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GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL

 

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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 22/07/2012 - 16º Domingo do Tempo Comum
. Evangelho de 15/07/2012 - 15º Domingo do Tempo Comum


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Como rebanho, nos encontramos no redil de nosso Pastor para refazer nossas forças, ouvir sua Palavra e, na comunhão de sua aliança, nos deixarmos tomar de compaixão pela multidão faminta e sofrida ao nosso redor, e ainda, pela força do Espírito, como bons pastores, doarmos nossa vida para que tenha vida e alegria. O amor e a solicitude pelas "ovelhas sem pastor" são marcas de um Deus que nunca nos abandona. Esse amor e essa solicitude traduzem-se, naturalmente, na oferta de vida nova e plena que Deus faz a todos os homens, convidando-nos a também fazermos o mesmo com nosso testemunho. A missão dos discípulos deve ter sempre Jesus como referência.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Celebramos neste domingo a urgência da missão, que era a preocupação mais ingente de Cristo e dos discípulos. Se a fé cura e liberta do poder do mal, não podemos ficar de braços cruzados diante da multidão que vive como ovelhas sem pastor, rebanho disperso e sem proteção diante das forças do mal. Por isso, reunidos em torno do celeste Pastor, façamos nosso ato de fé para receber dele a alegria e o sustento no discipulado e na missão. Jesus nos alimenta com sua Palavra e com seu próprio Corpo e Sangue. Cheios de fé e esperança, iniciemos esta celebracão eucarística, cantando.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Jeremias 23,1-6): - "Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho miúdo de minha pastagem!"

SALMO RESPONSORIAL 22(23): - "O Senhor é o pastor que me conduz: felicidade e todo bem hão de seguir-me!"

SEGUNDA LEITURA (Efésios 2,13-18): - "Agora, porém, graças a Jesus Cristo, vós que antes estáveis longe, vos tornastes presentes, pelo sangue de Cristo."

EVANGELHO (Marcos 6,30-34): - "Vinde à parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco"



Homilia do Diácono José da Cruz – 16º Domingo do Tempo Comum – ANO B

"A SÓS COM O SENHOR..."

Sempre ouço uma crítica contundente em nossa Igreja, de que, “no dia em que Jesus voltar, não vai nos encontrar unidos, mas reunidos”. Há de fato um excesso de reuniões, as vezes sem pauta e nem assunto determinado, e o que é pior, sem horário para terminar, onde patina-se em assuntos pessoais, troca-se muitas farpas, seria necessário refletirmos sobre a qualidade de nossas reuniões, avaliando-se os resultados. Lembro-me da primeira vez em que fui convocado para uma reunião na igreja, isso já faz tempo, e senti-me muito importante, hoje o entusiasmo já não é tanto.

Pelo jeito, os apóstolos também gostavam de uma reunião, haviam sido enviados em missão, e no evangelho de hoje voltam para Jesus, querendo fazer uma reunião de avaliação, mas ao que parece, o Mestre não era muito chegado em reunião, pois assim que os apóstolos começaram a expor o relatório de tudo o que tinham feito, ele os convidou a irem para um lugar á parte: “Vamos descansar um pouco em um lugar á parte!” – Prestemos atenção nesse verbo, “descansar”, que tem muitos significados: descontrair, fazer algo diferente, jogar um pouco de conversa fora, dar boas risadas de coisas engraçadas que aconteceram na missão, rir dos próprios erros e enganos “Imagine Senhor, que eu por engano bati na porta de um ateu, e quando comecei a falar em teu nome, pensei que o homem ia ter um “saracotico”!, fico imaginando o grupo todo caindo na risada com aquele apóstolo distraído, e Jesus exclamando bem humorado “Mas você é uma anta mesmo!” e tome mais risada e até o sisudo Pedro quase se engasga de tanto rir, e me dirão os extremamente conservadores, que isso não está no evangelho, e nem precisaria.

Modéstia á parte, nossas reuniões de diáconos da diocese de Sorocaba, são um pouco assim, as vezes o Dirigente tem que dar um “breque” para acalmar os faladores e piadistas, e não pensem que os mais idosos não gostam, até eles fazem rodinhas para contar suas anedotas ou coisas engraçadas do seu ministério. Faz muito bem a alma, ao coração e à nossa “psique”, esses momentos de pura alegria por estarmos juntos, e graças a Deus, nossos irmãos maiores no ministério, os sacerdotes, estão resgatando esses encontros, com a valiosa ajuda da psicanálise, pois não se conhece arma mais poderosa do que o isolamento, para destruir por completo uma vocação, agente de pastoral que se isola dos demais, catequistas, ministros, padres e diáconos, começou a ficar sozinho, está dando “sopa” para a derrota e o fracasso na sua vocação, daí vêm certas tristezas, angústias e desvios de conduta, por falta de apoio.

Na correria dos trabalhos pastorais e ministérios, é preciso parar de vez em quando, e aqui há outro sentido belíssimo nessa reflexão, pois, descansar com o Senhor, significa abastecer-se, na intimidade da oração, no mistério da Eucaristia, onde Deus é um frágil pedacinho de pão, na palma da minha mão, ou ainda como Maria, irmã de Marta, sentar-se confortavelmente aos pés do Senhor, para ouvir a sua palavra. De que me adianta não ter tempo para mais nada, nem para mim mesmo, nem para os amigos, nem para a família, nem para comer, por conta de uma agenda lotadíssima de compromissos, se vou aos poucos me distanciando daquilo que é essencial?

O ativismo exacerbado das atividades pastorais e ministeriais começa a nos fazer sentir que somos Donos do Reino e da igreja, querendo nos colocar no centro das atenções, quando na verdade apenas trabalhamos para o Mestre Jesus, é ele quem nos envia, quem nos confia a missão, é portanto ele, que no “intervalo” do jogo, como fazem os técnicos de futebol, irá nos dar as instruções, fazer as correções necessárias, mostrando-nos a melhor estratégia para sermos bem sucedidos na missão.

Não tenho nenhuma dúvida que, sem essa intimidade dos bastidores, com Nosso Senhor, retirados em um lugar á parte, sem essa descontração com o grupo todo, que solidifica a amizade e o carinho entre os membros, qualificando as relações pessoais, corre-se o risco de estressar-se diante do volume de trabalho a ser feito na comunidade e na evangelização fora da Igreja, a multidão que temos que servir é muito grande, as pessoas buscam desesperadamente algo que o cristianismo tem de sobra, que é a esperança, presente na palavra da qual somos portadores.

Mas é perigoso esse “corre-corre” nos tornar insensíveis a dor, ao sofrimento e as necessidades das pessoas, tornando-nos profissionais da palavra, realizando trabalhos belíssimos e ações arrojadas, mas não movidos por essa COMPAIXÃO, que Jesus tem pelas pessoas que o procuram, mas apenas levados por nossos interesses mesquinhos, pela nossa vaidade, prepotência e arrogância, manifestando de vez em quando o nosso mau humor e azedume naquilo que fazemos, e de Agentes de Pastoral ou ministros da igreja, com essa característica, longe de atrair as pessoas, como o Mestre fazia, as vezes é melhor manter a devida distância, porque nunca se sabe em que hora que o “Rei ou a Rainha da Cocada”, vai dar o seu terrível “coice”, que magoa, machuca e gera tantas divisões e intrigas na comunidade, perdendo de vista a compaixão, vivida por Jesus. (16º. Domingo do Tempo Comum)

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 16º Domingo do Tempo Comum — ANO B

“O pastoreio de Jesus Cristo”

"Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se dela, porque era como ovelhas que não tem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6,34).

Que as pessoas reúnam-se em torno de um mestre é um fenômeno normal. Sentimos verdadeira necessidade de ter alguma pessoa em quem apoiar-nos:

Em casa, nos apoiamos em nossos pais e em nossos avós. Eles têm experiência de vida e podem ensinar-nos muitas coisas;
Na escola, acreditamos nos professores, que é verdade o que eles nos ensinam;
No trabalho, especialmente no começo, sempre olhamos para os que têm mais experiência, pedimos conselhos etc.

Quando se trata das coisas de Deus, também procuramos um apoio sólido. O mesmo Cristo, Bom Pastor, quis colocar à frente de sua Igreja pastores que a governasse: os apóstolos e, depois deles, seus sucessores, os Bispos. Tanto os Apóstolos quanto os Bispos uniram a si colaboradores, os Presbíteros. Já nos começos da Igreja, os mesmos Apóstolos viram a necessidade dos diáconos para que pudessem dedicar-se ao serviço. A hierarquia da Igreja – bispos, presbíteros e diáconos – está posta na Igreja para pastoreá-la, para guardá-la.

Ao pensar num pastor pensamos logo no rebanho – talvez menos, já que nos encontramos numa sociedade não agrícola – e no que pode danar esse rebanho, nos lobos. Para defender o rebanho e guardar a sua unidade, precisamos de muitos e bons pastores. Rezemos pelas vocações sacerdotais: que o Senhor envie muitos operários para a sua messe: sacerdotes bons e fiéis. Talvez algum jovem que me lê sente-se chamado a entregar-se totalmente a Deus no sacerdócio, que não tenha medo. Avante!

Como reconhecer o verdadeiro pastor? É verdadeiro pastor aquele que anuncia a Palavra de Deus na íntegra, o que fala de oração, de penitência, da cruz, o que se preocupa com o rebanho. Os falsos pastores, ao contrário, fogem quando chega o lobo, desvirtuam o Evangelho de Cristo e não dão a verdade às almas, são bajuladores, falam apenas o que agrada às pessoas, diminuem as exigências do Evangelho, interessam-se pelo dinheiro e pelos demais bens do rebanho.

Nós, os sacerdotes de Jesus Cristo, há vinte séculos, falamos sobre as mesmas verdades, e não nos cansaremos de anunciá-las. O que eu lhes falo não são coisas da minha cabeça, são palavras do próprio Deus, para isso fui feito sacerdote: para anunciar a fé, para celebrá-la e para pastorear segundo os critérios que a fé nos dá.

O ser humano deseja saciar-se com as coisas eternas. Foi Deus quem fez a pessoa humana e colocou no seu coração o desejo de Deus, esse desejo faz parte da nossa natureza humana. Homens e mulheres buscam matar a fome de Deus indo atrás de quaisquer propostas religiosas sem examinar se são ou não verdadeiras. Um dos maiores males de nossa sociedade atual é a ignorância religiosa. E quando não, a resistência de uma vontade endurecida.

Conta-se de uma família que estava lutando para que o pai deixasse de fumar. O homem chegou a casa e disse à sua filha: "- li há pouco na revista "Seleções" um artigo terrível sobre o fumo e já tomei uma resolução". A jovem disse-lhe então: "- Que bom, pai! Você vai deixar de fumar? Ao que pai respondeu imediatamente: "- Não. Vou deixar de ler".

Pode parecer incrível, mas tem pessoas que insistem em permanecer nas próprias posturas ainda quando sabem que estas são erradas. Mas também há pessoas que não deixam o erro porque não sabem que estão no erro. Escutemos a voz do profeta Oséias: "Morre o meu povo por falta de doutrina" (Os 4,6). Dizia São Josemaría Escrivá: "A fome e a dor comovem Jesus, mas sobretudo comove-o a ignorância" (É Cristo que passa, nº109). Muitos correm atrás do espiritismo, da maçonaria, da Nova Era, de seitas as mais variadas, até da Bola de Neve Church (vi reportagem da Veja!), pensando que serão felizes. Só serão felizes quando seguirem o Senhor como Ele quer ser seguido. Não adianta enganar-se! Todas essas pessoas são boas, muitas são honestas (mais do que muitos católicos), eu os amo a todos; é preciso, porém, dizer: essas coisas não estão de acordo com o Evangelho, com a Verdade de Deus. Rezemos por todos! Amemos a todos! Não julguemos a ninguém!

Procuremos conhecer mais a nossa fé e ser-lhe fiéis. Da nossa fidelidade dependem muitas coisas! Encontramo-nos num período de férias (saibamos aproveitá-las!), estas não significam ociosidade. Férias não é ficar sem fazer nada, é mudar de atividade: crescer na intimidade com Deus através da oração, estar mais tempo com a família, ler mais as Sagradas Escrituras e livros que me falam da fé (especialmente o Catecismo da Igreja Católica), ler um bom livro de literatura, visitar e fazer apostolado com os amigos etc.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 16º Domingo do Tempo Comum ANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

Como não foi publicado o Comentário Exegético desta semana, trazemos um artigo de Doutrina / Dogmática:

A natureza de Deus e seu agir

Diante da palavra de Deus que se revela somente cabe ao homem a adoração e o agradecimento; o homem cai de joelhos diante de um Deus que sendo transcendente é mais interior a mim que eu mesmo.

1. Quem é Deus?

Ao longo da história, todas as culturas se fizeram esta pergunta; tanto é assim que os primeiros sinais de civilização se encontram geralmente no âmbito religioso e cultural. Crer em Deus está em primeiro lugar para o homem de qualquer época [1]. A diferença essencial está em qual Deus se crê? De fato, em algumas religiões pagãs o homem adorava as forças da natureza, enquanto manifestações concretas do sagrado, e contavam com uma pluralidade de deuses, ordenada hierarquicamente. Na Grécia antiga, por exemplo, também a divindade suprema, em um panteão de deuses, era regida, por sua vez, por uma necessidade absoluta, que abarcava o mundo e os próprios deuses [2]. Para muitos estudiosos da história das religiões, em muitos povos ocorreu uma progressiva perda, a partir de uma “revelação originária”, do único Deus; mas, em todo caso, inclusive nos cultos mais degradados, podem ser encontradas chispas ou indícios em seus costumes da verdadeira religiosidade: a adoração, o sacrifício, o sacerdócio, o oferecimento, a oração, a ação de graças, etc.

A razão, tanto na Grécia como em outros lugares, tratou de purificar a religião, mostrando que a divindade suprema devia identificar-se com o Bem, a Beleza e o próprio Ser, enquanto fonte de todo bem, de todo o belo e de tudo o que existe. Mas isto sugere outros problemas, concretamente o afastamento de Deus por parte do fiel, pois desse modo a divindade suprema ficava isolada em uma perfeita autarquia, já que a mesma possibilidade de estabelecer relações com a divindade era vista como um sinal de fraqueza. Além disso, tampouco fica solucionada a presença do mal, que aparece de algum modo como necessária, pois o princípio supremo está unido por uma cadeia de seres intermediários, sem solução de continuidade, ao mundo.

A revelação judaico-cristã mudou radicalmente este quadro: Deus é representado na Escritura como criador de tudo o que existe e origem de toda força natural. A existência divina precede absolutamente a existência do mundo, que é radicalmente dependente de Deus. Aqui está contida a idéia de transcendência: entre Deus e o mundo a distância é infinita e não existe uma conexão necessária entre eles. O homem e todo o criado poderiam não ser, e naquilo que são dependem sempre de outro; ao passo que Deus é, e é por si mesmo. Esta distância infinita, esta absoluta pequenez do homem diante de Deus, mostra que tudo o que existe é querido por Deus com toda sua vontade e sua liberdade: tudo o que existe é bom e fruto do amor (cfr.Gn 1). O poder de Deus não é limitado nem no espaço nem no tempo, e por isso sua ação criadora é dom absoluto: é amor. Seu poder é tão grande que quer manter sua relação com as criaturas; e inclusive salvá-las se, por causa de sua liberdade, se afastarem do Criador. Portanto, a origem do mal deve ser situada em relação com o eventual uso equivocado da liberdade por parte do homem – coisa que de fato ocorreu, como narra o Gênesis: vid. Gn 3 -, e não com algo intrínseco à matéria.

Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que, em razão do que se acaba de mencionar, Deus é pessoa que atua com liberdade e amor. As religiões e a filosofia se perguntavam o quê é Deus; ao invés, pela revelação, o homem é levado a se perguntar quem é Deus (cfr. Compêndio, 37); um Deus que sai ao seu encontro e busca o homem para falar-lhe como a um amigo (cfr. Ex 33, 11). Tanto é assim que Deus revela a Moisés o seu nome, “Eu sou aquele que sou” (Ex 3, 14), como prova de sua fidelidade à aliança e de que o acompanhará no deserto, símbolo das tentações da vida. É um nome misterioso[3] que, em todo caso, nos dá a conhecer as riquezas contidas em seu mistério inefável: somente Ele é, desde sempre e para sempre, aquele que transcende o mundo e a história, mas que também se preocupa com o mundo e conduz a história. Ele foi quem fez o céu e a terra, e os conserva. Ele é o Deus fiel e providente, sempre junto a seu povo para salvá-lo. Ele é o Santo por excelência, “rico em misericórdia” (Ef 2, 4), sempre disposto ao perdão. Deus é o ser espiritual, transcendente, onipotente, eterno, pessoal e perfeito. Ele é a verdade e o amor” (Compêndio, 40).

Assim, pois, a revelação se apresenta como uma novidade absoluta, um dom que o homem recebe do alto e que deve aceitar com reconhecimento de ação de graças e um obsequio religioso. Portanto a revelação não pode ser reduzida a meras expectativas humanas, vai muito mais além: ante a Palavra de Deus que se revela só cabe a adoração e o agradecimento, o homem cai de joelhos ante o assombro de um Deus, que, sendo transcendente, se faz interior intimo meo [4], mais próximo de mim que eu mesmo e que busca o homem em todas as situações de sua existência: “O criador do céu e da terra, o único Deus que é fonte de todo ser, este único Logos criador, esta Razão criadora, ama pessoalmente ao homem, mais ainda, ama-o apaixonadamente e quer, por sua vez, ser amado. Por isso, esta Razão criadora, que ao mesmo tempo ama, dá vida a uma história de amor (…), amor [que] se manifesta cheio de inesgotável fidelidade e misericórdia; é um amor que perdoa além de todo e qualquer limite” [5].

2. Como é Deus?

O Deus da Sagrada Escritura não é uma projeção do homem, pois sua absoluta transcendência só pode ser descoberta a partir de fora do mundo, e por isso, como fruto de uma revelação; quer dizer, não há propriamente uma revelação intramundana. Ou, dito de outro modo, a natureza, como lugar da revelação de Deus [6] remete sempre para um Deus transcendente. Sem esta perspectiva, não seria possível para o homem, chegar a estas verdades. Deus é, ao mesmo tempo, exigente [7] e amante, muito mais do que o homem se atreveria a esperar. De fato, podemos imaginar facilmente a um Deus onipotente, mas custa-nos reconhecer que essa onipotência possa nos amar [8]. Entre a concepção humana e a imagem de Deus revelada há, ao mesmo tempo, continuidade e descontinuidade, porque Deus é o Bem, a Beleza, o Ser, como diz a filosofia, mas, ao mesmo tempo, esse Deus ama-me a mim, que nada sou em comparação com Ele. O eterno busca o temporal e isso muda radicalmente nossas expectativas e nossa perspectiva de Deus.

Em primeiro lugar Deus é Uno, mas não em sentido matemático como um ponto, mas é Uno no sentido absoluto desse Bem, essa Beleza e esse Ser de quem tudo procede. Pode-se dizer que é Uno porque não há outro deus e porque não tem partes; mas ao mesmo tempo deve-se dizer que é Uno porque é fonte de toda unidade. De fato, sem Ele tudo se decompõe e volta ao não-ser: sua unidade é a unidade de um Amor que também é vida e dá a vida. Assim, pois, esta unidade é infinitamente mais que uma simples negação da multiplicidade.

A unidade leva a reconhecer a Deus como o único verdadeiro. Mais do que isso, Ele é a Verdade e a medida e fonte de tudo o que é verdadeiro (cfr. Compêndio, 41); e isto porque justamente Ele é o Ser. Às vezes, tem-se medo desta identificação, pois parece que, dizendo que a verdade é una, faz-se impossível todo diálogo. Por isso é tão necessário considerar que Deus não é verdadeiro no sentido humano do termo, que é sempre parcial. Senão que n’Ele a Verdade se identifica com o Ser, com o Bem e com a Beleza. Não se trata de uma verdade meramente lógica e formal, mas de uma verdade que se identifica com o Amor que é Comunicação, em sentido pleno: efusão criativa, ao mesmo tempo exclusivo e universal, vida íntima divina partilhada e participada pelo homem. Não estamos falando da verdade das fórmulas ou das idéias, que sempre são insuficientes, mas da verdade do real, que no caso de Deus coincide com o Amor. Além disso, dizer que Deus é a Verdade quer dizer que Deus é o Amor. De modo que, a imutabilidade de Deus e sua unicidade coincidem com sua Verdade, enquanto é a verdade de um Amor que não pode passar.

Assim se vê que, para entender o sentido propriamente cristão dos atributos divinos, é necessário unir a afirmação de onipotência com a bondade e a misericórdia. Somente depois de ter entendido que Deus é onipotente e eterno, alguém pode abrir-se à verdade esmagadora de que esse mesmo Deus é Amor, vontade de Bem, fonte de toda Beleza e todo dom [9]. Por isso, os dados oferecidos pela reflexão filosófica são essenciais, ainda que, de algum modo, insuficientes. Seguindo este percurso desde as características que se reconhecem como primeiras até as que se podem compreender só mediante o encontro pessoal com Deus que se revela, chega-se a entrever como estes atributos são expressos com termos distintos só em nossa linguagem, enquanto que, na realidade de Deus coincidem e se identificam. O Uno é o Verdadeiro, e o Verdadeiro se identifica com o Bem e com o Amor. Usando outra imagem, pode-se dizer que nossa razão limitada atua um pouco como um prisma que decompõe a luz nas diversas cores, cada uma das quais é um atributo divino; porém em Deus coincidem com seu próprio Ser, que é Vida e fonte de toda vida.

3. Como conhecemos a Deus?

Pelo que foi dito acima, podemos conhecer a Deus a partir de suas obras: somente o encontro com Deus que cria e que salva o homem pode revelar-nos que o Único é, ao mesmo tempo, o Amor e a origem de todo Bem. Assim Deus é reconhecido não só como intelecto – Logossegundo os gregos – que outorga racionalidade ao mundo (a ponto de alguns o terem confundido com o mundo, como acontecia na filosofia grega e como volta a acontecer em algumas filosofias modernas), mas que também é reconhecido como vontade pessoal que cria e que ama. Trata-se assim de um Deus vivo: mais
ainda, de um Deus que é a própria Vida. Assim, enquanto Ser vivo dotado de vontade, vida e liberdade, em sua infinita perfeição, Deus permanece sempre incompreensível; ou seja, irredutível a conceitos humanos.

A partir do que existe, do movimento, das perfeições, etc. pode-se chegar a demonstrar a existência de um Ser supremo, fonte desse movimento, das perfeições, etc. Porém, para conhecer o Deus pessoal, que é Amor, deve-se  buscá-lo em sua atuação na história a favor dos homens, e por isso, faz falta a revelação. Olhando para seu atuar salvífico, descobre-se seu Ser, do mesmo modo que, pouco a pouco, se conhece a uma pessoa através do relacionamento com ela.

Neste sentido, conhecer a Deus consiste sempre e apenas em reconhecê-lo, pois Ele é infinitamente maior do que nós. Todo conhecimento sobre Ele, procede d’Ele, e é dom seu, fruto de seu abrir-se, de sua iniciativa. A atitude para aproximar-se deste conhecimento deve ser, então, de profunda humildade. Nenhuma inteligência finita pode abarcar Aquele que é Infinito, nenhuma potência pode sujeitar ao Onipotente. Só podemos conhecê-lo por aquilo que Ele nos dá, isto é, pela participação que temos em seus bens, fundamentada pelos seus atos de amor por cada um.

Por isso, nosso conhecimento d’Ele é sempre analógico: enquanto afirmamos algo sobre Ele, simultaneamente temos que negar que essa perfeição se dê n’Ele segundo as limitações que vemos nos seres criados. A tradição fala de uma tríplice via: de afirmação, de negação e de eminência, de onde o último movimento da razão consiste em afirmar a perfeição de Deus para além daquilo que o homem pode pensar, e que é origem de todas as realizações dessa perfeição que se vêem no mundo. Por exemplo, é fácil reconhecer que Deus é grande, mas é mais difícil dar-se conta de que Ele é também pequeno, porque no criado, o grande e o pequeno se contradizem. Não obstante, se pensamos que ser pequeno pode ser uma perfeição, como se vê no fenômeno da nanotecnologia, então Deus tem que ser fonte também, dessa perfeição e, n’Ele, essa perfeição deve identificar-se com a grandeza. Por isso, temos que negar que é pequeno (ou grande) no sentido limitado que se dá no mundo criado, para purificar essa atribuição passando à eminência. Um aspecto especialmente relevante é a virtude da humildade, que os gregos não consideravam virtude. Por ser uma perfeição, a virtude da humildade não somente é possuída por Deus, mas que Deus se identifica com ela. Chegamos assim à surpreendente conclusão de que Deus é a Humildade; de tal modo que só podemos conhecê-lo em uma atitude de humildade, que não é outra coisa que a participação no dom de Si mesmo.

Tudo isso implica que se pode conhecer ao Deus cristão mediante os sacramentos e através da oração na Igreja, que torna presente seu agir salvífico para os homens de todos os tempos.

Giulio Maspero

Bibliografia básica
Catecismo da Igreja Católica, 199-231; 268-274.
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 36-43; 50.

Leituras recomendadas
São Josemaria, Homilía HumildadeAmigos de Dios, 104-109.
J. Ratzinger, El Dios de los cristianos. Meditaciones, Ed. Sígueme, Salamanca 2005.
———————
[1]         O ateísmo é um fenômeno moderno que tem raízes religiosas, enquanto nega a verdade absoluta de Deus, apoiando-se em uma verdade que é igualmente absoluta, isto é, a negação de sua existência. Precisamente por isso, o ateísmo é um fenômeno secundário em relação à religião, e pode também entender-se como uma “fé” de sinal negativo. O mesmo pode ser dito do relativismo contemporâneo. Sem a revelação, estes fenômenos de negação absoluta seriam inconcebíveis.

[2]         Os deuses estavam sujeitos ao Hado, que tudo dirigia com uma necessidade muitas vezes sem sentido: daí o sentimento trágico da existência, que caracteriza o pensamento e a literatura gregos.

[3]         “Deus se revela a Moisés como o Deus vivo: ‘Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’ (ex 3, 6). Ao próprio Moisés Deus revela seu nome misterioso:‘Eu sou aquele que sou’ (YHWH) (Ex 3, 14). O nome inefável de Deus, já nos tempos do Antigo Testamento, foi substituído pela palavra Senhor. Deste modo, no Novo Testamento, Jesus, chamado o Senhor, aparece como verdadeiro Deus” (Compêndio, 38). O nome de Deus admite três possíveis interpretações: 1) Deus revela que não é possível conhecê-lo, afastando do homem tentação de aproveitar-se de sua amizade com Ele como se fazia com divindades pagãs mediante as práticas mágicas, e afirmando sua própria transcendência ; 2) segundo a expressão hebraica utilizada, Deus afirma que estará sempre com Moisés, porque é fiel e está ao lado de quem confia n’Ele; 3) segundo a tradição grega da Bíblia, Deus se manifesta como o próprio Ser (cfr. Compêndio, 39), em harmonia com as intuições da filosofia.

[4]        Santo Agostinho, Confissões, 3, 6, 11.

[5]        Bento XVI, Discurso na IV Assembléia Eclesial Nacional Italiana, 19-10-2006.

[6]        João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 14-09-1998 , 19.

[7]         Deus pede ao homem – a Abraão – que saia da terra prometida, que deixe suas seguranças, confie nos pequenos, pede coisas segundo uma lógica distinta da humana, como no caso de Oséias. É claro que não pode ser uma projeção das aspirações ou dos desejos humanos.

[8]         “Como é possível perceber tudo isso, reparar que Deus nos ama, e não enlouquecer também de amor? É necessário deixar que essas verdades da nossa fé calem na alma, até mudarem toda a nossa vida. Deus nos ama: o Onipotente, o Todo-Poderoso, o que fez os céus e a terra!” (São Josemaria, É Cristo que passa, 144).

[9]         “Deus se revela a Israel como Aquele que tem um amor mais forte do que o amor de um pai ou uma mãe por seus filhos ou de um esposo por sua esposa. Deus em si mesmo, “é amor” (1 Jo 4, 8), que se dá completa e gratuitamente; que “tanto amou o mundo que enviou seu Filho único para que o mundo fosse salvo por Ele” (Jo 3, 16-17). Ao enviar a seu filho e ao Espírito Santo, Deus revela que Ele próprio é eterna comunicação de amor” (Compêndio, 42).


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: O Pai nos chama e nos confia uma missão a ser desempenhada ao estilo de Jesus, que veio para curar, consolar, libertar, destruindo tudo o que oprime e escraviza e abrindo possibilidades de vida feliz e abundante. Participando da celebração, Ele nos consagra como enviados, entregando-nos seu Espí- rito, e nos fortalece para que nunca percamos o entusiasmo e a alegria em nossa missão. Somos convidados a indagar-nos: como nos posicionamos diante do chamamento que Deus nos faz? Nosso compromisso é a resposta.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Celebramos neste domingo o envio dos discípulos por Cristo para anunciar o Reino de amor, expulsar os demônios e curar os doentes. Essa missão hoje é colocada em nossas mãos, que vivemos num mundo em dificuldade de crer e amar, sendo, por isso mesmo, refém do mal e das enfermidades. Por isso preparamo-nos para celebrar, a partir de 11 de outubro, o Ano da Fé, instituído pelo Papa Bento XVI. Assim a Igreja pode renovar o movimento dos discípulos de Jesus, que acataram o mandamento do Amor e levaram-no ao mundo inteiro. Procuremos atuar em nossa Igreja de São Paulo com o mesmo ardor que marcou a evangelização da primeira hora.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Amós 7,12-15): - "Vai e profetiza contra o meu povo de Israel"

SALMO RESPONSORIAL 84(85): - "Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade e a vossa salvação nos concedei!"

SEGUNDA LEITURA (Efésios 1,3-14 ou 3-10): - "Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo."

EVANGELHO (Marcos 6,7-13): - "Então, Jesus chamou os Doze e começou a enviá-los, dois a dois; e deu-lhes poder sobre os espíritos imundos."



Homilia do Diácono José da Cruz – 15º Domingo do Tempo Comum – ANO B

"A LIBERDADE DO DISCÍPULO"

Li dia desses, em uma mensagem que alguém me enviou, a história de alguns jovens que se aventuraram em escalar uma alta montanha onde a caminhada seria extremamente difícil e cansativa, um deles, preparou seus apetrechos, no que foi censurado pelo outro, que tinha maior experiência, mas teimosamente insistiu em levar tudo o que julgara necessário, em sua caminhada até o cume. Não é preciso dizer que na metade do caminho, ele teve que desfazer-se de algumas coisas e se em outra parada, não descartasse mais da metade dos objetos que levava na mochila, não conseguiria chegar.

Tivemos em Votorantim um grande escritor chamado João Kruguer, cuja memória está preservada em nosso museu, ele tinha uma máxima que sempre norteou sua vida “Somente o necessário é necessário”. Esse pensamento por si só, desmonta a estrutura do consumismo, que vai esvaziando o homem nos dias de hoje, de valores importantes, convencendo-o de que a felicidade está reservada aos que podem consumir. Por aí dá para perceber como o ensinamento do santo evangelho é atual e sempre o será.

Quem quiser ser discípulo e missionário do Senhor, como nos ensina a igreja a partir do Documento de Aparecida, certamente não poderá colocar sua segurança nos bens de consumo que o mundo globalizante nos oferece. Simplesmente porque aquilo que ele anuncia, é revolucionário e milhões de vezes mais valioso e do que qualquer outro valor que o pós-modernidade pode oferecer.

Na minha infância lembro-me do Sêo João, que vendia deliciosas cocadas com seu carrinho verde, que quando passava pela saudosa vila Albertina, era uma tentação para as crianças e um martírio para os pais, entretanto, um dia, o vi comprando doces no armazém do Sêo Alexandre dando-me a impressão de que ele mesmo não botava muita fé na qualidade dos doces caseiros que fabricava. Assim também, os missionários enviados por Cristo podem correr o risco de colocarem sua segurança em outros valores senão aqueles do evangelho que anunciam e nesse caso, a mensagem não teria crédito junto aos ouvintes. É está a preocupação de Jesus, que o missionário evangelizador, portador da maior de todas as riquezas, que é o evangelho, não se apegue a outros bens, valorizando-os muito mais do que o anúncio que fazem.

Por isso, como dizia o nosso escritor João Kruguer, tio do Padre Inácio, só se deve levar o necessário, um cajado, uma sandália e uma só túnica. O pão não lhe faltará pois a quem dá o verdadeiro alimento, nunca perecerá por falta alimento material, quanto a sacola, esta serve para acumular coisas, e hoje em dia, as de plástico são uma ameaça ao meio ambiente, dinheiro na cintura significa poder, mas o coração das pessoas nunca está a venda, pregador que “compra” seus ouvintes com outros recursos, ficará um dia falando sozinho. A casa oferece abrigo seguro, a amizade e o carinho das pessoas que nos acolhem, conforto e alimentação, entretanto, isso não poderá deter o discípulo de seguir seu caminho, mas também não deve ele sentir-se preso as pessoas afetivamente, a ponto de não lhes dizer a verdade que precisa ser anunciada, para o missionário não é a amizade das pessoas ou o que elas oferecem, que é o mais importante, mas sim aquilo que eles anunciam.

Por outro lado, a história de se bater a poeira dos pés, como testemunho contra os que não acolheram o discípulo e nem aceitaram ouvir a Boa Nova, me faz lembrar mais uma vez do marketing dos produtos que nos são oferecidos, uma vez me desgostei com uma determinada seguradora de veículos, que agiu de má fé na prestação de seus serviços, lembro-me que na empresa onde trabalho, certo dia essa seguradora foi fazer sua propaganda entregando adesivos na hora da saída, que eu educadamente recusei, como é que vou aceitar uma propaganda de uma empresa que me decepcionou?

Há pessoas que nesta vida recusam acolher o evangelizador porque não aceitam a palavra de Deus, mas depois procuram a igreja nas horas de aperto, para receberem algum sacramento, ou pedirem oração, é muito estranho que, não tendo nenhum vínculo, e tendo recusado a Palavra libertadora e vivificadora, ainda pensem que a Igreja tenha que lhes dar algo, quando precisam. Jesus é muito claro quanto a isso: nenhum vínculo deve haver entre essas pessoas e o evangelho, deve o evangelizador respeitar o direito que as pessoas têm, de recusar a Palavra, e que não haja da parte desses, nenhuma insistência, mas que se rompa totalmente, isso é, bater o pé, nenhuma poeirinha deve ficar, o Reino de Deus e o anúncio do evangelho, a gente aceita por inteiro, é tudo ou nada!

Muita gente quer um cristianismo fragmentado, aceitando-se apenas aquilo que lhe convém. E no versículo final algo que chama a nossa atenção, os doze partiram em missão, evangelizar, portanto, é missão de toda igreja, e a conversão é a primeira abertura à palavra de Deus, quem não aceitar esse cristianismo radical que requer uma mudança de vida, nunca terá forças para expulsar de sua vida as forças demoníacas que se opõe aos princípios cristãos, permanecerá na doença do pecado, recusando a santa unção do Espírito Santo, porque no fundo não crê na cura da Salvação que Jesus oferece. (15º. Domingo do Tempo Comum – Mc 6, 7-13)

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 15º Domingo do Tempo Comum — ANO B

“Fidelidade a Cristo”

Eusébio, pai de Constantino Magno, passava em revista os seus soldados. Parado no meio do campo, exclamou: -”Os que forem cristãos venham para a minha direita”. Alguns tremeram, pois sabiam que Eusébio era idólatra. Eusébio, por sua vez, sabia que muitos dos seus soldados eram cristãos. Alguns valentes, com passo resoluto, puseram-se à sua direita, exclamando: -”Nós somos cristãos!” O imperador olhou para eles com fereza e disse: -”Sois vós somente?” Nenhum outro se moveu do lugar. Então dirigindo-se aos que estavam à sua direita, disse Eusébio: -”Vós formareis a minha legião de honra e todos os outros serão expulsos de minhas fileiras, porque da mesma maneira com que hoje se envergonharam de seu Deus diante do imperador, amanhã terão vergonha do imperador diante do inimigo”. (P. Francisco Alves, Tesouro de exemplos I, 380).

Como é importante ser fiel a Deus! Nós, cristãos, também não desprezamos a lealdade à palavra dada. Os cristãos são chamados de “fiéis”. Precisamos encorpar cada vez mais esse nome: fiel de Cristo. Fiéis! Leais!

Amós e Amasias são duas figuras muito interessantes. Amós foi um profeta que exerceu a sua missão no Reino do Norte. Lembrem-se: com Davi, unificam-se todas as tribos; Salomão, seu filho, continua a governar o reino unido; após a morte de Salomão tem lugar a divisão, formando-se assim o Reino do Norte, cujo principal lugar de culto era o Santuário de Betel, e o Reino do Sul, tendo Jerusalém e o seu Templo, construído por Salomão, como o lugar por excelência do culto a Deus.

Amós recebe uma missão divina, a de profetizar, que inclui o anúncio e a denúncia. Encontramo-nos no reinado de Jeroboão II, no Reino do Norte, no século VIII a.C. Os tempos de Jeroboão II são tempos de prosperidade e de esplendor material, mas também de muitas injustiças: “o luxo dos grandes insulta a miséria dos oprimidos, e na qual o esplendor do culto disfarça a ausência de uma religião verdadeira”. Amós é um homem simples, e com essa simplicidade, com as características próprias de um “homem da roça” começa a profetizar, a denunciar as injustiças.

Amasias, sacerdote do Santuário de Betel, homem profundamente zeloso de seus próprios interesses e dos do rei fala ao profeta que se retire, sem dúvida em detrimento da verdade. Amasias prefere continuar com aquele culto disfarçado e com os seus interesses materiais a ouvir a Palavra do Senhor. As verdades “duras e cruas” são sempre difíceis de serem acolhidas porque mexem com a nossa comodidade, nosso orgulho e nosso egoísmo. Preferimos muitas vezes permanecer na mentira a escutar a verdade de Deus… Por que? Porque incomodam. Tantas vezes privamos os nossos irmãos de um grande bem como é a correção fraterna porque somos covardes, falta-nos a valentia; ao invés de darmos ao nosso irmão essa grande ajuda, o bajulamos e o adulemos fazendo com que permaneça nos seus defeitos e nos seus pecados contanto que continuemos com os nossos benefícios.

Amós apresenta-se como um homem valente, destemido. Ele sabe que tem uma missão divina, e precisa cumpri-la ainda que muitos se sintam incomodados e ofendidos. Também a Igreja tem uma mensagem divina, tem uma missão divina. Precisa anunciá-la, não pode calar-se; ainda que muitos sintam-se contrariados, ela precisa falar. Nós, filhos de Deus e de sua Igreja, não podemos ser transigentes com a verdade, para nós dois mais três sempre serão cinco e não quatro e meio. Precisamos ser fiéis à fé e à moral cristã, precisamos ser coerentes, viver essa admirável unidade de vida que tem que caracterizar a vida da filha e do filho de Deus. Os transigentes não são felizes, e não o são porque não são fiéis. Fidelidade e felicidade são irmãs. “A transigência é sinal certo de não se possuir a verdade. – Quando um homem transige em coisas de ideal, de honra ou de Fé, esse homem é um homem… sem ideal, sem honra e sem Fé” (S. Josemaria Escrivá, Caminho, 396).

Transigir é ceder naquilo que não se deve ceder. Alguns exemplos:

Alguém diz: “Jesus Cristo é um simples homem”. O cristão medroso responde: “sabe que você tem razão.

Aquele amigo da turminha diz: “a castidade, a pureza, é uma bobagem”. O jovem cristão, porém transigente, responde: “realmente, a Igreja é uma antiquada”, no fundo ele não acredita que seja assim, mas para ficar bem diante dos amigos…

Sei que a justiça é um valor importante, mas… de vez em quando cobrar um “jurinho”, lá no meu comércio, de 500% não tem problema… !?

Um conselho: “Sê intransigente na doutrina e na conduta. – Mas suave na forma. – Maça poderosa de aço, almofadada. – Sê intransigente, mas não sejas cabeçudo.” (Caminho, 397). As coisas da fé e da moral são intocáveis. Os interesses de Deus e de sua Igreja em primeiro lugar, não os nossos próprios interesses. De que lado ficaremos, do lado de Amasias, com os nossos interesses, porém na covardia e na submissão aos homens, ou na companhia dos corajosos e valentes que, como Amós, anunciam a Verdade de Deus e denunciam a mentira e a falsidade, a injustiça e demais desordens com a finalidade de promover o bem dos nossos irmãos, os homens e as mulheres de hoje? Da nossa fidelidade dependem muitas coisas. Se você quer ver o seu marido ou a sua esposa, o seu filho, a sua filha, o seu amigo pertinho de Deus: isso depende de você também, da sua fidelidade a Deus!

O Evangelho de hoje nos fala da missão dos apóstolos: de pregar o Evangelho e fazer as obras que Jesus fazia. Eles cumpriram com a sua missão, foram fiéis e… por isso estamos aqui hoje louvando-o nessa liturgia dominical. A maior parte deles foram mártires, derramaram o seu sangue pelo nome de Cristo, mas, como bem se sabe, “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 15º Domingo do Tempo ComumANO B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA - EFÉSIOS 1, 3-10

INTRODUÇÃO: Todos os nossos privilégios e toda a bondade de Deus, derramada em nós como fruto de seu amor, têm como base e fundamento o amor do Pai por seu Filho Jesus, o Verbo Encarnado, de cuja semelhança nós participamos como parte do gênero humano, e de cuja inserção na divindade somos também porção pela imersão no batismo, que nos torna membros da família divina. Daí que Deus nos escolheu desde o início para sermos seus filhos, recapitulando em Cristo toda a obra de sua criação, que agora se tornou redenção e será, em definitivo, glorificação.

DEUS BENDITO: Bendito [eulogetos<2128>] o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo quem nos há abençoado em toda bênção espiritual nos espaços celestes [epouraniois <2032>] em Cristo (3). Benedictus Deus et Pater Domini nostri Iesu Christi qui benedixit nos in omni benedictione spiritali in caelestibus in Christo. BENDITO: Eulogeö é a palavra própria para abençoar em nome de Deus ou louvar seus benefícios como no caso do pão que vamos comer (Mt 4, 19) ou no caso de pessoas que são abençoadas por Deus (Mt 21, 9). Especificamente é a palavra usada para narrar a bênção do pão eucarístico na última ceia (Mt 26, 26; Mc 14, 22 e Lc 14, 30). Até tal ponto que Paulo chama o cálice consagrado de cálice da bênção (1 Cor 19, 6). Eulogetos [bendito] é usado só para Deus e eulogemenos [abençoado] para o homem que recebe os benefícios de Deus. Assim Maria é eulogemene (Lc 1, 42). Mas esta não é única vez em que Paulo se dirige a Deus com essa fórmula tão latrêutica e elegante. No NT a vemos repetida em 2 Cor 1, 3 e 1 Pd 1, 3. É uma fórmula que provém do AT como lemos em Gn 9, 26, Êx 18, 10 e Sl 28, 6 entre outras muitas passagens em que Deus é louvado. O eulogetos corresponde ao baruk hebraico. Eulogomenos diferencia-se de Makairos [ditoso], como bendito diverge de bemaventurado. Deus é bendito para sempre (Sl 72, 19), pois dEle só podemos receber o bem. PAI: O título indica o motivo ou a pessoa da bênção. Nesse caso, ambas as coisas estão unidas: é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é bendito para sempre e a quem Paulo aclama como digno de ser louvado. Precisamente ao chamar Jesus como Cristo [Messias] e como Senhor [Kyrios<2962>] Paulo especifica uma paternidade que não é compartida pelos fiéis. É a paternidade essencial e natural que transforma Jesus em sagrado [ágios], como o chamou Gabriel ao explicar o mistério da Encarnação; e consequentemente será Filho do Altíssimo (Lc 1, 35). EPOURANIOIS: Literalmente significa sobre os céus, que o latim traduz como caelestis e que, não tendo uma palavra própria devemos traduzir de modo intelectual como regiões ou espaços celestes. O plural céus, é mais próprio da concepção semítica que, como mínimo, acreditava em três céus (2 Cor 12, 2) em cujas regiões Deus reinava supremo e não existia mal, nem maldade. A bondade divina se manifestava em bens que Paulo aqui denomina como espirituais; pois o corpo não podia morar em semelhantes lugares. E a causa dos benefícios é precisamente Cristo, ou seja, o Jesus já constituído em Messias que nos libertou, por meio do resgate de seu sangue, do pecado e da escravidão de Satanás.

CAUSA FORMAL: De acordo como nos escolheu [exelexanto<1586>] nEle antes da fundação [katabolës <2602>] do mundo para sermos consagrados [agious,40>] e sem culpa [amömous <299>] perante Ele em amor. Sicut elegit nos in ipso ante mundi constitutionem ut essemus sancti et inmaculati in conspectu eius in caritate. ESCOLHEU: do verbo eklegomai selecionar, escolher. A escolha foi através de Jesus [nEle] pois o nome correspondente a esse Ele é Cristo, em que foram dadas as mercês segundo o versículo anterior. E a escolha foi feita antes da fundação [kataboles] do mundo [kosmos]. KATABOLES: Segundo Mt 25, 34, o Reino definitivo foi preparado pelo Pai desde a fundação do mundo. A escolha foi feita nesse lugar feliz em que o Filho estava na glória do Pai, precisamente antes da fundação do mundo (Jo 17, 24). KOSMOS: primariamente significa um conjunto ordenado, mas logo se tornou sinônimo do Universo, o conjunto das coisas materiais que contemplamos como espaço e ambiente que nos rodeiam. ÁGIOS: A palavra significa consagrado a uma divindade, daí sagrado e finalmente santo, no sentido de não ser um ser puramente humano [psikikos de Paulo], mas transcendente ou divino. Pelo batismo fomos consagrados e imersos na família divina como membros da casa de Deus (Ef 2, 19). Daí que, inclusive a parte mais material, o corpo esteja também consagrado e dedicado, como um templo a Deus (Rm 12, 1). SEM CULPA: Paulo fala evidentemente da última realização do Reino em que tudo estará purificado, como é vista essa Igreja ou Comunidade purificada por Cristo (Ef 5, 27) e que completa seu corpo como pleroma (Ef 4, 12 e 1 Cor 12, 27), perante Ele. Isto implica uma ordem previamente estabelecida por Deus: uma eleição que corresponde, por nossa parte, a uma vocação, tendência e objetivo de nossas vidas. Uma justificação que se dá no Batismo inicialmente; e, finalmente, a glorificação que só se inicia, como em Cristo, quando, na hora da morte, entregamos a vida em suas [do Pai] mãos. Agioi e imaculados são dois adjetivos que representam as duas faces de uma pessoa purificada dos pecados: a positiva como sagrada e a negativa como livre de culpa. PERANTE ELE: Deus é o santo por excelência, como podemos ver em Santo, Santo, Santo é o Senhor (Is 6, 3) que em termos semíticos significa o superlativo máximo, ou seja, Santíssimo. Por isso, Ele não admite qualquer mácula ou imperfeição, especialmente a moral. Os animais destinados ao sacrifício deviam ser perfeitos, assim como o pão escolhido da flor da farinha. Sem essa total limpeza que os fariseus pensavam ser externa, mas que Jesus ensinou como provindo do coração ou mente, não é possível ver a Deus (Mt 5, 8). O homem deve permanecer descalço como mandou a Moisés se apresentar para ter a permissão de estar no lugar santo (Êx 3, 5). Descalço, como convém a um escravo, mas também com o significado de estar sem as impurezas que as sandálias recolhem do caminho (Mt 10, 14). EM AMOR: Paulo que fundamenta a justificação na graça de Deus, correspondendo a ela a fé do homem, não o santifica a não ser pelo amor, resumido em sacrifício e obediência. Há três maneiras de interpretar esse amor final do versículo 4: 1) Escolhidos por amor, unindo como final ao início da frase. 2) A santidade como fé aperfeiçoada pelo amor (Gl 5, 6) e que, na era escatológica, só permanecerá como amor (1 Cor 3, 13). 3) Finalmente, a que os autores modernos preferem: unida ao início do versículo seguinte: Em amor tendo nos predestinado.

A PREDESTINAÇÃO: Tendo nos predestinado [proorisas<4309] para adoção filial [uithosian <5206] através de Jesus Cristo para Ele, segundo o bem querer [eudokian <2107>] de sua vontade [thelëmatos <2307>] (5). Qui praedestinavit nos in adoptionem filiorum per Iesum Christum in ipsum secundum propositum voluntatis suae. PREDESTINADOS: Paulo deixa praticamente toda a pequena e grande história humana nas mãos do Pai. É com e por sua benevolência que nós vivemos e somos, como disse aos atenienses (At 17, 28). Aparentemente parece que a liberdade humana está fora de questão. Porém, esta é patrimônio pessoal de todo ser humano e, infelizmente, temos a escolha de podermos enfrentar os desígnios divinos que deveriam se cumprir universalmente em cada um de nós, como Paulo descreve neste versículo. ADOÇÃO: a palavra grega é um composto de uiós [filho] e tithemi [estabelecer] que, logicamente, significa adoção de um filho. Feita por Deus como Pai, é muito mais efetiva que legal. Implica uma participação na divindade, semelhante à que teve Jesus, com uma relação de amor principalmente e com um efeito que os antigos padres da Igreja exemplificavam com o fogo adquirido pelo metal nele submerso. Na realidade, o batismo implica essa submersão que nos dá o elemento divino a produzir semelhança e participação, introduzindo-nos na família divina como filhos amados do Pai (Rm 8, 15) e como irmãos queridos de Jesus, unidos no amor do Espírito. Esta adoção foi fruto do sacrifício de Jesus Cristo como causa meritória, e a Ele unidos como causa exemplar cuja vida procuramos imitar em obediência e com Ele unidos efetivamente por meio do Espírito que nos comunica eficazmente ao tornarmos membros de seu corpo pleno como pleroma de seu abundante poderio universal (Ef 1, 23). Porém não é em Jesus, o Cristo, que tudo tem fim e sentido, mas é no Pai [para Ele] que as coisas são ordenadas, como diz Paulo, uma vez que tudo esteja unido em Cristo, para assim apresentar ao Pai o Reino, dessa forma conquistado (1 Cor 15, 24). EUDOKIA: Desejo, satisfação, boa vontade, boa intenção, bel querer, ou bem querer. O Pai e Deus de nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 15, 6) quis ter mais filhos além do seu unigênito encarnado; e sua vontade admite como tais os que se conformam ao seu Unigênito como diz o apóstolo em Rm 8, 29: Aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho. Este é, segundo Paulo, o modelo e origem de toda a nova humanidade; pois Ele é o primeiro dos nascidos entre muitos irmãos (idem). Assombra essa unidade de doutrina coerente nas cartas paulinas, que não vemos ter muita base nos evangelhos. À exceção do 4º evangelista, os outros têm aparentemente uma teologia muito mais simples, com base na basileia, e da qual dificilmente poderíamos extrair estas conclusões teológicas paulinas. Quem foi primeiramente escrito, Paulo ou o evangelista (Marcos, Mateus, Lucas e João)? É uma questão que praticamente não se discute, mas que é digna de grave consideração.

FINALIDADE: Para exaltação [epainon<1868>] de glória [doxës<1391>] da sua caridade [charitos<5485>] na qual nos favoreceu [echarisomen <5487>] no Amado [ëgapëmeno <25>] (6) em quem temos o resgate [apolutrösin <629>] pelo seu sangue, a remissão [afesin <659>] dos pecados [paraptömatön <3900>], segundo a riqueza [ploutos <4149>] de seu amor [charitos <485>] (7). In laudem gloriae gratiae suae in qua gratificavit nos in dilecto, in quo habemus redemptionem per sanguinem eius remissionem peccatorum secundum divitias gratiae eius. EPAINOS: louvor, elogio, panegírico. É a glorificação da DOXA, que significa, em sentido religioso, a magnificência de Deus como supremo Senhor e do Messias como rei absoluto do Universo. Também se pode falar da gloriosa condição com a qual Deus, o Pai, exaltou o Filho após seu sacrifício na cruz. E finalmente a condição gloriosa dos bemaventurados como participantes da glória de seu Senhor. A frase para o louvor de sua glória, ou da glória de sua graça, sai 3 vezes nesta epístola (1,6; 1, 12 e 1, 14). E Deus recebe o titulo de Pai da glória (1, 17); glória que deve ser participada como é a paternidade, formando a parte dada ao filho em herança (1, 18). CARIDADE: Assim temos traduzido a charis grega que significa favor, dádiva, mercê. Por parte de Deus, de modo especial, é o dom de si mesmo no Espírito Santo (Lc 11, 13) que nos é dado (Jo 14, 26) como continuação do dom do Filho (Jo, 3, 16). AMADO: É o particípio passivo perfeito do verbo agapaö que significa amar, que o latim traduz por dilectus. Evidentemente, o Amado é Jesus de Nazaret, segundo vemos em Mt 3, 17 em que Jesus recebe o título de agapetós desta vez adjetivo que substitui o nome como aposição. APOLYTRÖSIS: É um homônimo de Lytron e ambos significam resgate, ou seja, o pagamento a satisfazer para alforriar um escravo. O pagamento, no caso, foi o sangue, isto é, a vida sacrificada pelos homens, todos pecadores, considerados escravos do diabo e do pecado. Daí que a remissão seja do pecado. E tudo foi feito devido à riqueza de seu amor. PARAPTÖMATOS: propriamente transgressão, como vemos em Mt 6, 5; é a palavra que Paulo emprega 14 vezes em suas cartas. O significado é uma injúria ou afronta contra uma pessoa, seja Deus ou o próximo. Pode ser substituído por pecado ou delito. PLOUTOS: pode significar a abundancia, ou seja, a grandeza sem limites de seu amor. Paulo é um enamorado do amor de Cristo por ele e por todos os que nEle confiam.

A ABUNDÂNCIA: A qual excedeu em nós em toda sabedoria [sofia<4678>] e discernimento [fronësei<4528>] (8). Quae superabundavit in nobis in omni sapientia et prudential. A tradução mais exata, do ponto de vista mais inteligível, seria: Essa opulência de seu amor excedeu, com respeito a todos nós, tudo o que podemos pensar e é prudente imaginar. SOFIA: Embora seja um saber prudente, aqui parece ter o significado de conhecimento em todos os amplos limites da palavra. FRONESIS: Pensamento, que pode ser atitude, como em Lc 1, 17 ou discernimento como um conhecer, na sua totalidade, circunstâncias e fatos. O sentido é um superlativo absoluto desse amor divino que é impossível imaginar, dentro dos limites de nosso modo de pensar e atuar.

A POLÍTICA DIVINA: Para a administração [oikonomian<3622>] da complementação [plërömatos <4138>] dos tempos: resumir [anakefalaiösasthai <346>] todas as coisas no Cristo, tanto as dos céus como as que estão sobre a terra (10). In dispensationem plenitudinis temporum instaurare omnia in Christo quae in caelis et quae in terra sunt in ipso. ADMINISTRAÇÃO: oikonomia é a gerência dos bens domésticos que, em termos mais amplos, podemos falar de administração de uma empresa ou negócio. Aqui se trata do assunto da salvação dos homens. PLERÖMA: E estamos já no final dos tempos que Paulo fala do fim, ou do remate dos mesmos. Propriamente é a conclusão de um período. É a escatologia [o fim de uma era] que já está em função e atuando do momento em que o Verbo se encarnou, segundo Tt 1, 3, que são os tempos próprios para se manifestar essa sua bondade e benignidade (Tt 3, 4). E precisamente essa sua manifestação tem como base a de resumir, como num compêndio de sua política, todas as coisas tanto nos céus como na terra. Exclui Paulo os infernos, lugar onde estão os poderes do mal? Aparentemente não; mas sabemos por outros escritos que os demônios creem e temem (Tg 2, 19), embora estejam submetidos e tenham que dobrar, como vencidos, o joelho diante do nome de Jesus (Fl 2, 10), que os fiéis dobram como amigos. De modo que Cristo seja tudo em todos (Ef 1, 23 e Cl 3,11).

PREDESTINADOS: Nele, no qual também fomos chamados predestinados segundo o propósito daquele que todas as coisas opera segundo o desígnio de sua vontade (11). In quo etiam sorte vocati sumus praedestinati secundum propositum eius qui omnia operatur secundum consilium voluntatis suae. FOMOS CHAMADOS [eklëröthëmen<2820>=vocati sumus] é o aoristo passivo de indicativo do verbo klëroö de significado ser designado por sorte. Logicamente aqui a sorte é substituída pelos desígnios da providência. Chamados por vocação de Deus, como foram os convidados na segunda chamada ao banquete das bodas reais (Mt 22, 9). PREDESTINADOS [prooristhentes <4309>=praedestinati] particípio do aoristo passivo do verbo proorizö, com o significado de predestinar, como lemos em At 4, 28: Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se houvesse de fazer. PROPÓSITO [prothesis<4286>=propositum] apresentação, como eram os pães da proposição (Mt 12, 4); e em termos formais, plano, propósito, resolução, vontade (At 11, 23). E é neste sentido que temos escolhido a tradução. DESÍGNIO [boulë <1012>=consilium] plano, propósito, resolução, e decisão como em At 2, 23: Jesus foi entregue conforme o plano previsto na sabedoria de Deus. Ou conselho e deliberação como em At 4, 23: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará. A tradução desígnio é até conforme com a ideia paulina que coloca a predestinação e vontade divina acima de nossos próprios méritos. É o que Paulo dirá como base de sua gratitude: O qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim (Ef 1, 5).

PARA LOUVOR: Para sermos para louvor de sua glória os que previamente temos esperado em Cristo (12). Ut simus in laudem gloriae eius qui ante speravimus in Christo. LOUVOR [epainos<1868>=laus] aprovação, reconhecimento. O exemplo é Rm 1, 29: A circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. Como aprovação temos 1 Cor 4, 5: [no dia do juízo] então cada um receberá a devida aprovação da parte de Deus. Por isso, Paulo dirá que nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado (Ef 1, 5-6). Evidentemente Paulo está falando do final dos tempos escatológicos em que a bondade será suprema e o louvor terá como motivo uma ação de graças perene por termos recebido de Cristo a nova vida que nos tornou filhos no Filho (Gl 4, 20).

SELADOS: No qual também vós, ouvintes da palavra da verdade, o evangelho de vossa salvação, no qual também fostes selados com o Espírito Santo da promessa (13). In quo et vos cum audissetis verbum veritatis evangelium salutis vestrae in quo et credentes signati estis Spiritu promissionis Sancto. Paulo chama de palavra da verdade o evangelho que é salvação. FOSTES SELADOS [esfragisthëte<4972>=signati estis] é o aoristo passivo do vebo sfragizö literalmente coisa que está provista de um carimbo, ou selada, como diz Mateus 27, 66 do sepulcro: seguraram o sepulcro com a guarda, selando a pedra. Em sentido figurado, marcado com uma identidade especial, como aqui e em 2 Cor 1, 22: O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações. A identidade do selo é o Espírito que em nós habita e clama Abbá (Rm 8, 15). Esse Espírito é o da PROMESSA [epaggelia<1860>=promisio] ou Espírito prometido, como paraklëtos, que Jesus tinha prometido: Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique convosco para sempre (Jo 14,16). Para ser o Espírito da Verdade e a Testemunha essencial de Cristo (Jo 14,13 e 16, 8-10).

O PENHOR: O qual é penhor de nossa herança para resgate de sua posse para louvor de sua glória (14). Qui est pignus hereditatis nostrae in redemptionem adquisitionis in laudem gloriae ipsius. PENHOR [arrabön<728>=pignus] com o signficado de depósito, pagamento inicial, fiança, penhor, garantia. De que é o Espírito garantia? Como Paulo afirma, pouco antes de falar do penhor do Espírito, sua garantia de que o mortal seja absorvido pela vida (2 Cor 5,4). HERANÇA [klëronomia<2817>=hereditas] como em Mt 21, 38: Os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua vinha. Segundo a lei vigente, ao não ter herdeiros o dono, a herança seria dos vinhateiros trabalhadores. A herança é eterna segundo Hb 9, 15, incorruptível e incontaminável, como é o reino de Cristo definitivo. Se a herança do AT era uma terra prometida, a Eretz Israel, a herança do NT era a participação do Reino, a eterna bem-aventurança de viver a mesma vida de Deus dentro de nós. Vive em mi Cristo, que diz Paulo (Gl 2, 20). Por isso o Espírito que habita no fiel é o penhor e garantia de que a vida definitiva nunca nele terá fim. RESGATE [apolytrösis<629>=redemptio] o significado próprio era de pagamento para a libertação de um escravo, que do latim redemptio, foi traduzido em línguas vernáculas, como redenção. Exemplo: Quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima (Lc 21, 28). Essa redenção, segundo Paulo, atinge o corpo tanto como o espírito do homem; pois substancialmente é a adoção do mesmo como filho de Deus já que esperamos a mesma por adoção como redenção do nosso corpo (Rm 8, 23). E quem fez o pagamento foi Cristo em quem temos a redenção pelo seu sangue (Ef 1, 7). De modo que o cristão já é posse de Cristo; e, como diz Paulo, para louvor de sua [de Cristo] glória. De modo que tudo é de Cristo (Cl 3, 11) e Cristo é de Deus (1Cor 15, 24).

EVANGELHO - Marcos 6, 7-13
(paralelos: Mt 10, 1-42 e Lc 9, 1-10)

INTRODUÇÃO: O evangelho é a narração do envio dos 12, na sua missão de anunciar o Reino com missão limitada à região da Palestina (Mt 10, 5), com ênfase especial na conversão, porque o Reino já chegou (Mt 10, 7). O Reino implicava uma nova mentalidade, um giro de 180 graus de uma religião externa e formalista, com base na Torah, a outra em que o encontro com Jesus, um enviado do Pai, era o fundamento de uma fé que se exercitava pelo amor (Gl 5, 6). Embora possamos afirmar que nem mesmo os doze entendiam totalmente a base do Reino, a exceção de que Jesus era o Messias, o iniciador de uma nova Era ou pacto com Deus, de um povo novamente eleito (Jo 1, 49). O relato de Marcos é o mais breve dos três sinóticos e apenas contém doutrina teológica e uma série de recomendações práticas para distinguir os verdadeiros missionários dos astutos arrecadadores de riquezas, para proveito individual. Vejamos a interpretação dos versículos que o compõem.

A MISSÃO: Então, chama a si [proskaleitai <4341>] os doze e começou a enviá-los dois a dois, e deu-lhes autoridade [exousian <1849>] sobre os espíritos [pneumatön<4151>], os impuros [akathartön <169>] (7). Et convocavit duodecim et coepit eos mittere binos et dabat illis potestatem spirituum inmundorum. CONVOCA: Mateus usa o mesmo verbo, só que, mais corretamente, no aoristo e não no presente de Marcos. Os convoca, aos doze. Quando foi esta missão? Muito provavelmente após um tempo longo de convivência com Jesus. Um ano após tê-los chamado como seus discípulos, talvez. Um mestre esperava um tempo suficientemente longo para poder confiar que seus ensinamentos estivessem bem fundados para seus discípulos poderem repetir quase ao pé da letra os seus ensinamentos. Isto avalia os escritos evangélicos, se realmente escritos pelos apóstolos ou com sua licença. Os escritos são produto de um discipulado constante e repetido. A eleição de Matias corrobora este modo de julgar: homens que acompanharam Jesus desde o batismo (At 1, 21-22). Um dado a mais: as frases curtas do Senhor são, segundo os expertos, verdadeiros dísticos, como acostumavam ser os pronunciamentos dos rabinos. Nem tudo é devido à memória dos semitas, nem tudo é uma recordação afastada no tempo. O ENVIO: Foi feito de dois em dois, para ajuda mútua e para que ninguém pudesse duvidar de suas asserções, pois a Lei mandava que fossem duas as testemunhas (Dt 17, 6 e 19, 15).

AUTORIDADE: Exousia que entre suas acepções está o poder de governar e mandar, de modo que os súditos fossem obrigados a obedecer. Tal era o poder dado por Jesus aos doze sobre os demônios, poder muito mais admirado, na época, que o de curar doenças, e muito mais ordenado à implantação do Reino, cujo inimigo era, evidentemente, o Maligno, ou Satanás (Mt 13, 25). ESPÍRITOS IMPUROS: Pneuma entre outros significados tem o de ser um espírito superior ao homem, mas inferior a Deus, que pode ser um anjo; mas que neste caso é um demônio ou espírito imundo [akathartos]. Esses demônios impuros eram, segundo se acreditava, a origem das doenças nervosas e doenças do tipo possessão diabólica, que tomavam posse do corpo do possesso. A frase espírito imundo sai 1 vez em Mateus (12, 43), 7 em Marcos e 4 em Lucas. Como endemoninhado temos 2 em Mateus, 4 em Marcos e 2 em Lucas. É notável que em João não tenhamos nenhum caso de cura de um possesso, mas é o próprio Jesus a quem os seus contemporâneos dizem ter demônio (Jo 7, 29; e 8, 48 entre outros). Hoje diríamos que está louco, como vemos em Jo 10, 20. Já que muitas doenças das que hoje sabemos têm sua origem puramente fisiológica, eram atribuídas a um espírito maligno, como podemos ver nos casos de mudos e cegos (Mt 9, 32 e 12, 22). Logicamente vemos como os escritores sagrados falam segundo a ciência da época e a cultura correspondente, tanto histórica, como de origem mais ou menos científica. Não podemos, pois, usar citações bíblicas para afirmar fatos científicos ou históricos como verdades reveladas. Segundo Mateus, os apóstolos também receberam o carisma de cura para toda classe de doenças e enfermidades (Mt 10, 1), coisa que Lucas confirma (Lc 9, 1).

AS ORDENS: E lhes ordenou que nada tomassem para (o) caminho, senão um bastão [rabdon<4464>] só, nem alforje [përan<4082>], nem pão, nem cobre [chalcon<5475>] no cinto [zönën<2223>] (8), mas, tendo calçado sandálias [sandália <4547>]; e não vistais duas túnicas [chitönas] (9). Et praecepit eis ne quid tollerent in via nisi virgam tantum non peram non panem neque in zona aes. Sed calciatos sandaliis et ne induerentur duabus tunicis. BASTÃO: A palavra indica um bordão, uma vara grossa que era a arma com a qual os peregrinos se defendiam dos bandidos no caminho. Mas tudo que não é imediatamente necessário para o caminho deve ser eliminado: alforjes [përa] onde levar a comida como o pão, ou onde os mendicantes religiosos ou os famosos cínicos da época, levavam os dinheiros arrecadados em suas viagens missionárias. Fora desse cajado, necessário para o caminho, a proibição de qualquer outra ajuda ou provisão é clara nas ordenanças de Jesus. Nada de comida e nada de dinheiro para comprá-la ou se hospedar nos povoados. Com respeito ao dinheiro, Marcos fala de cobre [chalcon] no cinto. No Brasil, até pouco tempo atrás, o dinheiro que em castelhano eles chamam de prata, era em português denominado como cobre. Exatamente como em Marcos. Cobre está por moedas de qualquer metal que eram colocadas no cinto [zönë], propriamente uma faixa de tela que, como era oca, servia de bolsa para carregar o dinheiro. Jesus permite o uso de sandálias: uma sola de couro atada ao pé por meio de tiras da mesma matéria. Era o calçado para o caminho, já que, em geral, em casa andavam com os pés nus. As duas túnicas: A palavra Chitön era a túnica ou vestido interior diferente da clâmide ou capa, externa. Que podemos dizer sobre estas recomendações? Jesus quer evitar a simonia. Na época, existiam muitos mensageiros ambulantes que em nome de um templo ou uma divindade percorriam os caminhos e entravam nas cidades. Saiam em busca de dinheiro para seus templos e voltavam carregados de bens. Temos o exemplo de Lucino que, como ministro da deusa Atargatis, reunia donativos para os sacrifícios de seu santuário. Saiu como mendigo, mas voltou como um arrieiro carregado de mercadorias. Em cada viagem trazia setenta sacos cheios. Talvez o exemplo dos apóstolos missionários dos tempos da Didaché tenha sido tomado deste trecho evangélico: não deve permanecer mais de um dia ou dois… Se permanecer 3 dias é um falso profeta. E quando partir, que não tome nada a não ser pão e se pede dinheiro é um falso profeta.

HOSPEDAGEM: E dizia-lhes: quando, pois, entrardes em casa, permanecei ali até dali sairdes (10). Et dicebat eis quocumque introieritis in domum illic manete donec exeatis inde. Em Mateus temos uma explicação mais explícita desta hospedagem buscando uma casa digna, isto é que não fosse impura por diversas circunstâncias. A razão de não mudar de casa é melhor compreendida nestas palavras de um rabino da época: Até quando um homem não deve mudar de hospedagem gratuita? E o rabi respondeu: Até que o hospedeiro não o golpeie ou lhe jogue suas coisas nas costas. Como temos visto, a Didaché não permitia uma estadia muito prolongada.

A REJEIÇÃO: E se em algum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, saídos dali, sacudi o pó dos calçados de vossos pés em testemunho para eles (11). Et quicumque non receperint vos nec audierint vos exeuntes inde excutite pulverem de pedibus vestris in testimonium illis. Nas ideias da época, se alguém vinha de viagem de regiões de gentios e não se purificava ao entrar em Israel, a profanava com o pó que trazia dessas regiões. Por isso estava obrigado a sacudir vestidos e calçados antes de entrar no Hertz Haaretz [terra de Israel]. Esse gesto foi feito por Paulo e Barnabé em Antioquia da Pisídia, quando os judeus levantaram uma perseguição contra eles (At 13, 51). Mais do que o gesto está a condenação dos que não quiseram ver a luz nem ouvir a verdade testemunhada com prodígios, como eram os sinais feitos pelos apóstolos.

RESULTADOS: E tendo saído, pregavam para que se convertessem [metanoësösin <3340>] (12). E expulsavam muitos demônios e ungiam com óleo muitos doentes e sanavam (13). Et exeuntes praedicabant ut paenitentiam agerent. Et daemonia multa eiciebant et unguebant oleo multos aegrotos et sanabant. O metanoeö significa mudar de parecer, ou seja, admitir que até agora não se tinha seguido uma religião correta e se devia em consequência mudar de ideias e conduta. Era uma forma nova de culto a um Deus que rejeitava a antiga adoração como defeituosa e insuficiente. Além de que por meio dos antigos profetas, cuja tradição vemos refletida nas palavras do Batista, essa nova presença de Deus era como um julgamento em que palha e trigo deviam ser separados (Lc 3, 17). A unção com óleo é uma forma de remédio muito usada nos tempos antigos. Sua prática no Oriente é usual até em nossos dias, mas o uso pelos apóstolos, nesta ocasião, é mais instrumental que curativa. Era um sinal externo de que pela fé o poder divino atuava no enfermo para obter a cura. Todos se curavam? Não existe certeza, embora a frase deixe margem suficiente para pensar numa cura geral. Era o sacramento da Unção? Não, pois neste a finalidade principal era taumatúrgica e na unção temos o perdão dos pecados e da culpa dos mesmos como finalidade primária. O Concílio de Trento afirma: A unção sagrada dos enfermos foi instituída como verdadeiro e próprio sacramento do NT por Cristo, Nosso Senhor, insinuado já em Marcos e promulgado por Tiago (Tg 5, 14). Como temos dito no início, a expulsão dos demônios era um símbolo especial: o de que uma nova era já estava atuando e de que o poder do maligno estava sendo derrotado: Se no dedo de Deus eu expulso os demônios, certamente a vós é chegado o Reino de Deus (Lc 11, 20).


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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