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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 25/02/2018 - 2º Domingo da Quaresma
. Evangelho de 18/02/2018 - 1º Domingo da Quaresma


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

O PESO DE NOSSA CRUZ!
Clique para ver uma apresentação especial!

25.02.2018
2º Domingo da Quaresma — ANO B
( Roxo, Creio, Prefácio Próprio – II Semana do Saltério )
__ "Deus não poupou seu único Filho..." __

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2018
Tema: “Fraternidade e superação da violência”.
Lema: “Em Cristo todos somos irmãos” (Mt 23,8)

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Acolhemos com alegria a revelação que o Pai nos faz de sermos, em Jesus, seus filhos amados. Conscientes desta dignidade, somos encorajados a permanecer firmes em seu caminho, obedientes ao mandamento de escutar atentos sua Palavra. Participando do mistério de sua morte e ressurreição, recebemos seu corpo glorioso e somos motivados a transfigurar com Ele nossa realidade ainda tão desfigurada.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, sejam bem-vindos! Assim como Jesus chamou seus discípulos para o monte Tabor, para ali ser transfigurado, hoje Ele nos chama para fazermos a mesma experiência. Este lugar sagrado em que nos reunimos, torna-se, para nós, um espaço da manifestação da glória do Senhor, da qual participamos sacramentalmente pelo Batismo, sinal antecipado de nossa Páscoa.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A transfiguração de Jesus é o prenúncio da nossa transfiguração. Imitemos a Cristo, que se afasta do “triunfalismo” e assume o caminho da Cruz como método de vida e paradigma de salvação. Assim seremos uma Igreja servidora e em constante saída.

Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18): - "Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra, porque me obedeceste."

SALMO RESPONSORIAL 116(115): - "Andarei junto a Deus na terra dos vivos."

SEGUNDA LEITURA (Rm 8,31b–34): - "Se Deus é por nós, quem será contra nós?"

EVANGELHO (Mc 9, 2-10): - "Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!"



Homilia do Diácono José da Cruz – 2º Domingo da Quaresma

"O AMOR QUE TRANSFIGURA..."

Tivemos um jovem em nosso grupo, que acabou se tornando médico, recordo-me que após a formatura, a sua turma, vinda de famílias abastadas, como recompensa e merecido descanso, decidiu participar de um cruzeiro internacional, em um navio luxuosíssimo, com hospedagens em hotéis 5 estrelas, mas esse jovem, já formado, retomou contato com a humilde comunidade onde tivera a sua experiência pastoral e ao saber que a mesma fazia atendimento a uma área paupérrima do bairro, se dispôs a conhecer esse trabalho.

Observando uma carência total na área da saúde, ele não teve dúvidas, juntou-se a Pastoral da Saúde e elaborou um cuidadoso plano de ação, e quando seus amigos vieram procurá-lo, para surpresa geral o jovem Doutor abriu mão da fantástica aventura, para dedicar-se nas férias, à comunidade pobre que fazia parte da sua antiga paróquia.

Parece história da “Carochinha”, mas se prestarmos atenção ao nosso redor, vamos encontrar pessoas como esse jovem, que nem sempre saem nos jornais, e que a gente se pergunta, como é que podem existir pessoas assim, que no anonimato abrem mão daquilo que têm, em favor de quem precisa, fazendo um sacrifício, palavra estranha e sem sentido para o homem deste milênio, rodeado de conforto, facilidades, tecnologia, comodidade e bem estar.

Não há nenhuma razão lógica para alguém sacrificar-se assim por um ser humano, aquele jovem poderia primeiro curtir a sua merecida viagem com os amigos e depois, quem sabe, dar um pouco do seu tempo à comunidade pobre, mas aí é que está a diferença, o amor quando é autêntico, nunca se satisfaz em dar apenas um “pouco”.

Entre os jovens ainda é comum a palavra “FICAR”, que significa uma relação sem compromisso, um amorzinho bem vagabundo, desses de quinta categoria, mas quando dois jovens resolvem migrar do simplesmente Eros para o Ágape, daí vamos ter o amor em toda sua beleza e esplendor, amor de primeiríssima qualidade, indestrutível, inseparável, como nos ensina a segunda leitura desse domingo, sempre tolerante, compassivo, disposto a perdoar e a recomeçar, amor que sabe sonhar e construir juntos, na partilha e comunhão de vida, casamento na Igreja supõe tudo isso...

É assim que Deus se revela em Jesus Cristo, é assim que Cristo se revela em quem é capaz (e não precisa ser médico) de renunciar algo valioso, para doar-se aos irmãos, não existe outra forma de amar que não seja o serviço, feito com grande sacrifício, e isso parece algo tão simples e ao mesmo tempo tão complicado, difícil de ser compreendido pelo coração humano, que hoje é educado para buscar grandezas e ambições, prestígio, fama, sucesso e poder, em um egocentrismo exacerbado.

Como podemos entender o sacrifício de Abraão, que abre mão do Filho da Promessa, tão esperado e sonhado, e que veio em sua velhice, brotado como semente tardia, dom de Deus, da esterilidade de Sara, sua esposa? O Patriarca, ícone das três maiores religiões do planeta, sente em seu coração que o amor á Divindade em quem crê, só se concretiza ofertando algo valiosíssimo,e aqui retomamos o sentido do amor, que não é dar um pouquinho, mas o “tudo”, ou seja, aceitar perder algo, que não se vai mais recuperar...

Na religião da recompensa divina, sempre marcada pela mediocridade, ou nas relações mercantilizadas com as pessoas, se faz na verdade uma barganha, é muito complicado chegarmos a compreensão dessa gratuidade, pois pensamos que somos muito bons e nos doamos até um certo ponto, mas não se pode também exagerar e sair no prejuízo, é esse o grande problema, colocamos sempre um limite no nosso modo de amar, abrimos mão de ganhar alguma coisa, mas ter que perder, aí já é um pouco demais... Amar como Jesus amou, é sempre assumir o risco de uma perda.

Entretanto, quando desenvolvemos em nós essa virtude do evangelho, e aceitamos até perder tudo, estamos nos unindo Aquele que se deu por inteiro, e que para salvar a todos aceitou perder tudo, pois o Cristo na cruz é um homem derrotado e humilhado, diante doa amigos que acreditaram em sua proposta, é alguém que perdeu tudo, prestígio, família, amigos, dignidade, honra, considerado na visão profética um homem maldito diante de Deus, abandonado e esquecido, incompreendido e rejeitado, homem esmagado pelas dores, como nos lembra Hebreus, e se o Pai não o tivesse glorificado quem seria Jesus para o mundo de hoje?

Talvez ninguém, pois enquanto homem aceitou correr esse risco, não sabia bem no que ia dar tudo aquilo, e podia ser que nem a comunidade reconhecesse o seu gesto de amor.

Somos hoje convidados a contemplar exatamente essa glória, pois no Cristo transfigurado, está a humanidade, sonhada, planejada e criada por Deus, está aquele jovem, cuja história contei no início, está cada cristão, que tem essa disposição interior de doar-se por inteiro, e que ninguém tenha medo, Deus nunca exigirá de nós o mesmo sacrifício da cruz, mas que nossas pequenas ações possam pelo menos refletir um pouco, do Amor de Jesus de Nazaré, para isso é necessário buscá-lo e escutá-lo, pois somente ele e mais ninguém, nos ensina com tanta autoridade, como é que se ama de verdade...

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 2º Domingo da Quaresma

“Tribulações e consolações”

O conhecido poema “pegadas na areia” relata a observação que uma pessoa fazia ao estar numa praia e perceber que nos momentos mais felizes da sua vida existiam duas pegadas na areia: as do Senhor e as suas. Deus estava presente nos momentos de felicidade. Mas… que decepção! Nos momentos de dificuldade, a mesma pessoa notava que só existia uma pegada na areia. Ao perguntar ao Senhor o porquê daquilo, Deus lhe respondeu que nos momentos mais difíceis Ele a segurava nos braços sem que ela mesma percebesse isso. Surpresa maior ainda: as pegadas eram do Senhor!

O Evangelho deste domingo nos relata a transfiguração do Senhor. Ao olharmos um pouco o contexto, observamos que Jesus tinha anunciado aos seus que “é necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e ressuscite ao terceiro dia” (Lc 9,22); que ele tinha falado também que se alguém o quisesse seguir que tomasse a cruz (cf. Lc 9,23-24); por outro lado, alguns discípulos esperavam um messias político que vencesse pela força de um exército dominador o poder dos romanos, de cujo jugo desejavam ver-se livres.

Tendo em conta tudo isso, podemos dizer que os discípulos encontravam-se bastante desnorteados e até mesmo desanimados. A transfiguração do Senhor é um consolo. De fato, dizia São Leão Magno que “o fim principal da transfiguração foi desterrar das almas dos discípulos o escândalo da Cruz”; trata-se de uma “gota de mel” no meio dos sofrimentos. A transfiguração ficou muito gravada na mente dos três apóstolos que estavam com Jesus, anos mais tarde São Pedro lembrar-se-ia deste fato na sua segunda epístola: “Este é o meu filho muito amado, em quem tenho posto todo o meu afeto”. Esta mesma voz que vinha do céu nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo” (2 Pd 1,17-18).  Ele, Jesus, continua dando-nos o consolo – quando necessário – para podermos continuar caminhando e para que nunca desistamos.

Vale a pena seguir alguém que vai morrer na Cruz Uma pergunta semelhante pôde ter passado pela mente dos discípulos do Senhor como também pôde ter passado alguma vez pela nossa, quiçá formulada de outra maneira. A primeira leitura nos apresentou o relato da grande prova ao qual Abraão – o pai de todos os crentes – foi submetido (cf. Gn 22). O relato faz parte das assim chamadas “tradições patriarcais” (Gn 12-36). A prova pela qual Abraão passou foi assaz dramática: sacrificar Isaac, seu filho amado e, além do mais, filho da promessa.

Muitas vezes, também nós passamos por provas espirituais difíceis: parece que Deus não me ouve, que ele está longe de mim, não liga para mim, muda de planos e que “não está nem aí” para os meus planos. Os discípulos de Jesus têm uma sensação semelhante diante do anúncio da Paixão e do seguimento exigido por Jesus: encontravam-se diante de um projeto que eles não tinham imaginado. E agora, vale a pena Vale a pena, Abraão Vale a pena, discípulos de Cristo Você que lê esse texto: vale a pena? Hoje em dia, você e eu só estamos no serviço do Senhor porque aqueles primeiros viram que valia a pena e porque livremente vimos, nós também, que vale a pena.

Os discípulos da transfiguração são os mesmos do Monte das Oliveiras, os da alegria são também os da agonia. É preciso acompanhar o Senhor em suas alegrias e em suas dores. As alegrias preparam-nos para o sofrimento e o sofrimento por e com Jesus dá-nos alegria. Os discípulos, que estavam desanimados diante do Mistério da Cruz, são consolados por Jesus na transfiguração e preparados para os acontecimentos vindouros, como, por exemplo, o terrível sofrimento que Ele padecerá no Getsêmani. Vale a pena segui-lo Certamente.

Quais poderiam ser os nossos propósitos para este domingo? Trabalhar com desejos de eternidade, olhar as tribulações e contrariedades como uma benção santificadora do Senhor, fazer muitos atos de esperança (“Senhor, eu espero em ti”), pensar muitas vezes durante o dia na presença de Deus junto a nós em todos os momentos, viver na certeza de que nós podemos sempre falar com Deus. Ele é nosso Pai.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 2º Domingo da Quaresma - Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (Rm 8, 31b-34)

INTRODUÇÃO: O trecho de hoje constitui um canto de júbilo de Paulo como conclusão do que anteriormente escreveu. O Pai que entregou seu Filho e Cristo, que deu sua vida por nós, não negarão quanto possamos necessitar para a salvação e glorificação final dos eleitos. Pai e Filho deram tudo para que isso acontecesse  e se tornaram deste modo fundamento radical de nossa verdadeira esperança, como já o tinha declarado Isaías no AT: Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? Compareçamos juntamente; quem é meu adversário? Chegue-se para mim (50, 8). Vejamos a interpretação versículo a versículo.

QUEM CONTRA NÓS? Que, pois, diremos em relação a estas coisas?  Se (o) Deus em nosso favor, quem contra nós? (31). Quid ergo dicemus ad haec si Deus pro nobis quis contra nos. ESTAS COISAS: Neste capítulo oitavo, Paulo fala da nova vida do espírito como um dom gracioso de Deus que transforma o cristão em seu filho e herdeiro do céu. Daí a esperança cristã, fundada em que estamos seguros de que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (8, 28). É, pois, com esta confiança que o apóstolo afirma como corolário óbvio e terminal: Se Deus em nosso favor, quem pode estar contra nós? E aqui se inicia o que os comentaristas chamam de hino da esperança cristã. DEUS É A FAVOR: Nada temos a temer das tribulações e poderes do mundo, já que nada nos pode separar do amor que Deus nos tem e que o demonstrou entregando  a vida de seu Filho. Deus assim optou pela salvação do homem: quem pode ser contrário a esta determinação? Pela parte de Deus os poderes do mundo já estão vencidos como Josué e Caleb declaravam aos israelitas que estavam para entrar na terra prometida: Não tenham medo dessa gente! Havemos de derrotá-los facilmente. Não têm quem os proteja ao passo que nós temos o Senhor ao nosso lado! Não tenham medo deles! (Nm 14,9).

A ENTREGA DO FILHO: O qual certamente do próprio Filho não poupou; mas, em proveito de todos nós, o entregou. Como também todas as coisas não nos dará gratuitamente?(32). Qui etiam Filio suo non pepercit sed pro nobis omnibus tradidit illum quomodo non etiam cum illo omnia nobis donabit. Nesta afirmação, que constitui a base de nossa esperança, Paulo encontra a raiz do amor imensurável de Deus: a escolha da salvação dos inimigos através da morte temporal do seu verdadeiro e único Filho: Nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho (Rm 5, 6), que foi entregue à morte por causa dos nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação (Rm 4, 25). Essa entrega é a máxima doação que poderia ser exigida. Assim o declara o anjo a Abraão em Gn 22, 12: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho. Por isso, Paulo tira uma consequência prática e inevitável: Quem deu o máximo, não estará disposto a entregar tudo o demais de uma forma desinteressada? Porque a ENTREGA DO FILHO foi um presente gratuito de Deus, que os anjos cantavam como um ato de boa vontade divina: a paz oferecida aos homens no nascimento do seu Salvador (Lc 2, 14). No amor e no perdão, que constitui o máximo degrau do amor, sempre encontramos que Deus se adianta ao homem, até instituir um sacramento para perdoar todo pecado. O único pecado que não será perdoado é o que os anjos cometeram e que o homem pode cometer contra o Espírito Santo (Mt 12, 32). Consiste este em se rebelar contra a bondade de Deus e rejeitá-la, como se o bem absoluto divino fosse um mal presente para a criatura. É optar em definitivo, por uma ordem moral contrária à de Deus, porque o bem de Deus não é nosso bem e por isso escolhemos o nosso bem, independente da bondade divina: é o não serviam [não servirei] de Lúcifer, que denota seu orgulho e independência. Nas palavras da antiga serpente, de nome Diabo e Satanás (Ap 12, 9) a tentação foi feita com as mesmas ideias senão palavras, com as quais ele claudicou: sereis como deuses, sabendo o bem e o mal (Gn 3,5). Sendo que o sabendo [do yadah<03045> hebraico, que o grego traduz por ginöskö<1097>] tem a tradução de experimentar, realizar na prática, o qual indica uma absoluta independência de Deus que a tradição católica traduz pelo não serviam. A queda de Satanás e seus anjos, segundo o CIC (392), consiste na eleição livre destes espíritos criados, que rejeitaram radical e irrevogavelmente a Deus e seu Reino… É o caráter irrevogável de sua eleição e não um defeito da infinita misericórdia o que faz que o pecado dos anjos não seja perdoado (393). A isto comenta S. João Damasceno: Não existe arrependimento para eles, como não existe arrependimento para os homens depois da morte. Segundo S. Faustina Kowaska, Jesus respondeu sua pergunta, por que os anjos foram castigados imediatamente depois do pecado, dizendo: Por seu profundo conhecimento de Deus. Nenhum homem na terra, embora seja um grande santo, tem tal conhecimento de Deus como um anjo. A mesma santa escreve: Satanás não quer reconhecer que Deus é bom. E em outra ocasião: Satanás pode vestir o manto da humildade, mas não é capaz e de vestir o manto da obediência. Os escritos da santa confirmam a tradição do não serviam. Feita esta divagação, vemos que a causa da rebelião angélica é que eles deviam aceitar uma ordem universal em que o segundo depois de Deus, era um homem e não um anjo: Quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem (Hb 1, 6). Mas esse homem fez o que nenhum anjo rebelde aceitaria: 1º) Humilhou-se. 2º) Obedeceu. E essa obediência foi a mais sofrida e humilhante do mundo na sua época, como diz Paulo: Sendo obediente até à morte, e morte de cruz (Fp 2,8). Nossa salvação está nesse símbolo [a cruz] que outrora foi degradante e assim o viu o diabo, mas que é vitória e salvação. GRATUITAMENTE: O verbo grego é charisetai [<8483>=donabit] indica uma doação gratuita, um favor ou mercê não devida, mas o obtida por graciosa condescendência. É assim que recebemos as diversas graças de Deus após termos conseguido a base das mesmas, que é a entrega do Filho para nosso resgate e serviço, como Ele afirmou: o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate por muitos (Mt 20, 28).

DEUS NOSSO DEFENSOR: Quem presenteará cargos em contra dos eleitos de Deus, sendo Deus o justificador (33). Quis accusabit adversus electos Dei Deus qui iustificat. PRESENTEARÁ CARGOS: É o verbo egkalesei [<1458>=accusabit] como vemos em At 19, 38 que tem um significado técnico como termo forense: Mas, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma coisa contra alguém, há audiências e há procônsules: que se acusem uns aos outros. Ou como diz Paulo diante do rei Agripa: por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus (At 26, 6). Nesse julgamento imaginário e previsível, em frente dos acusadores está a defesa divina, que chama precisamente defensor [paraklëtos] a seu Espírito derramado em sua Igreja: eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Defensor [paraklëtos], para que fique convosco para sempre (Jo 14, 16). Já Isaías no AT clamava: Perto está o que me justifica; quem contenderá comigo? Compareçamos juntamente; quem é meu adversário? Chegue-se para mim. Eis que o Senhor Deus me ajuda; quem há que me condene? (Is 60, 6-9). Eram tempos de perseguição os da carta, em que precisamente os acusadores em nome da lei divina eram os judeus, filhos da promessa. Diante desse quadro acusador está a verdadeira história do cristianismo em que o Messias testemunha com sua vida a verdade de seu anúncio, como dirá Paulo na continuação, e vemos refletido em Ap 12, 10-11: Ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte.

TRIUNFO DE CRISTO: Quem os condenará? (sendo) Cristo o morto, antes bem o ressuscitado; o qual também está à direita de (o) Deus, o qual também está intercedendo por nós (34). Quis est qui condemnet Christus Iesus qui mortuus est immo qui resurrexit qui et est ad dexteram Dei qui etiam interpellat pro nobis. De sua afirmação – Deus é o defensor – Paulo recopila os fatos mais sobressalentes: a morte do Messias, a sua ressurreição e o seu atual estatus supremo para poder ser verdadeiro intercessor. Na epístola aos hebreus lemos de Cristo: Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus (12, 2). O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas (1, 3). E para terminar sua ação salvífica: Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da majestade (8,1). Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus (7, 24). Com estas citações vemos a doutrina comum que afirma a morte de Cristo sendo motivo de salvação, como causa de intercessão na destra de Deus por todos os eleitos ou salvos.

EVANGELHO (Mc 9, 2-10) - A TRANSFIGURAÇÃO
Lugares paralelos Mt 17, 1-13 e Lc 9, 28-36

E DEPOIS DE SEIS DIAS (1 a).  Et post dies sex. Marcos e Mateus coincidem no tempo de seis dias que são contados após a declaração de Pedro sobre o messiado de Jesus. Lucas determina a origem da contagem do tempo, mas o intervalo é determinado: Passaram, pois, após estas palavras [a declaração de Pedro e o primeiro anúncio de Jesus de sua paixão] como oito dias.

TOMA JESUS A PEDRO, A JACOBO E A JOÃO (1 b): Adsumit Iesus Petrum et Iacobum et Iohannem. Mateus dirá que este último era irmão do anterior e Lucas coloca o nome de João antes do nome de seu irmão. Em todos os textos gregos o nome deste último é Iacobos. Este nome é o mesmo que Jacob [Ya`aqob < 03290>= Iaköb <2384>]. O nome português Tiago, deriva do latim que por sua vez é uma latinização do nome hebraico Jacó [suplantador] porque nascendo depois de seu irmão gêmeo Esaú o suplantou por meio de um prato de lentilhas como primogênito herdeiro da herança do pai. Santo Iago na pronúncia romance tornou-se Sant’Iago e daí São Tiago, o moderno antropônimo em português e espanhol Tiago. Por uma falsa etimologia derivou a palavra San Diego originando assim o nome de Diogo. Com o decorrer do tempo o nome evoluiu em diversas línguas mantendo-se como Jakob em alemão, Jacques em francês, e James em inglês. De Jacome nasce o Jame  ou Jaume  e finalmente o Jaime que prevalece nos romances orientais da península ibérica. Pedro é o novo nome dado a Simão, filho de Jonas por Jesus que Mateus narra em 17, 18 e que o quarto evangelista dirá será chamado de Kefas (que quer dizer rocha – Jo 1, 42). João sabemos que é o irmão de Tiago e filho, portanto, de Zebedeu. Estes três discípulos foram os que Jesus escolheu para momentos especiais como a ressurreição da filha de Jairo (Mc 5, 37) e a sua agonia em Getsêmani (Mc 14, 33).

E OS FAZ SUBIR À PARTE, A SÓS, A UM MONTE ALTO (1c): Et ducit illos in montem excelsum seorsum solos. Lucas acrescenta para orar. Destaca Marcos a eleição e a particularidade de estar os quatro a sós, fora de qualquer outra pessoa que pudesse ser tomada como visão acompanhante a Jesus. Nada se diz da geografia do monte nem do nome do mesmo. Só que era alto. A tradição aponta o monte Tabor, um monte, cônico quase esférico,  que se levanta solitário frente à planície de Esdrelon. Os árabes o denominam de Jebel et Tur [monte dos montes]. Segundo vários estudiosos o monte foi lugar de cultos idolátricos a Baal Sedek [o senhor da justiça]. Recentes escavações confirmam a existência de um templo dórico na montanha. É por essa razão que a bíblia proíbe subir aos montes para orar, pois eles estavam dedicados às divindades pagãs. No AT o livro de Josué coloca o Tabor como ponto de convergência dos limites de três tribos [Zabulon, Neftali e Issacar] (cp 19). Em muitas religiões as montanhas tinham um caráter sagrado. Os israelitas não foram exceção. Foi nos montes Sinai e Horeb que Jahveh apareceu a Moisés e a Elias. E serão precisamente estes dois antigos profetas que aparecem a Jesus num outro monte: o Tabor. No episódio de Débora (Jz 4 e 5 ) que sucedeu no arredores do monte Tabor, vemos como no Tabor existia um culto a Jahveh (4, 6), pois manda as tropas se reunirem no monte, não para lutar mas para rezar antes da batalha. Porque era o monte em que o redator de Dt 33, 18-19 escreve como bênçãos de Moisés: Prospera Zabulon em tuas expedições e tu Issacar em tuas tendas! Na montanha em que o povo se reúne para pregar, eles oferecem sacrifícios. Tabor era a única montanha em que ambas as tribos tinham como fronteira comum. O Tabor era a montanha em que os madianitas mataram os irmãos de Gedeão (Jz 8, 18) depois de Débora. O ídolo da montanha parece que foi restaurado porque as tribos do norte continuaram a praticar um certo sincretismo de culto, iniciado com Jeroboão (930-910). Debelada a idolatria por Elias, não parece que teve um êxito total e assim o profeta Oseias na segunda metade do século VIII clama: Ouvi isto, sacerdotes, atende, casa de Israel, …fostes um laço para Masfa e uma rede estendida sobre o Tabor (Os 5,1). Jeremias considera o Tabor, junto com o monte Carmelo, como símbolos de preeminência, comparando a superioridade de Nabucodonosor  como o Tabor entre as montanhas e o Carmelo sobre o mar (48, 18). Finalmente no salmo 89: Tabor e Hermon se rejubilam a teu nome [Javé] (versículo 13). Não era um monte qualquer. Era um monte com uma tradição javista particular que tinha sido retomada após um parêntese de sincretismo idolátrico. Jesus quer com sua  escolha, mostrar um paralelismo exemplar com Moisés e Elias.

E SE TRANSFIGUROU DIANTE DELES(1 d). Et transfiguratus est coram ipsis. A palavra empregada por Marcos  é [metermorfôthe<3339>] derivada de meta [entre ou indicando uma transferência ou sequência] e morphóô [formar, modelar adaptar], indicando uma transformação do sujeito de maneira permanente, à diferença de metaschêmatizö, mudar ou modificar o aspecto de modo temporal. Metemorphöthe é a palavra usada por Mateus. Lucas, porém, usa uma outra maneira de descrever o fenômeno da transfiguração: e aconteceu ao estar ele orando, a aparência de seu rosto, outra (Lc 9, 29). A tradução é o mais literal possível.  Marcos diz: E foi transfigurado na sua presença. A voz passiva do verbo indica uma ação divina. E segundo o mesmo evangelista a transformação ou transfiguração deu-se na presença dos três discípulos. A Vulgata traduz transfiguratus est que as vernáculas traduzem por foi transfigurado, ou mudou de aspecto.

DESCRIÇÃO DO FENÔMENO: Marcos escreve: E suas vestes tornaram-se cintilantes [stilbonta<4744>>, a splendéntia latina], brancas em extremo, como neve, de modo que pisoeiro [ypsêlon<5308>, fullo latino] algum na terra poderia embranquecer (3). Et vestimenta eius facta sunt splendentia candida nimis velut nix qualia fullo super terram non potest candida facere. A) O ROSTO [prosopon]: O grego stilbô, do qual temos o particípio stilbonta, indica brilhar, de modo que o planeta Mercúrio era chamado stilbontes, o brilhante. Mateus dirá que seu rosto  brilhou [emitia luz,  elampsen<2989>] como o sol (17, 2). Lucas dirá que o aspecto do seu rosto era outro (9, 29). De tudo isso podemos afirmar que o corpo de Jesus foi transformado em corpo de luz [doxa<1391> grego, gloria latino, que se traduz em claritas em Lc 2, 9 ou majestas em 9, 31], como diz Paulo dos ressuscitados após falar dos diversos brilhos dos corpos, tanto celestes como terrestres (1 Cor 15, 40), e que no caso dos ressuscitados serão reluzentes de glória (1 Cor 15, 43). Essa glória [doxa ou majestas] é o resplendor com o qual foram vistos os dois personagens que apareceram junto a Jesus e do qual ele também participava (Lc 9, 31-32), pois segundo Mateus, seu rosto brilhava como o sol. Essa doxa da qual  Pedro dirá que o temos visto em todo seu esplendor (2 Pd 1, 16). Essa mesma doxa,  majestas, ou resplendor, era a que os israelitas viram no rosto de Moisés [dedoxasmenê ê opsis, resplandecente a aparência] após sair este da tenda onde se comunicava com Jahveh (Êx 34. 30). O texto original usa o verbo  kâran, [que significa emitir chifres e simbolicamente emitir raios de luz] como vemos na famosa estátua de Moisés de Miguel Ângelo. A tradução inglesa NIV (New International Version), muito fiel aos textos massorético e grego, diz: his face was radiant [sua face estava radiante]. É o que os evangelistas dizem sobre Jesus e os dois personagens que com ele estavam. Os chifres eram símbolo da divindade, porque eram nos animais, o touro, a força, o poder, que se atribuía aos deuses. E se, como em Moisés, eram resplandecentes, o caso não admitia dúvidas. Era o poder divino que era transmitido a Moisés no decurso de sua conversa com Yahveh no tabernáculo. Não esqueçamos isto, que comentaremos mais tarde. B) OS VESTIDOS, [himátia<2440> , vestimenta, vestidos ou garments], são os vestidos em termos gerais, embora como particularidade se usa também no lugar do clamis, clâmide militar  ou manto em geral. E suas vestes tornaram-se brilhantes, extremamente brancas como a neve, como nenhum alvejante da terra poderia branquejar (3). Mateus dirá que se tornaram brancas como a luz (17, 2). Lucas fala do vestuário no sentido de sua vestimenta, branca reluzente (9, 29).  Vamos explicar o alvejante de Marcos. Traduzido por fullo latino [pisoeiro], ou seja, o artesão que na base de golpes [no século XVIII substituído por uma máquina], desengraxava e amaciava os panos para depois serem alvejados com um alvejante, que recebe em inglês o nome de fuller´s earth, à semelhança do conjunto de cinzas que como lixívia [ou barrela], usavam nossas avós. Poderíamos traduzir pisoeiro [espanhol bataneiro] sobre a terra por Fuller’s earth inglês, e, portanto alvejante? Uma outra indiscrição: o bater dos pisões era feito por nossas avós batendo à mão, na tábua, as diversas peças de roupa.

AS DUAS APARIÇÕES: E foi visto por eles Elias com Moisés e estavam conversando com Jesus (3). Et apparuit illis Helias cum Mose et erant loquentes cum Iesu.  A tradução é direta conservando tempos e pessoas do original. Mateus diz: E eis que foram vistos por eles Moisés e Elias com ele falando (17, 3). Em Lucas encontramos: E eis que dois homens conversavam com ele, os quais eram Moisés e Elias (9, 3). A pergunta é como sabiam os três discípulos que eram precisamente Moisés e Elias? Os judeus não tinham, como nós, figuras em que se apoiar para distinguir os patriarcas e profetas. Logo ou foi no decurso da fala entre as três figuras ou foi depois o próprio Jesus que, perguntado, desvendou a personalidade de seus dois companheiros. Moisés era o protótipo da antiga lei, o maior profeta de Yahveh, conhecido e admirado como tal pelos judeus. Elias tinha sido o restaurador da lei e do judaísmo em tempos em que a idolatria parecia ter tomado a quase totalidade dos pensamentos dos israelitas de seu tempo. Sou o único dos profetas de Yahveh dirá ele antes do teste do Carmelo (1 Rs 18, 22). Ambos representavam a Lei: um, no seu fundamento; outro, na sua reabilitação. No mínimo, Jesus estava no mesmo nível que os dois profetas que formavam a coluna da religião de Israel. Somente por Lucas sabemos a matéria da conversa: A saída [exodos, exitus, morte] dEle a ponto de ser realizada em Jerusalém.

O DESPERTAR: E respondendo Pedro disse a Jesus: Rabbi é bom nós estarmos aqui. E façamos três tendas: para ti uma, para Moisés uma e para Elias uma (4). Et respondens Petrus ait Iesu rabbi bonum est hic nos esse et faciamus tria tabernacula tibi unum et Mosi unum et Heliae unum.  Respondendo, pois, Pedro, disse a Jesus: Senhor é bom nós estarmos aqui. Se quiseres, façamos aqui três tendas: para ti uma, e para Moisés uma, e uma para Elias (Mt 17, 4). Pedro e os que com ele estavam pesados de sono, havendo acordado, viram sua glória e os dois homens estando de pé com ele (Lc 9, 32). E aconteceu ao se afastar eles dEle, disse Pedro a Ele: Mestre, é bom  nós estarmos aqui. Portanto façamos três tendas:  Uma para ti, para Moisés uma e uma para Elias (Lc 9, 33 b). Como vemos há pouca diferença entre os relatos. Marcos conserva a palavra primitiva de Rabbi [meu grande no original, ou meu Mestre no sentido da época], entanto Lucas usa o Kyrios, senhor ou epistatês [que está sobre, doutor ou mestre]. Segundo Lucas, os apóstolos estavam dormindo e se inteiraram da cena ao despertar. É então que viram a glória [doxa, majestas ou  o resplendor]  que rodeava os personagens na sua frente. Doxa,  que Lucas aqui só parece afirmar de Jesus, e que corrobora as suas palavras do versículo 29 referido unicamente à transformação de Jesus. A doxa tem dois sentidos: o espiritual, no sentido de reputação, fama  (Jo 5, 41); e outro no sentido material, de resplendor, brilho, luminosidade e que o latim traduz por claritas ou majestas, como sendo uma visão da luz inacessível em que habita a divindade (1 Tm 6, 16). Neste sentido, devemos interpretar Lc 9, 29. Assim devemos entender os dois testemunhos visuais em primeira pessoa, dos dois apóstolos que viram a glória no monte Tabor: e nós vimos a sua glória [doxan] Jo 1, 14 e não foi seguindo fábulas sutis, mas por termos sido testemunhas de sua majestade [megaleistetos, magnitudinis] (2 Pd 1, 16) que explicará como sendo a glória que recebeu pela voz da Glória Excelsa [tës megaloprepous doxës, a magnífica glória], que disse: este é o meu Filho, o amado (idem 17).

O MEDO: Pois não sabia que falar, já que estavam aterrados [ekfoboi, timóre extérriti, sobrecarregados de temor] (6). Non enim sciebat quid diceret erant enim timore exterriti. Lucas dirá que o motivo do medo era porque foram envolvidos por uma nuvem. As duas coisas podem ser perfeitamente certas. Em certa ocasião, contava uma pessoa que teve um sono muito particular: apareceu uma figura luminosa, com cores nunca vistas, extremamente bela, que representava o diabo e apesar de sua beleza de figura de luz, a voz interior que não foi pronunciada, mas sentida, eu te destruirei, deixou-lhe aterrorizado de modo que seu corpo seguia tremendo após despertar da visão, até meia hora mais tarde. Na realidade, não foi a voz, mas a presença que tinha alguma coisa de oposição violenta, indescritível, como a presença do mal, a que produziu o terror. Sabemos como uma criança produz em nós, carinho e amor, como um malvado produz pavor. Não sabemos a causa, mas sempre que lemos relatos de aparições de anjos, as mesmas insistem em dizer: não tenhais medo (vide o anjo às mulheres Mt 28, 4-5, Zacarias em Lc 1, 12 e os pastores em 2, 9-10). A explicação do absurdo das tendas é unicamente dada por Marcos.

A NUVEM: E apareceu uma nuvem fazendo sombra sobre eles (6). Et facta est nubes obumbrans eos et venit vox de nube dicens hic est Filius meus carissimus audite illum. Ainda estando falando ele [Perdo], eis uma nuvem luminosa os ocultou (Mt 17, 5 a). Dizendo ele estas coisas, surgiu uma nuvem e fez sombra sobre eles; e temeram ao entrarem dentro da nuvem (Lc 9, 34). Essa nuvem não era uma nuvem escura, mas luminosa [foteinê, lúcida latino] segundo Mateus, sendo que tanto Marcos como Lucas não descrevem sua natureza.  Temos, pois, que era uma nuvem de luz e que ressaltava mais pela hora da visão: noite ou pouco antes do amanhecer. O verbo episkiazö [episkiazousa autois, obúmbrans eos] que também usa Lucas, não significa necessariamente fazer sombra, que é seu sentido material, mas pode ser traduzido por toldar, encobrir, os rodeou ou cercou; em definitivo, os ocultou ou os envolveu como traduzem os evangélicos, pois poderíamos pensar que fazendo sombra a nuvem era escura e o tempo era de dia, tudo então está contra os textos recebidos.

A VOZ: E saiu uma voz da nuvem dizendo: Este é o Filho [yios] meu, o amado [o agapëtos]. A ele ouvi [akouete] (6). Et facta est nubes obumbrans eos et venit vox de nube dicens hic est Filius meus carissimus audite illum. E eis uma voz dentro da nuvem dizendo: Este é o filho meu, o amado, em quem tive minha complacência. A ele ouvi (Mt 17, 5).  E surgiu uma voz de dentro da nuvem dizendo: este é o filho meu, o amado. A ele ouvi (Lc 9, 35). Como vemos os três relatos são até literalmente iguais. A palavra filho [‘yios, filius latino] designa o filho, dando  como preeminência a legalidade da descendência, mais do que a biológica que tem como representativa a palavra teknon que representa  mais o aspecto biológico do descendente. A palavra ‘o agapêtós, é traduzida ao latim por carissimus em Marcos, dilectus em Mateus e Lucas. Mais parece uma palavra legal, técnica, que indica o herdeiro, o único. A passagem é uma repetição da teofania do batismo com as mesmas duas palavras gregas [‘yuiós e agapêtós] que são traduzidas ao latim por filius e dilectus. Unicamente que no latim e na maioria das traduções vernáculas perdem-se as ênfases do grego com os artigos determinantes. A tradução própria seria o filho meu, o amado. No batismo a voz do Pai encontra suas delícias nele. No monte, o Pai pede obediência ao filho. Duas questões podemos deduzir desta última intervenção: 1a) O Filho era natural, ou significava unicamente uma filiação como a dos reis do AT? Porque também em Sl 2, 7 o rei, recém-coroado, recebe de Jahvé o mesmo apodo de filho. Talvez o sobrenome de o amado, único, seja a solução. Não existe no AT a união de filho com amado, e só encontramos as passagens do novo testamento dos evangelhos nas duas teofanias relatadas. 2a) Que aqui esse Filho referido a Jesus, toma o papel de Moisés e de Elias juntos. A voz do Pai, que é Deus, o indica como única fonte de direito por assim dizer. Ele se transforma em representante único de Deus na terra e a voz de Jesus é a voz de Deus.

JESUS SÓ: E repentinamente, tendo olhado ao redor, não mais viram ninguém senão Jesus só com eles (7). Et statim circumspicientes neminem amplius viderunt nisi Iesum tantum secum. E tendo ouvido, os discípulos caíram sobre o rosto deles e temeram muito (6). E,  aproximado, Jesus os tocou e disse: Levantai e não temais (7). Havendo, pois, levantado seus olhos, ninguém viram, senão Jesus unicamente (8) (Mt 17, 6-8). E ao acontecer a voz encontrou-se Jesus só (Lc 9, 36). Os evangelistas enfatizam o fato de que uma vez ouvida a voz do Pai, Jesus ficou sozinho, desaparecendo as outras duas figuras. Pode ser que a realidade seja uma imagem futura da nova era. Nem Moisés nem Elias seriam os condutores do novo povo de Israel. Jesus era o único a ser ouvido e seguido. De fato, quem dos cristãos de hoje se lembra de ambos os profetas do AT, como sendo os líderes de sua religião?

O SILÊNCIO: E como estivessem descendo da montanha, recomendou-lhes para que a ninguém contassem o que tinham visto, senão quando o filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos (8). Et descendentibus illis de monte praecepit illis ne cui quae vidissent narrarent nisi cum Filius hominis a mortuis resurrexerit. E estando descendo da montanha mandou-lhes Jesus dizendo: a ninguém digais o visto até que o filho do homem tenha ressuscitado dos mortos (Mt 17, 9). E eles calaram e a ninguém revelaram nada naqueles dias das coisas que viram (Lc 9, 35 b). Realmente o silêncio dos apóstolos era fundamental. Primeiro, porque, sendo poucas as testemunhas, a sua fala poderia favorecer um descrédito geral. Segundo, porque unicamente a ressurreição forneceria luz suficiente para entender tanto a paixão como a  transcendência da epifania do Tabor e o significado da Ressurreição.

A DÚVIDA: e guardaram entre si a revelação, questionando o que é levantar-se dentre os  mortos (9). Et verbum continuerunt apud se conquirentes quid esset cum a mortuis resurrexerit. Mateus e Lucas nada comentam sobre esta dúvida dos apóstolos. O relato de Marcos aponta a um relato de primeira mão. Com isto termina uma das páginas mais carregadas de significado teológico dos evangelhos.

PISTAS:

1) Vemos na montanha uma clara alusão às ideias dominantes na época. Jahvé e os deuses da bacia mediterrânea, como eram os dos gregos e romanos, habitavam de modo especial nas montanhas. Moriá em Jerusalém, o Olimpo na Grécia, e o Capitólio em Roma. Também Yahveh escolheu um monte para manifestar a sua divindade: Seria o Horeb [=seco] (Êx 17,6) ou Sinai [=do deus Sin, senhor da sabedoria, representante da lua] (Êx 19, 11). A mudança de nome foi sem dúvida feita pela tradição sacerdotal para evitar o topônimo politeísta que recordava a palavra Sinai. Também Elias, fugindo da ira de Jezabel, subiu ao monte Horeb e viu passar o Senhor no sussurro de um sopro suave (1 Rs 19, 12). A montanha, como o deserto, era o lugar da epifania do Deus de Israel. E é precisamente na montanha, que os dois personagens que tinham visto Javé, Moisés e Elias, seriam as testemunhas de Jesus e da mensagem deste último. Pois Javé se apresentava na figura refulgente de Jesus, como se fosse o sol (Mt 17, 2).

2) Elias e Moisés conversavam com Jesus sobre a partida (êxodo) de Jesus que ia se realizar em Jerusalém. Logicamente é sobre a paixão e morte de Jesus. Ele já sabia dos fatos pela conversa em Cesareia de Filipe, após a confissão de Pedro (Mc 8, 31-33). Mas aqui, diante da escritura  inteira, representada por Moisés [=lei] e Elias [=profetas], Jesus quer deixar clara a finalidade de seu messianismo: Ele era o servo de Jahvé a dar sua vida pela salvação dos homens.

3) Era a mesma nuvem que acompanhou o tabernáculo e os israelitas no deserto. Era a SHEKINÁ, presença de Deus que também cobriu Moisés quando lhe entregou as tábuas da lei na montanha (Êx 24,15 e 40,34-38) e se manifestou nessa densa nuvem para que o povo acreditasse em Moisés (Êx 19,9). Dela começou a falar Jahvé e o povo escutou suas palavras. Era unicamente a voz do trovão ou eram palavras inteligíveis? O primeiro é certo e explicaria as palavras do povo: “O Senhor nosso Deus nos fez ver sua grandeza e ouvimos sua voz (trovão?) do meio do fogo (relâmpago?). Hoje vimos que Deus pode falar ao homem e deixá-lo vivo (Dt 5, 23). A nuvem do Sinai era densa ou escura, mas a do Tabor (suposto monte da transfiguração) seria branca e refulgente (Mt 17,5 e Mt 3,17), pois estamos diante da glória e não é tempo de temor.

4) O mandato lembra as palavras da epifania do Batismo, com um acréscimo importante, que constitui um mandato: OUVI-O. Na comparação com a teofania do Horeb podemos dizer que estas são as leis da nova aliança, resumidas num mandato único: A voz de Jesus é a voz do Pai. E para que todos os presentes tivessem em conta o mesmo, Jesus aparece como Moisés aparecia após falar com Deus: resplandecente em seu rosto (Êx 34, 29).


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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18.02.2018
1º Domingo da QuaresmaANO B
(ROXO, CREIO, PREFÁCIO PRÓPRIO – I SEMANA DO SALTÉRIO)
__ "Eis que vou estabelecer minha aliança convosco..." __

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2018
Tema: “Fraternidade e superação da violência”.
Lema: “Em Cristo todos somos irmãos” (Mt 23,8)

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: A liturgia quaresmal envolve-nos. Por uma parte, verificam-se as etapas fundamentais da história da salvação iluminadas pelo Antigo Testamento e, por outra, sobressaem os acontecimentos mais notórios da vida de Jesus Cristo até sua morte e ressurreição. Iniciamos um caminho de preparação para a Páscoa e, com isso, nos unimos a Cristo para permanecer na fidelidade à vontade do Pai. A oração e a força de sua Palavra nos fortalecem para vencermos as propostas contrárias ao plano de Deus e sermos construtores de um mundo novo.

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, o sagrado tempo da Quaresma é tempo oportuno para vivermos mais conscientemente a nossa condição batismal e para retomarmos, com novo vigor, o seguimento de Jesus. Neste domingo, entremos com Jesus no deserto, deixemo-nos conduzir pelo Espírito e, na alegria, esperemos a sua Páscoa.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A liturgia garante-nos que Deus está interessado em destruir o mundo do egoísmo e do pecado e oferece aos homens um mundo novo de vida plena. Por isso, quem é fiel à Palavra de Deus, quem procura nela alimento constante para sua vida, jamais poderá ser vencido pelas tentações.

Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo entoemos alegres cânticos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Gn 9,8-15): - "Este é o sinal da aliança que coloco entre mim e vós, e todos os seres vivos que estão convosco."

SALMO RESPONSORIAL 25(24): - "Verdade e amor são os caminhos do Senhor!"

SEGUNDA LEITURA (1Pd 3,18-22): - "Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus."

EVANGELHO (Mc 1,12-15): - "O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!"



Homilia do Diácono José da Cruz – 1º Domingo da Quaresma

"NO ACONCHEGO DO DESERTO"

Neste primeiro domingo da quaresma, Deus nos chama ao deserto com Jesus, para uma conversa de pé de ouvido, a liturgia se reveste de roxo, que é a cor da paixão, não é tristeza, luto e desconsolo, como muitos pensam, é como se Deus, o amado de nossa vida, quisesse que ao longo de quarenta dias, prestássemos mais atenção nele, no seu jeito diferente de nos amar, roxo seria isso: um olhar para dentro, enquanto se olha para o céu, podendo evocar o poeta “De tudo ao meu amor serei atento...”, quaresma é tempo de deixar-se remodelar, permitindo que Deus refaça a nossa vida.

Quando presido o Sacramento do matrimonio percebo que os casais têm dificuldade de se olhar nos olhos, na hora do consentimento, e não é só com quem está casando que isso acontece, um amigo confidenciou-me que sentiu um certo “desconforto” ao olhar nos olhos da esposa, na renovação do matrimonio, em uma missa de encontro de casais. Olhar nos olhos nos causa medo, porque é enigmático e misterioso, não se tem medo de olhar o corpo, que se torna facilmente objeto de desejo, em uma sociedade tão erotizada, mas quando se olha nos olhos, estamos diante da alma do outro, há comunhão de corpo, mas não há comunhão de alma. A relação entre namorados, noivos, e até entre marido e mulher, fica na maioria das vezes banalizada, alguns conseguem emigrar do erótico para o Eros, e há outros, que na graça de Deus, confiada pelo Sacramento do matrimonio, conseguem chegar no Ágape, que é o amor em toda sua plenitude, o Eros é o meio, e não o fim, é um caminho que tem de ser percorrido do começo ao fim da vida conjugal e que só será obstruído pela morte.

Nossa relação com Deus ás vezes também é assim, um tanto quanto banal, pois temos medo de contemplar o seu mistério. Na capela do Santíssimo, lugar sagrado em nossas comunidades, onde Aquele que é o Amor Absoluto se esconde em um pedaço de pão, sentimo-nos embaraçados e procuramos sempre dizer algo, fazer um pedido, recitar uma fórmula de louvor e adoração, daí somos capazes de ficar horas ali falando, porque este “Falar” nos dá a ilusão de que penetramos no mistério de Deus e podemos dominá-lo. Invertemos o jogo e queremos seduzir a Deus, diferente do profeta, relutamos em ser por ele seduzidos e dominados.

Deserto é lugar teológico do “namoro”, onde movidos pelo mesmo Espírito que conduziu Jesus, vamos ter nosso encontro pessoal com Deus, o esposo apaixonado que quer olhar nos nossos olhos, sussurrar em nossos ouvidos e nos envolver com a sua ternura, para sentirmos de novo o encanto do primeiro amor, como na visão do profeta Oséias “Eis que eu mesmo a seduzirei e a conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração”. Deserto é lugar de fazer a experiência da esposa jovem, que manifesta a sua alegria ao colocar toda sua confiança no amado, e descobrir, como no Cântico dos cânticos, que somente Deus é a sua Segurança – “Quem é esta que sobe do deserto apoiada em seu Amado?”

É o Povo da antiga aliança, é o povo da nova aliança, é a Santa Igreja, somos eu e você, a razão do amor divino, que nos trouxe, com a encarnação de Jesus, a possibilidade real de experimentarmos em nossa vida a salvação. Deserto é, portanto lugar do encontro onde o amor se revela, é a mesma experiência do povo do Êxodo, que se repete em Jesus Cristo, porém, ao contrário do povo da antiga aliança, não mais se deixará enganar pela tentação, propostas sedutoras dos amantes, para fazê-lo perder o paraíso de delícias, onde o homem convivia com os animais selvagens, servido pelos anjos de Deus, evocando a proteção Divina do Eterno Amado sob o objeto do seu amor.

Revistamo-nos do roxo da paixão e não da tristeza, quaresma é dar um tempo para aquelas coisas que em nossa vida são secundárias, para nos ocuparmos com um Deus apaixonado, que suspira quando vamos ao seu encontro enquanto Igreja, na dimensão celebrativa. Quaresma, são quarenta dias de amor, como um casal que retoma a lua de mel, após longa caminhada na vida conjugal, foi no deserto que Deus celebrou a aliança com seu povo, estabelecendo com ele uma relação única, “Eu serei o seu Deus e vós sereis o meu povo”, evocando o cerne da união conjugal – e os dois serão uma só carne.

É esse amor que salvará o mundo, verdade ignorada pelos que prenderam João Batista tentando sufocar um Amor que não se deixa aprisionar, e em Jesus irrompe ainda mais forte, no meio da humanidade, para levar o homem de volta ao paraíso! Nada irá deter a força desse amor, nem a miséria dos homens ou os pecados da igreja, o AMOR triunfará definitivamente! Pois o tempo se completou, o Reino está próximo. Converter-se e crer no evangelho é uma forma contínua de corresponder a esse amor misterioso de Deus que em Jesus busca a todos os homens, sem distinção ou acepção de qualquer pessoa. Converter-se é dar um solene “basta” aos falsos amores de “amantes” mentirosos, que nos enganam, oferecendo-nos um falso paraíso, arrastando-nos à tristeza da morte do pecado, deixando-nos longe, mas bem longe Daquele que é o nosso único e verdadeiro Amor...

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa –1º Domingo da Quaresma

“Fé e penitência”

“Fazei penitência e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Essas palavras do Senhor mostram a conexão necessária entre a fé e a conversão, entre ser cristão e a mudança de vida à qual ele nos chama. O cristianismo é uma realidade que transforma todo o nosso ser, também a nossa maneira de pensar e de agir, a realidade cristã “nos faz a cabeça e o coração”.

“Já não vos é permitido trazer aquela velha túnica, digo, não esta túnica visível, mas o homem velho corrompido pelas concupiscências falazes. Oxalá a alma, uma vez despojada dele, jamais torne a vesti-lo” (São Cirilo de Jerusalém, Segunda Catequese Mistagógica sobre o Batismo, 2). Quem se aproxima de Deus se transforma numa criatura nova, pois assim como não é possível aproximar-se do sol sem se queimar ou entrar na água sem se molhar, tampouco é possível aproximar-se de Deus sem se transformar.

Nesta quaresma, temos “um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2012). Mas não pensemos em grandes façanhas, já que as verdadeiras batalhas se travam no dia-a-dia e nas pequenas coisas da nossa existência. Deixar de beber refrigerante durante a Quaresma é bom, melhor ainda seria deixar a aspereza e a falta de educação; não comer carne durante esses dias é algo louvável, mais excelente ainda é viver o pudor e a modéstia no vestir; não comer chocolate durante esse tempo de penitência é algo excelente, contanto que nos ajude a vencer a gula, especialmente a voracidade; não ver televisão durante a quaresma é excelente, mais excelente ainda se abandonássemos de uma vez por todas essas novelas que ferem constantemente a dignidade humana e a nobreza cristã.

Alguém poderia me dizer que o ótimo pode ser inimigo do bom. De acordo! Por isso eu não desvalorizei em momento algum as coisas boas. No entanto, resisto não ter em conta aquelas belas palavras do nosso queridíssimo Bento XVI: “Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre atual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millenio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10)”.

Essa “medida alta da vida cristã” começa com uma vida de fé, na qual se insere necessariamente a mudança de mentalidade e de costumes daqueles que aderiram à Palavra de Deus e aos Sacramentos. Um dos aspectos da virtude sobrenatural da fé é o abandono em Deus, a confiança no Senhor, de tal maneira que ele passa a ser o nosso apoio, a nossa rocha; nele depositamos todo o nosso existir. No fundo o crescimento na vida espiritual será um crescimento no abandono em Deus, no diálogo com Deus e na entrega amorosa a ele e aos irmãos por amor a ele.

Aproveitemos o convite que a liturgia da Igreja nos dirige neste primeiro domingo da Quaresma para examinarmo-nos sobre aquelas coisas que ainda nos afastam de Deus e dos nossos irmãos, que nos impedem de crescer na fé e no espírito de penitência, que nos atrasam no caminho do amor.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 1º Domingo da Quaresma - Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (1 Pd 3, 18-22)

INTRODUÇÃO: A primeira carta de S. Pedro é uma exortação a um grupo de igrejas situadas em cinco províncias romanas da Ásia Menor. Lá como em outras regiões, começava a aparecer um horizonte sombrio para as incipientes comunidades cristãs. Os novos fiéis se comportavam como se fossem estrangeiros em suas cidades (1,1; 2,11). Daí que o fato de ser cristão fosse considerado com hostilidade e desprezo (4, 14-16). O apóstolo escreve de Roma (5, 13) um pouco antes da perseguição de Nero (64 dC), para exortar os cristãos a abandonarem costumes erradas e desmentir assim as calúnias dos pagãos. O batismo compromete o cristão a uma conduta correta, tanto dentro da comunidade como fora. Em relação aos que constituem o ambiente ainda pagão (2,12; 3, 15-16; 4, 4), citando o exemplo de Cristo, inocente, mas considerado como culpado, a carta é o resumo neotestamentário mais denso da conduta que a fé cristã provoca através do batismo. Especificamente, no fragmento de hoje, Pedro mostra o modo de se comportar dos cristãos que devem confrontar a perseguição: Melhor – dirá – é que padeçais fazendo bem (se a vontade de Deus assim o quer), do que fazendo mal (v 17). E ao contemplar os padecimentos de Cristo nos leva a seu triunfo após a morte a começar pela visita aos infernos. (v 19).

A MORTE EXEMPLAR DE CRISTO: Porque também Cristo, uma vez por (os) pecados, morreu; justo no lugar dos injustos, para conduzir-vos a Deus, estando morto certamente na carne; mas vivificado no espírito (18). Quia et Christus semel pro peccatis mortuus est iustus pro iniustis ut nos offerret Deo mortificatus carne vivificatus autem spiritu. O apóstolo introduz o exemplo de Cristo que, inocente, morreu, PAGANDO PELOS PECADOS dos que eram culpáveis; coisa que Paulo já afirmara, escrevendo aos romanos: Estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios (Rm 5, 6). E que o autor da epístola aos hebreus confirma com estas palavras: Agora, na consumação dos séculos, uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo (Hb 9, 26). De modo que Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá pela segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação (idem 28). PARA CONDUZIR-NOS A DEUS: Como diz o mesmo apóstolo em 1 4, 1: Pois, já que Cristo padeceu por nós na carne, armai-vos também vós com este pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado. De tudo  que deduzimos, o sofrimento temporal é penhor de uma vida eterna, sem passar pela purificação do purgatório. Já Jesus o tinha anunciado quando prega em Mt 5, 5: Bemaventurados os que choram, porque eles serão consolados. Escreve S. Faustina Kowalska: O núcleo do amor é o sacrifício: a verdade ostenta uma coroa de espinhos. Esta frase explica a cruz do Senhor e as cruzes que devemos abraçar para sermos seus verdadeiros discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me (Mt 16, 24; Mc 8, 24; Lc 9, 23) MORTO NA CARNE: Paulo em 2 Cor 13, 4 afirma que ainda que foi crucificado por fraqueza, vive, contudo, pelo poder de Deus. Com o qual admite a morte e a ressurreição, nesta  pelo Espírito que santifica manifestado como Filho de Deus com poder (Cl 1, 22).

VISITA AOS INFERNOS: No qual também aos que em prisão, indo em espírito, pregou (19). Desobedientes em outro tempo, quando uma vez se esperava a paciência de (o) Deus, nos dias de Noé fabricando (a) arca na qual poucas, isto é, oito vidas foram salvas através da água (20).  In quo et his qui in carcere erant spiritibus veniens praedicavit. Qui increduli fuerant aliquando quando expectabat Dei patientia in diebus Noe cum fabricaretur arca in qua pauci id est octo animae salvae factae sunt per aquam. PRISÃO [fylakë<5438>=carcer] inicialmente era a guarda ou vigília do soldado ou do pastor como em Lc 2, 8: Havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho. Um outro significado era o de prisão, lugar onde eram vigiados os presos, como em Mt 5, 25: Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. No nosso caso, é o cárcere que os judeus chamavam de sheol, pois era um lugar sem luz como eram as prisões antigas. No sheol, lugar de trevas era onde estavam as almas de todos os defuntos, bons e maus, após a sua morte. Posteriormente, os rabinos distinguiam entre o sheol dos condenados sem esperança de redenção, e o outro sheol, dos justos que esperavam a redenção e que era chamado de seio de Abraão, ou limbo (Lc 16, 22). Seria a esta parte do sheol que Jesus foi após a morte, pois não entrou no céu antes de sua ascensão. Ao dizer EM ESPÍRITO significa que ainda não tinha ressuscitado, ou seja, antes do domingo, no intervalo da sexta, dia de sua morte, até o domingo, dia de sua ressurreição. PREGOU [ekëryxen<2784>=praedicavit] aoristo do verbo kërrissö, sempre é usado em sentido positivo de proclamar  uma boa nova, especialmente com referência à salvação vinda da parte de Deus. Assim em Mc 1, 14: Depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do reino de Deus. Também o encontramos em Lc 8, 39, quando o endemoninhado já livre foi apregoando por toda a cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito. No versículo 20 Pedro declara os sujeitos da pregação ou anúncio: São os DESOBEDIENTES [apeithasin<544>=increduli fuerant] é o particípio do aoristo do verbo apeitheö cujo significado é ser infiel, rebelde, ou desobediente como em Rm 10, 21: Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente. Ou como vemos em Hb 3, 18: E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que foram desobedientes? Como fala de outro tempo, nos dias de Noé, é para ressaltar que se aos que eram pecadores anunciou Cristo a redenção, com mais lógica deveríamos pensar que, aos que não foram tais, esse anúncio foi feito. E para demonstrar que a pregação e a redenção subsequente foram feitas com uma amplitude de misericórdia abundante, Pedro destaca que esses rebeldes eram a totalidade da humanidade, com a pouquíssima exceção de só oito pessoas. Segundo o comentário de um exegeta moderno, aqueles que foram desobedientes se arrependeram no momento do dilúvio e, antes de morrer, pediram perdão, como se a água do dilúvio fosse um batismo de penitência, obtendo na morte a expiação dos seus pecados. Por isso o apóstolo compara o dilúvio com o batismo, sendo aquele antítipo deste último (v. 21).

O BATISMO: A qual também a nós, como representação, agora salva o batismo, não sendo remoção de sujeira, mas de boa consciência [como] indagação para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo (21). Quod et vos nunc similis formae salvos facit baptisma non carnis depositio sordium sed conscientiae bonae interrogatio in Deum per resurrectionem Iesu Christi. Se a água salvou os desobedientes nos tempos de Noé, agora -dirá Pedro- nos salva; pois a água do dilúvio foi um antítipo, REPRESENTAÇÃO [antitypos<499>=similis formae] do batismo. De fato, antitypos é o que serve como figura, cópia ou duplicado, como vemos em Hb 9, 24: Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus. Através da água foram salvas oito pessoas e agora somos salvos não por uma lavagem material, ou como diz o texto para REMOÇÃO DA SUJEIRA, mas como figura de boa consciência. Que é uma DEMANDA [eperötema<1906>interrogatio>feita a Deus por meio de Jesus Cristo. Com isto o apóstolo quer significar que o batismo nos limpa a consciência pelo desejo sincero a Deus dirigido por meio da ressurreição de Jesus Cristo. Vejamos a tradução livre da frase que em si mesma é bastante difusa: senão para implorar de Deus uma consciência pura (lectura oficial litúrgica em espanhol). Senão mediante a súplica feita a Deus por uma consciência boa, a qual recebe sua eficácia da ressurreição de Jesus Cristo (leitura é da bíblia espanhola). Em italiano: Mas a incoação de salvação dirigida a Deus de parte de uma boa consciência em virtude da ressurreição de Jesus Cristo. Em inglês: Mas a resposta de uma consciência boa para com Deus (KJV). Em português: Mas pela promessa de uma consciência limpa para com Deus (portuguesa moderna). Que significa? Que o batismo é uma limpeza de consciência, ou seja, perdão absoluto. De cujo fato é um aval a ressurreição de Jesus Cristo.

TRIUNFO DE CRISTO: O qual está à direita de (o) Deus tendo ido ao céu, estando sujeitos a ele anjos e potestades e poderes (22). Qui est in dextera Dei profectus in caelum subiectis sibi angelis et potestatibus et virtutibus. Com esta frase, Pedro declara que o reinado de Cristo é universal, pois a ele estão sujeitos não unicamente os homens, mas os poderes angélicos e as POTESTADES [exousiai<1849>=potestates] e os PODERES [dynameis<1511> =virtutes]. À parte os anjos, o domínio do Universo estava nas mãos dos que também Paulo denomina exousiai, autoridades ou domínios do mundo dos quais era príncipe das potestades do ar, o espírito que agora opera nos filhos da desobediência (Ef 2, 2). Os poderes que são descritos com a palavra dynameis são as autoridades e governantes, especialmente das forças militares. Mas neste caso, parece indicar as forças cósmicas que sustêm o Universo, como em Mc 13, 25: E as estrelas cairão do céu, e as forças que estão nos céus serão abaladas (ver Lc 21, 26). Foi, pois, exaltado sobre toda criatura que era superior ao simples homem. Na descida aos infernos ou lugar dos mortos, Cristo adquire uma autoridade que está acima de todo poder, e que se manifestará no fim, como dirá Paulo, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força (1 Cor 15, 24).

EXCURSUS

A descida de Cristo aos infernos é um dogma de fé que está no símbolo da mesma que chamamos de credo [desceu à região dos mortos], e que foi declarado como tal dogma no Concilio Lateranense IV. Cristo teria descido no tríduo anterior a sua ressurreição àquela parte do Sheol que chama de cárcere [fylakë] onde se encontravam os justos do AT e que em tempos de Jesus era chamado de seio de Abraão (Lc 16, 22-23). Nele, que foi chamado de limbo pelos padres da Igreja primitiva, encontravam-se também os contemporâneos de Noé, arrependidos pela catástrofe do Dilúvio, opinião de S. Roberto Belarmino, que foi adotada pelos teólogos católicos. Também Paulo fala desta descida em Ef 4,9: Ora, isto -ele subiu- que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra? O Sheol que em grego se traduz por Hades e a Vulgata por Infernus (Ap 1, 18) era  a morada dos mortos, privados da visão de Deus. E são precisamente estas almas, que esperavam o seu Libertador no seio de Abraão, as que Cristo liberou quando desceu aos infernos (Catecismo Romano). De modo que não desceu para liberar os condenados, nem destruir o que nós chamamos hoje de inferno dos mesmos, mas para liberar os justos que o tinham precedido. Em parte temos esta libertação confirmada em Mt 27:52: E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados. Como afirma S. João, para que os mortos ouçam a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão (5, 25). De modo que em Hb 2, 14-15 lemos: Para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão . Daí em diante Ele pode afirmar: Eu tenho poder sobre a morte e sobre o mundo dos mortos (Ap 1, 18). De todos  estes textos temos a certeza  de que não desceu para intimar aos proscritos mas para anunciar aos justos a Boa Nova de sua libertação.

EVANGELHO (Mc 1, 12-15) - TENTAÇÕES DE JESUS  E INÍCIO DE SEU MINISTÉRIO
(lugares paralelos  Mt 4, 1-11 e Lc 4, 1-1)

INTRODUÇÃO: O evangelho de hoje é dividido em duas partes: As tentações de Jesus e o início de sua evangelização. É um tanto estranho esta narração das tentações de Jesus, visto que, aparentemente, nada aportam à sua mensagem evangélica. Porém, nada disso é verdadeiro. Em primeiro lugar devemos considerar que se Jesus, o Mestre e Fundador, foi tentado pelo diabo em pessoa, todos os seus seguidores fiéis podem, e, de fato, são tentados, quando iniciam uma vida de entrega aos planos divinos para a salvação dos homens. Nos evangelhos de Mateus e Lucas temos ainda outros motivos para que estas tentações sejam motivos de uma lição magistral: A pergunta dos fariseus se torna pergunta dos fiéis na sua vida: como, tendo em suas mãos o poder divino, só o usou para curar as doenças de terceiros e aplacar fomes alheias? Como é possível que, podendo com um sinal estupendo reduzir oposições e vencer dificuldades, e podendo pedir mais de doze legiões de anjos (Mt 26, 53), não o fez na sua vida e não o faz na vida de sua Igreja? A resposta está em que Ele quis ser em tudo igual aos homens (Fl 2,7) e, como vemos hoje, com exceção do pecado (Hb 4, 15), que é sucumbir à tentação. A segunda parte unida a esta do deserto por um depois, ou uma vez que [meta de], é um artifício literário que expressa de forma simbólica o repentino surgir de Jesus como anunciador da Boa Nova, que constitui a segunda página do evangelho de hoje.

O IMPULSO DO ESPÍRITO: E imediatamente o Espírito [to Pneûma] o expulsa [exbállei] para dentro do deserto [érêmon] (12). Et statim Spiritus expellit eum in desertum. Marcos não dá opção ao tempo transcorrido entre o batismo de Jesus por João e seu retiro no deserto. A ação deste último é imediata ao batismo. Todos os três evangelistas têm como principal autor desse retiro o Espírito, que, provindo de Deus preenchia o ser de Jesus, segundo Lucas (4,1). Este Espírito expele Jesus para dentro do deserto. O verbo ekballö <1544> significa lançar fora, banir, expulsar, expelir, fazer sair. Quando não entra a violência ou força externa, tem o significado de impelir, dar o impulso em determinada direção. Os outros evangelistas usam verbos que indicam um impulso irresistível por parte de Deus, chamado aqui de Espírito Santo, Sagrado ou Divino. Mateus fala de conduzir a um lugar alto e Lucas, em passiva, descreve como Jesus era levado pelo Espírito. O imperfeito de Lucas indica uma ação contínua. Significa que, de agora em diante, Jesus estará dominado pela ação interna do poder e sabedoria de Deus, que suplantará as funções puramente humanas de sua natureza. O verbo usado por Marcos [ekballö] indica a separação que Jesus iria experimentar fora do círculo comum em contato com os outros seres humanos. Daí o deserto, que não deve entender-se como um lugar de areia ao modo do deserto do Saara, mas um lugar inóspito, desabitado, sem contato com homens, mas unicamente com animais, com o anjo tentador ou Satanás, e finalmente com os anjos. O DESERTO: a) DESERTO REAL: A palavra grega Érêmos  significa lugar desabitado, solitário [desertus, desamparado, abandonado, solitário e em inglês wilderness] que, como adjetivo, tem o  mesmo significado. Em Marcos aparece 9 vezes, das quais 4 como substantivo e 5 como adjetivo, acompanhando topos [lugar]. Em nenhuma delas Marcos aponta para o deserto da Judeia. Unicamente Mateus usa esta expressão no início da pregação de João, o Batista: pregando no deserto da Judeia (3, 1). É estranho que João batizasse no Jordão, pregando no deserto de Judeia, situado este a mais de 20 Km de distância do rio.  Certamente o lugar onde João batizava não poderia ser chamado de deserto de Judeia. Consequentemente, Mateus não pode ser tomado como referência geográfica para os sucessos do batismo de Jesus e sua retirada ao deserto. Onde estava, pois, este deserto no qual encontramos feras [thêrion], impossíveis de serem achadas no deserto da Judeia? Muito mais confiança oferece João que situa Betabara como o lugar em que Jesus foi batizado, ao norte, em território da Decápolis e perto da Galileia. Perto de Betabara encontramos lugares desertos como era a morada habitual do endemoninhado geraseno, que segundo Lucas era impelido pelo demônio para os lugares desertos (Lc 8, 29). É assim mesmo como o pastor, buscando a perdida deixa no deserto as noventa e nove (Lc 11, 4). Tudo isso indica que o deserto não é um nome restritivo a um determinado lugar, ou nome próprio, mas nome comum, determinado por sua solidão e ausência de habitantes. Logicamente podemos afirmar, sem descartar em absoluto a postura tradicional, que o deserto ao qual Jesus se retirou estava muito mais próximo da Galileia do que da Judeia, que o deserto das tentações era os montes do que antigamente chamava-se de Gileade, [escabroso] e que ao norte do mesmo estava Basã, de cuja região era famosos os touros, ao parecer selvagens (Sl 22, 13), ou vacas que moravam nas montanhas (Am 4, 1). Uma confirmação de que não era o deserto da Judeia podemos vislumbrar em João 3, 22: Depois disso Jesus veio para o território da Judeia. Pois muitos consideram a purificação do templo e o encontro com Nicodemos uma interpolação entre 2, 12 e 3, 22. b) BÍBLICO: O deserto era terra medonha e terrível não abençoada por Deus, em que o povo se encontrava como enterrado na terra (Êx 14, 3) Na linguagem bíblica, a aridez do deserto é símbolo de uma terra à qual Deus nega sua bênção  e, portanto, privada de chuva e fertilidade. Neste sentido é comparado com a cidade que foi objeto do castigo divino (Lc 13, 35). Historicamente, Israel viveu no deserto 40 anos. A solidão do povo com Jahvé transformou a vida de extrema penúria, em época privilegiada,  em que Israel nasceria como povo e teria como único guia o Senhor Jahvé (Êx 13, 21-22). Foi o lugar da purificação e experimentação da pobreza (Dt  8, 2-5) do povo para que aprendesse que não só de pão vive o homem (Dt 8,2-5). O deserto é sinal de salvação (Is 35,1-10) e dali, pois, devia vir o Messias (Mt 24,26). Os profetas anunciavam as promessas do reino, dizendo que o deserto se transformaria em jardim, onde as feras seriam inofensivas (Is 32,15-17).

OS 40 DIAS: E permanecia ali no deserto quarenta dias (13): Et erat in deserto quadraginta diebus et quadraginta noctibus. A Vulgata traduz também e quarenta noites, sem dúvida, devido a um copista que sabia das afirmações dos outros dois sinóticos. Como Marcos não fala do jejum, por isso não tem como falar das noites que distinguiriam um jejum parcial de um jejum total. O NÚMERO 40: A pergunta, que sempre é feita, recai sobre se os 40 é um número real, matemático, ou uma expressão simbólica que se refere a um número grande de dias. Sabendo-se que os semitas não têm adjetivos indeterminados como muitos, poucos, alguns, bastante, eles usam numerais: dois ou três, sete, quarenta e até nomes como multidão para expressar conceitos indefinidos. Os 40 dias estarão dentro deste modo de falar? Porque esse número parece ser mais simbólico que matemático, pois foi o número de dias e noites de chuva do dilúvio, o número de anos antes de tomar esposas Jacob e Esaú, o número de dias que tardaram em embalsamar os egípcios o corpo de José, quarenta anos os que os israelitas permaneceram no deserto, 40 anos os que Israel viveu em paz durante o mandato de seus principais juízes, ou os que os filisteus dominaram Israel. Os anos que Davi reinou em todo Israel, e Salomão. São 40 dias as visões temerosas do segundo livro dos Macabeus e 40 dias o tempo fixado para a destruição de Nínive. Por isso, muitos dizem que esse número é mais simbólico que real.  Pode ser, mas não se descarta que o numeral seja correto do ponto de vista matemático. Dir-se-á que é impossível viver sem água durante esse período, abstinência que o jejum completo requeria do penitente. Mas se negamos o sobrenatural porque a natureza exige sua intervenção, estaremos negando o poder do Espírito que impele Jesus e teremos que negar muitas de suas obras consideradas extraordinárias por seus conterrâneos. Em Marcos nada vemos do jejum de Jesus que aparece como motivo da primeira tentação nos outros dois sinóticos. Vejamos alguns casos modernos aos quais se dá o nome de inédia [ausência de alimento e bebida]: Marta Robin (+1981) esteve 50 anos sem dormir,  sem comer, nem beber nada com a exceção da hóstia da comunhão que recebia semanalmente por estar sua casa fora da aldeia onde morava. Teresa Newman (+1962) esteve 35 anos sem comer nem beber; e, apesar de ter sangrado efusivamente durante a paixão e perder 4 Kg, o último dia os tinha recuperado totalmente.  Outros exemplos: Ángela de Foligno (+1309) 12 anos; Catarina de Siena (+1380) 8 anos; Catarina de Gênova (+1510) 23 anos. Luisa Lateau (+1883) 13 anos. O fenômeno é próprio dos místicos católicos. Não podemos duvidar, portanto, dos QUARENTA DIAS: Os evangelistas falam de quarenta dias, à semelhança do tempo em que Moisés  permaneceu no alto do Horeb diante de Deus para receber as tábuas da lei (Dt 9,9). Foi o tempo que Elias andou até o mesmo monte sem comer (I Rs 19, 8). Esse foi o tempo que Jesus necessitou para contemplar e preparar seu anúncio do Reino e a nova lei que substituiria a antiga de Moisés. Temos, pois, os exemplos de Moisés e Elias, em que só a palavra de Deus os sustentava por meio da fé e da oração. Desta última, Jesus fez uso em diversas situações, separando-se para isso da comum convivência com discípulos e povo (Mc 1,35), e especialmente na oração do horto de Getsêmani (Mc 14, 38-40).

A TENTAÇÃO: Sendo tentado por Satanás (13 b) Et temptabatur a Satana. O particípio de presente passivo peirazomenos é traduzido por tentado e daí as tentações. No grego o significado varia desde intentar até provar, testar, experimentar; uma das acepções é incitar ao mal, solicitar, e este último é o significado com o qual esta perícope é conhecida. Propriamente deveríamos traduzir para ser provado por Satanás. É o mesmo sujeito que experimentou a virtude de Jó no AT. Unicamente varia no nosso caso o julgamento que o evangelista faz do personagem em questão. No caso de Jó era um dos anjos da corte divina [um dos Filhos de deus, beni haelohim] (Jó 1,6), não contrário à vontade de Deus mas tomando a iniciativa de, em nome do mesmo, experimentar a retidão do santo patriarca. Peirazö é o verbo usado para experimentar se uma pessoa merece confiança. Os fariseus experimentaram Jesus em várias ocasiões (Mt 19, 3). O próprio Jesus experimentou o comportamento de seus discípulos ante o problema de como alimentar a multidão que o seguia num lugar inóspito. É nesse sentido de experimentar que poderia ser o comportamento de Jesus, como Filho de Deus, que o tentador o experimenta em situações limites. Num sentido pejorativo a tentação é por à prova a fé, a virtude ou o caráter de uma pessoa para solicitá-la ao pecado. É neste sentido  SATANÁS: É a transcrição da palavra Shatãn <07854> [adversário] que a Setenta traduz por diábolos, com o significado de caluniador ou acusador. Em hebraico também pronunciado Shaitan e cuja personificação grega é Typhon. O nome de diábolos aparece pela primeira vez em 1 Cr 21, 1. E é o nome que o livro da Sabedoria usa para afirmar: Pela inveja do diabo a morte entrou no mundo e a experimentam os que lhe pertencem (Sb 2, 1). Os outros nomes que aparecem nas escrituras, ou nas tradições judaicas como demônios, são Abaddon [destruidor] (Ap 9, 11), Asmodeu [demônio da sensualidade e luxúria (Tb 3, 8), originalmente criatura do julgamento], Apollyon [grego por Satã], Azazel [instruiu os homens a criarem armas] (Lv 16, 8), Belzebu [deus das moscas, cujo símbolo é o escaravelho] (Mt 10, 25), Behemoth [personificação de Satanás cujo símbolo é o elefante], Lilith [demônio feminino, primeira mulher de Adão]. Mas não são estes os tentadores de Jesus, pois os demônios eram os causadores de doenças cuja origem era desconhecida. Já Satanás é o príncipe das trevas, a antiga serpente, o inimigo frontal que Paulo chama de Belial [ganâncias de corrupção] (2 Cor 6, 15). Também Moisés foi tentado pelo povo, e em três ocasiões ele perdeu a compostura: Quando do bezerro de ouro, quebrou as tábuas da lei (Dt 9, 17). Diante das murmurações do povo sobre a comida, ele levou a coisa a mal e desejou a morte (Dt 1, 10-15). Finalmente, ele se irritou e bateu na rocha duas vezes, e por isso foi impedido de entrar na terra prometida (Nm 20, 11-12) Já as tentações de Jesus eram para desviá-lo de sua missão messiânica. E feitas pelo inimigo dos planos divinos desde o início. Para maior informação ver  Presbíteros.com.br em exegese números 25 e 74

AS FERAS: Vivia entre os animais selvagens e os anjos o serviam (13 c). Eratque cum bestiis et angeli ministrabant illi. Thêrion<2342> não significa necessariamente besta feroz.  O sinônimo, Zoe, significa um animal vivente em cujo significado também pode entrar o homem. Já o Thêrion exclui todo ser humano. É o que Marcos quer transmitir: que Jesus não teve contato com homens, mas com diabos [melhor, o chefe satanás] e com anjos. A frase indica que, durante esse tempo, Jesus não viu homem algum. Uma prova de que o Reino estava a se cumprir: Então o lobo morará com o cordeiro e o leopardo se deitará com o cabrito. O bezerro, o leãozinho e o gordo novilho andarão juntos e um menino pequeno os guiará (Is 11,6) em que inimigos dentro da ordem da natureza se entendem, sem serem mais perigosos para o homem. E OS ANJOS O SERVIAM: Elias foi servido pelos corvos segundo 1 Rs 17, 4: beberás da torrente; eu dei ordens aos corvos para que te alimentem ali. No  caso de Agar o anjo não a alimentou, mas abriu os olhos da mulher que enxergou um poço (Gn 21, 19). O anjo, superior ao homem, serve Jesus, porque Ele é superior aos anjos. Com isso temos a primeira prova da divindade de Jesus. O autor da epístola aos hebreus dirá que ao introduzir o filho primogênito no mundo [Deus] diz novamente: prostrem-se diante dele todos os anjos de Deus (Hb 1,6).  Marcos fala, pois, dos anjos como servidores. Mateus também diz: Então o diabo o deixa e os anjos vieram e o serviam (Mt 4, 11). Já Lucas evita os anjos e afirma que o diabo se retirou até nova oportunidade [kairós]. Deste evangelho de Lucas temos prova segura da existência dos anjos, não como mensageiros, mas como seres superiores a modo do diabo, mas em sentido bom. Não se pode crer no diabo e duvidar da existência dos anjos bons.

JOÃO É TRAÍDO: Após João ter sido traído (14 a). Postquam autem traditus est Iohannes. Paredóthe <3860> é o verbo grego usado. Originalmente, significa entregar nas mãos de outro; mas esta entrega se entende que é uma traição ou uma delação, quando o entregado é um homem. Exemplos no mesmo Marcos: Um de vós me entregará [me trairá] (14, 18) e Estai de sobreaviso porque vos entregarão aos tribunais e às sinagogas (13, 9). Usa-se também quando é um objeto, ou um costume, ou uma fé: Invalidais a palavra de Deus pela vossa tradição que vós mesmos transmitistes (7, 13). Paredóthe indica uma traição embora não saibamos de quem. O mesmo verbo é usado por Mateus (4, 12) para indicar o início da pregação de Jesus. A Vulgata traduz: traditus est  e as versões vernáculas ter sido preso. A inglesa was delivered up [entregar] é  mais conforme, como sempre, com o texto original.

A GALILEIA: Veio Jesus para a Galileia (14 b). venit Iesus in Galilaeam. Isso pode indicar que Jesus estava na Judeia, como parece sugerir o quarto evangelista, onde os discípulos de Jesus batizavam (Jo 3, 22 e 4, 2). Temendo provavelmente a perseguição dos fariseus –que seria a causa da traição/entrega de João- deixou a Judeia e retornou à Galileia (Jo 4, 1 e 3). Era uma região com mistura de raças e religiões que recebia o depreciativo nome de terra de gentios ou das nações [galilaia tön ethnön] (Mt 4, 15).

O ANÚNCIO DO REINO: Proclamando [kêrisson] o evangelho do Reino do (sic) Deus [tou Theou]. (15 a) Praedicans evangelium regni Dei. O kêrisson significa uma proclamação pública, um pregão feito público por um arauto, que neste caso era Jesus. Evangelho [euaggelion, evangelion, gospel], aparece 7 vezes em Marcos e 4 em Mateus. O significado inicial é recompensa por boas notícias, ou sacrifício feito em ação de graças pelas mesmas, passando a ser essas boas notícias [good tidings]. Biblicamente, no NT, após o início de Marcos: Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus (Mc 1, 1), está sempre unido a uma proclamação [pregação como traduzem outros] do Reino de Deus, como podemos ler no evangelho de hoje. Unindo os dois textos principais de Marcos que acabamos de citar, podemos afirmar que o Reino de Deus tem como rei e figura senhorial absoluta, Jesus, que é o Ungido e representante como Filho de Deus na terra. A unção é como rei que, por ela mesma, o transforma em Filho de Deus, independente de se este título tem um valor muito mais transcendente como é quando o unimos à pessoa do Verbo. Em definitivo, o evangelho é o anúncio de Jesus e de uma nova era em que Deus nos mostra sua face humana em Jesus de Nazaré, a quem por sua morte vigária Deus o ressuscitou e constituiu como Senhor [kyrios] e Cristo [ungido ou Messias], esse mesmo que foi crucificado (At 2, 36). Este é o evangelho que os discípulos deviam transmitir e que sempre estaria atuante e presente através dos séculos porque Ele vive e é Senhor. Por que procurais entre os mortos Aquele que vive? Dirá o anjo às mulheres (Lc 24, 5). E em Ap 4, 9 o último livro do NT, lemos:  os quatro seres vivos adoram Aquele que vive pelos séculos dos séculos. Esse Aquele a quem Paulo chama Senhor Jesus (Ef 1, 15) e que O fez sentar-se à sua direita muito acima de qualquer Principado e Autoridade e Poder  e Soberania (Ef 1, 20-21). A proclamação do Reino se transformou no anúncio do Senhor Jesus. E para isso é necessário estabelecer como base da proclamação a Ressurreição de Jesus. Pois se Cristo não ressuscitou é inútil nossa fé (1 Cor 15, 17).

O EVANGELHO: Convertei-vos e crede no evangelho (15 b). Paenitemini et credite evangelio. Qual era a mensagem [boa notícia] de Jesus durante os anos de sua atividade pública na Palestina, para proclamar como o Batista uma conversão? Na verdade, temos descrições de quem pode entrar no Reino, de como se desenvolve, das circunstâncias do mesmo, de como se espalha, das dificuldades de entrar, mas não sabemos em que consiste o Reino. Quando Pedro é louvado por sua fé em Jesus ele é a rocha sobre a qual edificará a sua Igreja (Mt 16, 18), significando que o Reino na terra é a Igreja visível que tem Pedro como fundamento, que Paulo estende aos outros apóstolos e profetas (Ef 2, 20). Pedro tem as chaves desse Reino além de ser o fundamento do mesmo. Quem entra no Reino do ponto de vista humano? Em que consiste a conversão necessária? Podemos dizer que  a entrada no  Reino é aberta pela disposição de aceitar a vontade de Deus como suprema, e daí a supremacia também de Jesus, como ele dirá: Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim (Mt 10, 37). O Pai Nosso quer que o Reino se amplie na terra onde a vontade de Deus se torne norma como assim é nos céus, domínio este último que o inimigo, o diabo, não pode debelar, por ter sido definitivamente expulso do alto. Em termos divinos diremos que a justiça, nota essencial de todos os reinos, no Reino de Deus se torna misericórdia e perdão para todos os homens que a seu domínio querem se submeter. Deus é precisamente soberano, ao exercer a sua misericórdia – como diz Maria – de geração em geração para aqueles que o temem (Lc 1, 50). Que o servem poderíamos interpretar. Hoje, esta misericórdia é a nota que a Igreja proclama como atributo essencial do Reino ao afirmar que Deus charitas est [Deus é amor]. CONVERTEI-VOS: Temos visto, no parágrafo anterior, a parte divina do Reino. Vejamos agora o papel do homem na mesma. O evangelho, além da fé, exige no homem um desejo de modificar sua conduta segundo as novidades que lhe são apresentadas  pela Boa Nova. O exemplo de Cristo como aquele que veio servir e não ser servido (Mt 20,28) nos transforma a todos em escravos, se queremos ter alguma importância dentro desse novo esquema de vida, o Reino (Mc 9,35). Assim de escravos do pecado (Jo 8,34) nos transformamos em escravos do Bem, através do serviço ao próximo. Quem não entende isso, não sabe grande coisa do evangelho. Os antigos chamavam a si mesmos escravos do Senhor, desde Davi (1 Sm 23,10) até Simeão (Lc 2,29). Mas o Cristo os transforma de servos em filhos (Jo 1,12) e ele mesmo, Jesus, quis chamá-los de amigos (Jo 15,15). Porém ainda somos servos uns dos outros (Mc 9,35) e devemos aprender a humildade dos seres mais inúteis, que na época eram as criancinhas (Mt 18,5). Nessa conversão, ao admitir Deus como Pai e os homens como superiores, está a base ética do evangelho. É necessário que aceitemos também a base teológica que é a fé. Por isso Jesus  acrescenta: Crede no evangelho. Isto é, escravos não por temor ou por amor ao lucro, mas porque estamos convencidos de que o serviço é a melhor maneira de atender ao apelo de Deus e às necessidades do próximo.

PISTAS:
1) É um pouco estranho esta referência às tentações de Jesus, visto que aparentemente nada aportam à mensagem evangélica. Nada disso: as respostas de Jesus são respostas à pergunta de muitos judeus e contemporâneos sobre o uso do milagre pelo Filho de Deus todo-poderoso. Como tendo em suas mãos o poder divino só o usou para curar doenças e aplacar fomes alheias? Por que, sendo Filho de Deus não desceu da cruz e esmagou seus inimigos? (Mt 27, 40). Como é possível que podendo, com um sinal estupendo, reduzir oposições e mostrar com total evidência a sua relevância, não o fizesse? (Lc 11, 16). A resposta a estas questões está nas palavras com as quais Jesus rejeita as tentações. Devemos estudá-las com atenção.

2) Já que também nós, em determinadas circunstâncias, tentamos o Senhor: por que a mim, por que tenho eu de ser sujeito de determinada desgraça e infelicidade? Será que tenho que mudar de Senhor ou de Religião?

3) Passando do sujeito individual ao coletivo: por que tantas guerras, por que tanto mal no mundo? Deus que pode tudo, por que permite que os bons sejam os mais vulneráveis e os maus os mais seguros e felizes em suas vidas atuais? A resposta seria, sem dúvida, a que nos deu Jesus: Deus ama também seus inimigos.

4) Uma pergunta óbvia: Os traslados, a presença do Diabo, foram reais ou foram fatos imaginários? Cremos que a resposta está nos estudos médicos modernos: o jejum prolongado transforma em realidade o que podemos chamar sonho ou imaginação.

5) Temos visto que o Reino é o ponto central de Jesus. Teremos que renovar as nossas ideias sobre o Reino durante esta quaresma. O serviço deve ser a ideia central de nossa renovação, que nas palavras de Jesus é chamada de conversão.


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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