GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
15.09.2013
24º DOMINGO DO TEMPO COMUM
— ANO C
( VERDE, GLÓRIA, CREIO – IV SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte
do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Reunimo-nos para celebrar a fé e nossa caminhada rumo à liberdade e vida, tendo Deus como líder e autor da vida em plenitude para todos. Ele não nos rejeita por sermos pecadores. Ao contrário, procura-nos incansavelmente para conosco celebrar o banquete festivo da fraternidade. Por isso, a Eucaristia é a celebração do amor de Deus em nossa vida. Contudo, ela não cessa de apontar as idolatrias e farisaísmos nossos. O fato de comungarmos o corpo do Senhor não nos coloca acima dos outros. Não somos os noventa e nove justos que não necessitam de conversão, mas a ovelha extraviada e a moeda perdida. Talvez sejamos também "o filho mais velho" que ainda não compreendeu o amor preferencial do Pai pelos marginalizados e pecadores. Professemos, seguindo a orientação de Paulo, a fé em Cristo Jesus, que veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais nós somos os primeiros.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Hoje as leituras ressaltam que a grande passagem que devemos realizar nesta vida é a conversão do pecado para a graça. É com esta perspectiva que estamos celebrando o Ano da Fé, do qual participa de modo especial neste domingo a Região Episcopal Lapa, com a peregrinação à Catedral da Sé. Que esse tempo de graça abra os nossos corações ao amor de Deus que se derramou na cruz e continua a se derramar nos sacramentos. Peçamos a Deus a graça de chegarmos às alegrias manifestas por quem encontra o tesouro da fé.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O amor de Deus para com os homens é tão gratuito que não podemos pretender ter direito a ele; é tão absoluto que jamais podemos dizer que nos falta. O amor humano, ao contrário, é tão limitado e fechado pelo nosso egoísmo, tão raramente ultrapassa a estrita justiça ou se liberta da severidade moralista, que facilmente imaginamos um Deus vingador e uma religião baseada no temor. Quem de nós se lembra de que a "graça" que pedimos a Deus significa "ternura" e "piedade" pelo pecador? Só um estudo atento da Palavra de Deus pode ajudar-nos a tomar consciência do sentido da misericórdia indefectível de Deus.
Sintamos em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Ex 32, 7-11.13-14): - "Vai, desce, pois corrompeu-se o teu povo, que tiraste da terra do Egito."
SALMO RESPONSORIAL (50/51): - "Vou agora levantar-me, volto à casa do meu Pai!"
SEGUNDA LEITURA (1Tm 1,12-17): - "Segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores."
EVANGELHO (Lc 15,1-32): - "Assim haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão."
Homilia do Diácono José da Cruz — 24º Domingo do Tempo Comum — ANO C
Afinal, o Filho arrependeu-se ou não?
Esta parábola traz a reflexão praticamente pronta: O Filho mais novo se arrependeu e voltou a casa do Pai que o perdoou. Será? Deixemos que o Filho sem juízo nos conte nesta breve entrevista em nosso imaginário, logo depois da Festança que foi até o amanhecer do Dia.
____Por que você voltou para a casa do Pai?
Filho Pródigo ___ Vou ser sincero, a fome apertou meu amigo, quando eu pensei que escravos e empregados na casa do meu pai, tinham pão a vontade, decidi voltar.
___Opa! Espere um pouco, e aquele arrependimento todo que você manifestou nesse evangelho?
Filho Pródigo___ Apenas um discurso para convencer o Pai de que eu estava arrependido, palavras bonitas e bem colocadas que iriam tocar no coração do meu “Velho”
___Mais uma coisinha Filho Pródigo, o que te levou a sair de casa, se lá você tinha tudo que precisava?
Filho Pródigo___ Na Casa do Pai tinha a impressão de que não era livre, eu queria aproveitar a vida, fazer tudo o que meu coração desejava gozar e desfrutar de todos os prazeres e alegrias que o mundão nos oferece. Enfim, como vocês dizem por aí “Cair na gandaia” de cabeça, e ser livre...
___Deixa ver se eu entendi, as vezes nós cristãos achamos que os maus, os que não conhecem a Deus e a sua verdade, são mais felizes porque fazem muitas coisas, sem se importar com a ética, moral, doutrina da Fé e tudo mais. É a liberdade que o adolescente quer, sem a ingerência dos pais em sua vida...
Filho Pródigo ____Isso mesmo, eles tem com os pais não uma relação de amor, mas de compromisso e obrigatoriedade em fazer o que eles mandam, parecem mais empregados do que Filhos.
____E o que mudou na sua vida após a volta a casa paterna?
Filho Pródigo____ Bom, confesso que não fazia ideia de quanto meu Pai me amava, imagine você que todos os dias ele ficava á minha espera. O jeito que ele me abraçou, me vestiu aquele manto, me deu a sandália e o cajado, tudo isso sem exigir que eu tomasse um banho, ele cobriu a minha sujeira e imundície com aquela veste. E fez uma festa inesquecível. Nesse retorno descobri algo inédito, o amor do Pai, imenso, grandioso, gratuito e incondicional. Juro que eu não sabia...
___Então nessa parábola, o foco é o Pai Infinitamente Bom e Misericordioso?
Filho Pródigo___ Pois é, Se o Pai não me desse a liberdade de pecar, indo embora da sua casa, jamais eu saberia o quanto ele me ama. Eu sou cada um de vocês aí na Igreja de 2013, a gente vai e vem, e o Pai ali, de braços sempre abertos, nos acolhendo com imensa alegria, porque nos ama de maneira apaixonada...
___Mas não é perigo a gente pensar que a parábola é um incentivo ao pecado?
Filho Pródigo___ Ao contrário, é um convite para contemplarmos o grandioso Amor e Misericórdia que Deus Pai tem por nós, pecar é ir contra esse grandioso amor.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Costa — 24º Domingo do Tempo Comum — ANO C
“Alegria no apostolado”
Todo cristão deve ser apóstolo. Trata-se de uma exigência do próprio batismo. Caso não tenhamos o desejo de aproximar as pessoas de Deus, de leva-las às fontes da graça, de sofrer e rezar pela salvação delas, perguntemo-nos se realmente amamos a Deus e se estamos convencidos da fé que professamos e vivemos. Na verdade, se a nossa fé é operativa, evangelizar será uma consequência necessária. Deveríamos vibrar, alegrar-nos verdadeiramente por cada pessoa que entra na Igreja, essa comunidade de salvação.
A fé é o melhor presente que se pode oferecer a alguém. Diante dos valores da fé até a vida se relativiza, todos os mártires de Cristo mostraram que isso é assim mesmo. Nós, católicos, precisamos estar mais convencidos de que temos na Igreja toda a verdade e de que podemos fazer um grande bem à humanidade ao oferecer-lhe Cristo, a Verdade (cfr. Jo 14,6). Por outro lado, saber-se na Casa da Verdade, que é a Igreja, não nos autoriza a ser intolerantes com as pessoas. É certo: a Igreja é “a coluna e sustentáculo da verdade” (1 Tm 3,15), mas nós não somos donos da verdade, mas os seus servidores, nem personificações da verdade. Ademais, a nossa vida não se modela sempre pela verdade que conhecemos, professamos e amamos… basta pensar nos nossos próprios pecados.
Apesar dos pesares e em plena luta por alcançar a santidade, devemos estar sempre prontos para ganhar novas almas para Cristo. Como? Eu acho que umas das características mais notáveis dos apóstolos do século XXI deveria ser a alegria da fé. Quando os outros virem que nós estamos alegres por ser cristãos, verdadeiramente contentes e desejosos de participar da Missa, que a confissão passou a ser para nós o “sacramento da alegria”, que somos bem educados, que não “damos patadas” e procuramos não andar de cara fechada, que nos preocupamos por eles, que somos pessoas que sabem amar de verdade, então se convencerão do poder transformador do cristianismo, não só no âmbito pessoal, mas também em todas as esferas sociais.
Não faz muito tempo encontrei um panfleto titulado “apostolado do sorriso”. Gostei! Entre outras palavras, dizia: “é suficiente um leve sorriso nos seus lábios para levantar o coração, para manter o bom-humor, conservar a paz da alma, ajudar a saúde, embelecer o rosto, despertar os bons pensamentos, inspirar obras generosas”. Como a bondade e a simpatia atraem! Os outros se convencerão de que, apesar dos nossos numerosos problemas, há alguém que nos mantêm felizes e risonhos. Eles buscarão descobrir o segredo da nossa felicidade e nesse momento… estaremos mais felizes. Por quê? Uma pessoa a mais se interessa pelo Deus da nossa alegria!
Que pena! Os escribas e os fariseus não pensavam assim! Eles ficaram murmurando quando Jesus acolheu os pecadores. O filho mais velho, aquele que sempre estava na casa do pai, que ficou chateado quando o seu irmão voltou ao lar, representa não só cada fariseu triste pela atitude de Jesus, mas também representa a cada um de nós quando, vivendo há tantos anos na casa do Pai, na Igreja, perde a capacidade de admirar-se, surpreender-se e alegrar-se pela conversão de um novo adepto à causa de Deus.
Aquele panfleto do “Apostolado do sorriso” terminava assim: “o teu sorriso pode levar esperança e abrir horizontes aos agoniados, aos deprimidos, aos descoraçoados, aos oprimidos, aos tentados e aos desesperados. O teu sorriso pode ser o caminho para levar as almas à fé. O teu sorriso pode ser o primeiro passo para levar um pecador a Deus. Mas, sobretudo, sorri à Santíssima Trindade. Sim, sorri às três Pessoas que moram na tua alma, enquanto aceitas com amor tudo o que elas te enviam e merecerás também o radiante sorriso delas, que será a tua felicidade nesta e na outra vida”.
Sorri! Motivos? Temos de sobra: somos filhos de Deus, membros da Igreja, amigos de Deus, evangelizadores de Jesus Cristo, homens e mulheres de oração, pecadores perdoados por Deus, crucificados com Cristo através das constantes tribulações. Sorrimos porque somos felizes, porque Deus mora na nossa alma, porque queremos conquistar a todos para Deus. Tribulações, angústias, perseguições, fome, nudez, perigos (cfr. Rm 8,35), nem diabos… nada, absolutamente nada, poderá separar-nos do amor de Deus nem roubar a nossa alegria evangelizadora.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético — 24º Domingo do Tempo Comum — ANO C
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
Epístola (1 Tm 1, 12-17)
INTRODUÇÃO: As duas cartas a Timóteo, junto com a de Tito, formam um conjunto chamado de cartas pastorais. Pois não estão dirigidas às igrejas, mas aos pastores das mesmas. Não são propriamente dogmáticas, mas contêm instruções com respeito à conduta dos ministérios correspondentes. Quando foi escrita? Devemos falar de probabilidades. Paulo fundou a Igreja de Éfeso na sua terceira viagem, prolongando-se aí sua estância pelo tempo de três anos (55-57). Logo passou a Macedônia na Turquia europeia e finalmente a Corinto. Daí partiu para Jerusalém onde foi preso. A carta não poderia ter sido escrita antes desse seu primeiro cativeiro, pois a situação descrita (Timóteo como chefe da igreja e Paulo em Macedônia com intenção de ir pronto a Éfeso) não pode ser a desta carta. Assim, temos que admitir que Paulo saiu livre de Roma, visitou a Espanha e voltou ao Oriente, e da Macedônia escreve a carta entre os anos 64-67. Conteúdo: Nas instruções podemos ver um início do Direito Eclesiástico: é a organização que brota da primitiva igreja, palavra que Paulo usa três vezes nesta carta (3, 5.15;5, 16), e não uma igreja carismática mas hierárquica e fortemente organizada em que há superiores e súditos como em toda sociedade com classes. Timóteo aparece com poderes especiais, encontramos os nomes de bispos (3,2), presbíteros (5,17) e diáconos (3, 8) com funções muito concretas e diferentes com respeito aos simples fiéis. Porém não existe uma diferença entre bispo e presbítero, sendo praticamente sinônimos. Do conteúdo devemos ressaltar os falsos doutores e o modo de combatê-los. Timóteo: Foi um dos colaboradores de maior confiança de Paulo, nomeado 6 vezes no livro dos Atos e 18 nas epístolas paulinas. Tinha nascido em Listra (perto de Icônia na Turquia asiática) de pai gentil e mãe judia, convertido por Paulo na sua primeira viagem, e tomando-o como seu auxiliar na segunda, se tornando um companheiro inseparável, até a primeira prisão romana. Parece que era de caráter tímido e de saúde precária. Foi bispo em Éfeso e a tradição fala de seu martírio. No trecho de hoje, temos uma digressão pessoal de Paulo, relatando em sua própria vida o plano salvador, misericordioso e sábio, de quem é o dono do Universo, o Deus, Rei Sempiterno.
ESCOLHA DE PAULO: E dou graças a quem me fortaleceu, a Cristo Jesus, ao nosso Senhor; porque me avaliou como fiel, estabelecendo-me para o ministério (12), e sendo inicialmente blasfemo e perseguidor e insolente; mas teve misericórdia porque sem saber procedi na incredulidade (13). Gratias ago ei qui me confortavit Christo Iesu Domino nostro quia fidelem me existimavit ponens in ministeri, Qui prius fui blasphemus et persecutor et contumeliosus sed misericordiam consecutus sum quia ignorans feci in incredulitate. FORTALECEU [endynamösanti<1743>=confortavit] na realidade, temos o particípio ativo de aoristo do verbo endynamoö, derivado de dynamis [força] que significa fortalecer, como em At 9, 22: Paulo, porém, mais e mais se fortalecia e confundia os judeus. E foi contado ou AVALIADO [ëgësato<2233>=existimavit] do verbo ëgeomai, que sai 70 vezes no NT, e que tem o significado de liderar, como em Lc 22, 26: entre vós …aquele que dirige seja como o que serve. Mas também tem o significado de considerar, contar, estimar avaliar, como em At 26, 2: eu me considero tanto mais feliz, rei Agripa. A TEB traduz como julgou digno de confiança. FIEL [pistos<4103>=fidelis], de fato o sustantivo pistis que é traduzido por fé nas cartas paulinas, tem o significado primordial de fidelidade [emunah hebraico]. Fiel é quem cumpre o contrato, digno de confiança, pois procura cumprir o prometido com sua palavra. Paulo foi considerado digno de confiança para exercer o ministério como apóstolo. Para isso foi necessária uma conversão, fruto da misericórdia. Assim, de perseguidor e blasfemo, por negar a dignidade de Cristo, e de INSOLENTE [Ybristës<5197>=contumeliosus] insolente, alguém que, soberbo, usa uma linguagem insultante, ou faz coisas que humilham e envergonham os outros. Somente sai de novo em Rm 1, 30: Caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, que a TEB traduz por provocadores e Nácar por ultrajantes. Paulo carrega as tintes pretas sobre si mesmo antes de sua conversão, até que a misericórdia de Deus o retirou de seu PROCEDER NA INCREDULIDADE que, do ponto de vista moral, era impecável (Fp 3, 9), mas como remido por Cristo totalmente oposto por falta de fé.
PELA GRAÇA DE DEUS: Superabundou, pois, a mercê do nosso Senhor por meio da fidelidade e do amor o qual [está] em Cristo Jesus (14). Superabundavit autem gratia Domini nostri cum fide et dilectione quae est in Christo Iesu. SUPERABUNDOU [yperepleonasen<5250>=superabundavit] de super [sobre] e pleonazö <4121>[abundar, ou desbordar] é um apax mas que relembra o mais frequente e simples onde abundou[epleonasen] o pecado superabundou [ypereperisseusen] a mercê [charis] (Rm 5, 20). MERCÊ [charis<5484>=gratia] um benefício, um ato de bondade, um favor ou mercê e por parte de Deus, misericórdia, perdão. FIDELIDADE [pistis <4102>=fides] originalmente fidelidade, qualidade de quem é confiável, para ser usada no NT como crença, fé, especialmente em Cristo como o Logos feito homem. O latim também admite o significado de fidelidade. Aqui se trata de um atributo de Deus que é descrito como fiel e amoroso com um amor manifestado em Jesus Cristo. Podemos também traduzir por fé, como sendo a base dessa atitude divina que responde com amor à fé de quem se entrega a Cristo. Porém no versículo seguinte, vemos que pistis<4102> [substantivo] se traduz em pistos<4103> [adjetivo] e que esta fidelidade é a palavra de Deus.
A PALAVRA FIEL: Fiel (é) a palavra e digna de toda aceitação, porque Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais principal sou eu (15). Fidelis sermo et omni acceptione dignus quia Christus Iesus venit in mundum peccatores salvos facere quorum primus ego sum. Neste versículo, Paulo, como sempre, concatena ideias e deriva para o objeto principal do cristianismo:Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores [o que estava perdido] e olha para sua vida e exclama: eu sou um deles, o PRINCIPAL [Prötos <4413>=primus] primeiro em tempo ou lugar, em rango, em influência: chefe, principal. Temos Mt 20, 27: quem quiser ser primeiro entre vós, será vosso servo. Palavras que repete Mc 10, 44. Uma outra citação é Mt 22, 38: Este é o principal e grande mandamento. Vemos como aqui, Paulo a si mesmo se situa como o mais importante entre os pecadores, devido precisamente ao que ele escreveu no versículo 13. Todos os santos, especialmente se convertidos, têm-se declarados os piores pecadores do mundo. E não mentiam, pois a luz do Espírito iluminava suas vidas e com extremo detalhe eles compreendiam a diferença entre a santidade divina e a fragilidade humana. Esta era como um ponto vazio dentro da imensidade de Deus, que a Escritura chama de majestade ou doxa. Assim veem sua impotência na frente da supremacia divina e qualquer pequena falha é uma imensa culpa merecedora do máximo castigo.
MISERICÓRDIA: Mas por isso recebi misericórdia, para que em mim, primeiramente, mostrasse Jesus Cristo toda tolerância, para exemplo dos que estariam a crer nEle para vida eterna (16). sed ideo misericordiam consecutus sum ut in me primo ostenderet Christus Iesus omnem patientiam ad deformationem eorum qui credituri sunt illi in vitam aeternam. RECEBI MISERICÓRDIA [ëleëthën <1653>=misericordiam consecutus] O verbo eleeö significa ter compaixão, compadecer-se, ter misericórdia, esta última própria de Deus, como o elison dos Kyries que ainda a igreja mantém de sua liturgia grega original. Como o tempo é aoristo e passivo, devemos traduzir por fui objeto de misericórdia. Temos um exemplo em Mt 5, 7: Ditosos os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia (eleëhesontai) [o mesmo tempo que nosso atual versículo]. Paulo insiste no milagre de sua conversão em Damasco. TOLERÂNCIA [makrothymia <3115>=patientia] com o significado de paciência, firmeza, constância, perseverança, resignação e até lentidão em vingar agravos, ou seja, tolerância, que é a acepção que temos escolhido, pois ante um inimigo como era Paulo antes de Damasco, Jesus teve essa tolerância e paciência diante de um pecador. Por isso, a conduta de Jesus serve de paradigma para todo pecador ou infiel que, a exemplo de Paulo, se tornaria fiel, aceitando a fé para sua salvação ou seja, para a vida eterna.
DOXOLOGIA: Ao rei dos séculos imortal, invisível, ao só sábio Deus, reverência e glória nos séculos dos séculos. Amém (17). Regi autem saeculorum inmortali invisibili soli Deo honor et gloria in saecula saeculorum amen. SÉCULOS [aiön<165>=saeculum]. Temos a doxologia final, dirigida a Deus a quem Paulo chama rei dos séculos, ou seja, da eternidade como deve ser traduzida a palavra aiön, um tempo o mais comprido, sem limites, para sempre, que o latim traduz pelo tempo mais longo de seu vocabulário que era o século e em geral pelos séculos ou pelos séculos dos séculos. É como se atualmente disséssemos por milhões de anos luz. A tradução dos séculos é um tanto imprópria e assim alguns preferem eterno (RA), que é realmente o sentido exato da frase. Os adjetivos ou atributos divinos são especiais: imortal, invisível, sábio. É o louvor como ação-de-graças, que em termos hebreus não existe tal ação como de gratitude. A frase final eis tous aiönas tön aiönön [pelos séculos dos séculos] era o término doxológico das orações latinas: per omnia saecula saeculorum. É o para sempre ou por toda a eternidade.
Evangelho (Lc 15, 1-32)
PARÁBOLAS DA MISERICÓRDIA
INTRODUÇÃO: Neste domingo podemos ler a leitura breve de Lucas 15, 1- 11 ou a longa em que encontramos a parábola, talvez a mais bonita, dos evangelhos: a parábola chamada do filho pródigo. Como esta parábola já foi comentada no IV Domingo da quaresma deste ano, dedicaremos o comentário de hoje à explicação das duas parábolas precedentes: a da ovelha e da dracma perdida.
OS OUVINTES: Todos os publicanos e pecadores estavam se aproximando de Jesus a ouvi-lo (1). erant autem adpropinquantes ei publicani et peccatores ut audirent illum. Sabemos quem eram os publicanos: Os arrecadadores de impostos, mal vistos pelos judeus, por serem julgados como colaboradores de um poder que tinha o César como dono de um império, no qual ele era o representante de deuses pagãos. Os publicanos cobravam um dinheiro que pertencia ao único Deus, Javé, dono da terra das promessas. Os pecadores são os sujeitos da ruptura voluntária com esse mesmo Deus, especialmente se o pecado é de idolatria, como no caso do antigo Israel, dado ao culto dos Baal ou deuses cananeus, culto especialmente praticado pelos reis, tanto do Norte como do Sul, após Salomão. Em Lucas, a palavra pecador [amartolos] tem por vezes o sentido que tem em Mateus a palavra gentil [ethnikós]. Tal é o caso do amor que em Lucas vemos oferecido aos amigos pelos pecadores (6, 32-34), esses pecadores que em Mateus são chamados publicanos e gentios (5, 46-47). No caso atual, já fizemos questão de afirmar que os gentios eram considerados pecadores de modo especial. Pelo que diz respeito às mulheres de vida pública, temos que dizer que as etairas ou cortesãs eram consideradas em grande estima entre os gregos. Eram diferentes, tanto das concubinas como das esposas, pois as etairas alegravam os banquetes aos quais nunca acudiam as esposas e possuíam conhecimentos dos quais uma mulher honrada se envergonhava, como saber ler e escrever. Essas mesmas qualidades tinham as geishas entre os japoneses. Mas também existiam as de classe inferior, chamadas porné, que é o nome usual da Escritura e que Lucas emprega no evangelho de hoje como sendo as mulheres com as quais o filho menor dissipou sua herança (30). Existiam também as hieródulas, escravas sacerdotisas da deusa Afrodita [Vênus latina], deusa do amor. De modo especial em Corinto eram as prostitutas sagradas em número muito grande que iniciavam os jovens no amor. No Gênesis temos o relato de Judá que se acostou no caminho com uma mulher que ele pensou ser prostituta cultual [Kedeshá] e em 2 Rs 23, 7 o rei Josias demoliu a casa dos Kadeshim (sic) ou prostitutas sagradas, que o texto dos setenta não traduz, mas deixa com o nome plural de kadesh no masculino. No NT aparece a palavra pornés traduzida por meretriz [a que ganha] embora os romanos tinham as pallaca [cortesãs], as pala [abertamente] e as meretrizes todas elas sob o nome de prostitutas [oferecidas]. Se entre os romanos o adultério estava proibido sob pena de morte, isso era mais devido às consequências sociais que acarretava o filho ilegítimo, do que ao ato em si considerado como pecaminoso. O filho legítimo de uma matrona romana era livre e tinha seu status derivado da classe social do pai. Um filho ilegítimo era um escravo, seja qual fosse o pai, que se considerava o único elemento a proporcionar a vida. O óvulo feminino só foi encontrado no fim do século XIX. Para evitar que os jovens pudessem pôr em perigo a honra dos lares vizinhos, é que o adultério estava penalizado com a pena de morte, que o pai deveria cumprir se o marido não o fizesse, segundo a lei Julia. Por isso os prostíbulos eram considerados como serviços sociais necessários. Para distingui-las as prostitutas estavam obrigadas a vestir uma toga curta e escura que as diferenciava das outras mulheres. Os soldados romanos não podiam se casar durante os 25 anos que durava seu alistamento. Daí o número grande de cortesãs que acompanhavam os exércitos.
QUE BUSCAVAM ELES EM JESUS? E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo que este recebe pecadores e come com eles (2). Et murmurabant Pharisaei et scribae dicentes quia hic peccatores recipit et manducat cum illis. A doutrina do Mestre era bem acolhida por um povo que era desprezado pela classe social governante, saduceus e fariseus, porque Jesus acolhia os publicanos e pecadores e até comia com eles, coisa inaudita e que feria a consciência da época, fundada na separação dos dois povos e inimizade entre ambos, como dirá Paulo em Ef 2, 14. Daí que murmurassem contra Jesus, acusando-o de recebê-los e de comer com eles, fato este que implicava uma certa intimidade e até amizade.
JESUS SE DEFENDE: Então lhes disse esta parábola dizendo: (3). Et ait ad illos parabolam istam dicens. Que homem dentre vós tendo cem ovelhas não deixa as 99 no descampado e vai à perdida até que a encontra (4). Quis ex vobis homo qui habet centum oves et si perdiderit unam ex illis nonne dimittit nonaginta novem in deserto et vadit ad illam quae perierat donec inveniat illam. E encontrada, a põe sobre seus ombros gozoso (5). Et cum invenerit eam inponit in umeros suos gaudens. E chegando em casa convoca os amigos e os vizinhos dizendo-lhes: regozijai-vos comigo porque encontrei a ovelha, a perdida. (6) Et veniens domum convocat amicos et vicinos dicens illis congratulamini mihi quia inveni ovem meam quae perierat. Digo-vos, assim haverá gozo no céu por um pecador que se arrepende do que por 99 justos os que não têm necessidade de arrependimento (7). Dico vobis quod ita gaudium erit in caelo super uno peccatore paenitentiam habente quam super nonaginta novem iustis qui non indigent paenitentia. 1A PARÁBOLA. É a parábola da ovelha perdida. Todo pastor que tem 100 ovelhas é capaz de deixar 99 no descampado [eremos grego], ou seja, sem que ninguém as cuide para buscar a perdida. Mateus, em lugar paralelo, fala dos montes que para o caso é o mesmo, pois os pastos estavam situados na faixa montanhosa da Judeia ao leste de Jerusalém entre ela e o mar Morto (Mt 18, 12). Mas a particularidade da parábola, a coisa que da pé para rebater seus inimigos, é a alegria do pastor, uma vez encontrada a ovelha desgarrada: a coloca sobre seus ombros e na volta à sua casa chama amigos e parentes para narrar um fato extraordinário, o encontro da ovelha que estava perdida. Jesus termina afirmando que o que é feito na terra é pálido modelo para céu. As coisas perdidas têm mais valor que as que todos os dias usamos. Uma ovelha desgarrada pesa mais na balança do sentimento do que 99 para as quais não é necessária vigilância. Por isso haverá (mais) alegria no céu sobre a conversão de um pecador que muda de conduta, do que sobre 99 justos que não precisam mudar suas vidas (7). O grego segue, neste caso, o comparativo semítico e por isso é necessário introduzir o mais entre parêntesis. A expressão no céu aponta para o habitante principal do mesmo que é o próprio Deus. Na segunda parábola, os exultantes serão os habitantes do mesmo: os anjos. Com isso, Jesus indica que o fenômeno não é unicamente humano, mas se estende até ser aprovado pela vontade última, como é a divina. Para ela também é motivo de máxima alegria a conversão de um pecador.
2A PARÁBOLA. A DRACMA PERDIDA. Ou que mulher, tendo dez dracmas, se perder uma dracma não acende uma lucerna e varre a casa e busca diligentemente até a encontrar (8). Aut quae mulier habens dragmas decem si perdiderit dragmam unam nonne accendit lucernam et everrit domum et quaerit diligenter donec inveniat. E tendo-a achado, reúne as amigas e as vizinhas dizendo: regozijai-vos comigo, porque achei a dracma a que tinha perdido(9). Et cum invenerit convocat amicas et vicinas dicens congratulamini mihi quia inveni dragmam quam perdideram. Assim, digo-vos: haverá gozo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende (10). Ita dico vobis gaudium erit coram angelis Dei super uno peccatore paenitentiam agente. É um paralelismo perfeito da parábola anterior. Uma coisa perdida que tem um valor extra quando é encontrada, pois alegra o coração de quem a busca até tal ponto que deseja compartir seu gozo com os vizinhos. Na realidade, as 10 moedas não eram uma quantidade notável como para constituir uma fortuna. É possível que o valor da moeda derivasse do fato de formar parte das arras ou moedas com as quais as mulheres adornavam o véu nupcial. Porém o texto não dá indício algum para esta interpretação. De fato uma dracma era equivalente ao denário, ou seja, o salário de um dia. E considerando que o valor de uma coisa depende da estima que seu dono da à mesma, podemos afirmar que uma mulher cujo único tesouro são as dez moedas tem um apreço muito grande a esse pequeno tesouro que constitui parte de sua vida feliz. O termo final da parábola é o mesmo que o da parábola anterior: alegrai-vos comigo porque encontrei a dracma que tinha perdido. Assim vos digo que haverá gozo entre os anjos de (sic) Deus por um pecador que se arrepende.
3A PARÁBOLA. É a conhecida como do Filho Pródigo, que por ter sido comentada no IV DOMINGO DA QUARESMA deste ano não comentaremos aqui.
PISTAS:
1) Jesus dá uma lição de como devemos ver as pessoas que aparentemente estão fora do círculo da moralidade social em que pensamos encontrar-nos. São os marginados pela sua conduta pecaminosa. Jesus afirma que a sua conversão deve ser causa de alegria verdadeira. É por isso que ele toma a atitude do pastor que vai atrás da ovelha desgarrada ou a mulher que varre e limpa a casa para encontrar a moeda perdida de sua coleção.
2) Além dessa conclusão, Jesus mostra o autêntico rosto do Pai que é o de procurar o que estava perdido, pois ao encontrá-lo a alegria produzida é muito maior e duradoura que a tristeza da perda, nunca definitiva. Jesus dirá de si mesmo que veio buscar e salvar o que estava perdido (Lc 19, 10). Várias congregações religiosas abundam na mesma teoria para delimitar sua vocação.
3) Pelo que diz respeito a nós, a notícia implícita na parábola é de grande ânimo e consolação. O pecado não nos afasta definitivamente de Deus. Ele espera nossa conversão que é como um achado após uma intensa busca. Um pecador arrependido vale mais que 99 justos, e sua conversão enche de alegria um Deus que espera sempre. A conversão é a maior alegria de quem deu a vida para os que intentam a volta, após se afastar do caminho.
4) Deus não tem inimigos, mas desgarrados ou extraviados. Por isso sua maior virtude é a espera, como espera o amor pela pessoa amada. Como deveríamos aprender dessa sua maneira de esperar para que o mal se transforme num bem, causando maior alegria do que a tristeza originou a primeira ausência!
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
08.09.2013
23º DOMINGO DO TEMPO COMUM
— ANO C
( VERDE, GLÓRIA, CREIO – III SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Jesus, mestre da nossa vida" __
NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO.
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Seguimento e caminho são duas realidades que se complementam, porque todo seguimento exige um caminho e todo caminho é feito para ser seguido. Escolher o caminho certo é uma atitude sábia; é demonstrar proximidade e cultivo interior da sabedoria existencial. A verdadeira sabedoria, na escolha de um caminho existencial, está em Deus, nos caminhos que Ele propõe, precisamente. Nossa celebração, portanto, ilumina-se no seguimento de Jesus. Um seguimento que não acontece no anonimato, mas através de uma opção pessoal, com uma decisão que envolve toda nossa vida. Que o Espírito Santo ilumine nossos corações e nos ajude a renovar nosso esforço de seguir Jesus, vivendo de acordo com o seu Evangelho.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: A Eucaristia deste domingo nos convoca a uma intimidade maior com a Palavra de Deus. Neste ano da Fé mergulhemos nosso coração nas profundezas do Mistério da Palavra, a fim de que não nos deixemos confundir pelos relativismos e teorias que desprezam os valores que sustentam a dignidade humana e mantêm a cultura nos pilares da ética. Rezemos também pela nossa Pátria, que ontem celebrou a Festa Nacional da Independência, a fim de que conquiste a independência de toda corrupção e maldade, como também se fortaleça nos valores que a Sagrada Escritura propõe para a humanidade.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O ato de fé em Jesus se realiza e se torna concreto abranmgendo a realidade do homem em todas as suas dimensões, tanto as do corpo como as sociais e históricas. A adesão à sua pessoa, que se vive na nova comunidade, tem exigências radicais e comporta rupturas e o sacrifício de certas realidades e certos valores. A renúncia que se faz a certas realidades e a certos valores ou é um ato de desespero e demissão ante o sentido da existência, ou a abertura da ordem terrena à realidade de Deus que vem do alto como graça..
Sintamos em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Sb 9,13-18): - "Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus?"
SALMO RESPONSORIAL (89/90): - "Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós."
SEGUNDA LEITURA (Fm 9-10.12-17): - "Eu, Paulo, velho como estou e agora também prisioneiro de Cristo Jesus..."
EVANGELHO (Lc 14,25-33): - "Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo."
Homilia do Diácono José da Cruz — 23º Domingo do Tempo Comum — ANO C
O que é ser Discípulo?
A prática cristã requer continuamente uma decisão firme a favor de Jesus e seu evangelho, muita gente se ilude achando que uma experiência mais forte com Jesus Cristo em um retiro, já foi suficiente para a conversão, um pensamento bem equivocado, pois a partir do momento em que conheço Jesus e tenho uma disposição interior de ser discípulo, a Fé vai exigir de mim inúmeras decisões de caráter íntimo e pessoal.
As primeiras palavras de Jesus neste evangelho parecem ser marcadas por um amor egoísta, o Mestre exige que o amem acima de qualquer outra pessoa e até acima da própria vida. Fala-se aqui de relações afetivas muito fortes para o Povo Judeu, e a Vida é Dom Sagrado, uma bênção Divina também, como é que o ouvinte vai por em prática essas palavras do Mestre, que parecem ser tão duras?
Diferente dos Fariseus, Jesus não está colocando um fardo pesado demais nos ombros de quem quer ser seu discípulo... Embora os evangelhos não sejam narrativas históricas ou jornalísticas, mas eles mostram claramente que um belo dia, Jesus formou o seu grupo e saiu de casa, deixando para trás a mãe e os demais parentes (inclusive eles acharam que Jesus estava louco, lembram-se dessa passagem?) De fato, parece loucura romper com tudo para ser seguidor de Jesus e do seu evangelho, principalmente porque se caminha na contra mão do Sistema Religioso, Político e Econômico daquela época. É desse conflito do Reino com a Humanidade, e com os interesses de grupos poderosos que detêm o poder político, econômico ou religioso, que surge a cruz, consequência da rejeição. Cruz para o discípulo significa todas as contrariedade que irá ter, por fazer a sua opção por Jesus e seu Evangelho nas decisões que precisarão ser tomadas ao longo da vida.
Então a segunda parte do evangelho nos convida a pensar seriamente nisso: que ser discípulo não é apenas uma filosofia de vida, ou uma prática religiosa entre outras tantas que existe por aí, ou pior ainda, a fachada de uma determinada igreja da qual me fiz membro. Quem pensar assim não conseguirá levar adiante o seu discipulado, que requer coerência entre Fé e Vida, pois os desafios são muitos, basta ver as investidas contra a Igreja de Cristo, que sempre aconteceram e vão continuar acontecendo na História da Igreja. Sentar-se para ponderar sobre a missão, é sinal de que a Fé não se desliga da razão, é preciso planejar, é preciso determinação e perseverança no Discipulado.
Hoje em dia há uma multidão de “discípulos de araque” seguindo Jesus, na ilusão de que o cristianismo é um mar de rosas “Encontrei Jesus e a minha vida mudou para melhor!” Emoções e lágrimas, curas miraculosas, Jesus sofreu para que agora nós curtíssemos o paraíso do conforto, do bem material e da riqueza! Essa multidão de discípulos, ao final vai cair no ridículo. Essa é uma falsa premissa, sustentada pela pregação de Líderes espertalhões que oferecem um cristianismo ameno, sem muitas exigências, a não ser desembolsar o $sagrado Dízimo que vão para as “gordas contas bancárias” nem sempre das igrejas...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Costa — 23º Domingo do Tempo Comum — ANO C
“Discípulo”
No Evangelho de hoje, a palavra “discípulo” aparece três vezes (Cfr. Lc 14,26.27.33); em todas elas o discípulo aparece como alguém que deve renunciar algo ou alguém. Não será uma visão um pouco negativa? Para compreender melhor a nossa vocação de discípulos do Senhor vale a pena fazer um pequeno passeio pelo Novo Testamento.
Um primeiro fato que chama a atenção é que não são os discípulos quem escolhem o seu mestre, mas é Jesus quem escolhe os seus discípulos e lhes dá uma missão concreta: “Vinde após mim e vos farei pescadores de homens” (Mt 4,19). A primeira coisa que há de notar-se, portanto, na vida do discípulo é que é uma pessoa chamada por Jesus para cumprir uma missão. Dentro desse contexto é que podemos entender as renúncias que Jesus pede aos seus discípulos.
Uma segunda característica do discípulo de Jesus encontra-se no contexto das bem-aventuranças, cuja clave de interpretação é o mandato de Cristo para que sejamos santos: “perfeitos como vosso Pai celeste” (Mt 5,48). Outra maneira de expressar a santidade querida por Jesus é a descrição que S. Marcos faz da escolha dos Doze: “designou doze dentre eles para ficar em sua companhia” (Mc 3,14). Santidade é estar na companhia de Jesus, junto a ele e compartir a sua mesma vida. A renúncia, portanto, é para que possamos viver essa vida nova à imitação do Divino Mestre.
Noutro momento, quando Jesus dava instruções aos seus discípulos e, mais em concreto, aos seus apóstolos, lhes diz: “o discípulo não é superior ao mestre; mas todo discípulo perfeito será como o seu mestre” (Lc 6,40). Ou seja, o seguidor de Cristo permanece sempre como discípulo, nunca será mestre, mas a sua imitação do Mestre pode ser perfeita.
O discípulo mantem sempre o desejo de aprender. Conta-se que uma criança ao voltar da escola um pouco desanimada, foi perguntada pelos pais: “E aí, foi bem de aula?”. E o menino respondeu: “Não. Vou ter que voltar amanhã”. Não se pode pretender aprender tudo num só dia nem cansar-se de voltar à escola do Mestre. Uma experiência que todo cristão tem quando passam os anos no seguimento de Cristo é a seguinte: a leitura do Evangelho, das mesmas passagens, recebe sempre distintos coloridos na mente e no coração do que o lê, sempre se descobre coisas novas ou, ao menos, o antigo já sabido se renova, ganhando assim todo o frescor da novidade de redescobrir algo já conhecido e, no entanto, com alguma luz nova.
S. Irineu dizia que o homem vai ser discípulo sempre, também na eternidade: nós sempre aprenderemos! E um autor moderno escrevia que a nossa viagem de peregrinação por esse mundo não termina numa cima definitiva, mas na descoberta maravilhosa de que as terras descobertas e conquistadas são tão somente promessas do que há, todavia terras mais belas por descobrir.
Recordemos essas palavras do Documento de Aparecida (nº 103): “Como discípulos de Jesus reconhecemos que Ele é o primeiro e maior evangelizador enviado por Deus (cf. Lc 4,44) e, ao mesmo tempo, o Evangelho de Deus (cf. Rm 1,3). Cremos e anunciamos “a boa nova de Jesus, Messias, Filho de Deus” (Mc 1,1). Como filhos obedientes á voz do Pai queremos escutar a Jesus (cf. Lc 9,35) porque Ele é o único Mestre (cf. Mt 23,8). Como seus discípulos sabemos que suas palavras são Espírito e Vida (cf. Jo 6,63.68). Com a alegria da fé somos missionários para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo e, n’Ele, a boa nova da dignidade humana, da vida, da família, do trabalho, da ciência e da solidariedade com a criação”. Os passos estão claros: reconhecer Jesus; crer de verdade na boa-nova que ele nos trouxe, ou seja, ele mesmo; escutá-lo e proclamar aos homens e mulheres da nossa época a vida, a alegria e a paz que só se encontra nele; fazer com que a nossa fé vá acompanhada das boas obras. Essa visão das coisas dista muito de ser negativa, ao contrário, a fé nos faz profundamente otimistas porque ela mesma leva em si o dinamismo do sim de Deus aos discípulos de Cristo.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético — 23º Domingo do Tempo Comum — ANO C
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (Fm 9b-10.12-17)
INTRODUÇÃO: É a carta mais curta de Paulo, só com 25 versículos, escrita por motivo de um envio a seu amo de nome Filêmon [=aquele que beija] de um escravo fugitivo de nome Onésimo [=aproveitável] que Paulo encontrou em Roma durante sua primeira prisão e pelo qual uma vez tornado cristão e arrependido, devolve por meio de Tíquico [=fiel] portador também da carta aos de Colossas onde morava Filêmon. Era este um cristão importante, convertido por Paulo durante sua pregação em Éfeso (v. 9), pois Paulo nunca esteve Colossas (v. 1 e 7). Sua casa era lugar de reunião dos fiéis (v. 2). Provavelmente, Ápia e Arquipo, mencionados na carta eram esposa e filho respectivamente de Filêmon. Paulo roga a Filêmon que perdoe o seu escravo e para isso alude motivos de caridade e como pagamento da justiça Paulo se compromete a pagar os prejuízos causados pela conduta de Onésimo. Promete visitar Colossas uma vez livre de sua prisão romana. É importante o trecho em que Paulo diz escrever, ele mesmo, com sua própria mão (v.19).
APELO: Por causa do amor maior, suplico, como sendo o tal Paulo, ancião agora, e, pois, prisioneiro de Jesus Cristo (9). Propter caritatem magis obsecro cum sis talis ut Paulus senex nunc autem et vinctus Iesu Christi. SUPLICO [parakalö<3870>=obsecro] convocar, citar, pedir, suplicar, apelar, confortar e consolar. Temos consolar em Mt 5,3: Bemaventurados os que choram porque serão consolados. E suplicar em Mt 8, 5: Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um centurião implorando. É evidente que aqui Paulo suplica apelando ao amor [agapë]. Ele afirma que é o Paulo conhecido que agora está já um pouco velho e na prisão, por causa de sua atuação como ministro de Cristo. E usa estes três motivos para pedir a Filêmon o perdão do escravo fugitivo. Por vir o pedido de Paulo, o amigo de outrora em Éfeso, por chegar de um ancião que era especialmente respeitado nos velhos tempos e finalmente, por estar encadeado por Cristo, ou ser um confessor, motivo que nos antigos cristãos representava o perdão de penas que mais tarde foi a origem das indulgências.
O FILHO ONÉSIMO: Imploro-te por meu filho Onésimo, o qual gerei em minhas correntes (10). obsecro te de meo filio quem genui in vinculis Onesimo. Paulo suplica em favor de Onésimo a quem chama filho, pois o engendrou ou gerou por meio do batismo durante a sua prisão. É possível que também Onésimo, como escravo fugitivo, estivesse na mesma prisão que Paulo e foi aí onde o escravo se converteu e foi batizado. De todos os modos, Paulo tem com o escravo um vínculo cristão que a Igreja reconhece como de pai com filho e que inibe até o matrimônio. É, pois em nome de um pai que Paulo implora por um filho querido, gerado em termos de aflição, como dores de parto; ou seja, entre os sofrimentos das correntes de uma prisão. É, pois um apelo dramático que Paulo inteligentemente usa como meio para que o perdão não seja só da culpa, mas da pena de seu protegido.
RECEBE-O: O qual enviei de volta. Tu, porém, a ele, isto é, minhas entranhas, recebe (12). Quem remisi tu autem illum id est mea viscera suscipe. É sumamente interessante ver como a tradução literal do grego coincide com a latina da Vulgata, não só pelas palavras escolhidas [léxico], mas também pela ordem das palavras [construção da frase]. Neste versículo, somos testemunhas da delicadeza e ternura de Paulo que chama a Onésimo de minhas entranhas, o que não parece tão incomum, uma vez que chama os gálatas de filhos meus [tekna mou=filioli mei], como mulher que esteve de parto para formar Cristo neles (Gl 4, 19). Paulo envia de volta o escravo, que não deve ser recebido como tal escravo, mas como um filho nascido de suas entranhas, das de Paulo.
MEU DIÁKONO: O qual eu desejaria conservar perto de mim para que, no teu lugar, me servisse nas cadeias do evangelho (13). Quem ego volueram mecum detinere ut pro te mihi ministraret in vinculis evangelii. Se fosse por seu desejo e por suas necessidades, o escravo estaria a seu serviço ou diakonia como concedido pelo próprio Filêmon, o dono do escravo a ele emprestado. Pois as necesidades da idade e das correntes da prisão assim o tornariam necessário.
AGE VOLUNTARIAMENTE: Porém fora de teu conhecimento nada quis fazer, para que nada como necessidade, [fosse causa] do bem de tua parte, mas pelo contrário como voluntário (14). Sine consilio autem tuo nihil volui facere uti ne velut ex necessitate bonum tuum esset sed voluntarium. Porém, Paulo nada quis fazer sem que Onésimo soubesse de sua atuação. A vontade de Onésimo era a que deveria ser tomada como última decisão, de modo tão livre que a necessidade de Paulo não fosse parte na decisão final. Onésimo devia neste ponto dar a última palavra de modo completamente livre, sem pensar que o escravo era útil para Paulo. No versículo 11, que é descartado na epístola, Paulo joga com a palavra útil [euchrëston] e inútil [achrëston] e o nome do escravo Onésimo [útil]. Paulo fala de que agora o escravo é útil [onësimos] para ele, mas que outrora foi inútil [achrëston] para Onésimo, cujo significado é precisamente útil ou valioso. Um escravo que não servia para nada, era imprestável e não tinha preço, era um escravo sem valor, como vemos em Lc 17, 10: somos servos imprestáveis, sem valor, porque fizemos o que devíamos fazer. Paulo se desprende de um escravo valioso e o entrega como um sem preço a seu antigo dono.
PROVIDÊNCIA: Talvez, pois, por isso foi afastado temporariamente para que para sempre o recebas (15). Forsitan enim ideo discessit ad horam a te ut aeternum illum recipere. Paulo acrescenta uma outra razão para receber perdoando o escravo fugitivo: o afastamento foi temporário. Agora a companhia será para sempre, pois não o receberá com um escravo, mas como um irmão, pois batizado, não existe distinção entre escravos e livres (Gl 3, 28). Assim o declara no versículo seguinte.
COMO IRMÃO: Não como escravo, mas por cima de escravo como irmão amado especialmente para mim, quanto mais para ti tanto na carne como no espírito e no Senhor (16). Iam non ut servum sed plus servo carissimum fratrem maxime mihi quanto autem magis tibi et in carne et in Domino. Pense Filêmon que tudo poderia te sido um ato da Providência que afastou um escravo e entregou um irmão, irmão tanto para Paulo como para Onésimo, que pela utilidade e a companhia próxima pode ser considerado carnal, para não falar do espírito que a todos impulsava e unia no Senhor.
COMO A MIM: Se comigo tens comunhão recebe-o como a mim (17). Si ergo habes me socium suscipe illum sicut me. Entramos na conclusão final: Paulo pede a Onésimo que receba o escravo como se fosse ele mesmo. É o apelo mais profundo, pois podemos escutar, como um eco, as palavras de Jesus a seus discípulos: Quem vos recebe a mim recebe. CONCLUSÃO: Paulo não destrói o sistema injusto da escravidão, mas pelo perdão e a caridade cristã transforma um escravo num irmão e, portanto, suaviza as duras condições do injusto sistema. A carta serve para nos relembrar que todo próximo deve ser considerado como um verdadeiro irmão em Cristo. Que diante das leis injustas o amor deve suprir o que a justiça denega.
Evangelho (Lc 14,25-33)
O VALOR SUPREMO DO SEGUIMENTO DE JESUS.
INTRODUÇÃO: O tema de hoje está precedido por uma introdução em que vemos muitas ou grandes multidões acompanhando Jesus. À vista disso ele terá que determinar quais são as verdadeiras características dos que querem realmente se tornarem seus discípulos. Temos, pois, duas exigências essenciais para formar parte do seu discipulado junto com duas parábolas ou exemplos, finalizando com uma conclusão que determina toda a matéria, unificando coerentemente a lógica dos argumentos precedentes.
1A EXIGÊNCIA: Acompanhavam-no, porém, grandes multidões e voltando-se lhes disse (25). ibant autem turbae multae cum eo et conversus dixit ad illos. Se alguém vem após mim e não odeia o seu pai e a mãe e a mulher e os filhos e os irmãos e as irmãs e até sua vida, não pode ser meu discípulo (26). Si quis venit ad me et non odit patrem suum et matrem et uxorem et filios et fratres et sorores adhuc autem et animam suam non potest esse meus discipulus. JESUS PREFERIDO A TODOS OS PARENTES. Jesus afirma: Se alguém vem a [pros do grego] mim. É um chegar com a finalidade lógica de se tornar discípulo, que na época era mais do que um ouvinte. Discípulo [mathetës <3101>=discípulus] significava todo aquele que seguia a vida e as instruções do mestre de forma contínua. Moravam juntos e participavam das mesmas ideias e comidas. O discípulo era uma réplica do mestre. Vendo Jesus as turbas que o seguiam declara terminantemente que nem todos os que ouviam suas palavras poderiam ser considerados verdadeiros discípulos. A primeira qualidade dos mesmos é preferir Jesus a todos os parentes. Como era clássico na moral semita, Jesus nomeia um por um os casos em que ele deve ser preferido e pela ordem em que eles deveriam ser considerados ou amados segundo a lei e a tradição: Pai, mãe, esposa, filhos, irmãos e irmãs. O texto grego usa uma palavra que hoje nos parece difícil se não escandalosa: misei, [do verbo miseö<3404>=odire] odiar. Se alguém não odeia, diz o mesmo… Na realidade, é um semitismo que o evangelista traduz literalmente e que indica a antiguidade de sua fonte e a fidelidade de sua tradução, revelando um estágio primitivo que pode ser a própria palavra de Jesus [ipsisima verba] sem retoques redacionais. De fato, os orientais não tinham tantas acepções e distinções como nós, e eram mais diretos nas suas expressões. No lugar de dizer amar menos ou desprezar, usavam o verbo antípoda: odiar. Tal é o caso de Paulo em Romanos 9, 13: Esta escrito: Amei Jacó e odiei [mesmo verbo miseo] Esaú. Por isso, as diversas traduções modernas do trecho de hoje usam notas explicativas como a Bíblia de Jerusalém que traduz o odeia por desapego completo e imediato, referindo-se ao texto 9, 57-62. Ou, a exceção da italiana que, como o latim, conserva o original odeio, usam expressões equivalentes: a francesa sans se détacher; a inglesa without being ready to give up your love for; a portuguesa não dá mais preferência a Mim; a espanhola no deja, e a latino- americana nao se desprende. Devemos, pois entender que Jesus exige prioridade a respeito dos parentes, seja qualquer o grau dos mesmos, prioridade que unicamente no AT era atribuída a Deus. A melhor interpretação desta passagem a temos em Mt 10, 37: Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. O texto grego fala de fileo yper eme, corretamente traduzido ao português. Lucas, como vemos, acrescenta esposa, pois não podemos esquecer que ele escreve para gentios em que a esposa contava como parte importante da vida. Temos também uma outra diferença: a alma, introduzida com uma expressão de reforço: mais ainda, até sua alma [psyché em grego, anima em latim]. Que significa psyché <5590>? Do texto original hebraico nefesh<05315> hayah <02416> do Gênesis 2, 7. A tradução da escrita em negrita dos setenta em grego é: eis psychen zösan. A vulgata traduz in animam viventem. Deste modo temos que psyché se confunde com nefesh e zosan com vivente. Onde NEFESH=anima e ZÖSAN=vivens. NEFESH é traduzido por anima [=alma] na maioria das vezes no Antigo Testamento. Nada menos que 475 vezes. Depois por vida 117 vezes; e com outros significados menos frequentemente, como pessoa, criatura, ser, ser vivo, etc. Psyché [<5590>=anima] tem como tradução mais essencial a de alma ou o alento vital e daí vida [58 vezes], a vida em si mesma [40 vezes] e outros num total de 105 vezes no NT. Ao traduzir o nefesh pode muito bem significar o ser, a vida, como vemos nos textos modernos. A Bíblia de Jerusalém traduz insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser [nefesh] vivente. E no nosso caso, o latim usa anima e os textos vernáculos vida (Esp e Port) vita (It) e life (Ingl). A melhor opção pelo contexto é, pois, vida. Mas Jesus exigia, abandonar não unicamente os planos pecaminosos do pecado, mas também os projetos bons e lucrativos da vida em particular. Tudo estará subordinado a Ele, como estavam no AT as coisas e os seres dependentes de Javé-Deus. Lucas, em lugar paralelo, exige a negação a si mesmo: não tanto negação ao pecado como aos projetos e planos próprios, legítimos desde a liberdade do ser humano. Todo amor -escreve um autor – é portador de eternidade; mas nenhum amor é autêntico se prefere aquilo que se goza no tempo ao que é único e eterno.
2A EXIGÊNCIA: A CRUZ. E quem não carrega a sua cruz e vem após mim não pode ser meu discípulo (27). Et qui non baiulat crucem suam et venit post me non potest esse meus discipulus. Não pede ser morto na cruz, mas bastazein, traduzido ao latim por bajulare, ou seja, carregar a mesma. Quando falam os evangelistas da cruz expressam com duas palavras o fato de suportar o peso da mesma no caminho do suplício: airo e bastazo. Airö<142> significa tomar ou levantar e bastazö <941> carregar. A cruz era o suplício mais atroz dos tempos de Jesus entre os romanos, segundo testemunho de Cícero; e, além disso, o crucificado era, segundo Dt 21, 23, maldito por lei: o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus, que Paulo cita em Gl 3, 13: Cristo nos resgatou da maldição da Lei fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro. A cruz [staurós] em grego era inicialmente o Stipes ou madeiro vertical no qual se empalava o réu, daí a palavra grega stauroö <4717> (=empalar ou pendurar no madeiro). Mas nos tempos de Jesus a cruz estava constituída de dois madeiros: um deles fixo no lugar do suplício: era o vertical, que recebia o nome de stipes [estaca]; e o outro de nome patibulum, que era carregado pelo réu, abrindo os braços e amarrado a ele horizontalmente, como vemos em Jo 21, 18: estenderás os braços e outro te cingirá ou atará. Sempre eram vários os réus crucificados que formavam uma procissão em fileira de modo que o patibulum do anterior era amarrado ao pé do seguinte. Daí o lugar paralelo de Lucas: (9, 23). Se alguém quer vir após mim (…) tome a sua cruz cada dia e siga-me. Jesus está pedindo o impossível: a destruição do próprio ego. Tudo soa como aquilo de amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, etc.
PRIMEIRA PARÁBOLA: A TORRE. Quem de vós querendo construir uma torre não senta primeiro e calcula os custos, se tem os (necessários) para terminar(28). quis enim ex vobis volens turrem aedificare non prius sedens conputat sumptus qui necessarii sunt si habet ad perficiendum. Não seja que postos os alicerces dela e não podendo terminar todos os que a vejam comecem a se mofar dele (29). Neque posteaquam posuerit fundamentum et non potuerit perficere omnes qui vident incipiant inludere ei. Dizendo que este homem começou a edificar e não pode acabar (30). Dicentes quia hic homo coepit aedificare et non potuit consummare. Era a torre uma casinha de pedra, construída num ângulo da vinha para vigiar e impedir que bestas selvagens e ladrões pudessem roubar ou estragar a mesma. Tinha certa altura e, portanto era necessário que tivesse fundamentos sólidos. Caso não pudesse acabar o começado seria para o dono uma vergonha.
SEGUNDA PARÁBOLA: O REI. Ou que rei, indo a pelejar com outro rei, não se assenta primeiro a pensar se é possível com dez mil enfrentar quem com vinte mil chega contra ele? (31), Aut qui rex iturus committere bellum adversus alium regem non sedens prius cogitat si possit cum decem milibus occurrere ei qui cum viginti milibus venit ad se. Mas se não, estando longe, enviando uma delegação, pede as (condições) para a paz (32). Alioquin adhuc illo longe agente legationem mittens rogat ea quae pacis sunt. Antes de iniciar uma guerra que pode ser um desastre total é preciso pensar seriamente se com o exército disponível podemos vencer o inimigo por vezes superior. Caso contrário é melhor optar por uma paz, embora seja menos honrosa. São comparações que podem ser entendidas do ponto de vista puramente natural pelo homem psychikós que diria Paulo, levado unicamente de sua razão e sentimentos.
CONCLUSÃO FINAL: Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a todos os seus bens não pode ser meu discípulo (33). Sic ergo omnis ex vobis qui non renuntiat omnibus quae possidet non potest meus esse discipulus. Ambas as parábolas explicam as dificuldades e inconvenientes que levarão muitos a abandonar o caminho empreendido. Por isso devemos enfrentar o nosso discipulado com a intenção de total e absoluta renúncia a tudo o que possuímos. O verbo grego apotasssomai [<657>=renuntiare] significa dizer adeus. É um esquecer definitivo, uma renúncia absoluta a todos [pasin] os bens [yparchousin <5224>]. Isso é que determina e fixa o verdadeiro discípulo.
PISTAS:
1) Os conselhos evangélicos, ou seja, o discipulado de Cristo é um chamado a todos. Mas unicamente serão verdadeiros discípulos os que estejam dispostos a uma renúncia total a começar por si mesmos, que é notada externamente pela pobreza de uma opção aparentemente irracional: Discípulo de um Mestre que teve uma cruz como fim e uma vida em que o sofrimento era parte essencial, especialmente o sofrimento da incompreensão e perseguição.
2) A cruz não é unicamente um símbolo de quem sofreu por nós, mas uma opção necessária que deve dirigir nossas vidas de discípulos de Cristo. Não existe um cristianismo light em que a humilhação, o escárnio e o sofrimento possam ser referidos unicamente ao Senhor. Os discípulos devem, como ele pediu aos filhos do Zebedeu, optar por beber o cálice amargo de sua paixão.
3) Seguir Jesus é continuar o projeto do Pai, experimentando um clima novo em relação com as pessoas, as coisas materiais e consigo mesmo. Trata-se de assumir com liberdade e responsabilidade a condição humana sem superficialismos, conveniências ou egoísmos. Decidir-se por uma humanidade que Jesus adotou como modelo, em que a renúncia a si mesmo é a base da entrega a Deus e ao próximo.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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