GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
29.01.2017
IV DOMINGO DO TEMPO COMUM — ANO A
( Verde, Glória, Creio IV Semana do Saltério )
__ "Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem por causa de mim.
Alegrai-vos e exultai porque será grande a vossa recompensa..." __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Hoje, leremos um dos mais famosos textos não só do Evangelho, mas da literatura universal: O Sermão da Montanha. Pode ser considerado uma síntese de todos os ensinamentos de Jesus, ou o retrato feliz de quem compreendeu e vive o que Jesus chamou de Reino de Deus. As bem-aventuranças contêm a doutrina do Reino, as qualidades de quem deixou de ser o homem carnal, “o homem velho” e passou a ser o homem espiritual, renascido do Espírito Santo.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, estamos aqui reunidos como povo sacerdotal, assembleia santa, para oferecer a Deus um sacrifício de louvor, em comunhão com a oferta que Jesus fez de sua vida por nós na cruz. Hoje, o Senhor nos convida à montanha sagrada de onde ele proclamará as bem-aventuranças, prometidas a todos aqueles que temem o Senhor e o têm como sua única esperança. Demos graças ao Pai que, no seu Filho Jesus, nos deu um caminho de felicidade que não se confunde com as falsas felicidades que o mundo nos oferece.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: O evangelho das bem-aventuranças domina a liturgia da palavra desse domingo. É a primeira parte do sermão da montanha. Jesus subindo ao monte nos aparece como o novo Moisés, promulgador da nova Lei ("mas eu vos digo...!") no novo Sinai. Proclamando bem-aventurados os pobres e os humildes, Jesus fala a linguagem que Deus já havia usado com seu povo através dos profetas, como por exemplo Sofonias que ouvimos na primeira leitura. A mesma linguagem emprega São Paulo na segunda leitura: os primeiros a serem chamados são os pequenos, os pobres, os que o mundo despreza, mas que são grandes nos reino dos céus.
Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Sf 2,3; 3,12-13): - "Buscai o Senhor, humildes da terra, que pondes em prática seus preceitos"
SALMO RESPONSORIAL 145(146): - "Felizes os pobres em espírito, * porque deles é o Reino dos Céus."
SEGUNDA LEITURA (1Cor 1, 26-31): - "quem se gloria, glorie-se no Senhor."
EVANGELHO (Mt 5,1-12a): - "Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus."
Homilia do Diácono José da Cruz – 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
"AS BEM-AVENTURANÇAS"
O chamado “Sermão da Montanha ou das Bem Aventuranças” sempre corre o risco de ter duas interpretações equivocadas: primeiro pensar que se trata do anúncio de uma revolução social, Agora chegou a vez dos pobres! Visto por esta ótica esvazia-se totalmente o seu rico conteúdo, não é e nunca foi missão de Jesus, resolver os problemas sociais resultantes das desigualdades e injustiças praticadas contra as classes menos favorecidas,a má distribuição de renda, o mau uso dos Bens públicos etc. Se osse isso, pordem ter certeza de que , usando de seus poderes Jesus já teria botado as coisas no “eixo”, ele não pode ser reduzido a um Líder Revolucionário mesmo porque, é bom lembrar que as pessoas que o viam dessa maneira em seu tempo, viram seus sonhos e projetos revolucionários ir por água abaixo quando Jesus passou pela morte vergonhosa da cruz, enterrando de vez todos os anseios de liberdade humana, presente no coração dos Judeus.
A outra interpretação, também equivocadíssima, principalmente nas Bem Aventuranças de Mateus, que escreveu o seu evangelho para os Judeus, é vê-lo como um belo discurso moral, ensejando um modo de viver que nos conduza a uma ascese e nesse caso, Pobre em Espírito, Mansos e Puros de Coração, nos remete ao meramente espiritual, interpretação predileta de muitos, que não querem viver uma religião comprometida com a transformação das pessoas e da sociedade, tornando assim suas relações mais justas e fraternas.
Na verdade, as Bem Aventuranças são o programa de Vida de Jesus, pois pode se ver Nele a realização plena de cada uma delas, é Jesus esse Pobre em Espírito, é ele esse Manso que herdará a terra, é ele esse puro de coração que tem permanentemente a visão de Deus, é ele esse perseguido, injuriado e incompreendido, esse aflito que foi consolado, esse que tem sede e fome de Justiça, basta olhar atentamente os evangelhos.
É exatamente essa proposta de vida que é toda sua, que Jesus nos apresenta nesse evangelho, como Dom que o Pai oferece, como um chamado que requer uma resposta.
Não é um ideal de vida compatível com o que o mundo nos propõe, onde, Ser Feliz e Bem Aventurado é ter uma sorte melhor que a do pobre, trata-se de uma Bem Aventurança terrena que supõe a riqueza, e tudo o mais que está atrelado nela, Ter, Poder, prestígio, influência, e ainda a impunidade, que se consegue nos meandros da política, das negociatas e do Poder constituído, que ainda está muito longe de ser uma instituição a serviço do Povo.
Os sequiosos por mudanças sociais irão indagar, cheios de indignação “Mas então esse Jesus de Mateus está “em cima do muro”? Não se importa com a sorte dos pobres e miseráveis, dos famintos e injustiçados, dos marginalizados e explorados? “ Claro que Jesus se importa....
Mas ele prefere ir direto a raiz do mal, que é a ausência de espiritualidade no coração do homem, a falta de reconhecimento de que Deus é o Senhor da História, por isso Mateus acrescentou a sábia expressão “...em espírito” depois da palavra pobre, ficando assim muito claro que, a situação social não é o fator determinante das Bem Aventuranças pois, um rico pode sim, fazer experiência de Deus, e um pobre poderá não fazê-lo, depende muito de quem é Deus para o rico e quem é Deus para o pobre.
Portanto, não se trata de “Ser Pobre” mas de fazer-se pobre pelo Reino, o que é bem mais difícil uma vez que requer humildade, desapego, esvaziamento de si mesmo, pureza de coração, e acima de tudo o reconhecimento de que só Deus é a Segurança, ser manso é exatamente não abusar do poder para se impor e exigir (até nas comunidades isso acontece...) mas sim submeter-se aos outros, mesmo sendo superior.
Portanto, ser bem aventurado e feliz diante do evangelho,é ter se tornado discípulo do Senhor, vivendo a vida de acordo com os valores do seu reino que é a justiça e a paz, conseqüência da igualdade, partilha e fraternidade. Quem trilha este caminho, sem se desviar para os tentadores atalhos que o mundo nos coloca, será feliz e bendito porque confiou e colocou toda sua esperança, não naquilo que o mundo oferece mas sim na vida nova que vem da graça de Deus, e que se estende para muito além dos limites da nossa vida biológica.
É para estes Benditos e Benditas que o evangelho traz a boa nova, pessoas que não estarão isentas de sofrimentos, privações e até perseguições, por terem optado pelo evangelho de Cristo, que desafia e põe em cheque o conceito de felicidade que o mundo nos ensina, porque mostra-nos no Senhor Ressuscitado, que esta vida terrena é apenas caminho para se chegar na verdadeira vida, sonhada, desejada e construída ainda nesta nossa peregrinação por este mundo.
Nossas comunidades cristãs nas quais participamos, já aderiram com fidelidade a proposta que Deus nos faz em Jesus Cristo, ou pelo contrário, acabamos trazendo para dentro da comunidade certos valores sedutores que o mundo nos apresenta? A resposta a essa pergunta nos indicará se pertencemos ou não ao grupo dos Bem Aventurados...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
“O consolo do perdão”
“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4)
Santo Ambrósio, Santo Hilário, São João Crisóstomo e Santo Agostinho entenderam que essa bem-aventurança se refere às lágrimas derramadas por causa dos nossos pecados; a consolação é o perdão dos pecados. “Todo pecador deve chorar. A quem se chora senão a um morto? E quem está mais morto senão o malvado? Coisa admirável: chore por si mesmo e reviverá; chore fazendo penitência e será consolado com o perdão” (S. Agostinho).
Santo Agostinho também deixou escrito que todo convertido é ferido por certa tristeza porque, além de não alegrar-se nas antigas “alegrias” da sua vida pecaminosa, tampouco possui ainda o amor das coisas eternas. É o Espírito Santo, o Consolador, quem o vai enriquecendo com a eterna alegria aqueles que perderam a alegria das coisas pecaminosas.
Que consolador é chorar os próprios pecados! Aquele que já teve essa experiência bem o sabe. Que alívio! Pode ser uma boa preparação para o Sacramento da Confissão ou até mesmo um fruto dela. Pode ser o começo da conversão, como também pode significar uma maior união com Deus. De fato, quem entende o que é o pecado são os santos, os pecadores o ignoram!
Os pecadores, sem saber ou sabendo, vão se destruindo a si mesmos. Que pena! Não dá vontade de chorar ao ver tantos jovens afundados nas escravidões das drogas, do sexo, da violência. Rapazes e moças que podem ter um futuro brilhante estão se destruindo pouco a pouco, encontrando nisso um prazer que poderíamos qualificá-lo como “quase macabro”. A imagem de Deus sendo destruída nessas pessoas! Não é triste?
É bom chorar os próprios pecados e alcançar de Deus a consolação do perdão. É meritório chorar os pecados alheios suplicando e conseguindo a misericórdia e o perdão de Deus para eles. Isso é caridade! Quem chora os próprios pecados alcança, por graça de Deus, a própria salvação; quem chora, ademais, os pecados dos outros, alcança a salvação – dom de Deus – para os outros e para si. Uma pessoa que é capaz de se com-padecer encontra-se muito próxima do Coração de Deus. Caso alguém diga que Deus não pode sofrer, responderemos sem discordar, mas levando em sério o quanto Deus se implica na situação das pessoas: “Deus est impassibilis, sed non incompassibilis” (S. Bernardo de Claraval), ou seja, Deus é impassível, mas não incompassível, ele se compadece de nós. Os nossos pecados realmente e de uma maneira misteriosa ofendem a Deus, mas ele tem a iniciativa: vem ao nosso auxílio, nos perdoa e nos salva.
É comum ler nas biografias dos santos que eles choravam pelos próprios pecados e também pelos pecados da humanidade. Esses cristãos que tinham intimidade com Deus sentiam delicadamente o que é uma ofensa a Deus. Pecar é ofender a Deus. Assim como nós nos sentiríamos mal se ofendessem alguém que consideramos o nosso melhor amigo, de maneira semelhante é-nos doloroso ver que se ofende a Jesus, nosso melhor amigo. Os santos choravam pelos pecados porque amavam a Deus. Eles tinham uma ideia um pouco mais clara de quem é Deus e do quanto ele nos ama. Eles chegavam a penetrar nos abismos da miséria porque viviam nos abismos do amor e da misericórdia de Deus.
Nós sempre estamos sendo convertidos e nos convertemos. Deus nos uniu a si, mas temos que seguir crescendo nessa união. Também nós, sentimos no coração que se ofenda tanto a Deus, bondoso e generoso para com todos, e sentimos também por essas pessoas que vão se destruindo paulatinamente no pecado.
No coração de um filho de Deus há uma espécie de paradoxo irremediável, pelo menos até que chegue a Parusia: por um lado, está sempre feliz e cheio de paz, o sorriso está estampado no seu rosto; por outro, sente uma espécie de dor pela situação presente. Entre a Trindade beatíssima, onde o cristão tem a cabeça e o coração, e a miséria mundanal, onde tem a cabeça, o coração e os pés, o cristão deve viver sempre levando a esse mundo e a todas as pessoas a esperança, a misericórdia e a paz.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético – 4º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (1 Cor 1, 26-31)
POBREZA DOS CORINTIANOS: Olhai, portanto, vossa vocação, irmãos; porque não muitos sábios segundo a carne; não muitos poderosos, não miitos bemnascidos (26) Videte enim vocationem vestram fratres quia non multi sapientes secundum carnem non multi potentes non multi nobiles. Paulo está descrevendo a sabedoria da cruz. Ou seja, esse instrumento de humilhação e sofrimento, de modo especial escolhido para salvar o mundo pela sabedoria divina. A cruz explica os planos ocultos de Deus e desvela sua economia ou política de salvação. Segundo essa economia divina, são os mais necessitados os que são preferidos para receber os favores de Deus [a graça, segundo o termo usado por Paulo]. Jesus ora comprazido e agradecido dizendo: Te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e letrados e as revelaste aos pequeninos (Mt 11, 25). É por isso que Paulo nota com ironia, como esta predição de Jesus se cumpria perfeitamente em Corinto: Nem SÁBIOS [sofoi], nem PODEROSOS [dynatai] nem NOBRES DE NASCIMENTO [eugenei], ou seja, os que o mundo inveja como brilhantes e poderosos, os que formam o modo de pensar do povo. De fato, tanto no tempo de Jesus como nos tempos apostólicos, sabemos que, os que receberam a nova doutrina foram gente humilde, a começar pelos pastores e os pescadores, escolhidos como apóstolos, aqueles pelo pai e estes pelo Filho. Tenhamos en conta que os pescadores eram considerados uma classe desprezível entre os judeus, um pouco superior à dos pastores; porque em seu ofício, a pesca de peixes sem escamas que eram impuros segundo a lei para logo destripar os peixes bons, o que era também um trabalho de impureza já que lidavam com animais mortos e suas vísceras os tornava impuros. Por isso eram evitados pelos verdadeiros israelitas. Sabemos como grande número dos primitivos cristãos eram da classe dos escravos e libertos. Atualmente encontramos mais fé e verdadeira entre a gente humilde do que entre os doutores escolastizados.
A ESCOLHA DIVINA: Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e as débeis do mundo escolheu o Deus para envergonhar as fortes (27). Sed quae stulta sunt mundi elegit Deus ut confundat sapientes et infirma mundi elegit Deus ut confundat fortia. Paulo agora resume num parágrafo único toda a sabedoria divina em oposição à humana: As loucuras do mundo foram escolhidas para CONFUNDIR OS SÁBIOS. Essa regra e normas divinas as encontramos nos dias de hoje. Zola será o escritor que trama uma maquinação fantástica para a cura de Madame Marie Ferrand Bayllie. Ela não se cura e morre. Prefere a mentira a ter que aceitar o milagre. Era o pensar dos sábios da época e também o de Alexis Carrel. Mas o médico ateu viu diante de seus olhos como a moribunda se restabelece em poucos minutos. Carrel foi a Lourdes para demonstrar a patranha do que em Lourdes acontecia e de que tudo era uma mentira e uma fraude; mas com ânimo de que se ela curava então ele acreditava. E Deus lhe tomou pela palavra. Pois ante os olhos atônitos de Carrel, a mulher se curou da peritonitis tuberculosa que a tinha em estado de coma. Carrel deu testemunho diante de seus colegas e a reação dessa intelectualidade foi furiosa. Todo o âmbito acadêmico se transformou numa borrasca hostil que o obrigou a se trasladar para o Canadá e abandonar o exercício de sua profissão para dedicar-se à criação de gado. Somente uma necessidade do hospital local o obrigou a exercer sua profissão de médico, onde seus trabalhos e novas descobertas mereceram o Nobel em 1912. AS FRAQUEZAS DO MUNDO: Se cumpre a promessa de Jesus a Santa Gertrudis: como os doutos não me compreendem, fabricando um Deus conforme seus intelectos, por isso prefiro me mostrar às mulheres. E se estudamos as grandes aparições de Maria, Juan Diego em Guadalupe, Bernardette em Lourdes e os três pastores em Fátima, vemos que do ponto de vista humano, são gente insignificante, como era a virgem de Nazaret, que exclamou: Ele teve consideração da insignificância de sua escrava (Lc 1, 48).
DEUS ESCOLHE O QUE O HOMEM DESPREZA: E as ignóbeis do mundo e as desprezíveis escolheu (o) Deus e as que não são para que as que são destruir (28). Et ignobilia mundi et contemptibilia elegit Deus et quae non sunt ut ea quae sunt destrueret. IGNÓBEIS [afenë<36>=ignobilia] literalmente sem família, que pode ser traduzido por nascido de baixa posição, ignóbel, pária, como são os intocáveis ou dalits entre as castas da Índia. Em alguns lugares da Índia existem os invisíveis, que só podem sair às ruas à noite. DESPREZIVEIS [exouthenëmena <1848>=contemptibilia] do verbo exoutheneö que significa não ter em conta, desprezar totalmente, como em Lc 18, 9 que fazia o fariseu com os outros homens que ele não considerava honestos [justos]. NÃO SÃO: Em Rm 4, 17, o apóstolo fala de que Deus vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem, palavras provavelmente referidas à criação. Mas parece que Paulo está pensando nos gentios, que, segundo os judeus, nada eram como vemos no apócrifo de 2 Esdras 6, 56-57: Enquanto os outros povos que nasceram de Adão, tu tens dito que eles são nada…Olha, Senhor, que esses pagãos que foram reputados como nada começaram a ser nossos senhores e a devorar-nos. Este dito farisaico parece concordar com o que Paulo afirma neste versículo, e que será uma espécie de profecia do futuro cristianismo: os gentios – que não são, ou contam no momento- serão os que substituirão os judeus –os que são- destruindo o antigo pacto que visava unicamente os filhos de Israel.
FINALIDADE: De modo que não se glorie toda carne em sua presença (29). Ut non glorietur omnis caro in conspectu eius. Nem os ministros [evangelistas] nem os ministrados [gentios de baixa estirpe] têm grande sabedoria, riqueza ou poder, de modo que o êxito não pode ser atribuído à eficiência pessoal. Ninguém pode dizer: Senhor, tu me escolheste porque era o melhor; mas todo o contrário: escolheu o lixo do mundo e a escória de todos (1Cor 4, 13), de modo que Tácito declara em seus Anales que os cristãos do fim do primeiro século eram de baixa condição. TODA CARNE: é uma expressão semítica para todo homem de modo que ninguém possa se vangloriar diante de Deus; porque, como diz Paulo, quem dá o crescimento é Deus (1 Cor 3, 6).
CRISTO SABEDORIA DE DEUS: Pois dEle sois em Cristo Jesus, o qual foi feito para nós sabedoria da parte de Deus, também justiça e santificação e redenção (30). Ex ipso autem vos estis in Christo Iesu qui factus est sapientia nobis a Deo et iustitia et sanctificatio et redemptio. São duas afirmações que têm suas consequências: a primeira é que pertencemos como sagrados a Deus por causa de Cristo. A segunda é que esse Cristo é causa das qualidades com as que devemos nos revestir do novo homem, considerado digno da presença do espírito de Deus em seu interior. Essas faculdades são sabedoria de Deus, que consiste essencialmente na cruz. Justiça que para o Deus do NT é misericórdia que em nós pede como filhos, segundo Lc 6, 36: sede misericordiosos como vosso pai é misericordioso. E finalmente, é por ele que estamos livres da escravidão do pecado e da morte, pois pagou o preço dessa liberdade com seu sangue, com sua vida, morrendo inocente, como culpado, para que vivessem os que culpáveis, nele encontraram a inocência. SABEDORIA [sofia<4678>=sapientia] Qual é a sabedoria da cruz? Quando, como destino na terra, Juan de Yepes pediu ao Senhor como prêmio sofrer e não morrer, ele entendeu perfeitamente a sabedoria da cruz e por isso pode trocar seu nome de Juan de S. Matias por Juan da Cruz. JUSTIÇA [dikaiosynë<1343>=iustitia] que, segundo Paulo, representa a limpeza de todo pecado, merecida pela cruz de Cristo e oferecida no santo batismo em seu Espírito [ele vos batizará em Espírito (Mt 3, 11)]. SANTIFICAÇÃO [agiasmos<38>=sanctificatio] agiasmos propriamente é consagração, para a qual era necessária uma purificação que tornava imaculada a vítima ou o objeto a Deus reservado. Dai que se tornou sinônimo de Holiness em inglês, o adjetivo com o qual o Papa é designado, mas que em espanhol dizemos Santidade, sem que por isso declaremos que o Papa não peca ou não possa pecar. É, pois a consagração radical de todo batizado ao serviço divino, que conleva por parte do homem a séria intenção de cumprir os preceitos divinos. REDENÇÃO [apolytrösis<629>=redemptio] é a liberdade pelo pago do preço do resgate devido. Éramos escravo do pecado e da morte e fomos resgatados pelo preço do sangue de Cristo (Ef 1, 7).
A VERDADEIRA GLÓRIA: Para que, como está escrito, quem se gloria, glorie-se no Senhor (31). Ut quemadmodum scriptum est qui gloriatur in Domino glorietur. Com estas palavras, Paulo afirma duas coisas: a primeira, que o livro de Jeremias, citado aqui, pertence ao conjunto de livros inspirados, chamados Escritos ou Escritura.A segunda, é que o verdadeiro prestígio e reputação que provém de fatos ilustres não é produto de esforços humanos mas uma dádiva divina que como dirá Paulo em Rom 4, 2-4 no caso de Abraão, tem como base, não as obras, mas a fé e por isso não pode se vangloriar, pois a jstificação recebida não foi resultado de méritos, mas imputada; ou seja, obra da graça e favor divinos. E em Rom 8, 29 desde o início predestinou, chamou, justificou para finalmente glorificar a quem de antemão foram chamados segundo o seu propósito. Dizia santa Terezinha que nossos passos estão determinados pela amorosa vontade de Deus, de modo que praticamente andamos como uma criança a quem a mãe segura em seus braços a sua criança enquanto a ensina a andar. E Teresa de Jesus propõe como base da humildade esta proposição: Todo bem procede de Deus e todo mal é nosso. Se acaso deveríamos gloriar-nos em nossas debilidades como diz Paulo em 2 Cor 12, 9, pois Deus mostra seu poder e amor preferentemente nas fraquezas humanas. É o bom pastor que busca a ovelha perdida, abandonando as outras que estão no redil.
EVANGELHO (Mt 5, 1-12)
(Lugar paralelo Lc 8, 20-23)
AS BEM-AVENTURANÇAS
INTRODUÇÃO: Dois evangelistas narram o que se tem chamado as bem-aventuranças. Mateus como parte do sermão da montanha, pois foi desta cátedra que Jesus falou (5,1) e Lucas que coloca o pequeno discurso paralelo numa planície (6, 17). Isso indica que a circunstância é redacional, independente das palavras e idéias a expressar. Também há uma grande diferença entre as oito ou nove bem-aventuranças de Mateus e as quatro de Lucas. Ambos, porém, usam a mesma palavra makarioi para designar os contemplados como prediletos do reino. Que significado tinha nos lábios de Jesus essa palavra e de que idéias hebraicas era tradução, de modo que os ouvintes a pudessem entender ? O grego makários significa tanto ditoso ou feliz como bendito do verbo makarizo que significa declarar afortunado. No primeiro caso, indicaria uma situação determinista da vida mesma, sem ligação com ulteriores fins ou propósitos. No segundo caso, a palavra tem um conteúdo teológico de modo que implica uma providência divina que, pelo contraste com o sentir comum dos dirigentes religiosos, apontava uma nova era completamente revolucionária em perspectivas religiosas. Esse é nosso caso. No final do capítulo IV, em que Jesus percorre a Galileia pregando nas sinagogas a metânoia e a fé na Boa Nova. Agora, pela primeira vez, ele enfrenta as multidões. Não são unicamente os judeus, mas também acodem os gentios de Transjordânia, dos arredores de Tiro e de Sidônia, e da Idumeia (Mc 3, 8). Reunia-os especialmente a fama de curandeiro de Jesus e escutavam sua voz como a de um homem enviado por Deus. Na primeira parte do discurso, Jesus anuncia a esperança dos desvalidos [pobres]: São as bem-aventuranças. Logo apresenta a metânoia, conversão, com uma nova moral iniciada com a frase se vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus (5, 20). Por isso retifica a mesma dizendo: ouvistes que foi dito; eu, porém vos digo (5, 21). Logicamente era necessária uma conversão ou metânoia para esta nova ética que Jesus apresenta. E são os capítulos 5, 6 e 7 os que narram a chamada radicalidade cirstã. A fé racional da crítica não pode substituir a fé razoável eclesiástica, como afirma o Papa atual, pois seria a nossa razão o princípio de nossa vida religiosa e não a fé. A fé racional seria o mesmo que acreditar na ciência, como afirma Bacon, e não a fé transmitida pela boca dos apóstolos e profetas como fundamento da mesma (Ef 2, 20). Hoje, em que damos máxima importância à crítica [científica] devemos ler esta página das bem-aventuranças com a fé simples de quem ouve a verdade da boca do Filho de Deus, com fé religiosa [razoável=acreditável pelo testemunho; mas não racional=como imposta pela evidência crítica da razão].
O MONTE: Tendo, pois, visto as multidões, subiu ao monte e tendo-se ele assentado, se aproximaram a ele seus discípulos (1). Então, tendo aberto sua boca, os ensinava dizendo (2). Videns autem turbas ascendit in montem et cum sedisset accesserunt ad eum discipuli eius. Et aperiens os suum docebat eos dicens. Os comentaristas unem o sermão da montanha com a entrega da Lei por Javé-Deus no monte Sinai no A T. MONTE: Oros em grego, é usado por Mateus como um ambiente paralelo ao lugar em que Moisés recebeu a lei no Sinai, sendo que o cumprimento do primeiro mandamento receberia uma gratificação especial para os que fielmente o guardavam (Ex 20, 6). Jesus também, do monte, ensina a nova lei a seus discípulos. Porém, antes deve escolher o novo Israel, e daí as chamadas bem-aventuranças. Os que por elas são alcançados serão o novo Israel e, portanto, podem ser designados como verdadeiramente felizes. Jesus começa, pois, por essa distinção em que derruba o velho conceito de etnia e descendência como parte para formar a elite de Jahvé, e contrariamente, suscita um novo modelo de povo de Deus, cuja base é precisamente o infortúnio material. A eles Jesus abre um novo mundo de esperanças e felicidade. A lei, para os judeus, não era unicamente o nomos [preceito], mas também abrangia declarações, propostas e fatos de Deus em relação com seu povo escolhido. Neste sentido total e amplo, Jesus determina primeiro o âmbito de seus verdadeiros escolhidos. Logo propõe seus nomoi [preceitos], precedidos de uma retificação aperfeiçoada da antiga lei: ouvistes que foi proclamado, eu, porém vos digo (Mt 5, 21). Como mestre da nova Lei, Jesus adota uma postura frequente entre os rabinos ou mestres em Israel. Ele fica sentado, tendo seus discípulos e ouvintes ao seu redor, geralmente de pé, pendentes de suas palavras. Os rabinos explicavam a lei segundo as tradições [ouvistes que foi dito], mas Jesus explica a nova Lei como quem tem autoridade para propô-la e anunciá-la como novidade feliz a um público geralmente esquecido e desprezado. Constituía a esperança messiânica, já atuando como realidade nova e definitiva. Finalmente, uma palavra sobre o monte: Realmente, segundo Lucas, Jesus subiu ao monte para orar durante a noite (Lc 6, 12). Na manhã, escolheu seus doze discípulos e logo ao descer do monte, se deteve num lugar plano onde a multidão o esperava para ser curada de suas doenças. Lucas, pois, circunscreve as bem-aventuranças a uma planície, embora tivesse como fundo o monte do qual acabava de descer. Também Lucas diz que elevando os olhos aos discípulos dizia (Lc 2, 20).
AFORTUNADOS: Ditosos os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus (3). Beati pauperes spiritu quoniam ipsorum est regnum caelorum. A palavra, usada tanto por Mateus como por Lucas, no início de cada versículo é MAKARIOI, em grego, plural de Makarios <3107>. Logicamente Mateus e Lucas usam a palavra como tradução de um original aramaico usado por Jesus. Qual é essa palavra e que significado se encerra na raiz da mesma?
1º) No AT: . Existem no hebraico bíblico dois verbos com o sentido de abençoar. Um deles é Barak <01288> que é só empregado por Deus no Piel [intensivo ativo] indicando uma ação contínua, como em Gn 1, 22 : E Deus os abençoou [yebarek] dizendo: sede fecundos. Usando a mesma raiz, Deus abençoou também o dia sétimo. A setenta traduz por eulogesen louvar ou falar bem, que no inglês é traduzido por blessed. De barak temos baruk [bendito] e a palavra beraká [ bênção], cujo plural é berakoth. Todas as berakoth começam com Baruk Ata Adonai que pode ser traduzido por louvado seja meu Senhor [=Deus]. Os setenta traduzem baruk [bendito] por eulogetos ou eulogemenos (Dt 28, 3 +). O outro é Ashar <0833> cujo significado primitivo é avançar; também no piel significa pronunciar feliz; e pela primeira vez o encontramos em Gn 30, 13 em boca de Lia: Feliz, eu [beasheri], porque chamar-me-ão ditosa [asheruni] todas as mulheres. Nos setenta, os termos em colchetes são traduzidos por makaria e makarizousin, a mesma raiz empregada nas bem-aventuranças. Não entramos em maiores detalhes. Só com o dito podemos dizer que barak [eulogeo<2127>,] é a palavra reservada para a ação divina, quando declara bendita uma pessoa; e asher [makarios<3107>] é a ação do povo que vê uma circunstância que torna feliz uma vida. Logicamente essa circunstância provém de Deus como causa principal. (Os números correspondem aos de Sprong). Os evangelistas têm muito cuidado nas palavras com que escolhem as ipsissima verba Christi e, portanto acreditamos que se ambos os evangelistas escolheram makarios como tradução das palavras de Jesus, este não quis dizer que eram abençoados por Deus, mas declarados felizes pelos homens. Jesus quer mudar o modo de pensar dos discípulos para que estes pudessem ver nos pobres, nos aflitos, nos humildes, nos famintos, uma classe de predileção divina que os tornava desejáveis e invejáveis. Jesus, praticamente, na sua primeira lição pública define a conduta humana diante da pobreza tanto material como espiritual do mundo que o rodeia.
2º) No grego clássico, a palavra makarios inicialmente significava livre dos cuidados e preocupações de todos os dias. O significado é afortunado. Assim, a ilha de Chipre é chamada de ‘e makaria [a afortunada] por ser uma ilha verde e próspera. Homero chama os deuses de ‘oi makarioi [os felizardos] em comparação com os humanos que devem trabalhar para poder viver. Na linguagem poética, descreve a condição dos deuses e daqueles que compartilham da existência feliz deles. Aos poucos, perdeu seu significado original para se tornar num equivalente de nosso Feliz. Quando acompanhada de tu ou vós, se transforma em bem-aventurado, ou bem-aventurados, indicando um elogio por parte dos conhecedores do caso. Como tais, são parabenizados os pais por causa dos seus filhos, os ricos por causa de suas riquezas, os sãos pela sua saúde, os sábios por causa de seu conhecimento, os piedosos por causa de seu bem-estar interior, os mortos por terem escapado à vaidade das coisas. Indica, pois, como motivo, uma circunstância especial que acompanha uma certa classe de homens e que por esse requisito podem ser considerados afortunados.
3º) No grego bíblico makarios traduz o hebraico esher [felicidade], ashar [declarar bem-aventurado], ou asheré [bem-estar]. Vemos o asheré traduzido por makarios no salmo 2,12: Bem-aventurados todos os que nele se refugiam; ou o salmo 32,1 e 2: Bem-aventurado aquele…e bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniquidade. Em ambos os casos makarios é usado como tradução de asheré. O homem é bendito, e especialmente esta bênção, provém de Deus. No NT é claro que substituímos o asheré hebraico por Makarios. Makarios aparece 13 vezes em Mateus e 15 em Lucas e apenas duas em João: Bem-aventurados, pois, se praticares estas coisas(13, 17) e Bem-aventurados os que não viram e creram (20, 29). No caso de Mateus, os bem-aventurados não são os discípulos; mas, estando a frase em terceira pessoa é qualquer um que se encontra em semelhantes circunstâncias. A estimativa predominante do Reino de Deus leva consigo uma inversão de todas as avaliações costumeiras. E todos os que compartilham dessa experiência da chegada do Reino, nas circunstâncias reveladas na frase inicial, serão benditos por esse dom recebido de Deus de modo gratuito.
4º) Mas vejamos as traduções: Dichosos ou Felices em espanhol, Beati em latim e italiano, Fortunate em inglês, embora a KJ traduzirá Blessed, Felizes em português e Hereux em francês. É uma palavra que indica completa satisfação ou felicidade. Todas elas cumprem as palavras de Dt 33, 29 em que o hebraico asherê é traduzido por makários e por ditoso : Ditoso [makários] tu Israel. Quem como tu povo vencedor? Deus é o escudo que te protege, a espada em marcha que te conduz ao triunfo. Ou o salmo 144, 15: Ditoso [makarios] o povo que tem tudo isso; ditoso [makários] o povo cujo Deus é o Senhor. Em Baruc 4,4 temos: Felizes [makarioi] somos Israel, pois podemos descobrir o que agrada o Senhor.
5º) Como Conclusão podemos afirmar que a palavra grega makários tem o significado de homem, cuja vida é invejada por ser um privilegiado por Deus nos seus planos beneficentes. Em definitivo, podemos facilmente traduzi-la por BENDITO ou ABENÇOADO. Deus está no meio, por ser a causa de todos e verdadeiros bens. O Makarioi de Jesus entra, pois, nos planos divinos, como causa principal ao ser Deus o observador que escolhe seus eleitos, como declara Maria em seu canto: Exultou meu espírito em Deus meu Salvador porque ele fixou seus olhos na insignificância de sua escrava (Lc 1, 47-48). Até agora no mundo católico, quase de forma geral, as bem-aventuranças eram vistas como prêmio oferecido às virtudes dos que mereciam semelhante elogio. Hoje não são consideradas como recompensa de virtudes, mas como escolha divina, que em sua misericórdia quer favorecer os mais desamparados. Não é a virtude interior alcançada, que obtém um prêmio, mas são as circunstâncias que favorecem a ação divina em sua misericórdia. Deste ponto de vista, podemos enxergar todo o contexto como sendo uma política divina que dá uma reviravolta na totalidade do pensar e atuar humanos. Jesus, em nome de Deus, como seu profeta, declara quais deveriam ser chamados de ditosos ou afortunados. Assim começa a nova economia que inicia uma nova visão do mundo dos sofridos e despossuídos. Esta situação, no lugar de ser uma situação de infortúnio, ou um estado aparente de desdita, é, pelo contrário, uma condição de sorte, porque as riquezas divinas estão à disposição dos que se supõem ter herdado o azar como condição de suas vidas. Como diria Paulo, na fraqueza é que se manifesta (mais) o poder [de Deus] (2 Cor 12, 9). Por isso, todas as bem-aventuranças terminam com um porque em que Deus entra como causa ativa, subentendido na passiva do verbo correspondente, passiva que era praticamente usada só para atuações divinas. Talvez a melhor tradução seria: Sois abençoados por Deus vós os…
O ESQUEMA: temos em cada bem-aventurança uma prótasis [primeira parte de uma poema teatral] e uma apódosis [explicação]. A prótasis ou primeira parte de cada oração é uma circunstância da vida, independente da vontade da pessoa respectiva. A apódosis é a explicação do porquê e como a sorte lhes favorece. Como caso curioso podemos ver que as quatro primeiras começam com a letra pi em grego: Ptochoi [mendigos], penthountes [chorantes], praeis [mansos] e peinountes[famintos]. Quando se sabe que a kabala era característica da interpretação das Escrituras, há uma pequena razão para pensar que Mateus, legista e intérprete da lei, tivesse alguma razão, por nós hoje desconhecida, de seguir seus ocultos princípios. PTÔCHOI: No AT ptochos aparece perto de 100 vezes e são a tradução de 7 palavras hebraicas: 1º) `anav <06035> é sinônimo de humilde, especialmente quando em forma adjetivada acompanhado de Jahvé. Com seu número de Sprong <06035> aparece 24 vezes, especialmente nos salmos e em Isaías, a começar por Moisés que é declarado o mais humilde, ou mais manso dos homens como traduz a vulgata. O anav desse número é geralmente traduzido por prays [manso](12), penes [pobre] (11) e tapeinós [baixo] (1). Na vulgata temos mites (6) mansuetus (6) e pauper (12). Existem duas frases em que anav acompanha terra anave heretz. E que em ambos são traduzidos por prays ou mansos. 2º) ‘ani [37 vezes] <06041> que tem o significado de pobre, humilde, modesto, oprimido. A primeira vez que aparece é em Ex 22, 24: Se emprestares prata ao meu povo, ao pobre [ani e ptochós] que está contigo. Quando não se menciona o opressor, a palavra significa realmente pobre material, os que não têm terra. A Setenta traduz, indistintamente, ani por pobre ou humilde. 3º) `anah <06033>. A única vez que anah sai é em Daniel 4, 27: redime tua iniquidade para com os pobres <06033> em grego penetön [=dos pobres]. 4º) dal [22 vezes] <01800> baixo, fraco, pobre, magro. Fisicamente dal significa fraco e passa a ser empregado para as classes sociais mais baixas como camponeses, pobres, necessitados, sem importância. 5º) ebyon [11 vezes] <034> significa pedinte de esmolas, mendigo; ou seja, os muito pobres e sem lar. 6º) rush [11 vezes] <07326> necessitado, pobre, é uma palavra que se emprega como contraste de rico. 7º) Misken.<04542>. Nos tempos mais modernos usa-se misken, um termo que os mendigos orientais empregam para definir a si mesmos. Que deduzimos então? Se o mendigo é precisamente o ebyon e equivale ao endeês [menesteroso em grego] o ptochós de nossa bem-aventurança pode ser pobre no sentido de desvalido, sem recursos, cujo único goel [defensor] era Jahvé, em oposição aos ricos que dependiam de suas riquezas como base fundamental de suas vidas. Os textos mais modernos descartam o pobre material e traduzem o Ptochós como humilde, ou humilde de espírito (AV), ou os que têm o coração de pobre (francesa). A melhor exegese será, sem dúvida, a feita por Maria: Depôs poderosos de seus tronos e aos humildes [de baixa condição] exaltou. Cumulou de bens os famintos e despediu ricos de mãos vazias. Parece que Jesus aprendeu bem de sua mãe esta política divina que tão bem se realizou na sua família. Os rabinos louvavam a simplicidade e a humildade, mas nunca a pobreza porque, segundo eles, nenhum dos males podia se equiparar ao mal da pobreza; daí que Mateus, legista e conhecedor das tradições judaicas, teve que acrescentar uma explicação ao simples fato de pobreza. Pois para esses mestres da Lei a riqueza era o prêmio justo da virtude e a pobreza era considerada como legítimo castigo. Porém, a pobreza entra nos planos de Deus e a sua aceitação coloca os pobres como escolhidos às portas do Reino do qual Jesus era o arauto ao proclamar as condições que o limitavam, segundo Is 61,1: Ele me enviou a anunciar a boa nova aos pobres [ptochoi em grego e humildes nas versões mais modernas como a italiana]. Na Historia do Israel antigo, após a economia inicial de troca, uma vez consolidada a monarquia, o dinheiro tomou conta da economia e muitos dos agricultores passaram a depender dos homens das cidades. Este empobrecimento não só se tornou um problema social, mas religioso como fruto da quebra da Lei, tornando-se uma injustiça, atacada pelos profetas do século VIII aC. que ameaçavam com o juízo divino os ricos que eram culpados. E é nesta situação histórica que podemos entender o significado de pobre e necessitado. O pobre que sofre injustiça porque outros se tornaram gananciosos, volta-se indefeso e humilde a Deus em oração, pensando que a ajuda divina em suas necessidades é a base da glória a Deus. Pobres, são os que se voltam a Deus em suas necessidades pois é um Deus-protetor dos pobres (Sl 72, 2): Com justiça ele [o rei] julgue o teu povo, salve os filhos dos indigentes [anawim e ptochoi] e esmague seus opressores. No salmo 132, 15 diz: De pão fartarei seus pobres [anawim e ptochoi]. A desgraça do exílio levou temporariamente ao emprego das palavras pobre e necessitado como termos coletivos para o povo. No judaísmo tardio, tanto a pobreza material como o aspecto da sua espiritualização têm características novas: Todos os grupos religiosos tinham suas formas especiais de obras de caridade. Nas sinagogas havia uma organização para ajuda dos pobres, existindo esmolas públicas semanais. Cada sexta feira, aqueles que viviam na localidade, recebiam dinheiro suficiente da cesta dos pobres [quppah] para 14 refeições ; os estrangeiros recebiam comida diariamente da comida dos pobres [tamhuy]; esta comida tinha sido coletada antes, de casa em casa, pelos oficiais dos pobres. Na diáspora, as sinagogas frequentemente estabeleciam uma comissão de sete para esse serviço, como fizeram os apóstolos em Atos 6, 1-6. A distribuição das esmolas era considerada particularmente meritória, se feita na cidade santa. A semelhança entre hoje e antigamente é tão grande –escreve J. Jeremias- que há algumas dezenas de anos encontravam-se leprosos, pedindo esmolas nos seus lugares habituais, no caminho de Getsêmani, fora dos muros da cidade. Em Jerusalém a mendicância concentrava-se em torno do Templo, como vemos em At 3, 1-8. Como temos visto, os setenta traduzem anawim por ptochoi. Portanto, esta palavra perdeu o significado de mendigo para denotar o homem indefeso, que só tem como avaliador Jahweh e que nele depositou sua inteira confiança. A palavra pobre não significava a mesma coisa para um grego que para um judeu. Para o grego era um mendigo; para o judeu era aquele que não possuía terras (Ex 22, 24). Naturalmente, neste último caso, os pobres eram também gentes desprovidas de influência social, frequentemente exploradas e humilhadas. Em grego, temos a palavra Ptochós [mendigo] com necessidade de pedir esmola para subsistir e a palavra Penes, o pobre que não é rico, mas tem necessidade de trabalhar para poder viver. Como temos visto, ao explicar as diversas palavras usadas no hebraico, pobres podem ocupar o lugar da palavra anawin, que tem um significado contrário ao de rico, com conotações religiosas de confiança em Deus.
TO PNEUMATI: que pode ser traduzido em espírito ou de espírito. Evidentemente, o espírito é o espírito humano. Portanto, temos: Ou pobres de espírito, que significaria acanhados; ou pobres por espírito, por eleição, pessoas estas que aceitavam a pobreza como natural ou como voluntária. O texto grego presta-se, pois, a duas interpretações: 1) pobres quanto ao espírito 2) pobres pelo espírito. A primeira pode ter um sentido pejorativo como homem de qualidades diminuídas. Ou um positivo como aqueles desapegados do dinheiro, embora o possuam em abundância, sentido este excluído pelo próprio Jesus em Mt 6, 19-24 e pela condição imposta ao jovem rico. Na tradição judaica, os termos anawim/aniyim designavam os pobres sociológicos, que punham sua esperança em Deus por não achar apoio, nem justiça na sociedade. Jesus recolhe este sentido e convida a escolher a condição de pobres [opção contra o dinheiro e a posição social] entregando-se nas mãos de Deus. O termo “espírito” na concepção semita, conota sempre força e atividade vital. Neste texto, denota o espírito do homem. Na antropologia do AT o homem possui “espírito” e “coração”. Ambos os termos designam sua interioridade; o primeiro, enquanto dinâmica, sua atividade em ato; o segundo, enquanto estática, os estados interiores ou disposições habituais que orientam e matizam sua atividade. A interioridade do homem passa à atividade enquanto inteligência, decisão e sentimento. Dado o que Jesus propõe, é uma opção pela pobreza, e o ato que a realiza é a decisão da vontade. O sentido da bem-aventurança é, portanto “os pobres por decisão”, opondo-se aos “pobres por necessidade”. Transpondo o nome decisão pela forma verbal, tem-se “os que decidem escolher ser pobres”. A vulgata usa pauperes spiritu do grego ptochoi to pneuma. A tradução da bíblia protestante na sua VA [versão autorizada] é: Bem-aventurados, os humildes em espírito. As bíblias católicas conservam a palavra pobres e traduzem pobres de espírito ou em espírito e algumas pobres de coração. Duas traduções fazem uma exegese particular: A versão AL [América latina] os que têm o espírito de pobres e a francesa: ceux qui ont um coeur de pauvre [que têm um coração de pobre]. A bíblia de King James traduz poor in spirit e comenta que ptochós é uma pessoa que não pode se ajudar, ao contrário de pénes, que, sendo pobre, pode se virar, como dizem. E comenta: o primeiro passo para ser abençoado é a admissão da própria inutilidade espiritual. Enquanto Mateus dá uma explicação sobre o significado de Ptochoi [pobres], Lucas nada diz sobre a natureza da pobreza, aludida por Jesus na primeira bem-aventurança. Segundo Lucas, é a pobreza material a que abre as portas do Reino. Segundo Mateus, essa pobreza tem um matiz necessário: é a pobreza fomentada no espírito, no desejo, no interior ou pensamento, ou tomada como objetivo na vida, que implica não considerar as riquezas materiais como finalidade da vida. Na realidade, ambos os termos podem ser vistos com uma convergência: a pobreza material é um pré-requisito para a pobreza espiritual, muito mais difícil de se conseguir quando a riqueza é o berço em que fomos aninhados. Uma interpretação moderna é de que os homens só podem ser abençoados por Deus quando diante dele se comportarem como mendigos às portas de sua misericórdia. Vejamos duas interpretações:
1ª) Do ponto de vista católico e fundamentada em Mateus: a) a primeira Bem-aventurança seria a bênção divina para os que escolhem ser pobres, porque no lugar da riqueza, estes terão a Deus por seu único Rei, que por sua parte escolhe os válidos e preferidos entre os pobres e oprimidos. No texto de Mateus podemos interpretar pobres no espírito como aqueles que não têm ambições de riqueza, que não se deixam levar pela avareza. b) Finalmente, pobres no espírito podem significar aqueles que carecem de qualidades humanas. c) Qual delas é a mais correta na interpretação das palavras de Jesus? Segundo a maioria dos autores, Ptochoi traduz o hebraico Anawim que Jesus explicará em Mateus 6, 19-21; 24 em que Jesus rejeita o desejo das riquezas e as antepõe ao serviço devido a Deus, já que não podemos servir a dois senhores. Quando da recusa do jovem a abandonar suas riquezas, Jesus comentará que é difícil para um rico entrar no Reino, pois na realidade ele está dominado pelo senhor contrário ao verdadeiro Senhor: Deus (Mt 19, 16+). E é nesta última situação que as palavras de Lucas adquirem o verdadeiro valor como Bem-aventurança. d) Um último comentário: Pelo que Mateus nos dá a conhecer sobre o sermão da montanha parece que as bem-aventuranças foram redigidas sobre a frase tão repetida neste capítulo V: Ouvistes que foi dito aos antigos; eu, porém vos digo. Isto é: nas sinagogas vos foi ensinado; porém, a verdade é outra diferente que eu vos declaro agora. Por isso a melhor tradução, sob o ponto de vista exegético, seria: Ouvistes que vos foi ensinado que os ricos eram benditos de Deus; eu porém, vos digo que são os mais pobres os escolhidos e os que verdadeiramente são os benditos de Deus, que na terra vão constituir seu Reino. De fato, Paulo dirá aos de Corinto: Não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa… Deus escolheu o que no mundo é vil e desprezado… a fim de que aquele que se gloria, glorie no Senhor. (1 Cor 1, 26-31). A bênção era tão inusitada para a época em que a pobreza era considerava pior que a lepra como castigo divino, que Mateus ou o seu copiador, se sentiu obrigado a introduzir um pequeno parêntese explicativo para restringir a pobreza a limites aceitáveis pelos seus leitores e assim fala dos pobres de coração que hoje chamaríamos pobres sem ambição, e que os evangélicos traduzem por humildes de espírito. Porém, devemos manter o original de Lucas que fala dos simplesmente pobres, indigentes, porque a bênção divina é tanto mais completa quanto mais miserável aparecer a condição humana. Assim se cumpre o dito de Jesus que afirma ter vindo salvar o aparentemente perdido. Como consequência, não devemos desprezar esses mendigos que tratamos de vagabundos, porque eles merecem um lugar de destaque no reino, e nosso amor para com eles só será um espelho do amor de Deus exemplificado nesta bênção. Em termos gerais, podemos considerar que se Lucas é o taquígrafo das palavras de Cristo, Mateus é seu intérprete e catequista. Daí as diferenças. Segundo as palavras de Jesus, citando, em Lucas, Isaías 61, 1: Ele me enviou a anunciar a boa nova aos pobres [anawim e ptochoi, o latim mansueti, que traduz o italiano umili e a VA quebrantados] os pobres poderiam ser os aflitos por suas necessidades materiais. De fato, as classes inferiores, escravos e necessitados se beneficiaram do evangelho em forma tal, que Jesus teve que afirmar que dificilmente um rico entraria dentro do esquema do mesmo. Serão, pois, os pobres materiais os sujeitos da bem-aventurança embora devam ser excluídos da mesma, os que se rebelam contra sua pobreza e não a aceitando, rejeitam os planos de Deus que prefere os deserdados aos ricos e opulentos.
2ª) A evangélica de Robert H Mounce; em resumo será: Jesus exclama que não são os ricos e poderosos, mas os pobres e humildes de quem se pode dizer, na verdade, que são bem-aventurados. A apreciação de Jesus das coisas que constituem a vida, como deve ser vivida, ressalta em forte contraste com a sabedoria convencional… Na linguagem hebraica, pobre não era apenas a pessoa em desvantagem econômica, mas todos quantos, em sua necessidade, apelam a Deus em busca de ajuda ( Sl 69, 32 e Is 81, 11). Estes são os anawim, “os humildes pobres que confiam na ajuda de Deus”. Pobre de espírito significa depender totalmente de Deus para ajuda segundo o Salmo 34, 6: Clamou este pobre e o Senhor o ouviu; salvou-o de todas as suas angústias.
REINO DOS CÉUS: A promessa mais explícita, como esperança de cada Bem-aventurança, é a entrada no Reino, que Mateus chama dos céus, especialmente explicitada na primeira e na última, oitava e final, da lista por ele apresentada. Mateus é praticamente o único evangelista que chama reino dos céus [15 vezes] enquanto os outros dois denominam Reino do (sic) Deus. Em que consiste esse Reino que parece ser a base da pregação de Jesus? Nas suas parábolas Jesus o descreve como um banquete nupcial (Mt 22,1+), como um precioso tesouro (Mt 13, 44). Mas, em que consiste? No AT só encontramos uma vez e em grego a frase Reino de Deus [basiléia theou] no livro da Sabedoria que não é admitido como canônico pelos evangélicos: Ela [a sabedoria] guiou por sendas retas o justo [Jacó], que fugia da ira de seu irmão [Esaú], lhe mostrou o reino de Deus e deu-lhe o conhecimento das coisas santas [significando o governo do mundo por meio de seus anjos e em particular a bondade de Deus para com o patriarca] (Sb 10, 10). Por Daniel, especialmente no capítulo 7, sabemos que os quatro reinos procedentes do mar [do abismo, símbolo do mal] foram substituídos pelo reino que procedia das nuvens do céu [de Deus]. Era o Reino dos céus segundo Mateus ou Reino de Deus do qual Jesus se diz representante, assumindo a figura de Filho do Homem (Dn 7, 13). Das palavras de Jesus dificilmente saberemos a resposta positiva; sabemos quais são as pessoas que entram facilmente [pobres, crianças] (Mt 5,3 e 19, 14) e quais as que têm dificuldade [ricos, autoridades religiosas] (Mt 19, 23 e 21, 31) . Sabemos que o Reino exige uma honestidade própria [mais estrita que a dos escribas e fariseus] ( Mt 5, 20). Que para um escriba era necessária uma espécie de renovação como novo nascimento, que é da água e do espírito ( Jo 3,5). Um reino que implica uma nova relação com Deus, não em forma aparente e externa, mas interior (Lc 17, 21). Um reino que consiste essencialmente em que a vontade divina seja a norma indispensável da vida (Mt 6, 10). Um reino que se mostrará patente após a morte de Cristo porque muitos dos ouvintes de Jesus estarão presentes a seu início visível (Lc 9, 27) para o qual haverá sinais prévios (Lc 21, 31). Reino que terá Pedro como supremo supervisor (Mt 16, 19). Os apóstolos, seguindo esta linha de Jesus, nos dizem que o Reino consiste em honestidade, paz e alegria no E. Santo (Rm 14, 17), não em palavras, mas em poder (1 Cor 4, 20). Não em comilanças e bebedeiras, mas em honestidade, paz e gozo no Espírito Santo; que nem luxuriosos, nem idólatras, nem adúlteros, nem depravados, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem injuriosos herdarão o mesmo (1 Cor 6, 9-10); coisa que repetirá Paulo em Gl 5, 21. Trabalham pelo reino os apóstolos e com eles os que os ajudam (Cl 4, 11). Deste reino, que podemos chamar na sua face terrena, chegamos ao definitivo ao eschaton do qual temos a palavra de Jesus que beberá do fruto da vide quando chegar o Reino de Deus (Lc 22, 18). Este é o reino que Jesus admite como próprio e do qual, como gozo definitivo, promete participar aos que nele confiam (Lc 23, 42-43). Podemos, pois, responder à pergunta qual é esse reino que a eles é prometido? Sem dúvida, que eles serão a maior e melhor parte desse novo povo de Deus que constitui o Reino por Cristo fundado e do qual ele era Senhor. Não é sem uma idéia proposta e preconcebida que Mateus escolhe no monte onde pronuncia a novidade do reino: os doze que deveriam ser os novos pais das novas tribos do novo Israel, não como genitores materiais mas como pais espirituais, dos quais todos nós recebemos a nova vida no Espírito.
TÊM A DEUS POR REI: Esta é a tradução preferida pelos modernos intérpretes. Assim, o grego Basileia não significa aqui reino mas ‘reinado’. “Seu é o reinado de Deus” quer dizer que esse reinado se exerce sobre eles, que somente sobre eles age Deus como rei. A pobreza a que Jesus convida é a renúncia a acumular e reter bens, a considerar algo como exclusivamente próprio; esses pobres estarão sempre dispostos a compartilhar o que têm. A opção final que Jesus propõe, realiza o prescrito pelo primeiro mandamento de Moisés: Não terás outros deuses diante de mim (Dt 5, 7). A idolatria concretizava-se na posse da riqueza (6, 24); por isso o enunciado desta bem-aventurança é porque estes e não outros, têm a Deus por Rei. A opção proposta pela primeira bem-aventurança leva à sua perfeição a metânoia ou emenda, pois quem escolhe ser pobre, renunciando a monopolizar riquezas, e com isso, à posição social e ao domínio, exclui de sua vida a possibilidade de injustiça. É a visão da teologia da libertação.
CONCLUSÃO: As palavras de Jesus são um convite a refletir de forma nova sobre fatos que consideramos desafortunados, mas que o evangelho torna afortunados. Entre eles a pobreza, considerada como um castigo divino, mas que agora devemos ver como uma circunstância providencial, uma verdadeira bênção do céu, porque facilitará a entrada no reino dos que a sofrem.
OS QUE CHORAM: Ditosos os que pranteiam. Eles serão consolados(4). Beati qui lugent quoniam ipsi consolabuntur. O latim e a maioria das traduções modernas modificam a ordem desta bem-aventurança colocando-a em terceiro lugar. Mas que significa o verbo grego penthountes<3996>? Ele significa propriamente lamentar os mortos ou seja prantear, derramar lágrimas por alguém, estar de luto. Precisamente a palavra luto deriva do latim lugere de onde luctus.O grego pentheö [lugere latino] sai 4 vezes nos evangelhos: Duas em Mateus e uma em Marcos e Lucas. É traduzido por lugere, enquanto o pranto ou choro como o de um menino é klaiö. Pedro chorou [eklausen, ploravit] amargamente após suas negações (Mt 26, 75). As carpideiras, ou pranteadeiras, choravam [klaiontas, flentes] na casa de Jairo por causa da morte da filha (Mc 5, 38). Lucas, neste lugar paralelo, usa klaiö em vez de pentheö de Mateus (Lc 5, 21). Sobre pentheö temos Mt 9, 15 que diz que os amigos do noivo não podem estar de luto no dia da boda do mesmo. Marcos diz que a Madalena anunciou a Ressurreição aos que estavam lamentando [penthosin, lugentibis] e chorando [klaiousin, flentibus]. Os mesmos dois verbos sucessivos usa Lucas em 6, 25. Também o grego admite como tradução os que se lamentam ou estão afligidos, como aceitam traduções modernas. Poderíamos traduzir por os que sofrem. A razão que motiva esta bem-aventurança é a de que encontrarão consolação a sua dor. Logicamente o pranto não é devido a uma dor física mas a uma perda de uma pessoa amada ou de bens estimados necessários para a vida: um infortúnio, uma desgraça. Alguns traduzem: os que sabem o que significa a tristeza. É o próprio Deus que será seu consolo, segundo Is 61, 2: A consolar todos os que choram. Lucas, como a vulgata de Mateus, traz esta bem-aventurança em terceiro lugar e a palavra usada é Klaiontes [o latim flentes, derramando lágrimas] que como sempre traduz muito literalmente o grego. O texto não diz as razões que motivaram as lágrimas. Mas no texto de Isaías, citado por Jesus quando do início de sua missão, encontramos: que foi enviado a consolar [parakalesai] os que estão tristes [penthountas]. Usa, pois, Mateus os dois verbos que a setenta, a bíblia-guia dos primitivos cristãos, emprega. Poderíamos afirmar que o consolador é o próprio Jesus na sua função de Messias Salvador, ou Cristo. Ele toma as funções divinas atribuídas a Deus na passiva do verbo correspondente. Recorda a passagem: Vinde a mim todos vós que estais cansados…e eu vos aliviarei(Mt 11, 28).
OS MANSOS: Ditosos os mansos porque eles herdarão a terra (5). Beati mites quoniam ipsi possidebunt terram. PRAEYS <4239>: é palavra própria dos mansos, benignos, não violentos, o mites ou mansuetus latino, que aceitam sua fragilidade e sua situação social sem revolta, mas com a confiança em Deus que será o último fautor da História. É uma imagem tomada do Salmo 37, 11: Pois os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância da paz. É notável como as palavras prays e klëronomeö são também as usadas pelo salmista. O sentido claro é que definitivamente o Reino é um reino de paz e que os não violentos são os herdeiros desse reino que substitui o antigo Israel, a verdadeira terra bíblica. Por isso, Jesus afirma que os contrários do Reino são os violentos que estão a destruí-lo (Mt 11, 12). No tempo de Jesus os Zelotas pensavam fosse a terra [nome dado à Palestina pelos israelitas] matéria de conquista e guerra. Jesus, porém, toma a palavra do profeta no salmo 37, 8-9 para indicar que não é a violência que conquista a terra. Deixa a violência, abandona o furor, não te inflames: só farias o mal; porque os maus vão ser extirpados e os que aguardam o Senhor possuirão a terra. De Si mesmo dirá que devemos aprender porque é manso [prays] e humilde [tapeinos] de coração (Mt 11, 29). De novo temos a presença de Jesus nesta bem-aventurança, agora como modelo humano e não como Deus que cumpre uma promessa. Esta bem-aventurança é uma antecipação da número 7: os fazedores da paz. Só que neste último caso a situação é ativa e na nossa 3a bem-aventurança o sujeito é passivo: pacífico. Terra [gë] era o termo com o qual declaravam os judeus a porção geográfica que Jahweh tinha dado a eles por herança (Dt 1, 36 e Nm 26, 53) que Dt 9, 29 identifica com o povo de Israel, de modo que podemos afirmar que unicamente os pacíficos ocuparão o espaço dos que pertencem ao Reino.
FOME E SEDE DE JUSTIÇA: Ditosos os famintos e sedentos de justiça, porque serão saciados (6).Beati qui esuriunt et sitiunt iustitiam quoniam ipsi saturabuntur. Esta bem-aventurança está refletida, mas de modo material, na segunda de Lucas: Os famintos [peinontes] agora, pois serão saciados. Esta oposição à materialidade de Lucas nos descobre uma interpretação espiritualista de Mateus das palavras de Jesus. Ao mesmo tempo, Mateus conecta com o AT segundo sua proposição de que Jesus veio não para revogar a Lei mas para completá-la (Mt 5, 17). São duas as passagens de Isaías que falam sobre sede e fome: 55, 1 e 65, 13. Especialmente nesta última Jahweh se refere a seus servos que terão comida e bebida em abundância. Mas que significa a justiça que é a fonte ou motivo de sede e fome? Em grego dikaiosyne significa: 1) Justiça divina que premia o bem e castiga o mal. 2) Justiça humana equivalente a santidade moral. Homem justo é um homem virtuoso. 3) Fidelidade divina que cumpre sempre suas promessas, que vem ser sinônimo de salvação. 4) Justiça distributiva humana que respeita o direito e defende em nome de Deus os mais necessitados. Qual delas é a justiça de nosso versículo? Provavelmente, a terceira. A justiça bíblica é sinônimo de santidade ou correção de vida em conformidade com a vontade divina. Não é a justiça comutativa mas a essencial da qual nos fala Paulo e que em certo modo se identifica com salvação e santidade. O lugar paralelo é Mt 6, 33 no qual a justiça está unida ao Reino. Justos eram aqueles cujo sangue foi derramado desde Abel até o último profeta (Mt 23, 33). Uma salvação que inclui também o primeiro significado. Era o desejo manifestado por Simeão: Meus olhos viram a tua salvação (Lc 2, 30) porque essa salvação foi comparada a um banquete no qual todos podiam entrar, ricos e pobres, sãos e aleijados, bons e maus. A entrada é livre, pois a justiça divina se transformou em misericórdia. Unicamente os convivas deveriam ter uma veste limpa: não buscar a própria exaltação como os fariseus, mas revestidos de Cristo (Rm 13, 14) de sentimentos de compaixão, benevolência, humildade, doçura, paciência (Cl 3, 12).
OS MISERICORDIOSOS: Ditosos os misericordiosos porque serão tratados com misericórdia (7). Beati misericordes quia ipsi misericordiam consequentur. Eleëmones<1655> é o termo grego significando que tem compaixão. Eles alcançarão essa mesma compaixão que têm com os homens, mas da parte de Deus. Eleemones só sai esta vez nos evangelhos. A palavra que é usada da mesma raiz é eleeö, <1653>[miserere, ter compaixão]. É o verbo usado pelos pedintes para uma cura de Jesus, como os cegos, a mulher cananéia, o pai do filho epiléptico, etc. É o verbo usado por Jesus na parábola do servo devedor, a palavra que usa o rico para pedir de Abraão uma gota d’água. É a compaixão para com aquele que está necessitado ou pede perdão de uma dívida impagável. O próprio Lucas traduz a perfeição cristã por misericórdia: sede misericordiosos como vosso Pai (Lc 6, 36). A palavra usada por Lucas oiktirmon <3629> [misericors, que tem pena de] é mais próxima de compaixão que de misericórdia. Precisamente a eleëmosunë <1654> eleemosina latina [esmola portuguesa] provém dessa raiz grega. Daí o grande motivo para dar esmolas entre os cristãos.
LIMPOS DE CORAÇÃO: Ditosos os limpos no coração porque eles verão a Deus(8). Beati mundo corde quoniam ipsi Deum videbunt. KATHAROI <2513> [mundi, limpos]. Na verdade, o latim com mundo corde diria: ditosos (aqueles) com coração limpo. O coração limpo, por outros traduzido por os puros de coração nada tem a ver com a castidade, mas visa os de intenções limpas, os não malvados, nem torcidos em seu íntimo entre pensamento, palavra e ação por terem o pensamento diverso de sua palavra mentirosa. Ou seja, os não hipócritas, os que só pensam em fazer o bem, sem outras intenções espúrias ou indignas por segundos interesses. Limpos de coração é tomado do Salmo 24, 4: Quem é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem jura dolosamente. O salmo 15, 2 fala de quem vive com integridade e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade, o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo nem lança injúria contra seu vizinho. Esta é a limpeza do coração, mente, ou intenção diríamos hoje. O prêmio desta vez é que verão [opsontai] a Deus. Quando? Evidentemente na figura de Jesus. Como exemplo: os fariseus viram o demônio expulsando seu colega, quando a gente simples via o dedo de Deus na expulsão do demônio feita por Jesus (Mt 12, 22-24). Por outro lado, eles, os limpos de coração, são os que buscam a verdade e a encontrarão e por isso verão a Deus em suas vidas porque Deus é a única verdade. Na epístola aos Hebreus se afirma que sem a santificação é impossível ver a Deus (Hb 12, 14). Não se trata unicamente do além, mas do tempo presente em que a premissa básica para encontrar o verdadeiro Deus é a pureza de intenção. Precisamente Jesus dirá que é no coração onde se prepara e cozinha a maldade (Mt 16, 19). A presença de Deus era o Templo, onde Deus estava assentado sobre os querubins da arca (1 Sm 4, 4). Agora o verdadeiro templo é o crente (1 Cor 3, 16), e só se Deus é adorado em verdade (Jo 4, 24) é que estará ali como estava sobre os querubins no antigo Templo (1 Sm 4, 4). E nesse templo interior, Ele se manifestará.
OS QUE TRABALHAM PELA PAZ: Ditosos os que trabalham pela paz porque eles serão chamados filhos de Deus(9). Beati pacifici quoniam filii Dei vocabuntur. Os EIRËNOPOIOI <1518> grego [ pacifici latino], têm como tradução direta os que fabricam a paz, que infelizmente o latim traduz impropriamente por pacifici e que a maioria das bíblias adotou como pacífico; mas pacífico corresponde a 3a bem-aventurança com o nome de praeis. Uma coisa é ser pacífico ou afável, e outra é trabalhar pela paz. Um comentarista diz que um trabalhador pela paz é um homem que experimentou a paz de Deus e pretende levar a mesma aos que com ele convivem. De fato, esta é a única vez que é empregada no NT. SERÃO CHAMADOS FILHOS, está no lugar de serão verdadeiros filhos de Deus. Precisamente, segundo Isaías, o filho que nos foi dado, terá como nome Emanuel [Deus conosco] e será chamado Príncipe da paz (9,5). Esse Jesus que, como rei da paz, entra em Jerusalém montado num jumento e não num cavalo, montaria de guerra, para anunciar a paz às nações (Zc 9, 9-10). Os pacificadores são os verdadeiros continuadores do labor feito por Jesus, levam a paz entre os homens e a paz para com Deus. Trabalham como Jesus trabalhou, com o mesmo objetivo e o mesmo motivo: reconciliação e amor.
OS PERSEGUIDOS: Ditosos os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus (10). Beati qui persecutionem patiuntur propter iustitiam quoniam ipsorum est regnum caelorum. PERSEGUIDOS [dediögmenoi <1377> =persecutionem patiuntur], perseguidos é o particípio passado passivo do verbo Diökö <1377> buscar ou acossar alguém de modo a ter que fugir por causa do acossamento. Esta deveria ser a oitava e última bem-aventurança, mas nos encontramos com um makarismo a mais, o nono. A justiça é, como temos explicado no parágrafo de sede e fome de justiça, a correção de vida que se ajusta aos planos divinos, e que no AT consistia no cumprimento exato dos preceitos da Lei, como era o caso de José, esposo de Maria, que devia por lei denunciar Maria publicamente, mas pensava em repudiá-la ao modo antigo, ou seja secretamente (Mt 1, 19). Jesus claramente abona a idéia de que a moral entra dentro dos planos divinos.
A JUSTIÇA DO REINO: Ditosos sois quando vos tenham reprovado e perseguido e dito palavra má contra vós, mentindo por minha causa (11). Beati estis cum maledixerint vobis et persecuti vos fuerint et dixerint omne malum adversum vos mentientes propter me. Parece que este é o nono macarismo, porém os autores afirmam que ele é a explicação do oitavo, indicando qual é a justiça e a perseguição dos justos. De fato, neste último macarismo Jesus passa da terceira pessoa, em termos gerais, para a segunda pessoa dirigindo-se a seus ouvintes: vós. A justiça é a que está representada na pessoa de Jesus [por causa de mim]. A perseguição ou os perseguidos, do verbo diökö, são os buscados ou acossados pelos inimigos de Jesus, porque atrás deles está o Mestre, como Ele disse a Saulo, perseguidor dos seus discípulos (At 9, 4): Saulo, Saulo, por que me persegues? O grego usa neste versículo o mesmo verbo diökö. Dentro da explicação, vemos que a perseguição implica a injúria, o acossamento e a mentira. Todos eles, os perseguidos, pertencerão ao Reino e são os verdadeiros membros do mesmo, o constituem. A última bem-aventurança promete a mesma recompensa do que a primeira: o Reino.
A RECOMPENSA: Ficai alegres e exultai porque vossa recompensa (é) grande nos céus. Assim também perseguiram os profetas, os anteriores vossos (12). Gaudete et exultate quoniam merces vestra copiosa est in caelis sic enim persecuti sunt prophetas qui fuerunt ante vos. A recompensa, ou melhor, o salário [misthós<3408>] é uma remuneração que só Deus pode dar e que ninguém poderá diminuir ou anular, como é o tesouro que as riquezas bem repartidas adquirem para os que delas se desprendem. Assim podeis comparar-vos com os profetas que me precederam. A ação profética é precisamente o testemunho de suas vidas, aparentemente desperdiçadas inutilmente, maltratadas e vilipendiadas pelos que tinham a obrigação de ouvir e respeitar seus testemunhos. É uma profecia do que aconteceria após a morte e ressurreição de Jesus, do qual eles se tornariam testemunhas e profetas.
PISTAS:
1) Jesus [ou a Igreja primitiva] coloca as bem-aventuranças no início da sua atuação pública, imediatamente após a escolha dos doze. Pelos detalhes de Mateus elas ocupam o lugar dos mandamentos recebidos por Moisés no Sinai; ou seja, Jesus prega uma Boa Nova em oposição a Moisés que proclama uma lei de servidão.
2) É um evangelho positivo no qual Deus quer mostrar a sua face de bondade e salvação. E são precisamente esses homens passivos da ação divina que o mundo pensaria serem os de pior sorte, os que são beneficiados [makarioi, ditosos] pela riqueza e misericórdia de Deus.
3) Não se trata de uma moral nova a ser cumprida –à parte o capítulo V- mas de umas circunstâncias nas quais Deus quer se mostrar magnânimo e divinamente generoso. Por isso as Bem-aventuranças estão sendo proclamadas a todos os que de alguma maneira encontram em Jesus o seu Mestre e Salvador.
4) As bem-aventuranças resumem o espírito evangélico, ou apresentam um modo novo de olhar para a realidade crua, dos discípulos de Jesus? Antes parece um juízo feito pela sabedoria divina dos momentos e das pessoas que nós consideramos desafortunados. Nessas situações tão indesejáveis, a esperança provém do olhar para a verdadeira essência das coisas: ver a realidade como Deus a vê.
5) As primeiras constituem a bênção de circunstâncias que podemos chamar de infortúnio. Estar nas mesmas não é um azar, mas uma sorte do ponto de vista da providência divina. As segundas implicam uma recompensa para determinadas virtudes que são essencialmente cristãs. Todas constituem a Boa Nova para necessitados ou almas de boa vontade. A Boa Vontade divina agora inclui a boa vontade humana.
EXEMPLO: Um mestre oriental contava de si mesmo: Na juventude, eu era um verdadeiro chefe revolucionário e rezava assim: dá-me energia, ó Deus, para mudar o mundo! Mas notei, ao chegar à meia-idade, que metade da vida já havia passado sem que eu tivesse mudado homem algum. Então mudei a minha oração, dizendo a Deus: Dá-me a graça, Senhor, de transformar os que vivem comigo, dia a dia, como os meus familiares e os meus amigos. Com isto eu já fico satisfeito! Agora que sou velho e com os dias contados, percebo bem o quanto fui tolo rezando assim. A minha oração agora é apenas esta: Dá-me a graça, Senhor, de mudar a mim mesmo! Se eu tivesse rezado assim desde o princípio, não teria esbanjado a minha vida e o mundo seria bem melhor.
FRASE: Dos modernos, que tanto confiam na ciência como verdade absoluta, podemos afirmar com o Papa: apesar de terem deuses, estão sem Deus e, com muitas esperanças, falta-lhes a suprema e última esperança.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
22.01.2017
III DOMINGO DO TEMPO COMUM — ANO A
( Verde, Glória, Creio – III Semana do Saltério )
__ "Segui-me e Eu farei de vós pescadores de homens." __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: O Mistério Pascal, que hoje celebramos, permite-nos acompanhar Jesus no início de sua missão, na Galileia e sermos chamados à conversão e à missão. Mateus localiza o momento dentro do espaço geográfico e do tempo histórico, embora citando um texto do profeta Isaías. Aliás, Mateus, ao longo do Evangelho, citará diversas vezes o Antigo Testamento, com o intuito de mostrar que Jesus é a plenitude dos tempos e de todas as promessas. Começa a mostrar que a pregação de Jesus é salvadora e religa o homem à vida imortal de Deus. Por isso, junto aos doentes, sofredores e aos mais pobres, Jesus anuncia a chegada do Reino de Deus, chama os primeiros discípulos, cura as enfermidades do povo. Conhecendo nossas limitações e possibilidades, ele renova seu chamado a cada um de nós e nos propõe a conversão ao Reino, para que em seu Nome possamos frutificar em boas obras.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, aqui estamos para celebrar o mistério pascal de Cristo. Esse mistério nos envolve com sua luz e ilumina toda nossa existência. Jesus, luz do mundo, se manifestará à sua Igreja aqui reunida como assembleia santa, seja na Palavra que ouviremos, seja naquele que preside esta celebração e seja, sobretudo, pelo pão e vinho eucarísticos, Corpo e Sangue do Senhor. Deixemo-nos ser arrancados da escuridão pela força renovadora da Páscoa do Senhor e, com alegria, cantemos ao Senhor um canto novo.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A luz é uma das necessidades primordiais do homem. Não é apenas um elemento necessário à vida, mas como que a imagem da própria vida. Isso influi profundamente na linguagem, para aqual "ver a luz", "vir à luz" significa nascer; "ver a luz do sol" é sinônimo de viver... Ao contrário, quando um homem morre, diz-se que "apagou", que "fechou os olhos à luz"... A Bíblia usa esta palavra como símbolo da salvação. O salmo responsorial põe a luz em estreita ralação com a salvação. "O Senhor é minha luz e minha salvação". "Deus é luz e nele não há trevas" (1Jo 1,5) "Habita uma luz inacessível" (1Tm 6,16). Em Jesus, a luz de Deus vem brilhar sobre a terra: "Veio ao mundo a luz verdadeira que ilumina todo homem" (Jo 1,9). "Eu como luz vim ao mundo, para que todo o que crê não permaneça nas trevas" (Jo 12,46). Com Jesus passamos das trevas para a luz. Evangelização é luz. Conversão é luz.
Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Is 8, 23b-9,3): - "O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz!"
SALMO RESPONSORIAL 26(27): - "O Senhor é minha luz e salvação. * O senhor é a proteção da minha vida."
SEGUNDA LEITURA (1Cor 1,10-13.17): - "Sede bem unidos e concordes no pensar e no falar."
EVANGELHO (Mt 4,12-23): - "Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens."
Homilia do Diácono José da Cruz – 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
"JESUS, NOSSA LUZ!"
No meu grupo de reflexão, a Dona Rosa que ajuda na limpeza da igreja, fez uma observação interessante sobre esse evangelho do terceiro domingo do Tempo Comum.
Segundo ela, ao ver que o primo João fora preso, Jesus parece ter desistido de tudo e voltou para o interior, lá no fim do mundo, na terra de Zabulon e Neftali”. Não vou discordar da Dona Rosa, pois a narrativa nos dá de fato essa impressão. Mas esse encerramento de um ciclo em forma de fracasso, parece ser uma constante na História da Salvação, dando-se a impressão que tudo acabou e está na hora de jogar a toalha. Basta que recapitulemos a história, o pecado de Adão e Eva, por exemplo, que truncou o Projeto de Deus, tornou-se ponto marcante da Salvação que Deus realiza, a favor do homem, chegando a se cantar no” Exultis” da Vigília Pascal “Oh culpa tão feliz que há merecido, a graça de um tão Grande Redentor!..”O Povo de Israel, a raça escolhida e Nação Santa, em inúmeras ocasiões de sua história, experimentou essa sensação de ter chegado ao final do caminho, basta-nos lembrar que Deus reconstrói a Nação a partir de um pequeno “resto” no pós exílio.
E depois, em Jesus Cristo, que cumpriu todas as promessas de Deus e era o grande esperado, viria o maior de todos os fracassos: a terrível morte na cruz, o desânimo dos discípulos de Emaús é um retrato fiel das primeiras comunidades,, e aparece Pedro, em um dos evangelhos do Pós-pascal, dizendo aos companheiros “Eu vou pescar....”, essas são evidências muito claras de um gesto de “jogar a toalha” para qualquer leitor menos esclarecido. Parece estranho, mas esse é o jeito de Deus agir.
Quando tudo parece que vai se acabar, e o fracasso é iminente, o Reino renasce em meio as cinzas, Jesus foi para o interiorzão fim de mundo, em lugarejos onde o povo vivia na escuridão, isso é, não conheciam a Verdade, era uma terra de pecadores, de gente perdida e sem recuperação, uma gente sem esperança, entregue ao desânimo. Para certas categorias de pessoas, incluindo-se os pobres, não há muito o que esperar.Qual ideologia ou projeto humano conseguirá mudar os destinos da humanidade e a vida de cada pessoa?
Mas é, ali, naquele fim de mundo, que o Reino sonhado por Deus, vai começar prá valer, João Batista, sua pregação e o Batismo penitencial, fora apenas um “aperitivo”, uma fase preliminar, agora é que as coisas iriam começar a acontecer do jeito de Deus, precisamente em Jesus de Nazaré.
Muitas luzes brilhavam em Jerusalém, a pomposidade e o Poderio do Império Romano, a suntuosidade do templo onde a luz dos homens ofuscava a Verdadeira Luz que é Deus, a sabedoria e a eloqüência dos Doutores da Lei, a pureza dos Fariseus, mas foi na distante Zabulon e Neftali, além da Galiléia, que os homens viram brilhar a autêntica e única luz, previsto nas profecias, quanto maior a escuridão maior será o brilho da luz! Longe da suntuosidade dos palácios e da grandeza do templo, os excluídos, marginalizados e esquecidos, recebem por primeiro a notícia de que o Reino havia chegado e exigia uma conversão, a metanóia que muda o pensar e o agir do homem, que desmonta e desmascara toda e qualquer falsa segurança para buscar o Reino em primeiro lugar. Olha a estratégia e a pedagogia de Jesus! Os desesperançosos e excluídos do sistema político-econômico e religioso, ouviam o ensinamento de Jesus e começavam a sonhar e ter esperança, com algo novo, que não viria doa poderes constituídos.... As vezes alimentamos muitos sonhos bonitos, mas todos passam pelos poderes instituídos, mudança para melhor sempre depende dos que mandam....Jesus quebra essa falsa premissa....
Nenhuma segurança terrena pode garantir a Vida em sua plenitude ao Ser humano, nenhuma segurança material pode tornar o homem feliz e realizado! Á beira do mar da Galiléia, quatro pescadores aceitaram essa proposta nova e inédita, deixar aquilo que se têm, para se tornar discípulo de Jesus. Em uma perspectiva vocacional, os nomes de Simão Pedro e seu irmão André, Tiago e João, são mencionados como os primeiros chamados, mas eles são também os primeiros a acreditarem no Reino anunciado por Jesus. Os dois primeiros jogavam a rede ao mar, e os dois últimos consertavam as redes. Eram tarefas comuns na vida de um profissional da pesca por aqueles tempos. Os quatro não conheciam outra segurança senão a da sobrevivência, com a atividade pesqueira. Sem dúvida que o trabalho é uma bênção, mas ele nos dá apenas a garantia de uma sobrevivência humana, alimentos, roupa, moradia, bens de consumo. O homem dos nossos tempos, não consegue mais perceber o transcendente, pois o imediatismo da vida moderna, e o consumismo desenfreado o leva a pensar que o propalado “Paraíso” é por aqui mesmo, em uma vida marcada pelo sucesso, por uma carreira bem sucedida, pelo enriquecimento rápido e fácil, pelas mudanças meteóricas que o poder econômico oferece, enfim, pela administração dos bens materiais, investimentos e aplicações, não pensar assim, é expor-se ao ridículo. Fala-se muito em criar oportunidades para as pessoas, mas tais oportunidades limitam-se ao material. E nesse horizonte, a religião, principalmente a cristã, só atrapalha...
Jesus é a Luz do mundo, a única e verdadeira referência para toda a humanidade, não segui-lo, e dar ouvidos as propostas de vida que o mundo de hoje oferece, é arriscar-se a perambular nas trevas, e depois permanecer nelas para sempre. A Luz de Cristo está no coração dos que crêem, e não nas estruturas ou instituições, mesmo as religiosas, passíveis do erro das divisões e das intrigas, como a Comunidade de Coríntios.
A Comunidade Cristã tem que refletir em seu viver e em seu “celebrar”, essa luz que brilha no interior de cada crente, caso contrário corremos o risco de nos iludirmos com as “Luzes da Ribalta” que iluminam o homem como centro de tudo, mas que um dia, no final do “espetáculo” irão se apagar para sempre, deixando atrás de si a mais terrível de toda escuridão. Mas quando se crê sinceramente que a Salvação vem de Deus e não dos empreendimentos humanos, então pode se rezar com a boca e o coração como o salmista ”O Senhor é minha Luz e Salvação”.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
“Todos têm vocação”
Muito tempo há, dois irmãos foram pescar. Era a profissão deles e, portanto, um dia e outro também saiam ao mar, lançavam as suas redes e, dependendo de alguns fatores que eu não sei explicar bem, pescavam uma quantidade razoável de peixes. É verdade, segundo li nalgum lugar, que não eram infrequentes os dias de má pesca. No entanto, todos os dias tinham que estar lá, pescar era o ganha-pão da família deles.
O dia ao qual me refiro, era uma jornada costumeira, ordinária; um dia normal como todos os outros. Lá estavam os dois irmãos exercendo a sua profissão quando, inesperadamente, escutaram as seguintes palavras: “Vinde após de mim e vos farei pescadores de homens” (Mt 4,19). Pedro e André, os irmãos pescadores, “abandonaram as suas redes e o seguiram” (Mt 4,20).
Quem os chamou? Jesus de Nazaré. Eles o conheciam há muito tempo ou era a primeira vez que viam aquele personagem que os convenceu sobremaneira? Seja como for, impressiona a docilidade de Pedro e de André à vocação. Pescadores de quê? Não, de peixes não, de homens. De homens? Sim. E como se pescam os homens? Os dois irmãos passariam mais ou menos três anos na escola de Jesus para aprender a pescá-los. Pescar peixes não parece ser fácil, pescar homens parece mais difícil. No entanto, acompanhando a Jesus, se aprende constantemente.
Faz algum tempo, Deus também nos chamou, a cada um pelo nosso nome. Você se lembra daquele momento tão entranhável no qual você percebeu que Deus o chamava a segui-lo buscando de verdade a santidade e o bem de todas as pessoas? Graças a Deus: respondemos positivamente ao Senhor! Talvez tenha sido na infância, talvez na adolescência, talvez ainda na juventude… Sempre é tempo de vocação (= chamada), Deus continua chamando-nos nas circunstâncias mais normais e cotidianas da nossa vida: no nosso trabalho, na nossa família, entre os nossos amigos.
Nós não vimos uma sarça ardente como Moisés; nem escutamos vozes como Samuel; tampouco fomos ungidos solenemente por um profeta como no caso de Davi; não nos visitou um anjo como a tantos no curso da história; nem tivemos visões nem revelações. Nada disso! E, não obstante, nós vimos a nossa vocação, nós percebemos que Deus nos chamava. A nossa vocação foi uma luz que deu sentido à nossa vida e essa luz interior permanece até hoje e, com a graça de Deus, não se apagará jamais. O que é a vocação senão essa percepção da realidade que Deus quer para nós, isto é, que sejamos discípulos para evangelizar. Duas palavrinhas resumem a nossa vocação: santidade, apostolado. Desde toda a eternidade, Deus pensou em nós, chamou-nos e capacitou-nos para que sejamos santos, para que sejamos apóstolos.
Todo cristão tem a vocação que lhe foi concedida por graça no momento do batismo: todos nós fomos chamados à santidade e ao apostolado. Com o passar do tempo, na escola de Jesus, essa vocação poderia receber uma nova especificação, por exemplo, no caso daqueles que são chamados ao sacerdócio ministerial. No entanto, a vocação à santidade e ao apostolado é igual para padres, para leigos e para religiosos. Todos devem ser santos, todos devem evangelizar. Por quê? Porque foram batizados. Além do mais, não existe uma santidade maior para os padres e uma santidade menor para os leigos, mas todos estão chamados à plenitude da vida cristã, à santidade. Com outras palavras: o padre não é mais santo porque é padre, nem o leigo é menos santo pelo fato de ser leigo. Não! A santidade é medida pela caridade e todos podem chegar ao auge do amor.
Pedro e André, os futuros São Pedro e Santo André, compreenderam isso. Eles seguiram ao Senhor Jesus, andaram com ele, permaneceram sempre perto de Jesus, atenderam os seus apelos de evangelização, fizeram a vontade do seu Mestre e… são santos. Aprenderam a estar com Jesus e a pescar homens. Aprenderam a ser apóstolos.
Todos nós somos chamados a “pescar homens e mulheres”, ou seja, conseguir que todas as pessoas que entrem em contato conosco ou que nós entremos em contato com elas, saiam desse grande mar do pecado e entrem na barca da Igreja quais peixes para Jesus. Não obstante, sair do mar, sair desse habitat de agua abundante que é o mar e passar à barca pressupõe morrer. Qual é o peixe que ao sair da água e ir para uma barca não morre, em primeiro lugar pela ausência da água? Essa morte para o mundo é, paradoxalmente, o começo de vida eterna. Os peixes que entram na barca não precisam se preocupar, pois essa barca tem água fresca, limpa e sempre nova que jorrou do lado aberto de Jesus na cruz para a nossa salvação.
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Homilia do Mons. José Maria – 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
Conversão e Testemunho
Jesus, depois de ter deixado Nazaré e de ter sido batizado no Jordão, vai a Cafarnaum para iniciar o seu ministério público.
Ele é apresentado como grande luz (cf. Mt 4, 12-23) de que fala o Profeta Isaías (Is 9, 1-4).
No caminho do mar, junto ao lago, que Jesus começa a pregar e a dizer: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus” ( Mt 4, 17). Da pregação em geral, Jesus passa ao convite pessoal: “Segui-Me e Eu vos farei pescadores de homens. Eles deixaram imediatamente as redes e O seguiram”.
O Evangelho nos apresenta o chamamento dos primeiros Apóstolos: “Ele chamou enquanto caminhava junto ao mar da Galiléia. Estes homens experimentaram o fascínio da luz secreta que emanava dEle e seguiram-na sem demora para que iluminasse com o seu fulgor o caminho das suas vidas. Mas essa luz de Jesus resplandece para todos.
Jesus Cristo, luz do mundo, chamou primeiro uns homens simples da Galiléia, iluminou as suas vidas, ganhou-os para a sua causa e pediu-lhes uma entrega sem condições. Aqueles pescadores da Galiléia saíram da penumbra de uma vida sem relevo nem horizonte para seguirem o Mestre, tal como outros o fariam logo após, e depois já não cessariam de fazê-lo inúmeros homens e mulheres ao longo dos séculos. Seguiram-no até darem a vida por Ele. Nós também O seguimos!
O Senhor chama-nos agora para que O sigamos e para que iluminemos a vida dos homens e as suas atividades nobres com a luz da fé; sabemos bem que o remédio para tantos males que afetam a humanidade é a fé em Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor, razão de ser de nossa existência; sem Ele, os homens caminham às escuras e por isso tropeçam e caem. E a fé que devemos comunicar é luz na inteligência, uma luz incomparável: fora da fé estão as trevas, a escuridão natural diante da verdade sobrenatural…”
Jesus inicia o seu ministério e prega a conversão: “Convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo” (Mt 4, 17). A conversão, diz o Doc. de Aparecida, nº 278b, “é a resposta inicial de quem escutou o Senhor com admiração, crê nele pela ação do Espírito, decide ser seu amigo e ir após Ele, mudando a sua forma de pensar e de viver, aceitando a cruz de Cristo, consciente de que morrer para o pecado é alcançar a vida. No Batismo e no sacramento da Reconciliação se atualiza para nós a redenção de Cristo”.
As palavras chegarão ao coração dos nossos amigos se antes lhes tiver chegado o exemplo da nossa atuação: as virtudes humanas próprias do cristão – o otimismo, a cordialidade, a firmeza de caráter, a lealdade… Não iluminaria com a sua fé o cristão que não fosse exemplar no seu trabalho ou no seu estudo, que perdesse o tempo, que não fosse sereno no meio das dificuldades, perfeito no cumprimento do seu dever, que lesasse algum aspecto da justiça nas relações profissionais…
A mensagem de Cristo sempre entrará em choque com uma sociedade contagiada pelo materialismo e por uma atitude conformista e aburguesada perante a vida.
“Sê forte” (Sl 26, 14). Poderíamos perguntar-nos hoje se no nosso círculo de relações somos conhecidos por essa coerência de vida, pelo exemplo na atuação profissional, ou no estudo, se somos estudantes; pelo exercício diário das virtudes humanas e sobrenaturais, com a coragem e o esforço perseverante a que nos incita o Espírito Santo.
Deus chama-nos a todos para que sejamos luz do mundo, e essa luz não pode ficar escondida: “Somos lâmpadas que foram acesas com a luz da verdade” (Santo Agostinho).
Se somos cristãos que vivem imersos na trama da sociedade, santificando-nos em e através do trabalho, devemos conhecer muito bem os princípios da ética profissional, e aplicá-los depois no exercício diário da profissão, ainda que esses critérios sejam exigentes e nos custe levá-los à prática. Para isso são necessárias vida interior e formação doutrinal.
Peçamos à Virgem Maria coragem e simplicidade para vivermos no meio do mundo sem sermos mundanos, como os primeiros cristãos, para sermos luz de Cristo na nossa profissão e em todos os ambientes de que participamos. “Como discípulos e missionários de Jesus, queremos e devemos proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo. Os cristãos somos portadores de boas novas para a humanidade, não profetas de desventuras” (Aparecida nº 30).
Mons. José Maria Pereira
Homilia do D. Henrique Soares da Costa – III Domingo do Tempo Comum – Ano A
Is 8,23b – 9,3
Sl 26
1Cor 1,10-13.17
Mt 4,12-23
A primeira leitura da Missa de hoje é, em parte, a mesma da Noite do Natal: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu! Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade! Todos se regozijam em tua presença”. Irmãos, esta luz que ilumina as trevas, que dissipa as sombras da morte, que traz a felicidade, é Jesus. O texto do Evangelho que escutamos no-lo confirma: Jesus é a bendita luz de Deus que brilhou neste mundo! Ele mesmo afirmou: “Eu sou a luz do mundo! Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida!” (Jo 8,12). Já escutamos tanto tais afirmações, que corremos o risco de não perceber o quanto são revolucionárias, o quanto nos comprometem, o quanto são capazes de transformar a nossa vida!
A Palavra de Deus nos ensina que o mundo é marcado pelas trevas: trevas na natureza (tais como a tragédia do tsunami), trevas na história, trevas no coração da humanidade e de cada um de nós. Olhemos em volta! O mundo não é bonzinho: há forças destrutivas, caóticas, desagregadoras, forças diabólicas, que destroem a alegria de viver e ameaçam devorar o sentido da nossa existência… Hoje, tantos e tantos julgam que podem passar sem Deus, que a religião é uma bobagem e uma humilhação para o homem… Há tantos que zombam de Deus, do Cristo Jesus, da Igreja… O que vale no mundo atual? O que é importante? O que conta realmente? O sucesso, os bens materiais, o prazer e a curtição da vida ao máximo, sem limites, sem peias… Será que não nos damos conta ainda que vivemos num mundo novamente pagão, novamente bárbaro, novamente entregue ao seu próprio pensar tenebroso? Será que não percebemos que o que vemos e lemos e ouvimos dos meios de comunicação é a defesa de uma humanidade sem Deus e sem fé, de uma humanidade que tenha somente a si própria como deus? Num mundo assim, Jesus nos diz: “Eu sou a Luz!” A luz não está nas universidades, a luz não está nos famosos deste mundo, a luz não está nos que têm o poder político, econômico ou social! A Luz é Cristo! Só ele nos ilumina, só ele nos revela o sentido da existência, só ele nos mostra o caminho por onde caminhar! Ser cristão é crer nisso, é viver disso!
Pois, esse Jesus, hoje, no Evangelho, nos convida a convertermo-nos a ele, a segui-lo de verdade, a colocar os passos de nossa vida no seu caminho: “Convertei-vos! O Reino dos céus está próximo!” Eis o apelo que Jesus nos faz – far-nos-á sempre! Converter-se significa mudar totalmente o rumo de nossa existência, alicerçando-a nele e não em nós, abraçando o seu modo de pensar e deixando o nosso, seguindo sua Palavra e não nossa razão, nossas idéias, nossa cabeça dura, nosso entendimento curto! Quem vai arriscar? Quem vai caminhar com ele? Quem vai abraçar sua Palavra, tão diferente do que o mundo quer, do que o mundo prega, do que o mundo valoriza? “Convertei-vos!” Jesus nos exorta porque sabe que também nós andamos em trevas, também nós, simplesmente entregues à nossa vontade e aos nossos pensamentos, jamais poderemos acolher o Reino dos céus! Não nos iludamos! Não pensemos que somos sábios, centrados e imunes! Somos, nós também, cegos, curtos de entendimento, pecadores duros e teimosos! Nosso coração é embotado por tantas paixões e por tantas cegueiras! “Convertei-vos!” O Governo Lula, neste carnaval, vai convidar tantos e tantos brasileiros a vestir-se de camisinha; o Senhor pede a todos que se vistam dele: “Revesti-vos de Cristo e não satisfareis os desejos da carne!” (Rm 13,14) Compreendem, irmãos e irmãs? O mundo vai para um lado; Jesus nos convida a ir para o outro! Converter-se é pensar diferente de nós mesmos e do mundo; é andar na contramão para caminhar com Cristo! Converter-se é deixar-se, como Pedro e André, Tiago e João que, “imediatamente deixaram as redes… deixaram a barca e o pai” e seguiram o Senhor!
Caríssimos, como não recordar a exortação do Apóstolo? “Não andeis como andam os pagãos, na futilidade de seus pensamentos, com entendimento entenebrecido, alienados da vida de Deus!” (Ef 4,17)Quando aceitamos esse desafio, esse convite, o sentido de nossa existência muda, porque começamos a enxergar e avaliar as coisas de um modo novo, um modo diferente: o modo de Cristo Jesus! Aí se realiza em nós a palavra da Escritura: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor! Andai como filhos da luz!” (Ef 5,8).
Caríssimos, deixar-se iluminar pelo Senhor, permitir que ele dissipe nossas trevas, é um trabalho, um processo que dura todo o nosso caminho neste mundo. Jamais estaremos totalmente convertidos, totalmente iluminados. Na segunda leitura da Missa, São Paulo convidava os cristãos de Corinto à conversão para uma vida de união e de amor. É assim: a Igreja toda inteira e cada um de nós pessoalmente, seremos sempre chamados a essa mudança, a esse deixar que a luz de Cristo invada a nossa existência tenebrosa! Nunca esqueçais, caríssimos, porque é verdade: “Outrora, sem Cristo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor! Andai, pois, como filhos da luz!” Seja esse o nosso trabalho, seja essa a nossa identidade, seja essa a nossa herança, seja essa a nossa recompensa! E que o Senhor nos socorra com a força da sua graça, ele que é fiel e bendito para sempre! Amém.
D. Henrique Soares da Costa
Comentário Exegético – 3º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
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... NÃO FOI PUBLICADO O COMENTÁRIO EXEGÉTICO DESTE DOMINGO ...
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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