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Índice desta página:
Nota: Cada seção contém Comentário, Leituras, Homilia do Diácono José da Cruz e Homilias e Comentário Exegético (ou Estudo Bíblico) extraído do site Presbíteros.com

. Evangelho de 20/12/2020 - 4º Domingo do Advento - ANO B
. Evangelho de 13/12/2020 - 3º Domingo do Advento - ANO B


Acostume-se a ler a Bíblia! Pegue-a agora para ver os trechos citados. Se você não sabe interpretar os livros, capítulos e versículos, acesse a página "A BÍBLIA COMENTADA" no menu ao lado.

Aqui nesta página, você pode ver as Leituras da Liturgia dos Domingos, colocando o cursor sobre os textos em azul. A Liturgia Diária está na página EVANGELHO DO DIA no menu ao lado.
BOA LEITURA! FIQUE COM DEUS!

O PESO DE NOSSA CRUZ!
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20.12.2020
4º Domingo do Advento — ANO B
( Roxo, Creio, Prefácio do Advento IIA – IV Semana do Saltério )
__ “Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus” __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

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(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Celebrando este último domingo do Advento, somos informados da chegada iminente de Jesus. Através dos profetas, Deus preparou a alma de seu povo para este acontecimento. Mil anos antes, o profeta Natan garantiu ao rei Davi que um de seus descendentes se sentaria no trono e que o reino dele seria firme para sempre. Hoje é o anjo Gabriel que diz à Maria que ela teria um filho; que Deus lhe daria o trono de seu pai Davi; que seu reino seria para sempre e que seria chamado Filho de Deus. E quando Maria disse: “eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”, o Filho de Deus encarnou-se em seu seio por obra do Espírito Santo. (Após a procissão de entrada, acender quarta vela da coroa do Advento.)

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, mais alguns dias e estaremos reunidos para celebrar a solene Vigília do Natal do Senhor. Por esta Eucaristia, unidos aos sentimentos e expectativas da Virgem Maria, aguardaremos com alegria o anúncio da chegada do Filho do Altíssimo.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: A catequese evangélica, como a paulina, preocupa-se em afirmar claramente que Jesus pertence à família real de Davi. Evidencia assim a existência concreta de Jesus e o cumprimento das promessas messiânicas. Deus coloca sua morada entre os homens e faz da humanidade seu templo: as pedras que o constituem são os homens do "sim" incondicional a Deus. Maria é a primeira pedra viva da casa de Deus entre os homens! No quarto e último Domingo do Advento, a Igreja se prepara para celebrar o Natal, proclamando a anunciação do Senhor e enaltecendo a figura da Virgem Maria como símbolo da humanidade que se abre ao mistério de Deus e acolhe o Redentor. Celebremos esta Eucaristia com o coração vibrante no Senhor, assim como cantou Maria seu hino de louvor e viveu uma vida inteira de ação de graças ao Senhor.

Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16): - "Vai e faze tudo o que diz o teu coração, pois o Senhor está contigo."

SALMO RESPONSORIAL (88/89): - "Ó Senhor, quero cantar o vosso nome * desde agora e para sempre!"

SEGUNDA LEITURA (Rm 16,25-27): - "A ele, o único Deus, o sábio, por meio de Jesus Cristo, a glória, pelos séculos dos séculos. Amém!"

EVANGELHO (Lc 1,26-38): - "Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!"



Homilia do Diácono José da Cruz – 4º DOMINGO DO ADVENTO – Ano B

"JESUS, O FILHO DE MARIA!"

Depois do nome, a referência mais importante de uma pessoa é a sua filiação, filho de fulano e de cicrana, ter uma mãe e um pai, uma origem, algo que está na essência da nossa humanidade, sem essa referência, até da existência se pode duvidar. Quem é ele, filho de quem, onde mora? O Filho de Deus, onipotente, onipresente, onisciente, aceita trilhar o mesmo caminho do homem. A encarnação é obra de Deus, mas que irá acontecer com a colaboração do homem.

O rei Davi era a dinastia mais famosa de Israel, pois unificara o norte e o sul formando um dos maiores impérios do oriente, o povo sonhava com aqueles tempos em que Israel era uma nação respeitada e temida pelas demais, pois o rei Davi impunha respeito, pelo poder do seu numeroso exército, mas acima de tudo por ter sido ungido do Senhor, pois ser rei era uma missão divina. As profecias falavam que o esperado messias era dessa família e que seria igual ou até melhor que Davi, ele era para o povo o braço poderoso de Deus lutando a favor dos pobres, alinhando-se com os homens justos e punindo os maus.

Os grandes acontecimentos ou decisões importantes que representem mudança na vida do povo, só poderiam ocorrer no meio dos poderosos, ao povo cabia ouvir, dizer amém e agüentar as conseqüências. Entretanto a vinda do messias começa a ser articulada entre Deus e uma mocinha pobre da periferia chamada Nazaré, até ela própria fica assustada e surpresa quando percebe que está em suas mãos mudar os rumos da história do seu povo. A mudança dos rumos de uma nação, só começa a acontecer de fato, quando o povo descobre a sua força. Deus nunca seguiu as estruturas humanas para realizar a salvação da humanidade, escolhe como parceiro pessoas fracas, aparentemente incapazes de fazer qualquer mudança.

Por caminhos tortuosos, incompreensíveis para os homens, Deus irá cumprir com a promessa, o noivo de Maria chama-se José e pertence a família do grande rei Davi mas apesar disso, José é um homem do povo, que vive de sua profissão de carpinteiro. E Maria? Quais eram seus planos de vida?

Todos nós temos de ter um projeto de vida, quem não tem, acaba não vivendo bem e nem sabe o sentido da vida. Maria estava prometida em casamento a José, como seu povo ela também esperava o messias, ela também alimentava no coração a esperança de dias melhores.

E em um momento de oração Maria se abre para ouvir a Deus e descobrir a sua vontade a seu respeito. Somente uma fé madura e consciente consegue se abrir diante de Deus e ao mesmo o questiona. Há certas coisas em nossa vida de difícil solução, e que seria tão bom se Deus fizesse do nosso jeito. Não que Deus seja sempre do contra, mas nunca vai ser do nosso jeito. Em Maria vemos o que é realmente a fé, quando não fazemos questão que seja do nosso jeito, mas sim do jeito de Deus, daí é que as coisas vão acontecer. Só que o jeito de Deus não é muito fácil de aceitar porque ultrapassa a lógica humana.

Maria não é casada, não tem marido, quando ela apresenta essa dificuldade o anjo anuncia que as coisas irão acontecer do jeito de Deus e para que Maria possa confiar é lhe dado um sinal, a prima Isabel, avançada em idade e ainda por cima estéril, irá conceber uma criança. Os sinais de Deus nunca seguem a lógica humana, mas é preciso confiar. E Maria aceita totalmente a missão, que não será das mais fáceis, abre mão de todos os seus planos, inclusive o casamento com José, ela aceita o risco de ser acusada de infidelidade, o que poderia fazer com que fosse condenada á morte, caso o noivo a denunciasse.

Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra - Para nós, hoje é muito fácil aceitar e entender essa história. Mas pensemos um pouco em Maria, que não fazia idéia do que vinha pela frente, mas sabia que Deus estava com ela.

Hoje o reino de Deus vai acontecendo e sendo edificado em meio aos homens, na medida em que, como Maria, nós aceitamos o desafio, fazendo de nossa vida uma entrega total e silenciosa nas mãos do Pai. Para isso é sempre preciso renovar a cada dia a decisão em favor de Jesus e seu reino...

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 4º DOMINGO DO ADVENTO – Ano B

“Aproxima-se a justiça de Deus”

Escreveu um teólogo do século XX que “a justiça e o reino são a mesma coisa. Trata-se da ordem das coisas na qual o plano de Deus triunfa. (…) A justiça de Deus não se define em referência ao homem, mas ao próprio Deus: ela é a fidelidade do amor de Deus a si mesmo. Dessa maneira, vemos porque a ordem que Deus institui é a melhor. Crer que Deus é justo é crer que é ele que finalmente terá razão, apesar das aparências contrárias” (Jean Daniélou).

Hoje, no Evangelho, nós lemos o anúncio da justiça de Deus que chegará no Natal, que é Cristo, pois Cristo é o Reino. A humanidade santíssima de Cristo é o lugar onde Deus reina plenamente. Jesus mesmo é rei e a um rei compete exercer principalmente a justiça. “Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim” (Lc 1,32-33).

A justiça na Sagrada Escritura se apresenta como prolongamento da verdade e exige dos seres humanos uma conversão, isto é, a descentralização de si mesmos e o voltar-se para Cristo. No fundo, essa conversão é a vivência constante daquelas palavras de Nossa Senhora: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Quem se coloca como servo de Jesus Cristo, servo do reino, vai se convertendo cada dia mais até chegar à plenitude dos desígnios de Deus para a sua vida.

A justiça que olha a miséria do pecador e vai ao seu encontro para salvá-lo, para convertê-lo, para atrai-lo ao Reino, só pode ser coisa de um Deus bondoso e misericordioso. Daí que a nossa justiça, sendo autêntica justiça, não pode ser justiça estrita no sentido de “cumprimento estrito da estrita lei”… isso seria odioso!

Para exemplificar um pouquinho sirva aquilo que aconteceu com S. Tomás Moro. A sua esposa recebera de presente um cãozinho, que uma pessoa amiga tinha encontrado na rua. Um dia apresentou-se em sua casa um mendigo, que dizia ser o dono do animal. Disposto a fazer justiça, sir Thomas More colocou sua esposa num dos lados do salão e o mendigo no outro, levando o cãozinho para o centro. Dando então sinal para que Lady Moore e o reclamante chamassem o cachorrinho ao mesmo tempo, sem nenhuma indecisão o animalzinho atendeu à chamada do mendigo: identificara, portanto, a voz do dono. A sentença foi minorada ante a tristeza de Lady More. O mendigo levou consigo, não o bicho, mas uma moeda de ouro a título de indenização. Assim ambas as partes ficaram satisfeitas com o estranho processo de descobrir a verdade.

“Fazer justiça” será para um cristão, a exemplo de Cristo, “andar segundo a vontade de Deus”, que é a mesma coisa que andar segundo a verdade que Deus revelou para a nossa salvação e felicidade. É dizer aquelas palavras de Nossa Senhora deixando que elas ecoem durante toda a nossa existência: “faça-se em mim segundo a tua palavra”, que não são senão outra versão daquelas que nós rezamos todos os dias no Pai-nosso: “Seja feita a vossa vontade”.

Aproxima-se o Natal. No próximo domingo experimentaremos uma alegria humana e sobrenatural que encherá o nosso coração de paz e de simplicidade. Vamos preparar-nos bem através de uma boa confissão, se ainda não a realizamos. Outra coisa que é preciso ter em conta é que devemos “fazer justiça”, isto é, ir ao encontro das misérias dos nossos semelhantes, perdoando-os e ajudando-os. Não se pode celebrar um feliz Natal com falta de perdão, com intrigas, com remorsos.

Vamos permitir que Deus reine em nós; dessa maneira se estará cumprindo a justiça. Durante essa semana, ao preparar os presentes, a ceia de Natal e o “amigo oculto”, vamos procurar dar um presente ao aniversariante Jesus (não nos esqueçamos dele!), vamos participar o mais dignamente possível da sua Ceia (Missa e Comunhão) e faremos de tudo para que ele seja o nosso amigo oculto e manifesto.

A descrição a seguir é do grande literata russo, F. Dostoievski. Acho que poderá animar-nos a fazer um propósito bem concreto, refiro-me à importância de “fazer justiça”, deixar que o reino de Deus aconteça entre nós através da generosidade, uma das grandes manifestações dos servidores do reino. Uma das obras do escritor russo, “Noites brancas”, começa assim: “Era uma noite maravilhosa, uma dessas noites que apenas são possíveis quando somos jovens, amigo leitor. O céu estava tão cheio de estrelas, tão luminoso, que quem erguesse os olhos para ele se veria forçado a perguntar a si mesmo: será possível que sob um céu assim possam viver homens irritados e caprichosos?”

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 4º Domingo do Advento – Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (Rm 16, 25-27)

O MISTÉRIO: Ao que pode, pois, vos consolidar segundo o meu evangelho e o anúncio de Jesus Cristo, segundo a revelação do mistério silenciado em tempos eternos (25). Ei autem qui potens est vos confirmare iuxta evangelium meum et praedicationem Iesu Christi secundum revelationem mysterii temporibus aeternis taciti. O trecho de hoje forma parte da chamada doxologia final da carta aos romanos. É um verdadeiro hino solene, dedicado à onipotência e sabedoria divinas em ordem à nossa  salvação. Dentro do louvor próprio da doxologia, encontramos uma série de proposições dogmáticas, dignas de consideração. Dirigida a Deus a quem atribui o poder de CONSOLIDAR[stërizö<4741>=confirmare] estabelecer, assentar, tornar seguro,  queneste versículo tem o mesmo significado que o dado às palavras de Jesus a Pedro na última cena: Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. (Lc 22, 32). Este é precisamente o significado mais apropriado do dito verbo stërizö. Paulo apela àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera (Ef 3, 20). MEU EVANGELHO: característica de toda a epístola é a exposição da obra de salvação, revelada na Boa Nova do Evangelho (Rm 1, 16-17), fundada na fé de Jesus Cristo. Esse evangelho que será a base do julgamento final como escreve na mesma epístola em 2, 16: No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho. Em que se diferencia o evangelho de Paulo? Vê-lo-emos no seguinte parágrafo, ao tratar da revelação do mesmo. REVELAÇÃO:[apocalypsis<602>= revelatio]. Esta manifestação do que Paulo chama MISTÉRIO [mystërion<3466>=mysterium] tem duas partes: 1ª) Geral: como mistério de Cristo, que explica em Ef 3, 9, como a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo que noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas (Ef 3, 5). É, pois, a relevância de Cristo que é princípio e fim do Universo, Alfa e Omega (Ap 21, 6). 2ª) Particular: A saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Ef 3,6). Este anúncio foi encomendado a Paulo; e dele, ele tomou conta como seu evangelho particular: Do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder (Ef 3,7). Daí que ele, Paulo, pode chamar a esse seu ministério de meu evangelho, especialmente quando se dirige aos romanos, em grande parte ou todo, saídos da gentilidade, por causa agora do decreto de Cláudio que expulsou os judeus de Roma. SILENCIADO [sesigmënon<4601>=tacitum] como particípio passivo do verbo sigaö, com o significado de ser silenciado (Lc 18, 39), e, portanto, estar oculto em TEMPOS ETERNOS[chronois aiöviois<166>=temporibos eternis] O aiönios que é sem fim, aqui é usado como sem princípio, sendo o aiönios um adjetivo de aiön <165>, derivado de aei<104> [= sempre], embora aiön propriamente signifique uma era ou período, especialmente o messiânico. Por extensão, perpetuidade que pode ser passada ou futura (sem princípio, nem fim),  ou desde o início do mundo  e ou sem fim. Neste caso desde os tempos em que o tempo se iniciou. Como eterno [o eternal e everlasting inglês] aparece 67 vezes no NT das quais 23 nos evangelhos; como tempo desde a fundação do mundo 3 vezes: uma delas esta, outra em 2 Tm 1, 9, e a outra em Tt 1, 2, sempre acompanhado do plural chronoi<5550>= tempos, que o latim traduz por tempora saecularia. Traduziríamos desde sempre até agora.

A REVELAÇÃO: Porém revelado agora também por meio dos escritos proféticos, segundo o mandato do eterno Deus para obediência de fé, conhecido por todas as nações (26). Quod nunc patefactum est per scripturas prophetarum secundum praeceptum aeterni Dei ad oboeditionem fidei in cunctis gentibus cognito.Revelado AGORA [nyn<3568>=nunc] é o que diz em 2Tm 1,10: porque nos salvou  não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos; o que é manifesto agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz, a vida e a incorrupção pelo evangelho.Por meio dos ESCRITOS PROFÉTICOS[grafön<1124> profëtikön<4397>=scripturas prophetarum]. Pois, segundo 1 Pd 1, 20, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós. A que escritos proféticos se refere Paulo? Evidentemente devem ser escritos do NT, pois o mistério era desconhecido até agora e é agora que é conhecido pelos escritos proféticos. A carta aos romanos foi escrita entre os anos 56-58 e o primeiro evangelho (Marcos) antes do de Mateus cuja data mais antiga é 58. Logo temos uma indicação de que dois dos evangelhos foram escritos antes da epístola aos romanos, pois de outro modo que escritos proféticos seriam esses que Paulo não determina? Ou talvez Paulo fale de si mesmo como vemos em Tt 1, 3: A seu tempo manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador. Porém aqui é pregação [kërigma] e não escritos [grafoi]. Logo devemos admitir que antes desta carta paulina houve pelo menos dois escritos que revelaram esse propósito de Deus, escondido desde a fundação do mundo, descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo (Ef 1, 9). OBEDIÊNCIA DA FÉ [ypakoë <5218> pisteös<4102>=oboeditio fidei]. Em At 6, 7 lemos a este propósito: Crescia a palavra de Deus, e em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé. É uma ideia que Paulo tinha manifestado em versículos anteriores: Quanto à vossa obediência à fé, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas simples no mal  (Rm 16, 19). É a mesma obediência que Pedro chama deobediência à verdade (1 Pd 1, 22). Por isso ele, Paulo, recebeu o apostolado para a obediência da fé entre todas as gentes (Rm 1, 5). Evidentemente essa obediência significa uma submissão do entendimento e da vontade a uma verdade que não é evidente, mas que tem uma base razoável. Como diria Jesus, se não credes em mim, crede nas obras; para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu nEle (Jo 10, 38). Por isso, essa obediência é abençoada no evangelho de João:Bemaventurados os que não viram e creram (Jo 20, 19). Graças à pregação de Paulo esse mistério foi conhecido por todas as etnias. Logicamente Paulo fala das diversas nações que constituíam aoikoumene ou terra conhecida como sujeita ao império romano.

DOXOLOGIA FINAL: A(o) Deus único, sábio por meio de Jesus Cristo ao qual a glória para os séculos. Amém (27). Solo sapienti Deo per Iesum Christum cui honor in saecula saeculorum amen.ÚNICO [monö<3441>=solo] corresponde ao início do Shemah e é a translação do ehad<0259>=eis,unus [uno ou único] (Dt 6,4). Para Paulo, como para todo judeu, os deuses pagãos eram nada. Na reza cantarolada do Shemah todo judeu repetia Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o únicoSENHOR (Dt 6, 4), que anteriormente tinham aprendido em 4, 39: Hoje saberás, e refletirás no teu coração, que só o SENHOR é Deus, em cima no céu e em baixo na terra; nenhum outro há. Verdade que Isaías proclama em 44, 8: Porventura há outro Deus fora de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheço. A doutrina de Paulo é neste ponto indiscutível, ao tratar dos ídolos: quanto ao comer das coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só (1 Cor 8, 4). Daíseu desprezo por eles em 1 Cor 10, 19: Que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa?Como SÁBIO [sofos<4680>=sapiens] com o significado de inteligente, talentoso, douto, culto, instruído; e tratando-se de Deus, sábio que conhece tudo como  também aparece em Jd 1, 25: Único Deus sábio, Salvador nosso. De quem Paulo também diz em 1 Cor 1, 25: Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. A esse Deus, Paulo dedica sua doxologia em várias passagens de suas catas: Ao rei eterno, ao Deus único, imortal e invisível, sejam dadas honra e glória para sempre. Amem (1 Tm 1, 17). POR MEIO DE JESUS CRISTO: Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem (1 Tm 2, 5). E em 1 Cor 8, 6: Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele. E Paulo termina como Judas sua epístola: Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém (Jd 1, 25).

EVANGELHO (Lc 1, 26-38)
MARIA  NA ANUNCIAÇÃO

O ENVIO: Todavia no mês sexto foi enviado o anjo Gabriel da parte de Deus a uma cidade da Galileia. O nome Nazaret (26). In mense autem sexto missus est angelus Gabrihel a Deo in civitatem Galilaeae cui nomen NazarethSEXTO MÊS: Evidentemente era o sexto mês depois que o anjo anunciou o nascimento de João ao seu pai Zacarias (1, 11); e portanto, do momento em que Isabel ficou embaraçada. Este início abre um novo episódio e o relaciona com o anterior. O mesmo mensageiro [aggelos] de nome Gabriel [=homem de Deus] foi enviado por Deus [apo tou Theou= da parte do Deus (único)], sendo a origem do trono de Deus, ou seja, não era um homem mas o que nós hoje chamamos de anjo, um ser sobrenatural que recebe uma missão, um anúncio especial a uma pessoa especial. Este mensageiro se define a si mesmo como sendo Gabriel (1, 19) o mesmo que se apresenta a Daniel na hora da oferenda vespertina para explicar as setenta semanas (Dn 9, 21). Ele é um dos três anjos que aparecem com nome próprio no AT, sendo os outros Miguel (Dn 10, 13) e Rafael (Tb 3, 17). A literatura judaica nos oferece outros quatro nomes: Sariel, Uriel, Penuel e Baraquiel. Como vemos, todos terminam em El que significa Deus. Estes são os sete anjos que estão ao serviço de Deus e têm acesso ao Senhor da glória (Tb 12, 15 e em Ap 8, 2). Os nomes usam o El, antigo Deus cananeu que logo se transformou em Elohim, plural [deuses], precedido por Jahweh  [vivo ou que vive]. Unindo os dois, talvez possamos traduzir por o vivente entre os deuses, ou o Deus vivo.GABRIEL, segundo as últimas investigações não significaria homem de Deus (uma contradição), masDeus és meu guerreiro. Não podemos esquecer que Jahweh é o Deus dos exércitos. Gabriel foi enviado como mensageiro a uma CIDADE [polis] a palavra derivada de polys [numeroso]. A polis era um espaço residência dos cidadãos e dela se deriva polismátion [aldeia]. NAZARÉ ou Nazária [verdejante, ou brote] era, segundo uma descoberta de 1962, uma residência da classe ou turno décimo oitavo [Hapisés] (ver 1 Cr 24, 14) de sacerdotes. Relembra o parentesco de Maria com Isabel e o casamento com José, pois só entre tribos de Judá e Levi se admitiam os matrimônios. A aldeia pertencia à região da GALILEIA [significa circuito ou distrito]. A Galileia compreendia as tribos de Issacar, Zabulon, Aser e Neftali. Originariamente o nome foi dado a um pequeno circuito de 20 cidades que Salomão deu ao rei Hiram,  que este devia receber como pagamento por ter oferecido madeira de cedro. Hiram não gostou, e Salomão teve que dar a ele vinte talentos de ouro (1 Rs 9, 11-14). Mais tarde o nome foi estendido a toda a região do norte.

Auma virgem prometida a um varão, de nome Josef da casa de Davi; e o nome da virgem Mariam (27). Ad virginem desponsatam viro cui nomen erat Ioseph de domo David et nomen virginis Maria.VIRGEM: A palavra grega não tem outro sentido a não ser mulher que ainda não teve relações com um varão. Se queremos uma mulher adolescente como é alma em hebraico, usaríamos em gregopais, ou melhor, paidiskeDESPOSADA: O grego de Lucas usa memneusteumene, segundo alguns códices, ou emneusteumene, particípio passivo do aoristo [passado] do verbo mnesteuö que significa desposar ou ser pedida ou prometida em matrimônio. Como particípio passivo o traduziremos como estar declarada desposada ou noiva formal. Parece reproduzir ao pé da letra o texto de Dt 22, 23 que fala da pais parthenos mnesteumene [ jovem virgem desposada]. Da mesma raiz se deriva oMnester ou noivo. O mesmo verbo é usado por Mateus em 1, 18. Segundo o próprio Mateus o fato de Maria estar grávida e de José descobrir a gravidez de Maria, se deu antes de coabitarem. Precisamente levar a desposada para a casa do pai ou do marido era a base do matrimônio. A mulher passava de mneneusteumene a  giné, mulher. Para entender isto devemos entrar nos costumes judaicos da época de Jesus. O matrimônio era um contrato entre famílias. Contrato que se assemelhava a uma compra. A mulher era praticamente uma escrava, vendida pelo preço de um dote. Esse contrato em hebraico era o Ketubbá [=escrito] que estabelece obrigações, assim como uma penalidade monetária no caso de divórcio. Também era de natureza moral, pois seguia-se uma espécie de juramento: Trabalharei por você, Honra-la-ei  e manterei, segundo o costume dos maridos judeus que, em verdade, trabalham por suas esposas, as honram, sustentam e mantêm. Uma mulher virgem valia 200 denários ou 200 dias de trabalho e uma viúva uma mina, ou seja, a metade aproximadamente. Uma mulher que tinha o Ketubbá dos esponsais era considerada esposa para todos os efeitos legais. Por exemplo, o sumo sacerdote não podia casar com uma viúva (Lv 21, 14) e a Mishná afirma que essa viúva é tanto a viúva após o casamento como a viúva tão só após os esponsais. Para um novo matrimônio a viúva deve esperar três meses (tempo suficiente para saber se está grávida) já estejam casadas, divorciadas ou prometidas em esponsais, porque o noivo, na Judeia, tem intimidade com ela. Com isto fica provado que a prometida por meio da Ketubbá era praticamente uma esposa. Segundo os costumes da época entre os esponsais e o matrimônio propriamente dito devia passar meio ano. A mulher virgem a casar pela primeira vez teria na época 12 anos e meio. O grego usa o gameö para indicar matrimônio, e gametë [esposa]. Embora no NT a palavra usada égynë [mulher] com o duplo significado de fêmea humana e de esposa. Usa também o NT a palavranymfë, jovem núbil, também com o significado de nora (Mt 10, 35). Parece claro que Maria estava unicamente prometida com a correspondente Ketubbá. Lucas usa a mesma raiz só que no tempo perfeito mnesteumenë. Nas línguas modernas é difícil distinguir entre os dois tempos, aoristo e passado. Esta hipótese é realçada pelo mesmo evangelista quando afirma: antes de que coabitassem ou convivessem. Os judeus distinguiam entre compromisso matrimonial erusin[sponsalia em latim] que era um contrato comercial em que se concertava o dote ou mohar que devia ser pago aos parentes da noiva, como foi o caso de Jacó que pagou pelo casamento de Lia e Raquel (Gn 29, 15-30). Quando a esposa era rejeitada porque o marido não cumpriu o compromisso, o mohar devia ser devolvido com uma penalidade monetária alta. Tudo isso pesava na consciência e nos planos, por não dizer no bolso, de José, pois devia pagar o dobro do acordado, que acostumava ser um ano de trabalho (ver como amostra Gn 29). Daí sua hesitação. O matrimônio propriamente dito, era o nissuin, quando o marido levava a desposada no meio da noite num cortejo em que tinha como companhia as virgens locais. Neste caso passava a depender totalmente do novo dono: o marido. JOSÉ: Josef é o diminutivo teofórico de Yosip-yah [O senhor acrescente [mais filhos aos nascidos], nome que nasce com Gn 30, 24. Raquel concebeu e chamou o filho de José dizendo: que Jahweh me dê outro. José era descendente de Davi e Maria provavelmente de Aarão como explicamos no artigo anterior. A ascendência de José é narrada tanto por Mateus (1, 1-17) como por Lucas (3, 23-38), sendo mais documentos jurídicos que históricos. Com a ascendência davídica temos uma base para afirmar que Jesus era filho de Davi, seu pai (Lc 1, 32). MARIA: Miryam em hebraico, o mesmo nome que a irmã de Moisés (Êx 15, 20), que os Setenta traduzem por Mariam, nome com o que é nomeada expressamente a mãe de Jesus nos evangelhos, enquanto as outras mulheres com o mesmo nome, recebem o nome grego de Maria, que a Vulgata traduz como Maria, nome que tem sido aceito pelo português e espanhol. O nome, pois, de Nossa Senhora era o mesmo que o da irmã de Moisés. Alguns preferem o significado de rebelião [autores evangélicos principalmente], outros o derivam de um termo cananeu cujo significado é altura, cume. Relacionado com o nome de mulher significa excelência.

A SAUDAÇÃO: E entrando o anjo a ela disse: Alegra-te, superfavorecida, O Senhor contigo. [Bendita tu entre as mulheres] (28) Et ingressus angelus ad eam dixit have gratia plena Dominus tecum benedicta tu in mulieribus. ENTRANDO: O grego indica claramente que a visão do anjo foi dentro da casa onde Maria morava. Nada diz o evangelista sobre a aparência do anjo, mas de outras descrições podemos imaginar que a figura do anjo era como a de um jovem com vestes e rosto esplendorosos ao modo como viram as mulheres, ou como viu Maria, a Madalena, os anjos no sepulcro. Talvez com menos resplendor, porque logicamente no sepulcro, na penumbra do mesmo, esse fulgor sobrenatural era necessário e não seria indispensável nessas circunstâncias. As visões de Abraão em Mambré de Gn cap 18 podem ser um exemplo de como foi a aparição de Gabriel a Maria. Estava ela no gineceu como era costume com as mulheres na época, ou seja, no mais íntimo e interior da habitação, separada do resto do que constituía a casa humilde da época, por uma cortina? Podemos imaginar que sim; e daí, parte do susto de Maria ao qual o anjo deve opor o seu não temas (30). CHAIRE: O ch, segundo a transcrição adotada geralmente, é o mesmo que o jota espanhol ou o h inglês. A saudação é um pouco esquisita. O normal seria paz [eirene em grego e shalom em hebraico]. O chaire é a saudação comum entre os gregos. Eles desejavam alegria. Os latinos saúde [salve ou ave]. Os judeusshalom [paz]. Maria assim o entendeu pensando que poderia significar essa saudação [precisamente derivado de saúde, tradução do salve latino]. Pois a saudação em latim é salve[saúde] ou ave [Deus te guarde] das quais temos em português as palavras salve [salve rainha] e ave [ave Maria], sendo que saudação é a palavra derivada do salve. Hoje tanto salvecomo ave perderam o significado primário e só têm um significado de pura saudação; e especialmente dirigidas a Maria, são um preito de respeito e veneração. O Chaire é mais do que uma saudação, é o início de uma grande nova, de uma alegria que tem como base a notícia messiânica, como anuncia o anjo aos pastores: uma alegria enorme [Lc 2, 10]. Com o chaireGabriel pode iniciar o seu anúncio. KECHARITOMENE: O anjo chama a Maria KECHARITOMENE, palavra que substitui, segundo os entendidos, o nome próprio. De modo que na saudação, no lugar de alegra-te, MARIA, o anjo diz: alegra-te, SUPERFAVORECIDA. A palavra é um epíteto, aposição ao nome próprio. O anjo escolhe um novo nome para Maria em relação com sua missão futura, ao modo como Jesus muda o nome de Simão pelo de Kefas.[=rocha]  Um exemplo no AT está em Jz 6,12 quando o  anjo anuncia a Gedeão: O senhor está contigo[Kyrios meta sou] VALENTE GUERREIRO [dynatos te ische, poderoso em força, ou ischirós ton dynameonforte em poderes], equivalente a Fortíssimo, superlativo que não existe  nas línguas semíticas. Por isso a tradução de kecharitomene seria super favorecida. As bíblias evangélicas preferem muito favorecida. As  católicas cheia de graça, do latim plena gratiae, no sentido, não de expressar qualidades de Maria, mas de que Deus gratuitamente [e esse é o sentido de charis, graça] lhe adorna. É lógico que sendo a mensagem de salvação, essa mercê divina esteja destinada a essa salvação. Maria é a mulher que aos olhos de Deus achou benevolência em grau sumo (30). Daí podemos concluir que ela é a mais favorecida de todas as criaturas, e com isso se abre uma porta aos extraordinários dons de que foi ornada. A Igreja católica fundamenta aqui alguns dos dogmas marianos: Amaternidade especial de Maria como virgem  e mãe de Jesus já a favoreceporém a mancha do pecado a tornaria diante dos olhos divinos igual a todos os demais seres humanos. Quem é minha mãe e meus irmãos?- dirá Jesus (Mc 3,33). E ele antepõe o laço do discipulado ao  familiar da carne. Neste sentido de que a salvação dada por Jesus tem prioridade, Maria devia ter essa salvação ou justificação como nenhuma criatura. E a salvação é dos pecados (Mt 1, 21). Por isso a Igreja a declara limpa de todo pecado, devido aos méritos de Cristo, ou seja, IMACULADAO KYRIOS META SOU: É a tradução de Deus contigo, como vemos no lugar paralelo de Jz 6, 12 do Jahweh imeka pelos Setenta. É uma fórmula declarativa, como dizendo: Venho a ti que estás com Deus neste momento de tua vida e que esse Deus pensa em ti para grandes obras. Maria se perturba ou fica intranquila [intrigada diz a bíblia de Jerusalém], perguntando-se sobre o significado de semelhante cumprimento ou saudação. A Vulgata acrescenta bendita tu entre as mulheres que não está nos textos gregos.

ACHASTE GRAÇA: Ela, pois, como visse, perturbou-se por esta palavra e considerava qual era essa saudação (29). Então lhe disse  anjo: Não temas Mariam porque achaste graça diante de Deus (30). Quae cum vidisset turbata est in sermone eius et cogitabat qualis esset ista salutatio.Et ait angelus ei ne timeas Maria invenisti enim gratiam apud Deum. NÃO TEMAS, MARIA: Agora o anjo acalma seus possíveis temores e usa o nome da mulher que antes substituiu pela aposição de um atributo essencial. E o anjo explica a razão da tranquilidade que deve preencher sua alma: encontraste graça [charis] da parte do Deus [único]. Que significa essa graça como traduzem tanto evangélicos como católicos? Graça é a boa vontade por parte de Deus, princípio dos favores que em sua vida encontrará como presentes e dádivas de um Deus extremamente rico e amoroso.ENCONTRASTE GRAÇA: É a explicação do Kecharitomene. Poderíamos traduzir com menos margem de erro Deus te outorgou seu favor. Estás sob a sua proteção e Ele está disposto a conceder-te tudo o que peças e necessites. Em Gn 6, 8 Noé encontrou graça [hen<02580>hebraico echaris<5485>grego] aos olhos de DeusNoe vero invenit gratiam coram Domino traduz a Vulgata exatamente como neste caso: Inveniste gratiam apud Deum. No caso de Noé a salvação se deu do dilúvio. E por isso fez dele uma exceção, salvando-o do desastre total que atingiu o resto da humanidade. No caso de Maria, a salvação foi do pecado, especialmente do original. Charis é um termo totalmente usado por Lucas e ausente em Marcos e Mateus.

CONCEBERÁS: Eisque conceberás em teu ventre e darás à luz um filho e chamarás pelo nome de Jesus(31). Ecce concipies in utero et paries filium et vocabis nomen eius Iesum.EXPLICAÇÃO: O grande favor é a maternidade de Maria que o anjo prediz mais do que oferece. A frase é uma cópia de Gn 16, 11: Disse-lhe ainda o anjo: Concebeste e darás à luz um filho, a quem chamarás Ismael, que a Vulgata traduz literalmente: Ecce concepiste et paries filium, vocabisque nomem ejus Ismael. Neste versículo (31) o grego do evangelho de Lucas, só modifica uma palavra: no lugar de écheis(terás) [que o hebraico diz concebeste em passado e que a Vulgata conserva, não assim os setenta] usa syllempse em futuro, que significa em raiz, receber [receberás ou vais receber em teu ventre seria a tradução mais correta].  Vemos neste detalhe um significado muito especial: não há concebido nem conceberá, mas receberá um filho. Por outra parte o TEXEI[futuro de tiktö, que numa mulher significa dar à luz] é normal se referindo a uma mulher. Falta falar sobre o nome que neste caso é Jesus. O nome em hebraico era Yehoshuah, o mesmo que Josué. Trata-se de um nome teofórico, cujo primeiro elemento é Yahu (= Yahweh); e o segundo o imperativo do verbo Shu (=ajudar). O verdadeiro significado seria Senhor, ajuda-me, como grito de uma mãe no parto. Com o tempo,Yehoshuah foi abreviado em Yesuah ( Esd 2, 6), no grego Iêsué, nesta nova forma, derivada de uma raiz que significa salvar. Esta etimologia popular é a que Mateus usa para afirmar que ele salvará seu povo dos seus pecados (Mt 1, 21). Os exegetas dizem que a verdadeira raiz é ajudar.

O MESSIAS: Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo e lhe dará (o) Senhor o Deus o trono de Davi, o seu pai (32)Hic erit magnus et Filius Altissimi vocabitur et dabit illi Dominus Deus sedem David patris eius. MÉGAS: Este será grande. O Megas [grande] sem adjetivo, significa eminente, excelente, e devemos compará-lo com Lc 1, 15 sobre a grandeza de João o Batista, queseria grande diante do Senhor. Em Jesus, a grandeza não tem comparação: isso o equipara com Deus. Nos escritos de Qumrã temos o oposto a Jesus, falando de um rei: será grande sobre a terra. A grandeza absoluta está ligada ao poder e excelência de Deus. O adjetivo grande [megas] sempre vai unido a um nome ou uma explicação: grande no reino dos céus (Mt 5, 19); grande Rei (Mt 5, 35); grande diante do Senhor (Lc 1,15); grande profeta (Lc 7, 16). Nunca se diz unicamente será grande, que podemos traduzir por será o absoluto em grandeza, uma grandeza sem comparação. Essa grandeza da qual fala 1 Cr 16, 25: Grande [gadol=megasé o Senhor e mui digno de ser louvado. E como outro exemplo o salmo 48, 2: Grande é o Senhor [gadol Yahweh =megas Kyriose digno de louvor na cidade de nosso Deus, seu monte. Como não existe o superlativo nas línguas semitas o adjetivo só corresponde ao nosso superlativo: Jesus não têm comparação com homem nenhum.FILHO DO ALTÍSSIMO: Temos visto como o grego desta parte de Lucas é calcado no grego dos Setenta do AT. Por isso o Kai que precede ao Filho do Altíssimo será chamado, pode ser traduzido por portanto ou porque será verdadeiro Filho de Deus, pois ser chamado é uma maneira de dizer, em hebraico, o ser que não é usado como copulativo nessa língua. Em Qumrã encontramos a frase num fragmento: será chamado por seu nome. Aclamá-lo-ão como filho de Deus e o chamarão Filho do Altíssimo. O Altíssimo [hypsistos] era um título atribuído a Júpiter e a expressão Theós Hypsistos[Deus Altíssimo] não é rara nas inscrições greco-romanas. Os judeus davam a Jahweh o título de‘Elyôwn <5945[mais alto, supremo, altíssimo] como em Sl 7, 18: ou 17: cantarei louvores ao nome do Senhor Altíssimo,cantabo nomini Domini altissimi [Yahweh Elion=Kyrios tou Hipsistou]. Os mesmos substantivos em grego e em hebraico aparecem em outras passagens dos salmos como 18, 13 [hebraico] ou 17, 14 na Setenta. TRONO DE DAVI: E o Senhor Deus [Kyrios ‘o Theós] dará a ele o trono de Davi, seu pai. No NT Senhor Deus só sai nos Atos (2, 39 e 3, 22) e no Apocalipse (1, 28; 22, 5 e 22, 26). Em todas elas a expressão grega Kyrios ‘o Theós é exatamente reproduzida. Nesta breve frase deveríamos colocar o verbo ser entre os dois substantivos: Senhor é Deus ou Senhor que éDeus. Que traduz o Yahweh Elohim do segundo capítulo do Gênese e que a Setenta traduz por ‘o Theos [2, 8]ou por Kyrios ‘o Theós [2, 15].  Sobre o trono de Davi devemos afirmar que esse trono era como propriedade de Yahweh e retirado o reino da casa de Saul, é estabelecido o trono de David (2 Sm 3, 10). Em 1 Rs 2, 45 esse trono se afirma estar firme na presença do Senhor para sempre, coisa que Isaías diz estar assentado e afirmado para sempre (9, 6). Jeremias dirá que desse trono haverá reis herdeiros do mesmo (22, 4). Por isso tudo vemos que as palavras do anjo se referem a um rei que é descendente de Davi.

O REINADO: E reinará sobre a casa de Jacó para sempre e seu reino não terá fim (33). Et regnabit in domo Iacob in aeternum et regni eius non erit finis REINARÁ: Sobre a casa de Jacó. Não unicamente sobre Judá mas sobre todas as tribos de Israel ou Jacó. PARA SEMPRE [eis tous aionas, para os séculos ou gerações]; e seu reino não terá fim. Evidentemente o anjo alude ao rei messias. A frase é uma repetição da profecia de Daniel sobre o filho do Homem cujo império é um império eterno que jamais passará e seu reino jamais será destruído (Dn 7, 14). É o último reino que vencerá todas as eventualidades e instabilidade dos séculos.

COMO SUCEDERÁ: Mariam, porém, disse ao anjo: Como será isso, visto que não estou conhecendo varão? (34)Dixit autem Maria ad angelum quomodo fiet istud quoniam virum non cognosco.COMO SERÁ ISSO? Existe intervenção de Maria no diálogo: Como se fará isso, visto que não tenho relação com esposo algum? O texto fala de não conheço varão ou marido. Assim comoginé[mulher] é o mesmo que gameté [esposa], aner [homem] (Mt 1, 16) substitui nýmfios [esposo jovem] (Mt 9, 15) ou gametês [homem casado], porque Lucas usa aner e não anthropos, este não tendo mais significado que o de homem em geral, ou melhor um ser humano. O grego emprega arsenou arren [macho] e thêlys [fêmea] para distinguir os gêneros como em Gl 3, 28. Talvez Maria dissesse simplesmente não estou casada ainda. Os comentaristas católicos falam de um voto particular. Era um voto perpétuo, ou era um voto temporal como o de Nazireato (Nm 6,4)? Ou um recurso literário para que o anjo explicasse o modo extraordinário da concepção? Evidentemente, como introdução, o texto serve para iniciar o discurso angélico sobre a concepção virginal. Mas é lógico presumir que existia algum impedimento, pelo menos temporal, para uma concepção imediata, de quem, desposada com José,  ainda era virgem.  Se o parthenos [=virgem)] inicial do relato não fosse suficiente, e se o enmesteumene [desposada] suscitasse alguma dúvida, esta pergunta de Maria nos coloca frente a sua virgindade como fato que mais tarde se tornaria opçãopraticamente coerente e necessária, que tornaria sua ulterior virgindade uma lógica dedução natural. Por isso os gregos se dirigem a Maria como aei parthenos [=sempre virgem]. A virgindade de Maria foi sempre uma crença da Igreja, especialmente da Igreja Oriental, que no Ocidente levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem (número 249 do catecismo da Igreja Católica). O negrito é do autor. A Vetus Latina traduz quoniam virum non cognovi[porque não tive relações com um homem] indicando que a conceição seria imediata ou que estava pronta a se tornar nesse momento grávida. E pede uma explicação.

OBRA DE DEUS: E tendo respondido o anjo disse-lhe: Espírito divino descerá sobre ti e poder de Altíssimo te fará sombra; portanto também o gerado sagrado, será chamado Filho de Deus(35). Etrespondens angelus dixit ei Spiritus Sanctus superveniet in te et virtus Altissimi obumbrabit tibi ideoque et quod nascetur sanctum vocabitur Filius DeiO ESPÍRITO: Na realidade a tradução literal seria descerá sobre ti um espírito sagrado [sem artigos] ou seja um poder divino. A expressão Espírito Santo só aparece no NT 93 vezes das quais 25 nos evangelhos. Das 12 vezes que aparece em Lucas, somente três têm o artigo O, indicando nome próprio ou pessoa. As outras 9 estão sem artigo, e podem indicar um poder especial divino como a profecia (1, 41) ou uma ação especial divina como neste caso, sem implicar a 3a pessoa da Santíssima Trindade. Poderíamos traduzir: descerá dobre ti um poder da parte de Deus. (o) PODER[dynamis]DO ALTÍSSIMODynamis pode ser traduzido como força, energia, poder, potência. Será, pois uma atuação poderosa de Deus, como criador, diante do qual nada é impossível como dirá Gabriel no final desta conversa, a que atuará diretamente sobre Maria para iniciar a gravidez. COBRIR-TE-Á COM SUA SOMBRA. Evidentemente é uma referência à sombra da shekinaha nuvem que cobria a Tenda da Reunião e a glória de Yahweh enchia a habitação. Não é só a dynamis mas a presença do próprio Senhor da dynanis. Daí que a Igreja chame Maria de esposa do Espírito Santo, porque foi obra dele que Maria concebesse e assim substituisse o labor do homem no nascimento de Jesus. Assim o explica na última frase o anjo.SANTO, FILHO DE DEUS: A mensagem do anjo prossegue num crescente revelado, desde que seria mãe do Rei Messias [seu filho reinará para sempre] até a revelação final de que  sua concepção seria virginal, devida ao poder divino. Conceição virginal, não como privilégio mariano, mas como estrita lógica de o concebido ser um ser sagrado [‘agios] completamente diferente de qualquer outro ser humano, porque a paternidade desse filho procede de Deus. O Espírito Santo, que é classificado  como o poder divino, será a causa de que o nascido seja também realidade divina [será santo, melhor sagrado] e, portanto, chamado com razão verdadeiro Filho de Deus. Esta expressão adquire maior relevo se consideramos que o óvulo feminino só foi descoberto no final do século passado, e de que a crença comum e científica da época era de que a semente do novo ser gerado dentro de uma mulher, só dependia do varão, sendo o útero feminino o fértil campo em que essa semente era guardada e cultivada. Como exemplo em  Êx 1,16 e 22 o Faraó manda matar só os nascidos varões e deixa viver as filhas, porque estas não poderiam gerar descendentes hebreus. O filho nascido seria legalmente também Filho de Deus por ser a mulher considerada uma escrava, sem direitos civis, e realmente porque não se admitia por parte da mesma, papel essencial na geração, pois o descendente dependia unicamente da semente masculina. Daí que o versículo que estudamos, claramente indica, com a procedência, a sobrenaturalidade da origem de Jesus. Verdadeiramente era Filho de Deus. Hoje que sabemos do papel da mulher com seu óvulo, podemos dizer que nesse óvulo feminino o Espírito Santo fez o papel masculino de fecundá-lo. Daí que com maior razão podemos hoje afirmar que Maria é verdadeiramente mãe de Deus e que a primeira carne de Jesus foi totalmente Mariana. O antigo catecismo que não conhecia o óvulo feminino declarava: o Espírito Santo do puríssimo sangue de Maria formou um corpo. O corpo de Jesus era totalmente Mariano. Hoje a ciência admite uma partenogéneses sempre que o feto seja feminino, ou seja, deverá ter um genoma igual ao da mãe, sendo um clone da mesma. Até admite essa mesma ciência que em casos extraordinários o feto possa ser também masculino. A vida de Jesus, nosso Salvador se inicia, pois, num milagre feito dentro do corpo de Maria.

EXEMPLO DE ISABEL: E eis que Elisabet, tua consanguínea, também ela concebeu um filho, em sua velhice e este é o sexto mês para ela a chamada estéril (36). Et ecce Elisabeth cognata tua et ipsa concepit filium in senecta sua et hic mensis est sextus illi quae vocatur sterilis. Sempre que existe uma revelação extraordinária, Deus dá um sinal externo visível por todos e não unicamente pelo vidente, para confirmar as palavras ouvidas. Tal foi o caso de Moisés com a vara transformada em serpente e a mão no peito coberta de lepra (Êx 4,1-9). No nosso caso foi Isabel, já infértil [estéril] que agora tem um filho de seis meses no ventre por graça de Deus.

DEUS TUDO PODE: Porque não será impossível para Deus toda palavra (37). Quia non erit inpossibile apud Deum omne verbum. Quer dizer que o que ele anuncia deve cumprir-se necessariamente. Palavra [rëma<4487>=verbum] é diferente de Logos. Rëma é um mandato, uma decisão, um oráculo ou promessa, e até um fato. Aqui devemos entender um compromisso, ou palavra dada. RËMA é a tradução grega do Dabar como em Gn 18, 14: Haveria coisa alguma difícil ao SENHOR? Em boa lógica poderíamos traduzir porque não será impossível para Deus qualquer coisa.

A RESPOSTA: Disse então Maria: Eis aqui a escrava do Senhor. Cumpra-se em mim a tua palavraE se afastou dela o anjo (38). Dixit autem Maria ecce ancilla Domini fiat mihi secundum verbum tuum et discessit ab illa angelus Maria aceita a proclamação do anjo e aceita ser a esposa do Espírito Santo. Nesse momento temos um matrimônio consumado e um filho concebido. Maria é esposa do Espírio Santo e mãe do Verbo nesse momento Encarnado. OBSERVAÇÕES: Como Maria se vê a si mesma? Ela se considera insignificantecomo uma escrava (Lc 1,48) Por isso a saudação extraordinária do anjo a perturba grandemente(29). Finalmente Maria dará seu consentimento com as mesmas palavras com as quais uma desposada admitia seu esposo: Eis a tua escrava. Cumprirei as tuas palavrasMaria se torna assim esposa do Espírito Santo. José será o representante legal do filho e da mãe, mas o que realmente abriu seu ventre em expressão bíblica foi um ato divino de um Deus, para quem nada é impossível (37). Destarte Maria entrou a formar parte dessa família que é a Trindade e da qual todos os salvos por Jesus seremos familiares. Daí deduzimos com razão que a salvação de Maria deu-se de forma total nessa sua aceitação livre e voluntária, no momento da Encarnação. Ela já está unida a Deus, uno e trino, como mãe e como esposa. Sua exaltação, na hora da morte, o que chamamos Assunção, tem unicamente como raiz este momento crucial de sua vida.


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

- A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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13.12.2020
3 º Domingo do Advento — ANO B
( Roxo, Creio, Prefácio do Advento I – III Semana do Saltério )
__ “...no meio de vós está aquele que vós não conheceis
...eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias.” __

EVANGELHO DOMINICAL EM DESTAQUE

APRESENTAÇÃO ESPECIAL DA LITURGIA DESTE DOMINGO
FEITA PELA NOSSA IRMÃ MARINEVES JESUS DE LIMA
VÍDEO NO YOUTUBE
APRESENTAÇÃO POWERPOINT

Clique aqui para ver ou baixar o PPS.

(antes de clicar - desligue o som desta página clicando no player acima do menu à direita)

Ambientação:

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Recordamos, neste domingo, que a preparação para o nacimento de Jesus tem como característica a alegria. jubilosos, vivenciemos este tempo de espera, certos de que o Senhor vem à nós! (Sugestão: Preparar as quatro velas do Advento e acender a primeira logo após a procissão de entrada.).

INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Irmãos e irmãs, sejam bem vindos! O Senhor vem ao nosso encontro e a certeza de sua chegada nos alegra profundamente o coração. Aos poucos, a Boa Notícia da vinda de Nosso Salvador vai preenchendo todo nosso existir e, enquanto o aguardamos, saborearemos a sua presença viva e ressuscitada nos sinais eucarísticos. Que esta nossa participação faça crescer em nossos sentimentos, aquele desejo firme de realizar a vontade do Senhor, para que Ele, ao chegar, nos encontre empenhados pelo seu Reino.

INTRODUÇÃO DO WEBMASTER:O Deus que vem quer ser pobre; contesta as imagens que espontaneamente dele fazemos, e vem ao nosso encontro numa dimensão incomum para uma religião. Mas esse Deus diferente despertará muito mais a fé daqueles que procuram uma religião autêntica. Toda uma linha profética havia apresentado aos israelitas o Messias segundo as categorias do poder, da vitória, do domínio universal; isso, aliás, correspondia à experiência do Exodo, que permanece o ponto de referência necessário para o Deus da Aliança. Mas sobretudo com o exílio, que favorece a reflexão sobre a aliança e sua interiorização, o Deus de Israel e Aquele que ele consagra para a missão de salvador do povo são encarados sob uma luz nova, mais espiritual e mais simbólica também; e, do mesmo modo é encarada a missão e seus destinatários. Os pobres são mais disponíveis para o alegre anúncio da salvação, pois não se apoiam em sua suficiência pessoal ou na segurança material, e estão atentos, à escuta da palavra de Deus e capazes de uma fidelidade simples e firme à sua lei. O terceiro Domingo do Advento é também chamado “Domingo da alegria”, porque apresenta um forte sentimento de júbilo diante da perspectiva iminente do Natal. É também dia da Coleta Nacional da Campanha para a Evangelização da Igreja no Brasil. Aproveitemos esta oportunidade para demonstrar nossa generosidade e espírito de comunhão eclesial, por meio da colaboração nas coletas de hoje, destinadas a consolidar a evangelização.

Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, cantemos cânticos jubilosos ao Senhor!


(coloque o cursor sobre os textos em azul abaixo para ler o trecho da Bíblia)


PRIMEIRA LEITURA (Isaías 61,1-2.10-11): - "O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção."

SALMO RESPONSORIAL Lc 1: - "A minha alma se alegra no meu Deus!"

SEGUNDA LEITURA (1 Tessalonicenses 5,16-24): - "... para o Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como um dia."

EVANGELHO (João 1,6-8.19-28): - "Endireitai o caminho do Senhor, como o disse o profeta Isaías."



Homilia do Diácono José da Cruz – 3º DOMINGO DO ADVENTO – Ano B

"A FORÇA DO TESTEMUNHO!"

Quando alguém em nosso meio se destaca, na arte, na cultura, na política ou no esporte, fazendo algo diferente e estando muito acima da média, logo se torna famoso e importante, e diante disso, somos aguçados pela curiosidade em conhecê-lo, saber quem é essa pessoa, como ela vive no seu dia a dia, onde mora e o que faz quando está longe do público.Mais ainda, o que ela pensa sobre certas coisas, qual a sua opinião diante de temas polêmicos. É isso que faz certos programas de TV, ou pela Internet, que mostra aos fãs como vivem seus ídolos. Alguns são bem autênticos e até cultivam valores positivos, que através de revistas, jornais ou programas de auditório, passam aos jovens ajudando-os a viver melhor. Mas há também aqueles que infelizmente, sendo uma referência negativa e em nada contribuem no exemplo que dão aos nossos jovens.

Quando João Batista apareceu no deserto, ele não veio do nada e nem caiu do céu, mas é alguém que fez uma opção de vida, porque se sentia enviado por Deus para uma missão especial: anunciar a todos que o Reino já tinha chegado e era preciso se tomar diante dele uma decisão.Sua pregação tão enérgica, o modo austero que vivia no deserto logo chamou a atenção, naquele tempo havia muitos pregadores do messianismo, anunciando o fim do mundo, não diferente de hoje, mas o Batista se destacava de todos porque não se colocava como modelo de uma nova religião ou seita, mas anunciava alguém que representava a verdadeira renovação espiritual que o homem precisava, ele não queria seguidores para si, mas preparava as pessoas para seguirem o verdadeiro Mestre e Profeta de Israel que era Jesus Cristo.

O seu testemunho firme e inequívoco logo preocupou os judeus, que mandaram os representantes da religião oficial para interrogá-lo, pois tinham medo que ele fosse o messias prometido. Mas o Batista logo desfez essa mentalidade distorcida á seu respeito, ao afirmar “Eu não sou o Messias!”. Pronto! Estava desfeito o equívoco, João não era o Messias, nem Elias e nem o profeta, causando mais expectativa nos seus Interlocutores, que querem saber quem o autorizou a pregar, pois precisam levar uma resposta aos poderosos e líderes religiosos. No fundo a questão que preocupa as lideranças religiosas é só uma: quem é esse Deus que enviou João Batista, sem que ele tivesse uma linhagem profética ou fosse a reencarnação de um profeta famoso, a religião da manipulação não admitia outra linha de pensamento.

Em uma sociedade marcada por tantas correntes religiosas e eclesiologias diferentes, por ideologias enlatadas e rotuladas, é proibido pensar e viver diferente, por isso, naquele tempo, o povo, cansado da religião dos holocaustos, dos ritos purificatórios , jejuns e preceito sabático, acorre para João, atraídos pela novidade que ele anuncia, novidade que já está no meio deles e que em breve iria se manifestar.

Quem fica parado é poste, quem fica na mesmice cria bicho como uma água parada, viver a religião significa antes de tudo renovar-se constantemente, uma renovação que só pode acontecer quando abrimos a porta da nossa vida para acolhermos o novo que é Jesus Cristo - Filho de Deus, enviado do Pai, e que sempre inverte a ordem estabelecida, para desespero dos que não querem mudanças, nem na ordem social econômica e muito menos na religiosa. Nenhuma comunidade cristã deve ser tão fechada, a ponto de não aceitar que Deus tenha seus “enviados” como João, que anuncia algo novo.

O batismo dado por João, feito com água, é apenas o primeiro passo de quem ouviu e aceitou esse anúncio, e cheio de alegria se prepara para receber quem já está no meio do povo, e que irá marcar para sempre o homem com o verdadeiro batismo, tornando-o filhos e filhas queridas de Deus.

Podemos nos perguntar diante de Deus, neste terceiro domingo do advento, se o nosso modo de viver e pensar são um testemunho firme como o de João ou, embora cristãos, não passamos de “Maria vai com as outras”, curvando-nos diante de tantos valores que o mundo coloca diante de nós como absolutos, e que por isso mesmo, acabam roubando em nossa vida, o lugar que só pertence a Deus. Enfim, que testemunho é o nosso?

José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail  jotacruz3051@gmail.com


Homilia do Padre Françoá Rodrigues Costa – 3º DOMINGO DO ADVENTO – Ano B

“A luz da prudência”

Cristo é a luz e João é a testemunha da luz. Uma vida iluminada testemunha a existência da graça. Mas, como não se percebe a graça com os sentidos, se lhe reconhece através dos efeitos: quem tem Cristo sabe qual é o sentido da sua vida e age em consequência.

Como se sabe a prudência é a virtude que visa o reto agir, é a virtude do bom governo. E todos nós precisamos governar algo, sempre: a própria vida, as decisões, a família, o trabalho, os empreendimentos etc. Precisamos, portanto, daquela reta razão, que é uma luz, que nos ajuda a fazer bem o que temos que fazer em cada momento. É bem conhecido aquele conselho de S. Bernardo de Claraval: “qui sapiens est doceat nos, qui sanctus est oret pro nobis, qui prudens est gubernet nos!”; agora em português: “que o sábio nos ensine, que o santo reze por nós e que o prudente nos governe”.

Há mulheres impressionantes, que tem um bom senso e uma maneira de aproveitar o tempo que causa verdadeira admiração: trabalham meio período na casa dos outros e são eficazes tanto no trabalho de fora como na própria casa. A mulher prudente se entrega ao serviço de todos com um sorriso nos lábios: educa os filhos, faz a comidinha do marido, reza o terço, consegue tempo para ler um bom livro e ainda ajuda a fazer os deveres de casa da criançada. Há outras que são tão imprudentes que ainda que tenham duas empregadas em casa são um verdadeiro desastre: estão sempre correndo atrás de algum atraso, atrapalhadas, não encontram nada na própria bolsa… Coitadas! Falta-lhes prudência para governar a própria vida e a própria casa.

Sem dúvida também são imprudentes aqueles homens que não sabem se posicionar nem na própria casa, vivendo uma vida como a daquele marido que estava contando a um amigo como era o seu fim de semana: “é muito divertido – dizia ele –, pois eu leio, toma a minha cervejinha, durmo, vejo um bom filme”. O amigo, interessado na vida nada atormentada daquele sujeito, pergunta: “E a sua esposa? Ela também se diverte muito?”. Ao que o amigo responde: “Claro que sim, ela pinta”. “Puxa, que legal – diz o outro –, eu não sabia que ela era pintora. E o que ela pinta? Telas, porcelanas…”. Ao que o marido daquela senhora responde: “Não. Ela pinta as paredes: num fim de semana ela pinta um quarto; noutro, a cozinha; noutro ainda, a sala; e assim por diante”.

Esse marido imprudente está procurando, no mínimo, a separação, por mais que ele diga que ame a esposa. A pessoa prudente, ao contrário, procura adiantar-se aos acontecimentos porque é previdente, é capaz de ver a situação dos outros, de analisar as coisas com base na própria experiência e na de outros; o prudente encontra tempo para tudo. A pessoa que pratica a virtude da prudência não é necessariamente um gênio, é simplesmente uma pessoa que se deixa guiar pela reta razão, pela luz natural da razão e pelo bom senso.

No cristão, a virtude cardeal da prudência é uma disposição elevada pela graça de Deus. A luz de Cristo, da qual João Batista foi testemunha, iluminou também as nossas vidas fazendo-nos as suas testemunhas. Um discípulo de Cristo sempre terá tempo para Deus e para os outros; procurará administrar o seu tempo de tal maneira que possa fazer muito apostolado, em primeiro lugar na família e no trabalho, depois em outros lugares e circunstâncias; estará atento às necessidades da própria alma e dará o primeiro lugar à sua vida com Deus (oração, confissão, Missa dominical, devoção a Nossa Senhora etc.); se é estudante, procurará não atrasar matérias através de uma dedicação diária e intensa a cada disciplina; enfim, um homem de Deus, uma mulher de Deus, dependerá em grande parte do exercício da virtude da prudência para chegar à santidade e para conduzir os seus amigos a Deus.

No Tempo do Advento, é prudente, por exemplo, não deixar a confissão que prepara para o Natal para a última hora, pois quanto mais se aproximam as festas natalinas, mais aumentam as filas para as confissões. Como a prudência é uma luz que vai norteando, dirigindo a nossa vida para que atuemos bem em cada momento, não vamos deixar as coisas que dizem respeito à glória de Deus, ao bem da nossa alma e da dos demais para a última hora. Deus é o nosso fim, o nosso Sol, o nosso Norte; para ele e iluminados por ele somos encaminhados.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa


Comentário Exegético – 3º Domingo do Advento – Ano B
(Extraído do site Presbíteros - Elaborado pelo Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

EPÍSTOLA (1Ts 5, 16-24)

INTRODUÇÃO: É a última parte desta epístola, escrita na terceira viagem paulina cerca do ano 55, a mais antiga de suas epístolas, e com motivo principal de provar a ressurreição verdadeira de Cristo e espera da segunda vinda ou Parousia do mesmo. O trecho de hoje corresponde à parte final, com diversas advertências recalcando a oração e a confiança em Deus, de quem pede ajuda e bênção para esperar abençoado o dia da Parousia do Senhor Jesus Crsito.

ALEGRIA: Sempre alegrai-vos (16). Semper gaudete. SEMPRE [pantote<3842>=semper] como advérbio de tempo, como vemos em Mt 26, 11: Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. ALEGRAI-VOS [chairete<5463>=gaudete] Pode ser uma saudação no início de uma carta, equivalente ao salutem romano, como em At 15, 23: Escreveram o seguinte: Os apóstolos e os anciãos e os irmãos, aos irmãos dentre os gentios que estão em Antioquia, e Síria e Cilícia, saúde. Ou simplesmente parte de uma narração em que a alegria é grande como em Mt 2, 10, quando os magos reencontram a estrela: Vendo eles a estrela, regozijaram-se muito com grande alegria. Era também a palavra que usavam os gregos para saudação quando duas pessoas se encontravam, como foi o caso de Judas em Getsêmani: E   aproximando-se de Jesus, disse: Eu te saúdo, Rabi; e beijou-o (Mt 6, 20). Porém é uma característica de Paulo que escreve aos de Corinto: Como contristados, mas sempre alegres. Porque tendo sofrido muito pelo evangelho, pareceria ser um homem triste e abatido; mas na realidade, estava cheio de alegria interior. De onde vinha essa alegria? Ele encontrava-a em Cristo. Daí seu conselho: Alegrem-se sempre no Senhor. Repito, alegrem-se nEle (Fp 4, 4).

ORAÇÃO: Sem cessar orai (17). Sine intermissione orate. SEM CESSAR [aialeiptös <89>= sine intermissione] ou constantemente, como em Rm 1, 9: Deus, a quem sirvo em meu espírito, no evangelho de seu Filho, me é testemunha de como incessantemente faço menção de vós. Na mesma epístola sai outras duas vezes (1, 2 e 2, 13). Lucas também insiste nesta oração contínua com a parábola da viúva, falando sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer (18,1). A oração contínua e perseverante é um tópico de Paulo que em Rm 12, 12 pede perseverai na oração, coisa que repete aos colossenses: Perseverai em oração, velando nela com ação de graças (4,2) e que afirma ser uma prática constante nele: Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito (Ef 6, 18). Parece que a razão de pedir oração como parte da vigilância, era o sentimento comum da primitiva Igreja de que o fim das coisas estava próximo por causa do advento [parousia] do Senhor: Já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração  (1 Pd 4, 7).

AÇÃO DE GRAÇAS: Em tudo dai graças, pois esta (é) vontade de Deus em Cristo Jesus para vós (18). In omnibus gratias agite haec enim voluntas Dei est in Christo Iesu in omnibus vobis. É uma constante de Paulo esta da ação de graças, como vemos em Ef 5, 20: Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. E em Cl 3, 17: quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai. Como vemos, é uma maneira de viver a vida em conformidade com os ensinamentos de Cristo e que Paulo diz é VONTADE [thelëma<2307>=voluntas] o querer, que constitui praticamente o mandato de Deus para entrar no reino (Mt 6, 10). Porque o mesmo Jesus afirmou que desceu do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo 6, 38). E sendo Deus o Bom (Lc 18, 19), é com certeza que fazer o bem é o motivo da criação, como lemos no fim de cada dia no Gênesis: E viu Deus que era bom (1, 10). De modo que se queremos formar parte do Reino, teremos que fazer a vontade do Pai (Mt 7, 21): Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, que vemos confirmado em Lc 6, 46: por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo? Sempre que usamos a palavra Senhor, estamos diante de uma suprema vontade, como os olhos dos servos atentam para as mãos dos seus senhores, e os olhos da serva para as mãos de sua senhora, assim os nossos olhos atentam para o SENHOR, nosso Deus (Sl 122,2). A ação de graças é expressa com o verbo EUCHARISTEITE [<2168>=gracias agite] como Jesus na instituição da Eucaristia: Tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado (Lc 22, 19), o mesmo que com o cálice do vinho. Também foi o modo de iniciar a multiplicação dos pães (Jo 6, 11), de modo que a bênção do pão antes da comida é a eucaristia familiar em que o pão é reconhecido como dádiva divina que deve ser respeitado. Antigamente se beijava quando caía e jamais era desprezado como lixo.

O ESPÍRITO: O Espírito não extingais (19). Spiritum nolite extinguere. EXTINGAIS [sbennyte<4570> =extinguere] é o imperativo do verbo sbennymi com o significado de apagar ou extinguir, como em Mt 12, 20: Não quebrará a cana pisada, nem apagará o pavio que ainda fumega, até fazer com que a justiça alcance a vitória. O Espírito está no lugar de seus dons ou carismas, que tão bem descreve Paulo na carta aos de Corinto. Esse Espírito, que não deve ser entristecido, como diz em Ef 4, 30 e que Timóteo recebeu como profecia, com a imposição das mãos de Paulo (1 Tm 4, 14). De fato, era deste modo como as primitivas igrejas recebiam a consolação do Espírito, que por isso era chamado de Parákletos ou Consolador.

PROFECIAS: Profecias não desprezeis (20). Prophetias nolite spernere.  PROFECIA [profëteia<4570>= prophetia], nome que achamos na lista de 1 Cor 12, 10. É um dos carismas e talvez o mais apreciado por Paulo (1 Cor 14, 1). Sua missão não era propriamente a de predizer o futuro, mas a de iluminar e orientar, em nome de Deus, a vida da comunidade.  Quando falta essa palavra, o povo se sente como órfão. O nascimento de Jesus é rodeado de profetas: Isabel, Simeão, Ana, o Batista. Jesus é também um profeta: Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa (Mt 13, 57). E faz partícipe a sua Igreja desse dom profético: Nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; E os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão (At 2, 17). Fato que Paulo declara ser habitual em 1 Cor 1,14 e 12, 28-29, e no meio dos efésios em 2, 20 e 4, 11. De modo que pede aos de Corinto que optem por esse dom, sem descuidar o de línguas: Procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas (1 Cor 14, 39). Porque é sobre apóstolos e profetas que a fé está edificada: sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas (Ef 2, 20). Por isso dirá Paulo do carisma profético, que está em segundo lugar: Pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas (1 Cor 12, 28). Assim entendemos que, faltando os apóstolos, os profetas devem ser a base de uma Igreja estabelecida.

EXAME: Examinai todas as coisas; o que é bom retende (21). Omnia autem probate quod bonum est tenete. EXAMINAI [dokimazete<1381>=probate] é o verbo usado por Lucas em 14, 19: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los. É o verbo usado por Paulo para que antes da comunhão eucarística, cada fiel examine-se, a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. RETENDE [katechete<2722>=tenete] com o significado de deter ou reter como em Lc 4, 42: (Jesus) foi para um lugar deserto; e a multidão o procurava, e chegou junto dele; e o detinham, para que não se ausentasse deles. Ou Paulo que bem quisera conservar comigo (Onésimo), para que por ti me servisse nas prisões do evangelho. Que coisa Paulo considera boa para a ela se agarrar? Escutemos suas próprias palavras: Na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo (Fp 3,8). Para Paulo, Cristo é o único bem, e com Cristo encontra os bens contingentes, mas que nEle têm bondade eterna: Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai (Fp 4, 8). É a parte positiva da moral cristã: antes de evitar o mal, devemos aprender a fazer o bem.

ABSTENÇÃO: De toda forma de mal abstende-vos (22). Ab omni specie mala abstinete vos. FORMA [eidos<1491> =species] além de forma é a aparência externa. Em Lc 9, 29 encontramos essa aparência: Estando ele (Jesus) orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui resplandecente. Aqui, neste versículo, não é só aparência, mas forma ou classe. MAL [ponëros <4190>=mala], em latim é adjetivo concordando com species e a tradução seria de toda espécie maligna. Mas pode ser substantivo no grego, e então temos que poneros é o mesmo que homem iníquo, como lemos em 1 Cor 5, 13: Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo. ‘O ponëros é o diabo como em Mt 13, 19: vem o maligno (diabo), e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho. E o neutro to ponërov é o mal, como em plural ta ponëra em Mc 7, 23: Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem. Em genitivo, como é nosso caso, pode ser neutro [mal] ou masculino [diabo] como vemos em Mt 5, 13, no fim do Pai Nosso: E não nos induzas à tentação; mas livra-nos do mal [ou do maligno]. O Espanhol e Português traduzem do mal e o italiano mais moderno do malo. Parece, pelo contexto, que devemos traduzir toda classe de mal. ABSTENDE-VOS [apechesthe<567> =abstinete] é o imperativo presente médio [reflexivo] de apechö: se distanciar, se abster ou privar, como em 1 Ts 4, 3: Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição. Muitos traduzem: Abstende-vos de toda aparência de mal. Talvez influenciados pela fama que os cristãos tinham de serem pouco religiosos e inimigos do gênero humano.  Creio que é suficiente com o que diz Pedro em sua primeira carta 3, 11: Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais que combatem contra a alma.

BÊNÇÃO DIVINA: Pois o mesmo Deus da paz vos santifique inteiramente e seja conservado íntegro o vosso espírito e a alma e o corpo, irrepreensíveis, na presença de nosso Senhor Jesus Cristo (23). Ipse autem Deus pacis sanctificet vos per omnia et integer spiritus vester et anima et corpus sine querella in adventu Domini nostri Iesu Christi servetur. SANTIFIQUE [agiasai<37>=sanctificet] do verbo agiazö consagrar ou tornar sacro, dedicar, purificar, como em Mt 23, 17: Que é mais importante? O ouro, ou o templo que torna o ouro sagrado? Ou como lemos em Jo 10, 36: Podem dizer àquele que o Pai consagrou e enviou ao mundo que blasfema, por ter afirmado: “Eu sou o Filho de Deus? Disto deduzimos que a vida deve ser consagrada a Deus, como diz Pedro do sacerdócio dos fiéis: Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pd 2, 9). INTEIRAMENTE [oloteleis<3651>=per omnia] na realidade oloteleis é um adjetivo que modifica o vós, e a tradução seria consagre vós ínteiros. É um ápax de NT. SEJA CONSERVADO [tërëthein <5083>=servetur] É o aoristo passivo de Tereö, guardar, preservar, reservar, deter, manter. Um exemplo é Jo 2, 10: tu guardaste até agora o bom vinho. ÍNTEGRO [oloklëron<3648>=integer], adjetivo neutro que coincide com pneuma e de significado completo, íntegro, intacto. O outro exemplo é Tg 1, 4: para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma. ESPÍRITO [pneuma<4151>=spiritus] ALMA [psychë<5590>=anima] CORPO [söma<4983> =corpus] é a divisão tripartida do ser humano próprio da filosofia do tempo. O Espírito em Gn 2, 7 era o nishmat <05397> que é traduzido ao grego por pnoë <4157>, alento de vida que é narrado como formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma [nefesh=psychë] vivente. Em Eclesiastes 12, 7 lemos: O pó volte à terra, como o era, e o espírito [ruah=pneuma] volte a Deus, que o deu. Temos pois os três elementos: ruah<07307> /pneuma<4151>, nefesh<05315>/psychë<5590> e basar<01320>/ soma<4983> formam o homem completo e como diz o versículo atual, esse homem deve ser íntegro e inteiramente conservado. IRREPREENSIVELMENTE [amemptös<274>=sine querella], que sai também na mesma carta em 2, 10: Vós e Deus sois testemunhas de quão santa, e justa, e irrepreensivelmente nos houvemos para convosco, os que crestes, como Paulo fala de sua conduta entre eles. NA PRESENÇA [en të parousia <3952>=in adventu]. Poderíamos traduzir na Presença de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo o En grego que é estático e com uma tradução Presença da palavra parousia. Mas no contexto anterior da mesma carta que é básico nela, temos um versículo que pode definir o assunto: Para confirmar os vossos corações, para que sejais irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos os seus santos (1 Ts 3, 13). Sem dúvida que esta Parousia ou Advento era tema essencial na primitiva Igreja. O Vigiai e orai, agora se manifesta em preparação completa como conduta irreprovável diante do julgamento universal. E temos também 1 Cor 1, 8: O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo.

DEUS FIEL: Fiel o que vos está chamando o qual fará também (24). Fidelis est qui vocavit vos qui etiam faciet. Do próprio Paulo temos uma explicação em 1 Cor 1, 9: Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Tendo Cristo, nesse momento, a vida eterna à direita do Pai, a comunhão com ele significa o triunfo com Ele na Parousia; e para isso, segundo o que temos visto no versículo anterior, fiel é o Senhor, que vos confirmará, e guardará do maligno (2 Ts 3, 3), de modo que  fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar (1 Cor 10, 13).

EVANGELHO (Jo 1, 6-8.19-28) - O VERDADEIRO TESTEMUNHO

INTRODUÇÃO: Neste Domingo, a Igreja apresenta o melhor testemunho sobre Jesus de Nazaré: O de João, o Batista. Ele é a testemunha oficial [profeta], reconhecido como tal pela imensa maioria de seus contemporâneos. O povo assim o reconhecia e os dirigentes não se atreviam a ir contra esta reputação, que incluía seu batismo, como sendo de divina disposição (Mt 21,25-27). Sua vida austera e incomum o colocava entre os especiais, como seres humanos. Para os judeus, que não acreditavam em super-heróis, ele era a palavra de Jahweh. E com tal palavra, ele se apresenta neste domingo para ser testemunha do maior ato que pode se lembrar com orgulho a humanidade: Deus se fez homem e habitou entre nós (Jo 1, 14). Veio como testemunha da luz (8). Na segunda parte, João testemunha sobre si mesmo, dizendo que é só a voz, o som [fone] que grita no descampado. E, ao mesmo tempo, dá o testemunho que podemos chamar de oficial: Estou preparando o caminho do Senhor, esse que vem após mim e do qual não sou digno de ser seu mais humilde escravo.

APARECEU: Apareceu um homem enviado da parte de Deus: seu nome, João (6). Fuit homo missus a Deo cui nomen erat Iohannes. EGENETO [fuit latino], que poderíamos traduzir melhor por surgiu, como um aparecer de um homem na História. É o aoristo do verbo ginomai que significa chegar a ser, nascer [no caso de uma pessoa], tornar-se, suceder [caso de um evento], aparecer num momento da história, ou em público de uma personagem, ou de um fato prodigioso, que de repente se produz. Logicamente aqui usaremos o Apareceu um homem enviado por Deus. Este apareceu é melhor tradução que o Houve um homem das bíblias vernáculas clássicas. Precisamente o enviado por Deus e o uso do egeneto indicam que sua presença nesse momento da História é um caso da providência e não um resultado de uma coincidência ou sorte casual. O sentido indica mais claramente a irrupção espontânea de Deus na História. Deus não depende do homem, nem do tempo, nem das circunstâncias; mas escolhe a sua intervenção, segundo seu bel prazer, que não é caprichoso nem irresponsável, mas voluntarioso, livre e compassivo com as necessidades humanas. É o que Paulo chama de Kairós: o tempo propício, conveniente e até poderíamos chamar de necessário.

ENVIADO: A palavra é derivada do verbo apostellö cuja raiz está em apóstolo, um mensageiro com uma determinada função. Como apóstolo, João é o último do AT e precede ao primeiro do NT. Não pregará o Reino, mas está diretamente ligado a ele, pois proclamará a iminente proximidade do mesmo. Em João vemos uma mistura de pensamentos: Ele estará certo ao afirmar a nova Era em que está entrando a humanidade. Certo em apontar o novo homem-Messias como cordeiro de Deus que com seu sacrifício tira o pecado do mundo (Jo 1, 29). Pecado, em singular, para indicar que os pecados individuais são frutos das condutas e responsabilidades de cada homem em particular. Jesus, em termos gerais, reconcilia a humanidade; em termos particulares, essa reconciliação e perdão requerem a metânoia de cada indivíduo em particular. Porém, o Batista erra ao apontar detalhes circunstanciais de um juízo, como sendo o ambiente do novo Eón. Apresenta o dia de Jesus como os antigos profetas apresentavam o dia de Jahweh: terrífico e violento. Um dia de ira (Lc 3, 7). Por isso o 4º evangelista, conhecida já suficientemente a verdadeira história da salvação, concentra unicamente o Batista na sua missão essencial: apontar e ser testemunha de Jesus, como sendo este a luz do mundo. Luz que ilumina todo homem (Jo 1, 9). Jesus reforma esse conceito errado do dia da ira do Batista, ao afirmar: Não vim julgar, mas salvar o que estava perdido (Lc 3, 17 e 19, 10). Não devemos esquecer que, dentro da mensagem do profeta, podem existir interpretações próprias, ou sugeridas pelo ambiente, que contribuam a uma certa deformação da realidade. Devemos distinguir o essencial, das circunstâncias ambientais. A este respeito me lembro que na mensagem de Fátima, quando os pastorinhos ouviram Rússia, pensaram que era uma má mulher que necessitava de conversão. É por isso que só o tempo pode nos dizer o que era realmente substancial e o que era circunstancial na profecia. PARÁ THEOU: Traduzido da parte de Deus [a Deo na Vulgata] seria melhor do que por Deus das bíblias vernáculas. Assim temos claramente quem era o mandante e de quem era o mensageiro. O ofício de João se identificava com sua missão. Os antigos profetas eram escolhidos e enviados por Deus e sua missão era a de ilustrar a fé, ou retificar a conduta de seu povo. Isso mesmo vemos em João; pois pede ao povo a retificação da conduta e, ao mesmo tempo, aponta a nova fé e esperança em Jesus. Seu ministério era preparar o caminho e apontar o verdadeiro Messias, como profeta do Altíssimo, segundo as palavras de seu pai, Zacarias, no momento do nascimento do filho (Lc 1, 76-77 ). SEU NOME, JOÃO: não existe o verbo ser de ilação entre nome e João. Por isso o temos traduzido no verdadeiro sentido do grego. JOÃO: Do hebraico Johanan [Deus, Jahweh, propício, ou Deus favoreceu]. Nas linguagens semitas o nome era a essência das pessoas. Em outras línguas, o nome identifica a pessoa e a separa como própria, distinta dos outros homens. No nosso caso, o nome de João o identifica com o filho nascido de Zacarias, sacerdote da classe de Abias, e sua mulher Isabel. Por nascimento, João era sacerdote e filho legítimo de dois pais da descendência de Aarão (Lc 1, 5). Ambos eram justos, isto é: cumpriam rigorosamente a Torah. De sua adolescência e juventude nada sabemos. Unicamente o encontramos com maioridade legal [maior de 30 anos], morando em lugares inóspitos.

VERDADEIRO MINISTÉRIO: Este veio para testemunha a fim de testemunhar sobre a luz, para que todos cressem por meio dele (7). Hic venit in testimonium ut testimonium perhiberet de lumine ut omnes crederent per illum. TESTEMUNHA: A finalidade da vida de João foi ser testemunha, não unicamente dar testemunho. O evangelista usa palavras próprias de um vocabulário jurídico: confissão, interrogatório, testemunho. Como testemunho estava sua palavra e seu gesto de apontar o novo Ungido, escolhido por Deus como luz, para que todos pudessem reconhecer a mesma na pessoa de Jesus de Nazaré. Implica isto que, não unicamente o povo da Galileia jazia nas trevas e viu uma grande luz, mas todo Israel e todo o mundo precisava dessa luz. A palavra e a vida desse homem-luz formariam o homem novo de que fala Paulo em suas cartas (ver Ef 2, 15, por exemplo). E assim como no antigo provérbio, Regis ad exemplum totus componitur orbis [a exemplo do rei se ordena todo o orbe], assim será na nova Aliança em que Cristo é Senhor e constitui um corpo, místico, mas real, com todos os batizados (Rm 12, 5). Como testemunha, temos sua vida, que foi a que atraiu com sua austeridade [nem comia, nem bebia] e, por isso, era digno de ser escutado como fonte de verdade. A Igreja tomou o lugar do Batista. Se ela quer ser ouvida, seu testemunho deve ser acompanhado pelo exemplo de sua vida. Os verdadeiros apóstolos são os que vivem o evangelho, não os que o pregam. LUZ: [fös em grego, lúmen latino, significa luz]. Na língua grega temos como sinônimos, feggos brilho, augé raio de luz como a de uma arma de fogo, e, finalmente, fös como termo geral de luz, a que verdadeiramente serve para iluminar e ver. Este é precisamente o significado próprio da luz que é o homem Jesus, o Emmanuel, no qual está encerrada a divindade, o Deus conosco. Não há nada melhor que olhar para a conduta desse homem para saber com certeza a conduta que deve ser a real e verdadeira de todo homem. Por isso, Mateus pode afirmar: O Povo que estava nas trevas viu uma grande luz (4, 16); essa luz que Lucas afirma deve iluminar as nações e ser a glória de Israel (2, 37). E que Jesus se atribui como sendo sua pessoa: Eu sou a luz do mundo e quem me segue terá a luz da vida (Jo 8, 17), e que repetirá de novo: Vim como luz do mundo, para que todo que crê em mim não fique nas trevas (Jo 12, 46). E ainda podemos acrescentar que os apóstolos serão também a luz do mundo e não a Escritura: Vós sois a luz do mundo (Mt 5, 14).  A diferença entre Cristo, e João e os apóstolos, é que, estes últimos não eram a verdadeira luz, mas eram luz enquanto testemunhas da luz verdadeira.  De João afirma o evangelista que era a lamparina [lu@xnoj, lucerna latina, que outros traduzem como lâmpada ou tocha] que arde e ilumina; vós, pois quisestes regozijar-vos com a luz, de momento (Jo 5, 35). Provavelmente, com esta segunda parte, o evangelista quer dizer que, até no seu tempo, existiam discípulos do Batista, como se este fosse a luz de suas vidas, contrariamente à luz verdadeira de Cristo. CRER: No início do cristianismo a fé era essencial. Era uma questão vital, como hoje dizemos. Diante do judaísmo, que exigia a Torah e do paganismo reinante que se alimentava do culto a Roma, o cristianismo propunha a fé no Messias, ou Cristo Senhor. O Batista apontava Jesus, como tal, e por isso seu testemunho conduzia à verdadeira fé.

O PARÊNTESE: Não era aquele a luz, mas para testemunhar acerca da luz (8). Non erat ille lux sed ut testimonium perhiberet de lumine. Evidentemente, aqui não existe nem narração, nem palavras citadas do Batista. É, portanto, um parêntese esclarecedor. A Luz verdadeira era o Logos (Jo 1,9). Mas a influência do Batista era tal, no fim do primeiro século, que poderia ser confundido com o Messias. E o autor sagrado repete o estribilho de que não era João o esperado como Luz, três vezes, de forma diferente nos três versículos 7, 8 e 9: para dar testemunho- não sendo luz mas testemunha- antes existia a luz verdadeira. Era ou não o Batista, luz? A resposta a dará o mesmo Cristo quando o declara a tocha [lychnos] que arde na noite (Jo 5, 35). O sol do dia era Jesus. Também o Batista tinha sua luz, mas não para iluminar a todos como é a luz do Sol, mas que ilumina uma determinada estância ou porção do caminho. Essa luz estava dirigida precisamente a iluminar a figura de Jesus para que pudesse ser contemplada em sua missão como quem devia vir. A CONCLUSÃO: João não era a Luz, com maiúscula, ou verdadeira, mas era só uma testemunha para apontar essa Luz. Luz e Messias estavam unidos. Os judeus modernos que acreditam em Jesus como Messias, aceitam como cumprida a profecia de Isaías 60, 3: E nações virão para tua luz e reis para o esplendor de teu surgimento na passagem de Atos 13, 47-48, que traduzem: porque assim Yaohuh Ul [Jahveh] nos determinou: Eu te constitui para luz dos gentios, a fim de que sejas salvação até os confins da terra.

SEGUNDA PARTE: TESTEMUNHO DE JOÃO SOBRE SI MESMO

O INTERROGATÓRIO: E este é o testemunho do João, quando enviaram os judeus de Jerusalém sacerdotes e levitas, para interrogá-lo: Tu quem és (19). Et hoc est testimonium Iohannis quando miserunt Iudaei ab Hierosolymis sacerdotes et Levitas ad eum ut interrogarent eum tu quis es. As palavras do Batista têm, segundo o evangelista, valor de uma afirmação, diante de um tribunal de ofício: um verdadeiro testemunho. ENVIARAM: Por que uma legação de Jerusalém, formada por Sacerdotes e levitas? Porque o caso do Batista era popularmente sério e rondava os flancos da legalidade religiosa. Como e com que direito, ele podia, em nome de Deus, se dirigir ao povo, sem passar pela censura do grande tribunal religioso? Somente um homem escolhido por Deus podia falar ao povo dessa maneira.

TESTEMUNHO PRIMEIRO: E confessou e não negou, mas confessou que não sou eu o Ungido (20). Et confessus est et non negavit et confessus est quia non sum ego Christus. O evangelista, primeiro, aponta um testemunho negativo: Não sou. Negar-se a si mesmo é a qualidade do discípulo de Cristo. O Batista nega ser o Cristo. Temos traduzido por Ungido a palavra grega Christos <5547> [o Christus latino]. Traduz um original aramaico que é Messiah. Eram os tempos de expectação, em que o Rei-Messias era particularmente esperado pelo povo.  Com esta declaração diante do tribunal [enviados como interrogadores oficiais da classe religiosa] o messiado do Batista está oficialmente julgado como inexistente. É um dos propósitos prováveis do evangelista.

OUTROS TESTEMUNHOS NEGATIVOS: E lhe interrogaram: Quem, pois, és tu, Elias? E diz: não sou. És tu, o profeta? E respondeu: Não (21). Et interrogaverunt eum quid ergo Helias es tu et dicit non sum propheta es tu et respondit non. O Verbo diz está em presente no grego original. A pergunta oficial de se é Elias é respondida com uma negação rotunda. O Batista nega ser Elias. Também nega ser o profeta. ELIAS: Todo o mundo conhece os dois primeiros: O Messias e Elias. O Messias, como ungido do Senhor, como Rei de Israel e Elias, porque se esperava que o profeta de Tesbi em Galaad, que não morreu, mas foi arrebatado, viria antes do Messias. (Galaad é precisamente a região onde o Batista exercia sua função em Bethabara). Os judeus falavam que, no segundo ano de Acaz, Elias se escondeu e não aparecerá até os tempos de Gog e Magog [esses tempos serão aqueles nos quais a provação de Israel será a última]. Também afirmavam que, antes da vinda do filho de Davi [o Messias], Elias viria para trazer as boas notícias do mesmo. No livro apócrifo de Enoch do século II aC, na sua complicada alegoria animalística da História, descreve-se o retorno de Elias antes do juízo e da aparição do grande cordeiro apocalíptico (!). E nesse mesmo século, se afirmava que Elias estava destinado a ungir o Messias. Disputando com S. Justino mártir, Trifão, o judeu (ano 150), dirá que o Messias não será reconheccido, nem terá qualquer poder, até que Elias venha e o torne ungido e o faça conhecer a todos. Outros falam de Elias como um Messias sacerdotal ao lado do Messias davídico. Em Malaquias 3, 23 [ou 4, 5, segundo outras versões] lemos: Eis que vos enviarei o profeta Elias antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor. Ele fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, para que eu não venha e fira a terra completamente [como um herém ou morte de todos]. Na realidade, ele não era Elias ressuscitado ou redivivo, mas o espírito com o qual o Batista anunciava os novos tempos, que era o mesmo que animava Elias. Como vemos em Lc 1, 17: Gabriel dirá a Zacarias que seu futuro filho irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, e explica essa conversão como converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado. Como vemos, é a citação de Malaquias, unicamente retirando a segunda parte da conversão, a do coração dos filhos para os pais. Que significava esta conversão [epistrefo, voltar a]? Os pais eram os antigos patriarcas e assim como eles eram os guardiões do estrito monoteísmo de Jahveh, e de suas promessas [a justiça do AT], essa mentalidade formaria os filhos, neste caso os contemporâneos do Messias. O PROFETA: Quem era o profeta, causa da terceira pergunta dos fariseus? Em Lucas 9, 19 temos uma questão semelhante quando Jesus pergunta sobre quem pensava a gente que era ele: na resposta entra Elias e um dos antigos profetas redivivo. Esse profeta era Jeremias, segundo afirmavam alguns rabinos e vemos em Mt 16, 14. Outros diziam que deveria vir um profeta, sem afirmar que fosse o próprio Jeremias, como dá a entender o versículo citado de Mateus. A razão de Jeremias é que ele foi constituído profeta para as nações (Jr 1, 5), sobre as nações e sobre os reinos (10) diante de toda a terra (18). Além disso, os judeus pensavam que fosse o profeta anunciado em Dt 18, 15: Jahveh, teu Deus, suscitará um profeta como eu [Moisés] no meio de ti, dentre teus irmãos, e vós o ouvireis. Rabi Judá diz que Jeremias como Moisés têm em suas vidas muitas coisas em comum, como os anos de profecia, o rio onde Moisés foi lançado e Jeremias num poço, e portanto, Jeremias é o profeta anunciado no Deuteronômio. Em 1 Mc 4, 41-50 se fala da espera de um profeta, capaz de resolver certos problemas legais, no estilo de Moisés. Os essênios de Qumrã seguiam as leis da Torá e as tradições, até que venha um profeta. Esta era a expectativa dos judeus no tempo de Jesus: Este é verdadeiramente o profeta que deve vir ao mundo (Jo 6, 14). Em Jo 7, 40: Ouvindo essas palavras diziam: esse é verdadeiramente o profeta! Diante dessa aclamação, os fariseus só tinham uma resposta: Estuda e verás que da Galileia não surge profeta (Jo 7, 52). Recentemente, se cogita que as três funções escatológicas sobre as quais o Batista foi interrogado, são os três personagens cuja vinda esperavam os essênios de Qumrã, que citamos, como dizendo: até a vinda de um profeta e os Messias de Aarão e Israel. O Batista nega qualquer identificação com estes personagens, porque ele não era a luz (8) e só reclama para si, ser a voz que grita no ermo.

QUEM ÉS TU?: Disseram-lhe, pois, quem és, para darmos uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes a respeito de ti mesmo? (22). Disse: Eu, a voz gritando no desabitado: Endireitai o caminho do Senhor, como disse Isaías o profeta (23). Dixerunt ergo ei quis es ut responsum demus his qui miserunt nos quid dicis de te ipso. Ait ego vox clamantis in deserto dirigite viam Domini sicut dixit Esaias propheta.  Como o interrogatório era oficial, o Batista devia dar uma resposta em conformidade com a pergunta: sou uma voz que grita. ERMO: Precisamente em português temos uma palavra que significa o erëmos grego, ou desertus latino, que mal traduzimos por deserto. Este último vocábulo significa um mar de areia como o grande deserto do Saara. Porém, o ermo, como o erëmos original, só indica um lugar desabitado, que poderia ser uma selva ou um sertão. ISAÍAS: Não sabemos se a citação foi feita pessoalmente pelo Batista, ou foi um inciso do evangelista. A citação original, tomada do próprio Isaías, diz, na sua primeira parte, o mesmo, com a única diferença de que, no lugar de euthynate [endireitai], o original grego traz etoimasate [preparai]. A segunda parte fala de tornar retas as veredas de Deus.  A causa de não citar esta última parte é talvez, o nome de Deus que identificaria Jesus, [o Senhor ou Messias] com Jahveh, [Elohim no massorético] coisa que não estava nos cálculos do Batista. Se, no original, era um grito do profeta para preparar a volta do povo do exílio babilônico, agora, o preparo era para a vinda do Messias.

UMA EXPLICAÇÃO: Pois os que foram enviados eram do grupo dos fariseus (24). Et qui missi fuerant erant ex Pharisaeis (24). Os interrogadores eram dos FARISEUS. É um inciso como para indicar: atenção! Vós, os fariseus, que fostes procurar a verdade! Aí a encontrareis: no testemunho oficial do Batista. Porque ele nega ser o Cristo, mas depois afirma que ele conhece quem devia ser considerado como tal. E vocês não o escutaram! Não vamos agora intentar explicar o significado da palavra Fariseu, mas as consequências que esse grupo trouxe para o Israel irredento. Após o desastre do Templo, os fariseus foram o único grupo formado que restou do antigo Israel. Opostos a Jesus como Messias, reuniram-se, no tempo em que o 4º  evangelho era escrito, em Jamnia, para trasladar por escrito a Torah falada [a Mishná] através das sentenças dos Tanaim ou rabinos mais influentes, do grupo dos fariseus e, assim, torná-la lei vinculativa para a posteridade. O parêntese do evangelista é um irônico comentário do ponto de vista da História Contemporânea.

A NOVA QUESTÃO: E perguntaram-lhe e disseram-lhe: Por que, pois, batizas se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? (25). Et interrogaverunt eum et dixerunt ei quid ergo baptizas si tu non es Christus neque Helias neque propheta. O BATISMO: uma vez obtida a resposta de quem era, os enviados argumentam sobre seus atos, um em especial, como era o batismo. Do Verbo Baptizö significa estar rodeado dentro do líquido e não o Baptö este último um mergulho temporário. Uma simples voz não tem o direito para reformar umas vidas, mergulhando-as, para ter uma nova existência. Somente os dirigentes religiosos do povo podiam fazer isto. A limpeza [declaração] do leproso era um paradigma de como existia uma autoridade central que determinava os direitos da palavra e da formação religiosa. Os enviados abririam uma exceção caso seja o Batista algum dos três enunciados. E então ele devia prová-lo com algum fato extraordinário, como pediram a Jesus (Mt 16, 1). Eis a pergunta: Por que batizas? Admitimos a autoridade desses sujeitos [Messias, Elias, o profeta], mas, se tu não és nenhum deles, como te atreves a batizar para a remissão dos pecados?

RESPOSTA DE JOÃO: Respondeu-lhes o João, dizendo: Eu batizo em água; porém, no meio de vós estava quem vós não tendes conhecido (26). Esse é o que vem depois de mim, antes de mim gerado, do qual eu não sou digno de modo a desatar as correias de sua sandália (27). Respondit eis Iohannes dicens ego baptizo in aqua medius autem vestrum stetit quem vos non scitis. Ipse est qui post me venturus est qui ante me factus est cuius ego non sum dignus ut solvam eius corrigiam calciamenti  Eis a resposta: Eu batizo só com água. Como quem diz: o verdadeiro batismo é feito em nome do outro que vem após mim. A esse, vós não o conheceis. ÁGUA: O batismo de João era uma imersão [não um mero mergulho] na água, como é o de uma limpeza externa; e ele dirá mais propriamente que o de Jesus era uma purificação no Espírito Divino ou uma consumação no fogo, dependendo de quem devia ser imerso (Mt 3, 11). Aqui João só fala do batismo por ele administrado, sem detalhar a diferença com o batismo a ser feito em nome de Jesus. O Espírito Santo [Divino melhor] era claro nos primeiros batismos em que o fenômeno da xenoglossia se tornava patente e visível, como um sinal da presença do Espírito [Pneuma agios]. Mas para os que não queriam receber o mesmo, estaria o fogo inextinguível onde a palha seria lançada, após ser separada do trigo (Mt 3, 12). E continua, afirmando que estava já no meio deles um desconhecido muito maior do que ele. É esta uma afirmação do passado, ou é uma confirmação do presente, quando foi escrito o evangelho e unicamente existiam os fariseus? Ambas podem ser verdadeiras. De todos os modos, era precisamente o que vinha atrás dele que lhe dava, como seu arauto e mensageiro, o poder para anunciá-lo e preparar o caminho diante de sua vinda próxima. Por isso se declara servidor ou escravo, que até o ato de amarrar as correias das sandálias [mínimo e mais ínfimo dever do mais desprezível dos escravos] ele não é digno de realizar. ANTES DE MIM: Como temos visto, o evangelista parece misturar fatos e ditos reais com reflexões posteriores, como bom catequista que não busca unicamente a história, mas persegue as consequências da mesma. Isso não diminui o valor histórico do relato. Na escrita do tempo, não existiam nem parênteses nem notas e tudo se realizava com uma mesma letra uncial sem a diferença entre o texto propriamente dito e os comentários do escritor. Porém, para a nossa exegese, é irrelevante. A verdade que interessa, não é tanto a verdade histórica, que, por outra parte, é uma realidade experimentalmente testemunhada, mas a verdade anunciada, que constitui o verdadeiro evangelho. O gerado [egeneto grego e factus est latino] indica, sem dúvida uma reflexão a posteriori do evangelista, pois é difícil que João pudesse ter, nesse momento inicial, o conhecimento da filiação divina de Jesus, recebido mais tarde, no dia em que Jesus foi batizado e ele, João, se constituiu testemunha da subsequente Epifania.

FINAL: Estas coisas sucederam em Bethabara do outro lado do Jordão onde estava João batizando (28). Haec in Bethania facta sunt trans Iordanen ubi erat Iohannes baptizans. BETHABARA: Estava batizando em Bethabara [casa do vau] segundo muitos manuscritos, ou Betânia segundo outros, e a Vulgata. Alguns manuscritos leem Betharaba, que é traduzido como casa no deserto; mas é uma tradução errada. Pois se Beth é casa, deserto não é ’Abarah <5679>, mas ‘Arabah <6160>. O sentido, pois, da palavra era casa do vau. Bethabara era um lugar desabitado [eremos em grego] ao outro lado do Jordão, que segundo Orígenes, pode corresponder com os vaus de Abraão, que estavam no caminho de Gileade. (Ver o número 05679 de Sprong no dicionário em que temos a tradução crossing place ou vau). Caso seja certo, o lugar estará mais perto da Galileia do que da Judeia; pois a cidade oriental cisjordânica é Citópolis. Por isso, João batizava em Enom perto de Salim (Jo 3, 23). Enom está, segundo nos afirmam os biblistas, perto de Citópolis. Coincidem assim as duas narrações dos capítulos 1 e 3. Mais, estando o vau tão perto da Galileia, entendemos como dentre os discípulos de João encontramos verdadeiros galiléus como André, Filipe e Natanael. Também podemos entender que Bethabara, ou Enom, estava no caminho de Jerusalém para a Galileia e passando Jesus por esse caminho o apontou a seus discípulos como o cordeiro de Deus (Jo 1, 36). Segundo Lucas, João veio por todos os arredores do Jordão proclamando um batismo de metânoia (Lc 3, 3). Isto implica que também o lugar de Bethabara estava dentro do percorrido do Batista. Marcos 1, 4 fala de que apareceu João no deserto [em te eremo] sem dizer que deserto era. Mateus afirma que era o deserto da Judeia [em te eremo tes joudaios] (Mt 3, 1). Porém é difícil pensar que fosse o deserto da Judeia, pois este não chegava até Jericó e estava ao sul do mesmo na desembocadura do Jordão e este era propriamente o Midbar hebraico, com o significado de estéril, desolado. Talvez a Judeia signifique aqui a atual Palestina. O ‘Arabah, com artigo, era o vale do Cedron, especialmente na sua parte oriental, mais perto do mar Morto. Podemos afirmar que o eremos grego traduz um lugar inóspito, ermo. É uma contradição que o Batista batizasse no deserto, junto ao Jordão precisamente numa região que é fértil e bem habitada. Segundo os comentários da bíblia de Jerusalém, o deserto da Judeia era a região montanhosa que se estendia entre a cadeia central da Palestina e a depressão do Jordão e do mar Morto. Não havia água suficiente para batizar. A esse deserto foi levado Jesus pelo Espírito e morava entre feras (Mc 1, 12). É difícil que houvesse feras no deserto próprio da Judéia, mas sim que existissem no lugar inabitado perto de Enom. Jesus foi batizado, segundo Lucas, no Jordão e voltou do Jordão e foi conduzido pelo Espírito Santo ao interior do deserto (4, 14). O deserto foi, sem dúvida, citado pelos evangelistas para que se visse cumprida a profecia do segundo Isaías, 40, 3, segundo a Setenta: Voz que clama no deserto. Mas o hebraico diz: Uma voz clama: preparai no deserto o caminho do Senhor. De Mateus e Marcos não podemos tirar uma conclusão geográfica certa. É João que nos deve conduzir a uma conclusão certa. Não queremos dar a última palavra, mas sim expressar novos pontos de vista, especialmente pelo que diz respeito ao evangelho de João, aparentemente contraditório com os sinóticos, mas que, histórica e geograficamente, está melhor avaliado atualmente e parece responder a uma testemunha ocular dos fatos. Pode ser que exista uma via intermediária que compagine tanto a visão de João como as aparentemente contraditórias dos sinóticos.

PISTAS:

1º) A Igreja hoje é o novo João que testemunha Jesus como Salvador. Não unicamente a Igreja oficial, que teve como encargo primário a guarda da palavra e a interpretação da mesma. Igreja somos todos nós, de modo especial os pais que preservam e ensinam a verdade de Jesus a seus filhos, tornando-os pelo batismo, filhos também de Deus.

2º) Mas dentro da Igreja, existe um outro testemunho que é o sinal divino: o milagre. É especialmente sobre este testemunho, como foi evidenciado pelos apóstolos, que como Paulo, podiam falar do poder dos sinais e dos prodígios, poder do Espírito, pelo qual o primitivo cristianismo foi fundado e estabelecido (Rm 15, 19). A Igreja exige esse poder para elevar os filhos mais heróicos à santidade. Ela, com o mesmo poder de Cristo, (Jo 20, 21), determina que o santo está no paraíso, seguindo o exemplo de Cristo que, pela primeira vez, declarou salvo o malfeitor: Hoje estarás comigo no paraíso (Lc 23, 43).

3º) Parece-me que estão totalmente equivocados os que não querem, ou relutam em admitir nos evangelhos o sobrenatural. Na realidade, o milagre é a rubrica de Deus à qual Jesus também apelava: Se eu faço as obras de meu Pai, muito embora não acrediteis em mim, crede nas obras (Jo 10, 38).

4º) Como João, a Igreja não só dá testemunho: Eu não sou o Cristo, sou a voz que prepara os caminhos. Mas também, como João, é a serva desse Senhor que proclama. E como serva, ela deve se humilhar até o mínimo dos serviços, esse que simbolicamente apontava João como sendo o de desatar a correia das sandálias. E o maior serviço que a Igreja pode dar é o do amor, especialmente aos inimigos. Por isso ela recebeu a faculdade do perdão, que deve ser dado sempre que exista arrependimento.

5o) Que o AT, reconhecido como palavra de Deus, é usado pelos evangelistas como uma prova mais importante que os próprios milagres para evidenciar o ponto essencial do Cristianismo: Jesus é o esperado (Ver II Pd 1, 19).


EXCURSUS: NORMAS DA INTERPRETAÇÃO EVANGÉLICA

A interpretação deve ser fácil, tirada do que é o evangelho: boa nova.

- Os evangelhos são uma condescendência, um beneplácito, uma gratuidade, um amor misericordioso de Deus para com os homens. Presença amorosa e gratuita de Deus na vida humana.
- Jesus é a face do Deus misericordioso que busca o pecador, que o acolhe e que não se importa com a moralidade ou com a ética humana, mas quer mostrar sua condescendência e beneplácito, como os anjos cantavam e os pastores ouviram no dia de natal: é o Deus da eudokias, dos homens a quem ele quer bem e quer salvar, porque os ama.

Interpretação errada do evangelho:

- Um chamado à ética e à moral em que se pede ao homem mais que uma predisposição, uma série de qualidades para poder ser amado por Deus.
- Só os bons se salvam. Como se Deus não pudesse salvar a quem quiser (Fará destas pedras filhos de Abraão).

Consequências:

- O evangelho é um apelo para que o homem descubra a face misericordiosa de Deus [=Cristo] e se entregue de um modo confiante e total nos braços do Pai como filho que é amado.
- O olhar com a lente da ética, transforma o homem num escravo ou jornaleiro:aquele age pelo temor, este pelo prêmio.
- O olhar com a lente da misericórdia, transforma o homem num filho que atua pelo amor.
- O pai ama o filho independentemente deste se mostrar bom ou mau. Só porque ele é seu filho e deve amá-lo e cuidar dele.
- Só através desta ótica ou lente é que encontraremos nos evangelhos a mensagem do Pai e com ela a alegria da boa nova e a esperança de um feliz encontro definitivo. Porque sabemos que estamos na mira de um Pai que nos ama de modo infinito por cima de qualquer fragilidade humana.


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QUE DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Oh! meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!

Graças e louvores se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje! Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!  Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".

( Salmos )

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