GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
15.01.2017
II DOMINGO DO TEMPO COMUM — ANO A
( Verde, Glória, Creio – II Semana do Saltério )
__ "Desde sempre Jesus é o Filho de Deus" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: O primeiro domingo do Tempo Comum é consagrado ao início da missão de Jesus (seu batismo) e é o início de nossa missão (nosso batismo). Neste segundo domingo nos é dita a razão fundamental do seguimento de Jesus: Ele é o Filho de Deus, que veio com a força divina para limpar a criatura humana do pecado e dar-lhe a santidade e a vida de Deus. É-nos descrito, em figuras, o modo como Jesus cumprirá essa missão (por seu sangue derramado) e o método que usará (pela ternura da mansidão).
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Neste Dia do Senhor, tendo concluído o tempo do Natal e celebrado a Festa do Batismo do Senhor, acolhemos o testemunho de João Batista que apresenta Jesus como Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Somos felizes por poder participar desta Ceia Santa, banquete nupcial do Cordeiro. Alimentando-nos dele, desejamos assumir também a sua missão. Como discípulos e discípulas, queremos caminhar com Jesus e participar de sua Páscoa. Com o canto inicial, aclamemos o Pai que nos convidou para participar desta Ceia em memória de seu Filho.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A expressão "Cordeiro de Deus" lembra aos ouvintes hebreus duas imagens distintas, mas no fundo, convergentes: a imagem do Servo de Javé que aparece como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda diante dos tosquiadores, e a imagem do cordeiro do sacrifício pascal. Em outras palavras Jesus, o Cristo, é o cordeiro da nova páscoa que, com sua morte, inaugura e ratifica a libertação do povo de Deus.
Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Is 49, 3.5-6): - "Tu és o meu servo, Israel, em quem serei glorificado!"
SALMO RESPONSORIAL 39(40): - "Eu disse: Eis que venho Senhor! Com prazer faço a vossa vontade!"
SEGUNDA LEITURA (1Cor 1, 1-3): - "Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo."
EVANGELHO (Jo 1, 29-34): - "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo."
Homilia do Diácono José da Cruz – 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
"O FRÁGIL CORDEIRO DE DEUS..."
Houve um tempo na minha infância, em que os Reis do Ringue influenciava nossas brincadeiras e disputava-se em duplas, fazendo do campinho de final de rua, nosso ringue improvisado. Havia um garoto novo, mas muito encorpado, e além do mais com uma agilidade incrível para lutar, quem lutava ao seu lado, saia-se vencedor. Nós éramos franzinos e ele era sempre o destaque, considerado forte, sempre com pose de campeão.
Quando as lutas eram com algum menino de outro bairro, para intimidar o adversário, o apontávamos como o grande campeão e vencedor nato, e assim, por muito tempo foi considerado o melhor lutador da região, ninguém ousava enfrentá-lo.
João Batista aponta aos discípulos e demais seguidores, o grande Messias, o esperado por todos, o Ungido de Deus e revestido de todo poder, mas o título que lhe confere deve ter provocado risos em alguns mais céticos: Cordeiro de Deus! Poderia utilizar-se de um título mais condizente com o poder do Messias, quem sabe Leão ou até mesmo Urso, animal forte e poderoso entre os demais, com força descomunal.
Mas Cordeiro era motivo até para chacota, pois o cordeiro é frágil, indefeso, incapaz de qualquer reação diante dos que atentam contra sua vida. Quanto á sua ação de “tirar o pecado do mundo”, esperava-se alguém que acabasse definitivamente com os maus, premiasse os bons e eliminasse todas as forças do mal, não muito diferente de hoje, quando diante do quadro triste de um mundo marcado por tanto pecado, muitos nutrem no coração, a falsa esperança de que Jesus venha nas nuvens para desmascarar o Mal e fazer triunfar o Bem. Seria assim a vingança dos bons e justos, ver os maus serem esmagados e aniquilados por Jesus triunfante e glorioso. Acredita-se que o traidor Judas, no fundo pensava em uma “virada” na situação e por isso entregou Jesus aos seus inimigos, para deliciar-se ao ver a reação der Jesus na hora “H”. Esse pensamento equivocado prevaleceu até na hora derradeira quando entre outros insultos se dizia “Se és de fato o Messias, desce da cruz agora...”
Não é errado pensarmos desse modo, diante do Poder e Perfeição de Deus, e de nossas fragilidades, até João Batista tinha uma compreensão messiânica rigorosa e severa, vivia falando em fogo que devora, em palha que iria ser queimada quando o Reino se instalasse, para que os maus tremessem na base e se convertessem.
Mas no evangelho de hoje, parece que “caiu a ficha” de João, duas vezes ele declara que não conhecia Jesus, e que chegou a esse conhecimento porque Aquele que o tinha enviado para Batizar, o revelara.
Não se compreende as coisas de Deus, o seu pensamento e seu agir, a partir da lógica humana, mas pode-se ver os sinais que ele realiza, e João VIU , logicamente esse Ver Teológico, transcende a nossa limitada visão carnal, ver os sinais que Deus realiza, só é possível com os olhos da Fé, em outras palavras, quem vive na Fé, começa a ver os acontecimentos e as pessoas com um olhar diferente e o quadro inverte-se: aquilo que é Forte e poderoso se tornará em ruína, aquilo que é fraco, indefeso, insignificante, irá realizar a salvação completa, não só dos Israelitas, mas de toda humanidade.
Na primeira Leitura o Profeta, que é a Boca de Deus, já havia dito sobre o Servo de Javé, que ele seria a Luz das Nações, e aqui, o servo de Javé é aplicado ao povo, que estava cativo na Babilônia, totalmente derrotado e massacrado, sem pátria e sem identidade, aliás, nas duas leituras, não é homem que se sente forte e preparado, para algo grandioso, mas é Deus que chama através da Vocação, o apóstolo Paulo apresenta-se desse modo á comunidade, e Deus nunca chama os arrogantes, os prepotentes, os mais fortes, e que tem panca de vencedor, como o meu amigo de infância, a quem me referi no início e que nós chamávamos de “Homem Montanha”, ao contrário, Deus se alia aos pobres, fracos, desprezados, por isso o título “Cordeiro de Deus” evoca realmente quem é Jesus, o Deus Todo Poderoso encarnado na fragilidade humana para vencer em definitivo as forças do mal e tirar o pecado do mundo.
O Cordeiro de Deus, o Deus imortal, Criador de todas as coisas, Onipotente, Onipresente e Onisciente, vem como Cordeiro indefeso diante da violência humana, vai para o matadouro mudo, sem reclamar, sem praguejar contra o Pai, sem maldizer a própria sorte. Porque somente assim realizará sua Missão de Salvar os homens, só o amor salva, e só DEUS É AMOR.
Aprofundar no conhecimento de Deus e poder dar testemunho como João Batista, requer de cada cristão esse VER constante no dia a dia, os atos de mais puro amor que Deus vai realizando, mas é sempre preciso ter em mente esse modo de agir Divino, que sempre engana os homens que se julgam sábios e espertalhões. Olhemos para a Eucaristia, ponto convergente da Igreja e cume da Liturgia, o Sacerdote ergue uma hóstia frágil, que cabe na palma da nossa mão, e que até um ventilador ligado pode fazê-la sair voando...
Entretanto, ali está escondido e oculto aos olhos dos que não crêem o maior e mais valioso de todos os tesouros da terra. A graça de Deus em forma de pão que alimenta e restaura as nossas forças, ajudando-nos a atravessar o deserto da Vida terrena, como aquele Maná descido do céu ajudou o povo na travessia do deserto, milhares de vezes ao dia esse gesto se repete, a hóstia é apresentada repetindo-se as palavras de João: Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo....Como diz São Paulo, Jesus Cristo é o mesmo ontem, Hoje e sempre, e ainda prefere ocultar todo o seu Poder, graça, Glória e Salvação, em algo frágil. Que a exemplo de João Batista, possamos também VER , e dar testemunho de que naquele pedacinho de pão está o Filho de Deus, Cristo Jesus, nosso Deus e Senhor, aquele que criou o céu e a terra, e salva e santifica a todos os que Nele crêem, em meio a toda humanidade.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
“Banquete sacrifical”
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Essas palavras soam aos nossos ouvidos em cada Santa Missa ao aproximar-se um dos momentos mais sublimes do sacrifício eucarístico, a comunhão. E nós respondemos: “Senhor, eu não sou digno (…)”. Jesus Cristo vem a nós em cada celebração eucarística. Não nos esqueçamos, no entanto, de que a graça da comunicação de Deus conosco passa pelo sacrifício do seu filho, Cordeiro oferecido ao Pai que, com a sua obediência e com o seu amor, tira o pecado do mundo. De fato, essas palavras do Evangelho segundo S. João aludem ao sacrifício redentor de Jesus Cristo.
A Missa é sacrifício, ou seja, uma realidade sagrada oferecida a Deus. Não se pode negar essa verdade de fé divina e católica, quem assim o fizesse cairia na heresia.
O sacrifício está presente em toda a Sagrada Escritura; também o está nas diversas religiões. O ser humano sempre sentiu o desejo de oferecer dons a Deus. A universalidade desse fato nos mostra que é uma tendência natural do ser humano dirigir-se à divindade ofertando-lhe algo. Nas pessoas há tendências universais, independentemente da cultura na qual estejam integradas: a consciência de limitação e de culpa; a intuição de que existe um ser que está por encima de todos, criador e providente (= Deus); essa inclinação a oferecer a Deus dons, queira para agradá-lo queira para aplacá-lo; o desejo de não morrer etc.
Foi Deus quem colocou essas tendências universais no coração do homem. Assim como os projetos do homem passam primeiro pela sua mente, depois vão ao papel e chegam à realidade; de maneira semelhante, os projetos de Deus passaram pelo seu coração, foram prefigurados de diversas maneiras nas multiformes culturas e, finalmente, chegaram à sua cima em Jesus Cristo. Santo Irineu de Lyon gostava de dizer que Deus foi acostumando, durante séculos, o ser humano à sua maneira de atuar. O homem foi se acostumando com a maneira de Deus trabalhar no mundo e na sua vida. Em relação aos sacrifícios se vê essa mesma “pedagogia” de Deus.
Começando pela rudimentariedade dos sacrifícios antigos, passando pelo primor das cerimônias do povo de Israel e chegando, finalmente, à perfeição do sacrifício de Cristo na cruz, se vê uma línea constante na maneira de atuar de Deus. Cristo ofereceu a si mesmo, o seu amor e a sua obediência, como oblação pura ao Pai. Ele é sacerdote, vítima e altar. O sacrifício de Cristo, que consiste essencialmente no seu amor e na sua obediência, teve manifestações externas que chegaram ao cume do sofrimento humano.
A Igreja Católica sempre teve essa convicção: a Missa, toda Missa, é verdadeiro e próprio sacrifício. Essa verdade de fé foi reafirmada e dogmatizada solenemente pelo Concilio de Trento. Em cada celebração eucarística se oferece, verdadeiramente, Jesus Cristo ao Pai pela ação do Espírito Santo; em cada Santa Missa há um sacrifício no sentido próprio e real que essa palavra tem: sacrifício é oferecimento de um dom sagrado à divindade. É muito importante que compreendamos a palavra sacrifício como oferta. Seria um absurdo, em efeito, pensar, segundo o modelo dos antigos sacrifícios, que em cada Missa o padre mata a Cristo e o oferece ao Pai. Isso seria um horrível sacrilégio!
Cristo “apareceu uma só vez ao final dos tempos para destruição do pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9,26). Jesus morreu uma só vez, ofereceu perfeitissimamente ao Pai o seu amor e a sua obediência, as suas chagas e os seu sangue derramado para a nossa salvação. Conseguida essa salvação, “Cristo entrou, não em santuários feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus” (Hb 9,24). Mas, de que maneira Cristo intercede por nós no céu? De várias maneiras, mas todas elas se resumem no seu sacrifício. A vida santíssima, redentora e santificadora de Jesus Cristo teve o seu momento mais alto e reunificador no Mistério Pascoal, isto é, na sua Morte, Paixão e Glorificação. Cristo nos salvou apresentando-se ao Pai e continua salvando-nos apresentando-se ao Pai. Ele é o nosso único Mediador.
Jesus entrou no céu com todos os méritos conseguidos na sua vida terrenal. Esses méritos são infinitos porque são os méritos do Filho de Deus, que é Deus. Apresentando-se ao Pai com o seu Mistério Pascoal, Jesus envia desde o santuário celeste esse mesmo Mistério, a sua Páscoa, à humanidade. Como? Através da Missa, que é a atualização dos Mistérios de Cristo, cujo central é a Cruz gloriosa, isto é, a sua Morte e Ressurreição, que mereceu também o envio do Espírito Santo. Em cada Missa, faz-se presente, atual, o Mistério da Cruz gloriosa e, ao entrarmos nesses raios divino-humanos da Eucaristia, somos redimidos, salvados, santificados e glorificados antecipadamente.
Há um livro belíssimo, escrito por um santo, que vale a pena ler para aumentar a piedade eucarística: “As excelências da Santa Missa” de S. Leonardo do Porto Mauricio pode ser uma grande ajuda para adentar mais nesse Mistério, para viver a Santa Missa.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (1 Cor 1, 1-3)
SAUDAÇÃO: Paulo, eleito apóstolo de Jesus Cristo por vontade de Deus e Sóstenes, o irmão (1). Paulus vocatus apostolus Christi Iesu per voluntatem Dei et Sosthenes frater. A epístola de hoje forma parte da saudação particular de Paulo aos fieis de Corinto desde Éfeso para corrigir abusos e firmar a doutrina da fé. A Eucaristia, a unidade da Igreja, a ressurreição, a sabedoria da cruz e a castidade cristã são objeto de sua preocupação. Sua autoridade é afirmada desde o princípio como apóstolo, especialmente escolhido pelo Senhor para anunciar o evangelho aos gentios. Deus mesmo o escolheu por boca dos profetas e Jesus o confirmou aparecendo a Paulo e confortando-o como vemos em At 18, 9-10: Disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas e não te cales. Porque eu sou contigo e ninguém lançará mão de ti para te fazer o mal, pois tenho muito povo nesta cidade. Era o início do ano 51.
SÓSTENES: de origem grega e de significado forte ou preservador da força, era o chefe da sinagoga de Corinto quando os judeus acusaram Paulo frente ao procônsul Gálio que se desinteressou do caso e então os judeus feriram Sóstenes diante do tribunal, provavelmente por ter feito um papel péssimo como acusador. Parece que se converteu após esse incidente. Conforme tradição posterior Sóstene era um dos 70, o que parece impróprio. De todos os modos, é provável que Sóstenes fosse o amanuense de Paulo, que redatava a epístola, e que Sóstenes a escrevia no pergaminho ao ditado do apóstolo.
IRMÃO [adelfos<80>=frater] em termos clássicos era o filho da mesma mãe ou pai. Entre os judeus, o parentesco do irmão se estendia aos tios, primos etc. e correspondia ao AH hebraico. Em termos bíblicos do NT era o título que recebia o cristão, pois como disse Jesus um só é vosso Mestre, e vós todos sois irmãos (Mt 23, 8). E a frase tem um sentido próprio, pois os rabinos [mestres] eram chamados pais, como vemos no versículo seguinte (9) no mesmo escrito. Era costume entre os discípulos de Jesus esse apelativo como vemos em Jo 21, 23: Se tornou corrente entre os irmãos o dito de que aquele discípulo não morreria. Sóstenes, pois, era além de amanuense um cristão conhecido pelos de Corinto.
ENDEREÇO: À igreja do Deus a que está em Corinto, aos consagrados em Cristo Jesus, escolhidos santos com todos os invocantes do nome do Senhor nosso Jesus Cristo em todo lugar tanto deles como nosso (2). Ecclesiae Dei quae est Corinthi sanctificatis in Christo Iesu vocatis sanctis cum omnibus qui invocant nomen Domini nostri Iesu Christi in omni loco ipsorum et nostro. Explicado no primeiro versículo o remetente, agora temos o círculo dos que recebem a carta. É o conjunto dos fieis de Corinto, aos que Paulo chama de A IGREJA DE DEUS é o primeiro dos atributos ou apostos com os quais Paulo se dirige aos fieis de Corinto. Essa expressão, como sinagoga de Deus [sinagogë tou Kyriou] aparece na tradução da Setenta em passagens como Nm 16, 3. Também em At 20, 28, o rebanho que Cristo comprou com seu sangue, contrária à sinagoga de Satanás (Ap 3, 9). Era a Igreja que Paulo perseguiu na Palestina (1 Cor 15, 9). Em termos profanos, IGREJA [ekklësia<11577>=ecclesia] era uma reunião dos cidadãos de uma cidade grega, para tratar de problemas comuns. Para os judeus, era o povo de Israel, como uma assembleia religiosa dedicada a Jahveh. Entre os cristãos, era a comunidade dos fieis que os unia a Cristo pela fé. EM CORINTO: Era uma das grandes cidades do mundo antigo e a sua comunidade era próspera e famosa por sua reputação como sedenta de prazeres com um templo dedicado a Afrodita no qual habitavam mil Hierodulas, ou prostitutas sagradas. O termo Corintiathomai era conhecido no mundo greco-romano como viver uma vida licenciosa. O museu de Asclépio hoje nos mostra uma parede cheia de penes genitais aparentemente ex-votos por cura de doenças venéreas. Por isso, Corinto é descrito como intelectualmente alerta, materialmente próspera, mas moralmente corrupta. A bebida era outra característica dos excessos dos corintianos. Um autor da época dizia que se um corintiano aparecesse nas tabuas do teatro ele estaria bêbado (Aelian). Era Corinto o centro de desportos [jogos do istmo dedicados a Poseidon], do governo, de uma guarnição militar e do comércio [famoso era o bronze corintiano, mistura de ouro, prata e cobre]. Em aposição temos também as duas expressões: Consagrados em Cristo Jesus e escolhidos santos.
CONSAGRADOS [ëgiasmenoi<37> = sanctificati]. É o particípio passado do verbo agiazö que inicialmente indica coisas ou pessoas separadas do âmbito profano para ser dedicados à divindade. Como tal dedicações deviam ser purificadas e daí a santidade como atributo devido aos mesmos. Por isso, em termos vernáculos o agios [substantivo] é traduzido impropriamente por santo. O catecismo antigo, ao falar do cristão dizia que era homem dedicado ao serviço de Cristo. Porém havia muitos problemas tanto morais, como de doutrina e de governo da Igreja.
ESCOLHIDOS [klëtoi<2822>=vocati] em grego são os chamados, convivas, chamados a exercerem um ministério, escolhidos e designados para uma missão. Mateus distingue entre klëtoi [chamados] e eklëtoi [escolhidos] (20, 16) quando Jesus afirma: muitos são chamados, mas poucos escolhidos. SANTOS [agioi<40>=sancti] é a tradução do Kadosh[<06918> =sanctus] como em Êx 19.6: Vós sereis para mim um reino de sacerdotes, uma nação santa. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel. Ou seja, mais do que moralmente sem pecado, significa especialmente dedicados ao serviço de Deus, como foi o antigo povo de Israel, que unicamente adorava o verdadeiro Deus. Isso mesmo serão os cristãos dedicados ao serviço de Jesus Cristo no NT, como diz Paulo neste versículo.
TANTO DELES COMO NOSSO: O pensamento de Paulo está em igualar gregos com judeus; e como eles foram escolhidos em primeiro lugar, por isso Paulo os cita desse modo. Como nosso Paulo se une espiritualmente aos gentios, considerando-se um entre eles, pois fala aos de Corinto que na sua maioria eram de origem grega.
UMA BÊNÇÃO: Graça a vós e paz de parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo (3). Gratia vobis et pax a Deo Patre nostro et Domino Iesu Christo. Paulo termina a saudação da carta com uma doxologia que é ao mesmo tempo uma oração e um desejo.
GRAÇA [charis<5485>=gratia] sem correspondência no AT é usada com o significado de favor, benevolência, que Nossa Senhora encontrou segundo as palavras de Gabriel: Achaste graça diante de Deus (Lc 1, 30). Por isso, ela exaltou esse Deus benfeitor, quando pronunciou: porque contemplou a insignificância de sua escrava. É a benignidade com que Deus olha o necessitado que a Ele recorre como mendigo. Paulo pede que Deus Pai e o Senhor Jesus olhem para os de Corinto do mesmo modo que Maria foi contemplada por Deus como filha do Pai, mãe do Filho e esposa do Espírito Santo.
EIRËNË [<1515>=pax] é o Shalom do AT com o significado de ausência de guerra entre duas nações, ou harmonia e concórdia entre indivíduos; também corresponde ao hebraico shalom leka, ou seja, uma bênção em que se desejam os bens messiânicos a uma pessoa, ou simplesmente bens e felicidade, como é nosso caso.
EVANGELHO (Jo 1, 29-34)
O TESTEMUNHO DO BATISTA.
INTRODUÇÃO: No domingo anterior, vimos o testemunho do céu, a Teofania, sobre o homem que quis ser batizado por João no rio Jordão. A palavra, vinda do alto, dava legitimidade ao homem Jesus como Filho de Javé, embora esta expressão não tivesse um significado tão radical como o que hoje lhe atribuímos, uma vez conhecida a essência trinitária divina. Neste Domingo, que, embora tenha o título de segundo domingo comum, é o primeiro, após as festividades natalinas, a Igreja apresenta o melhor testemunho humano sobre Jesus de Nazaré: o de João, o Batista. Ele é a testemunha oficial [profeta], reconhecido como tal pela imensa maioria de seus contemporâneos. O povo assim o reconhecia e os dirigentes não se atreviam a ir contra esta reputação, que incluía seu batismo como sendo de divina disposição (Mt 21,25-27). Sua vida austera e incomum o colocava entre os especiais como seres humanos. Para os judeus que não acreditavam em super-herois, ele era a palavra de Jahweh. E como tal palavra ele se apresenta, neste domingo, para ser testemunha do maior ato que se pode lembrar com orgulho a humanidade: Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14). Porque João veio como testemunha da luz (8). Sua palavra é uma prova testemunhal indiscutível: As ações de Jesus, suas palavras, são dirigidas por Deus e são as últimas e definitivas intervenções de Deus na história humana.
NO DIA SEGUINTE: No dia seguinte, vê João a Jesus, vindo para ele, e diz: vede o cordeiro de(o) Deus o que tira o pecado do mundo (29). Altera die videt Iohannes Iesum venientem ad se et ait ecce agnus Dei qui tollit peccatum mundi. EPAURION <1887> [epayrion = manhã seguinte, altera die latino] ou seja, no dia seguinte ao narrado pelo evangelista nos parágrafos anteriores, que corresponde à pergunta dos sacerdotes e levitas enviados de Jerusalém: Tu quem és? Depois de negar qualquer autoridade como Messias, Elias, ou o profeta, João afirma ser unicamente a voz no ermo para pregar uma preparação para o Senhor. A fixação temporal pode ser unicamente um termo de vínculo redacional muito mais do que temporal e histórico, haja vista que essa mesma conjunção é usada outras duas vezes nos versículos 35 e 41, do primeiro capítulo e mais uma vez no primeiro versículo do segundo capítulo, completando um marco de dias em que temos as primeiras manifestações de Jesus: a dada pelo Batista (v 29-34), a dos primeiros discípulos (v 35-39), a de Filipe e Natanael (v 43-51) e, finalmente, a manifestação em poder, feita em Caná (cap 2, v 1-11). Não podendo unir em termos temporais essas manifestações, porque se pensava que o batismo de Jesus se realizara perto de Jericó [distante dois ou três dias de Caná], e não em Betabara, [a um dia de distância de Caná] daí que os exegetas tomaram a frase no dia seguinte, que precede todas as manifestações, como um termo conjuntivo redacional. Mas se o batismo e o encontro com os primeiros discípulos foi em Betabara, perto de Gádara e Citópolis (ver mapa no comentário do domingo anterior), a ilação temporal é possível e o nosso evangelista está narrando, como historiador, fatos ocorridos com a alternância de dias sucessivos. Isso indicaria uma testemunha ocular dos fatos e daria ao evangelho [o último a ser escrito] uma autenticidade insuperável.
VÊ JOÃO A JESUS: É o encontro realizado após o batismo, e o jejum no ermo [sertão, diríamos no Brasil] com Jesus que de novo se aproxima do Batista.
JOÃO BATISTA: João: Do hebraico Johanan [Deus, Jahweh, propício, ou Deus favoreceu]. Nas linguagens semitas o nome era a essência das pessoas. Em outras línguas o nome identifica a pessoa e a separa como própria, distinta dos outros homens. No nosso caso, o nome de João o identifica com o filho nascido de Zacarias, o sacerdote da classe de Abias e sua mulher Isabel. Por nascimento, João era sacerdote e filho legítimo de dois pais da descendência de Aarão (Lc 1, 5). Ambos eram justos, isto é: cumpriam rigorosamente a Torah. De sua adolescência e juventude nada sabemos. Unicamente o encontramos com maioridade legal [maior de 30 anos] num lugar desabitado [eremos em grego] ao outro lado do Jordão, mais particularmente em Betânia, ou melhor, segundo Orígenes, Bethabara [casa do vau] e não casa do deserto [pois este é arabá e não abará] que pode corresponder com os vaus de Abraão que estavam no caminho de Gileade. (Ver o número 05679 de Sprong no dicionário em que temos a tradução crossing place ou vau). Caso seja certo, o lugar estaria mais perto da Galileia do que da Judeia; pois a cidade oriental cisjordânica é Citópolis. Por isso, João batizava em Enom perto de Salim (Jo 3, 23). Enom está, segundo nos afirmam os biblistas, perto de Citópolis. Coincidem assim as duas narrações dos capítulos 1 e 3. Mais, estando o vau tão perto da Galileia, entendemos como dentre os discípulos de João encontramos verdadeiros galileus como André, Filipe e Natanael. Também podemos entender que Bethabara ou Enom estava no caminho de Jerusalém para a Galileia e, passando Jesus por esse caminho, João o apontou a seus discípulos como o cordeiro de Deus (Jo 1, 36). Segundo Lucas, João veio por todos os arredores do Jordão proclamando um batismo de metânoia (Lc 3, 3). Isto implica que também o lugar de Betabara estava dentro do percorrido do Batista. Marcos 1, 4 fala de que apareceu João no deserto [em te eremo] ou ermo, sem dizer que deserto era. Mateus afirma que era o deserto da Judeia [em te eremo tes joudaios] (Mt 3, 1). Porém é difícil pensar que fosse o deserto da Judeia, pois este não chegava até Jericó e estava ao sul do mesmo, na desembocadura do Jordão e este era propriamente o Midbar hebraico, com o significado de estéril, desolação. O Arabah, com artigo, era o vale do Cedron, especialmente na sua parte oriental, mais perto do mar Morto. Podemos afirmar que o eremos grego traduz um lugar inóspito. É uma contradição que o Batista batizasse no deserto, junto ao Jordão precisamente numa região que é fértil e bem habitada. Segundo os comentários da bíblia de Jerusalém, o deserto da Judeia era a região montanhosa que se estendia entre a cadeia central da Palestina e a depressão do Jordão e do mar Morto. Não havia água suficiente para batizar. A esse deserto foi levado Jesus pelo Espírito e morava entre feras (Mc 1, 12). É difícil que houvesse feras no deserto próprio da Judeia, mas sim que existissem no lugar inabitado perto de Enom. Jesus foi batizado, segundo Lucas, no Jordão e voltou do Jordão e foi conduzido pelo Espírito Santo ao interior do deserto (4, 14). O deserto foi, sem dúvida, citado pelos evangelistas para que se visse cumprida a profecia do segundo Isaías, 40, 3, segundo a Setenta: Voz que clama no deserto. Mas o hebraico diz: Uma voz clama: preparai no deserto o caminho do Senhor. De Mateus e Marcos não podemos tirar uma conclusão geográfica certa. É João que nos deve conduzir a uma conclusão certa. Não queremos dar a última palavra; porém, sim expressar novos pontos de vista, especialmente pelo que diz respeito ao evangelho de João, aparentemente contraditório com os sinóticos, mas que histórico e geograficamente está melhor avaliado atualmente. Pode ser que exista uma via média que compagine tanto a visão de João como as visões aparentemente contraditórias dos sinóticos.
O NOME: Na realidade deveria ser chamado João bar Zacarias [João filho de Zacarias], mas todos o conhecemos por João, o Batista. Porque foi em seu ofício de pregar o batismo de penitência que ele foi famoso, especialmente porque batizou Jesus o Filho de Deus e deu testemunho de que ele assistiu à Teofania, de modo a ser uma testemunha muito particular. Se os apóstolos eram testemunhas da vida e da ressurreição de Jesus, o Batista se tornou testemunha da presença divina na pessoa de Jesus, somente superada pela Teofania dos três apóstolos no monte Tabor. Esse testemunho do Batista o torna o maior nascido dentro do âmbito da Antiga Aliança (Lc 7, 28). Muitas vezes pensamos que a resposta de Jesus aos fariseus que perguntavam com que autoridade fazes estas coisas, perguntando por sua vez de onde era o batismo de João, do céu ou da terra, era uma pergunta irônica para sair do passo. Mas, na realidade era a melhor resposta: Caso fosse do céu, Jesus podia responder: pois eu faço estas coisas com a autoridade que me deu João, pois ele deu testemunho de mim (Jo 5, 36). Por isso João é importante: pelo testemunho que ele deu de Jesus. Também nós somos importantes pelo testemunho de nossa fé: Quem crê de coração obtém a justiça e quem confessa com a boca, a salvação (Rm 10, 10).
O CORDEIRO DE DEUS: Olhai o cordeiro do (sic) Deus. Olhai ou Vede que é traduzido também por Eis. Isso implica uma presença física de Jesus e um comparecimento de alguns discípulos de Jesus que assistiam a cena nesse momento. Cordeiro é a tradução do Amnes. Em Isaías 53, 7 lemos: como um cordeiro foi conduzido ao matadouro. A tradução dos Setenta do cordeiro é amnós, que na bíblia grega de Bambas [Londres] é traduzido por arnion. A diferença entre arnion e amnes é que arnion é um diminutivo de aren cordeiro. A primeira vez que um cordeiro sai como animal de sacrifício é em Gn 22, 7. Isaac pergunta a seu pai Abraão onde está o cordeiro para o sacrifício. O hebraico seh <07716> é traduzido ao grego por probaton <4263> que significa gado, especialmente menor. Em hebraico a Bíblia usa duas outras palavras significando cordeiro ou ovelha: Taleh ou Tela e Kebés ou keseb. A primeira é encontrada em Samuel 7, 9 e Isaías 65, 25 [Is 40, 11] e a segunda é a palavra mais usada para animais de sacrifício como vemos no livro dos Números nos capítulos 7, 28 e 29. Em Êx 22, 3 o cordeiro que deve ser sacrificado é o probaton nos Setenta, e arnion na versão de Bambas. Como resultado, podemos afirmar que arnion e amnes podem significar a mesma coisa e que probaton é a tradução do hebraico seh. Isaías usa este último termo para apontar o Messias como cordeiro levado ao matadouro que suporta o sofrimento numa submissão silenciosa. No Apocalipse [5,8 e 13,8] temos que será o arnion [cordeirinho] a quem os quatro animais [quatro anjos que presidem o mundo físico] e os vinte quatro anciãos [representantes das 24 classes sacerdotais] adoram, após ele receber o livro da vida. Do ponto de vista do quarto evangelista, Jesus era o Cordeiro Pascal de menos de um ano sacrificado e morto precisamente na hora [nona ou três das tarde] em que eles eram degolados (Mc 15, 34). João dirá que era meio dia, do dia da preparação da páscoa, em que tudo que era fermento era destruído (19, 14) quando Pilatos o entregou para ser crucificado. Por isso o nosso evangelista compara Jesus com o cordeiro pascal do qual nenhum osso devia ser quebrado (Jo 19, 36). Daí que ele tira O PECADO [em singular] do mundo. Qual era esse pecado? E a que mundo se referia? Sem entrar em disquisições sobre se estas eram palavras originais ou interpretação posterior da primitiva Igreja, podemos afirmar que o pecado era a inimizade existente desde a origem, que tornou o homem inimigo de Deus e que necessitou da morte de Cristo como sacrifício para obter a reconciliação (Rm 5, 10). Por isso, dirá Paulo que se por meio de um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, (Rm 5, 12) assim pela obediência de um só [como dirá Paulo até a morte e morte de cruz (Fp 2, 8)] todos se tornarão justos (idem 19). Ou como diz em 1Cor 5,7 os novos cristãos são sem fermento de malícia de pecado e perversidade, pois estamos no tempo da Páscoa em que Cristo foi imolado. Finalmente em 1Pd 1, 18-19 temos que fomos resgatados pelo precioso sangue de Cristo como de um cordeiro sem defeito e sem mácula [tal como devia ser o cordeiro pascal]. Disso tudo temos suficientes razões para afirmar que ao chamar Jesus Cordeiro de Deus, o Batista estava indicando o modo como o Pai entregava o Filho e a maneira como o Filho expiava o pecado do mundo.
O TESTEMUNHO: Este é de quem eu disse: após mim vem um homem que foi gerado [gegonen] antes de mim porque era anterior [protos] a mim (30). Hic est de quo dixi post me venit vir qui ante me factus est quia prior me erat. A frase tem sua dificuldade. A tradução que temos apresentado é a mais fiel já que o verbo ginomai grego significa vir a existir e, estando no tempo perfeito, significa veio a existir, ou seja, foi gerado tratando-se de um homem. Porém esta afirmação está em oposição com a história: Jesus nasceu depois de João. O protos significa primeiro tanto na ordem do tempo como na ordem de excelência. Teremos, pois, que encontrar um significado metafórico ou alegórico à expressão do Batista: Ele é superior; e, portanto, sua existência é anterior à minha, de mais valor, de modo que eu seja o servidor do mesmo. No versículo 15, imediatamente após narrar a encarnação do Verbo, o evangelista traz o testemunho do Batista, afirmando: este é aquele do qual eu disse que passou diante de mim porque existia antes de mim (tradução da bíblia de Jerusalém). A Vulgata traduz ante me factum est, quia prior me erat [foi feito {gerado} antes de mim, porque ele era preferível a mim]. Nesse versículo, o evangelista claramente está apontando à eterna geração do Verbo, trazendo, como comentarista, o Batista. Está na mesma linha do próprio Jesus que afirmou: antes que Abraão existisse, EU SOU. (Jo 8,58). O problema é que isso indicaria uma visão trinitária do Batista e uma revelação especial que mesmo a Mãe de Jesus ignorava (Lc 2, 50). Por isso, muitos exegetas pensam que a frase é mais um comentário redacional do evangelista do que uma afirmação do Batista. Seguramente que a frase formal do Batista foi: ¨Ele é maior do que eu e por isso eu, como seu mais humilde servidor [ou escravo], nem sou digno de desatar as correias de suas sandálias para lavar os pés dEle¨ (vs 26-27). Mas, segundo as normas do costume local, só é maior aquele que nasce primeiro e por isso o evangelista traz esse comentário sobre a origem de Jesus em lábios do Batista. Um caso especial foi o de Jacó que colocou Efraim diante de Manassés sendo este último o primogênito (Gn 48, 17-20). Uma solução nova é pensar que o Batista, seguindo o sentimento geral, pensasse que o Messias se identificava com o profeta Elias que devia vir nos últimos tempos. Jesus mesmo identifica o Batista com Elias (Mt 17, 12) e os representantes legais perguntam se ele, o Batista era Elias (Jo 1, 21). Caso a ideia do Batista fosse a de que Jesus era Elias, segundo Malaquias 3, 1-2, pois iria batizar [purificar] com fogo, exatamente como o Batista predizia ser o trabalho de Jesus (Mt 3, 11), evidentemente ele, Jesus, tinha nascido antes do testemunhante.
O PARÊNTESE: Pois eu não o tinha conhecido, mas para que fosse manifestado a Israel, por isso vim eu batizando na água (31). Et ego nesciebam eum sed ut manifestaretur Israhel propterea veni ego in aqua baptizans. O evangelista é um experto ao oferecer o testemunho do Batista. Em primeiro lugar é um testemunho indireto: João não conhecia Jesus. Outra afirmação de João é a de que o seu batismo tinha como fim principal o de revelar, através do mesmo, quem era o que devia batizar com o batismo verdadeiro e ser mostrado a Israel como Filho de Deus (V 32-33). Logo seu testemunho deriva unicamente da revelação, como profeta, e consequentemente, é verdadeiro. Na sua primeira carta, o nosso evangelista afirma que é testemunho procedente de Deus, aquele que afirma ser Jesus o Messias. Quem o negar é o Anticristo, que já está operando no mundo. (1 Jo 4, 2-3). Esta afirmação propõe uma nova visão de quem realmente é o Anticristo: não uma pessoa em particular, mas todas as pessoas que se opõem ao que o evangelista afirma ser o testemunho recebido do céu: Jesus é o Filho de Deus.
SEGUNDO TESTEMUNHO: E testemunhou João dizendo que tenho visto o Espírito, descendo, como pomba, do céu e pousando sobre ele (32). Et testimonium perhibuit Iohannes dicens quia vidi Spiritum descendentem quasi columbam de caelo et mansit super eum. O verdadeiro testemunho é a revelação particular que o Batista teve e que declara publicamente: era a vista do Espírito descer do céu, como pomba, e pousar sobre ele. Com isso coincide com os sinóticos. Só que aqui claramente não é Jesus o que nota a presença do Espírito, como em Marcos e Mateus, ou em presença de uma pequena multidão, como parece afirmar Lucas. Os sinóticos nos oferecem a voz do céu. João, muito mais modesto em sua apresentação, distingue a voz [precedente], do pouso do Espírito que segue a admoestação. É possível pensar que o quarto evangelista seja mais preciso do ponto de vista histórico e que seja o verdadeiro relato. A tradição modificou um pouco –não de modo essencial- mas em suas variantes circunstanciais, o fato de ser João o depositário da revelação, por meio da voz, e da Teofania, por meio da visão. Por isso, seu testemunho do pouso do Espírito é validíssimo, especialmente que isso justificava seu batismo (31) muito mais do que a finalidade do perdão dos pecados. A este testemunho apela Jesus para reforçar sua autoridade (Jo 5, 36). De tudo o que temos visto e comentado, é claro que o autor do quarto evangelho era um discípulo querido do Batista, que seguiu suas ordens de tomar como prioridade quem vinha depois, mas que era o primeiro. A forma e o pouso do Espírito já foram explicados no comentário do domingo anterior.
UMA REDUNDÂNCIA: E eu, pessoalmente, não o tinha conhecido, mas o que me enviou a batizar em água, ele mesmo me disse: sobre aquele que vires descendo o Espírito e permanecendo sobre ele, esse mesmo é quem batiza em Espírito Santo (33). Et ego nesciebam eum sed qui misit me baptizare in aqua ille mihi dixit super quem videris Spiritum descendentem et manentem super eum hic est qui baptizat in Spiritu Sancto. Além de repetir o fato de que entre os dois não existia nenhuma relação e, portanto, o conhecimento que João tinha de Jesus não era humano, mas procedia de outra fonte que era transcendental ou divina, João afirma que o seu batismo era resultado de um mandato divino, de Javé, que não nomeia como era costume entre os contemporâneos para citar o Hashem [o Nome]. Pois bem, esse mesmo que lhe mandou batizar é quem lhe disse o modo de conhecer o verdadeiro Messias: o que batizará em Espírito Sagrado. Propositadamente falamos em e não com, porque o batismo era uma submersão completa. Não era um meio com o qual se realiza um ato, mas uma imersão total em água ou em Espírito. Que entendia João por Espírito? Com toda certeza ele não sabia nada sobre o mistério trinitário. Logo o Espírito deve ser o poder divino. Jesus no seu batismo recebeu, como homem, a plena posse dos carismas que Paulo descreve como obras do poder do espírito em 1 Cor 2, 4 e que descreve em 12, 28. A missão de Jesus é a de batizar ou mergulhar o homem no Espírito Santo. É não unicamente dar ao homem o PODER, mas torná-lo TEMPLO da divindade, como mergulhado nEla. Possivelmente o Batista não conheceu toda a plenitude desse novo batismo e só percebeu algum detalhe que o nosso evangelista, conhecido e praticado o batismo cristão, discerniu em profundidade.
POIS EU TENHO VISTO E TENHO TESTEMUNHADO: Já que eu tenho visto e tenho testemunhado que este é o Filho de (o) Deus (34). Et ego vidi et testimónium perhíbui, quia hic est Fílius Dei.. Os dois verbos estão em perfeito, ou seja, implicam um fato que ainda perdura em seus efeitos. O Batista confirma de modo presente o que ele afirmou no passado. Mas este versículo acrescenta uma ideia nova àquela de que Jesus era quem batizaria com o Espírito [daí que este pousasse sobre Ele]. O Batista passa a afirmar que esse mesmo era o Eleito de Deus. Outros textos como o de Merk e Bambas e a Vulgata trazem Filho de Deus. A palavra grega é uiós. É a palavra técnica para indicar um filho em sentido legal. Distingue-se de teknon que significa o filho em termos biológicos. Logicamente, como homem, Jesus não pode ser chamado de teknon tou Theou, mas teknon Mariam. Com esta expressão, filho de Deus, no AT designava-se o povo de Israel, amado e protegido por Javé (Êx 4, 22-23). Uma segunda versão é a que o identifica com o rei davídico enquanto representava o poder teocrático divino (2 Sm 7, 14 e Sl 2, 7). No NT é o título aplicado a Jesus pelo Pai, contraposto ao Filho do Homem que Jesus aplica a si mesmo (Mc 1,1 e 3, 11). Como supremo representante do novo Reino, o título pertence a Jesus, e como humanidade do Verbo, o título é próprio dele em sentido estrito. Mas nem todos os códices antigos coincidem no testemunho de João que atribui o título a Jesus. Somente um códice uncial traz a palavra Eklektos [eleito]. Com o significado de Filho de Deus, é possível que ambas as locuções [filho e eleito ou rei] signifiquem a mesma coisa: Jesus era o Messias esperado.
PISTAS:
1) Para os sinóticos a importância recai na Epifania ou Teofania com a voz vinda do céu. Para o quarto evangelista o testemunho do Batista é a coisa mais importante porque era a palavra de um profeta, enviado precisamente para apontar o verdadeiro eleito de Deus. Como dirá Pedro em sua segunda carta 1, 18-19, mais do que a própria experiência, o que vale é a palavra dos profetas. Por isso, a palavra de João era o testemunho mais autêntico sobre Jesus.
2) Nos tempos em que foi escrito o quarto evangelho existiam três heresias que João necessitava combater. Os encratitas, que escolhiam uma vida de ascetismo na qual a abstinência da comida e bebida eram necessárias como base espiritual e tinham a continência sexual como principal fundamento da vida cristã. Os ebionitas [pobres] discípulos dos Essênios e de João Batista aceitavam Jesus, mas só como homem entre os homens e guardava a fé mosaica como ainda necessária para a salvação, rejeitando Paulo e admitindo só o evangelho de Mateus. Finalmente os gnósticos que viam em Jesus um dos eons secundários da evolução do pleroma divino. No Prólogo, o quarto evangelho os rejeita e a rejeição continua em todo o discurso do Batista.
3) O testemunho de João é mais do que nunca necessário nos tempos modernos. E qual seria o melhor testemunho? Os milagres? A doutrina? Sem dúvida, o amor. Teresa de Calcutá foi o melhor testemunho tanto na Índia como no mundo inteiro. Jesus mesmo o diria quando afirmou a seus discípulos: nisto vos conhecerão como meus discípulos, se tiverdes amor uns para com os outros (Jo 13, 35).
4) O testemunho que nós recebemos é de que as coisas satisfazem nossas necessidades e, portanto, completam nossa felicidade. Escutamos os cientistas como se eles soubessem a verdade última das coisas. Eles são como o menino que tem um brinquedo e descobrem como funciona, mas não sabem quem foi o inventor do mecanismo. Sabemos que as palavras dos políticos são enganosas, que as palavras da imprensa são uma maneira de satisfazer curiosidades muitas vezes mórbidas. O lucro, em todas as formas possíveis, dirige esses vendedores de mentiras. Qual é a palavra que diz: é oportuno que eu diminua e que ele cresça? Porque nessa palavra, que é de João, encontraremos a verdade.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
08.01.2017
EPIFANIA DO SENHOR JESUS — ANO A
( BRANCO, GLÓRIA, CREIO, PREFÁCIO DO NATAL – OFÍCIO DA SOLENIDADE )
__ "Viemos para adorar o Senhor" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Cada vez mais, a humanidade se faz peregrina em busca daquela luz que ilumine a vida com raios de eternidade. Existe um desejo escondido no coração de todo homem e mulher: encontrar uma estrela (luz) que seja guia e meta para suas vidas, como aconteceu com os Magos e com tantas pessoas que vivem em busca do rosto do Deus. A solenidade da Epifania, palavra que quer dizer, “manifestação”, “revelação”, que hoje estamos celebrando, é uma grande profecia da espiritualidade da luz divina para resplandecer em todos os povos da terra, iluminando os corações com a esperança e conduzindo-os a Deus e a relacionamentos fraternos. Jesus é a manifestação visível da luz divina brilhando entre nós, para que nossas vidas sejam iluminadas com a sua glória.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, nós celebramos hoje a manifestação de Jesus a todos os povos, representados pelos magos provenientes de terras distantes. Eles seguiram a estrela até Belém, onde encontraram o Menino Deus e ofereceram- lhe presentes: ouro, incenso e mirra. Nesta celebração, em profunda adoração ao Pai, com os magos e todos os que reconhecem e adoram o Senhor, oferecemos nossos dons, agora não mais ouro, incenso e mira, mas o próprio Jesus Cristo, imolado e recebido em comunhão no seu Corpo e Sangue.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Entre todas as orientações que o Concílio Vaticano II encaminhou ou pôs em relêvo, uma das mais importantes e significativas é indubitavelmente o apelo à unidade fundamental da família humana. A humanidade tende a um universalismo até agora nunca atingido e que produzirá um novo tipo de homem, cuja cultura não será mais limitada à da sua civilização e cujos meios técnicos serão patrimonio de todos. Este dinamismo impressionante é tão característico da esperança contemporânea, que os que manifestam exclusivismo racial, nacional ou cultural são considerados ultrapassados. Visando ao universalismo os povos caminharão à tua luz e sempre haverá uma estrela no céu...
Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Is 60,1-6): - "Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor."
SALMO RESPONSORIAL 71(72): - "Eis que vem o Senhor Soberano, * tendo em suas mãos, poder e glória."
SEGUNDA LEITURA (Ef 3, 2-3a.5-6): - "Este mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba de o revelar agora."
EVANGELHO (Mt 2,1-12): - "e tu, Belém, terra de Judá,..., de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel"
Homilia do Diácono José da Cruz – SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – ANO A
UMA LUZ PARA TODOS
“Ao verem a estrela, os magos sentiram uma grande alegria!”
A visão que os astronautas tiveram do espaço sideral foi a mesma, mas cada um reagiu de maneira diferente, afirma uma revista científica, que um russo, ao chegar ao espaço e contemplar os planetas, entre eles a terra como uma bola azul, teria afirmado em seu retorno “estive tão alto e não vi deus algum”, ao contrário de um americano que ao contemplar a beleza da criação presente nas estrelas, planetas e na imensidão do universo, confessou emocionado que diante dessa beleza, é impossível não se perceber a presença de uma força Criadora, que só pode ser Divina.
O mesmo sinal alegrou a um, porque o convenceu da existência de Deus, enquanto que ao outro, Deus estava ausente de tudo isso.
Desde que o mundo é mundo, e o primeiro homem pisou nessa terra, Deus se revelou e continua a se revelar através de sinais, convidando cada ser humano a fazer a experiência da fé, porém, cada homem reage diferente. Nesse evangelho segundo São Mateus, na festa da epifania, podemos perceber nitidamente duas reações diferentes diante do Deus que se revela, o rei Herodes e sua corte, que tinham informações precisas sobre o acontecimento, longe de se alegrarem, ficaram perturbados diante do nascimento de um novo rei, já os Magos, ao verem a estrela, encheram-se de alegria e puseram-se a caminho, atraídos pela luz.
Assim, em nossa vida, podemos também nos deixar mover pela fé, fazendo de Jesus o sentido maior, único e verdadeiro da nossa existência, ou podemos então ignora-lo e ficarmos a vida inteira estacionados no limite da nossa lógica humana. A explicação dos sábios da corte, de que o grande rei teria nascido em Belém, deve ter provocado uma gargalhada em geral, pois Belém era apenas uma referência histórica por causa do Rei Davi, porque na realidade era um vilarejo de pastores, periferia da periferia.
A novidade na economia ou na política, só pode acontecer em Brasília ou nas grandes metrópoles brasileiras, onde está o poder político e econômico, uma viagem em busca de algo realmente importante, e que signifique mudanças na vida do povo, como o nascimento de um grande líder, só pode no sentido periferia – centro, e não o contrário. Em se tratando do messias, que era um tema religioso e político ao mesmo tempo, Jerusalém seria o palco das atenções, e não a pequenina e desprezível Belém.
As estruturas poderosas do mundo têm conhecimento e informações importantes sobre o nascimento do menino, porém, os poderosos não se movem pela fé, mas sim pelo poder e pelo interesse político e econômico. Quando os magos buscam informações no palácio de Herodes, só encontram mentira, hipocrisia e falsidade, dos que conheciam a verdade das profecias.
Quando retomam o caminho de Belém, a estrela reaparece no céu, sinalizando que estão na direção certa. Os interesses escusos dos poderosos, motivados pelo egoísmo, não deixam o homem enxergar o sinal de Deus onipresente. O palácio do grande rei Herodes multiplicou-se pelo mundo inteiro e para eles, Deus é um perigoso concorrente, porém, para pessoas como os Magos, que se movem pela fé, Deus é causa de sua alegria e a razão primeira de sua vida. A força e a salvação que vem de Deus, nos leva a dar a ele o melhor que temos por isso os magos abriram seus cofres, ensinando-nos assim que devemos abrir nossos corações.
A Igreja é o Sacramento da Salvação para toda a humanidade, sua missão ao evangelizar é conduzir todo homem para Deus, como a estrela guiou os magos do oriente. Perguntemo-nos então, se o nosso modo de viver como cristãos em comunidade têm ajudado as pessoas a buscarem a Jesus e a fazerem experiência dele em suas vidas. Será que algumas vezes a “côrte do rei Herodes” não nos atrai mais do que a manjedoura?
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – ANO A
“Deus, homem e rei!”
Nalguns países, é costume que o presente de Natal se receba não no dia 25 de dezembro, mas no dia da Epifania. O presente, além do mais, é trazido não pelo Papai Noel, mas pelos Reis Magos, que também trouxeram presentes ao Menino Jesus. Na Espanha, por exemplo, é assim. É assaz famosa a chamada cavalgada dos reis. Refiro-me à que acontece em Madri, trata-se de uma montagem espetacular: ruas enfeitadas, carros decorados majestosamente para o evento e uma multidão composta de todas as idades, ainda que, sem dúvida, as que mais esperam os reis são as crianças. Na cavalgada, três homens se vestem de reis magos e vão distribuindo a todos os que estão nas ruas madrilenas doces e presentes. Tudo é muito bem preparado e as famílias que vão assistir a cavalgada se divertem à beça.
Vi pela televisão esse espetáculo maravilhoso, ainda que com a má sorte de que exatamente no dia em que eu assistia o evento, uma jornalista me deixou um pouco nervoso. A dita-cuja disse a bobagem de que era preciso acabar com as diferenças machistas distribuindo bonecas aos meninos e carrinhos às meninas. Mas não permiti que esse comentário de meio milímetro de inteligência roubasse o meu entusiasmo pela cavalgada. Ademais, outra jornalista teve o acerto de explicar com uma claridade meridiana o significado dos três presentes que os reis levaram ao Menino Jesus: ouro ao rei, incenso a Deus deitado no presépio, mirra ao homem que morreria.
Jesus é Deus, Homem e Rei. E, nessa sociedade que, entre outras coisas, quer dar bonecas aos meninos e carrinhos às meninas, Jesus quer reinar, deseja a adoração das suas criaturas, quer que os homens e as mulheres valorizem mais o ser humano como tal, que a pessoa humana não pise a própria dignidade.
Como os reis magos, tampouco nós iremos de mãos vazias ao encontro do Senhor; ao contrário, levaremos presentes ao Menino Jesus: a nossa adoração já que ele é Deus; as nossas reparações, que desejamos que estejam simbolizadas na mirra, àquele que morrerá pelos nossos pecados; levaremos ainda os propósitos de viver melhor como homens e como mulheres, como filhos e filhas de Deus, reconhecendo a alta dignidade que recebemos e à qual somos chamados. Alegramo-nos com “profunda alegria” (Mt 2,10) ao ver a estrela de Belém, isto é, ao ver esse Menino que iluminou a nossa vida e nos deu a missão de iluminar a dos outros, não com outra luz, mas com a sua. Efetivamente, com a vinda do Filho de Deus, todos, sem distinção, podem caminhar segundo Deus. Todos somos filhos de Deus, todos somos irmãos.
Nós, os cristãos, temos que manifestar aos outros o sentido das suas próprias vidas a través da consciência e da vivência do autêntico sentido da existência. Todos precisam saber o porquê estão nesse mundo: para amar, adorar e glorificar a Deus, para receber os grandes presentes que o Senhor quis trazer-nos, para vivermos como irmãos. Nós fomos criados para a felicidade. Deus quer que sejamos felizes também aqui na terra e, depois, no céu… para sempre!
São Boaventura afirmava que a estrela que nos conduz a Jesus é triple: “a Sagrada Escritura, que temos que conhecê-la muito bem. A outra estrela é a aquela que sempre nos está facilitando andar pelas sendas de Deus fazendo-nos ver e acertar o caminho, esta estrela é a Mãe de Deus, Maria. A terceira estrela é interior, pessoal, e são as graças do Espírito Santo”. Maria é stella matutina, estrela da manhã, que sempre está apontando para Jesus, para o seu querido Filho.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – ANO A
Nota: Em virtude da não publicação do Comentário Exegético desta data, estamos publicando aqui o Roteiro Homilético Simplificado - Ver Roteiro completo com mais sugestões na página ROTEIRO HOMILÉTICO.
Roteiro Homilético Simplificado – SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – ANO A
RITOS INICIAIS
cf. Mal 3, 1; 1 Cron 19, 12
Antífona de entrada: Eis que vem o Senhor soberano. A realeza, o poder e o império estão nas suas mãos.
Diz-se o Glória.
Introdução ao espírito da Celebração
A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade – o Verbo – encarnou para salvar todas as pessoas, sem excepção de raça, nação, cor ou idade. Este chamamento universal à salvação, na à Igreja de Jesus Cristo, é manifestado – Epifania quer dizer manifestação – pela vinda destes homens famosos na ciência e nas virtudes humanas que visitaram Jesus recém-nascido em Belém. Acompanhemo-los em espírito, para adorarmos Jesus que Se fez Menino por nosso Amor.
Preparação penitencial
Aproveitemos esta nossa presença junto de Jesus que preside a esta Celebração para Lhe pedirmos perdão dos nossos pecados e faltas de generosidade, e prometamos emenda de vida.
Oração colecta: Senhor Deus omnipotente, que neste dia revelastes o vosso Filho Unigénito aos gentios guiados por uma estrela, a nós que já Vos conhecemos pela fé levai-nos a contemplar face a face a vossa glória. Por Nosso Senhor…
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura
Monição: O profeta Isaías dirige-se à cidade de Jerusalém, destruída e humilhada pelos babilónios, para lhe anunciar a restauração que lhe trará o Messias. Ele ilumina a cidade, situada no alto de um monte e, por isso, iluminada pelos primeiros raios de sol, enquanto as multidões, ainda mergulhadas na escuridão da noite, caminham ao seu encontro.
Isaías 60, 1-6
1Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. 2Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. 3As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. 4Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. 5Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. 6Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá; hão-de trazer ouro e incenso e proclamarão as glórias do Senhor.
- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.
O texto canta a glória da Jerusalém renovada, figura da «Jerusalém nova descida do Céu» (cf. Apoc 21, 2.23-24). A visão universalista que o poema apresenta corresponde à realidade da Igreja, que é católica, universal.
3 «As nações caminharão à tua luz, e os reis ao esplendor da tua aurora». Não há dúvida de que se pode adaptar perfeitamente este texto isaiano ao mistério hoje celebrado: os «magos» – este texto terá contribuído para se lhes chamar «reis» –, que seguem a «luz» da estrela, são os pioneiros de entre os povos gentios a acorrer ao encontro do Messias.
6 A menção de povos do Oriente – «Madiã e Efá» –, dos ricos comerciantes de «Sabá», a sul da Arábia (Yémen) e, sobretudo, os produtos que trazem – «ouro e incenso» – fazem lembrar o que nos relata o Evangelho: a vinda dos Magos do Oriente que trazem «oiro, incenso e mirra».
Salmo Responsorial
Monição: Na sequência da profecia de Isaías, proclamada na primeira leitura, o salmo 71 descreve o Reino de Deus como um reino de justiça para os pobres e humildes. Este Reino foi inaugurado pelo nascimento do Salvador, mas há-de chegar à sua plenitude, acolhendo povos de todas as nações. Cantemos, pois, com esperança:
SALMO RESPONSORIAL – 71 (72)
Refrão: Virão adorar-Vos, Senhor, todos os povos da terra.
Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao filho do rei.
Ele governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com equidade.
Florescerá a justiça nos seus dias e uma grande paz até ao fim dos tempos.
Ele dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra.
Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes, os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas.
Prostrar-se-ão diante dele todos os reis, todos os povos o hão-de servir.
Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo.
Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos.
Segunda Leitura
Monição: S. Paulo fala do plano de salvação que nos trouxe Jesus Cristo, estabelecido pelo Pai, desde toda a eternidade. Agora, este plano foi também revelado aos gentios, e também eles são herdeiros da promessa de Deus.
Efésios 3, 2-3a.5-6
Irmãos: 2Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: 3apor uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, 5ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: 6os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.
- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.
Nesta passagem de Efésios, S. Paulo define em que consiste o «mistério de Cristo» (v. 4). Os gentios, que vêm à Igreja, estão no mesmo pé de igualdade que os judeus procedentes do antigo povo de Deus: não há lugar para cristãos de primeira e de segunda! O texto original é muito expressivo: os gentios vêm a ser «co-herdeiros» («recebem a mesma herança que os judeus», traduz, parafraseando, o texto português oficial), «com-corpóreos» (isto é, «pertencem ao mesmo Corpo» Místico de Cristo, que é a Igreja una), e «com-participantes na Promessa» («beneficiam da mesma promessa» de salvação). E é este o mistério que também se celebra na Festa da Epifania: Cristo igualmente Salvador de gentios e judeus.
Aclamação ao Evangelho
Aleluia
Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorar o Senhor. Mt 2, 2
Evangelho
Monição: Brilha diante de nós a estrela da Palavra de Deus, proclamada todas as vezes que participamos na celebração da Eucaristia. Também nós queremos acolhê-la com fé e procurar seguir esta estrela para caminharmos ao encontro do Salvador.
São Mateus 2, 1-12
1Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. 2«Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». 3Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. 4Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. 5Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo profeta: 6‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». 7Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. 8Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». 9Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. 10Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. 11Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, caindo de joelhos, prostraram-se diante d’Ele e adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. 12E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.
- Palavra da Salvação.
- Glória a Vós, Senhor!
O Evangelho da adoração dos Magos foi objecto das mais belas reflexões teológico-espirituais ao longo da história: já nos fins do séc. II, Tertuliano via nas ofertas dos Magos símbolos do reconhecimento de quem era Jesus: oferecem-lhe «ouro» como Rei, «incenso» como Deus, «mirra» (outra resina aromática, usada na sepultura) como Homem. Santo Ambrósio fixa-se em que os Magos vão por um caminho e voltam por outro, porque regressam melhores, depois do encontro com Cristo. Santo Agostinho vê nos Magos as primitiæ gentium, a par dos pastores que são as primícias dos judeus, etc. Mas ainda hoje os comentadores retomam e actualizam os temas do relato: Cristo como verdadeira luz, o caminho dos pagãos para Cristo, o simbolismo dos presentes, a fé e perseverança dos Magos, a busca do sentido da Escritura e o sentido de procura do caminho, etc..
O próprio relato encerra um grande alcance teológico: Jesus é o verdadeiro «rei» que merece ser procurado e adorado por todos; a Ele acorrem, vindas de longe, gentes guiadas por uma estrela e pela Escritura; ainda menino e sem falar, já divide os homens a favor e contra Ele; a homenagem que Lhe prestam os Magos é a resposta humana ao «Emanuel, Deus connosco»; n’Ele se cumprem as profecias que falavam da vinda de reis e de todos os povos a Jerusalém (Is 60 e Salm 72). Mais ainda, ao nível da própria redacção de Mateus, o relato ilustra a teologia específica do evangelista: sendo este Evangelho dirigido a judeo-cristãos, confrontados com a Sinagoga, que não aceita Jesus, o episódio dos Magos documenta bem a teologia do «messias rejeitado», pois Jesus, logo ao nascer, encontra a hostilidade do poder e a indiferença das autoridades religiosas; é também uma ilustração das palavras de Jesus, «virão muitos do Oriente…» (Mt 8, 11).
Em face de tudo isto, o estudioso não pode deixar de se interrogar se não estaremos perante um teologúmeno, uma criação de Mateus para dar corpo a uma ideia teológica. A verdade é que em toda a tradição cristã se deu grande valor à adoração dos Magos e à festa da Epifania. Se detrás disto não há realidade nenhuma, o significado de tudo fica privado da sua base mais sólida.
Nota sobre a questão da historicidade do relato: A crítica bíblica moderna tem proposto teorias bastante discordantes; por um lado, temos um grupo em que R. E. Brown reúne as objecções que se têm levantado contra a historicidade do relato, que denotam – diz – «uma inverosimilhança intrínseca»: o movimento da estrela de Norte para Sul (Jerusalém – Belém), a sua paragem sobre a casa, a consulta de Herodes aos escribas e sacerdotes, seus inimigos, a indicação de Belém como um dado desconhecido ao contrário de Jo 7, 42, a imperdoável ingenuidade de Herodes que não manda espiar os Magos, o facto de não se ter identificado o menino após a visita de homens de fora a uma pequena povoação, o silêncio de Lucas sobre a visita; estes autores concluem que se trata, então, de uma construção artificial feita com textos do Antigo Testamento. Por outro lado, temos autores mais recentes como R. T. France (The Gospel according to Mathew) que defendem a credibilidade histórica do relato, demonstrando que as dificuldades contra têm solução. Com efeito, embora estejam subjacentes no relato vários textos do A. T., apenas um é citado, podendo mesmo ser suprimido sem interromper o discurso (vv. 5b-6), o que é sinal de que a citação foi acrescentada a um relato preexistente, não sendo a citação a dar origem ao relato. Os pretensos traços duma lenda edificante, ou midraxe hagadá, nada têm de historicamente improvável, fora o caso da estrela que pára sobre a casa, mas já S. João Crisóstomo observava que a estrela não vinha de cima, mas de baixo, pois não era uma estrela natural e não é provável que a Igreja, que bem cedo entrou em conflito com a astrologia, tivesse inventado uma história a favorecê-la. O facto de Herodes não ter mandado espiar os Magos não revela ingenuidade, mas prudência para que os seus guardas não viessem a dificultar a descoberta do Menino, e também uma plena confiança em que os Magos voltassem; finge colaborar com eles, a fim de obter mais dados. Também René Laurentin sublinha a credibilidade histórica de certos pormenores, como a existência de astrólogos viajantes («magos») no Oriente, ou a astúcia e crueldade de Herodes (matou a maior parte das suas 10 mulheres, vários filhos e muitas pessoas influentes na política); e, sobretudo, Mateus revela «sensibilidade histórica», ao não fazer coincidir bem os factos que narra com as citações e alusões ao A. T.: se os factos fossem inventados, teriam sido forjados de molde a que se adaptassem bem às passagens bíblicas (a estrela da profecia de Balaão – Num 24, 17 – não é a estrela que indica o Messias, mas sim o próprio Messias, etc.). Também a propaganda religiosa judaica tinha despertado a expectativa do nascimento do Messias (ver, por ex., a IV écloga de Virgílio) e fervorosos aderentes entre os gentios, o que torna mais compreensível a visita destes estranhos. A. Díez Macho afirma que «a intenção de Mateus é narrar história confirmada com profecias ou paralelos vétero-testamentários», e descobre no episódio do Magos uma grande quantidade de «alusões» ao A. T. (o chamado rémez, figura retórica muito do gosto dos semitas e frequente na Bíblia). Este célebre biblista espanhol (assim também G. Segalla) diz que o fenómeno da estrela pode muito bem corresponder à conjunção de Júpiter e Saturno que se deu na constelação de Peixe, e que teve lugar três vezes no ano 7 a. C., data provável de nascimento de Cristo. Mas a verdade é que não se pode negar o carácter popular do relato, pouco preocupado com o rigor das coisas, pois até dá a entender que a estrela se deslocava de Norte para Sul até parar sobre a casa.
Sugestões para a homilia
1. A luz de Cristo brilha no rosto da Igreja
2. Jesus Cristo, alegria do mundo
3. Jesus Cristo, luz dos nossos olhos
4. Ajudemo-nos uns aos outros
5. A lição dos Magos
6. Um sentido para a vida
7. Generosidade e espírito de sacrifício
8. Humildade e perseverança
9. As nossas dádivas
10. Docilidade.
11. Entraram na casa
1. A luz de Cristo brilha no rosto da Igreja
Isaías dirige a sua profecia à Cidade Santa de Jerusalém, profundamente humilhada e destruída por Nabucodonosor, rei da Babilónia. Anuncia que novos tempos vão surgir para a nova Jerusalém, a Igreja e, por isso, deve abandonar o luto e a tristeza, para se revestir de festa. «Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti glória do Senhor.»
2. Jesus Cristo, alegria do mundo.
«Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor.» Ele veio trazer-nos a filiação divina que dá sentido a tudo quanto se passa na nossa vida. Em vez do medo, do pessimismo e da tristeza, podemos cantar com verdadeira alegria, como a criança que se abandona ao carinho dos pais.
Sabemos que quando pedimos ao Senhor que nos alivie de uma determinada preocupação, e Ele tarda – segundo nosso modo de ver – a atender-nos, ou procura ajudar-nos a crescer na fé e na intimidade com Ele, ao fazer-nos rezar mais tempo, ou tem outra coisa melhor para nos dar.
Deixemo-nos ganhar por esta alegria de caminhar ao encontro de Jesus Cristo, principalmente em cada Domingo, e agradeçamos ao Senhor o facto de o podermos fazer em inteira paz e liberdade e animados pelo calor de toda a comunidade cristã em que nos encontramos.
3. Jesus Cristo, luz dos nossos olhos.
«Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos.» A doutrina de Jesus Cristo é a chave para compreender a vida, para encontrar o verdadeiro significado das coisas e dos acontecimentos.
A vinda de Cristo é definitiva e os Seus ensinamentos são imutáveis. Não há os «tempos novos» de que nos falam alguns, como se a Lei de Deus ou algumas verdades da fé tivessem caído em desuso.
Deus convida-nos a caminhar ao encontro desta luz que é Ele mesmo, e isto é um mimo do Senhor e um privilégio para nós. Quantos vivem na escuridão da ignorância, do pecado, porque perderam a fé!
Esta verdade é ainda mais actual em nossos dias. O Senhor disse: «Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.» Sem o coração limpo, vivendo no meio da imundície, a luz da fé apaga-se. Começa-se por abandonar a oração, a participação na Missa Dominical, e lança-se mão da bruxaria e superstição para dar algum significado – falso! – à vida.
4. Ajudemo-nos uns aos outros.
«Olha em redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro.» Contra esta corrente de egoísmo, as pessoa sentem necessidade de serem úteis aos mais carenciados, e assim se desenvolveu nestes dias o voluntariado.
«Os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas serão trazidas nos braços.» É uma profecia que nos anima a ajudar os outros a encontrar sentido no que andam a fazer neste mundo, na defesa da vida.
Há uma cena no Antigo Testamento que nos dá a chave do que está a acontecer hoje. Numerosos inimigos, numa grande superioridade, vêm combater o Povo de Deus, no tempo dos juízes.
Deus protege o Seu Povo. De repente, apodera-se o medo dos inimigos, e aquele exército numeroso começa a combater entre si e matam-se uns aos outros. Perante um exército em que não escapou ninguém, os Israelitas não têm necessidade de combater para se livrarem do inimigo.
Hoje assistimos no mundo a um gesto semelhante. Os que se deixaram dominar pelo demónio, matam-se uns aos outros, programando a morte a partir já do seio materno, afastam as pessoas de idade como incómodas. No final, uma grande solidão e tristeza cobre a terra. Acontece sempre isto, quando as pessoas vão contra a vontade de Deus. A Epifania é um hino à luz, à vida, à alegria de viver.
Defendamos a vida e as outras verdades elementares da nossa fé, e tornar-se-á realidade aquilo que cantamos no salmo de meditação: Virão adorar-vos, Senhor, todos os povos da terra!
5. A lição dos Magos
O Evangelho fala-nos de um grupo de homens valentes que empreenderam uma grande e difícil viagem para visitarem Jesus no presépio.
Não sabemos quantos eram. A tradição fixou-se em três, fundada nos três presentes que ofereceram ao Menino: ouro, incenso e mirra. Mas podiam ser muitos mais, de tal modo que alguns chegam a falar em onze e apontam até o nome de alguns deles.
Nesta deslocação que fazem dão-nos um testemunho de vida que nos anima no meio desta tentação de desleixo e preguiça.
6. Um sentido para a vida.
Não eram pessoas ignorantes, fáceis de iludir. Observavam os astros e o Senhor manifestou-Se-lhes por um sinal. O Evangelho fala de um astro especial, de uma estrela.
Atentos aos sinais, e talvez porque tinha chegado até eles a promessa da vinda de um Redentor, puseram-se corajosamente a caminho. Talvez tenham vindo de diversos lados e o encontro entre eles se tenha dado ali perto. A estrela junto estes homens. A fé – a estrela – reúne-nos a todos na procura do mesmo Senhor.
7. Generosidade e espírito de sacrifício.
Não estamos perante uma viagem turística, em que as recordações são preferentemente boas. Foi necessário abandonar a própria casa, empreender uma longa viagem cheia de incertezas e de insegurança – as quadrilhas de ladrões assaltam, de preferência, as pessoas ou grupos onde lhes parece que vão encontrar dinheiro e eles pertenciam a este número. Fazem despesas e submetem-se ao desconforto com que se viajava nessa época.
8. Humildade e perseverança.
Quis o Senhor experimentá-los com uma prova: a estrela deixou de ser vista. Em que direcção caminhar agora? Não será melhor abandonar este projecto e voltar para trás?
Decidem, então, recolher informações na cidade de Jerusalém. Com o andar das buscas, foram ter ao palácio real, mais em conformidade com a condição social deles.
Pode haver momentos na vida em que nos parece que a vida perdeu todo o sentido, que a oração não tem valor e o esforço para amar a Deus é uma miragem
Quer isto dizer que se ocultou a estrela do nosso ideal. Não nos resta outra solução que a de orar e pedir ajuda a alguém.
Encontramos essa ajuda num conselho de pessoa com boa formação e bom critério e, principalmente, na confissão sacramental. Aí poderá ajudar-nos o sacerdote, com a formação recebida, com a prática que lhe dá o contacto com várias pessoas e, sobretudo, com a graça de estado, recebida no Sacramento da Ordem.
Por fim, esta tenacidade alcançou-lhes a alegria de se encontrarem com Jesus e Nossa Senhora.
9. As nossas dádivas.
Depois de uma viagem tão longa, de tantos sacrifícios e dúvidas, poderiam estes homens pensar que já tinham feito por Deus – para se encontrarem com Ele – mais do que o necessário.
No entanto sentem ainda a exigência de serem generosos. Lembramo-nos de agradecer ao Senhor a possibilidade de participar neste encontro com Ele em cada Domingo na Santa Missa? Ou não acontecerá que estamos à espera que Deus no-lo agradeça, como se Lhe tivéssemos feito um grande favor, sempre com uma queixa?
Estes homens ofertam ouro – como Rei –, incenso – como Deus – e mirra – como Homem.
Nós podemos ofertar ao Senhor, na Missa de cada Domingo:
– O ouro do nosso trabalho, feito com esmero, de cara alegre, e na harmonia com todos os que estão ligados pelo mesmo empreendimento. O nosso trabalho deve ser obra de Deus.
O donativo que depositamos no cesto, quando se recolhem os dons, é um sinal de gratidão. Damos ao Senhor um pouco daquilo que recebemos pelo nosso trabalho, porque foi Ele quem nos deu as forças para trabalhar.
– O incenso da nossa oração. Acreditamos na sua eficácia e necessidade, para chegarmos à intimidade com o Senhor? E praticamo-la todos os dias, individualmente e em família?
– A mirra dos nossos sacrifícios e cruzes de cada dia. Desde o peso do trabalho, às limitações de saúde, ao feitio das pessoas com quem trabalhamos ou que fazem parte da nossa família, tudo pode ser aproveitado para o nosso grande ofertório do Domingo.
10. Docilidade.
Estes homens mudam os seus projectos de imagem de regresso. Herodes tinha-lhes pedido que se informassem bem do lugar onde estava Jesus, porque também queria ir adorá-l’O.
Como não o conheciam nem sabiam das suas intenções, um anjo veio avisá-los em sonho, para que saíssem em segredo e fossem por outro caminho que não passasse em Jerusalém.
E da estalagem onde, certamente, se hospedaram, depois da visita ao Menino, seguiram contentes para suas casas.
Devemos estar atentos ao que O Senhor nos pede, porque será necessário, muitas vezes, mudar os projectos. A doença de um filho ou de outro familiar comprometeu as férias, ou impossibilitou um passeio de Domingo, Por que havemos e encarar sempre com má cara aquilo que nos exige mudar de planos?
11. «Entraram na casa, viram o Menino com Sua Mãe e, caindo diante de joelhos, prostraram-se diante d’Ele e adoraram-n’O.»
Duas coisas chamam a nossa atenção:
– José não estava lá. Logicamente, estaria a trabalhar, ganhando o sustento para a Sagrada Família.
– Entraram na casa. Jesus e Maria já não estavam na gruta. José não era homem para esperar que Deus, com milagres, lhe resolvesse os problemas e, por isso, procurou melhorar a situação da família.
Ora e trabalha, deve ser o nosso lema, levando para a Celebração da Eucaristia de cada Domingo o nosso ofertório, como resposta ao Senhor que Se nos dá.
Fala o Santo Padre
«Na adoração dos Magos, se começou a realizar a adesão dos povos pagãos à fé em Cristo.»
Queridos irmãos e irmãs!
A hodierna solenidade da Epifania celebra a manifestação de Cristo aos Magos, acontecimento a que Mateus dá grande relevo (cf. Mt 2, 1-12). Narra no seu Evangelho que alguns «Magos» provavelmente chefes religiosos persas chegaram a Jerusalém guiados por uma «estrela», um fenómeno luminoso celeste por eles interpretado como sinal do nascimento de um novo rei dos Judeus. Na cidade ninguém estava ao corrente, aliás, o rei reinante, Herodes, permaneceu muito perturbado com a notícia e concebeu o trágico desígnio do «massacre dos inocentes», para eliminar o rival acabado de nascer. Os Magos, ao contrário, confiaram nas Sagradas Escrituras, sobretudo na Profecia de Miqueias segundo a qual o Messias teria nascido em Belém, a cidade de David, situada a cerca de dez quilómetros a sul de Jerusalém (cf. Mq 5, 1). Tendo partido naquela direcção, viram de novo a estrela e, cheios de alegria, seguiram-na até quando ela parou sobre uma cabana. Entraram e encontraram o Menino com Maria; prostraram-se diante d’Ele e, como homenagem à sua dignidade real, ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra.
»Vimos a sua estrela no oriente e viemos para adorar o Senhor» (Aclamação ao Evangelho, cf. Mt 2, 2). O que nos surpreende sempre, ao ouvir estas palavras dos Magos, é que eles se prostaram em adoração diante de um simples menino nos braços da sua mãe, não no quadro de um palácio real, mas na pobreza de uma cabana em Belém (cf. Mt 2, 11). Como foi possível? Que convenceu os Magos que aquele menino era «o rei dos Judeus» e o rei dos povos? Certamente persuadiu-os o sinal da estrela, que eles tinham visto «surgir» e que tinha parado precisamente ali onde se encontrava o Menino (cf. Mt 2, 9). Mas também a estrela não teria sido suficiente, se os Magos não fossem pessoas intimamente abertas à verdade. Ao contrário do rei Herodes, tomado pelos seus interesses de poder e de riquezas, os Magos propendiam para a meta da sua busca, e quando a encontraram, mesmo sendo homens cultos, comportaram-se como os pastores de Belém: reconheceram o sinal e adoraram o Menino, oferecendo-lhe os dons preciosos e simbólicos que tinham levado consigo.
Por que é tão importante este acontecimento? Porque nele se começou a realizar a adesão dos povos pagãos à fé em Cristo, segundo a promessa feita por Deus a Abraão, sobre a qual refere o Livro do Génesis: «Todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas» (Gn 12, 3). Portanto, se Maria, José e os pastores de Belém representam o povo de Israel que acolheu o Senhor, os Magos são ao contrário as primícias das Nações, chamadas também elas a fazer parte da Igreja, novo povo de Deus, baseado não já na homogeneidade étnica, linguística ou cultural, mas unicamente na fé comum em Jesus, Filho de Deus. Portanto, a Epifania de Cristo é ao mesmo tempo epifania da Igreja, isto é, manifestação da sua vocação e missão universal. […]
Queridos irmãos e irmãs, detenhamo-nos também nós idealmente diante do ícone da adoração dos Magos. Ele contém uma mensagem exigente e sempre actual. Exigente e sempre actual antes de tudo para a Igreja que, espelhando-se em Maria, está chamada a mostrar Jesus aos homens, nada mais do que Jesus. De facto, Ele é o Tudo e a Igreja existe unicamente para permanecer unida a Ele e dá-Lo a conhecer ao mundo. […]
Bento XVI, Vaticano, 6 de Janeiro de 2007
Liturgia Eucarística
Oração sobre as oblatas: Olhai com bondade, Senhor, para os dons da vossa Igreja, que não Vos oferece ouro, incenso e mirra, mas Aquele que por estes dons é manifestado, imolado e oferecido em alimento, Jesus Cristo, vosso Filho, Nosso Senhor, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio da Epifania: p. 460 [592-704]
No Cânone Romano diz-se o Communicantes (Em comunhão com toda a Igreja) próprio. Nas Orações Eucarísticas II e III faz-se também a comemoração própria.
Santo: J. Santos, NRMS 6 (II)
Saudação da Paz
Jesus Cristo é anunciado, ao longo do Antigo testamento, como o Príncipe da Paz. A paz só se consegue pelo amor de Deus em todas as suas formas. Procuremos viver na unidade e reconciliação, caminhos da verdadeira paz. Saudai-vos na paz de Cristo!
Monição da Comunhão: O Senhor, depois de nos ter iluminado com a Sua Palavra, convida-nos agora – se estamos devidamente preparados – a recebê-l’O, vivo e real, como estava no Presépio, na Sagrada Comunhão. Revistamo-nos da fé, amor e devoção de Maria Santíssima, para nos aproximarmos d’Ele com o Seu agrado.
Antífona da comunhão: Vimos a sua estrela no Oriente e viemos com presentes adorar o Senhor.
Cântico de acção de graças: A minha alma louva, M. Carneiro, NRMS 76
Oração depois da comunhão: Iluminai-nos, Senhor, sempre e em toda a parte com a vossa luz celeste, para que possamos contemplar com olhar puro e receber de coração sincero o mistério em que por vossa graça participámos. Por Nosso Senhor…
Ritos Finais
Monição final: À imitação dos Reis Magos que, no regresso, terão anunciado aos familiares, amigos e conhecidos, o grande tesouro que encontraram em Belém, levemos também às pessoas com quem partilharmos a vida durante a semana, a notícia de que Jesus Cristo já veio e a todos nos espera.
Homilias Feriais
SEMANA DEPOIS DA EPIFANIA
2ª feira, 7-I: A primeira mensagem de Cristo: A conversão.
1 Jo 3, 22- 4, 6 / Mt 4, 12-17. 23-25
A partir de então, Jesus começou a dizer: Arrependei-vos, pois o Reino de Deus está próximo.
É esta a primeira mensagem de Jesus Cristo, ao começar o seu ministério público. «A primeira obra da graça do Espírito Santo é a conversão, que opera a justificação, segundo a mensagem de Jesus no princípio do Evangelho. ‘Convertei-vos, que está perto o Reino dos Céus’ (Ev)» (CIC, 1989). A conversão exige uma renúncia ao pecado e ao que é incompatível com os ensinamentos de Cristo (é o Anticristo: cf. Leit); e pede um regresso sincero a Deus, com o auxílio da graça.
3ª feira, 8-I: O amor de Deus para connosco.
1 Jo 4, 7-10 / Mc 6, 34-44
Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho.
O Verbo fez-se carne para que assim pudéssemos conhecer o amor de Deus: «Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho unigénito, para que vivamos por Ele» (Leit). E esse amor manifesta-se na compaixão que Ele tem pelos nossos problemas, de ordem espiritual: «começou a instrui-los demoradamente»; e de ordem material: o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. Este milagre prefigura já uma das maiores manifestações de amor: a Eucaristia.
4ª feira, 9-I: Um segredo íntimo de Deus.
1 Jo 4, 11-18 / Mc 4, 35-41
Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele.
S. João afirma que «a própria essência de Deus é o Amor. Ao enviar, na plenitude dos tempos, o seu Filho único e o Espírito do Amor, Deus revela o seu segredo mais íntimo» (CIC, 221). Este amor será perfeito em nós se amamos o próximo; se tivermos muita confiança em Deus; se não nos deixarmos vencer pelo medo (cf. Leit). Medo tiveram os discípulos, quando apareceu a tempestade: Sou Eu, não temais (Ev). Esta é igualmente uma verdade essencial: Jesus é a nossa segurança.
5ª feira, 10-I: A causa do endurecimento do coração.
1 Jo 4, 19- 5, 4 / Lc 4, 14-22
É este o mandamento que recebemos dele: quem ama a Deus, ame igualmente o seu irmão.
«O amor, como o Corpo de Cristo, é indivisível: nós não podemos amar a Deus, a quem não vemos, se não amarmos o irmão ou a irmã, que vemos (cf. Leit). Recusando perdoar os nossos irmãos ou irmãs, o nosso coração fecha-se, a sua dureza torna-o impermeável ao amor misericordioso do Pai» (CIC, 2840. Aqui está uma explicação possível do endurecimento do nosso coração: a recusa de compreender, de desculpar os nossos irmãos e, como consequência, a ficar impenetrável às graças de Deus. Melhoremos o nosso relacionamento com aqueles com quem convivemos.
6ª feira, 11-I: O pecado e as doenças.
1 Jo 5, 5-6. 8-13 / Lc 5, 12-16
Jesus estendeu a mão e tocou-lhe, dizendo: Quero, fica curado.
Jesus fica comovido com o sofrimento do leproso (cf. Ev), mas não cura todos os doentes. As curas eram apenas um sinal de uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e a morte: «Na cruz, Cristo tomou sobre si todo o peso do mal e tirou o pecado do mundo, do qual a doença não é mais do que uma consequência» (CIC, 1505). «E, pela sua paixão e morte na cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento: desde então este pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora» (CIC, 1505).
Sábado, 12-I: O pecado mortal e o pecado venial.
1 Jo 5, 14-21 / Jo 3, 22-30
Se alguém vir seu irmão cometer um pecado que não leva à morte… Há um pecado que leva à morte.
«Os pecados devem ser julgados segundo a sua gravidade. A distinção entre pecado mortal e venial já perceptível na Escritura (cf. Leit), impôs-se na Tradição da Igreja. A experiência dos homens corrobora-a» (CIC, 1854). Sabemos que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno (cf. Leit). Por isso, durante toda a nossa vida travaremos um grande combate: «Um duro combate contra os poderes das trevas atravessa toda a história dos homens… Empenhado nesta batalha, o homem vê-se na necessidade de lutar sem descanso para aderir ao bem» (GS, 37).
Celebração e Homilia: Fernando Silva
Nota Exegética: Geraldo Morujão
Homilias Feriais: Nuno Romão
Sugestão Musical: Duarte Nuno Rocha
Fonte: Celebração Litúrgica
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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