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Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Chegamos, irmãos e irmãs, ao segundo domingo da Quaresma. A eucaristia é a celebração da aliança de Deus com a humanidade, selada no sangue de Jesus. Deus, desde Abrão até os nossos dias propõe uma aliança de comunhão conosco, para que a nossa vida seja transfigurada pela luz da fé, através do Evangelho de Jesus Cristo. Neste sentido, a liturgia desta segunda etapa da nossa caminhada quaresmal apresenta-se totalmente iluminada pelo dom da fé, concedido por Deus a todos nós. Sendo a Quaresma tempo também da Campanha da Fraternidade, a mesma vem de encontro com nossa reflexão, pois convida os jovens a se disporem, iluminados pela fé, ao seguimento de Jesus Cristo, com o lema: "Eis-me aqui, envia-me". Mas antes de se disporem ao envio, faz-se necessário crer na Palavra, no Evangelho, seguir Jesus e, então sim, dizer: estou pronto para ir ao mundo e testemunhar o Evangelho. Entremos, pois, no silêncio profundo de nossos corações, para ouvir a voz de nossa consciência, dispondo-nos a subir o Tabor com Jesus para contemplar a glória divina em sua pessoa. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Neste domingo, a liturgia nos leva ao Monte da Transfiguração, onde Jesus mostrou a extensão de sua glória e o futuro da humanidade redimida. Mostrou também o caminho da Cruz como única via para se chegar à glória da ressurreição, prefigurada no Tabor. Aproveitemos o apelo de Cristo e as sugestões da Campanha da Fraternidade, para instauramos em nossa Igreja o caminho rejuvenescedor da fé e a coragem audaciosa da missão. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Um rito sacrifical sela o pacto entre Deus e Abraão, na mesma linha dos ritos que toda religião realiza como expressão de suas relações com a divindade. A iniciativa vem de Deus, sua é a escolha de Abraão, sua é a promessa de uma terra e uma descendência que ultrapassa toda esperança. Cristo se apresenta como a aliança definitiva entre Deus e o seu povo. Também para ele a aliança se faz através de um êxodo (no evangelho, Moisés e Elias falam do seu êxodo, sua morte) e de um ingresso - a face do Cristo muda de aspecto e suas vestes fulgurantes indicam a ressurreição. Os apóstolos não compreenderam, no momento, o episódio da transfiguração, mas quando o Espírito desce sobre eles, tornam-se as testemunhas do fato decisivo da cruz e da ressurreição. A eles e a toda a comunidade suscitada por seu testemunho é confiado o memorial da nova aliança, selado não com o sangue de animais imolados, mas com o sangue do próprio Cristo, para remissão dos pecados. Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (Gênesis 15,5-12.17-18): - "O Senhor tirou-nos do Egito com sua mão poderosa e o vigor de seu braço." SALMO RESPONSORIAL 26/27: - "O Senhor é minha luz e salvação." SEGUNDA LEITURA (Filipenses 3,17-4,1): - "olhai atentamente para os que vivem segundo o exemplo que nós vos damos" EVANGELHO (Lucas 9,28-36): - "Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o!" Homilia do Diácono José da Cruz — 2º Domingo da Quaresma — ANO C "TRANSFIGURAÇÃO" Eu estava empolgadíssimo ouvindo o relato sobre um filme, assistido por um amigo meu, que voltou cheio de entusiasmo falando maravilhas do mesmo e narrando com precisão o início, quando toda a história começa a se desenvolver, mas, porém, ao chegar na parte principal, quando todo o mistério seria revelado, bastante sem graça ele confessou-me que só se lembrava do final porque, dominado pelo sono acabou dormindo no melhor da história, que raiva que me deu! Com Pedro, Tiago e João aconteceu à mesma coisa no alto daquele monte onde Jesus havia subido para rezar, como frisa o evangelista, e justamente na hora em que Moisés e Elias, personagens importantes do Antigo Testamento, conversavam com Jesus sobre o seu “Êxodo”, os discípulos nada viram e nem ouviram, simplesmente porque pegaram no sono. Esse “dormir” teológico sempre aparece na Escritura Sagrada para mostrar como o homem é pequeno diante do grandioso mistério de Deus, no paraíso o homem dormia quando Deus tirou uma de suas costelas para fazer a mulher, no Horto da Oliveira à cena se repetirá, quando os discípulos dormem em um momento em que Jesus vive a sua angústia. Quando dormimos não sabemos nada do que se passa ao nosso redor, portanto, na vida de fé, dormir é não perceber a ação de Deus em nossa vida. Ainda bem que eles tiveram bom censo e diferente do meu amigo, decidiram não contarem nada a ninguém sobre tudo o que tinha acontecido no alto da montanha – afirma o evangelho em seu final – e particularmente acho que fizeram muitíssimo bem porque se saíssem falando, não iriam dizer coisa com coisa, pois no fundo não haviam compreendido nada daquelas coisas que estavam acontecendo com o Mestre. Ao anunciarmos Jesus e falarmos do seu evangelho, devemos fazer com muita clareza e convicção, caso contrário corremos sempre o risco de ficarmos fantasiando o Cristo do evangelho. Subir em uma montanha não é tarefa das mais fáceis, requer esforço, concentração e muita atenção, pois qualquer escorregão, além de poder ser fatal, a gente ainda perde todo o esforço do trabalho já feito. Jesus havia subido á montanha para rezar e nós também “subimos”, isso é, fazemos a nossa ascese quando nos entregamos à verdadeira oração, aquela onde Deus nos envolve na sua vida de comunhão, como aquela nuvem envolveu os discípulos, e revela-nos quem somos e qual a nossa missão. Essa experiência nós a podemos fazer na oração pessoal, ou quando nos reunimos na comunidade, em torno da Palavra e da Eucaristia, onde celebramos a paixão, morte e ressurreição de Jesus, isso é, celebramos as dores e os fracassos, o amargor do cálice da derrota, mas também a glória da ressurreição, que marcou o seu êxodo, tema da conversa entre os dois personagens e Jesus. Mas sempre há os cristãos-soneca, que também dormem o tempo todo, isso é, participam de todo este mistério sem compreendê-lo e vivenciá-lo em seu dia a dia e daí, como o apóstolo Pedro, acordam assustados, com a vontade de armarem as tendas do comodismo, fechando-se em seu grupo ou em sua comunidade, para fugir dos desafios que missão certamente lhes trará, são aqueles cristãos que só querem sombra e água fresca. Para compreender todo o mistério, uma só coisa é necessária; ouvir com atenção as palavras de Jesus o Filho de Deus! “Escutai o que ele diz...”, dia a voz que sai do meio da nuvem, sigam pelo caminho que ele indicar, vivam do modo como ele viveu, ponham o evangelho no coração, e teremos enfim o Reino dentro de nós, irradiando muita vida e esperança, pois a transfiguração mostra-nos a glória na qual seremos envolvidos, porém, também lembra-nos que há todo um êxodo a ser percorrido, um caminho que não será dos mais fáceis, mas somente nele é que encontraremos as pegadas Daquele que venceu e foi glorificado pelo Pai. José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Costa — 2º Domingo da Quaresma — ANO C Transfiguração Você conhece o poema “pegadas na areia”? Relata a observação que uma pessoa fazia estando na praia de que nos momentos mais felizes da sua vida existiam duas pegadas na areia: as do Senhor e as suas. Deus estava presente nos momentos de felicidade. Mas… que decepção! Nos momentos de dificuldade, a mesma pessoa notava que só existia uma pegada na areia. Ao perguntar ao Senhor o porquê daquilo, Deus lhe respondeu que nos momentos mais difíceis Ele a segurava nos braços sem que ela mesma percebesse isso. Surpresa maior ainda: as pegadas eram do Senhor! Escuta-se neste domingo em toda a Igreja o trecho do Evangelho que relata a transfiguração do Senhor. Ao olharmos um pouco o contexto, observamos que Jesus tinha anunciado aos seus que “é necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e ressuscite ao terceiro dia” (Lc 9,22); que ele tinha falado também que se alguém o quisesse seguir que tomasse a cruz (cf. Lc 9,23-24); por outro lado, os discípulos esperavam um messias político que vencesse pela força de um exército dominador o poder dos romanos, de cujo jugo desejavam ver-se livres. Tendo em conta tudo isso, podemos dizer que os discípulos encontravam-se bastante desnorteados e até mesmo desanimados. A transfiguração do Senhor é um consolo. De fato, dizia São Leão Magno que “o fim principal da transfiguração foi desterrar das almas dos discípulos o escândalo da Cruz”; trata-se de uma “gota de mel” no meio dos sofrimentos. A transfiguração ficou muito gravada na mente dos três apóstolos que estavam com Jesus; anos mais tarde São Pedro lembrar-se-ia daquele maravilhoso acontecimento na sua segunda epístola: “Este é o meu filho muito amado, em quem tenho posto todo o meu afeto”. Esta mesma voz que vinha do céu nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo” (2 Ped 1,17-18). Ele, Jesus, continua dando-nos o consolo – quando necessário – para podermos continuar caminhando e para que nunca desistamos. É preciso que façamos muitos atos de esperança, uma virtude muito importante para todos os membros desse estado da Igreja que nós chamamos de “militante” ou “peregrina” Somos os que combatem e somos combatidos; tenhamos, portanto, presente que a nossa força vem do Senhor, nele nós esperamos. Vale a pena seguir alguém que vai morrer na Cruz? Uma pergunta semelhante pôde ter passado pela mente dos discípulos do Senhor como também pôde ter passado alguma vez pela nossa, quiçá formulada de outra maneira. No ciclo B, a liturgia nos apresenta o relato da grande prova ao qual Abraão – o pai de todos os crentes – é submetido (cf. Gn 22). O relato faz parte das assim chamadas “tradições patriarcais” (Gn 12-36). A prova pela qual Abraão passa é dramática: sacrificar Isaac, seu filho amado e, ademais, filho da promessa. Muitas vezes, também nós passamos por provas espirituais difíceis: parece que Deus não me ouve, que ele está longe de mim, não liga para mim, muda de planos e que “não está nem aí” para os meus planos. Os discípulos de Jesus têm uma sensação semelhante diante do anúncio da Paixão e do seguimento exigido por Jesus: encontravam-se diante de um projeto que eles não tinham imaginado. E agora, vale a pena? Vale a pena, Abraão? Vale a pena, discípulos de Cristo? Você que lê esse texto: vale a pena? Hoje em dia, você e eu só estamos no serviço do Senhor porque aqueles primeiros viram que valia a pena e porque livremente vimos, nós também, que vale a pena. Os discípulos da transfiguração são os mesmos do Monte das Oliveiras, os da alegria são também os da agonia. É preciso acompanhar o Senhor em suas alegrias e em suas dores. As alegrias preparam-nos para o sofrimento e o sofrimento por e com Jesus dá-nos alegria. Os discípulos, que estavam desanimados diante do Mistério da Cruz, são consolados por Jesus na transfiguração e preparados para os acontecimentos vindouros, como, por exemplo, o terrível sofrimento que Ele padecerá no Getsêmani. Vale a pena segui-lo? Certamente. Animemo-nos mutuamente! A nossa pátria é o céu. Para o povo de Israel estar em qualquer lugar que não fosse Jerusalém era estar exilado, fora da pátria; para o cristão, todo este mundo é um exílio, já que a sua pátria é o céu, para lá se encaminha. Mas, paradoxalmente, qualquer lugar neste mundo é para o cristão uma pátria, pois sabe que está no mundo que é propriedade do seu Pai do céu. O nosso desejo de eternidade não anula as nossas responsabilidades para com esse mundo tão amado por Deus e por cada um de nós. Jesus mesmo mostra aos seus discípulos que deve ser assim quando, diante da proposta de Pedro para fazerem três tendas no monte Tabor, desce para continuar junto com eles a sua missão evangelizadora. Tendo presente o que foi dito, alguns propósitos concretos para este domingo poderiam ser: trabalhar por Deus, olhar as tribulações e contrariedades como uma benção santificadora do Senhor, fazer muitos atos de esperança (“Senhor, eu espero em ti”), pensar muitas vezes durante o dia que Deus está junto a nós em todos os momentos, viver na certeza de que nós podemos sempre falar com Deus. Ele é nosso Pai. Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa - 24/02/2013 Comentário Exegético — 2º Domingo da Quaresma — ANO C EPÍSTOLA (Fp 3, 17-4,1)INTRODUÇÃO: Diante do erro dos judaizantes, que muitos em Filipo acreditavam como sendo verdade, Paulo predica a liberdade evangélica que retira da obrigação moral todas as leis mosaicas, a começar pela circuncisão. A cruz de Cristo seria vã e inútil se a salvação consistisse em leis de impureza e observância de antigos costumes. A fé que atua pela caridade (Gl 5, 6) é a nova lei que derroga antigos costumes e privilégios. A salvação está na cruz e morte de Cristo e não na Torah e seus preceitos. IMITAI-ME: Irmãos: tornai-vos coimitadores meus e contemplai os assim caminhantes do modo como tendes a nós como modelo (17). Imitatores mei estote fratres et observate eos qui ita ambulant sicut habetis formam nos.Neste capítulo terceiro de sua carta, Paulo insiste em debelar os erros dos judaizantes que consideravam a Lei como valor supremo da justificação, contrariamente à cruz de Cristo que é a base da mesma, segundo o Evangelho. Para debater esse erro dos quais Paulo chama de maus operários e falsos circuncisos, ele, Paulo, israelita de nascimento e circunciso da tribo de Benjamin, quanto a justiça [integridade em guardar os mandatos] irrepreensível, quando encontrou Jesus Cristo seu Senhor, considerou tudo como lixo a fim de ganhar a Cristo e ser achado nele pela fé, com a justiça que vem de Deus e se apoia na fé (Fp 3, 9). Trata-se de conhecê-lo a Ele, ao poder de sua ressurreição e à comunhão com seus sofrimentos, de tornar-se semelhante a Ele em sua morte, para assim alcançar a ressurreição. Sem ser perfeito neste seu intento, Paulo exorta os filipenses a caminhar nessa direção. Este é o momento em que entra o versículo que comentamos. COIMITADORES: em grego Summimëtai [<4831>=imitatores]. Os de Filipo devem imitar seu exemplo e os que caminham nessa mesma direção, que negativamente se desligava da Torah e especialmente da circuncisão. A palavra grega parece uma invenção de Paulo, pois não se encontra em parte alguma fora deste versículo. É composta de Sun [<4862>=cum] com de companhia, e o particípio do verbo Mimeomai[<3401>= imitare] imitar. Daí que temos escolhido também uma nova palavra: coimitadores. A Nova Vulgata traduz efetivamente coimitatores. CONTEMPLAI: Do verbo grego Skopeö [<4648>=observare], observar, contemplar, prestar atenção como para tomar conta de uma pessoa ou coisa em próprio proveito, distinguindo-o do blepein [olhar] sem se concentrar na visão. Aqui é, pois, uma petição de atenta observância da conduta de Paulo e dos que como ele procediam. CAMINHANTES: Do verbo Peripateö [<4043>=ambulare], caminhar e em sentido figurado como aqui, viver ou conduzir-se. MODELO: o Tupos [5179>=forma] impressão, imagem, exemplo, padrão ou molde. Daí temos os tipos de imprensa, por exemplo. E os ensinamentos próprios de uma religião, modelos a serem imitados, que é nosso caso. Em definitivo, parece que a comunidade de Filipos estava dividida entre os judaizantes e os que seguiam o exemplo de Paulo para os quais o AT se deduzia das palavras de Cristo: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo (Mt 22, 37 e 39). A conduta de Paulo, mais do que ética era uma conduta dogmática em que a cruz de Cristo estava em confronto com a circuncisão e a Torah. Paulo escolheu a cruz e a essa escolha limita seu exemplo e pede sua imitação. O ERRO DE MUITOS: Pois muitos caminham, como muitas vezes vos disse, os quais, e já agora lamentando digo,(como) os inimigos da cruz do Cristo (18), dos quais o fim destruição, dos quais o Deus (é) o ventre e a glória na vergonha deles, os quais nas coisas terrenas se ocupam (19). Multi enim ambulant quos saepe dicebam vobis nunc autem et flens dico inimicos crucis Christi quorum finis interitus quorum deus venter et gloria in confusione ipsorum qui terrena sapiunt. CHORANDO: o grego Klaiön [<1799>=flens] particípio de presente do verbo Klaiö lamentar, chorar ou prantear, talvez seja melhor dizer lamentar. Com o significado de chorar, temos que Pedro, após renegar Jesus, chorou amargamente (Lc 22, 62) e com o significado de lamentar quando pede às mulheres de Jerusalém: não vos lamenteis por mim e chorai por vós e vossos filhos (Lc 23, 28). Na realidade, é o verbo usado para descrever os lamentos das carpideiras, ou seja, choro ou lamento pela morte de um ser querido. E é neste sentido que deve se tomar o Klaiön de Paulo deste versículo. INIMIGOS: Echthros [<2190>=inimicus] embora seja um adjetivo, com o artigo se transforma em nome, como amartolos que é pecador, como adjetivo, e gentil como nome. Aqui o inimigo é quem odeia ou se opõe à cruz de Cristo, como temos visto anteriormente. DESTRUIÇÃO: Paulo fala do fim dos tais, que é Apöleia [<684>=interitus]. Esta é uma passagem importante pois é uma afirmação geral como se fosse uma lei universal. Que significa Apöleia? No dicionário significa ruína, destruição, aniquilamento. Vejamos algum exemplo: Eu os protegi e nenhum deles se perdeu a não ser o filho da perdição (Jo 17, 12). Este versículo de João ilustra suficientemente a passagem de hoje. A perdição é o afastamento total da graça divina e da salvação. VENTRE: Paulo continua com a descrição dos réprobos que tem como deus o ventre, Koilia [<2836>=venter] como em Lc 1, 15 que pode ser também o estômago como em Mt 15, 17. Ao afirmar que seu deus é o ventre, quer dizer que é a coisa que eles adoram como se fosse o seu deus. Ventre substitui o que nele entra (Mt 15, 17) que é a comida e bebida, de cujos vícios Paulo tem uma descrição como sendo o oposto ao reino de Deus verdadeiro (Rm 14, 17). E pela história sabemos dos famosos banquetes que duravam toda a noite de modo a Jesus reclamar vigilância para que, chegado o dia da vingança, o coração [mente] não esteja sobrecarregado com as consequências da orgia e da embriaguez (Lc 21, 31). Uma outra descrição dos vícios contrários ao Reino é que os pagãos se gloriavam ou tinham como doxa [<1391>= glória] a vergonha ou Aischunë [<152>=confusio] que significa ignomínia, desonra, vergonha, coisa de que se deve envergonhar. A palavra aischinë é empregada por Lucas em 14, 9 quando um convidado deve tomar o último lugar por ter querido ocupar uma cadeira que não lhe correspondia. Paulo, sem dúvida, refere-se aos vícios sexuais de sodomia e pederastia, frequentes na sociedade romana da época. Outros exegetas falam dos judeus que tinham na pureza dos alimentos [o ventre] a regra geral de santidade, a qual constituía seu deus, pois eram os mandatos mais rigorosamente obedecidos. E como a circuncisão [a vergonha] era neles a glória que os distinguia dos gentios, pode-se dizer que se cumpria neles a frase paulina com perfeita exatidão. NAS COISAS TERRENAS: A Epigeia [<1919>=terrena] literalmente sobre a terra pode ser traduzida por terrenas, porque é plural, ou terrestres. É o contrário de Anöthen [<509>=a summo] do alto, acima, de novo, do princípio. Neste caso é, sem dúvida, do alto ou do céu, pois está em oposição às coisas terrenas ou inferiores, segundo o universo de três pisos que era a ideia comum na época. NOSSA PÁTRIA: Porém nossa cidadania em coisas do céu está, de onde também aguardamos salvador, (o ) Senhor Jesus Cristo (20). Nostra autem conversatio in caelis est unde etiam salvatorem expectamus Dominum Iesum Christum. CIDADANIA: A palavra Politeuma [<4175>=conversatio] tem o significado de administração, governo, bem-estar comum, cidadania. Sai unicamente neste versículo. Vejamos as traduções: conversatio (Vul), pátria (AV e TEB), cidadania (Es), municipatus (Nova Vulg), siamo cittadini (It). O latim conversatio significa a ação de estar ou morar em algum lugar, além de conversação ou trato. O significado é que a nossa maneira de viver deve estar nas COISAS DO CÉU, En ouranois [<3772>=in coelis] e é precisamente daí onde AGUARDAMOS do grego Apekdechometha [<553>=expectamus] estar aguardando com ansiedade, estar na expectativa, sendo esta a melhor tradução. Essa expectação é a salvação de parte do Senhor Jesus Cristo. Na realidade, Paulo fala do Salvador [sötera<4990>=salvatorem] que em hebraico é Jeshua e que em nosso idioma se pronuncia como Jesus, a cujo nome Paulo acrescenta Cristo [=ungido] tradução de Messias. Se salvação poderia ter um significado ativo da parte do paciente da ação, salvador indica sempre um agente que traz gratuitamente o benefício, independentemente da ação do paciente, a quem basta o desejo de receber o seu libertador. A TRANSFORMAÇÃO: O qual transformará o corpo de nossa baixeza para ser conforme ao corpo da sua majestade segundo a força do poder dele e de serem todas as coisas a ele sujeitas (21). Qui reformabit corpus humilitatis nostrae configuratum corpori claritatis suae secundum operationem qua possit etiam subicere sibi omnia. TRANSFORMARÁ: Com overbo Metaschësmatizö [<3345>=reformabit] mudar a figura, transformar, que os filólogos distinguem de metamorfoö, sendo este usado para uma transformação mais profunda e permanente. O objeto da transformação é o corpo, o nosso corpo material que Paulo descreve como sendo de baixeza, ou baixa qualidade, indigno, que a humildade do latim não traduz muito oportunamente. Pois Tapeinösis [<5014>=humilitas] indica vileza, baixeza, um estado inferior. Pelo contrário humilitas é uma virtude. Preferimos, pois, baixeza, insignificância, condição humilde, um corpo corruptível e mortal que dirá Paulo em 1 Cor 13, 53. CONFORME: é a tradução literal de Summorfon [<4832>=configuratum] neutro, já que corpo é também neutro, tanto o soma grego como o corpus latino. A tradução literal seria conforme, como temos escolhido. MAJESTADE: em grego Doxa [<1391>=claritas]. Na realidade, doxa é traduzido por glória. Se referida aos homens, é a opinião, estima, esplendor; se aos reis, a magnificência, dignidade, majestade; e com respeito de Deus, a excelência e majestade gloriosa e em supremo grau exaltada sobre qualquer criatura, que aos olhos humanos era o resplendor com que iluminava estrelas e aparecia como luz brilhante e inextinguível como era o Kabod, a nuvem que permanecia sobre o tabernáculo e assim, a glória do Senhor o enchia. Outros dizem que é o termo bíblico do AT pela parusia, ou presença visível do Senhor. Temos exemplos nos evangelhos : Apresentou-se um anjo e a glória do Senhor os envolveu de resplendor (Lc 2, 9). Em Caná de Galileia manifestou Jesus sua glória e seus discípulos creram nele (Jo 2, 11). Glória do Senhor é pois o aspecto de majestade e poder que pode se manifestar como resplendor externo, rodeando o corpo ressuscitado de Jesus. Paulo descreve em parte –só vemos em parte- como será o corpo semelhante ao corpo de Cristo em 1 Cor 15 42 ss. Corpos que ele denomina em glória [doxa=glória] e em poder [dunamis=virtus] em contraste com desonra [atimia=ignobilitas] e fraqueza [astheneia=infirmitas]. O uso das mesmas palavras e ideias indica que foi o mesmo o autor das duas cartas. Segundo a FORÇA DO PODER dEle significa que a ressurreição dos mortos é um ato em que Cristo age como causa eficiente. Do mesmo modo que com só sua palavra ressuscitou Lázaro, assim, com seu poder, os mortos ressuscitarão. Força [energeia<1753>=operatio] de seu poder [dunasthai <1410>=posse]. Unido ao Verbo seu poder é o próprio de Deus; pois dentro da Trindade a ele foi dado o poder sobre sua vida, poder para entregar minha vida e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu pai (Jo 19, 18) e sobre a vida humana porque ele mesmo disse eu sou a ressurreição e a vida (Jo 11, 25). Claro que esse poder vem de Deus que como o levantou dentre os mortos também a nós nos levantará com seu poder (1 Cor 6, 14). Isso é claro, porque assim quis o Pai que todas as coisas fossem SUJEITAS à vontade dele, do Jesus ressuscitado que é o Cristo. Pois, sendo a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, nele foram criadas todas as coisas…nele tudo subsiste, cabeça da igreja, primogênito dos mortos para que em tudo tenha a primazia, porque aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude (Cl 1, 15 e 18) FINAL: De modo que, irmãos meus queridos e saudosíssimos, alegria e coroa minha, assim permanecei em (o) Senhor, queridos (4, 1). Itaque fratres mei carissimi et desiderantissimi gaudium meum et corona mea sic state in Domino carissimi. Paulo apela agora aos filipenses como a filhos queridos, a quem chama alegria e coroa minha, para que não se deixem enganar pelos judaizantes e fiquem firmes na sua fé em Cristo. Esta fé, atuando no amor (Gl 5, 6), substitui as obras, segundo a Lei ou Torah, que eram o princípio de salvação dos judaizantes EVANGELHO - A TRANSFIGURAÇÃOINTRODUÇÃO: Os três sinópticos relatam, com pequenas variantes, o que podemos afirmar ser a apresentação do verdadeiro Jesus ao trio especialmente escolhido como testemunho. Dos relatos, tomando os detalhes mais significativos, procuraremos fazer um compêndio o mais fidedigno possível, ao mesmo tempo em que tentaremos descobrir intenções catequéticas e deduzir pareneticamente as lógicas consequências para o nosso tempo atual. Não podemos esquecer que os detalhes são tão importantes quanto o esqueleto da redação. OITO DIAS: Sucedeu, pois, em seguida a estas palavras por volta de oito dias, e tomando a Pedro e a João e a Jacobo, subiu a um monte para orar (28). factum est autem post haec verba fere dies octo et adsumpsit Petrum et Iohannem et Iacobum et ascendit in montem ut oraret. Segundo os outros dois evangelistas, foram seis. Mas o importante, à parte esta pequena diferença, é que o sucesso deu-se imediatamente após um pequeno discurso de Jesus proibindo que declarassem seu título de Messias, profetizando seu fim inglório, os avisos sobre a necessidade da renúncia e finalmente, o anúncio de que o Reino seria visto por alguns deles antes da morte dos mesmos. Esta última afirmação é a que será confirmada por esses discípulos escolhidos e precisamente poucos dias após o anúncio efetuado. Isso nos dá pé para explicar o trecho de hoje com uma certeza indiscutível. O MONTE: Contrariamente ao que ordenavam a lei e o costume judaico, Jesus sobe ao cume de um monte alto. Não era para sacrificar, mas para estar a sós, já que essa região era como se fosse proibida e não se esperava que a multidão estivesse lá. Era o medo aos BAMÁ, os lugares cúlticos nos cumes dos montes.como em 1 Samuel 9, 13 em que os setenta retêm a palavra BAMÁ, onde se celebravam os banquetes rituais após os sacrifícios. Eram lugares, onde a deusa feminina da fertilidade, Asherá, estava representada por um poste de madeira e a divindade masculina ou Matsebá por uma ou duas colunas que a simbolizavam (2Rs 3,2), à semelhança dos totens indígenas. Em Levítico 26, 30, Deus diz: ¨Destruirei seus bamá¨. Antes da monarquia os lugares altos eram lugares de culto a Javé, como vemos em Samuel no lugar antes citado. Depois da construção do templo por Salomão, os lugares altos representavam o envolvimento pecaminoso em cultos pagãos. Salomão construiu lugares altos para agradar suas mulheres (1Rs 11,7), que só 300 anos depois, na época de Josias, foram destruídos (2Rs cap 23). Jeremias (Jr 19, 5) afirmará que as Bamá, que nos seus dias eram lugares de sacrifícios humanos, constituíram parte da razão da catástrofe de Jerusalém ao ser conquistada por Nabucodonosor em 586 aC. Os samaritanos adoravam no monte Garizim (Jo 4, 20). Jesus, que repudiou o uso mercantil do templo, acostumava orar no alto das montanhas (Mt 5, 1). A ORAÇÃO: como era seu costume, Jesus passa grande parte da noite em oração. A oração é o ato mais puro e profundo da adoração que um crente pode oferecer a seu Deus. Jesus, quando tinha um assunto grave, subia à montanha para orar e passava a noite em oração (Lc 6, 12). O acontecimento, do qual os discípulos foram testemunhas, foi uma explicitação do que passava dentro de Jesus: A sua intimidade com a lei (Moisés) e com as palavras dos profetas (Elias). A intenção primeira de Jesus foi a de orar e mostrar seus discípulos como a oração é primária na vida de um seguidor seu. Logo, quando orava, temos a esplendorosa epifania da qual eles foram testemunhas. A TRANSFIGURAÇÃO: Então sucedeu enquanto orava, a aparência do seu rosto era outra e seu vestido, branco brilhante (29). Et factum est dum oraret species vultus eius altera et vestitus eius albus refulgens. Marcos fala de metamorfose, transformação ou transfiguração. Dá-se muito geralmente entre os insetos desde o ovo até larvas e finalmente o inseto adulto. Lucas evita a palavra metamorfose devido a que entre os greco-romanos era uma palavra que descrevia certos mitos pagãos e fala de como se alterou o rosto e de que suas vestes se tornaram brancas e brilhantes. O fato de que seu rosto fosse outro indica que houve algo mais que um resplendor e dá ocasião a explicar como os discípulos não distinguiam a figura de Jesus ressuscitado. Mateus fala de que sua face brilhava como o sol e que suas vestes eram brancas como a luz, que a Vulgata traduz como a neve. Marcos diz que suas vestes se tornaram tão brilhantes e brancas que jamais na terra um pisoeiro poderia purificar. O pisão era uma máquina para operar, mediante a percussão, a apertura e limpeza do algodão. As traduções falam de lavadeiro ou tintureiro. As descrições feitas pelos diversos videntes na história da Igreja confirmam estas descrições. Os videntes falam da luz como o componente substancial de suas visões. De fato alguns comentaristas afirmam que estas descrições de luz são uma referência ao relâmpago, elemento da cenografia apocalíptica, como em Dn 10, 6. Mas o que viram os apóstolos era uma coisa diferente da visão em Fátima. Jesus era uma realidade física que nesse momento estava transfigurado. De Moisés e Elias não poderíamos dizer a mesma coisa. Além de ser uma garantia para o ensinamento de Jesus, eles são testemunhas de que os mortos no Senhor vivem, ou seja, da persistência da vida além túmulo. MOISÉS E ELIAS: E eis dois homens falavam com ele, os quais eram Moisés e Elías (30). Et ecce duo viri loquebantur cum illo erant autem Moses et Helias Eram os dois homens que conversavam com Jesus. Para Marcos foi visto por eles Elias com Moisés. Para Mateus Moisés com Elias. Como conheceram os apóstolos que eram semelhantes personagens? Não existiam como hoje desenhos ou pinturas com as quais poderiam identificar os mesmos. Por isso, escutaram seus nomes durante a conversa, ou talvez existiu alguma extrapolação à posteriori para delimitar a companhia de Jesus nesse momento. Sabemos que Moisés podia ser reconhecido pelo brilho de seu rosto, que na figuração cristã aparece como dois chifres de luz e que Elias era o profeta vestido como o Batista. Mas tanto um como outro não poderiam ser identificados unicamente por esses sinais, porque também estavam em majestade (em glória) segundo Lucas, ou seja, deslumbrantes de luz. Ambos, segundo a tradição deviam voltar nos tempos do Messias. De Elias temos o testemunho de Lc 1, 17 sobre o Batista: caminhará com o espírito e o poder de Elias; ou Jo 1, 21: és tu Elias? Perguntam ao Batista. De Moisés temos as palavras do Dt 18,18: um profeta como tu suscitarei do meio de teus irmãos. Em I Mc 15, 41 os judeus nomearam Simão, chefe e supremo sacerdote, até que se erguesse um profeta fiel. Por isso também João, o Batista, é interrogado se ele era o Profeta (Jo 1,21). Moisés era o representante da lei e Elias era o profeta por excelência, que instaurou a lei nos tempos de Acab (I Rs cap 18). A Escritura, ou, como hoje falamos, a Bíblia, era denominada em tempos de Jesus por Lei e Profetas ou Moisés e Profetas (Lc 16,29 ou 24, 27). Isso significa que a palavra de Deus reafirmava tudo o que era conversado. A CONVERSA: Os quais, vistos em glória, falavam sobre o éxito dEle que devia se cumprir em Jerusalém (31). Visi in maiestate et dicebant excessum eius quem conpleturus erat in Hierusalem. Eles foram vistos em glória ou majestade como alguns preferem traduzir a DOXA grega, ou seja, deslumbrantes de luz. Luz que é imagem do relâmpago que precede a presença divina, porque era a realidade da abertura dos céus, acompanhada pelo trovão, a voz do Senhor (Sl 29,2-3) como apareceu no batismo de Jesus (Mc 1, 10). Deus é luz (I Jo 1, 5) e é na sua luz que vemos a luz (Sl 36, 10). O fato é confirmado pelas visões modernas em Lourdes e Fátima, entre outras aparições recentes. A CONVERSA era sobre o êxito de Jesus que estava a ser realizado em Jerusalém. Evidentemente era sobre a paixão e morte de Jesus e até sobre a sua ressurreição, talvez abrangendo também sua ascensão aos céus. Todos estes eram fenômenos que estavam a acontecer em próximas datas em Jerusalém. De todos os modos, o que não podia faltar era a morte de Jesus em Jerusalém como convinha a um verdadeiro profeta que anunciava os planos do Senhor, contrários aos planos dos homens (Lc 13, 33). Essa matéria constituía uma das preocupações mais sérias de Jesus, até o ponto de repetir três vezes a predição e de se sentir angustiado pela proximidade dos sofrimentos que a acompanhavam (Jo 12, 27). AS TENDAS: Então Pedro e os que estavam com ele pesados de sono tendo despertado, viram a glória dEle os dois homens estando de pé com Ele (32). E sucedeu, ao se retirarem eles dEle, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é para nós permanecer aqui, e faremos três tendas: uma para ti, para Moisés uma e outra para Elías, não sabendo o que dizia (33). Petrus vero et qui cum illo gravati erant somno et evigilantes viderunt maiestatem eius et duos viros qui stabant cum illo. Et factum est cum discederent ab illo ait Petrus ad Iesum praeceptor bonum est nos hic esse et faciamus tria tabernacula unum tibi et unum Mosi et unum Heliae nesciens quid diceret. Os três apóstolos estavam com sono pesado. Dormiam. E foi ao despertar, como nos diz Lucas, que viram a GLÓRIA de Jesus (sua majestade segundo a Vulgata) e os dois homens que estavam com ele. Os outros dois evangelistas omitem estas circunstâncias. Foi ao se afastar de Jesus os dois acompanhantes, que Pedro indicou a conveniência das três tendas ou cabanas. As TENDAS eram o único lugar de acomodação que os israelitas tinham durante os sete dias da grande festa das Skenopégiaou Sukoth. Eram verdadeiros carnavais religiosos em que a alegria e a felicidade triunfavam sobre qualquer outro sentimento ou sensação. Pedro usa a palavra Epistates (Praeceptor em latim e traduzida por Mestre em vernáculo; é o Master inglês)) sendo que Marcos conserva o original Rabbi e Mateus traduz por Kyrie (Senhor) que Lucas usará também em outras circunstâncias como 5, 8. Parece que Pedro queria aproveitar o momento sem se dar conta do que estava pedindo, pois acabava de acordar. E foi nesse instante que apareceu a nuvem. A NUVEM: Falando, pois, ele estas coisas, apareceu uma nuvem e os encobriu; porém temeram ao entrarem eles na nuvem (34). haec autem illo loquente facta est nubes et obumbravit eos et timuerunt intrantibus illis in nubem. Segundo o grego a palavra usada é NEFELË. Também temos NEFOS, esta última como palavra geral (nuvens diríamos em português) e nefele como massa limitada, uma nuvem bem formada com contornos definidos. Em hebraico temos AB de Êx 19,19 que os setenta traduzem por coluna de nuvem e que no hebraico é nuvem caliginosa como na Vulgata latina; é a nuvem que serve de estrado quando o Senhor vem julgar seus inimigos (Is 19 1), cavalgando numa nuvem ligeira ou finalmente como em Mt 24, 30, o Filho do Homem sobre as nuvens do céu. Existe uma outra palavra, ANAN, usada para a coluna de nuvem de Êx 13, 21. Esta palavra sai 80 vezes no AT, indicando em 75 delas a presença de Javé no tabernáculo. É a nuvem que pousará sobre o templo em I Rs 8, 10-11, manifestando a glória de Javé. Essa nuvem era escura durante o dia para se transformar em nuvem de fogo à noite. A nossa nuvem, segundo Mateus, era brilhante (não podemos esquecer que era noite) e uma manifestação da presença divina em glória ou majestade. Por isso os discípulos tiveram medo ao serem envolvidos pela mesma. Era a manifestação de Javé; e sua presença era sentença de morte para quem o visse, tal e como os judeus temiam em Êx 20, 19. É o temor que se apodera de todo humano quando o sobrenatural é sentido como sensação sensível e presente. Isso mesmo vemos nos relatos dos videntes em aparições que são de paz como as que tiveram os pastores em Belém ou Maria com o anjo. A VOZ: Então uma voz surgiu da nuvem dizendo: este é o meu Filho, o amado:Ouvi-o (35). Et vox facta est de nube dicens hic est Filius meus electus ipsum audite Evidentemente era a VOZ de Deus, como no Sinai que se fazia ouvir da nuvem, assim como a glória do Senhor se manifestava nela (Êx 16, 19 e 19, 16). Em II Pd 1, 17 a voz é a de Deus Pai e dele procede o som que proclama duas coisas: 1º) A filiação divina de Jesus como o amado (Mt e Mc) ou como o escolhido (alguns manuscritos gregos de Lc). Qual a diferença? Escolhido indica uma direção messiânica e amado aponta a uma filiação única porque o superlativo não existe em hebraico. O grego ressalta esse adjetivo que se transforma em atributo, especialmente por ser precedido do artigo definido que transforma o simples amado em aposição pessoal ¨o amado¨. O sentido seria o meu filho primogênito ou único. Ambos eram especialmente objeto de um amor de escolha especial. Como o substantivo empregado em grego é Huiós, devemos descartar a tradução de servo, que em grego seria Pais. É a mesma voz que no batismo de Jesus o representa como o meu filho, o amado. Pedro, na segunda de suas cartas, nos diz ter sido testemunha da majestade do Senhor Jesus Cristo ao ter recebido este a glória e honra da parte de Deus Pai, quando da excelsa glória (= nuvem) fez chegar esta voz: Este é meu Filho, o amado, em quem, comprazido, me orgulho. 2º) O mandato de escutá-lo, como antigamente se escutou Moisés, ou a voz de Elias, como a voz de Deus, em cujo nome falavam. Por isso, desaparecem tanto Moisés como Elias e fica Jesus, sozinho. Ele é a vontade do Pai e representa os planos da grande obra salvífica que está prestes a revelar no seu êxito em Jerusalém. FINAL: E ao se ouvir a voz, ficou Jesus só; e eles calaram e a ninguém anunciaram naqueles dias nada do que viram (36). et dum fieret vox inventus est Iesus solus et ipsi tacuerunt et nemini dixerunt in illis diebus quicquam ex his quae viderant. Segundo Marcos, o silêncio dos apóstolos foi devido a um mandato de Jesus que lhes ordenou nada dizer até que ele ressuscitasse dos mortos. Era o segredo messiânico, pois se os apóstolos entenderam alguma coisa do fenômeno, era sem dúvida que Jesus era o Messias. E esta verdade era perigosa, devido a falsa ideia dos contemporâneos. Talvez por isso, Jesus, na continuação, declara como seria seu fim em Jerusalém. PISTAS: 1) Oito dias antes, Pedro, a voz do discípulo, iluminado pela fé, aclama Jesus como Messias. Agora é o Pai que ilumina os discípulos: Jesus é o Filho, o primogênito entre muitos irmãos conformes à sua imagem, dirá Paulo (Rm 8, 29).Por isso a vitória da transfiguração ilumina o fracasso da cruz. 2) O Pai deixa nas mãos de Jesus o novo Reino que se mostra independente da tradição e dos profetas. O Pai oferece o Reino ao Filho porque o Filho oferece a vida ao Pai incondicionalmente. Esse reino é visto em seu esplendor pelas testemunhas escolhidas. 3) Jesus formando uma única pessoa a do Verbo, é o escolhido para que a divindade e a humanidade coincidam, unindo-se numa única e distinta individualidade ou sujeito. Porém é sua humanidade, escolhida como filho, a que nós temos visto e ouvido como presença de Deus definitiva e última na história e a ela devemos seguir e obedecer: escutai-o – diz como mandato único a voz de Deus no monte da revelação. 4) A humanidade de Deus, revestida de humildade em Jesus, se reveste da glória e majestade de Deus no Tabor (monte onde a tradição afirma deu-se a transfiguração). A humanidade revestida de humildade será a base da redenção na cruz, mas objeto da contemplação orgulhosa do Pai e por isso exaltada onde nós vemos o fracasso e abatimento, pois é fruto de uma obediência até a morte e morte de cruz( Fp 2,8). Seu êxito foi, pois o orgulho do Pai e a exaltação do Verbo em Jesus-homem, e como tal homem seu nome de Jesus (salvador) dominará todo o mundo criado. 5) Ao estar só o homem-Jesus é revelado como a realidade definitiva (a verdade) da presença de Deus na terra. Escutar sua voz é ouvir a realidade do Criador e sentir a presença do Salvador. EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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