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NOTA ESPECIAL: VEJA NO FINAL DA LITURGIA OS COMENTÁRIOS DO EVANGELHO COM SUGESTÕES PARA A HOMILIA DESTE DOMINGO. VEJA TAMBÉM NAS PÁGINAS "HOMILIAS E SERMÕES" E "ROTEIRO HOMILÉTICO" OUTRAS SUGESTÕES DE HOMILIAS E COMENTÁRIO EXEGÉTICO COM ESTUDOS COMPLETOS DA LITURGIA DESTE DOMINGO. Ambientação: Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A mística cristã só tem sentido e é eficaz se for vivida na íntima união com Cristo, realizada no amor. Tal afirmação nos ajuda a entender que o Evangelho não é ideologia existencial, mas projeto de vida, fundamentado no amor, lugar comum da união entre Cristo e seu discípulo. O amor que une o Cristão a Cristo ilumina a mística cristã e é capaz de produzir frutos que permaneçam, a ponto de tranformar a vida pessoal e o ambiente social. Esse projeto de vida orienta os discípulos de Cristo a amar de modo vivencial e não abstrato ou teórico. INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Celebramos a Eucaristia em comunhão com os nossos irmãos e irmãs que participam da Romaria da Arquidiocese a Aparecida e peçamos que Deus nos fortaleça, para que, como o ramo no tronco, fiquemos sempre unidos à Videira, que é Cristo. INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Somos convidados a refletir sobre a nossa união a Cristo; e que só unidos a Cristo temos acesso à vida verdadeira. Utilizando a comparação da videira e dos ramos, reforçamos a proposta da comunidade unida a Cristo, fecunda no amor e comunhão. O critério para saber se há comunhão entre os ramos, que são os cristãos, e Cristo, é a presença dos frutos. Assim, é necessário permanecer unido a Cristo para receber a seiva e dar frutos. Hoje, damos graças pelo batismo, que nos inseriu em Cristo como ramos na videira, pela palavra que nos purifica e pelo sofrimento que poda todo o mal. O vinho, fruto da videira, é sinal expressivo dessas realidades, e sacramento da nova aliança no sangue de Jesus. Portanto, permaneçamos no amor de Cristo. Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo e meditemos profundamente a liturgia de hoje! (coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia) PRIMEIRA LEITURA (Atos 9,26-31): - "Daí por diante permaneceu com eles, saindo e entrando em Jerusalém, e pregando, destemidamente, o nome do Senhor." SALMO RESPONSORIAL 21(22): - "Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembléia!" SEGUNDA LEITURA (1 João 3,18-24): - "Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade." EVANGELHO (João 15,1-8): - "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará; e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto." Homilia do Diácono José da Cruz – 5º Domingo de Páscoa — ANO B "NOSSA QUERIDA VIDEIRA!" Há muita gente que, por mera falta de conhecimento, interpreta de maneira equivocada esse evangelho de São João, onde Jesus se apresenta como a Videira. Talvez porque seja mais fácil entender que se trata de algo pessoal: falando da minha espiritualidade, minha intimidade com o Cristo, minha permanências nele, através das minhas orações e da minha sacramentalidade, pois só assim irei produzir os “meus frutos”. Não há dúvidas de que o texto traz um apelo à conversão pessoal, possível a partir da permanência, isso é, em comunhão com Jesus Cristo mediante a graça santificante, mas o evangelho também apresenta indícios de uma relação bem mais ampla e complexa, basta ver a conclusão lógica: Fora da videira, além de não produzir nenhum fruto, também iremos morrer e ser destruídos para sempre, nas chamas do fogo eterno. Se entendermos a expressão Joanina ao pé da letra, esse fogo se apresenta como um castigo, e nesse caso, permanecer com Cristo seria uma obrigação e não uma opção pessoal por esta vida, totalmente nova que ele nos oferece. A estrutura de um vegetal é algo muito complexo: raiz, tronco, ramos, folhas, flores e frutos. A esse respeito, lembrei-me de uma história muito interessante, que ilustra bem a reflexão. Ao passar o final de semana na chácara da família, o menino disse ao pai, que queria fazer um discurso de agradecimento a uma árvore, pelo fruto adocicado que acabara de saborear, mas que queria saber, por onde começar “A quem agradeço primeiro, a raiz, ao tronco ou ao galho, onde apanhei o fruto?” O pai sorrindo, explicou que o fruto saboroso foi produzido pela árvore toda em seu conjunto, e não apenas por uma de suas partes. É João também, o autor da célebre afirmação de que, “Quem diz que ama a Deus que não vê, mas não ama o irmão que vê, é mentiroso, pois a verdade não está nele”. Então o evangelho da Videira fica bem mais claro para todos nós, sem essa comunhão com Cristo e com os irmãos da comunidade, não iremos produzir frutos, ou os frutos não serão de boa qualidade. É na Igreja comunidade, que vivemos e celebramos essa comunhão. Permanecer, não significa um encontro casual ou acidental, nem tão pouco quer dizer fechar-se dentro do seu grupo, da sua equipe, pastoral ou movimento, quando temos essa atitude, de só se sentir bem no “meu grupo”, o horizonte se apequena, porque se trata de uma fuga das relações complexas e assim, eu acabo-me “escondendo” no meu grupo, ali não serei questionado, não precisarei buscar mais nada, pois terei enfim encontrado a sonhada paz, a comunidade perfeita. Um ramo assim está fadado a secar, irá perder a vitalidade e acabará caindo ou sendo arrancado por algum vento impetuoso que sopra contrário, pois não é função do tronco conduzir a seiva a um ramo em particular, mas a todos os ramos. Fechar-se no grupo significa uma tentativa infrutífera de monopolizar a seiva da graça de Deus, só para nós, com exclusividade. Há igrejas cristãs que pensam assim, há grupos cristãos que também pensam desta forma, alimentando a ilusão de que o cristianismo fechado em um grupo é uma maravilha, uma bênção e uma grande graça. Quanto engano! O evangelho desse domingo, escrito por São João, desmonta toda essa “fantasia colorida”. A ameaça de ruptura e destruição no fogo, não é para os que não pertencem á Videira, mas sim para os de dentro, que insistem em caminharem sozinhos, sem uma inserção na vida comunitária. São Paulo usa a mesma linguagem da videira, quando vislumbra a Igreja como um Corpo, onde nós somos os membros e Cristo é a Cabeça, o pé não tem nenhuma importância em si mesmo, se não considerarmos sua relação com o corpo, um membro separado do corpo, não serve para nada, não tem função alguma, ele só se torna valioso e importante, quando unido permanentemente com o corpo todo. Nossa caminhada enquanto igreja, não pode ser alimentada por essas fantasias e mentiras inebriantes, pois elas não resistirão ao Fogo da Verdade Divina. José da Cruz é Diácono da Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 5º Domingo de Páscoa — ANO B “Crescer devagar, porém sempre!” Essa é uma das leis de vida nesta terra: sempre estamos nos desenvolvendo! Em efeito, todos os viventes estão em constante crescimento até o momento cume da própria vida, depois começa a senectude que, pouco a pouco, vai levando as nossas forças. Contudo, enquanto estivermos bem pegados à raiz da vida, estaremos aqui com os nossos amigos e companheiros celebrando a vida e tantas coisas boas que ela nos oferece. Também é verdade: bem unidos a Jesus, conservaremos sempre a jovialidade do nosso existir cristão. Faz tempo, um padre, amigo meu, ligava e dizia-me que estava com a minha cruz. O que acontece é que eu uso uma pequena cruz quando estou no confessionário. Chamou-me a atenção a maneira como ele se expressou e começamos a brincar. Dizia eu: – “eu esqueci a minha cruz, a deixei com você. É uma pequena, não é” Disse-me ele: – “ainda bem que é a pequena”. Eu fiquei pensando depois como é bom ter um irmão que nos ajuda a carregar a cruz, nem que seja a pequena: é ótimo ter alguém que nos ajude! “Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas por atos e em verdade” (1 Jo 3,18). Amamos por atos e em verdade quando as nossas palavras são vivas, são vida; explicam aquilo que fazemos ao mesmo tempo em que as ações mostram aquilo que falamos. A coerência… como falta na nossa vida de cristãos! Um discípulo de Cristo tem que semear a paz, o amor, a alegria por onde passa; um discípulo de Cristo por vezes incomodará, é normal! A sua vida santa será para muitos um martelo na própria consciência. Para que possamos viver assim, tão fiéis a Cristo, é necessário que estejamos muito unidos a ele. “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Nós somos os ramos na videira. Isso significa que não temos vida por nós mesmos, a temos daquele que é a Vida, a seiva nos vem da videira, que é Cristo. A graça é o que nos vivifica, que nos anima e nos capacita para que possamos dar frutos de vida eterna. SEM JESUS NÃO PODEMOS FAZER NADA. Seríamos inúteis, sobrenaturalmente falando, sem a graça que nos vem do alto. Se não estivéssemos unidos ao Senhor, seríamos ineficazes, já que toda a nossa eficácia vem de Deus. Nós precisamos dar frutos. Quais São Paulo escreve aos gálatas falando da diferença das obras da carne e dos frutos do Espírito; “as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes. [...] os que as praticarem não herdarão o Reino dos céus!” (Gl 5,19-21). Continua o mesmo apóstolo: “o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22-23). Como são contrárias as obras da carne dos frutos do Espírito! As primeiras são para escravizar-nos, trazem a infelicidade, ainda que no começo pareçam dar a felicidade. Enganam-se aqueles que pensam assim! Apenas por um momento trazem algum prazer, depois… O que fica senão a dor de consciência, a angústia, a escravidão no vício, a infelicidade? Os frutos do Espírito Santo aparecem em todo bom cristão consciente de sua vocação à santidade e que se esforça para estar unido ao Senhor. A nossa vida será muito mais saborosa com esses frutos de caridade, paz, alegria etc. Como as pessoas desejam a paz, desejam ser alegres, desejam a felicidade! O problema é que vão buscar tudo isso em “outras árvores” que não são videiras verdadeiras. Jesus é a verdadeira videira, para dar bons frutos que sirvam para a vida eterna é preciso estar unido a ele. A paciência é uma virtude importante na vida espiritual. Não esperemos que uma semente de abacate plantada ontem venha a florescer e produzir abacates hoje. Não podemos entregar-nos ao desalento na vida interior. Precisamos lutar para viver o plano de Deus nas nossas vidas. Se quisermos produzir frutos para a vida eterna é preciso que sejamos podados, que recebamos o adubo; que resistamos a várias temperaturas, a aridez do vento, as chuvas torrenciais e o sol que chega a queimar. Virá a primavera, sairão as folhas e as flores, virão os frutos. Só quem persevera até o fim receberá a salvação, isto é, quem permanece no Senhor. Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa Comentário Exegético – 5º Domingo de Páscoa — ANO B EPÍSTOLA (1 Jo 3, 18-24) INTRODUÇÃO: Contra os gnósticos que declaravam que, embora cometessem os pecados mais horrendos, a si mesmos se consideravam puros, não afetados por essas culpas e defeitos, porque a verdadeira união com Deus era o conhecimento, do qual eles pensavam estar em posse permanente, nosso autor, o apóstolo João, afirma que a verdadeira união com Deus consiste no amor. As afirmações do apóstolo devem ser consideradas como uma resposta aos seus adversários: os gnósticos e o mundo. Contra aqueles dirá que quem permanece em Deus não peca e quem peca nem o viu nem o conhece (v6), porque a essência de Deus é ser justo [cumprir a lei que é não pecar] (7) pois quem peca se enfrenta à Lei já que o pecado é a desobediência à lei [anomia] (4). Mais ainda: Quem peca é do diabo, pois este é pecador desde o início (8). Deus é tudo o contrário ao pecado; pois todos sabem que o filho de Deus se manifestou para tirar os pecados, sendo ele sem pecado (5). E nisto distinguimos os filhos de Deus dos filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça e nem ama o seu irmão não é de Deus (10). E João termina esta união com o Deus justo fazendo uma apologia do amor ao próximo. O exemplo de Caim, maligno, serve para explicar o ódio do mundo aos cristãos: Ele matou Abel porque este era bom e as obras de Caim eram más (13). Conclui João afirmando categoricamente: Quem não ama a seu irmão permanece na morte (14). Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? (17). É neste ponto que iniciamos a epístola como leitura de hoje. AMOR VERDADEIRO: Meus filhinhos, não amemos de palavra nem de língua, mas por obra e em verdade (18). Filioli non diligamus verbo nec lingua sed opere et veritate. FILHINHOS: Como todo Rabi tinha o nosso apóstolo seus discípulos que, segundo costume da época, chamavam de pai o seu mestre (Mt 23, 9). Logo os filhos eram os seguidores do mestre da Lei. E aqui como dissemos no comentário do dia 22 de abril, o epíteto é uma maneira suave de iniciar uma repreensão ou advertência para que os ouvintes não se considerem ofendidos e aceitem a advertência como um conselho e não como uma censura. DE PALAVRA [logö<3056>=verbo]. Já no AT Ezequias afirmava: E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza (33,31). Desta afirmação se faz eco no NT Paulo, em Rm 12, 9: O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. E também Ef 4, 15: Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. Por isso, Tiago pode afirmar: E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? (Tg 2, 16). Ou como adverte Pedro: Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro (1 Pd 1, 16). O farisaísmo, mostrando exteriormente o que não existe no interior e só para ser visto ou louvado, é aqui condenado como o fez Jesus com palavras até muito mais fortes: Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mt 15, 7-8). A VERDADE: Porque nisto conhecemos que somos da verdade e que perante ele convenceremos nossos corações (19). In hoc cognoscimus quoniam ex veritate sumus et in conspectu eius suadeamus corda nostra. DA VERDADE [alëtheia <225>=veritas] Como disse Jesus a Pilatos vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz (Jo 18,37). E a voz de Jesus não é só acreditar na sua divindade, mas amar o seu mandato, esse que deixou como testamento no dia de sua paixão: Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros (Jo 13,34). CONVENCEREMOS [peisomen<3982>=suadeamos] É o futuro de peithö com o significado de convencer: E todos os sábados disputava na sinagoga, e convencia judeus e gregos (At 18, 4). Persuadir: Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram à multidão que pedisse Barrabás e matasse Jesus (Mt 27, 20). Conciliar, satisfazer: Se o governador chegar a saber do assunto, nós o convenceremos e faremos com que não vos incomodem com isso (Mt 28, 14). Confiar: Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus (Mt 27, 43). A Vulgata usa o suadeamus [persuadir]; a espanhola tranquilizaremos; a italiana rassicuraremo [reassegurar, estar seguros]; e a KJV shall assure [assegurar ou garantir]. Ou seja: estaremos seguros de que realmente somos na verdade filhos de Deus e não do diabo o pai da mentira (Jo 8, 44). DEUS SUPERA NOSSAS DEFICIÊNCIAS: Porque se nos acusar o nosso coração [sabemos] que melhor é Deus do que nosso coração e conhece todas as coisas (20). Quoniam si reprehenderit nos cor maior est Deus corde nostro et novit omnia. ACUSAR [kataginöskö<2697>=reprehendere] é o subjuntivo com o significado de condenar, convencer de um mal feito como em Mc 7, 2: vendo que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar, os repreendiam. Também em Gl 2, 11: chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. CORAÇÃO está no lugar de mente ou consciência. O significado da frase é que Deus, conhecedor de todas as circunstâncias e de nossa debilidade e inclinação ao pecado, como verdadeiro Deus de misericórdia, sabe superabundar esta, onde abunda o pecado (Rm 5, 20) pois sua misericórdia é de geração em geração. De modo que a justiça divina se transforma em misericórdia, uma vez pago o lytron [resgate] pelo pecado por seu Filho, na cruz. E se isto é verdade com respeito aos pecadores a que veio salvar (Mt 18, 11), quanto maior será a bondade divina com aqueles que têm como propósito serem misericordiosos como é o Pai? (Lc 6, 36). SABE TUDO: Um exemplo vivo dessa misericórdia é o perdão feito a Pedro: Disse-lhe pela terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito pela terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: SENHOR, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo (Jo 21, 17). Assim afirmará Pedro: O amor cobre [aos olhos de Deus] uma multidão de pecados (1 Pd 4, 8). CONFIANÇA EM DEUS: Amados, se o vosso coração não vos acusar temos confiança em Deus (21). Carissimi si cor non reprehenderit nos fiduciam habemus ad Deum. No versículo anterior o apóstolo nos apresenta a misericórdia de Deus como ultrapassando nossa maldade. Agora estuda o caso de não ter consciência de pecado [não vos acusar]. CONFIANÇA [parrësia<3954>=fiduciam] Parrësia é franqueza, sem rodeios, abertamente como em Jo 16, 29: Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma. Também coragem, ousadia audácia, como em At 4, 13: Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e incultos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus. Finalmente, essa ousadia é vista no trato com Deus da alma fiel: No qual [em Cristo Jesus] temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nEle (Ef 2, 12). Em certo sentido, a paixão de Cristo abriu as portas da misericórdia divina a todo homem, pois por todos ele derramou seu sangue: no fim da ceia tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança feita através do meu sangue (1 Cor 11, 25). A RAZÃO: Pois quanto pedirmos recebemos dEle porque observamos seus mandatos e fazemos as coisas agradáveis diante dEle (22). Et quodcumque petierimus accipiemus ab eo quoniam mandata eius custodimus et ea quae sunt placita coram eo facimus. Em 5, 15 repete esta mesma ideia sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos. É privilégio do crente ser ouvido e atendido em suas orações, segundo palavras de Jesus em Mt 7, 7: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Esta certeza tem a sua raiz na fé do crente e na conformidade com a vontade divina que faz com que a petição esteja de acordo com os planos de Deus. Preocupado unicamente em cumprir os mandatos divinos e unicamente atento ao que lhe agrada, o verdadeiro crente não pode pedir coisa alguma que não se coadune com a vontade de Deus e não corresponda a suas intenções. Em tal oração, Deus reconhece o seu Espírito segundo o que escreve Paulo em Rm 8, 26: Da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. Porque Deus não quer ser vencido em generosidade. Quem o ama [cumpre seus mandatos] é muito mais amado por Deus em correspondência. O MANDATO: Pois este é seu mandato que acreditemos no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros como nos ordenou (23). Et hoc est mandatum eius ut credamus in nomine Filii eius Iesu Christi et diligamus alterutrum sicut dedit mandatum nobis. MANDATO [entolë<1785>=mandatum]. São os mandamentos da lei que eram os mishvoth (Êx 24, 7 e Sl 119, 127) de Moisés e no NT traduzido ao grego por entolai como lemos em Mt 15, 3: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição? Inicialmente o principal mandato do NT é a fé em Jesus que é aceitar seu senhorio sobre nós. Esse mandato foi a perdição dos anjos rebeldes e será sem dúvida a perdição dos homens, também rebeldes. E a este mandato está unido o mandato do amor ao próximo. Com isso se cumpre o que Paulo disse em Gl 5, 9: Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor. Foi esse último mandato o testamento que Jesus entregou a seus discípulos: Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis ( Jo 13, 34). PERMANECER EM DEUS: E aquele que observa os seus mandatos nEle permanece e Ele nele; e nisto conhecemos que permanece em nós pelo Espírito que nos deu (24). Et hoc est mandatum eius ut credamus in nomine Filii eius Iesu Christi et diligamus alterutrum sicut dedit mandatum nobis. PERMANECE [menei<3306>=manet] indicativo presente do verbo menö de significado estar, permanecer, ficar, como em Jo 7, 9: Havendo-lhes dito isto, ficou na Galileia. Também habitar, viver em: Saiu-lhe ao encontro, vindo da cidade, um homem que desde muito tempo estava possesso de demônios, e não andava vestido, nem habitava em qualquer casa, mas nos sepulcros. Ou continuar a viver, existir: Se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti [Cafarnaum] se operaram, teria ela permanecido até hoje. Temos optado pelo significado de permanecer no sentido de habitar, estar. É a união de espíritos [humano e divino] que podemos conhecer pelo Espírito [dons que o acompanham] que em nós habita. Na realidade, esses dons enumerados em 1 Cor 12, 10 não são considerados por João nesta epístola, mas o espírito filial do qual Paulo em Rm 8, 6 afirma: O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Porque dirá Paulo; Recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. EVANGELHO (Jo 15,1-8) - ALEGORIA DA VIDEIRA VIDEIRA COMO ARBUSTO: A vitis vinifera [que dá origem aos termos vide, parreira, vinha e videira] é uma planta lenhosa que quando se deixa crescer livremente pode alcançar mais de 30 m de altura. Mas a ação humana com a poda anual a reduz a um arbusto de 1 m de altura. Seu tronco retorcido e tortuoso apresenta uma cortiça grossa e áspera que se desprende em tiras longitudinais. Os galhos jovens chamados sarmentos, são flexíveis e grossos nos nós. Sobre eles alternam as folhas grandes e lobuladas. Os talhos jovens são chamados de pâmpanos tendo em seu extremo a gema da qual sai um novo sarmento. Aparecem primeiramente como gavinhas com as quais se agarram aos outros troncos, pois a vide é uma planta trepadeira. As gemas ou brotes, se localizam nas axilas das folhas na posição lateral do ramo ou sarmento junto aos nós do mesmo. A poda consiste em cortar os sarmentos para limitar o número de gemas e não expor a planta a excessos de produção que podem levar a uma baixa qualidade de uvas e de vinho. Uma videira só tem condições de nutrir e maturar de forma eficaz uma determinada quantidade de frutos. A poda também proporciona uma forma determinada da planta que permite a execução dos trabalhos de cultivo. A poda é feita durante o período de repouso da videira, isto é, desde a queda das folhas até pouco antes do início da brotação. Os sarmentos que são retirados durante a poda, menos de um sexto do total, só servem para o fogo. A lenha ou madeira dos mesmos é fina e frágil demais para servir como madeira de mobília ou construção. A VIDEIRA: Eu sou a videira, a verdadeira, e meu Pai é o agricultor (1). Ego sum vitis vera et Pater meus agricola est. O grego distingue entre ampelos <288> [feminino] e ampelôn <290>[neutro]. O primeiro significa videira o segundo vinha. Ambos os vocábulos têm significados muito arraigados no simbolismo bíblico. A viticultura era uma das formas mais antigas da agricultura e em Gn 9, 20-21 lemos como Noé, lavrador, passou a plantar uma vinha. Bebendo do vinho embriagou-se e se expôs nu na sua tenda. O tema da videira e do vinho são símbolos de fertilidade e bem-estar. Religiosamente, Israel é a vinha e Jahvé o vinhateiro. VINHA: é um conjunto de videiras, arbusto que produz as uvas de onde se extrai o vinho. O profeta Isaías em 5, 1-7 declara Israel como vinha [kerem<03754>] do Senhor mas em grande parte estéril e sem frutos. Trazida do Egito (Sl 8, 9) foi plantada e cuidada com esmero, de modo a poder perguntar aos homens de Judá: Podia eu fazer pela minha vinha mais do que eu fiz? Em Jeremias 12, 10 lemos: Muitos pastores destruíram a minha vinha e pisaram o meu quinhão, a porção que era o meu prazer, tornaram-na em deserto. Esta alegoria da vinha foi tomada em parte por Jesus na parábola dos vinhateiros ou arrendatários homicidas (Mt 21, 33-45). A vinha é, pois, no NT uma figura do Reino a ser instaurado por Jesus que encontrou rejeição por parte dos líderes religiosos judeus. VIDEIRA: Sabemos que vide, ou melhor, videira é o arbusto constituído por uma cepa ou tronco, do qual partem os sarmentos, também chamados de vides ou bacelos, embora a palavra vide possa substituir o vocábulo videira. No AT em hebraico a palavra é gephen <0162> traduzida ao grego por ampelos. A videira era o símbolo de uma árvore nobre como lemos em Jz 9, 13, em que a videira não quer se balançar por sobre as árvores abandonando seu vinho que alegra deuses e homens. Em Oseias 10, 1 lemos: Israel é vide luxuriante que dá o fruto. Vemos também como a vide pode ser uma parreira, como por exemplo, em Miqueias 4, 4: Assentar-se-á cada um debaixo de sua videira e debaixo de sua figueira. E em 2 Rs 4, 39 onde se fala de uma trepadeira silvestre que tem no hebraico a mesma raiz e o número de Strong 0162. Com o vocábulo soreq <0832> temos a parreira. Esta palavra aparece só 3 vezes e é traduzida como vide ou videira mais excelente. O salmo 128, 3 compara a esposa dentro da casa, a uma videira, ou como diz Ezequiel em 19, 12 à mãe que é uma fecunda videira, e os filhos como frutos de seus ramos. No NT em João vemos claramente que a videira é tomada por Jesus como termo de uma alegoria em que ele, o Pai e os discípulos são implicados diretamente. VERDADEIRA: alêthinê [<228>=vera], aparece 9 vezes em João e uma só nos sinóticos. Distingue-se de alêthês este como subjetivo que diz a verdade, cujo contrário seria mentiroso; e alêthinês tendo o sentido de ser real, genuíno, para distingui-lo de falso ou adulterado. Quando Jesus fala, pois, de que ele é a videira, a autêntica, quer significar que toda outra é falsa e ele é a única videira que Deus cultivava agora como agricultor, oposta a todos os que se diziam videira de Jahvé como sendo os representantes do povo escolhido de Israel, a quem Deus tinha se dirigido por meio dos profetas do AT. A falsa vide seria representada pela sinagoga? Pois João escreveu o evangelho, entre outros motivos, como uma apologia contra a sinagoga. Um dos mais notáveis adornos do templo era a grande parreira de ouro com cachos do tamanho de um homem; e entre as moedas da primeira guerra contra Roma [66-70] aparece a imagem de uma videira e seus sarmentos. E após a queda de Jerusalém os fariseus dirigidos por Rabi Johanan bem Zakkai foram conhecidos como a vinha. A expressão vide autêntica aparece na Setenta em Jr 2, 21: Eu te plantei como uma vinha fértil, inteiramente genuína; como é que te converteste numa vide silvestre e te tornaste amarga? A PODA: Todo sarmento em mim não produzindo fruto, tira ele, e todo produzindo fruto limpa ele, para que produza maior fruto (2). Omnem palmitem in me non ferentem fructum tollet eum et omnem qui fert fructum purgabit eum ut fructum plus adferat. OS SARMENTOS são parte do produto da videira que devem terminar em frutos, como são os cachos de uvas dos quais o vinho é extraído (Ez 17, 8). Mas se não produzem renovos ou gavinhas e não existem frutos, os sarmentos só servem para o fogo (Ez 15, 6) já que para este mister são os sarmentos melhores que qualquer outra lenha da floresta. Já na alegoria joanina, os sarmentos são os discípulos que devem dar fruto como acontece na videira real. Em certas culturas a lenha dos sarmentos é usada para determinados churrascos em que o fumo é indesejável. A segunda parte do hemistíquio é para afirmar que também os galhos que produzem fruto devem ser limpos; pois esta é a tradução melhor do verbo Kathairô de onde provém a palavra kátaro limpo ou puro. A vulgata traduz purgabit do verbo purgo que traduz realmente o grego, pois significa purgar, purificar, limpar. Realmente no início da primavera as cepas praticamente estão nuas com alguns galhos que só têm umas poucas gemas entre os nós. Esta poda é a primeira. Logo temos outra poda quando já aparecem folhas e o agricultor poda os brotos menores e deixa unicamente os sarmentos que prometem maior fruto. Que tipo de fruto espera Jesus de seus discípulos? Alguns falam de boas obras. Com mais razão, outros falam da participação da vida divina de Jesus (17, 2) e, num plano secundário, da comunicação dessa vida aos demais. Ou seja, para mostrar Jesus como missão, devemos primeiro ter esse Jesus dentro do coração. S Agostinho capta este dualismo afirmando: Aut vitis aut ignis [ou vide, ou fogo]. UM PARÊNTESE: Já vós estais limpos pela palavra que vos tenho falado (3). Iam vos mundi estis propter sermonem quem locutus sum vobis. Jesus se dirige aos apóstolos presentes aos quais assegura que não serão cortados e nem podados ou limpos, pois já estão purificados por terem escutado a palavra de Jesus. Evidentemente esta escuta é uma escuta obediente e fiel. Contrariamente ao podemos pensar, que a poda se dá por meio do sofrimento ou do sacrifício, a limpeza é segundo este parágrafo labor da palavra que ilumina as trevas e fortalece a moral como vemos no salmo 118, 16: Eu me delicio com teus estatutos e não me esqueço da tua palavra. Jesus mesmo dirá: Os asseguro que quem escuta minhas palavras e crê em quem me enviou tem a vida eterna e não será condenado, senão que passou da morte para a vida (Jo 5, 24). Consagra-os na verdade: tua palavra é a verdade (Jo 17, 17). Os asseguro que quem guarda minha palavra nunca morrerá (Jo 8, 15). A palavra que vos tenho dado é que ele era o enviado do Pai e os apóstolos criam certamente nesse evangelho anunciado por Jesus. Eles responderam a esse convite de arrependei-vos e crede no evangelho (Mc 1, 15) deixando suas redes para se tornarem pescadores de homens (Mc 1, 16-17). Para João como para Paulo a fé implicava uma conduta consequente com os princípios em que se acreditava. Pelo que diz respeito à limpeza, Jesus disse aos doze: quem tomou banho não necessita lavar-se além dos pés, pois está completamente limpo; e vós estais limpos, mas não todos (Jo 13, 10). Referia-se ao traidor, Judas, que por umas moedas, vendeu seu Mestre. PERMANECER: Permanecei em mim e eu em vós assim como o sarmento não poderia produzir fruto por si mesmo, se não permanecesse na vide, assim nem vós se não permanecêsseis em mim (4). Manete in me et ego in vobis sicut palmes non potest ferre fructum a semetipso nisi manserit in vite sic nec vos nisi in me manseritis. O verbo usado [menô <3306>] tem o sentido de estar firme, não ser abalado; a palavra grega MENÔ significa permanecer firme, ficar fixo; no caso de hoje, podemos traduzi-lo por permanecer unido. Em Jo 6, 27 Jesus distingue entre o alimento natural, perecível e o alimento que o Filho do Homem dará, que permanece para a vida eterna; porque como diz na continuação, quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu nele (6, 56). O verbo aparece neste pequeno trecho 8 vezes, indicando, pois, a importância da ação do mesmo. Uma outra pergunta é que tipo de fruto? Temos explicado em parte em que consistem as obras. Podemos ouvir Tiago declamando: Eu te mostrarei a fé pelas minhas obras (Tg 2, 18). Pedir a João e aos apóstolos, que têm presente em suas vidas continuamente a imagem de Jesus, uma distinção entre fé e obras é como pedir a uma mãe que distinga entre seu amor aos filhos e sua conduta como mãe. A fé era tremendamente viva e, portanto, não necessitava de limites positivos, mas apenas de limites negativos para não extravasar a dedicação ao Reino, descurando outras necessidades. Como o discurso teve como ouvintes discípulos que seriam arautos do evangelho, podemos argumentar que os apóstolos teriam que passar por uma poda necessária ou limpeza de propósitos e intenções antes que seu fruto fosse o esperado. A permanência em Jesus implica que antes de ouvir uma outra voz, quer seja interna quer externa, a voz de Jesus deve ter toda preferência. Caso contrário, os frutos serão como o joio que cresce entre a boa semente, mas que deve ser finalmente retirado na hora da ceifa. Ninguém pode colocar outro fundamento que é Jesus Cristo – dirá Paulo (1 Cor 3, 11). A permanência junto a Jesus implica viver de acordo com sua revelação [sua palavra do vers 7] e em obediência aos seus mandatos (vers 10). PERMANECER POSITIVO: Eu sou a vide, vós os sarmentos; quem estando unido a mim e eu nele, esse produz muito fruto, porque fora de mim nada podeis fazer (5). Ego sum vitis vos palmites qui manet in me et ego in eo hic fert fructum multum quia sine me nihil potestis facere. Este versículo é uma repetição do número 4, mas em positivo: Se naquele se afirma que não pode produzir fruto quem não está unido à vide, neste se declara que quem está unido produz fruto. Por isso encontramos, como conclusão, que fora de Jesus é impossível fazer qualquer coisa. É o argumento usado em termos matemáticos para raciocínios do tipo necessário e suficiente. NÃO PERMANECER: Se alguém não permanecesse em mim, seria lançado fora como o sarmento e murcharia e os reúnem e os lançam no fogo e é queimado (6). Si quis in me non manserit mittetur foras sicut palmes et aruit et colligent eos et in ignem mittunt et ardent. Temos traduzido os textos seguindo os tempos dos verbos optando pelo subjuntivo de pretérito para o aoristo. Finalmente quem é queimado é o sujeito singular do primeiro verbo: aquele que não permanece em mim. O latim, neste último caso, optou pelo plural: ardent. Porém o sentido não varia a não ser que queiramos apurar o mishal como uma alegoria perfeita. Nesse caso os que em um tempo eram apóstolos, ao serem quebrados do tronco ou cepa, serão considerados exatamente como aqueles sarmentos que no início foram podados e terão o mesmo fim: o fogo. O PRÊMIO AOS FIÉIS: Se permanecêsseis em mim e as minhas palavras permanecessem em vós, o que quereis, pedireis, e será feito em vós (7). Si manseritis in me et verba mea in vobis manserint quodcumque volueritis petetis et fiet vobis. Na primeira parte encontramos uma explicação de como ou em que consiste o permanecer em Jesus. É a palavra que dirige a vida e a existência dos discípulos a quem foi dirigido o discurso primariamente. Essa palavra é a revelação de que Jesus é o Filho de Deus e é a obediência a quem está no nome desse mesmo Deus. É um eco das palavras de Jesus quando afirma: Sois meus amigos se praticais o que eu vos mando (Jo 15, 14). Na segunda parte podemos nos perguntar: É uma promessa tremenda. Há algum limite nas petições ou na matéria das mesmas? A glória de Deus como veremos no seguinte versículo. A GLÓRIA DE DEUS: Nisto foi glorificado meu Pai: de modo que produzais muito fruto e vos tornareis meus discípulos (8). In hoc clarificatus est Pater meus ut fructum plurimum adferatis et efficiamini mei discipuli. O evangelista mistura os tempos verbais e o sentido da frase é um pouco diferente das traduções incluindo a latina. A glória do Pai está unida à do Filho de modo que todo aquele que se assemelha ao Filho tornando-se discípulo dá glória ao Pai. O versículo 9 dá uma outra razão para permanecer com Cristo: o amor. CONSIDERAÇÕES: Todos os que aceitam Jesus, a ele estão unidos (permanecem) e, portanto, poderiam dar frutos dignos e válidos. Mas essa união não é unicamente dada pela FÉ, já que existem galhos que não dão fruto e são cortados (2). Podemos estar unidos a Jesus pela PALAVRA (7). Mas vemos que aqui se trata de uma união mais forte; pois a palavra não é só ouvida porque deve permanecer no ouvinte como razão de vida e de conduta. Uma outra maneira mais íntima de união é o AMOR. Permanecei no meu amor (9) que nasce do próprio Jesus e enche o coração do discípulo. Me amas? Perguntará Jesus a Pedro (Jo 21, 16). Este amor é manifestado de maneira absoluta na união oferecida com o corpo e sangue de Jesus no que chamamos EUCARISTIA, porque aquele que come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu nele (Jo 6, 56). Porém o amor se traduz de imediato no CUMPRIMENTO DO MANDATO (10). É através do cumprimento dos mandamentos que o Filho demonstra estar em permanência com o Pai. E é também por meio do cumprimento dos mandatos de Jesus, especialmente o mandato novo e testamento de se amar como ele nos amou, que permaneceremos unidos a Jesus e daremos fruto em abundância Esta última parte é a essencial de toda união com Jesus: estamos unidos porque guardamos seus mandamentos; e isso produz o fruto desejado que glorifica o Pai e nos torna verdadeiros discípulos de Cristo (8). UMA ÚLTIMA CONSIDERAÇÃO: A teologia católica, fundada sem dúvida nas palavras de Paulo sobre o corpo de Cristo, descobre nessa união talho-ramos a doutrina do corpo místico de Cristo, pela qual estamos chamados a viver como outros cristos a nossa vida na terra, tendo como base de nossos frutos a poda [=sofrimento, ou sacrifício; um involuntário, outro espontâneo]. S. Pedro Crisólogo admiravelmente traduz este pensamento afirmando, ao comentar as palavras de Paulo, eu vos exorto a vos oferecerdes em sacrifício vivo (Rm 12, 11): O apóstolo ergueu todos os seres humanos à dignidade sacerdotal. Ó inaudito mistério do sacerdócio cristão em que o ser humano é para si mesmo vítima e sacerdote! O ser humano não precisa ir buscar fora de si a vítima que deve oferecer a Deus: traz consigo e em si o que irá sacrificar a Deus. Permanecem intactos tanto a vítima como o sacerdote; a vítima é imolada, mas continua viva, e o sacerdote que oferece o sacrifício não pode matar a vítima. Nesta linha, vítima/sacerdote, o sacrifício mais importante é o da própria vontade, ou como diz sobre o sacrifício de Cristo, a epístola aos hebreus, saber oferecer-se dizendo: “Eis- me aqui; eu vim, ó Deus, para fazer a vossa vontade” (Hb 10, 7). PISTAS: 1) Se no Antigo Testamento a destruição da vinha era o melhor símbolo para expressar as calamidades de caráter nacional (Sl 80 e Ez 19), o NT usa a videira para ensinar a união entre os homens e a divindade, especialmente entre os discípulos e Jesus. Todos têm uma mesma seiva. Com a diferença de que Jesus é a cepa, o tronco, de onde a vida brota e se reparte. 2) Os camponeses que conhecem bem a planta sabem que é necessário tanto cortar os sarmentos velhos, improdutivos, como podar os novos. E que este trabalho só pode ser realizado pelo agricultor. Neste caso, o Pai. A limpeza foi em parte obra de Jesus com sua palavra, que não foi bem entendida. O Pai preparou os ouvintes, mas a Palavra feita carne é a que deu vida a essa seiva que os crentes dele, de Jesus, recebem. 3) Permanecer é a palavra chave do discurso: permanecer na palavra, interpretada como sendo base da fé. Finalmente permanecer no amor. Nessa permanência está a base para que os frutos dos discípulos sejam suficientes para glorificar o próprio Deus, assim como seu Cristo O glorificou. Não as grandes obras, mas as obras de qualquer tamanho que demonstrem o amor. EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA - A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova. - Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana. Interpretação errada do evangelho: - Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus. Consequências: - O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
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