GOTAS DE REFLEXÃO - EVANGELHO DOMINICAL
08.10.2017
27º Domingo do Tempo Comum — ANO A
OUTUBRO: MÊS DAS MISSÕES
( Verde, Glória, Creio, III Semana do Saltério )
__ “Por isso eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos.” __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Precisamos de uma Igreja e de uma sociedade novas que produzam frutos de humanidade e fraternidade, coparticipação e solidariedade, justiça e progresso, libertação e desenvolvimento autenticamente humanos. É preciso ter em conta e praticar “tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, amável, puro e louvável; tudo o que é virtuoso”. “Uvas azedas” são o egoísmo a opressão do mais fraco, rivalidade agressiva, competição desleal, intolerância e violência.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Somos a Igreja de Deus, a Vinha amada do Senhor aqui reunida para a Eucaristia. Somos a Vinha por vezes ameaçada de devastação, seja pela perseguição por causa do anúncio do Reino, seja pelos nossos próprios pecados, que azedam os frutos que deveriam ser doces! Pouco a pouco, aproxima-se o fim do ano litúrgico e o Senhor faz ressoar seu forte convite para que nos convertamos e assim possamos produzir frutos em nossa vida! Coloquemos no altar do Senhor todo esforço da Igreja na defesa dos direitos do nascituro. Que, por esta Eucaristia, o Senhor, que visita sua Vinha nesta sua Palavra e com seu Corpo e Sangue, venha em nosso socorro e nos proteja.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A alegoria da vinha inaugura o tema das núpcias de Javé com Israel, tema que voltará frequentemente na literatura bíblica. Às vezes, Israel é designado como vinha, outras vezes, como a esposa acariciada e depois repudiada. Nesse cântico de Iasaías, as duas linhas se misturam perfeitamente, através de uma como que superposição de imagens. A intervenção do profeta lembra o papel do amigo do esposo. A figura da vinha, como aliás a da esposa, se tornam como que um exemplo da história da salvação, do modo de agir de Deus perante seu povo e o mundo inteiro. O amor de Deus pelos homens se revela de modo dramático, mas por fim é sempre o amor que triunfa sobre a recusa e a infidelidade do homem.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Is 5,1-7): - "...eu esperava deles frutos de justiça – e eis injustiça; esperava obras de bondade – e eis iniqüidade."
SALMO RESPONSORIAL 79(80): - "A vinha do Senhor é a casa de Israel."
SEGUNDA LEITURA (Fl 4,6-9): - "Não vos inquieteis com coisa alguma, mas apresentai as vossas necessidades a Deus, em orações e súplicas, acompanhadas de ação de graças."
EVANGELHO (Mt 21,33-43): - "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos."
Homilia do Diácono José da Cruz – 27º Domingo do Tempo Comum – Ano A
"OS FRUTOS DA VINHA"
Recorro a lembranças da minha adolescência ao iniciar esta reflexão, tínhamos no fundo do quintal um belo caramanchão de maracujá que meu pai zelava com carinho, lembro que as flores muito bonitas e perfumosas, pareciam os cravos com que Jesus foi crucificado. Na época dos frutos nos deliciávamos com o suco que era uma gostosura e isso sem contar com a sombra fresca em dia de muito calor, onde tínhamos um velho banco de madeira sendo o local preferido para um descanso ou uma leitura.
Lendo esse evangelho e lembrando-se do meu pai, nas manhãs de verão, cavocando, podando, fazendo limpeza nas folhas do maracujeiro, reflito que é isso que Deus espera de cada um a quem, através do seu Filho, confiou a missão de cuidar do seu reino no meio dos homens. A liderança religiosa daquele tempo se esquivava dessa missão, e ainda aproveitava-se dela, para levar vantagem, isso é como se tivéssemos no quintal um maracujeiro, que nos desse flores, folhas, sombra e frutos, sem que lhe déssemos qualquer atenção. Benefício sem dar nada em troca chama-se exploração.
É um pouco isso que acontece nos chamados crimes ambientais, onde o homem explora a natureza, tira dela todo lucro possível, e nada faz para restaurar a perda, daquilo que consumiu. Jesus confiou à igreja a missão de anunciar, e ser expressão do Reino de Deus, ele a arrendou, para que todos os batizados tomassem conta dela, cuidassem com carinho e produzisse os frutos que o mundo precisa.
A comunidade é essa vinha, como igreja ela é sinal e expressão do reino de Deus, a parábola fala que os vinhateiros homicidas, não só negaram dar os frutos aos enviados pelo proprietário, como também foram violentos para com eles, e quando acolheram acolherem o Filho, o fizeram com a intenção de matá-lo para se apossar da sua herança. “Em nossas comunidades cristãs, não espancamos ninguém, e muito menos matamos quem quer que seja” devem estar pensando os leitores, míngüem na comunidade quer apossar-se de algo que pertence a outro. Será que não?
Mas dá para se pensar que, matar alguém, nem sempre significa por um fim a sua vida biológica, podemos matar de muitas formas, desprezo, indiferença, preconceito, divisões, intrigas, calúnias, falta de paciência, compreensão, moralismo exagerado com os que erram. Deus confiou-nos a Igreja para que, como aquele maracujeiro do fundo do meu quintal, ela produza frutos doces, dê sombra, acolhendo e abrigando as pessoas, exale o perfume do amor verdadeiro, da retidão e da justiça, para que a comunidade seja um Oasis no meio desse imenso deserto quente e íngreme, que às vezes é a vida das pessoas, por conta de tantos fatores sociais, econômicos e familiares.
Nesse sentido, olhando por esse ângulo, a palavra de Deus nos questiona se em nossas comunidades as pessoas saem saciadas e felizes. Será que, pertencer a comunidade ou ir a nossas celebrações, é para as pessoas motivo de alegria e prazer? E trazendo a reflexão em nível pessoal, será que nós próprios somos uma videira viçosa, onde as pessoas encontram abrigo e refúgio? Nossos frutos são saborosos, as pessoas comentam sobre a doçura deles, ou trazem um azedume que gera maledicência e até reclamação?
Matar o Filho do Dono da vinha, é não anunciá-lo, não testemunhá-lo, esquecer seus ensinamentos e colocar em nossa vida outros valores e tendências ditadas pelo egoísmo. Na sexta feira santa da paixão, uma grande multidão sempre lota as igrejas e acompanha o Cristo morto, a gente se pergunta por que, e nesse evangelho encontramos a resposta, as vezes somos também meio homicidas e anunciamos um Cristo morto, em nome da modernidade, da ciência, da tecnologia, um Cristo morto pelo relativismo, em lugar de ser simples arrendatários muitas vezes nos achamos donos da vinha que é a igreja, é como se o cristianismo fosse apenas uma filosofia de vida, um pensamento e uma ideologia muito bonita, mas que logo é sufocada pelas ideologias que o mundo nos propõe.
O proprietário enviou servos para buscarem os frutos que lhe pertencem, enviou seu próprio Filho que veio para ser acolhido e nos ensinar como produzir os frutos. Estamos em um aprendizado constante com a sua palavra e a eucaristia, temos aulas práticas e o manual de como cuidar da Vinha, que é a Palavra de Deus. Esforcemo-nos para corresponder, e não deixemos que as pragas do pecado destruam ou torne inexpressiva a Vinha do Senhor, pois disso, nós todos, enquanto povo de Deus, iremos um dia prestar contas ao proprietário, que nos confiou sua vinha, seu reino, plantado por Jesus no meio dos homens.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 27º Domingo do Tempo Comum – Ano A
“Agraciados e desgraçados”
A palavra “agraciado” soa bem aos nossos ouvidos, não posso afirmar a mesma coisa do seu antônimo. Mas não se erra ao afirmar-se que des-graçado significa sem-graça. Os lavradores da parábola que nós escutamos eram agraciados: eram dignos da estima do seu senhor que lhes confiara a sua vinha. Mas caíram na desgraça: perderam a vinha e morreram por causa da própria ambição. Grande contradição a da vida daqueles homens: querendo a herança, perderam a vida, perderam até mesmo a possibilidade de ambicionar a herança.
Aqueles lavradores tinham uma ambição desleal. Eles eram invejosos. Não estou falando mal deles, simplesmente tento glosar o que eles mesmos disseram: “eis o herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança” (Mt 21,38). É fato que os lavradores não suspeitavam duma coisa: o filho queria fazer deles participantes da sua herança. Mas, pobres coitados! Os lavradores, que poderiam ser uns ricos herdeiros por graça do seu senhor, acabariam sendo homicidas e exterminados sem piedade. Eram uns homens miseráveis porque eram egoístas e invejosos. Temos que ter cuidado: poderíamos ser uns desgraçados, inclusive ambicionando coisas boas.
Mais ainda, provavelmente, se tivessem ficado com a herança teriam se matado entre eles, cada um defendendo os próprios “direitos”. Como a estória daqueles três “amigos” que eram assaltantes. Conta-se que na hora de dividir o produto do roubo resolveram “comemorar”. Sendo assim, um deles foi comprar uma garrafa de whisky para fazer a festa. Este, muito esperto, resolve ficar com tudo só para ele e coloca veneno na garrafa para que os outros morram. Enquanto isso os outros dois “amigos” planejam o seguinte: ficar com tudo para eles. Quando chega o que fora comprar o whisky, os outros dois o matam e, para comemorar tomam o whisky… Péssimo resultado! Morreram todos! É fato: quem não sabe partilhar não serve para ter.
A parábola que o Senhor Jesus nos contou no dia de hoje é um resumo de toda a história da salvação com os seus progressos e os seus regressos. Da parte de Deus, ele sempre a fez progredir. No que diz respeito ao ser humano, havia progresso quando ele correspondia à vontade de Deus; regresso, quando as pessoas se rebelavam contra o querer de Deus. Finalmente, “Deus enviou o seu próprio Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei, a fim de remir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a sua adoção” (Gl 4,4-5). Desta maneira, o homem pôde corresponder perfeitamente à vontade do Pai. Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, viveu intensamente a vontade do seu Pai do céu.
“Hão de respeitar o meu filho” (Mt 21,37). Mas não! Mas será que hoje em dia se respeita o Filho de Deus que morreu e ressuscitou pela nossa salvação? A ingratidão é uma coisa penosa, machuca o coração e fere os sentimentos mais profundos. Às vezes, a ingratidão é mais dolorosa que um ato de violência física. O Coração do nosso Pai do céu é alvo de constantes ingratidões. Deus nos oferece a felicidade e nós pensamos que as suas exigências santas são como uma espécie de moral de escravos ou de infelizes. Deus oferece o que é bom, o que constrói o ser humano, mas nós continuamos com a “cabeça dura” e o “nariz empinado” querendo construir a própria felicidade à margem de Deus. Dá a impressão que às vezes o homem quer colocar-se no lugar de Deus. O certo é que há várias tentativas de construir um espaço sem Deus, sem religião, sem valores; enfim, um mundo que se encaminharia à destruição por mãos do próprio homem. A pessoa humana é um ser maravilhoso, mas pode transformar-se num pobre desgraçado.
Não estou sendo pessimista se afirmo que se a vinha não está nas mãos de Deus, as uvas apodrecerão os dentes de quem as comer. Isto é, qualquer felicidade que deixa a Deus de fora é uma fantasia. Como poderia ser verdadeiramente feliz alguém que renuncia a algo que lhe é tão próprio como a dimensão religiosa da vida? Como pode alcançar a felicidade alguém que era escravo, foi libertado, mas não quer viver segundo aquilo que é tão próprio do seu ser: a liberdade? Como pode ser feliz alguém que opta por desprezar aquele que quer fazê-lo feliz dando-lhe a herança dos filhos?
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Comentário Exegético — 27º Domingo do Tempo Comum – ANO A
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
EPÍSTOLA (Fl 4, 6-9)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
SEM ANSIEDADE: Nada vos perturbe, mas em toda oração e petição com ação de graças, vossos pedidos sejam conhecidos por Deus (6). Nihil solliciti sitis sed in omni oratione et obsecratione cum gratiarum actione petitiones vestrae innotescant apud Deum. Paulo escreve da prisão e, não obstante, a recomendação de alegria é própria desta carta. Por isso, termina a primeira parte pedindo: resta, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor (3, 1). A alegria cristã nasce de fontes mais profundas que as alegrias das categorias humanas. É um elemento, esta alegria, integrante da vida de um cristão, pois está formando parte das petições -fazendo sempre com alegria oração por vós em todas as minhas súplicas- e na iminência da morte Paulo tem uma palavra alegre: folgo e me regozijo com todos vós. São os amados e queridos, que constituem, como ele diz, minha alegria e coroa. Nesta carta, Paulo se preocupa de que todos vivam unidos; e para isso recomenda tanto as virtudes cristãs, com o exemplo da humildade de Cristo, como as virtudes humanas que enumera no versículo 8 deste trecho: verdade, honestidade, justiça, pureza. O cristão deve ser perfeito, de modo que os próprios pagãos estimem sua conduta como uma consequência de uma filosofia que nada tem a desejar da dos estóicos e cínicos do momento. Nada vos PERTURBE [merimnatelo<3309>=solliciti sitis] é o imperativo do verbo merimnö com o significado de ter ansiedade, estar preocupado, perturbado, como em Mt 6, 25: Por isso vos digo: Não andeis preocupados quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Entre as diversas recomendações, Paulo em primeiro lugar cita a oração, que não deve ser um pedido de bens materiais ou espirituais, mas antes uma ação de graças. ORAÇÃO [proseuchë <4335>=oratio] é a oração de petição como em Mt 17, 21: esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum. PETIÇÃO [deësis<1162>=obsecratio] com o significado de rogo, súplica, solicitação. O exemplo é Lc 1, 13: Mas o anjo lhe disse: Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida. Em grego, temos a simples oração [proseuchë] como ato de devoção e de religiosidade, súplica [deësis] como expressão de uma necessidade pessoal, que pode ser dirigida até a um homem; e finalmente, intercessão [enteuxis] que indica uma conversação filial do homem com Deus, como um filho com seu pai. Sai duas vezes em 1Tm 2.1.: Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações [deëseis= obsecrationes], orações [proseuchas=orationes, intercessões [enteuxeis = postulatones], e ações de graças, por todos os homens. Na outra vez que enteuxis sai é em 1Tm 4,5 em que enteuxis está unida a palavra [logos] de Deus: Porque pela palavra de Deus e pela oração [enteusis] é santificada. PEDIDOS [aitëmata<156>=petitiones] em grego, uma demanda, uma solicitação, um pedido formal como em Lc 23, 24: Pilatos julgou que devia fazer o que eles demandavam.
A PAZ: E a paz de Deus a que supera todo entendimento, guardará vossos corações e vossas mentes em Cristo Jesus (7). Et pax Dei quae exsuperat omnem sensum custodiat corda vestra et intellegentias vestras in Christo Iesu. A PAZ [eirënë<1515>=pax] de Deus é diferente da paz humana. É a bênção divina que traz descanso, esperança de salvação e felicidade a quem se encontra nos braços de Deus como filho amado. Tudo provém de que Cristo é o príncipe da paz e com ela se identifica, pois justificados pela fé, estamos em paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5, 1). GUARDARÁ [frourësei <5432> =custodiat] futuro de froreuö de significado proteger, guardar, conservar, reservar, manter, sustentar e, finalmente, preservar. Paulo usa este verbo em Gl 3, 23: Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. O CORAÇÃO, [kardia<2588>=cordum] segundo o pensar da época era o centro da vida espiritual, fonte dos pensamentos, paixões, desejos, apetites, afetos, propósitos e empenhos. É o Leb do AT. A MENTE [noëma <3540>=intelligentia] a inteligência ou o pensamento. Paulo usa o termo em 2 Cor 3, 14 falando dos judeus: Eles tinham o entendimento fechado. Ainda hoje, quando leem os livros da antiga aliança, esse mesmo véu continua por levantar, pois só com Cristo é que ele desaparece. Diante desta última frase, entendemos que Paulo ensina como pela oração podemos descobrir o verdadeiro sentido da presença de Cristo em nossas vidas.
VALORES DESEJÁVEIS: Do resto, irmãos, quantas são verdade, quantas honestas, quantas justas, quantas puras, quantas agradáveis, quantas dignas de encômio, se algo virtuoso, se algo digno de louvor, essas coisas pensai (8). De cetero fratres quaecumque sunt vera quaecumque pudica quaecumque iusta quaecumque sancta quaecumque amabilia quaecumque bonae famae si qua virtus si qua laus haec cogitate. Uma vez firme a fé em Cristo Jesus, Paulo dirige sua doutrina aos valores humanos que devem adornar todo cristão, que por ser tal, não deixa de ser homem e viver entre os homens e como tal, dele se espera uma conduta irrepreensível. O que é VERDADEIRO [alethë<227>=vera] embora o grego use o plural neutro que o latim respeita, nas línguas vernáculas é melhor usar o singular. Assim diremos: tudo o que é verdadeiro. RESPEITÁVEL [semna <4586> =pudica] coisas dignas, honoráveis, dignas de respeito. JUSTO [dikaia<1342>iusta] também em plural, como coisas conformes à lei. SEM IMPUREZA [agna<53>=sancta] ou limpas e puras. AGRADÁVEL [prosfilë<4375>=amabilia] coisas agradáveis ou amáveis, DIGNO DE APLAUSO [eufëma<2163>=bonae famae] dignas de aprovação, de boa fama. Se existe alguma VIRTUDE [aretë<703>=virtus] no sentido bíblico, poder divino; no sentido humano, conduta excelente que chamamos hoje de virtude. Se alguma coisa é LOUVÁVEL [epainos<1868>=laus] plausível, reconhecível como digna de aplauso. PENSAI [logisesthe<3049>=cogitate] imperativo do verbo logizomai, de significado considerar, avaliar, se propor, intentar, almejar. Paulo, no contato com o mundo, escolhe a verdade e o bem que claramente dominam a conduta da maioria dos homens.
A TRADIÇÃO: As que também aprendestes e recebestes e ouvistes e vistes em mim, essas praticai e o Deus da paz estará convosco (9). Quae et didicistis et accepistis et audistis et vidistis in me haec agite et Deus pacis erit vobiscum. Paulo agora propõe como modelo de vida os seus ensinamentos –aprendestes, recebestes e ouvistes – e a sua conduta pessoal – vistes. APRENDESTES [emathete<3129>=didicistis] do verbo manthanö com o significado de aprender. RECEBESTES [parelabete<3880>=accepistis] é o receber da tradição, transmitido oralmente, como indica pelo OUVISTES [ëkousate<194>=audistis] aoristo do verbo akouö, ouvir. Essas palavras indicam a força da tradição que a Igreja Católica sempre tem proposto como acompanhante da escrita bíblica que é interpretada essencialmente por essa tradição como fonte da exegese da Escritura. Finalmente Paulo apresenta sua vida como modelo, escrevendo VISTES [<eidete>=vidistes] EM MIM. Oxalá todo evangelizador pudesse apresentar sua vida como modelo a ser seguido pelos evangelizados! Não é a primeira vez que Paulo se propõe como modelo. Ver Fl 3, 17: Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam A consequência é que se isso é praticado, o Deus da paz estará com eles. DEUS DA PAZ [‘o Theos tës eirënës] é uma frase que Paulo usa como saudação final em suas cartas. Assim em Rm 15, 33 e 16, 20, 2 Cor 13, 11 e 1 Ts 5, 23. Em 1 Cor 14, 33 podemos ver uma explicação desta frase paulina: Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. Paulo estima a união dos fiéis como um fato extremamente importante, como Jesus pedia ao Pai: E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para Ti. Pai santo guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós (Jo 17, 11). Seguindo, pois, os ensinamentos de Paulo e imitando sua conduta, haverá entre os filipenses união e paz, que Paulo deseja de todo o coração.
EVANGELHO (Mc 12, 1-12; Lc 20, 9-19)
OS ARRENDATÁRIOS INDIGNOS
INTRODUÇÃO: É a terceira parábola de Jesus dirigida contra os representantes da autoridade em Israel (Mt 20, 1-16 [dos trabalhadores da vinha]; 21, 28-32 [dos dois filhos] e 21, 33-43 [esta de hoje]). Na parábola de hoje, com alguns momentos de alegoria, podemos distinguir a razão pela qual foi retirado o Reino aos judeus. Encontramos nela, Jesus como a pedra angular do novo edifício, que será o próximo Reino. Também o particular conceito eclesiológico de Mateus, refletido no versículo 43: o Reino deve dar frutos como a vinha da parábola; do contrário, os dirigentes do mesmo serão reprovados. Daí o traspasso do Reino de Deus como nação escolhida, a um novo povo que, no caso, serão os gentios. A Nova Igreja não terá como fundador Moisés, mas Jesus, que é constituído pedra angular como remate do edifício. A parábola tem rasgos alegóricos e conecta com o canto da vinha da primeira leitura. Esta parábola dos vinhateiros homicidas constitui um compêndio da história da salvação desde a Aliança do Sinai até a pessoa de Cristo, o Filho assassinado pelos arrendatários homicidas fora da cidade. E a vinha que representava o antigo Israel, agora significa o novo Israel, a igreja como Reino de Deus.
OUTRA PARÁBOLA: Escutai outra parábola. Certo homem era dono da casa, que plantou uma vinha e a rodeou com uma cerca e cavou nela um lagar e edificou uma torre e a arrendou a agricultores e ausentou-se (33). aliam parabolam audite homo erat pater familias qui plantavit vineam et sepem circumdedit ei et fodit in ea torcular et aedificavit turrem et locavit eam agricolis et peregre profectus est. OIKODESPOTËS Mateus fala de um homem que era OIKODESPOTËS, ou seja, dono da casa ou como traduz o latim pater famílias; a bíblia de Jerusalém traduz por proprietário. Marcos e Lucas, em lugares paralelos só falam de um certo homem. Nas vezes que esta palavra aparece sempre é para se referir a um chefe de família que tem bens e pode usar os serviços de servos ou empregados. Um verdadeiro proprietário duma casa e de bens que exigem o serviço de empregados. A VINHA: A palavra AMPELON é traduzida por vinha, mas hoje dificilmente entendemos o verdadeiro significado da palavra. Como vemos nos relatos de Marcos e Mateus, o trabalho não se reduzia a plantar, mas também era o de construir uma cerca ou muro, o lagar e a torre de vigilância. Parece que isto não era infrequente na época, pois a vinha era com os olivais, a base da economia de mercado na época. Em Isaías (5, 10), falando da infertilidade da terra por castigo divino, temos: dez jeiras [espaço de terra que uma junta de bois pode arar num dia] da vinha produzirão 45 litros de vinho [uma metreta]. E um coro [450 litros] de sementes só dá um efá [45]. As vinhas eram mais produtivas que os campos de cereais de trigo e cevada. A vinha era símbolo do povo de Israel, cuidado com esmero por Jahweh como vemos no salmo 80, 9: Arrancaste uma vinha do Egito e para transplantá-la expulsaste as nações. Isaías 3, 14, fala dos dirigentes de Israel como sendo não guardadores, mas devastadores da vinha: Vós sois os que consumistes esta vinha; o que roubastes do pobre está em vossa casa. Mas muito mais que essas anteriores citações é importante o início do capítulo V de Isaías, que diz: Vou cantar a meu amado o cântico do meu amigo para a sua vinha. O meu amado tinha uma vinha em uma encosta fértil. Ele cavou-a, removeu a pedra e plantou nela uma vinha de uvas vermelhas. No meio delas construiu uma torre e cavou um lagar. Com isso, esperava que ela produzisse uvas boas, mas só produziu uvas azedas. Agora, ó moradores de Jerusalém e homens de Judá, servi de juízes entre mim e minha vinha. Que me restava ainda fazer à minha vinha que eu não tenha feito? Por que quando eu esperava que ela desse uvas boas, deu apenas uvas azedas? Agora vos farei saber o que vou fazer de minha vinha! Arrancarei a sua cerca para que sirva de pasto. Derrubarei o seu muro para que seja pisada; reduzi-la-ei a um matagal: ela não será mais podada, nem cavada: espinheiros e ervas daninha crescerão no meio dela. Quanto às nuvens, ordenar-lhes-ei que não derramem a sua chuva sobre ela. Pois bem, a vinha de Jahweh dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a sua plantação preciosa. Deles esperava o direito, mas o que produziram foi a transgressão; esperava a justiça, mas o que apareceu foram gritos de desespero. (5,1-7).
O FRUTO: Quando, pois, se aproximou o tempo dos frutos enviou seus escravos aos agricultores para receberem seus frutos (34). Cum autem tempus fructuum adpropinquasset misit servos suos ad agricolas ut acciperent fructus eius. Na vida real, o fruto era recolhido pelo proprietário em dinheiro, após a vindima. Temos o relato de um dono que enviou seu servo para recolher mil denários de uma vinha. A vinha tem como base as vides ou videiras, que são plantas lenhosas e, portanto, muito perduráveis de até 100 anos. Uma nova videira precisa de 3 a 4 anos para dar frutos. Por isso, segundo a lei (Lv 19, 23-25), os frutos dos três primeiros anos serão considerados como frutos de um incircunciso e os frutos do quarto ano serão entregues como primícias, como sagrados, numa festa de louvor a Jahweh. No inverno ela deve ser adubada e também no início da floração deve ser podada tirando sarmentos velhos para não carregar o tronco ou cepa com incrementos que produziriam galhos menos produtivos. Entre os brotos de primavera estão as gemas e filamentos que são apreciados pelo gado caprino e até pelos humanos, como comida esquisita. Os sarmentos são úteis, do ponto de vista de lenha, para um fogo sem fumo e com bastante intensidade calórica. Regiões existem onde esta maneira de fazer churrascos ou assar pimentões é tradicional em terras em que as vinhas constituem cultivos normais. As traduções vernáculas falam de servos [do latim servi], mas o grego douloi deve ser traduzido por escravos, como faz a literal de Green. A espanhola fala de criados. Mas, no tempo de Jesus, os criados das casas ricas eram escravos. Sendo os enviados escravos compreende-se melhor, embora seja injusta, a conduta dos arrendatários.
OS ENVIOS: E os agricultores tendo tomado os escravos dele, a um espancaram e a outro mataram e a outro apedrejaram (35). Et agricolae adprehensis servis eius alium ceciderunt alium occiderunt alium vero lapidaverunt. PRIMEIRO ENVIO: Chegada a hora da colheita, enviou seus escravos [doulos] para receberem os frutos que lhe correspondiam. Os lavradores, agarrando os servos, espancaram um, mataram outro e o terceiro apedrejaram (Mt 34-35). Porém, tanto Marcos (3) como Lucas (10) reduzem o número a um só servo, que foi espancado e despachado vazio. É este um lugar em que Mateus, nem sempre estritamente histórico especialmente nas parábolas, enriquece os ditos de Jesus para transformar a parábola numa alegoria mais em conformidade com os fatos históricos do passado? Como explicarmos essas diferenças que não são essenciais e não mudam a parábola quod ad sensum? Não existe inconveniente num relato em que a ideia central é mantida e até reforçada para melhor entendimento dos leitores. Mas estas diferenças devem ter uma correspondente razão nos escritos dos outros evangelistas. E encontrar a razão dessas diferenças é evidentemente exegese verdadeira. Mas dizer sem motivo que uma narração é trabalho do evangelista e não pertence aos fatos ou ditos de Jesus só porque não concorda com nosso modo ideológico de pensar, isso não é método histórico nem rigor exegético.
SEGUNDO ENVIO: De novo, enviou outros escravos em maior número dos primeiros, e lhes fizeram de modo semelhante (36). Iterum misit alios servos plures prioribus et fecerunt illis similiter. Outros escravos, em maior número, foram tratados do mesmo modo (Mt 36). De novo (Mc), ou em vista disso (Lc) enviou-lhes outro escravo ao qual esbordoaram na cabeça, e insultaram (Mc 4), ou segundo Lucas (11), o espancaram e insultando-o o enviaram vazio.
TERCEIRO ENVIO: Mais tarde, enviou-lhes o seu filho, dizendo: respeitarão meu filho (37). Porém os agricultores, tendo visto o filho, disseram entre eles: este é o herdeiro. Vamos, matemo-lo e possuiremos a herdade dele (38). E, tendo o agarrado, jogaram fora da vinha e o mataram (39). Novissime autem misit ad eos filium suum dicens verebuntur filium meum. Agricolae autem videntes filium dixerunt intra se hic est heres venite occidamus eum et habebimus hereditatem eius, et adprehensum eum eiecerunt extra vineam et occiderunt. Marcos dirá que o terceiro envio foi depois de outros muitos, e a uns espancaram e a outros mataram (12, 5). Lucas limita o número do terceiro a um só indivíduo (20, 17) e eles, após feri-lo, o arrojaram. Como vemos, não existe uma ordem clara nos envios e nos tratamentos dos servos pelos arrendatários. É o que parece ser produto da redação dos diversos evangelistas que tinham um respeito supremo pelas palavras diretas de Jesus, mas que sabiam que era impossível recordar os detalhes das parábolas que eles ordenavam segundo normas de redação mais conformes às suas maneiras de relatá-las. A moderna edição da bíblia de King James distingue perfeitamente as palavras de Jesus em vermelho, da redação do evangelho em letra negra comum. Se esta interpretação vale para as introduções como egeneto [sucedeu] de Lucas, ou levantou-se e disse de Mateus, podemos sem dúvida ampliar a redação para parágrafos que nada dizem à essência do evangelho. ALEGORIA DOS SERVOS-ESCRAVOS? Já falamos no comentário do domingo XXIV como os administradores eram em geral escravos domésticos. Como a parábola tem elementos alegóricos, fundados precisamente no parágrafo anterior, sabemos que a vinha representa o povo de Israel, que o dono da vinha é Javé-Deus e que os arrendatários eram os dirigentes do povo, especialmente os religiosos. Logo os servos são evidentemente os profetas. De fato, os judeus distinguiam entre antigos profetas como Moisés, Josué, Juízes, Samuel, Davi e os profetas compreendidos no reinado de Davi; e os últimos profetas, a começar por Isaías e terminar com Malaquias. Isso poderia explicar as duas levas de douloi [escravos] da parábola, segundo Mateus. A primeira antes do exílio (586 a.C.) e a segunda, após o mesmo (539 a.C.). De fato, sabemos que muitos dos profetas foram rejeitados e até perseguidos pelos reis, tanto de Israel como de Judá. Elias teve que fugir por sua vida (1 Rs 19, 3), e lemos de Jeremias que provavelmente, após ser jogado numa cisterna, foi levado ao Egito para morrer lá, segundo alguns, de modo discutível (Jr 43,1-7). Temos Miqueias que foi esbofeteado por Sedecias falso profeta (2 Cr 18, 23). Alguns dos profetas foram mortos à espada como vemos em 1Rs 19, 14 ou Dn 111, 33. Finalmente temos Zacarias que foi apedrejado no pátio do templo segundo 2 Cr 24, 21 por ordem do rei Joás. Vemos como a palavra profeta tem um sentido muito mais amplo que o do enviado diretamente por Deus: é o sentido do justo, do santo, diríamos nós. Temos também dois textos de Jesus sobre a sorte dos profetas nas mãos dos antigos dirigentes de Israel: vós que sois filhos dos que mataram os profetas (Mt 23, 31) ou na lamentação de Jesus em Mt 23, 37 sobre Jerusalém que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados; por isso, pedirão contas do sangue de todos os profetas …do sangue de Abel até o sangue de Zacarias que pereceu entre o altar e o santuário (Lc 11, 50-51). E em Hebreus 11, 36-37: escárnios, açoites, prisões, lapidações, serramentos e mortes com a espada. O FILHO (37-39): Após a terceira leva inútil, o dono da vinha apela para a distinção e excelência do filho. Não era um escravo comum, mas o filho único, o herdeiro. Mateus só fala do filho, mas Marcos (6) e Lucas (13) falam do filho amado ou o amado, que logicamente indica o herdeiro. Mesmo que Mateus só fala do filho sabemos, com certeza, que era único porque os agricultores falam de matá-lo para herdar a propriedade. Isto era lógico já que não tendo herdeiros diretos, segundo a lei, os bens pertenciam aos que cultivavam os mesmos, quando faltasse o dono. Foi o caso de Abraão que, ao não ter filhos, disse ao Senhor que um dos servos de minha casa será meu herdeiro (Gn 15, 3). Era o uso capientis. Eles se apoderam do filho herdeiro, o expulsam da vinha como se não fosse sua propriedade, e o matam fora dela. Em Marcos o crime é ainda mais repugnante; pois, morto dentro da vinha, o cadáver é lançado fora aparentemente sem sepultá-lo, o que constituía, segundo os costumes da época, um ato de maldição, porque os cadáveres insepultos se deixavam propositadamente para serem comida de cães e aves de rapina. Assim vemos na maldição de Elias sobre a casa de Acab (1 Rs 21, 24). Por isso, Tobias arrisca sua vida para enterrar os mortos de Israel (2, 7). Além disso, um cadáver tornava impuro o lugar e isso impedia se aproveitar dos frutos da vinha. Tomando esta passagem como alegórica, vemos como Jesus foi morto fora dos muros de Jerusalém, que precisamente era, segundo os profetas, a vinha particularmente amada de Jahveh, como vemos em Isaías 5, 3.
PERGUNTA E RESPOSTA (40-41): Portanto, quando vier o dono da vinha que fará àqueles agricultores? (40). Disseram-lhe: De modo ignominioso os destruirá e arrendará a vinha a outros agricultores os quais lhe entregarão os frutos nos seus tempos próprios (41). Cum ergo venerit dominus vineae quid faciet agricolis illis. Aiunt illi malos male perdet et vineam locabit aliis agricolis qui reddant ei fructum temporibus suis. Que vos parece? (21, 28) Está dirigida aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo (21, 23). E agora também pergunta aos mesmos que irá fazer o dono com esses vinhateiros? (40). Logicamente a resposta não podia ser outra, dadas as leis do olho por olho do tempo: Destruirá de maneira ignominiosa esses infames e arrendará a vinha a outros vinhateiros que entregarão os frutos no tempo devido (41). Marcos dirá que o dono virá e destruirá os vinhateiros para dar a vinha a outros. Em Lucas é o próprio Jesus que responde a si mesmo usando as palavras de Marcos (16). Ante esta proposição de Jesus os ouvintes exclamaram: Não seja [assim] (16). Isso indica que eles entenderam muito bem o significado oculto da parábola. Nesta conclusão há duas proposições que podemos considerar como complementares: a destruição dos assassinos e a entrega da vinha a outros arrendatários que sirvam melhor aos propósitos do dono, que são, em definitivo, obter os frutos devidos de sua propriedade.
O COMENTÁRIO DE JESUS (42-43): Diz-lhes Jesus: Nunca leste nas Escrituras: (A) pedra que os construtores rejeitaram, esta se tornou em cabeça de ângulo; da parte de (o) Senhor foi feita e é admirável aos nossos olhos? (42). Por isso, vos digo que será arrebatado de vós o Reino d(o) Deus e será dado a uma nação que produza os frutos dele. Dicit illis Iesus numquam legistis in scripturis lapidem quem reprobaverunt aedificantes hic factus est in caput anguli a Domino factum est istud et est mirabile in oculis nostris. Ideo dico vobis quia auferetur a vobis regnum Dei et dabitur genti facienti fructus eius. Marcos traz a sentença íntegra que em Lucas é mais breve. Que significa CABEÇA DE ÂNGULO? Os três evangelistas falam com o mesmo termo cabeça de ângulo [Kefalê gonias]. Vejamos os dois textos do AT. Salmo 144, 12: Que nossos filhos sejam na sua mocidade como plantas viçosas e nossas filhas como pedras angulares lavradas como colunas de palácio. E o Salmo 118,22: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra angular. Isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos. Como vemos até palavra por palavra os dois textos gregos coincidem. Que era a pedra cabeça de ângulo? Provavelmente havia uma pedra para cada um dos quatro ângulos da casa sobre os alicerces da mesma. Daí a principal [uma das quatro]. As quatro eram escolhidas e lavradas [como colunas Sl 14, 12] para dirigir toda a obra desde o início, como balizas da mesma. Delas, poderiam se tirar as cordas de alinhamento para a construção. Jeremias profetiza uma tal destruição de Jerusalém que dela não se poderiam tirar pedras nem para o ângulo nem para os fundamentos (52, 26). Parece que o resto da casa era de material que podemos chamar tipo argamassa. Por isso as pedras angulares eram especialmente lavradas e escolhidas, pesadas e especialmente desenhadas. Isaías 28, 16 diz: Eis que firmo em Sião uma pedra, uma pedra a toda prova, uma pedra angular preciosa, estabelecida para sua fundação. No NT temos textos sobre esta pedra base. At 4, 11: Ele (Jesus) é a pedra rejeitada por vós, os construtores, mas que se tornou a pedra angular. E 1 Pd 2, 6: Eis que ponho em Sião uma pedra angular [akrogöniaion], eleita e preciosa: quem nela crê não será confundido. Os judeus sabiam que na construção das sinagogas, casas de pedra, havia diferença em relação a construção das casas comuns de adobes. No entanto, existiam duas pedras importantes: uma era a que ocupava o ângulo da edificação nos fundamentos e era a que servia de base para a construção. A outra era a pedra remate do arco de entrada do edifício. O salmo 118 fala de Israel que como povo foi desprezado, oprimido e quase aniquilado pelos povos e reis pagãos, mas que foi escolhido por Deus como base das promessas messiânicas. Como vemos em Atos e na carta de Pedro a pedra angular é a pedra sobre a qual todo o edifício era planificado. Paulo fala de que o único fundamento é Jesus Cristo (1 Cor 3, 11). Os judeus costumavam chamar seus rabis e doutores de construtores, porque eles estudavam continuamente os fundamentos do mundo que era a lei. Quem é a pedra rejeitada pelos construtores em tempos de Jesus? Evidentemente é ele mesmo. O costume do mestre da construção de revisar as pedras e aceitar, ou rejeitar as mesmas, está na frase de Pedro em At 4, 11 que temos citado acima. Como afirmava Lucas por meio da palavra profética de Simeão seria alvo de contradição (Lc 2, 34). Por isso, o mesmo evangelista registra um parágrafo próprio dele que diz: Quem tropeçar nessa pedra ficará quebrado e sobre quem cair essa pedra será esmagado. Por esta última frase alguns comentaristas falam da pedra angular como sendo a pedra remate superior do arco da entrada. Porém podemos explicar o fato da pedra cair porque aqui estamos dentro de uma linguagem metafórica em que não devemos abranger como realistas todos os requisitos da comparação. A TRANSFERÊNCIA: O reino, que era a grande promessa de Israel, será arrebatado dos dirigentes do povo e será dado a uma nação que produza os frutos esperados. Qual é a nova nação? Evidentemente, pela História, devemos pensar em Roma. E os frutos é a aceitação de Jesus como o novo Senhor. É uma profecia que, em tempos dos escritos evangélicos, ainda não podia ser confirmada. Somente com o Imperador Teodósio (379-394) o cristianismo foi declarado religião do Estado. A separação entre o Cristianismo e o Judaísmo, efetivada teologicamente em 325 no Primeiro Concílio de Niceia, era agora lei (388) sob os imperadores romanos.
REFLEXÃO:
1) Qual foi a razão última pela qual os dirigentes de Israel não entraram no novo Reino como povo escolhido? Diríamos que a razão imediata era o seu interesse material na religião que a transformava numa fonte de rendas e, portanto, numa visão espúria da espiritualidade religiosa.
2) Em segundo lugar, seu orgulho que não permitia que alguém interpretasse a lei de modo diferente do seu. Segundo sua interpretação, os pobres estavam longe de Deus, considerando a pobreza como uma espécie de rejeição e castigo divinos, como era interpretada a doença. Quem pecou, este ou os pais para nascer cego? Perguntarão os discípulos (Jo 9,2). Do mesmo modo, a pobreza era considerada como o pior dos castigos divinos e a riqueza como o melhor dos benefícios. Nós vemos no evangelho uma clara alusão a esta cosmovisão, quando, após Jesus declarar que um rico dificilmente entrará no Reino dos céus, a pergunta dos discípulos será de um desânimo total: Então quem poderá se salvar? (Mt 19,25). A doutrina de Jesus devia escandalizar os legistas e peritos da lei, quando em suas bemaventuranças declara o Reino como herança dos pobres.
3) Com respeito à razão última, é Paulo quem o explica na sua epístola aos romanos: Tanto judeus como gentios se tornaram pecadores. Na frase de Paulo estão sob o império do pecado (9,13). Mas Deus, gratuitamente pela fé em Cristo, salva o homem; porque se a lei veio para que proliferasse a falta, porém onde proliferou o pecado superabundou a graça (5,21). E logicamente a graça foi maior ao admitir os pagãos ao Reino.
4) Podemos perguntar: e nós? Qual é a razão para que o Reino não seja o valor principal – o tesouro, a pérola – em nossas vidas? Cada um de nós poderá dar uma resposta particular, mas existe uma geral e comum nos tempos modernos: o estado de bem-estar, confundido com a felicidade final, que nos transforma em verdadeiros ricos, num mundo de quase absoluta pobreza espiritual. E no lugar das bemaventuranças, dirigidas aos pobres, aos que sofrem, aos que choram, aos que são perseguidos, encontramos as censuras de Jesus que atingem os ricos, os fartos, os que aparentemente são felizes.
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
01.10.2017
26º Domingo do Tempo Comum — ANO A
( Verde, Glória, Creio, II Semana do Saltério )
Início do mês das missões
A alegria do evangelho para uma igreja em saída
__ “Quando um ímpio se arrepende da maldade que praticou
e observa o direito e a justiça, conserva a própria vida.” __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Obedecer ativamente é passar de uma religiosidade passiva e alienada para uma religiosidade operante e transformadora, isto é, missionaria. É esse tipo de atividade religiosa que Jesus recomenda para a comunidade. Por meio da obediência, da qual Jesus é sempre o exemplo maior, a religião torna-se transformadora do ambiente em que vive e a pessoa religiosa faz-se “operário da vinha”. Ser obediente é empenhar a própria vida atraindo a proteção divina e procurando o bem do outro. ( Na procissão de entrada pode-se acrescentar símbolos missionários ).
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, sejam bem vindos! O Senhor nos reúne no seu amor para nos oferecer o dom da salvação. Aproximemo-nos dele com humildade, reconhecendo que tantas vezes lhe fomos infiéis e não demos atenção ao seu convite para anunciarmos o Evangelho a todos os que se sentem desanimados e sem esperança. Que esta celebração, no início do mês missionário e da semana em defesa da vida, nos ajude a assumir com amor e dedicação a missão que o Senhor nos confiou.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: As três parábolas lidas nos evangelhos deste e dos dois domingos seguintes, tratam de um único tema: a rejeição do povo judeu que não quis escutar Jesus e a sua substituição pelos pagãos. Ninguém é marginalizado por Deus. A parábola dos dois filhos justifica a posição do Cristo diante dos "desprezados", esta nova categoria de pobres. Cristo dirige a parábola aos sumos sacerdotes e anciãos, como faz, com outra do mesmo teor, aos fariseus; replica a todos os que se escandalizam com sua predileção pelos pecadores, dizendo-lhes que estes estão mais próximos da salvação do que os que se consideram justos; entra em casa de em casa de Zaqueu, que durante anos usurpou os vencimentos de todos, deixa que uma prostituta lhe lave os pés, protege a adúltera contra os "puros" que a queriam apedrejar. Sua vida deixa a Deus a possibilidade de manifestar-se como cerdadeiramente é. Essas situações revelam, no fundo, a liberdade de Deus. A parábola se dirige, pois, aos que se fecham para a Boa-nova, aos que não querem reconhecer a identidade de Deus em nome da própria justiça e se consideram pagos por sua própria suficiência. Vamos hoje com sinceridade de coração, nos abrir para conhecer e aceitar verdadeiramente a presença de Deus em nossas vidas através de Jesus Cristo.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor!
(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)
PRIMEIRA LEITURA (Ez 18,25-28): - "Arrependendo-se de todos os seus pecados, com certeza viverá; não morrerá"
SALMO RESPONSORIAL 24(25): - "Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura e compaixão!"
SEGUNDA LEITURA (Fl 2,1-11): - "...cada um julgue que o outro é mais importante e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro."
EVANGELHO (Mt 21,28-32): - "Em verdade vos digo, que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus."
Homilia do Diácono José da Cruz – 26º Domingo do Tempo Comum – Ano A
"OS DOIS FILHOS"
Há uma música muito bonita chamada Filho Adotivo, onde o filho adotado atende e assiste o pai, na hora de suas necessidades, fazendo aquilo que competia aos filhos legítimos que não o fizeram, ou seja, sempre é de se esperar, que o adotado nem sempre corresponda ao amor do pai, agindo com sentimento de gratidão. Mateus escreve para as comunidades de origem judaica e sempre que aparece em seu evangelho dois personagens diferentes, aquele que posa de “bom moço”, mas que no fundo é enganado, são pessoas que pertencem ao judaísmo, a reflexão segue nessa linha, se Mateus escrevesse a história do Filho adotivo, certamente ele seria alguém de fora da comunidade e não o contrário. O desejo de Deus é que todos os homens se salvem. O seu projeto de vida nunca exclui ninguém, mas é necessário que através de uma fé encarnada na vida e na história, o homem lhe dê uma resposta autêntica, pois em um primeiro momento, essa relação com Deus foi marcada por uma ruptura, porque o homem optou em dizer não, quando pecou, ao querer ser conhecedor do Bem e do Mal, quando manifestou a vontade de fazer a sua própria história, sem se importar com o que Deus pensava a respeito.
Israel é a nação escolhida, a raça eleita, a quem Deus convida a caminhar junto com ele, quando chama Abraão, o Pai da Fé, confirma o chamado e a aliança em Isac e Jacó, manifesta a força libertadora do seu amor através de Moisés, o amado toma as dores da amada, humilhada, agredida, oprimida pelo Egito, e depois, com o passar do tempo, manda recados de amor através dos profetas, para que o povo não perdesse o rumo e a direção.Deus nunca escondeu o seu projeto, ao contrário, foi se revelando aos homens que abriram a ele o coração e a vida, havia um trabalho a ser feito, algo a ser plantado, um reino novo com novos horizontes de uma vida nova, é como na relação de um casal de esposos, o amor deve ser vivenciado em gestos concretos, Israel é na verdade esse segundo Filho, que aceitou com entusiasmo ser o seu povo, o escolhido, o amado, o predileto, “Eu serei o seu Deus, e Vós sereis o meu povo” – Mas logo esse sistema religioso, centrado na aliança, e que exigia fidelidade diante de um Deus que ama e que caminha junto, se tornou um mero formalismo, perdendo toda graça e o encanto.
Hoje há muitas igrejas cristãs onde se diz SIM, na base do entusiasmo, da euforia, de uma conversão milagrosa, ocorrida da noite para o dia, por conta de algum prodígio, o SIM se torna fórmula mágica, quando no modo de se viver a religião, nada se perde, mas tudo se ganha. O que importa é participar do rito, sentir-se protegido por Deus, na religião do SIM da euforia, sem raiz, sem maturidade, o homem pode determinar e Deus cumpre, na religião do SIM formal, sem exigência e compromisso com a ética, moral, a liberdade, o respeito à vida e a busca da justiça, o que vale é o SEJA FEITO Á NOSSA VONTADE, é o homem poder tirar vantagem dessa “pseuda” relação com Deus, por trás de uma instituição religiosa. Israel, o Povo da Promessa e da Aliança, enveredou por este caminho, da religião dos detalhes, das formalidades, dos ritos purificatórios, dos preceitos, e quando se faz o rito pelo rito, o coração vai perdendo a esperança, a crença, sem compromisso com o chão da história, vai se tornando monótona, vazia, sem sentido. Deus é nosso, a salvação é nossa, a Vida Eterna é nossa, e o Espírito Santo vai e vem, conforme nossas ordens. Não seria esse o modo de pensar do fenômeno religioso da modernidade? Eis o grande perigo para nossa vida de fé na comunidade: Dizer um SIM a Deus, ao seu projeto de Vida, mas ter o coração distante, frio, algo como que um casamento apenas no papel, ou o casamento da aparência, onde marido e mulher dormem em quartos ou camas separadas, porque não se suportam. Essa religião é coisa do Homem!
Já o primeiro Filho, aquele que disse NÃO, acabou mudando de idéia e foi trabalhar na Vinha do Pai, porque descobriu que a relação com ele, não se fundamenta no formalismo, no contratual ou na obrigatoriedade, no meramente ritual, mas sim no amor, que quer celebrar a vida, onde o rito de gestos e palavras, nada mais é do que a expressão dessa gratidão, que irrompe do fundo da alma humana, e sobe a Deus em oferta agradável. Este Filho descobriu todo um projeto de vida, onde a vocação para o amor, faz dele alguém especial, que tem nos mandamentos do Senhor, não preceitos moralistas marcados pelo rigorismo e pela ameaça de um castigo, mas sim uma sinalização segura, a conduzir o homem no rumo certo, dos braços de Deus, que o espera com alegria, como o Pai esperou pelo Filho Pródigo em sua casa. Nesse sentido, nós cristãos atuantes e membros da Igreja, precisamos tomar cuidado, pois todos aqueles que rotulamos como Filhos perdidos e ovelhas desgarradas, poderão nos preceder no coração de Deus, se continuarmos pensando que o mundo se divide entre bons e maus, entre santos e pecadores, entre justos e injustos, e que nós, estamos sempre do lado dos bons, só porque um dia dissemos SIM...
“A FÉ SEM OBRAS É MORTA!”
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 26º Domingo do Tempo Comum – Ano A
“Arrependimento”
“Se arrependimento matasse…” Esta frase é a expressão de uma dor profunda, do desejo de voltar atrás e de não ter feito determinada ação ou dito certa palavra. A contrição, isto é, o arrependimento por termos ofendido a Deus tem a ver com essa realidade: vontade de não ter cometido tal ou qual ação. O primeiro dos filhos que aparecem do Evangelho de hoje teve essa oportunidade: voltar atrás. Ele tinha dito ao seu pai que não queria ir trabalhar na vinha. Falou a verdade. “Mas, em seguida, tocado de arrependimento, foi” (Mt 21,29). Mas será que ele voltou atrás mesmo? Somente em parte. Se observarmos bem, não era possível àquele jovem dar uma resposta diferente daquela que ele já tinha dado ao seu pai: o que aconteceu, aconteceu. O nosso jovem, não obstante, procurou reparar aquela situação através da sua boa ação: foi trabalhar na vinha!
Como foi bela a atitude daquele jovem! Não porque ele tenha dado uma resposta de desobediência ao pai, mas porque ele se arrependeu logo e também porque ele procurou mostrar o seu amor através da própria atuação. Quando as palavras já não são suficientes restam as obras e quando ambas já não servem para expressar o que sentimos, o silêncio ganha em eloquência.
Fazer coisas erradas parece inevitável enquanto estivermos neste vale de lágrimas. No meio a tantos erros e pecados não nos esqueçamos, porém, que Deus espera o nosso arrependimento, a nossa dor de amor. É fruto da graça, sem dúvida, mas também nós podemos colaborar ao não resistirmos à ação do Espírito Santo em nosso favor. O estranho não é ter pecados, o esquisito não é equivocar-se, a coisa rara de verdade não é errar. O que tem de estranho que a miséria seja miserável? Nada. Na vida de um filho de Deus, de um cristão, o verdadeiramente bizarro seria não arrepender-se de ofender a Deus, que é tão bom e amável.
Arrepender-se não é o mesmo que chorar. Pode haver pessoas que estão muito arrependidas, mas das quais não brota sequer uma lágrima. Por quê? São insensíveis? Não, simplesmente porque são pouco propensas à afloração de sentimentos. A contrição ou arrependimento “consiste numa dor da alma e detestação do pecado cometido, com a resolução de não mais pecar no futuro” (Cat. 1451). O Catecismo da Igreja Católica distingue dois tipos de contrição: perfeita e imperfeita.
A contrição perfeita “brota do amor de Deus, amado acima de tudo (…). Esta contrição perdoa as faltas veniais e obtém também o perdão dos pecados mortais, se incluir a firme resolução de recorrer, quando possível, à confissão sacramental” (Cat. 1452). Já que Deus aparece ao fiel como realidade amável, tudo o que lhe afastou de Deus parece como algo profundamente detestável. É o amor, portanto, que abre os olhos para que vejamos a feiura do pecado. No lado oposto de cada amor se encontra o ódio; neste caso, vem à alma o ódio, a detestação, do pecado cometido porque este ofende a Deus, bom e digno de todo o nosso amor e adoração.
A contrição imperfeita (atrição) “nasce da consideração do peso do pecado ou do temor da condenação eterna e de outras penas que ameaçam o pecador (contrição por temor)” (Cat. 1543). Neste caso, o Espírito Santo nos impulsiona através do temor para que percebamos algo do mal que cometemos. Este tipo de arrependimento é suficiente para que possamos aproximar-nos do sacramento da confissão e pedir perdão a Deus de todos os nossos pecados.
Não podemos aproximar-nos do sacramento da confissão sem nenhum tipo de arrependimento. Neste caso, ainda que o sacerdote absolvesse, não seríamos perdoados porque estaríamos resistindo ao perdão de Deus. Note-se: não é que Deus não queira me perdoar, sou eu quem resiste ao seu perdão amoroso ao não arrepender-me. Assim como eu não posso chegar para alguém e dizer assim: “olha, eu matei o seu filho, você me perdoe; mas, se o seu outro filho me agoniar eu vou matá-lo também”. De maneira semelhante, não podemos chegar diante de Deus, no sacramento da confissão, e dizer-lhe: “eu fiz esse pecado, me perdoe; mas eu vou continuar fazendo o mesmo pecado, é só aparecer a primeira oportunidade”. O quê? Ainda esperamos que Deus nos perdoe tendo tal atitude interior. Sejamos sinceros e conscientes de que “de Deus não se zomba” (Gl 6,7).
Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa
Publicação Especial - Espiritualidade / Meditações
(Extraído do site Presbíteros)
Sacerdote para a eternidade
Há dias, ao celebrar a Santa Missa, detive-me um breve momento para considerar as palavras de um salmo que a liturgia punha na antífona da Comunhão: O Senhor é o meu pastor, nada me poderá faltar. Esta invocação trouxe-me à memória os versículos de outro salmo, que se recitava na cerimónia da Primeira Tonsura: o Senhor é a parte da minha herança. O próprio Cristo põe-se nas mãos dos sacerdotes, que se fazem assim dispensadores dos mistérios - das maravilhas – do Senhor. No próximo Verão receberá as Sagradas Ordens meia centena de membros do Opus Dei. Desde 1944 sucedem-se, como uma realidade de graça e de serviçoà Igreja, estas ordenações sacerdotais de alguns membros da Obra. Apesar disso, todos os anos há gente que se espanta. Como é possível, interrogam-se, que trinta, quarenta, cinquenta homens, com uma vida cheia de afirmações e de promessas, estejam dispostos a ser sacerdotes? Queria expor hoje algumas considerações, mesmo correndo o risco de aumentar nessas pessoas os motivos de perplexidade.
Porquê ser Sacerdote?
O santo sacramento da Ordem Sacerdotal será ministrado a este grupo de membros da Obra,
que contam com uma valiosa experiência – talvez de muito tempo – como médicos, advogados,
engenheiros, arquitectos ou de outras diversíssimas actividades profissionais. São homens
que, como fruto ,do seu trabalho, estariam capacitados para aspirar Ia postos mais ou menos
relevantes na sua esfera social.
Vão ordenar-se para servir. Não para mandar, não para brilhar, mas para se entregarem, num silêncio incessante e divino ao serviço de todas as almas. Quando forem sacerdotes não se
deixarão arrastar pela tentação de imitar as ocupações e o trabalho ,dos leigos, mesmo que se
trate de tarefas que conheçam bem por as terem realizado até agora, o que lhes conferiu uma
mentalidade laical que não perderão nunca.
A sua competência nos diversos ramos do saber humano – da história, das ciências naturais,
da psicologia, do direito, da sociologia -, embora faça parte necessariamente dessa
mentalidade laical, não os levará a quererem apresentar-se como sacerdotes-psicólogos,
sacerdotes-biólogos ou sacerdotes-sociólogos. Receberam o sacramento da Ordem para
serem, nem mais nem menos, sacerdotes-sacerdotes, sacerdotes cem por cento.
É provável que sobre muitos assuntos temporais e humanos, entendam mais do que muitos
leigos. Mas, desde que são sacerdotes, calam com alegria essa competência para continuarem
a fortalecer-se espiritualmente através da oração constante, para falarem só de Deus, para
pregarem o Evangelho e administrarem os sacramentos. Este é, se assim se pode dizer, o seu
novo trabalho profissional, ao qual dedicam todas as horas do dia, que sempre serão poucas,
porque é preciso estudar constantemente a ciência de Deus, orientar espiritualmente tantas
almas, ouvir muitas confissões, pregar incansavelmente e rezar muito, muito, com o coração
sempre posto no Sacrário, onde está realmente presente Aquele que nos escolheu para
sermos seus, numa maravilhosa entrega cheia de alegria, inclusivamente no meio de
contrariedades, que a nenhuma criatura faltam.
Todas estas considerações podem aumentar, como vos dizia, os motivos de admiração. Alguns
continuarão talvez a perguntar a si mesmos: mas porquê esta renúncia a tantas coisas boas e
nobres da terra, a uma profissão mais ou menos brilhante, a influir cristãmente, com o exemplo,
no âmbito da cultura profana, do ensino, da economia, ou de qualquer outra actividade social?
Outros ficarão admirados lembrando-se de que hoje, em não poucos sítios, grassa uma
desorientação notável sobre a figura do sacerdote; apregoa-se que é preciso procurar a sua
identidade e põe-se em dúvida o significado que, nas circunstâncias actuais, possa ter a
entrega a Deus no sacerdócio. Finalmente, também poderá surpreender alguns que, numa época em que escasseiam as vocações sacerdotais, estas surjam entre cristãos que já tinham
resolvido – graças a um trabalho pessoal exigente – os problemas de colocação e trabalho no
mundo.
Sacerdotes e leigos
Compreendo essa estranheza, mas não seria sincero se afirmasse que a compartilho. Estes
homens que, livremente, porque assim o quiseram – e isto é uma razão muito sobrenatural -
abraçam o sacerdócio, sabem que não fazem nenhuma renúncia, no sentido em que
vulgarmente se emprega esta palavra. Já se dedicavam – pela sua vocação ao Opus Dei – ao
serviço da Igreja e de todas as almas, com uma vocação plena, divina, que os levava a
santificar o trabalho e a procurar, por meio dessa ocupação profissional, a santificação dos
outros.
Como todos os cristãos, os membros do Opus Dei, sacerdotes e leigos, sempre cristãos
correntes, encontram-se entre os destinatários destas palavras de S. Pedro: vós sois raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido, afim de anunciantes as virtudes d’Aquele
que vos chamou das trevas para a Sua luz admirável. Vós que outrora não éreis o Seu povo,
mas que agora sois o povo de Deus; vós que antes não tínheis alcançado misericórdia e agora
a alcançastes.
Uma única e a mesma é a condição de fiéis cristãos nos sacerdotes e nos leigos, porque Deus
Nosso Senhor nos chamou a todos à plenitude da caridade, à santidade: bendito seja Deus e
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a espécie de bênçãos
espirituais em Cristo. Foi assim que n’Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para
sermos santos e imaculados diante dos Seus olhos.
Não há santidade de segunda categoria: ou existe uma luta constante por estar na graça de
Deus e ser conformes a Cristo, nosso Modelo, ou desertamos dessas batalhas divinas. O
Senhor convida todos para que cada um se santifique no seu próprio estado. No Opus Dei esta
paixão pela santidade – apesar dos erros e misérias individuais – não se diferencia pelo facto de
se ser sacerdote ou leigo; e, além disso, os sacerdotes são apenas uma pequeníssima parte,
em comparação com o total de membros.
Olhando com olhos de fé, a chegada ao sacerdócio não constitui, portanto, nenhuma renúncia;
e chegar ao sacerdócio também não significa um passo mais na vocação ao Opus Dei. A
santidade não depende do estado – solteiro, casado, viúvo, sacerdote -, mas sim da
correspondência pessoal à graça, que a todos é concedida, para aprendermos a afastar de nós
as obras das trevas e para nos revestirmos das armas da luz, da serenidade, da paz, do
serviço sacrificado e alegre à humanidade inteira.
Dignidade do Sacerdócio
O sacerdócio leva a servir a Deus num estado que, em si mesmo, não é melhor nem pior do
que os outros; é diferente. Mas a vocação de sacerdote aparece revestida duma dignidade e
duma grandeza que nada na terra supera. Santa Catarina de Sena põe na boca de Jesus
Cristo estas palavras: não quero que diminua a reverência que se deve professar aos
sacerdotes, porque a reverência e o respeito que se lhes manifesta, não se dirige a eles, mas a
Mim, em virtude do Sangue que lhes dei para que o administrem. Se não fosse isso, deveríeis
dedicar-lhes a mesma reverência que aos leigos e não mais… Não devem ser ofendidos:
ofendendo-os ofende-se a Mim e não a eles. Por isso o proibi e estabeleci que não admito que
toqueis nos meus Cristos.
Alguns afadigam-se à procura, como dizem, da identidade do sacerdote. Que claras resultam
estas palavras da Santa de Sena! Qual é a identidade do sacerdote? A de Cristo. Todos os
cristãos podem e devem ser, não já alter Christus, mas ipse Christus: outros Cristos, o próprio Cristo! Mas no sacerdote isto dá-se imediatamente, de forma sacramental.
Para realizar uma obra tão grande – a da Redenção – Cristo está sempre presente na Igreja,
principalmente nas acções litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, tanto na pessoa do
Ministro – “oferecendo-se agora por ministério dos sacerdotes O mesmo que se ofereceu a si
mesmo na cruz” -, como, sobretudo, sob as espécies eucarísticas. Pelo sacramento da Ordem,
o sacerdote torna-se efectivamente apto para emprestar a Nosso Senhor a voz, as mãos, todo
o seu ser: é Jesus Cristo quem, na Santa Missa, com as palavras da consagração, transforma a substância do pão e do vinho no Seu Corpo, Alma, Sangue e Divindade.
Nisto se fundamenta a incomparável dignidade do sacerdote. Uma grandeza emprestada,
compatível com a minha pequenez. Eu peço a Deus Nosso Senhor que nos dê, a todos os
sacerdotes, a graça de realizar santamente as coisas santas, e de reflectir também na nossa
vida as maravilhas das grandezas do Senhor. Nós, que celebramos os mistérios da Paixão do
Senhor, temos de imitar o que fazemos. E então a hóstia ocupará o nosso lugar diante de
Deus, se nós mesmos nos fizermos hóstias.
Se alguma vez encontrais um sacerdote que, exteriormente, não parece viver de acordo com o
Evangelho – não o julgueis, Deus o julga – , sabei que, se celebrar validamente a Santa Missa,
com intenção de consagrar, Nosso Senhor não deixa de descer até àquelas mãos, ainda que
sejam indignas. Pode haver maior entrega, maior aniquilamento? Mais do que em Belém e no
Calvário! Porquê? Porque Jesus Cristo tem o Coração oprimido pelas suas ânsias redentoras,
porque não quer que ninguém possa dizer que não foi chamado, porque se faz encontrar pelos
que não O procuram.
É amor? Não há outra explicação. Que insuficientes se tornam as palavras, para falar do Amor
de Cristo! Ele baixa-se a tudo, admite tudo, expõe-se a tudo – a sacrilégios, a blasfémias,à frieza da indiferença de tantos – com o fim de oferecer, ainda que seja a um único homem, a
possibilidade de descobrir o bater de um Coração que salta no Seu peito chagado.
Esta é a identidade do sacerdote: instrumento imediato e diário da graça salvadora que Cristo
ganhou para nós. Se se compreende isto, se isto é meditado no silêncio activo da oração,
como se pode considerar o sacerdócio uma renúncia? É um ganho impossível de calcular. A
Nossa Mãe Santa Maria, a mais santa das criaturas – mais do que Ela, só Deus – trouxe uma
vez Jesus ao mundo; os sacerdotes trazem-no à nossa terra, ao nosso corpo e à nossa alma,
todos os dias: Cristo vem para nos alimentar, para no vivificar, para ser, desde já, penhor da
vida futura.
Sacerdócio comum e sacerdócio ministerial
Nem como homem, nem como fiel cristão, o sacerdote é mais do que o leigo. Por isso é muito
conveniente que o sacerdote professe uma profunda humildade, para entender como também
no seu caso se cumprem plenamente, de modo especial, aquelas palavras de S. Paulo: que
possuís que não tenhais recebido? O recebido… é Deus! O recebido é poder celebrar a
Sagrada Eucaristia, a Santa Missa – fim principal da ordenação sacerdotal -, perdoar os
pecados, administrar outros sacramentos e pregar com autoridade a Palavra de Deus, dirigindo
os outros fiéis nas coisas que se referem ao Reino dos Céus.
O sacerdócio dos presbíteros, que pressupõe os sacramentos da iniciação cristã, confere-se
mediante um Sacramento particular, pelo qual os presbíteros, pela unção do Espírito Santo,
são selados com um carácter especial e se configuram com Cristo Sacerdote de tal modo que
podem actuar na pessoa de Cristo cabeça. A Igreja é assim, não por capricho dos homens,
mas por expressa vontade de Jesus Cristo, seu Fundador. O sacrifício e o sacerdócio estão tão
unidos, por determinação de Deus, que em toda a Lei, na Antiga e na Nova Aliança, existiram
os dois. Tendo, pois, recebido a Igreja Católica no Novo Testamento, por instituição do Senhor,
o sacrifício visível da Eucaristia, deve-se também confessar que há n’Ele um novo sacerdócio,
visível e externo, no qual se transformou o antigo.
Nos que são ordenados este sacerdócio ministerial soma-se ao sacerdócio comum de todos os
fiéis. Portanto, seria um erro defender que um sacerdote é mais cristão do que qualquer outro
fiel, mas pode afirmar-se que é mais sacerdote: pertence, como todos os cristãos, ao povo
sacerdotal redimido por Cristo e, além disso, está marcado com o carácter do sacerdócio
ministerial, que se diferencia essencialmente, e não apenas em grau, do sacerdócio comum
dos fiéis.
Não compreendo o empenho de alguns sacerdotes em se confundirem com os outros cristãos
esquecendo ou descuidando a sua missão específica na Igreja, para a qual foram ordenados.
Pensam que os cristãos desejam ver no sacerdote um homem mais Não é verdade. No
sacerdote querem admirar as virtudes próprias de qualquer cristão e de qualquer homem
honrado: a compreensão, a justiça, a vida de trabalho – trabalho sacerdotal neste caso -, a
caridade, a educação, a delicadeza no trato. Mas, juntamente com isto, os fiéis pretendem que
se destaque claramente o carácter sacerdotal: esperam que o sacerdote reze, que não se
negue a administrar os Sacramentos, que esteja disposto a acolher a todos sem se constituir
chefe ou militante de partidarismos humanos, sejam de que tipo forem; que ponha amor e
devoção na celebração da Santa Missa, que se sente no confessionário, que conforte os
doentes e os atormentados, que ensine catequese às crianças e aos adultos, que pregue a
Palavra de Deus e não qualquer tipo de ciência humana, que – mesmo que a conhecesse
perfeitamente – não seria a ciência que salva e leva à vida eterna; que saiba aconselhar e ter
caridade com os necessitados.
Numa palavra: pede-se ao sacerdote que aprenda a não estorvar em si a presença de Cristo
nele, especialmente no momento em que realiza o Sacrifício do Corpo e Sangue e quando, em
nome de Deus, na Confissão sacramental auricular e secreta, perdoa os pecados. A
administração destes dois Sacramentos é tão capital na missão do sacerdote, que tudo o mais
deve girar à sua volta. As outras tarefas sacerdotais – a pregação e a instrução na fé -
careceriam de base, se não estivessem dirigidas a ensinar a ter intimidade com Cristo, a
encontrar-se com Ele no tribunal amoroso da Penitência e na renovação incruenta do Sacrifício
do Calvário, na Santa Missa.
Deixai que me detenha ainda um pouco na consideração do Santo Sacrifício: porque, se para
nós é o centro e a raiz da vida cristã, deve sê-lo, de modo especial, na vida do sacerdote. Um
sacerdote que, culpavelmente, não celebrasse diariamente o Santo Sacrifício do Altar,
demonstraria pouco amor de Deus; seria como lançar em cara a Cristo que não compartilha da ânsia de Redenção, que não compreende a sua impaciência em se entregar, inerme, como
alimento da alma.
Sacerdote para a Santa Missa
Convém recordar, com importuna insistência, que todos nós, sacerdotes, quer sejamos
pecadores quer santos, quando celebramos a Santa Missa não somos nós próprios. Somos
Cristo, que renova no altar o seu divino Sacrifício do Calvário. A obra da nossa Redenção
cumpre-se continuamente no mistério do Sacrifício Eucarístico, no qual os sacerdotes exercem
o seu principal ministério, e por isso recomenda-se encarecidamente a sua celebração diária
pois, mesmo que os fiéis não possam estar presentes, é um acto de Cristo e da sua Igreja .
Ensina o Concilio de Trento que na Missa se realiza, se contém e incruentamente se imola
aquele mesmo Cristo que uma só vez se ofereceu Ele mesmo cruentamente no altar da Cruz… Com efeito, a vítima é uma e a mesma: e O que agora se oferece pelo ministério dos
sacerdotes, é O mesmo que então se ofereceu na Cruz, sendo apenas diferente a maneira de
se oferecer.
A assistência ou a falta de assistência de fiéis à Santa Missa não altera em nada esta verdade
de fé. Quando celebro rodeado de povo, sinto-me satisfeito, sem necessidade de me
considerar presidente de nenhuma assembleia. Sou, por um lado, um fiel como os outros, mas
sou, sobretudo, Cristo no Altar! Renovo incruentamente o divino Sacrifício do Calvário e
consagro in persona Christi, representando realmente Jesus Cristo, porque lhe empresto o meu
corpo, a minha voz e as minhas mãos, o meu pobre coração, tantas vezes manchado, que
quero que Ele purifique.
Quando celebro a Santa Missa apenas com a participação daquele que ajuda à Missa, também
aí há povo. Sinto junto de mim todos os católicos, todos os crentes e também os que não
crêem. Estão presentes todas as criaturas de Deus – a terra, o céu, o mar, e os animais e as
plantas -, dando glória ao Senhor da Criação inteira.E especialmente – di-lo-ei com palavras do Concilio Vaticano II – unimo-nos no mais alto grau ao culto da Igreja celestial, comunicando e venerando sobretudo a memória da gloriosa sempre
Virgem Maria, de S. José, dos santos Apóstolos e Mártires e de todos os santos.
Peço a todos os cristãos que rezem muito por nós, sacerdotes, para que saibamos realizar
santamente o Santo Sacrifício. Rogo-lhes que mostrem um amor tão delicado à Santa Missa,
que nos leve, a nós, sacerdotes, a celebrá-la comdignidade – com elegância – humana e
sobrenatural: com asseio nos paramentos e nos objectos destinados ao culto, com devoção,
sem pressas.
Porquê pressa? Têm-na por acaso os namorados ao despedir-se? Parece que se vão embora e não vão: voltam uma e outra vez, repetem palavras correntes como se acabassem de as
descobrir… Não receeis aplicar exemplos do amor humano, nobre, limpo, às coisas de Deus.
Se amarmos o Senhor com este coração de carne – não temos outro – não sentiremos pressa
em terminar esse encontro, essa entrevista amorosa com Ele.
Alguns vivem com calma e não se importam de prolongar até ao cansaço leituras, avisos, anúncios Mas, ao chegarem ao momento principal da Santa Missa, ao Sacrifício propriamente
dito, precipitam-se, contribuindo assim para que os outros fiéis não adorem com piedade
Cristo, Sacerdote e Vítima; nem aprendam a dar-lhe graças depois – com pausa, sem
precipitações -, por ter querido vir de novo até nós.
Todos os afectos e necessidades do coração do cristão encontram na Santa Missa o melhor caminho: aquele que, por Cristo, chega ao Pai no Espirito Santo. O sacerdote deve pôr
especial empenho em que todos o saibam e vivam. Não há actividade alguma que possa
antepor-se normalmente à de ensinar e fazer amar e venerar a Sagrada Eucaristia.
O sacerdote exerce dois actos: um, principal, sobre o Corpo de Cristo verdadeiro; outro,
secundário, sobre o Corpo Místico de Cristo. O segundo acto ou ministério depende do
primeiro, e não ao contrário . Por isso, o que há de melhor no ministério sacerdotal é procurar
que todos os católicos se aproximem do Santo Sacrifício cada vez com mais pureza, humildade
e veneração. Se o sacerdote se esforça nesta tarefa, não ficará defraudado, nem defraudará as
consciências dos seus irmãos cristãos.
Na Santa Missa adoramos, cumprindo amorosamente o primeiro dever da criatura para com o
seu Criador: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. Não adoração fria, exterior, de
servo; mas íntima estima e acatamento, que é amor profundo de filho.Na Santa Missa encontramos a oportunidade perfeita de expiar os nossos pecados e os de
todos os homens: para poder dizer, como S. Paulo, que estamos cumprindo na nossa carne o
que falta padecer a Cristo. Ninguém caminha sozinho no mundo, ninguém deve considerar-se
livre de uma parte de culpa no mal que se comete sobre a terra, consequência do pecado
original e também da soma de muitos pecados pessoais. Amemos o sacrifício, procuremos a
expiação. Como? Unindo-nos na Santa Missa a Cristo, Sacerdote e Vítima; será sempre Ele
quem carregará com o peso imenso das infidelidades das criaturas; das tuas e das minhas…
O Sacrifício do Calvário é uma prova infinita a generosidade de Cristo. Nós – cada um – somos
sempre muito interesseiros; mas Deus Nosso Senhor não se importa de que na Santa Missa
Lhe apresentemos todas as nossas necessidades. Quem não tem coisas a pedir? Senhor,
aquela doença… Senhor, esta tristeza… Senhor, aquela humilhação, que não sei suportar por
amor de Ti… Queremos o bem, a felicidade e a alegria das pessoas da nossa casa; oprime-nos
o coração a sorte dos que padecem fome e sede de pão e de justiça; dos que sentem a
amargura da solidão; dos que, no termo dos seus dias, não recebem um olhar de carinho nem um gesto de ajuda.
Mas a grande miséria que nos faz sofrer, a grande necessidade a que queremos pôr remédioé o pecado, o afastamento de Deus, o risco de que as almas se percam para toda a eternidade.
Levar os homens à glória eterna no amor de Deus: esta é a nossa aspiração fundamental ao
celebrar a Missa, como o foi a de Cristo ao entregar a sua vida no Calvário.
Acostumemo-nos a falar com esta sinceridade ao Senhor, quando desce, vítima inocente, até às mãos do sacerdote. A confiança no auxilio do Senhor dar-nos-á essa delicadeza de alma,
que se traduz sempre em obras de bem e de caridade, de compreensão, de profunda ternura
com os que sofrem e com os que vivem artificialmente fingindo uma satisfação oca, tão falsa,
que depressa se converte em tristeza.
Agradeçamos, finalmente, tudo o que Deus Nosso Senhor nos concede, pelo facto maravilhoso
de Se nos entregar Ele mesmo. Que venha ao nosso peito o Verbo Encarnado!… Que se
encerre, na nossa pequenez, Aquele que criou céus e terra!… A Virgem Maria foi concebida
imaculada para albergai Cristo no seu seio. Se a acção de graças há-de ser proporcionalà diferença entre o dom e os méritos, não devíamos converter todo o nosso dia numa Eucaristia
contínua? Não saiais do templo, mal acabeis de receber o Santo Sacramento. Tão importanteé o que vos espera que não podeis dedicar ao Senhor dez minutos para lhe dizer obrigado? Não
sejamos mesquinhos. Amor com amor se paga.
Um sacerdote que vive deste modo a Santa Missa adorando, expiando, impetrando, dando
graças, identificando-se com Cristo -, e que ensina os outros a fazer do Sacrifício do Altar o
centro e a raiz da vida do cristão, demonstrará realmente a grandeza incomparável da sua
vocação, esse carácter com que foi selado, e que não perderá por toda a eternidade. Sei que
me compreendeis quando vos afirmo que, ao lado de um sacerdote assim, se pode considerar
um fracasso – humano e cristão – a conduta de alguns que se comportam como se tivessem de
pedir desculpa por ser ministros de Deus. É uma desgraça, porque os leva a abandonar o
ministério, a arremedar os leigos, a procurar uma segunda ocupação que a pouco e pouco
suplanta a que lhes é própria por vocação e por missão. Frequentemente, ao fugir do trabalho
de cuidar espiritualmente das almas, tendem a substituí-lo por uma intervenção em campos
próprios dos leigos – nas iniciativas sociais, na política -, aparecendo então esse fenómeno do
clericanismo, que é a patologia da verdadeira missão sacerdotal.
Não quero terminar com esta nota sombria, que pode parecer pessimismo. Não desapareceu
na Igreja de Deus o autêntico sacerdócio cristão; a doutrina é imutável, ensinada pelos lábios
divinos de Jesus. Há muitos milhares de sacerdotes em todo o mundo que cumprem
plenamente a sua missão, sem espectáculo, sem cair na tentação de lançar pela borda fora um
tesouro de santidade e de graça, que existe na Igreja desde o princípio.
Aprecio a dignidade da finura humana e sobrenatural destes meus irmãos, espalhados por toda
a terra. É de justiça que se vejam já agora rodeados pela amizade, a ajuda e o carinho de
muitos cristãos. E quando chegar o momento de se apresentarem diante de Deus, Jesus Cristo
irá ao seu encontro, para glorificar eternamente aqueles que, no tempo, actuaram em seu
nome e na sua Pessoa, derramando com generosidade a graça de que eram administradores.
Voltemos de novo, em pensamento, aos membros do Opus Dei que serão sacerdotes no
próximo Verão. Não deixeis de pedir por eles, para que sejam sempre sacerdotes fiéis,
piedosos, doutos, entregues, alegres! Encomendai-os especialmente a Santa Maria, que torna
ainda mais generosa a sua solicitude de Mãe com aqueles que se empenham, para toda a
vida, em servir de perto o seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, Sacerdote Eterno.
São Josemaria Escrivá.
© 2002 Fundação Studium
EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA
- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.
- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.
Interpretação errada do evangelho:
- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).
Consequências:
- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.
CAMPANHA DA VELA VIRTUAL DO SANTUÁRIO DE APARECIDA
CLIQUE AQUI, acenda uma vela virtual, faça seu pedido e agradecimento a Nossa Senhora Aparecida pela sagrada intercessão em nossas vidas!
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus! Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
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