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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 04/12/2016 - 2º Domingo do Advento - ANO A
. Evangelho de 27/11/2016 - 1º Domingo do Advento - ANO A


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

O PESO DE NOSSA CRUZ!
Clique para ver uma apresentação especial!

04.12.2016
2º DOMINGO DO ADVENTO — ANO A
( ROXO, CREIO, PREFÁCIO DO ADVENTO I – II SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Reino de Deus: palavra-chave do Evangelho" __

(Acender a segunda das quatro velas da coroa do Advento)

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Fala-se muito em mudança de estrutura na sociedade civil e no corpo da Igreja. Mas as estruturas não mudam se não mudar o coração humano. A mudança do coração do homem chama-se conversão. Ela é parte essencial do cristianismo. Ela é pressuposição para as mudanças socipolíticas. Já a Conferência de Medelín lembrava: “A grande originalidade da mensagem cristã não está na afirmação de uma mudança de estruturas, mas na insistência da conversão do homem, conversão que vai exigir, depois, a mudança”. Peçamos, pois, a graça de viver sinceramente a nossa fé em todos os momentos de nossa vida.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, Cristo Senhor, que vem ao nosso encontro neste santo tempo do Advento, é nosso Salvador e nós queremos experimentá-lo nesta Santa Ceia, memorial da entrega que Ele fez de sua vida por nós. Em Jesus, o sonho lindo de Deus é revelado: Ele nos quer ver salvos e na paz! Que esta Eucaristia sustente nossa esperança e não nos deixe desanimar na espera da chegada de nosso Redentor.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER:Deus vem, portador de salvação para todos. A mensagem que acompanha sua vinda fala de paz e reconciliação. Isaías (1ª leitura) a simboliza apresentando o que se passa entre inimigos "naturais" que luta pela sobrevivência; é real e simbólica ao mesmo tempo a mensagem apresentada pelo Apóstolo (2ª leitura) entre inimigos "culturais", que se opõem por diversidade de religião. A reconciliação, que se faz na comunidade cristã, entre os que provêm do judaísmo e os do paganismo, está sempre sujeita à precariedade, ao equilíbrio instável; existe no presente e se entrega à esperança quanto ao futuro. É todavia o sinal de um mundo reconciliado em Cristo, onde não se levam em conta os privilégios de raça ("somos filhos de Abraão": evangelho) e tudo o que separa; só o que une é levado em conta: a fé no único Senhor e Salvador.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Is 11,1-10): - "Ele não julgará pelas aparências que vê nem decidirá somente por ouvir dizer"

SALMO RESPONSORIAL 71(72): - "Eis que vem o Senhor Soberano, tendo em suas mãos poder e glória!"

SEGUNDA LEITURA (Rm 15,4-9): - "O Deus que dá constância e conforto vos dê a graça da harmonia e concórdia"

EVANGELHO (Mt 3,1-12): - "Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo"



Homilia do Diácono José da Cruz – 2º DOMINGO DO ADVENTO – ANO A

ENDIREITAI AS ESTRADAS!

Uma das brincadeiras prediletas na minha infância, vivida na Vila Albertina, era correr pelas laterais, acompanhando a “Plaina”, nome que dávamos à máquina de terraplanagem, que por aqueles tempos, em que as ruas Albertina Nascimento e Tarcísio Nascimento não eram asfaltadas. Causava-nos admiração quando a “Plaina” apontava na Rua do Comércio, entrando pela Vila para aplainar a rua, acabando com os buracos e desníveis, deixando-a alinhada.

Nós meninos, ficávamos estupefatos em ver como aquela lâmina poderosa derrubava facilmente as saliências, e preenchia os buracos, ao mesmo tempo em que aplainava deixando a rua bem mais acessível e transitável para os pedestres, charretes, carroças, e um ou outro carro ou lambretas, que passavam por ali. Pois esta é a palavra de ordem que João Batista, o mensageiro do Senhor grita no deserto, e que o profeta Isaias havia predito “Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as estradas, aplainai os morros e nivelai os buracos!”.

O coração humano muitas vezes é uma estrada de chão batido, toda esburacada, cheia de valetas, tortuosa e completamente inacessível! Como é que a graça de Deus vai entrar na vida de alguém com coração assim? É muito difícil! Assim estava a humanidade antes de Jesus trazer a Salvação. Não dava para o homem chegar a Deus e muito menos ele chegar e entrar na vida do homem, por causa da “buraqueira” e saliências do orgulho, da vaidade do pecado.

Jesus vem do Pai, com a força mil vezes maior do que a máquina de terraplanagem, com a sua lâmina afiada e poderosa da graça de Deus, para derrubar por terra o monte do mal e do egoísmo, para aterrar o abismo do ódio, da inimizade e das divisões existentes em nossa vida. O Batismo de João é apenas uma preparação para receber o novo e verdadeiro Batismo, que Jesus trouxe, no fogo do Espírito Santo. Se quisermos recorrer novamente à imagem da rua esburacada, poderíamos dizer que o Batismo pelo fogo é como o asfalto, que muda definitivamente o visual da rua, que nunca mais ficará esburacada e desalinhada (se o asfalto for de primeira).

O anúncio feito pelo Batista, de que o Reino estava chegando com Jesus, era como os meninos que avistavam primeiro e alvoroçados gritavam aos demais “A plaina está chegando!”, provocando em todos uma grande euforia, expectativa e alegria em saber, que pelo resto do dia a veríamos trabalhar, nivelando os barrancos e empurrando grandes porções de terra com sua força descomunal.  Assim, em cada advento, o Senhor nos revela que a força de sua graça poderá destruir tantos abismos e buracos na relação entre as pessoas, nos grupos sociais, nas comunidades cristãs e até entre as Nações.

Mas assim como aquele serviço de melhoria da rua era solicitado por alguma autoridade do Distrito, ao Município de Sorocaba, também é necessário que a gente tenha no coração este desejo sincero de mudar de vida e converter, permitindo que o Salvador venha para nos renovar e libertar, pois sem a nossa adesão à obra da salvação, o nosso coração continuará triste, como uma rua deserta e esburacada, onde Deus não pode entrar.

A pregação de João Batista, anunciando que o Senhor viria, é um convite e um alerta, para que abramos o nosso coração a Deus, tornando acessível à salvação e a graça que Jesus nos oferece. E quando Deus tem acesso à nossa vida, e nós temos acesso ao coração do Pai, através de seu Filho Jesus, tornamo-nos outras pessoas, pois passamos a viver de um jeito diferente. A rua alinhada e nivelada não só ganhava um visual novo, mas as pessoas podiam andar com mais segurança, sem ter de desviar dos buracos ou medo de virar o pé. Assim é que esta conversão a que somos chamados, neste tempo litúrgico do advento, não pode ser só de fachada.

João vivia no deserto, lugar de reflexão e experiência de Deus, lugar e tempo de tomar decisões importantes, como aquele povo conduzido por Moisés tomou, na travessia do deserto, onde conheceu a Deus e fez com Ele uma aliança. Foi também no deserto que Jesus, após o batismo, superou as tentações e ratificou a missão que o Pai havia lhe confiado. É no deserto que no Evangelho deste domingo aparece João, vestindo e se alimentando de um jeito diferente, anunciando este tempo novo, onde os corações aplainados e retos irão se inundar da copiosa graça redentora, oferecida por Jesus de Nazaré.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.co
m


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 2º DOMINGO DO ADVENTO – ANO A

Trigo ao celeiro, palha ao fogo!

A primeira parte do Tempo Advento nos insere na dinâmica da espera da segunda vinda de Cristo, da Parusia. Jesus há de vir pela segunda vez! Ele “tem na mão a pá, limpará sua eira e recolherá o trigo ao celeiro. As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível” (Mt 3,12). Essas palavras em lugar de infundir medo, são portadoras de esperança. Por outro lado, se na consumação do fim dos tempos todos fossem tratados por igual, não se manifestaria a justiça de Deus nem a importância que tem a liberdade humana. Não podemos dizer que o trigo é a mesma coisa que a palha, pois isso iria contra a verdade. O mesmo se diga da diferença entre uma pessoa que procura comportar-se de tal maneira a ser trigo para Deus de outra cuja vida está cheia de palha.

Mas, como foi dito, tudo isso é motivo de esperança: podemos ser trigo de Deus! Ainda que tenhamos errado muito na vida, enquanto vivermos o caminho encontra-se aberto rumo à santidade. Não sei de quem é o ditado, mas sei que é certo: “por um burro dar um coice não se lhe corta logo a perna”.  Por mais coices dados na vida sempre podemos utilizar as pernas para andar rumo a Deus. Quando? Agora!

Juntamente com o arroz e o milho, o trigo foi um dos alimentos mais consumidos pela humanidade. Com ele se podem fazer tantas coisas! Ser trigo para Deus significa deixar-se trabalhar para alimentar os outros, para servir para muitas coisas. De fato, triticum (trigo, em latim) significa também a atividade de triturar esse cereal para separar o grão da palhinha que o recobre.

Para sermos bons instrumentos nas mãos de Deus é preciso abandonar-nos em suas mãos. Confiemos nesse bom agricultor, ainda que às vezes tenhamos a sensação de que nos está triturando e de que sofremos muito: essa atividade é necessária para que a nossa humanidade apareça como Deus sempre a quis, transluzente da sua graça, que é antecipação da glória de Deus em nós. Somos transformados para transformar, temos que alimentar os outros. A nossa vida deve ser um reflexo dessa referência obrigatória a Deus e aos demais.

Deus nos faça bom trigo! Que a nossa vida sirva para o sacrifício da Missa e para o alimento dos irmãos. Nós que somos pão de Deus na preparação dos dons de cada celebração eucarística, temos que matar a fome dos nossos semelhantes, e em primeiro lugar a fome de Deus que eles sentem. Recentemente, na viagem que o Papa Bento XVI fez à Espanha, na homilia pronunciada na Praça do Obradoiro em Santiago de Compostela, nos recordava que os apóstolos “deram testemunha da vida, morte e ressurreição de Cristo Jesus, a quem conheceram enquanto pregava e realizava milagres. Nós também, queridos irmãos, temos que seguir o exemplo dos apóstolos, conhecendo ao Senhor cada dia mais e dando um testemunho claro e valente do seu Evangelho. Não há tesouro maior a oferecer aos nossos contemporâneos”. O Evangelho, a Boa Nova, isto é, Jesus, é o maior tesouro que podemos oferecer aos outros. Aqui está um dos pontos que mostram a especificidade do cristianismo: oferecer a vida que está em Cristo a todos. Outras coisas, outras pessoas poderão oferecer.

É preciso que mantenhamos sempre o entusiasmo da fé, a juventude da fé. O exemplo pessoal do Santo Padre deveria ser um ponto de partida para nós. Ele já tem 83 anos, a sua juventude foi marcada pelo horror do nazismo e da segunda guerra mundial, teve que estudar em situações difíceis, combater tantos erros e… sorrir oferecendo o próprio testemunho em meio a situações verdadeiramente complicadas. Depois da morte do queridíssimo João Paulo II, Ratzinger pensava retirar-se e dedicar-se ao estudo repousado da teologia. Deus não quis que fosse assim e chamou-o a ser o sucessor de Pedro. Com 83 anos, carrega erguido o peso da Igreja com um sorriso nos lábios, cativando com a sua presença discreta, com essa espécie de timidez que o faz tão simpático e tão próximo a cada um de nós. Ele é trigo de Deus!

São Josemaría Escrivá gostava de dizer que temos de ser tão úteis ao serviço de Deus que terminemos espremidos como um limão e muito felizes na nossa entrega. E depois? Depois… daremos um abraço ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 2º DOMINGO DO ADVENTO – ANO A
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (Rm 15, 4-9)

ESCRITURAS: Quantas coisas, pois, foram antes escritas, para nossa instrução foram escritas a fim de que por meio da perseverança e pela consolação das Escrituras tenhamos a esperança (4). Quaecumque enim scripta sunt ad nostram doctrinam scripta sunt ut per patientiam et consolationem scripturarum spem habeamus. Estamos na parte final da carta de S. Paulo aos romanos. E neste versículo ele recomenda as ESCRITURAS [grafai <1124> =scripturae] era em singular um escrito e em particular os Escritos sagrados do AT como em Mt 21, 42: perguntou-lhes Jesus: nunca lestes nas Escrituras [en tais grafais]. Paulo apela aos escritos do AT em 1 Cor 15, 3: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras [kata tas grafas] e assim sem adicionar nenhum adjetivo, elas são os escritos que os judeus veneravam como Torah, Neviim e Ketuvim [Tanak] ou seja Lei, profetas e Escritos que também recebiam o nome de Mikra [o que é lido]. Paulo apela frequentemente a esses escritos que, como diz Pedro, são superiores a nossa própria experiência para conhecer a verdade por serem palavra profética [logos profetikos] (2 Pd 1, 16-19). E essas palavras foram escritas com anelação e tinham como objetivo a INSTRUÇÃO [didaskalia<1319>=doctrina] magistério, educação, instrução, ensino, doutrina e preceitos. O fim dessa doutrina ensinada pela palavra de Deus é a PERSEVERANÇA <ypomonë<5281>=patientia] é o estado de ânimo que suporta contradição e sofrimento que geralmente é traduzido por paciência, mas que pode ser firmeza ou constância; no NT sai 32 vezes. Unicamente em Lucas, dentre todos os evangelistas, 2 vezes: quando fala de que os que têm bom e reto coração frutificam com perseverança [en ypomonë] (8, 15) e a outra é na vossa perseverança [ypomonë] que ganhareis a vossa alma (21, 19). Logo aparece 17 vezes nas cartas de Paulo. Paulo chama a Deus o da paciência e consolação (Rm 15, 5) repetindo a frase do versículo anterior em que a paciência que temos traduzido como perseverança, mais parece ser uma qualidade do homem que um atributo de Deus. Já a CONSOLAÇÃO [paraklësis<3874>=consolatio] é uma citação, um chamado para ajudar, súplicas, pedido, solicitação, exortação, admonição, e com um segundo significado de consolação, conforto, conciliação. Na maioria dos casos é consolação, com exortação e conforto por esta ordem e em número cada vez muito menor como é traduzido o termo paraklësis. O próprio Messias era esperado como consolação de Israel, segundo vemos em Lc 2, 25 que narra a espera de Simeão e o segundo Consolador [o Espírito Santo] é chamado Paraklëtos [=consolador] e é com esta palavra que é traduzido às línguas vernáculas. Essa consolação tem como fim a esperança. Dificuldades, humilhações  e sofrimentos se têm um fim esperançoso e feliz, como diz a escritura, são recebidos com resignação e até com paciente alegria.

UM MESMO SENTIR: Portanto o Deus da perseverança e da consolação vos conceda sentir o mesmo de uns para outros segundo Jesus Cristo (5). Deus autem patientiae et solacii det vobis id ipsum sapere in alterutrum secundum Iesum Christum, E Paulo fala dessa perseverança e consolação como sendo raiz das mesmas e por meio delas a causa de conceder um mesmo SENTIR [fronein<5426>=sapere] do verbo froneö ser compreensivo, sensível, sensato, sabido, inteligente, juizoso, ter simpatia, discernimento. Também, neste caso, coincidir num mesmo sentir ou pensamento. É o que temos nos Atos que narra como perseveravam unânimes em oração (At 1, 14) e tinham um só coração e uma só alma e todas as coisas eram comuns (At 4, 32). Segundo os ensinamentos de Cristo Jesus, pois o seu rogo ao Pai é que os discípulos fossem um assim como Ele e o Pai eram um (Jo 17, 11). Porque – dirá Jesus- as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso  sou glorificado (Jo 17, 10).

A CONFISSÃO: Para que unanimemente com uma única boca glorifiqueis o Deus e Pai do Nosso senhor Jesus Cristo (6). Ut unianimes uno ore honorificetis Deum et Patrem Domini nostri Iesu Christi.UNANIMEMENTE [omothymadon <3661>= unianimes] é um advérbio, cujo significado é com uma só mente, de acordo, com um só sentimento. Imagem própria do mundo musical quando notas diferentes se harmonizam em tom e timbre. Omos é igual e thymos é sentimento. BOCA [stoma<4750>=os] se confessares com tua boca: Jesus como Senhor e creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos –dirá Paulo- serás salvo. Não esqueçamos que Paulo tem uma tradição judaica muito marcada e que nesse acervo atávico os judeus oravam com todo o corpo e em voz alta, como vemos hoje no muro das lamentações. O mandato de amar Jahveh com todo teu coração, de toda tua alma e com todo teu poder (Dt 6, 5) obrigava a manifestar semelhante sentimento com toda a expressão corporal possível. E dentro desse amor estava o dever de dar glória a Deus, como vemos no quarto mandamento em que o amor aos pais se torna honra aos mesmos (Êx 20, 12) e no mandato primeiro: não te inclinarás às imagens dos ídolos nem as honrarás (Êx 20,5). E logicamente a honra ormas dada com a palavra ou boca é o homologëö [confessar] que também como o centurião no Gólgota é doxazö, pois deu glória a Deus dizendo: Verdadeiramente este homem era justo (Lc 23, 47). De tal modo que a glorificação mais importante que o homem pode dar a Deus é a manifestação tanto pessoal como comunitária da fé no mesmo.

ACOLHIMENTO: Portanto, acolhei-vos mutuamente como também o Cristo vos acolheu para a glória de Deus (7). Propter quod suscipite invicem sicut et Christus suscepit vos in honorem Dei. Dessa mútua concórdia, Paulo extrai uma outra consequência: o mútuo ACOLHIMENTO que em grego é verbo [proslambanö<4355>=suscipere] é receber na casa como hóspede como fizeram os malteses com Paulo e seus companheiros (At 28, 2) ou ter um acolhimento como amigo ao fraco e necessitado, como em Rm 14,1: acolhei o que é débil na fé. É assim que Cristo recebeu como amigos os rudes galileus que se tornaram discípulos: Já não vos chamo servos…. mas amigos (Jo 15, 15). MUTUAMENTE <allëlous<240>=invicem] literalmente uns aos outros. Paulo segue as normas de Jesus que disse: Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros [allëlois]. Como diz o Papa atual, o amor tem como distintivos a entrega [de quem ama] a acolhida [do amado] e a comunhão [entre os dois] (de Charitas in veritate). E no fim, tudo deve ser feito para a glória de Deus (1 Cor 10, 31).

CRISTO MINISTRO: Digo, pois, que Jesus Cristo tornou-se servidor da circuncisão por causa da fidelidade de Deus para confirmar as promissões dos pais (8). Dico enim Christum Iesum ministrum fuisse circumcisionis propter veritatem Dei ad confirmandas promissiones patrum. SERVIDOR [diakonos <1249> =ministrum] a palavra diakonos indica um servente à mesa, em que o ofício é um acidente e a pessoa não é totalmente escrava do doulos. As traduções preferem ministro como Paulo se considerava que era do evangelho, a cujo anúncio e propagação foi dedicado por vida (Cl 1, 23). Que significa da circuncisão? Pois que Jesus como Cristo só evangelizou os judeus como ele mesmo disse: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15, 24), povo que constituía a circuncisão. Pela razão da FIDELIDADE [alëtheia <225> =veritatem] Embora alëtheia tenha o significado de verdade, também pode ser traduzida por fidelidade como no caso de quem a si mesmo se chamava fiel [aman<0539>=pistos= fidelis], pois guardava o pacto e a misericórdia para os que lhe amam e guardam seus mandatos até as mil gerações (Dt 7, 9). Essa fidelidade que é cantada por Maria: Amparou a Israel seu servo, porque se lembrou de sua misericórdia….como prometera aos nossos pais (Lc 1, 54-55). Realmente a unidade das Escrituras é memorável, embora os autores humanos sejam tão diferentes.

DEUS DE MISERICÓRDIA: Porém as nações por misericórdia (devem) glorificar a Deus como está escrito: por isso te confessarei entre as nações e cantarei a teu nome (9). Gentes autem super misericordiam honorare Deum sicut scriptum est propter hoc confitebor tibi in gentibus et nomini tuo cantabo. AS NAÇÕES [ethnë<1484>=gentes] a palavra ethnos indica multidão, uma companhia, tropa, enxame, agrupamento de indivíduos da mesma natureza ou raça, a família humana, tribo, nação, de modo que no AT era o conjunto de nações que não adoravam o único e verdadeiro Deus,e em geral, o conjunto das nações pagãs. MIERICÓRDIA [eleos<1656>=misericórdia] o Eleos grego e o amor ao inferior necessitado que traduzimos como misericórdia. É a benevolência, bondade e benignidade em favor do necessitado e afligido como o desejo de ajudá-lo. Se por razão da promessa o Cristo se tornou ministro e servidor dos circuncisos de Israel, agora é por causa da misericórdia que glorificou Deus por meio do ministério do mesmo Senhor. Deus que é definido como eleos  e alêtheia [=hesed ue emeth] misericórdia e fidelidade (Sl 84, 11) no momento da encarnação Paulo o descreve com estas palavras: se manifestou a bondade [chrëstotës] e a misericórdia [filanthröpia] de Deus, nosso Salvador para com os homens (Tt 3, 4). E isso foi também preanunciado com o salmo 18, 49: eu te glorificarei entre os gentios e cantarei louvores ao teu nome, indicando a conversão ao monoteísmo dos povos antes politeístas e idólatras.

EVANGELHO (Mt 3, 1-12)
TESTEMUNHO DO BATISTA

INTRODUÇÃO: No evangelho de hoje, aparece a figura chave do Advento: João, o Batista. Ele representa o anúncio de Cristo que vem, e ao mesmo tempo a severidade de vida, própria dum tempo de austeridade, como era antigamente o Advento. Sua pregação era a metânoia <3341>, a mudança de atitude, tanto no pensamento como na conduta exterior, para um retorno a Deus, de modo que Este encontre seu caminho livre, frente a uma vontade humana que se submete aos seus planos, como um servo aceita a vontade de seu senhor. Hoje, que conhecemos como essa conversão tem como finalidade a transformação do homem em filho de Deus, as palavras de João, destas pedras Deus pode suscitar filhos de Abraão, são proféticas num sentido estrito. Para um judeu da época, a razão de sua eleição por Javé era ser filho de Abraão. Para um cristão, a eleição transformava sua vida inteiramente numa vida de um filho de Deus. Esta é a verdadeira conversão. O natal de Jesus deve ser também o nosso natal. A semelhança entre o profeta João e o Jesus dos evangelhos, que também proclama a metânoia [retorno, segundo autores modernos], é que ambos exigem o batismo para esse voltar a ser de novo: o primeiro, para uma volta à fé dos pais, de modo a se tornarem verdadeiros filhos de Abraão (Lc 1, 17); e o segundo, para iniciar a filiação, como filhos de um Deus que deseja ser seu verdadeiro Pai (Mc 16, 16 e Mt 28, 19). Mas vejamos os versículos e sua interpretação. Segundo palavras de J. Paulo II, um dos significados de Perestroika [reestruturação, reforma] é precisamente o de conversão, volta de um mal caminho empreendido. Assim se compreendem melhor as palavras da Virgem em Fátima: A Rússia converter-se-á.

NO DESERTO: Ora, naqueles dias, apresenta-se João, o Batista, pregando no deserto da Judeia (1). In diebus autem illis venit Iohannes Baptista praedicans in deserto Iudaeae. NAQUELES DIAS: É uma maneira de unir um relato novo com o anteriormente narrado. Equivale, pois, a uma conjunção copulativa. Quem realmente coloca o tempo com maior aproximação é Lucas: a época do imperador reinante servia, como no Japão dos últimos tempos, para delimitar a história no tempo. Daí que sabemos que no décimo quinto ano do imperador Tibério (Lc 3, 1) foi o início destes eventos proféticos com os quais se inicia a nova época que chamamos evangélica.  JOÃO, O BATISTA: O grego traz o verbo no presente histórico: apresenta-se ou aparece. Também o latim respeita o tempo verbal. A pessoa que aparece como uma visão fantasmagórica é João, conhecido como o Batista. Era uma figura tão importante na sua época que não merecia outra apresentação a não ser o nome. É como dizer hoje Churchill ou De Gaulle. Isso indicava um evangelho escrito antes dos anos 70, quando a memória desses fatos tinha sido esquecida e era inútil a sua memória. Quem nos dias de hoje entre os judeus, se lembra de citar esse nome que aparentemente é contrário ao Talmud? Vemos como Paulo encontra discípulos de João em Éfeso (At 19, 3-4). A data de sua pregação é aproximadamente o ano 28 de nossa era, devido a que não sabemos se Lucas conta o início do ano em outubro [ano sírio] ou em janeiro [romano] e se é contado o primeiro ano de sua sucessão. Temos, à parte dos evangelhos, um relato contemporâneo de Flávio Josefo: João era um bom homem que tinha ensinado os judeus a adorar a Deus, a levar vidas honestas e a praticar a justiça com os outros. Ensinava que não devia ser usado o batismo para obter o perdão dos pecados cometidos [contra o batismo cristão], mas como forma de consagração do corpo… Começaram a se reunir grandes multidões ao redor de João, por causa de sua pregação e Herodes tinha medo de que seu grande poder de persuasão sobre os homens desse lugar a uma rebelião. Portanto, decidiu que seria melhor matá-lo antes que se iniciasse um levantamento. Foi levado encadeado, para a fortaleza de Maqueronte e foi morto nesse cárcere. Como vemos coincide, em grande parte, com os relatos evangélicos , embora a divergência maior seja sobre o batismo de João, que por não confundi-lo com os dos cristãos, claramente retira dele o que os evangelistas dizem  ser batismo para o arrependimento (Mt 3, 11) que Marcos dirá ter como fim a remissão de pecados (1, 4) [=baptisma metanoias eis afesin amartiön, batismo de arrependimento para remissão de pecados] que Lucas repete com as mesmas palavras. Já o quarto evangelista, fora de toda discussão, distingue os dois batismos: o de João era um batismo [submersão] em água e o de Jesus em Espírito Santo [=en pneumati agiö]. Se o do Batista perdoava os pecados pela disposição do batizado [a conversão, e ex opere operantis], o de Jesus era uma imersão no Espírito de Deus, que logicamente ia muito além, por ser ex opere operante e que torna o batismo de água [o de João] inferior ao de fogo  [o de Cristo] que penetra até o fundo dos seres. O que João viu em Jesus ao ser batizado [abriram-se os céus e o Espírito em forma de pomba pousou sobre Jesus, ao mesmo tempo em que a voz do Pai declarava-o como Filho muito amado] realiza-se em todo batizado em nome do Pai,  do Filho e Do espírito Santo, de forma substancial, sem serem visíveis seus efeitos a não ser em tempos apostólicos. Confirma-o o relato dos Atos  19,2-6. Outro ponto é o batismo em fogo, que tanto Mateus (3,11) como Lucas (3, 16) acrescentam como qualidade que acompanha o Espírito.

O DESERTO DA JUDEIA: A palavra eremos <2048>[ em latim desertum em inglês widelness] significa lugar despovoado ou inabitado, não o deserto de areia que todos temos em mente como o de Sahara. Seguido do determinante da Judeia parece significar a longa faixa de terra entre Jerusalém e o mar Morto de 25 Km de largura e 80 de comprimento. Mas vejamos: Judeia pode ter vários significados: 1º) a Judeia propriamente dita, governada pelo procurador romano nos tempos de Jesus adulto que se distinguia especialmente da Galileia em mãos de Antipas como em Belém da Judeia (Mt 2,1). 2º) Com uma acepção mais ampla que podia abranger todo o território da que hoje denominamos Palestina, como parece indicar Marcos que diz vinham a escutar o Batista de toda a região da Judeia e de Jerusalém. 3º) Finalmente tendo um significado mais amplo do que a Judeia própria como em Mateus 19, 1: Jesus saiu da Galileia e foi para a Judeia ao outro lado do Jordão [peran tou Iordanou] em que peran é o advérbio grego que significa ao outro lado, além de. Como vemos neste versículo, Mateus emprega a Judeia como se formasse parte de terras que hoje chamamos da Jordânia e que nunca imaginaríamos formassem parte da antiga Judeia propriamente dita. Daí que o deserto de Judeia tem que ser considerado em termos amplos, incluindo as margens do Jordão perto de Jericó e outros lugares como diz Lucas ao afirmar que percorria toda a região do Jordão (3,3) ou como afirma João que o fato se deu ao outro lado do Jordão [peran tou Iordanou] onde João batizava (1, 28).

O PREGÃO: E dizendo: Arrependei-vos! Porque se tem aproximado o Reino dos céus (2). Et dicens paenitentiam agite adpropinquavit enim regnum caelorum. ARREPENDI-VOS: É o metanoia, o tornar ao Deus de Israel que procurava corações retos, mudar de pensamento como diz o livro da sabedoria (12, 10). Como diz o anjo a seu pai, Zacarias converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus…a fim de tornar o coração dos pais aos filhos, a fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto (Lc 1, 16-17). Aparentemente, o texto está tomado de Isaías, porém é Sirac ou Eclesiástico que em 48, 10 fala do profeta Elias e diz que foi destinado a reconduzir o coração do pai ao filho e restabelecer as tribos de Jacó [epistrepsai kardian patrós prós yion kai katastrepsai fylas Iakob, ou em latim conciliare cor patris ad filium et restituere tribus Iacob. A nova Vulgata traduz convertere no lugar de conciliare]. Elias foi o restaurador da religião de Israel e nesse sentido foi também João o que realmente tentou repor no estado primitivo a decaída piedade dos israelitas no tempo de Jesus.  O REINO: Os modernos, para distingui-lo dos reinos geográficos e materiais, do tempo, falam de REINADO, ou seja, SENHORIO que implica domínio por parte de quem é considerado rei e obediência da parte de quem se torna súdito. Para diferenciá-lo dos reinos terrestres, está em Mateus o determinante dos céus, que os outros evangelistas preferem de Deus.

A PROFECIA: Este mesmo, pois, é o anunciado por Isaías o profeta dizendo: Voz gritando no ermo: esteja preparado o caminho do Senhor! Retas fazei as suas veredas (3). Hic est enim qui dictus est per Esaiam prophetam dicentem vox clamantis in deserto parate viam Domini rectas facite semitas eius. Isaías (40, 3), ou melhor, o segundo Isaías, trata no lugar citado sobre a esperança da volta dos cativos da Babilônia num conjunto que é chamado da Consolação de Israel. Há uma pequena diferença entre o hebraico e o grego da Setenta: neste último, fala na estepe ou como traduz a nova Vulgata in solitudine antes das veredas. E no lugar de suas teremos de nosso Deus na Setenta. Fora disso, o grego de Mateus e o grego da Setenta coincidem palavra por palavra. Sem dúvida que foi uma acomodação a Jesus feita por Mateus, ao eliminar nosso Deus da citação. No quarto evangelho, o evangelista põe em boca do Batista como resposta: e tu quem és? Esta citação: Eu sou a voz que grita no ermo: endireitai o caminho do senhor, como disse Isaías, o profeta (1, 23).

A DESCRIÇÃO: Ele mesmo o  João, porém, tinha o vestido dele de pelos de camelo e um cinto de couro ao redor de seus rins; mas sua comida era gafanhotos e mel silvestre (4). Ipse autem Iohannes habebat vestimentum de pilis camelorum et zonam pelliciam circa lumbos suos esca autem eius erat lucustae et mel silvestre. O BATISTA: Devemos distinguir entre a figura externa e a mensagem de João. Ele se apresentava vestido como um dos antigos profetas, especialmente Isaías (2 Rs 1, 8). A bíblia hebraica apelida a Isaías de baal sear [= maestro do pelo] que a Vulgata traduz por vir pilosus [a nova Vulgata diz: Vir in veste pilosa] ou homem de muito pelo. Ele vestia uma túnica de pele sujeita com um cinto e por cima dela um manto solto.  Esta forma de vestir foi copiada pelos outros profetas. A vestimenta externa, ou manto de João, era um tecido de pelos de camelo o mesmo com o qual se teciam as lonas das tendas dos nômades do deserto. Servia de proteção contra os raios solares e impedia a chuva como capa. E unicamente se servia de um cinto de couro para ajustar aos lombos uma túnica de pele interior. Além dessa veste extremamente rústica, havia na vida de João um outro detalhe que chamava a atenção das multidões: sua comida, que eram gafanhotos e mel silvestre. Este mel que tem em grego o sobrenome de silvestre é provavelmente a exsudação de certas árvores como o Tamarix mannifera, de gosto insípido, e abundante na região de Jericó. Tudo indicava a austeridade de João e sua independência dos homens de modo a depender unicamente de Deus. O povo assim o entendia, pois não comia nem bebia (Mt 11, 18). Seu terreno de pregação era o outro lado do Jordão (Jo 1, 28) na Pereia, terra de Herodes Antipas (Jo 10, 40), onde ele tinha seu castelo de Maqueronte que seria o cárcere do profeta.

A FAMA: Então saiam em busca dele, Jerusalém e toda a Judeia e toda a região do Jordão (5). E eram batizados no Jordão por ele, declarando seus pecados (6). Tunc exiebat ad eum Hierosolyma et omnis Iudaea et omnis regio circa Iordanen. Et baptizabantur in Iordane ab eo confitentes peccata sua. AS MULTIDÕES: O relato de Mateus parece um tanto hiperbólico, mas encontra um paralelo em Marcos: Iam até ele toda a região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém (1, 5). Lucas fala de multidões (3, 7). Logicamente, devemos concluir que o Batista atraía grandes multidões que o buscavam para ouvir suas palavras e depois serem imersos nas águas do rio Jordão. BAPTIZO: Porque o significado de Baptizo é imergir, enquanto bapto é mergulhar. De modo que baptizo é estar imerso como um pepininho em vinagre e bapto seria o mergulho de quem se banha numa piscina. Baptizo indica, pois, uma imersão permanente, uma impregnação total do líquido em que se está submerso. CONFISSÃO: Declarando [exomologomenoi <1843>= confitentes latino], professar ou reconhecer publicamente uma dívida ou um agradecimento. Aqui,  evidentemente, se trata de admitir em público os pecados [dívida é o nome de pecado em hebraico], não os declarando em espécie, como na confissão sacramental, mas em geral, com fórmulas conhecidas na época, como: reconheço que sou pecador (Lc 18, 13).

OS FARISEUS: Tendo visto, pois, muitos dos fariseus e dos saduceus vindo para seu batismo, disse-lhes: Estirpes de víboras! Quem vos fez ver (como) fugir da ira iminente? (7). Fazei portanto,frutos dignos de arrependimento (8). Videns autem multos Pharisaeorum et Sadducaeorum venientes ad baptismum suum dixit eis progenies viperarum quis demonstravit vobis fugere a futura ira. Facite ergo fructum dignum paenitentiae. FARISEUS E SADUCEUS: Segundo Lucas (3, 7-8) é a multidão o objeto das invectivas de João. Mas a versão de Mateus parece ser a original. A razão para Lucas não podia ser outra que a de que seus destinatários, sendo gentios, não entendiam nada das seitas judaicas e não era o momento de explicar as diferenças. Por isso engloba em termos gerais de multidão o que, na realidade, era particular de uma classe. Fora disso, ambos os evangelistas coincidem palavra por palavra. Por nossa parte, sabemos como os fariseus eram hipócritas em suas condutas já que diziam e não praticavam (Mt 23, 3) e que honrando de boca o Senhor, seu coração estava bem longe dEle (Mc 7,1) como tinha profetizado Isaías (29, 13). Sabemos também como os saduceus eram enormemente positivistas e materialistas. Sob sua influência, o templo tinha-se transformado num mercado público (Jo 2. 16). Pedir, pois, o batismo, era um ato hipócrita que constituía parte de sua vida de ostentação e em busca do aplauso popular (Mt 6,2). VÍBORAS:  [gennemata<1081> echidnön <2191>= progênies viperarum] temos traduzido por progênies de víboras. A frase sai 4 vezes nos evangelhos [3 delas em Mateus], divididas em dois grupos de imprecações: duas originadas no Batista (Mt 3, 7 e Lc 3, 7) e outras duas, saídas dos lábios de Jesus, em Mateus (12, 34 e 23, 33).  Segundo o  dicionário ON LINE  é o rótulo merecido metaforicamente por pessoas astuciosas, malignas e perversas. Jesus ao chamar os fariseus raça de víboras declara: como podeis falar coisas boas se sois maus? (Mt 12, 34). Jesus completa as 6 maldições sobre os escribas e fariseus a quem tacha de hipócritas, com o apelativo de serpentes, raça de víboras (Mt 23, 33). Como diz Tuya, a doutrina dos fariseus era corruptora porque esterilizava a Lei de Deus, até chegar a traspassar os preceitos pelas tradições e doutrinas dos homens (Mt 15, 3). Daí deduzimos duas conclusões: 1º) Que tanto João como Jesus dirigiam essas invectivas aos fariseus e escribas  e não às multidões como parece indicar Lucas. 2º) Que o próprio Jesus dá a definição de por que merecem esse apelativo: a sua língua é como a das víboras, só serve para difundir o mal, como se fosse o bem. O Batista comina-os com a ira divina, implícita na frase de ira iminente. Após o ódio, o pecado que não tem perdão é o de não querer admitir a verdade quando ela contradiz nossos interesses. Tornam-se filhos do diabo, o pai da mentira, e por isso, não podem escutar as palavras de Deus (Jo 8, 44 +) Essa ira será explicada pelo Batista quando afirma que o que vem depois dele queimará a palha no fogo que não se apaga (vers 12). Consequentemente, o Batista pede frutos que demonstrem realmente o arrependimento, a conversão.

A ESCUSA: E não intenteis dizer dentro de vós: temos como pai Abraão. Pois vos digo que pode [o] Deus destas pedras erguer filhos para Abraão (9). Et ne velitis dicere intra vos patrem habemus Abraham dico enim vobis quoniam potest Deus de lapidibus istis suscitare filios Abrahae ABRAÃO: Na sua escolha, Javé lhe disse que seria uma bênção e nele seriam abençoadas todas as comunidades da terra (Gn 12, 2-3). Daí deduziam que eles, os descendentes de Abraão, eram uma raça abençoada por Deus e, consequentemente, não tinham por que temer a ira divina.  A tradição judaica relacionava os gentios com as pedras. E aparentemente João jogava com abim [filhos] e abanim [pedras]. Daí que o gesto do Batista tinha um sentido mais profundo do que atualmente lhe atribuímos. É interessante notar como esse grupo, entre si dividido, dos fariseus e saduceus, formaram um grupo unido contra João e contra Jesus. Não sabiam o que contestar ante a pergunta de Jesus: o Batismo de João é do céu ou dos homens? Porque não creram nele (Lc 20. 4) ao contrário do povo simples que viu em João um profeta. E temiam mais a ira do povo que a ira de Deus.

A ESCATOLOGIA: Agora, pois, já está o machado assentado junto à raiz das árvores; toda árvore, portanto, não produzindo fruto bom, é cortada e é lançada ao fogo (10). Iam enim securis ad radicem arborum posita est omnis ergo arbor quae non facit fructum bonum exciditur et in ignem mittitur. Era crença comum entre os judeus, que a vinda do Messias estaria precedida de um severo julgamento (Jl 4, 1-16; Sf 1, 14-18 e Mq 3, 1-3). Era tal a crença em momentos de angústia e sofrimento predecessores dessa vinda, que era comum a frase de Parto do Messias. O Batista, como eco dessa tradição, afirma que quem não se arrepender e não fizer o bem com suas obras não entrará a formar parte desse novo Reino. Como acontece com uma árvore frutífera que é estéril, assim será feito com aqueles que não ofereçam frutos dignos do novo reino. Aquela só serve como lenha para o fogo e, de modo semelhante, será cortada a vida dos que não vivem em conformidade com a Lei. Esta fórmula de João lembra as palavras de Jesus, narradas pelo quarto evangelista em 15, 6, sobre os sarmentos que não dão fruto, que serão cortados e, recolhidos, lançados ao fogo.

AUTODEFINIÇÃO: Pois eu vos batizo [submerjo] em água para arrependimento, aquele, porém vindo depois de mim é mais poderoso do que eu, do qual eu não sou digno de carregar as sandálias; ele próprio, batizar-vos-á em espírito e fogo (11). Ego quidem vos baptizo in aqua in paenitentiam qui autem post me venturus est fortior me est cuius non sum dignus calciamenta portare ipse vos baptizabit in Spiritu Sancto et igni  O BATISMO: Aqui, João declara que ele não é o fim e que seu batismo, não tem o sentido de uma purificação total, mas só é o início da mesma, que unicamente será completada pelo seu sucessor, do qual ele, João, era o mais humilde dos escravos. Esse seu sucessor oferecerá a verdadeira limpeza e purificação que será uma imersão total no Espírito e no fogo. Temos explicado que o significado de Baptizo é o de estar submerso, como um barco que se afunda e o do bapto é ser lavado. Temos o texto clássico de  Nicander, médico do ano 200 aC,  que diz que para fazer uma conserva em salmoura, primeiro a verdura deve ser lavada [bapto] em água fervente, e, então, submergida [baptizo] numa solução de vinagre. Bapto é temporal e baptizo produz uma mudança permanente. Por isso o baptizo do NT produz uma união e identificação com Cristo, à semelhança do que acontece com a verdura dentro do vinagre. Podemos, pois afirmar que bapto seria o realizado pelo Batista para deixar o baptizo ao realizado por Jesus. É por isso que João distingue seu batismo ou mergulho na água do mergulho no Espírito e no fogo de Jesus. Sobre esta última expressão, podemos dizer que 1º) Espírito e fogo podem designar uma mesma coisa, sendo o fogo, que altera os metais, como purificador mais completo, chegando até as maiores profundezas da alma. Assim foram as línguas de fogo no dia de Pentecostes. 2º) O batismo para os bons será a purificação do espírito, mas o fogo será o batismo de destruição dos maus como veremos no seguinte versículo. O ESCRAVO: Se Mateus fala de carregar as sandálias o evangelista João fala de desatar as mesmas (1, 27). Na realidade era o mais baixo dos ofícios correspondente a um escravo doméstico. No Talmud pergunta-se: Qual é o serviço de um escravo? E responde: Ele afivela os sapatos do senhor, os desata, e os carrega antes dele ao banho. Esta era a maneira com a qual um discípulo devia tratar seu mestre, pois todo o serviço que um escravo deve fazer a seu amo deve realizar o discípulo a exceção de desatar seus sapatos. Por isso, Mateus unicamente não narra este último detalhe em particular, caso que o quarto evangelista traz como palavra do Batista. Pois este último ofício, desatar os sapatos, só poderia ser feito por um escravo cananeu [pagão] não hebreu, já que esse serviço era odioso e extremamente degradante. É assim, como último escravo, que o Batista se considerava diante da figura da qual ele era o arauto e precursor.

O JULGAMENTO: Do qual, a pá em sua mão; e limpará completamente a sua eira e recolherá seu trigo no celeiro; a palha, porém, queimará no fogo inextinguível (12).  Cuius ventilabrum in manu sua et permundabit aream suam et congregabit triticum suum in horreum paleas autem conburet igni inextinguibili. É evidente que este versículo nos introduz numa ação executiva final, complemento de uma avaliação formal sobre a multidão, dividida entre os que representam o trigo [bons] e os indesejáveis ou descartáveis como a palha [maus] que só servem para o fogo e que, neste caso, toma o caráter de inextinguível, cunho que assim recebe também a seleção executada. Com isso, entramos numa visão definitiva e última do mundo: a figura que João designa como mais poderosa é mais do que um profeta, é o dono do mundo, que separará os salvos da ira e deixará que esta se torne justiça com os malvados.

PISTAS:

1) A austeridade é um dos valores mais apreciados em todos os tempos como garantia de um homem de Deus. Mas nem sempre essa é a realidade suprema. No século 13 os cátaros eram muito mais austeros do que os membros oficiais da Igreja. E não obstante estavam errados, porque tem mais importância a verdadeira humildade que nos aproxima de Deus e nos inferioriza diante do próximo. É por esta razão que a austeridade de João é autêntica: ela está a serviço de seu Senhor.

2) O mais importante no homem é sua disposição de se arrepender e mudar de vida diante do evangelho. Radical como este é, hoje também temos muito a confessar como mal feito, ou bem descuidado, e existe, nestes tempos do advento, uma boa chance de conformar a vida com o evangelho. Essa deve ser a nossa metánoia.

3) Nos tempos modernos, temos abandonado o temor e sempre deixamos nosso último destino em mãos de um Deus, que deve absolutamente perdoar qualquer pecado, porque nos consideramos filhos dele, assim como os antigos saduceus e fariseus se consideravam filhos de Abraão. João diz que a única razão de não sermos castigados são os frutos de penitência.

4) Em todo arauto de Cristo, a humildade que vemos em João, é fundamental. Que Ele cresça e que eu diminua (Jo 3, 30) foi o conselho dado pelo Batista aos seus discípulos. E essa deve ser a nossa resposta quando a inveja impede ver o bem que outros fazem em nome de Cristo. Se Ele cresce, que importa que nós diminuamos? Nós que realmente só devíamos ter como amo e senhor o Cristo Jesus, como intentamos a glória pessoal por considerar sermos seus precursores?


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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27.11.2016
1º DOMINGO DO ADVENTO — ANO A
( ROXO, CREIO, PREFÁCIO DO ADVENTO I – I SEMANA DO SALTÉRIO )
__ "Que alegria: Vamos à casa do Senhor!" __

INÍCIO DO NOVO ANO LITÚRGICO – ANO A
(Acender a primeira das quatro velas da coroa do Advento)

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

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Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A liturgia deste primeiro domingo do Advento nos chamará à vigilância. Mais que uma atitude, o apelo da celebração de hoje quer nos acordar do nosso sono de se deixar levar pela vida, resultado do embalo rotineiro de todos os dias fazer sempre a mesma coisa, sem uma iluminação interior, incapaz de iluminar a vida com um brilho novo. Quem se faz refém da rotina, perde a esperança e, pouco a pouco, a luz da vida vai se apagando dentro de si. Este será tirado da vida. Permanece na vida quem se deixa iluminar com a luz divina.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, iniciamos hoje o tempo santo do Advento que nos preparará para o Natal do Senhor. Como Igreja reunida, aguardamos o dia prometido da vinda gloriosa do Senhor. Por recomendação do próprio Jesus, estejamos vigilantes e atentos para os sinais dessa sua vinda. Nessa santa espera, o nosso coração vigilante se enche de esperança aguardando o Senhor, nosso Amado Esposo, que vem nos iluminar com a glória de sua Vida. Entremos, pois, neste tempo santo e desde já preparemo-nos para acolher o Senhor que vem.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Com o início de um novo Ano Litúrgico - ANO A - o Ciclo do Natal se inicia com o Advento e hoje nós começamos nossa preparação para a comemoração do Nascimento de Jesus, para a chegada do Menino Deus e Rei em nossas vidas. A cada ano celebramos esta chegada e proponho uma chamada de consciência para verdadeiramente aceitarmos Cristo como nosso único Rei e Salvador, Caminho, Verdade e Vida. Que a nossa fé não seja só de facahado ou de conveniência, mas que seja realmente a força que nos move a sermos verdadeiramente CRISTÃOS, com letras maiúsculas, Vigiando e Orando, sempre preparados para agir nos momentos precisos pelo bem de nossos irmãos e irmãs e receber ao Nosso Senhor, quando ele chegar.

Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Isaías 2,1-5): - "Casa de Jacó, vinde, caminhemos à luz do Senhor."

SALMO RESPONSORIAL 121(122): - "Que alegria quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!"

SEGUNDA LEITURA (Romanos 13, 11-14): - "A salvação está mais perto do que quando abraçamos a fé."

EVANGELHO (Mateus 24, 37-44): - "Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor."



Homilia do Diácono José da Cruz — 1º Domingo do Advento — ANO A

FICAI ATENTOS!

Nos meus tempos de seminário, nos anos 60, alguém da direção vez ou outra fazia de surpresa, uma inspeção em nossa cama, armário e criado mudo, e que muitas vezes ocorria em horas que não esperávamos. Na turma havia o “Ferreirinha”, um mineiro muito caprichoso que mantinha suas coisas em ordem, limpas e organizadas, despertando em toda a turma muita raiva e ciúmes. Quando o sineteiro tocava o sino fora de hora, era aquela correria de alunos subindo as escadas em direção ao dormitório, porque a inspeção iria começar. Nessas horas o Ferreirinha continuava tranquilamente a sua atividade, de estudo ou lazer, sorrindo satisfeito e divertido, ao ver a turma se atropelando no pé da escada, temerosos de serem punidos pela equipe de disciplina, que fazia a inspeção.

Um dia decidi acompanhar mais de perto o desempenho do meu amigo e percebi que ele nunca deixava nada para depois, na hora do banho ganhava um tempinho e limpava o criado mudo, na hora do recreio, dedicava dez minutinhos para ajeitar melhor a cama, o lençol e a fronha. Pela manhã agilizava a higiene pessoal e tinha um tempinho a mais para dar uma revisada no armário, e assim, fazendo um pouco a cada dia, ia mantendo sempre em ordem o seu canto, e quando chegava o sábado, que era dia de limpeza, tinha muito pouco a fazer, e para nossa inveja, ficava na sala de TV assistindo algum seriado, ou lendo algum livro.

Lembrei-me disso diante desse evangelho do primeiro domingo do advento, quando se inicia um novo tempo litúrgico, e a palavra chave é: Vigiais e estejais preparados!

Muita gente pensa que se trata de estar preparado para morrer, quando na verdade, é estar preparado para viver, e isso significa, em última análise, viver intensamente cada minuto da nossa existência, dedicando-nos a fazer o bem, em pequenos gestos e ações do dia a dia, exatamente como fazia o meu colega de seminário.

Porque estar atento e vigiar, é o mesmo que fazer faxina em nossa casa, quando deixamos para fazer tudo em um só dia, o trabalho é dobrado, a canseira é muita e a qualidade fica a desejar, se estivermos com pressa de acabar logo. Mas se dispusermos de alguns minutos para limparmos e cuidarmos de um cômodo por dia, com certeza nós teremos pouco trabalho pela frente e uma maior qualidade naquilo que for feito. Mas não se pode ter preguiça e deixar para depois, pois esse comodismo poderá custar caro.

A expressão usada por Jesus: “FICAI ATENTOS...” põe-nos de sobreaviso sobre algo que vai acontecer mais à frente, na história da nossa vida e da humanidade, para que não sejamos pegos de “calças curtas” na volta do Filho do Homem. No tempo de Noé ,muitos empurravam a vida com a barriga, não descobrindo no existir, qualquer sentido novo e para estes, tanto fazia o rio correr para o norte ou para o sul, não tinham um ideal e nem razão para buscar algo grandioso. Coração vazio, alma vazia, nada faz sentido, nem acontecimento bom ou ruim. Há outros que inventam falsos valores de felicidade e passam a vida inteira correndo atrás de bolinhas de sabão, quando as alcança, descobrem que tudo não passou de uma fantasia. A nossa sociedade é assim, vivendo de maneira perigosa no indiferentismo.

Todos terão um último e definitivo encontro com o Senhor da nossa Vida e da nossa História, essa verdade é proclamada por Mateus, em seu discurso apocalíptico no evangelho desse domingo, mas quando será e como se dará, isso ninguém sabe a não ser o Pai.

Tem gente que corre atrás de visões, adivinhações, premonições, principalmente nessa época de final de ano, quando não faltam ingênuos que pagam caro por uma consulta, para saber da saúde ou de negócios. No mundo têm bobo pra tudo...

Enquanto isso, a Palavra de Deus nos revela gratuitamente tudo que precisamos saber, para viver bem a nossa vida, onde em cada minuto a prática do amor, e a busca da verdade e da justiça nos ajuda a estarmos preparados e vigilantes, pois toda vez que deixamos um minuto passar em branco, sem amar ou ajudar ninguém, sem construir algo de bom e edificante, estamos desperdiçando a grande oportunidade de acolher o Senhor, que vem ao nosso encontro em tantas pessoas ou situações.

E desta forma, ajudar alguém, consolar quem está triste, encorajar quem está desanimado, chorar com quem está sofrendo, são algumas maneiras de nos encontrarmos com Jesus, ainda nessa vida, mas para isso é necessário estar sempre atento e vigilante, pois a oportunidade de fazermos o bem acontece todo dia, em situações rotineiras em que menos esperamos. Quem viver assim, não será surpreendido quando o Senhor voltar, para confirmar todo bem que se viveu, na plenitude do amor, vocação maior a qual fomos chamados.

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Costa — 1º Domingo do Advento — ANO A

Noé do século XXI

Não faz muito tempo, um amigo enviou-me uns conselhos interessantíssimos para recristianizar a sociedade. São verdadeiramente divertidos! Vamos aproveitá-los no dia de hoje de uma maneira bastante prática. Por outro lado, falando em recristianizar o nosso mundo, o nosso Brasil, vêm à mente as alegrias e as dificuldades que essa missão leva consigo.

Escutamos a comparação entre os tempos de Noé e os tempos da segunda vinda de Cristo: assim como, nos tempos de Noé, as pessoas, além de viver bem ordinariamente, estavam bastante distraídas, “assim será também na volta do Filho do homem” (Mt 24,39). Assim como os seres humanos que precederam o dilúvio universal, “comiam, bebiam, casavam-se e davam-se em casamento” (Mt 24,38), assim também estará a humanidade que precederá o juízo universal. Além da exortação que o Senhor faz para que estejamos vigilantes porque ele pode voltar a qualquer momento, não surpreende o fato de que nós frequentemente vivemos distraídos para essas coisas de dilúvios e de juízos. É normal, pois nos parece de grande proveito comer, beber e divertir-nos. E é verdade! Mas é preciso que unamos essas coisas ordinárias com as realidades sobrenaturais fazendo com que sejam uma só coisa na nossa vida: “quer comais quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Cor 10,31).

O critério está bem claro: se fizermos todas as coisas ordinárias tendo presente a glória de Deus não seremos surpreendidos no dia do juízo, estaremos sempre preparados para esse acontecimento. Mas, como ter sempre presente a glória de Deus? Como não andar frequentemente distraídos?

É nesse contexto que eu acho que se encaixa como uma luva à mão os conselhos do meu amigo para recristianizar a sociedade. São também bastante práticos para que tenhamos sempre presente a glória de Deus e não andarmos tão distraídos. Dos vinte e cinco conselhos formulados pelo meu amigo, vou mencionar somente alguns:

  1. Reze antes das refeições, também ao comer em restaurantes ou em qualquer outro lugar. Ser cristão não é ter AIDS!

  2. Escreva aquilo que você sabe, mas com sentido cristão. Não se preocupe! Aqueles que escrevem sem sentido cristão tampouco são escritores.

  3. Se for comer num restaurante numa sexta-feira, pergunte ao garçom pelos menus de abstinência. Caso ele fique um pouco admirado, é simples, explique o porquê.

  4. Se você é religioso, lembre-se que o hábito é um grande testemunho e é fera demais! Retire a poeira dele e use-o desde a manhã até a noite. Não se preocupe: os jovens também chamam a atenção com as roupas que eles utilizam.

  5. Não tenha vergonha de apresentar aos amigos os seus oito filhos.

  6. Se você é sacerdote passe cinco horas diárias no confessionário. Se não é, passe cinco minutos semanais pelo confessionário.

  7. Seja pós-moderno e atreva-se a elogiar diante dos seus amigos a santa pureza, a mortificação corporal, a virgindade e a obediência ao Papa; não se preocupe: aqueles que têm complexos irão ao psiquiatra.

  8. No tempo de calor, não se comporte como índio antes da colonização. Um pouco de decência, né!?

  9. Pela rua, vá de mãos dadas com a sua namorada; e se ela tiver frio, é só dar-lhe de presente um cachecol.

  10. Com idêntica soltura com que você cita a Maomé, Gandhi ou Martin Luther King, faça o mesmo com a Epístola aos Filipenses, o Evangelho segundo São Mateus ou São Cirilo de Jerusalém. Experimente!

  11. Sorria. Um Brasil mais cristão é um Brasil mais alegre.

  12. Não se queixe. Faça alguma coisa.

Sem dúvida, o meu amigo tem razão! Dizia um santo que nós temos que passar despercebidos quando está de moda chamar-se católico e ser valentes e aparecer quando os católicos desaparecem. Não precisamos vestir-nos como Noé, nem usar barba como ele, mas podemos despertar a sociedade: Jesus voltará!

Já que com esse primeiro domingo do Advento a Igreja inicia mais um Ano Novo Litúrgico, aproveito para felicita-lo também: felicidades neste Ano Novo e que seja de abundantes graças do Senhor.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético — 1º Domingo do Advento — ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPíSTOLA (Rm 13,11-14ª)

INTRODUÇÃO: Como primeiro domino do Advento a liturgia no oferee uma série de avisos do aóstolo Paulo paa os fiéis que esperavam a Parousia, o segundo Advtigilância e preparfação. o do Senhoe. É tempo de vigilância e preparação, pois quem não está disposto a receber Jesus nascido como Salvador e Senhor de paz, recebê-lo-á como severo juiz e árbitro final de condenação.

O KAIROS: E isto, sabendo o tempo propício, pois que a hora de nós já do sono despertar (é) agora; pois está mais próxima a nossa salvação que quando acreditamos (11). Et hoc scientes tempus quia hora est iam nos de somno surgere nunc enim propior est nostra salus quam cum credidimus.Paulo está dando uma série de avisos centrados na prática da caridade da qual diz que é a plenitude da Lei. Daí o início deste versículo: E ISTO, como para acrescentar alguma coisa ao dito anteriormente, ou seja que, antes de mais nada, devem os fiéis guardar os mandatos que exige a caridade com o próximo: Pois isto: não adulterarás, não matarás, não robarás, não cobiçarás (13, 9); e agora a estes mandatos, base do amor ao próximo, deve acrescentar também um aviso importante, devido ao tempo ou época em que os fiéis se encontram, e que Paulo declara sendo KAIROS [<2540>=tempus] que podemos traduzir como uma medida, especialmente do tempo, de onde temos uma determinada época, em que existe uma crisis ou uma oportunidade, como um tempo que é o favorável ou conveniente, que temos traduzido por propício. Por isso, diz Paulo, que é hora de despertar do sono em sentido de estar vigilantes. O tempo é breve e a salvação está próxima. Mas de que tempo ou de que pessoas trata Paulo? Pode ser o tempo e vida de cada um, breve como é e do qual depende a salvação individual; mas parece que Paulo se refere a Parousia e o tempo é este em que a noite está já terminando e o dia está próximo (Ver 12). Este é o tempo em que se espera a segunda vinda de Cristo e a salvação ou saúde é a mesma que Paulo descreve desde o início da carta (1, 16). De uma parte, pertencemos ao  mundo da luz e devemos agir em consequência (v 12). Por outra parte, estamos ainda entre trevas, esperando o pleno dia em que a luz dissipe as mesmas. A salvação está mais próxima, dirá Paulo, do que estava quando inicialmente recebemos a fé. Os romanos receberam a fé pouco tempo após a morte de Cristo,  talvez após Pentecostes (ano 33) e sabemos que Pedro esteve em Roma nos primeiros anos de Claudio (41 a 44) e Paulo agora escreve perto do ano 58, com uma diferença de 14 anos no mínimo. A Parousia, para Paulo, tinha consequências e estava rodeada de circunstâncias bem diferentes do que agora nós pensamos sobre a mesma. Para nós, é um triunfo em que esperamos só os bens celestiais, dentro da renovação total do mundo e ressurreiçao dos corpos. Para Paulo, a Parousia está concentrada em Cristo: seu triunfo é o triunfo da fé, que agora espera o reconhecimento de que não estavam com uma esperança vã como quem vive de uma ilusão. A salvação individual é a nota dominante de nossa concepção da parousia; o triunfo da Igreja, pobre e humilde, em Cristo, era a mensagem que a primitiva fé necessitava como esperança de dias melhores. Dai que a Parousia era a idéia principal da evangelização, como um futuro próximo, desejável para manter a esperança num mundo de ilusão e expectativa, que se confiava estar próximo.

REVESTIDOS DA LUZ: A noite avançou, pois o dia tem se aproximado: despojemo-nos pois das obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz (12). Nox praecessit dies autem adpropiavit abiciamus ergo opera tenebrarum et induamur arma lucis. Paulo continua com a metáfora das trevas/noite e luz/dia. Para Paulo, já estamos perto da aurora e o que importa é agir como quem tem a luz, e não pode agir como os que segundo João preferem as trevas, porque suas obras eram más (Jo 3, 19). E o apóstolo usa aqui também de uma metáfora:  O vestido, como quem adapta sua vida a certos hábitos de agir, deve ser precedido de um despir-se de obras más para se revestir das armas da luz ou do dia. Usando armas, Paulo deixa claro que existe uma luta, tanto no interior como no exterior do homem, para manter a ordem que a Lei exige como obediência a Deus e amor ao próximo.

DECÊNCIA: Como no dia, honestamente andemos, não em orgias e bebedices, não em cohabitações e dissoluções, não em contenda e inveja (13). sicut in die honeste ambulemus non in comesationibus et ebrietatibus non in cubilibus et inpudicitiis non in contentione et aemulatione.

HONESTAMENTE [euschëmonös <2156>=honeste] ou decentemente isto é como gente honrada, como corresponde a fiéis que devem dar conta de sua conduta diante do juiz do mundo.

ORGIAS [kömos<2970>=comesatio] propriamente é a folia e procissão noturna em honra de Baco, para ser usada em festanças e bebedeiras noturnas, prolongadas até tarde na noite.

BEBEDICES [methë <3178>=ebrietas] embriaguez, e em plural bebedeiras.

COABITAÇÕES [koitai<2845>=cubiles] koitë era um lugar para descansar, ou dormir.Também cama, cama de matrimônio ou alcova. Finalmente adultério, intercurso sexual, e coabitação tanto legal como ilegal. Poderiamos traduzir por promiscuidade sexual.

DISSOLUÇÕES [aselgeiai <766>=impuditia] lascívia descontrolada, licenciosidade, desregramento, devassidão. A diferença com o anterior, talvez seja em que a anterior implica mais o matrimônio e as relações entreos casais, e a atual os que são célibes onde promiscuidade seja a melhor opção, sendo que nesta última estaria incluido o homosexualismo e otras degradações e lascívias de todo gênero.

CONTENDA [eris<2054>=contentio] com o significado de brigas, disputas, discórdias e rivalidades.

DISSOLUÇÕES [zëlos<2205>=aemulatio] pode ser zelo como ardor e entusiasmo por uma coisa ou ideia; mas, tendo uma acepção negativa, devemos pensar em inveja, rivalidade, ciúmes. Estas coisas todas devem ser evitadas.

O MODELO: Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo(14). Sed induite Dominum Iesum Christum. Uma vez descartados da vida cristá vìcios que a comprometem e impedem sua incorporañáo ao Reino (1Cor 6, 10 e Gal), temos um dever que podemos chamar positivo: revestir-nos de Cristo. Assim como Cristo se revestiu de nossa humanidade, ou como diz Paulo, tomou a forma de um escravo (Fp 2, 7), nós devemos nos revestir  da humanidade de Cristo. A explicação deste revestimento está descrita por Paulo quando afirma: todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes (Gl 3, 27), ou, segundo a imagem daquele que vos criou (Cl 3, 10). E explica qual é o novo vestido do novo homem, criado em justiça e santidade da verdade (Ef 4, 24). Coisa que repete em Ef 6, 14: cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça [honradez], tudo o qual completa em 1Ts 5, 8: revestindo-nos da couraça da fé e do amor, tomando como  capacete a esperança da salvação. Esse vestido consiste principalmente nas relaçóes humanas em ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade (Col3, 12). Paulo termina este trecho de sua epístola pedindo uma vida, conforme a de Cristo, de modo que possamos dizer como o mesmo Paulo: Cristo vive em nós (Gal 2, 20).

EVANGELHO (Mt 24, 37-44) - PARUSIA E ESCATOLOGIA

INTRODUÇÃO: Este trecho é parte do chamado discurso escatológico de Jesus, que termina o mesmo com uma advertência para estarmos vigilantes, pois o cataclismo será como nos tempos de Noé, que encontrou desprevenida a maioria dos habitantes. O tempo e a hora serão imprevisíveis e não há como predizer o evento. É por isso que a melhor coisa a fazer é estarmos preparados ou vigilantes. A conclusão indica que há um meio de salvação e que o acontecimento não será uma calamidade universal, a não ser para os que não estejam preparados. Pois a vinda do Filho do Homem é tratada como era considerada pelos antigos profetas o DIA DE YHVH. Ou seja, um castigo para os maus e uma salvação para os bons. Vamos, pois, intentar interpretar os conceitos que encontramos no evangelho de hoje

OS TEMPOS DE NOÉ: Como pois, (n) os dias de Noé, assim será também a PARUSIA do Filho do homem (37). Sicut autem in diebus Noe ita erit et adventus Filii hominis. PARUSIA: A palavra só aparece em Mateus no círculo evangélico, todas as vezes no capítulo 24, quando Jesus afirma que as edificações do templo que lhe mostravam seriam destruídas, de modo a não ficar pedra sobre pedra. É então que lhe perguntam quando sucederá isso e qual o sinal de tua vinda [parusia] e do término do século [aion]. A pergunta foi mal interpretada, de modo a ser o aion tomado como mundo. E assim foi traduzida por: qual será o sinal de tua vinda [gloriosa] e do fim do mundo.  O texto grego diz literalmente synteleias tou aionos [= conclusão do século].  Por isso, o que os discípulos pedem é quando virá  e assim chegará o fim desta geração, desta época, na qual, os romanos e os dirigentes judeus impediam Jesus de tomar posse de seu Reino (Mt 11, 12). Pois, enquanto o templo estivesse funcionando, os dirigentes dos judeus enfrentariam Jesus e impediriam o seu reinado. Confirma-se o dito pela pergunta feita nos outros dois evangelistas em que não vemos o fim do mundo mas o fim destas coisas que predizes (Mc 13, 4 e Lc 21, 7). As traduções modernas falam do fim do mundo (?Esp e It), do fim da história (?IN) ou dos tempos (? F). A pior delas talvez seja a da Bíblia de Jerusalém: consumação dos tempos (sic, em plural?), sem dúvida porque é bastante literal da tradução francesa. Vamos ver o significado das palavras gregas. AION: é a palavra com que Mateus termina a pergunta dos discípulos. Seu significado é tempo ou período prolongado, como era [age em inglês]; e, por extensão, sempre ou eterno; e implicitamente, pode significar o mundo. Em especial emprega-se para distinguir os dois períodos em relação ao momento messiânico, tanto o anterior  como o posterior: é o nosso caso. Das 8 vezes que aparece em Mateus, 7 vezes é traduzida por age [idade ou período de vida] diretamente em inglês, e uma única por esta vida  em 13, 22.

SYNTELEIA: Completion em inglês que podemos traduzir por conclusão, acabamento muito melhor do que por fim, pois não é o termo final de tudo mas de uma época, como vemos na tradução da vulgata: consummationis saeculi, que, mais do que término, significa concluir inteiramente, acabar com perfeição uma obra ou um período. Também o saeculum latino tem o significado de, além de tempo de cem anos, o de idade, vida e, em plural, gerações. Com isso, vemos como as traduções atuais católicas adoecem de uma falta de crítica e dão uma idéia falsa da resposta de Jesus, como sendo a profecia do fim do mundo. Mas falta a parusia. Porém antes de estudar este novo conceito vamos expor as idéias dos contemporâneos de Jesus sobre a escatologia, que na Teologia anterior ao Concílio chamávamos de Novíssimos.

ESCATOLOGIA NO AT

Existem duas limitações nos livros sagrados do AT: a) A exceção do papel de honra ou desonra que acompanha o morto no Sheol, não existe prêmio ou castigo que diferencie bons de maus de modo explícito. Isto é feito na terra, durante a vida para a pessoa, ou para os descendentes. b) Tendência em absorver o indivíduo na nação ou na descendência. Esta última receberia o castigo ou prêmio correspondente ao indivíduo (Ex 20, 5-6). Por isso a escatologia prevalecente era a do povo e não a do indivíduo. Desta forma o reino messiânico era o reino escatológico do verdadeiro Israel  com o triunfo do verdadeiro Deus e o estabelecimento de sua justiça. Isso tudo dava ocasião a uma epifania de Javé no seu atributo de juiz e soberano. A ressurreição dos mortos em Is 26, 19 e Dn 12,2 introduz o Dia do Senhor em que tanto judeus como gentios seriam julgados e haveria uma renovação da terra que mais do que uma aplicação à nova situação do cristianismo, apontava ao fim do mundo ou do universo. Com isso, começava a nova era que propriamente seria um reino de Deus perfeito na terra, quando nós, os cristãos, só esperamos esse reino perfeito no céu, no termo deste universo atual. Finalmente, nos Salmos e em Jó, encontramos a esperança que assegura ao justo uma vida de bênçãos após a morte. Aqui encontramos um ardente desejo por uma eterna amizade com Deus, que é uma protestação clara contra o Sheol tradicional (ver Sl 48 e Jó 19,26-27). Segundo a tradução da vulgata, em seu corpo ressuscitado ele verá Deus. A doutrina da ressurreição será peculiar nos profetas como Is 26, 19 e Dn 12, 2. Em Isaías a ressurreição pessoal dos justos e em Daniel a de todos, sendo que, neste último,  julgamento e ressurreição estão unidos ao Dia do Senhor. Nos últimos livros  chamados deutero-canônicos, como  os Macabeus, até as orações e sacrifícios pelos defuntos são obras pias (2 Mc 11, 43). Nos apócrifos, o Sheol é o lugar de espera pela ressurreição, sendo que este Sheol tinha diversos apartamentos ou divisões para bons e maus. A morada dos maus recebe o nome de Inferno, ou Hades. A morada dos bons, o nome de Seio de Abraão. Finalmente, Gehena é o nome atribuído ao lugar dos malvados após a ressurreição, ou imediatamente após sua morte; e Paraíso é o lugar intermédio antes dos bons serem admitidos no céu, equivalente ao Seio de Abraão, ou melhor sua casa final de bem-aventurança com Deus no céu definitivo. O uso de Jesus destes termos indica a familiaridade com que os judeus contemporâneos os usavam.

ESCATOLOGIA NO NT

PARUSIA: Do léxico de uma Bíblia moderna tomo a seguinte definição: Termo técnico para designar a vinda gloriosa de Jesus ao final da história humana. Esta definição é repetida em outro CD de uso mais corrente. Porém a palavra tem vários significados: a) O etimológico [para ousia= estar junto]  de simples presença,(ver 2 Cor 10, 10: a presença [=parousia] pessoal de Paulo é fraca);  podendo significar bens e vinda. (ver I Cor 16, 17 : alegro-me com a vinda [parousia] de Fortunato]. b) Um segundo significado que poderíamos chamar de técnico ou administrativo-político como visita de personagens eminentes, reis ou imperadores a uma determinada região. Neste caso o personagem recebia homenagens, próprias de um deus ou salvador, com bens ou benefícios tão avultados que se iniciava  assim nova era para a historia local. Tal foi o caso de Nero nas visitas a Corinto e Pátras, cuja comemoração foi feita com uma moeda com a inscrição Adventus Aug(usti) Cor(inthi). O adventus latino equivale à parusia grega. Assim é traduzida na vulgata a parusia grega. Augustus era o Sebastos grego, ou seja adorável. c) Da linguagem política, o termo foi introduzido no vocabulário religioso, principalmente pelas religiões ditas de mistérios para significar a vinda solene da divindade através de ritos sagrados. d) A palavra é, em certo sentido, tomada como base para uma especial teologia católica, com base unicamente em Mateus no capítulo 24 ( versículos 3;27;37 e 39 com o número de Sprong 3952) e nas epístolas dos apóstolos, como as paulinas (ver 1 Cor 15, 20) e Tiago (9, 7-8). O curioso do caso é que à parte do versículo 3, nas outras ocasiões Jesus usa sempre a palavra unida ao Filho do Homem, ou seja parusia do Filho do Homem. O Nosso autor afirma: A Primeira comunidade não distinguiu bem entre proximidade teológica e proximidade cronológica, pelo qual durante algum tempo esperou a parusia como algo iminente. Os modernos exegetas se dividem entre os que dizem que as palavras de Jesus frente ao templo se podiam entender perfeitamente sobre a destruição unicamente do templo e os que além dessa época referem as palavras de Jesus como a segunda vinda no fim da história. Somos da primeira opinião. O FILHO DO HOMEM: Significa: 1º) Uma expressão semita que significa uma pessoa humana, sobretudo como ser frágil e mortal em oposição ao ser divino (Is 51,12). A frase sai em 29 versículos em Mateus , 13 em Marcos, 24 em Lucas e 12 em João. Somente uma vez [na visão de Estêvão] nos Atos, e duas vezes no Apocalipse. Sempre que sai nos evangelhos, é em lábios de Jesus, que a si mesmo se dá este título; representa sua natureza como indivíduo humano [não confundi-lo com pessoa] como era visto e ouvido por seus contemporâneos. 2º) Mas, em muitos casos, toma esse homem poderes divinos, como Mt 25,31: quando vier o Filho do Homem em sua glória  ou em 26, 64: vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. Devemos entender isso das nuvens do céu como uma expressão de tipo apocalíptico que indica poder divino, uma metáfora, não uma realidade, esta, resultante de uma interpretação fundamentalista. Assim o entendeu Caifás que exclamou: Blasfemou! Porque no livro de Daniel descreve-se o quinto reino, posterior ao de Epífanes, como tendo a figura de um homem, ou Filho do Homem, provindo das nuvens do céu (Dn 7, 13-14). Inicialmente, esse Filho do Homem significa o povo escolhido dos santos (Dn 7,18; 22 e 27). Porém como o reino era identificado com seu rei, daí que a expressão Filho do Homem tenha também um valor individual, glorioso e transcendente. É o que vemos na literatura intertestamentária, especialmente no apócrifo de Henoc. Com este sentido, Jesus o admite como único título messiânico dentre as setenta vezes que aparece nos evangelhos. Umas vezes para sublinhar seu poder e condição transcendente (Mt 9, 6 e 12, 8); outras para destacar o momento de sua paixão e ressurreição (Mc 8,3); outras para aludir ao fato de seu triunfo e sua parusia (Mc 8, 38) e finalmente ao se referir a si mesmo como substituto de “a gente” em português (Mt 8, 20 e 16, 13). Por isso as expressões de Mateus 24 podem ser entendidas nesse sentido metafórico em que a participação divina nos acontecimentos de Jerusalém é representada por meio de imagens celestes que nem sempre correspondem a fatos reais mas são figuras que devem ser corretamente interpretadas. Também podemos considerar que o capítulo 24 é um apanhado de Mateus entre o que Jesus falou, frente ao templo, do monte das Oliveiras, e o que Ele falou em outras circunstâncias e que Lucas reproduz em outras ocasiões. Tudo isso, nos oferece uma certa liberdade de interpretação, que não suportaria um sentido literal das palavras de Jesus. Finalmente vamos falar do DIA DO SENHOR: É uma expressão derivada do mundo judaico. O dia do julgamento tem como base mais primitiva, Joel l4, 1-21, em que Javé comina todos os povos que lutaram contra seus eleitos para serem julgados no vale de Josafá [=Deus julga]. Na liturgia judaica, o primeiro dia do mês Tishri [setembro/outubro], considerado o Ano Novo, tomou o aspecto de dia anual de julgamento para toda a humanidade. A tradição religiosa judaica fala do Rosh Hashaná, [cabeça do ano, em que segundo a tradição o mundo foi criado], celebrado o 1º e 2º dia de Tishri, que também recebe o nome de Yom Hadim [dia do julgamento] pois é com o ano novo que o homem e os povos serão julgados.  Seguem-se dez dias de penitência, devendo os decretos serem selados, finalmente, no dia do Yom Kippur [dia da Expiação]. Paulo toma essa tradição para afirmar sobre o dia da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo (1 Cor 1, 8). Lucas apresenta o dia do Filho do Homem vindo como um relâmpago (17, 24). Esse dia será de condenação para os opositores de Cristo, e dia de exaltação para os justos de qualquer tribo, povo, língua e nação (Ap 5, 9).

CONDUTA INCONSCIENTE: Como pois eram [acontecia] nos dias anteriores à inundação, comendo e bebendo, casando e dando-se em casamento até o dia que entrou Noé na arca (38),  e não conheceram até que veio o cataclismo e tomou todos, assim será a parusia do Filho do Homem (39). Sicut enim erant in diebus ante diluvium comedentes et bibentes nubentes et nuptum tradentes usque ad eum diem quo introivit in arcam Noe et non cognoverunt donec venit diluvium et tulit omnes ita erit et adventus Filii hominis. Como vemos, não eram condutas impróprias, mas as que se dão em todos os tempos quando não se esperam grandes desastres naturais. È uma falta de preparação porque não existe consciência do perigo. O evangelho fala do kataklismós que significa inundação ou enchente que no caso de Noé era o dilúvio. Logo lemos sobre o kiboton que é uma caixa de madeira ou arca; era o barco de Noé, tanto como a arca de Moisés. Os contemporâneos não conheciam a catástrofe [aí está a força do argumento] e por isso foram todos tomados de surpresa. Também vocês sereis, tomados de improviso, será a conclusão do exemplo.

A PARUSIA: Temos falado no parágrafo anterior sobre o significado desta palavra no NT. Existe também uma outra palavra com um significado parecido. É EPIFANIA: Em grego epipháneia [manifestação ou advento, tanto passado como futuro] substitui a parusia. a) Desta palavra sabemos que, na língua religiosa do tempo, significava a manifestação da divindade oculta que agora se apresentava de forma, quer direta, quer indireta, (como por meio de um portento). Do imperador Adriano existe uma moeda com a inscrição Epipháneia Augustou. Esta expressão foi adotada por Paulo em 2Ts 2, 8 como sendo a manifestação da parusia dele [do Senhor] e especialmente em 1 Tm 6, 14 que está evidentemente no lugar de parusia. b) A palavra atualmente na liturgia tem o significado de primeiro advento de Cristo tendo em vista a festa dos magos, como manifestação de sua divindade aos gentios. Outra palavra com significado semelhante é APOCALIPSE: Revelação ou manifestação. Como exemplo temos Lc 2, 32 revelação aos gentios. Rm 2 5 em que exorta a se preparar para o dia da ira da revelação do justo juízo de Deus, frase que responde perfeitamente às expectativas de Mateus 24. Finalmente será 2 Ts 1, 7 quando do céu se manifestar o Senhor. Como vemos em Rm 2, 5 a manifestação está unida ao juízo  e dia do Senhor. Portanto, A  parusia é a presença vitoriosa de Jesus, como juiz, que pode ser vista do ponto de vista teológico ou cronológico, tendo como fundo a revelação que chamamos apocalíptica e como forma as imagens dos profetas para indicar uma ação direta de Deus. O apocalipse como fundo, é o triunfo do bem e da verdade sobre o mal e a mentira, triunfo que só será definitivo na escatologia final. Tomando esta palavra como forma significativa de um estilo, não de uma visão final, podemos afirmar que Jesus toma do AT as imagens para descrever duas coisas: o castigo dos rebeldes com a destruição do templo e portanto das leis mosaicas não naturais, e o início de um novo reino. As imagens do castigo estão tomadas quase literalmente de Isaías, sendo que Lucas une o mar (no seu abismo está o reino do mal) aos sinais perturbadores dos homens provindos do céu, onde estava escrito o sino da humanidade. E o julgamento será para, nesse dia [antigamente chamado de Jahveh e que agora se transforma no dia do Senhor Jesus], separar os crentes em Jesus dos que rejeitaram seu senhorio e se aferraram às práticas tradicionais para o rejeitar, como fizeram fariseus e escribas. Ficariam sem templo, sem lei e sem pátria. Seriam praticamente dizimados, a não ser pela abreviação dos dias por causa dos eleitos (Mt 24,22). Um segundo grupo de imagens é tomado de Daniel quando descreve no capítulo VII o quinto reino. “Eis que com as nuvens do céu vinha um como Filho do Homem; ele chegou até o Ancião e o fizeram aproximar-se da sua presença. E lhe foi dada a soberania, glória e realeza: as pessoas de todos os povos, nações e línguas o serviam. Sua soberania é uma soberania eterna, que não passará; e sua realeza, que jamais será destruída”(Dn 7,13-14). Tanto num caso como no outro, Jesus assume categorias divinas e assim o entenderam os juízes do Sinédrio e por isso decretaram que suas palavras eram blasfemas (Mt 26, 64-65).

A ESCOLHA: Então dois estarão na roça: um será tomado e o outro abandonado(40). Duas moendo no moinho:uma será recebida e outra largada( 41). Tunc duo erunt in agro unus adsumetur et unus relinquetur. Duae molentes in mola una adsumetur et una relinquetur. Agora se trata de uma verdadeira escolha: Não todos morrerão, mas haverá uma escolha, sendo que alguns serão salvos; fato que abre a esperança para a vigilância que é a conclusão final. Tanto no campo como na cidade, [o moinho de mão que usavam ao raiar do dia as mulheres], haverá quem morra, mas também quem seja salvo.  A que escolha e a que rejeição se refere Jesus? No mesmo capítulo, em versículos anteriores tinha dito que viria imediatamente após a tribulação desses dias (29) para começar a reunir seus eleitos de toda a terra (31). Evidentemente que isto não pode se referir ao eschaton final, mas a um anterior, secundário, em que alguns serão os escolhidos para o novo Reino e outros serão rejeitados e, como fim de tal  recusa, podemos pensar que terão o mesmo fim daqueles que não puderam entrar na arca.

VIGIAI: Estai vigilantes, porque não tendes conhecido em que hora vosso Senhor chega (42). Vigilate ergo quia nescitis qua hora Dominus vester venturus sit. A tradução  dos tempos verbais é em imperativo presente daí o estai e em perfeito do conhecer e em presente de chegar. O latim não tem, como no grego, a diferença entre imperativo aoristo e presente, daí o vigilate. E emprega, por motivos de gramática, o presente e o futuro dos outros dois verbos. O grego é mais incisivo ao promover uma vigilância constante e ao declarar que não se pode conhecer um fato do qual depende a vigilância. Dirigida a palavra a seus ouvintes presentes, a conclusão evidente e lógica é que estes serão testemunhas dessa vinda sem poder precisar o momento exato. Ver o Excursus final. Daí o exemplo e a conclusão final.

O EXEMPLO: Isso pois, sabei que se tivesse conhecido o pai de família em que vigília o ladrão vem, vigiaria e não permitiria ser perfurada a sua casa (43). Illud autem scitote quoniam si sciret pater familias qua hora fur venturus esset vigilaret utique et non sineret perfodiri domum suam. No possível, tenho guardado os tempos dos verbos no original grego. Vemos que o texto resulta pouco correto do ponto de vista gramatical. O latim, conserva a idéia e muda os tempos para ser sintaticamente correto. Três aclarações são convenientes: VIGÍLIA. As horas da noite eram contadas de três em três como vigílias, formando 4 vigílias ou horas de guarda durante a noite, do pôr-do-sol até a aurora. Já os judeus dividiam a noite em três vigílias de 4 horas cada uma.

VIGIAR: agrypneuo que originalmente significa estar sem sono e gregoreo  com  o significado de estar desperto. AGRYPNEÖ é usado 4 vezes sempre com o mesmo significado de estar atento, estar preparado, velar por, cuidar.  GREGOREÖ  [o verbo do versículo] com o significado de estar de vigília como o soldado, estar atento, cuidar, acautelar-se.  O encontramos 14 vezes no evangelho e 9 vezes no resto do NT. O sentido de gregoreo está claro no versículo 35 de Marcos 13, quando se contam as horas da vinda do amo segundo as vigílias dos soldados romanos. Muitos códices unem a oração a esta vigília noturna do versículo 33, como a Vulgata latina, usada como referencial durante muitos séculos. De modo que teríamos de traduzir vigiai e orai. Neste caso, compreenderíamos melhor o pedido de Jesus e a interpretação dos discípulos,  porque ambas as coisas estariam unidas.

PERFURAR: As casas no tempo de Jesus eram feitas,  na sua maioria, de adobes. Chama a atenção que o ladrão tenha que perfurar [diorisso] ou formar um túnel através das paredes da casa, ou no teto (Lc 5, 9). Era o método comum na época, assim como atualmente é o de arrombar as portas. Era mais fácil fazer um buraco em paredes de adobe que abrir uma porta grossa de chave volumosa, com uma chave mestra, pequena, que pudesse forçá-la. Nesta pequena parábola é o tempo desconhecido, o quando, que monopoliza a atenção.

CONCLUSÃO: Por isso, também vós, estai preparados, porque na hora que não tendes pensado, o Filho do Homem se apresenta (44). Ideoque et vos estote parati quia qua nescitis hora Filius hominis venturus est. Usando  o presente [se apresenta] vemos como o grego dá mais força à advertência de Jesus para um atento cuidado e tempo de vigilância.

EXCURSUS

IMEDIATAMENTE: [Eutheos de meta tem thlypsin ton emeron ekeinon, porque imediatamente após a tribulação daqueles dias] (Mt 24, 29). Talvez esta seja a palavra chave para a interpretação de todo o trecho, indicando que a vinda de Jesus [parusia] está unida no tempo à destruição de Jerusalém, mostrando que o discurso de Jesus em Mateus não é sobre um eschaton absoluto, mas relativo e parcial. Isso pode ser confirmado, refletindo sobre lugares paralelos do mesmo Mateus e dos outros dois sinóticos, no mesmo discurso, mal intitulado escatológico, como é Mt 24, 34, no qual Jesus afirma que tudo será realizado durante a sua geração, afirmação que Lucas também repete em 21, 32. Em Marcos e Lucas não existem referências ao fim do mundo, como parece em Mateus e só aparentemente se fala da ruína de Jerusalém, pois de sua queda resultou a salvação (Rm 11,11) “Quando acontecerem estas coisas levantai a cabeça pois está próxima a vossa libertação”(Lc 21,28). Paulo o explica dizendo que deviam ser cortados os ramos para que a oliveira silvestre (dos gentios ) fosse enxertada (Rm 11, 19).

A DÚVIDA: A que dia e hora se refere Jesus como o de sua vinda? Unicamente ao do fim da História humana, ou pode ser interpretado como o fim de uma época da mesma, especialmente do judaísmo como religião baseada no templo? Temos que interpretá-las como a história final, ou como história temporal? A consumatio orbis [do orbe] ou a consumatio urbis [da urbe ou cidade]?Nos textos de Marcos (cap 13) e Lucas (cap 21) não há nada que sugira uma história final. A pergunta é sobre o templo e os sinais que precedem sua ruína. Dir-se-á que existem certos fenômenos tanto cósmicos como sociais ainda sem cumprir, como em Lc 20, 25-27 ou em Marcos 13, 24-27 que devem suceder segundo Marcos após a grande tribulação. Que todos verão o Filho do Homem [Jesus como soberano e juiz] sobre as nuvens do céu. Em Lucas, temos uma passagem em que a vinda do Filho do homem está desvinculada da destruição de Jerusalém e que responde a quando virá o Reino de Deus (17, 22-37), que tem seu paralelo em Mateus 13, 24-27. Podemos, pois, afirmar que Mateus reuniu numa mesma redação dois momentos diferentes que Lucas distingue perfeitamente. Nos atrevemos, pois, a distinguir entre destruição de Jerusalém e Dia do Senhor,  que agora se transforma em dia do Filho do Homem. Sobre os fenômenos cósmicos e o comportamento social, comuns a Mateus, Lucas e Marcos, devemos dizer que são descrições de um gênero literário apocalíptico, em que as experiências [ou os fatos] estão cifradas e não reproduzem fatos históricos, mas são produtos de uma linguagem bíblica que não reflete exatamente uma realidade, mas uma profecia de calamidades. Ver Isaías 13, especialmente os versículos 10-16 sobre a queda de Babilônia. E não obstante, a ocupação da grande cidade foi uma entrada triunfal de Ciro no ano 539 o mais humano de todos os conquistadores. O pródromo [=mal-estar que precede uma doença] dos profetas é para indicar que na ação estava implicado o próprio Javé como causa cosmogônica e como vingador de condutas humanas detestáveis. Um autor, tão pouco heterodoxo como Tuya, afirma que não é necessária uma manifestação sensível e corporal de Cristo. Basta uma presença sua de ordem moral ou virtual.  Daí que Jesus pudesse afirmar que há aqui presentes que não gostarão da morte antes de ter visto o Filho do Homem vir em seu Reino (Mt 16, 28). O qual, evidentemente, não se refere a uma visão sensível de Cristo (Mt 10, 23): Não terminareis de percorrer as cidades de Israel até que venha o Filho do homem. Diante do Sinédrio, Jesus afirma: vereis de ora em diante o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso vindo sobre as nuvens do céu. (Mt 26, 64).Tanto o grego como o latim usam palavras próprias para dizer que é de agora em diante [amodo e ap arti]. Com isso temos a solução: Desde sua morte, Jesus inicia um reinado que substitui o nacional teocrático, tornando-se Senhor do novo Eon e sendo juiz dos vivos e dos mortos, como tal constituído por Deus (At 10, 42). Estêvão dá a razão a Jesus muito antes da destruição de Jerusalém, quando viu os céus abertos e o Filho do Homem de pé à direita de Deus (At 7, 56). Conclusão: todos os capítulos 24 em Mt, 13 em Mc e 20 em Lc sobre o que chamamos discurso escatológico podem ser interpretados como tendo em vista a destruição de Jerusalém. Em vista desta proximidade do cumprimento desses dias de tribulação (Mt 24, 29) se compreende a advertência de vigiar dos versículos 32-51 com os quais termina o discurso. Em outro caso não teria razão de falar com gente que ainda nem tinha nascido.

EXPLICAÇÃO: O capítulo 24 início do chamado discurso escatológico (?) de Jesus, começa com a destruição do Templo. Tudo indica que com ele Jesus toma a iniciativa de ser ele o templo do Senhor [de Javé] na terra, como Senhor de um novo reino numa nova era ou Eón como dizem os modernos. De fato o evangelho não é um conjunto de normas ou dogmas, mas se reduz a uma pessoa: Cristo, e a um sinal: a cruz. Onde estiver a cruz está o Senhor e a ele devemos serviço e adoração. Daí que Jesus reprova toda outra figura messiânica que não seja ele próprio (4-5). Ele virá imediatamente após a tribulação desses dias (29) para começar a reunir seus eleitos de toda a terra (31). Que entendemos por tribulação? Marcos fala sobre a grande devastação (13,24) que seguirá a Abominação da Desolação [bdelygma tes eremoseos] (Mt 24, 15 e Mc 13,14). Esta devastação é vista com o mesmo nome de eremosis em Lucas como sendo o cerco dos exércitos romanos (daí a abominação) a Jerusalém e a desolação [ou devastação] consequente à sua conquista. Devastação porque não ficará pedra sobre pedra e porque ao redor de Jerusalém as árvores foram taladas, de modo a devastar a região, para formar máquinas para o assalto, e cruzes para o castigo. A abominação está unida ao culto dos ídolos. Como vemos em Lc 16, 15 em que o que os homens exaltam [adoram] é abominação diante de Deus. Ou os três textos do Apocalipse que são com o anterior os 4 únicos do NT em que bdelygma <946> aparece. Por isso lemos que (Roma) é a mãe das meretrizes e das abominações sobre a terra (Ap 17,5). Sabemos como a idolatria é comparada à prostituição. É, pois, esse cerco que atua como sinal para a Parusia de Jesus ( Mt 24, 33 e Lc 21, 27). É tempo de fuga para os que estão em Jerusalém ( Mt 24, 16-21) e é tempo de libertação para os discípulos pois se inicia uma nova era ou Eón como dizem os modernos (Lc 26, 28).

MORAL DA HISTÓRIA: A Parusia tem um significado etimológico como presença ou chegada. Mas em termos eclesiásticos ou cristológicos, significa Advento glorioso de Cristo no fim dos tempos. É bem verdade que também se admite uma segunda Parusia que foi o nascimento de Jesus em Belém  e além disso, seguindo o sentido etimológico, podemos falar de pequenas Parusias ou atos de presença de Cristo como poder divino, atuante na História. Uma delas é a destruição de Jerusalém. As tropas romanas foram o instrumento para a libertação dos cristãos. Outra, a batalha da ponte Milvio em que não faltou a cruz vista por Constantino e suas tropas. Outra, seria a batalha de Lepanto no século XVI em que as forças cristãs destruíram a marinha turca de modo a se iniciar a derrota do império muçulmano. Uma outra, nos tempos modernos, quando o muro de Berlim foi derrubado iniciando-se a desaparição do Comunismo Russo. Em todas elas a presença divina foi notável e teve como resultado a libertação dos homens e a afirmação de valores evangélicos. Vigilância, [estoimos] ou melhor, estai preparados. E dá a razão: porque não sabeis nem o dia nem a hora. Jesus não dá uma resposta definitiva à pergunta de quando e só dirá que tudo passará antes que acabe a sua geração [de 25 a 40 anos]. Consequentemente estamos vendo uma profecia de tempos já passados, mas que terá repetidas atuações em sucessivas dificuldades nos tempos presentes. Por que Deus não se manifesta de modo mais notável como um milagre espetacular? A resposta é que o milagre não conquista e, pelo contrário, torna muito mais culpados os que o rejeitam. Jesus o disse de modo mais categórico: O milagre que espera esta geração será o sinal de Jonas: a sua ressurreição (de Jesus) após três dias no seio da terra (Mt 16,4) porque  Nínive, pagã e pecadora, se converteu, enquanto os judeus não souberam interpretar os sinais dos tempos.

NOTA: O dogma do juízo final, após a consumação da História, tem no NT outras passagens que não podem neste artigo serem avaliadas. (ver Mt 12, 41-42). Uma outra consideração é sobre a ciência de Jesus que se considera limitada por sua condição humana, como ele mesmo diz, por não saber o dia nem a hora; mas também predisposta ou determinada pela ciência do seu tempo que a restringia.

PISTAS:

1) A vigilância: Lucas o explica em termos menos apocalípticos: Acautelai-vos por vós mesmos para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado pela devassidão, pela embriaguez, pelas preocupações da vida e não se abata sobre vós repentinamente aquele dia (21, 34). Por isso é necessário a vigilância e a oração (idem 36).

2) O que foi dito sobre um ato do passado, e em termos de coletividade, devemos repeti-lo sobre fatos futuros e individuais. Sabemos que a nossa Parusia particular é o dia da morte. Diante dessa certeza temos que recorrer à única preparação possível: Vigilância e oração, como temos visto em Lucas ou Paulo em Gl 5, 19-21.

3) Toda religião que promete um tempo imediato de parusia é falsa. Porque a parusia já está atuando desde a ruína do templo. Haverá momentos em que essa parusia (presença) se manifesta mais claramente como na queda do muro de Berlim, para citar um exemplo moderno. Mas Jesus está sempre presente e atuando na história. Assim como os judeus acreditavam na presença de Jahvé no templo, porque ele se manifestou no deserto, também temos o direito de ver Jesus na história, máxime quando sua presença é real na Eucaristia e ele a promete profeticamente: Eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século (Mt 28,20).

4) Talvez seja esta a página mais sombria de um evangelho que se transmite como boa nova. Mas devemos pensar que as tintas negras são para um povo que, vendo, em primeira mão, a luz, não quis enxergar, e ouvindo diretamente as palavras da salvação, se obstinou em não escutá-las (Lc 8, 10). Por isso, a nossa oração deve ser como a do cego de Jericó: Senhor, que eu veja!(Mc 10,51)


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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