés, segundo Lucas (24, 39) e mãos e lado, segundo João (20, 21). Lucas declara o propósito dessa prova como demonstração  de que ele era o mesmo Jesus crucificado que tinha sido depositado no sepulcro e não um fantasma. Nem a afirmação de Lucas nega a de João nem esta poderá ser tomada como contraditória à de Lucas. Máxime que João distingue duas aparições: uma só para Tomé em que pede que este introduza a mão no lado, daí que o lado era mais importante para João do que as chagas do pé. Lucas só traz uma aparição, porque para ele o importante era que Jesus tinha sido visto pelos onze. Isto explica  as diferenças entre os dois. Não todos os detalhes são importantes, mas só aqueles que do ponto de vista do autor contribuem para demonstrar ou confirmar seu propósito. Desde este momento, Jesus será o crucificado, ou seja, aquele que em seu corpo apresenta umas feridas que inicialmente foram vergonha e humilhação, mas que desde agora, seriam glória e exaltação. O Jesus-homem, filho de Maria [filho do homem] agora se apresenta como o Cristo-Senhor verdadeiro filho de Deus [Cristo Deus].

O PERDÃO DOS PECADOS: Disse-lhes então o Jesus de novo: Paz convosco. Como me enviou o Pai também eu os envio (21). E dito isto, soprou e diz-lhes: recebei um espírito divino(22). Se de alguns perdoardes os pecados, são a eles perdoados, se de alguns retiverdes, retidos são (23).. Dixit ergo eis iterum pax vobis sicut misit me Pater et ego mitto vos. Hoc cum dixisset insuflavit et dicit eis accipite Spiritum Sanctum. Quorum remiseritis peccata remittuntur eis quorum retinueritis detenta sunt A nova missão dada por Jesus aos discípulos está intimamente unida ao perdão dos pecados. Por isso Jesus repete de novo Shalom lekem [Eirene ymin grego, ou Pax vobis latino]. Mas esta paz não é uma saudação, mas uma doação, um presente divino que é um perdão pela conduta imprópria dos discípulos durante os dias de paixão e morte de Jesus. Jesus esquece e perdoa. Sua paz, que é felicidade e alegria por sua presença viva no meio deles, quer ser uma reconciliação sem recriminações nem censuras. O perdão é total. O desejo de Jesus vai além do simples perdão. Jesus pretende dar aos discípulos um novo ministério: uma função divina como dom totalmente extraordinário que requeria um ato solene, visível e simbólico; ou seja,  uma ação sacramental em que o homem é instrumento visível da ação interior divina. A missão atual é totalmente diferente da dada aos doze (Mt 10, 1 +) e aos discípulos (Lc 10, 1+) que unicamente consiste em anunciar a Boa Nova e testemunhá-la com poder de curar e autoridade sobre os demônios. É uma missão nova que participa da missão fundamental do próprio Jesus, que vamos estudar na continuação. Jesus não só envia os discípulos, mas também o Paráclito (Jo 16, 7). E a missão dos discípulos está na mesma ordem da missão do Paráclito. É, pois uma missão muito importante.

MISSÃO DE JESUS: Como o Pai me enviou, dirá Jesus. Com estas palavras Jesus afirma o sentido de sua vida: Ele é um enviado do Pai, um mensageiro que tem como finalidade o que a continuação descreve como doação aos seus discípulos: o perdão. Que Jesus era enviado do Pai temos clara confirmação em Jo 5, 30 e 36. Mas qual foi a  missão fundamental de Jesus? O anjo anuncia um Salvador que será Cristo-Senhor (Lc 2, 11). No nome da pessoa estava escrita a missão de sua vida. Por-lhe-ás o nome de Jesus, pois ele salvará seu povo de seus pecados (Mt 1, 21). E o Batista descreve o futuro Messias declarando-o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). A missão de Jesus se cumpre no momento de sua morte quando pode exclamar: está consumado (Jo 19, 30). Pouco antes, ao ser elevado na cruz, reclama do Pai o perdão; e o mais admirável é que esse perdão não é para os amigos, mas para os inimigos: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23, 34). Foi para essa hora[de paixão] que ele veio (Jo 12, 27). O perdão é uma amostra de que Deus é Pai e de que a justiça de Deus é clemência para quem recebe o evangelho como a Boa Nova da graça: O ano de graça do Senhor (Lc 4, 19 e Is 61, 2). Na última ceia declara o mistério encerrado na cruz como o sangue a ser derramado em prol da multidão para o perdão dos pecados (Mt 26, 28) e João na sua primeira carta resumirá esta missão afirmando: o sangue de seu Filho nos limpa de todo pecado (1 Jo 1, 7).

MISSÃO DOS DISCÍPULOS: 1)Jesus a identifica com a sua: como o Pai me enviou assim eu vos envio (21). Um favor deve ser tomado em sentido o mais amplo possível, sem restrição, como dizem os letrados em Direito. Perdoar não é só usar palavras, mas contribuir com ações, unindo-se à sua paixão para que os novos sofrimentos atuem como causa segunda do perdão, o qual Paulo já expressava numa frase de difícil interpretação: Em minha carne estou completando o que falta às tribulações de Cristo em favor de seu corpo que é a Igreja (Cl 1, 24). E como tal corpo de Cristo, também ele (sendo parte da Igreja) sofre e adquire méritos para a conversão dos pecadores, como muitos santos sofreram e S. Agostinho confirma em seus escritos. A Deus só podemos dar o nosso sofrimento de quem entrega sua vida, perdendo-a como prova do amor (Rm 5, 8). E nisso consiste precisamente o sacrifício (Ef 5, 2). 2) Jesus realiza uma ação que relembra pelo verbo usado a mesma de Gênesis 2, 7, segundo a setenta, quando Deus soprou sobre o barro para dar vida ao corpo inerte. Logo teremos uma vida nova dada aos discípulos. Até agora Jesus nunca fez gesto semelhante que implicava modo diferente de ser discípulo. 3) As palavras que explicam a ação de Jesus formam um só conjunto com a missão e o sopro, que tem como significado o perdão dos pecados. Aqui não encontramos menção do Evangelho, não aparece o Reino, não deixa os efeitos salutares aos ouvintes da palavra, mas os efeitos são dirigidos aos presentes, todos eles alegres e com viva fé no Senhor: Se perdoais serão os pecados [dos outros] perdoados, se não os perdoais [os retiverdes forçosamente, segundo o grego] não estarão perdoados. Os hemistíquios finais de cada frase estão na voz passiva o que significa uma ação direita de Deus. Poderíamos traduzir livre, mas literalmente a nova missão apostólica desta forma: Deus perdoará a quem perdoardes; e Deus não perdoará a quem não perdoardes. O melhor comentário é o do Beato Isaac della Stella: A Igreja nada pode perdoar sem Cristo e Cristo nada quer perdoar sem a Igreja. A Igreja não pode perdoar senão a quem é penitente, isto é, a quem Cristo tocou com sua graça; e Cristo nada quer considerar como perdoado a quem despreza a sua Igreja.4) Por issoa condição indispensável do penitenteé seu amor por Cristo, segundoas palavras do próprio Jesus: Eu vim chamar os pecadores ao arrependimento (Lc 5, 32) e seus muitos pecados lhe são perdoados porque amou muito; mas aquele a quem pouco se perdoa ama pouco (Lc 7, 47) ou em termos mais ocidentais: A quem pouco ama, pouco se perdoa.

INTERPRETAÇÃO: Que podemos dizer desta segunda missão dos discípulos chamados a perdoar os pecados? ANTES do século XVI todas as Igrejas admitiam que os apóstolos e seus sucessores tinham o poder ministerial de perdoar os pecados dos fiéis em nome de Cristo. DEPOIS, com a vinda da Reforma, os evangélicos afirmam que este poder e este encargo são entregues a todos os discípulos; de fato a todos os fiéis de todos os tempos (Jo 17, 20) e não a Pedro em particular (Mt 16, 19) ou a um ordo sacerdotal (Lc 24, 48). O perdão não é dado por meio de um poder ministerial causado por uma recepção do Espírito; porém, escutando o testemunho dos fiéis, os homens acreditarão (seus pecados lhes serão perdoados) ou se escandalizarão (seus pecados lhes serão retidos). Estas são as novas afirmações dos chamados evangélicos. A igreja Romana admite como certo que o poder dado por Cristo de perdoar os pecados se exerce também no Batismo e na pregação da palavra (Mc 15, 16). Todo sacerdote no final da leitura do evangelho diz: Pelos vocábulos ditos, sejam perdoados nossos delitos. O teólogo Bruce  Vawter declara que este dom do Espírito está aqui relacionado explicitamente com o poder outorgado à Igreja para continuar ostentando o caráter judicial de Cristo no referente ao pecado. Mas há algo mais: especialmente da passagem atual temos duas definições dogmáticas que interpretam a Escrituras em sentido histórico ou literal: A PRIMEIRA definição é do Concílio de Constantinopla (ano 553) proclamando que quando o Senhor insuflou sobre os apóstolos, estes recebem realmente e não figurativamente  o Espírito Santo. A SEGUNDA é do Concílio de Trento, declarando anátema do ponto de vista católico, a interpretação desta passagem como não se referindo à potestade de perdoar e reter os pecados no sacramento da penitência, mas somente restringida à autoridade de pregar o evangelho.

LUGARES PARALELOS: Em primeiro lugar temos a passagem da confissão de Pedro: E te darei as chaves do Reino dos Céus: E se alguma coisa ligares sobre a terra, estará ligada nos céus. E se alguma coisa desatares sobre a terra estará desatada nos céus (Mt 16, 19). Pedro recebe de Jesus uma autoridade que é jurídica como chefe do conjunto apostólico. É definitivamente o poder de admitir ou rejeitar dentro da comunidade homens e ideias como fundamentalmente afins ou inimigas às mensagens verdadeiras do evangelho. Uma outra passagem é: Em verdade vos digo que tudo que por quaisquer motivos ligares sobre a terra estará ligado no céu. E tudo que por qualquer causa desligares sobre a terra estará desligado no céu (Mt 18, 18). Trata-se do mesmo direito de admitir ou rejeitar homens e doutrinas, porque este versículo é a conclusão de como tratar aquele que não querem se arrepender, uma vez que rejeita a voz da Igreja. Nesse caso será tratado como gentio ou publicano. Uma terceira passagem está em Tiago 5, 16: Confessai, pois, uns aos outros os vossos pecados e orai uns pelos outros para que sejais curados. O contexto indica que é nos momentos de doença em que o doente chama os presbíteros da Igreja para ser ungido e a oração da fé salvará o doente e o Senhor o porá de pé; e se tiver cometido pecados, estes serão perdoados (15). Uma quarta passagem é encontrada em 1 Jo 9: Se confessarmos os nossos pecados, ele (Deus) é fiel e justo de modo que demita nossos pecados e nos limpe de todas as maldades. Finalmente Pedro, à pergunta dos ouvintes, que devemos fazer, dirá: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados (At 2, 18). Destes textos deduzimos: 1o) Que Cristo realmente tem poder para entregar sua autoridade como faculdade a ser exercida visível e externamente sobre os homens . 2o) Que pelo menos de duas formas desde os tempos apostólicos essa potestade era usada: no batismo e na doença. Temos como confirmação os casos de Ananias (At 5, 1-11) e do incestuoso de Corinto (1Cor cap 5) em que o pecado é retido e punido.

PARTE: SEGUNDA APARIÇÃO

OITO DIAS: E dentro de oito dias, de novo estavam dentro os discípulos dele e Tomé junto com eles. Vem o Jesus, trancadas as portas, e ficou de pé no meio e disse: paz convosco (26). Et post dies octo iterum erant discipuli eius intus et Thomas cum eis venit Iesus ianuis clausis et stetit in medio et dixit pax vobis. TOMÉ: Seu nome hebraico significa o mesmo que Dídimo em grego: gêmeo, como o evangelista João diz em 11, 16. Somente João dá alguns detalhes de sua presença entre os apóstolos. Vamos e morramos com ele dirá em Betânia do outro lado do Jordão (Jo 11, 16). Era um homem que não se acalma com meias verdades e quer saber o significado próprio das palavras: Senhor, não sabemos aonde vais, como vamos saber o caminho? (Jo 20, 14). Ele estava com os outros pescadores na beira do mar quando Jesus aparece aos sete discípulos que intentavam pescar (Jo 21, 2). Este último evento indica que Tomé era também de Betsaida, amigo de Pedro e de João. Seu desejo de conhecer a verdade foi sem dúvida a base para o chamado evangelho de Judas Tomé, o Gêmeo, que teve uma inusitada influência entre eruditos desde a descoberta de Nag Hammadi. Num programa de History Chanel o dito evangelho é tomado como mais antigo do que os evangelhos da cruz como apelidam os canônicos que retraem [não sei com  que critérios] até 40 ou mais anos após a morte de Jesus, ou seja, após o ano 70, ano da destruição de Jerusalém. Aproveito para dizer um fato incontestável: No capítulo 15 da primeira carta aos de Corinto temos em essência o evangelho: Transmiti-vos em primeiro lugar aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as escrituras. Foi sepultado; ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas e depois aos doze (1 Cor 15, 3-5). Porém todos afirmam que esta carta foi escrita três anos após a visita de Paulo aos de Corinto, que sucedeu entre 52-53 de nossa era. Em definitivo 20 anos após a morte de Jesus. Podemos dizer com a mesma segurança que o evangelho de Tomé foi escrito antes desse evangelho básico dos primeiros cristãos? Porque o dito evangelho só é um evangelho em que Jesus é Mestre de Sabedoria e não redentor e vítima pelos pecados, que ressuscita no terceiro dia. Ou será que a dúvida de Tomé a respeito da ressurreição de Jesus se tornou certeza e por isso, só os ditos do mestre valiam a pena de serem escritos? A FÉ DE TOMÉ: Ela veio de uma visão direta do Ressuscitado: Estavam de novo reunidos, oito dias depois, os discípulos e desta vez estava Tomé com eles. De novo as portas estavam fechadas. Atravessar as paredes é um fenômeno que modernamente vemos como parte da parapsicologia e não do milagre. É o fenômeno chamado aporte, definido como aparições de objetos que atravessam obstáculos como paredes, muros e corpos opacos de todo gênero ou mesmo vindos de longe. Encontramos exemplos em Edivino A Friderichs no livro <Panorama da Psicologia ao alcance de todos> paginas 162-167. O aporte é um fenômeno físico comprovável e até certo ponto experimental, não porque saibamos as causas e possamos explicar o fenômeno em si, mas porque, sem truques, podemos observá-lo e pode ser objeto das experiências de nossos sentidos, ou seja, da ciência experimental. Ora bem: se não sabemos explicar um fenômeno que acontece sem outra intervenção aparente que a mente humana, e não podemos duvidar de sua existência, como poderemos afirmar que o que a ciência não explica não pode existir como realidade e será, portanto fantasia, mito ou crendice? O aporte também? A ciência moderna desvendou muitos mistérios, mas também descobriu muitos mais ainda por explicar, que antes eram desconhecidos. Estamos entre a luz e as trevas. Não podemos negar a existência da lua por termos nascido cegos; portanto não podemos negar muitos fatos que acontecem ou podem acontecer por não tê-los visto. Entre eles os milagres, que não são de séculos muito distantes sem testemunhas contemporâneas; mas que contêm testemunhos oficiais desde o momento de sua realização, como o caso do coxo de Calanda. Por que não aceitá-los? A INCREDULIDADE: Não é só a de Tomé, donde vemos que não era suficiente a afirmação de seus condiscípulos e amigos. Era um cabeçudo, que só podia crer em semelhante acontecimento que ultrapassava seu íntimo convencimento, vendo e tocando por seus próprios olhos e suas próprias mãos. Não aceitava testemunhos imparciais, mesmo amigos, que por outra parte nada tinham a ocultar e nenhuma vantagem em afirmar. Tomé é o símbolo e o tipo de muitas pessoas modernas que não negam a evidência, mas que, como os antigos fariseus, atribuem ao acaso e a insuficiência científica hoje em dia, explicações que requereriam uma causa transcendente. Isso porque os levaria a retratar suas convicções e humilhar suas pretensas certezas. Como Tomé, são capazes de repetir: Se eu não vir, se eu não tocar não posso crer (Jo 20, 25)

A RENDIÇÃO: Depois diz a Tomé: traz teu dedo aqui e vê minhas mãos e traz tua mão e introduz no meu lado e não te tornes incrédulo mas fiel (27). Deinde dicit Thomae infer digitum tuum huc et vide manus meas et adfer manum tuam et mitte in latus meum et noli esse incredulus sed fidelis O ato de Jesus foi de uma delicadeza total: Um milagre só para que seu discípulo pudesse crer. A fé que, segundo João, nasce da vontade do Pai e consiste em ver o Filho e nele crer para obter a vida eterna e ser ressuscitado no último dia (6,40) foi dada a Tomé como um verdadeiro presente, devido à sua oração [de Jesus]: por eles te rogo pelos que me deste, porque são teus (17, 9) de modo que não se perca nada do que ele me deu, mas o ressuscite no último dia (6, 39) a não ser o filho da perdição (17, 12). Tomé se rende ante a evidência. A dúvida de Tomé é também para nós um esclarecimento de que hoje podemos tirar uma ideia esclarecedora: o lado de Jesus está aberto. Esse lado onde brotou sangue e água (19, 34) ainda está aberto. Porque é aquele Jesus Cristo que veio por meio de água e sangue (1Jo 5, 6). Porque são três os que testemunham na terra: O Espírito, a água e o sangue; e os três a um [só objetivo] se unem (1 Jo 5, 8). É o lado da morte que se torna fonte de vida para nós: de perdão pela água do batismo e de vida pelo sangue da Aliança, que representa a vida. Esse lado que se tornou  imagem, não da morte, mas da vida para os que o contemplam como vivo, mas crucificado. Duas são as expressões do primitivo cristianismo que hoje apelam a nossa fé: Jesus é o Senhor e ele é o Crucificado. E podemos contemplar, como João mostra, o Crucificado como o traspassado, que exige de nós água e sangue, Batismo e Eucaristia. Água que lava o pecado e o sangue como aspergido desde a cruz à semelhança do que acontecia no AT no dia do Yom Kippur em que o sangue do bode era aspergido sobre o altar. Atualmente entre os judeus modernos é o dia da reconciliação, dia em que se deve estender ao inimigo a mão da reconciliação, esquecer as ofensas recebidas e desculpar-se pelas feitas aos outros. Este ofício da expiação, na epístola aos Hebreus, no capítulo 9, tem uma perfeita réplica no NT com o Crucificado como vítima de expiação.

MEU SENHOR E MEU DEUS: Então responde o Tomé e disse-lhe: O Senhor meu e o Deus meu! (28). Respondit Thomas et dixit ei Dominus meus et Deus meus. É a palavra da fé mais vibrante e mais pessoal. Que mais poderíamos dizer da figura de Jesus que é Deus e, portanto Senhor, e que melhor de sua relação conosco que declará-lo meu como uma possessão tão pessoal como íntima? Entramos dentro da divindade e nos deixamos impregnar de sua transcendência. Por isso, a Igreja não encontrou outra melhor expressão de fé através dos séculos que esta de Tomé: Meu Senhor e meu Deus!

BEMAVENTURADOS: Diz-lhe o Jesus:porque me viste, Tomé, tendes acreditado. Ditosos os que não vendo e acreditaram (29). Dicit ei Iesus quia vidisti me credidisti beati qui non viderunt et crediderunt. A Bênção é para todos os que, sem terem visto, não obstante creem. Sem dúvida que Deus e Jesus, como fiel seguidor de seus planos, escolhem o melhor caminho para a fé. Não é a submissão a uma aparição sobrenatural, mas a um fato não experimentado e difícil de acreditar, portanto. Sobre as conclusões da ciência, sempre experimentais, e sobre a lógica da razão sempre humana, está o poder divino e a coerência de quem  aceita a palavra como norma de vida. Se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração [mente] que Deus o ressuscitou dentre os mortos serás salvo (Rm 10, 9). Esta é a Bênção que Jesus promete aos que nele crêem, sem terem visto.

MUITAS OUTRAS COISAS: Porém estas estão escritas para que acrediteis que o Jesus é o Cristo o Filho do Deus e para que crendo tenhais vida em seu nome (31). Haec autem scripta sunt ut credatis quia Iesus est Christus Filius Dei et ut credentes vitam habeatis in nomine eius. Com esta frase João declara que seu evangelho tem o defeito de toda obra humana: a limitação. Porque apesar de ser inspirada também tem características de obra humana como estilo, língua e métodos. João não pretendia escrever tudo, mas aquelas coisas que eram mais apropriadas a sua finalidade: Para que os leitores creiam que Jesus é o Ungido [Messias], o Filho do Deus [verdadeiro] e para que crendo tenhais vida em seu nome(31). Com isso se cumpria a declaração de Jesus a Marta: Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim ainda que morra viverá e quem vive e crê em mim jamais morrerá. E ele poderá perguntar a cada um de nós como a Marta: Crês nisso? (Jo 11, 25-26).

PISTAS:

1) O relato de João é simples; as circunstâncias não são barrocas nem fantasiosas, mas completamente naturais, com a exceção da figura de Jesus que foge à compreensão humana e lógica dos acontecimentos que chamamos naturais. Será um fantasma? Será um sonho? Por isso, João diz que Jesus mostrou suas chagas: era o crucificado. Durante 40 dias será visto, sempre de improviso, e aparecerá quando a necessidade ou a oportunidade o recomendem. É Jesus e não os apóstolos quem comanda a visão. Foi visto [opthé] como quando sem a vontade humana o sol aparece de manhã no horizonte. Um pouco diferente é a visão que dele temos pela fé: Não submetidos a uma evidência, mas passando da palavra à visão, para nesta encontrar o Amor.

2) Uma nova relação surge entre Jesus e seus discípulos: Os pecados podem ser perdoados e o saberemos ao escutar a palavra de perdão, como sabemos o fim de um julgamento ao escutar a sentença definitiva de um juiz. A paz reina de novo entre céu e terra.  Tudo é fruto de uma entrega, a de Jesus, que termina em sacrifício, o mais humilhante e bárbaro de toda a antiguidade. A cruz agora é salvação e o sofrimento tem essas suas mesmas qualidades: entrega e sacrifício. E Ele embora seja ainda o crucificado, se tornará Senhor e se tornarão benditos todos os que, sem tê-lo visto, acreditem que está vivo e que como Senhor da morte é também Senhor da vida.

3) A fé não é um produto do raciocínio e da lógica científica após laboriosa investigação. Um e outra não levam à fé, mas sugerem a dúvida. A fé é um dom de Deus que propõe vida após a morte, perdão após o pecado. Porém a nossa fé está baseada no testemunho dos que o viram e ouviram como ressuscitado. Pois a fé provém da pregação (Rm 10, 17). Ou seja, está avaliada por uma tradição que se tornou anúncio e escuta; tradição inicial como de origem apostólica. Na base, pois, da fé está a tradição antes do que a palavra escrita.

4) O evangelho, como livro ou Escritura, nasceu de um testemunho que foi escrito, uma vez ouvido. E tanto valor tem essa escrita quanto mais fiel é ao testemunho que recolhe e que ouviram os anunciados. A Escritura foi e ainda é tradição, enquanto esta a interpreta com a autoridade de quem primeiro a ouviu como palavra. E como livro, a palavra é sempre limitada, por não poder explicar-se a si mesma e por não conter tudo o que poderia ter sido ouvido e escrito. Como diz João nesta primeira conclusão, seu livro não tem outra finalidade além da fé. Seu livro estará mais completo com os outros livros que chamamos evangelhos.

5) Por ser uma passagem para a fé não deverá ser lido com curiosidade, nem como uma história em que buscamos tempo, lugar, circunstâncias  e detalhes que são de interesse humano, mas como fundamento da fé; desta buscamos conhecimentos que devemos aceitar como verdades divinas: como devemos pensar diante dos grandes problemas da vida, como passar da fé ao amor para ajustar nossa vida, porque encontramos diante de nós a figura do ressuscitado como Senhor e Deus da nossa vida.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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