ARTIGOS PARA MEDITAR
Textos enviados pelo amigo Antonio Miguel Kater Filho
Índice desta página:
. CONSTRUINDO A PAZ
. A VERDADEIRA RELIGIÃO
CONSTRUINDO A PAZ Por
ocasião das festas de fim de ano, começei a
esboçar uma mensagem de paz, no intuito de enviá-la
aos meus amigos e amigas, quando ocorreram-me alguns questionamentos:
Que tipo de paz eu almejo ou desejo às outras pessoas?
Como o mundo tem buscado a paz? Paz é um dom divino
ou algo que deva ser construído por nós? Deste
questionamento pessoal surgiu a reflexão abaixo que
gostaria de partilhar... ...! Desejo, de coração,
que ela seja, para você, uma mensagem de Paz para o
ano de 2005.
Na Paz de Cristo, vivo e presente no meio de nós!
Kater Filho
O
bem mais necessário – e o mais urgente –
à humanidade é a paz! Para nos certificarmos
disso basta verificarmos os danos que a ausência da
paz traz às famílias, às nações,
à natureza e toda a criação.
Guerras, contendas intermináveis,
dissolução de famílias, crimes hediondos,
atos terroristas, poluição ambiental, corrupção
generalizada, violência urbana, abortos, profanação
de fetos, etc. Estes, entre outros, são sinais externos
da ausência de paz no coração dos homens
e das mulheres!
Porém, a paz não é somente
uma aspiração humana; ela é a vontade
divina para Suas criaturas. Deus não nos criou, para
que vivêssemos eternamente em guerra, disputando espaços,
territórios, riquezas, prestígio e poder, fazendo
desta terra um eterno caos, como nos alerta o profeta:
“Eis o que diz o Senhor que
criou os céus, Ele, o único Deus que formou
a terra e a estabilizou: que não a criou para que
seja um caos, mas a organizou para que nela se viva”.
Is 45, 18.
Verdadeiramente, Deus não criou a
terra e a constituiu de homens e mulheres, dos reinos animal,
vegetal e mineral e de todos os demais elementos cósmicos,
para que a transformássemos neste caos que hoje vivemos...
Deus a criou, com tudo o que nela existe,
para que todos possam viver, crescer e morrer, naturalmente,
em seus perfeitos ciclos evolutivos. Por isso o profeta ressalta
para que nela se viva! A vida, em sua
exuberância e plenitude, seria, em síntese, o
maior sinal da presença da paz no meio de nós!
O anúncio da presença de Deus
no meio de nós foi um prenúncio de Paz! Esta
foi a mensagem dos anjos na noite do nascimento de Jesus:
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra
aos homens de boa vontade”. Lc 2,14.
Deus nos enviou o Seu Filho para nos trazer
a Paz. Todavia, se nos atermos ao texto: aos homens
de boa vontade, entenderemos que a paz, mesmo sendo
um desígnio de Deus, não dispensa a aquiescência
humana; por isso ela é dirigida aos homens de boa vontade.
Mas será que sabemos o que significa, dentro deste
contexto, homens de boa vontade?
Ora, a vontade é uma das características
humanas que nos faz criaturas à semelhança divina.
Dos seres criados por Deus, os homens e as mulheres foram
os únicos a receberem d Ele a liberdade para agir por
conta de suas vontades, diferentemente dos animais que são
guiados por seus instintos!
Agir por vontade própria (e não
somente por instintos, como os animais) é fruto da
razão que nos foi legada gratuitamente por Deus. Assim,
a vontade é algo que depende exclusivamente do desígnio
do homem, o que lhe confere a liberdade, o maior dos dons
que recebemos de Deus!
É esta liberdade, que Deus voluntariamente
nos legou, que nos permite conduzir nossa vontade na direção
que arbitrariamente escolhermos, podendo ser para o bem ou
para o mal, como nos relata o livro do Eclesiástico:
“No princípio Deus
criou o homem e o entregou ao seu próprio juízo,
deu-lhe ainda os mandamentos e os preceitos. Se quiseres guardar
os mandamentos e praticar sempre fielmente o que é
agradável a Deus, eles te guardarão. Ele pôs
diante de ti a água e o fogo: estende a mão
para aquilo que desejares. A vida e a morte, o bem e o mal
estão diante do homem: o que ele escolher , isso lhe
será dado”. Eclo 15, 14 – 18.
Logo, retomando a nossa reflexão,
boa vontade significa uma intenção
voluntária na direção do bem, ou seja,
uma determinação consciente para conduzir as
circunstâncias na direção daquilo que
nos orientam os mandamentos e preceitos escritos por Deus
e contidos em Sua Palavra.
Assim, os homens de boa vontade, mencionados
na mensagem dos anjos que anunciaram o nascimento de Jesus,
são todas as pessoas propensas a construírem
a paz, valendo-se se das orientações que Deus
nos legou em sua Palavra e pelo exemplo de Seu filho Jesus.
Mas o que é
a paz?
O mundo, muitas vezes, nos sugere que paz
é a ausência de guerras e conflitos entre os
povos; outras vezes, a secularização que predomina
no mundo, nos apresenta como um ideal de paz a ausência
de problemas e tribulações pessoais ou ainda
uma estabilidade econômica e financeira.
Diante destes “conceitos de paz”,
alguns buscam alcançá-la pelo acúmulo
de bens, pela omissão diante de conflitos e até
mesmo pela guerra, acreditando estar praticando o bem. Se
olharmos para os conflitos na Palestina veremos os dois lados,
ao longo dos milênios, evocando Deus para se matarem,
em nome da paz almejada para sua nação.
Desculpem, mas Paz, na concepção
divina, não é isso!
Jesus nos alertou que há uma diferença
entre a paz “concebida” pelo mundo e a paz que
vem de Deus, da qual Ele é portador, ao dizer: “Deixo-vos
a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o
mundo a dá”. Jo 14,27.
Sim, porque a paz não é algo estático,
estanque ou delimitado a uma só instância, como
nos propõe o mundo. Não! Se quisermos que a
humanidade viva na paz em plenitude, precisamos cultivar a
paz tridimensional, ou seja, em três direções:
a paz ascendente (na direção
de Deus), a paz fraterna (na direção
do próximo) e a paz interior (na direção
da nossa consciência).
Esta orientação se fundamenta
nos mandamentos da Lei de Deus, confirmada por Jesus, ao ser
indagado por um doutor da lei que, para po-Lo a prova, perguntou-Lhe
qual o maior mandamento. Jesus respondeu: “Amar
a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti
mesmo” concluindo: “Nestes dois
mandamentos se reúnem toda a lei e os profetas”.
Mt 22,40.
Ora, amigas e amigos, está aí,
na fórmula apontada por Jesus - como a síntese
de todos os ensinamentos das escrituras e orientações
dos profetas que O antecederam - a paz tridimensional: Amar
a Deus (paz ascendente), amar ao próximo
(paz fraterna) e amar-se a si mesmo (paz
interior).
A paz ascendente (paz com Deus) alcançamos
por meio de nossa vida espiritual: seguindo os Mandamentos
e as Sagradas Escrituras. Agindo assim, a paz ascendente se
instalará, naturalmente, em nossos corações,
como nos assegura a Palavra de Deus: “Grande
paz tem aqueles que amam a vossa lei: não há
para eles nada que os perturbe”. Sl 118, 165.
Da mesma forma que, pelo exercício
da oração, fortaleceremos esta paz, na confiança
em Deus que desenvolvemos em nossos corações:
“Espera no Senhor, e faze o bem; habitarás
na terra em plena segurança”. Sl 36, 3.
Podemos enfim sedimentar esta paz com Deus,
pela participação nas celebrações
e pela recepção dos Sacramentos da Igreja, particularmente
os da confissão e eucaristia, pois assim se expressou
Jesus: “Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue permanece em mim e eu nele”. Jo 6, 56.
Ora, a permanência de Jesus em nós
é certeza da presença da paz que vem do alto,
pois Ele nos traz a Sua Paz. Paz que Ele nos assegurou, ao
afirmar: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha
paz. Não se perturbe o vosso coração,
nem se atemorize”. Jo 14, 27.
A Paz ascendente nos prepara para a paz interior
(paz consigo mesmo).
A Paz interior - imprescindível antes
de irmos ao encontro da paz com os irmãos - se dá
por meio do equilíbrio do ser e do ter em nossas consciências,
ou seja, devemos verificar aquilo que realmente somos (como
pessoas) e temos (em bens, dons, virtudes e talentos) e aquilo
que desejaríamos ser e ter, criando um projeto pessoal
de vida, visando alcançar este objetivo desejado.
Para tanto precisamos, antes, identificar
quais são os nossos limites (intransponíveis
por natureza ou por nossas limitações físicas)
e as nossas fraquezas (que precisam ser vencidas ou corrigidas).
A paz interior se desenvolverá pela aceitação
e compreensão das limitações - o que
por nossa natureza física e emocional não podemos
transpor - mas, ao mesmo tempo, pela superação
de nossas fraquezas e vícios, que em nós precisamos
superar.
O discernimento de saber onde termina um
e começa o outro é um indício de paz
interior. É por este discernimento que encontraremos
o equilíbrio no âmago de nossos corações,
onde nos deixamos envolver por sentimentos de remorsos, rancores,
inquietações e medo, nos acarretando tristezas,
amarguras e decepções que, espantando a nossa
alegria interior, desencadeiam em nós atitudes de ira,
frustrações e de inveja.
“Não entregues tua alma
a tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos.
A alegria do coração é a vida do homem
e um inesgotável tesouro de santidade. A alegria do
homem torna mais longa a sua vida. Afasta a tristeza para
longe de ti, pois a tristeza matou a muitos e não há
nela utilidade alguma. A inveja e a ira abreviam os dias e
a inquietação acarreta a velhice antes do tempo”,
Eclo 30, 22 – 17.
As constantes inquietações
que ativam os nossos pensamentos nos envelhecem precocemente,
criando em nós intermináveis preocupações,
nos roubando a paz e nos afastando de Deus e de nossas orações.
Ouçamos o que nos diz a Palavra de
Deus: “Não vos inquieteis com nada! Em
todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas
preocupações, mediante a oração,
as súplicas e a ação de graças.
E a paz de Deus que excede toda a inteligência, haverá
de guardar os vossos corações e vossos pensamentos,
em Cristo Jesus”. Fil 4, 6-7.
Com a paz ascendente e a paz interior implantadas,
estaremos prontos para desenvolver a paz fraterna (paz com
os nossos irmãos) que evoluirá em nossos corações
a partir do exercício de nossos dons e virtudes pessoais,
ou seja, da nossa solidariedade, da nossa caridade, da nossa
capacidade de amar e perdoar as pessoas que nos ofenderam
e de tantas outras atitudes que dependem exclusivamente
de nossa vontade para frutificar em nossas famílias,
comunidade e em toda a sociedade.
A Palavra de Deus, novamente, nos sugere
gestos concretos e imprescindíveis para que esta paz
seja estabelecida: “Revesti-vos de entranhada
misericórdia, de bondade, de humildade, doçura,
paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos
mutuamente toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como
o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós.
Mas, acima de tudo, revesti-vos do amor que é o vínculo
da perfeição. Triunfe em vossos corações
a paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar
um só corpo”. Cl 3, 12 – 15.
Aproveitando a passagem do ano façamos,
criteriosamente, um balanço de nossas vidas, verificando
em nossos corações, a existência, a extensão
e o equilíbrio destas três vertentes da paz:
com Deus, consigo mesmo e com o próximo. Nesta última,
procurando compreender e aceitar suas diferentes maneiras
de pensar e de agir, em determinadas circunstâncias.
É do perfeito equilíbrio e
interação destas três forças que
o Reino de Deus se instalará no meio dos homens, por
meio do “corpo de Cristo” que é a nossa
Igreja que, no primeiro dia do ano, nos propõe a Festa
da Paz, pedindo que, ao mesmo tempo em que a clamamos sobre
a terra, nos empenhemos em construí-la, passo a passo,
a partir de nós mesmos.
No limiar de um novo ano quando todos nós,
independente de raças, crenças e religiões,
renovamos a nossa esperança de tempos melhores, quero,
de coração, desejar a você, que tem sido
uma pessoa leal ao longo desta nossa amizade, os mais sinceros
votos desta verdadeira paz que juntos construiremos neste
ano de 2005.
Antonio Miguel Kater Filho
|
A VERDADEIRA
RELIGIÃO
Costumo
escrever meus artigos tendo em vista as pessoas afastadas
de Deus, ou aquelas que, apesar de terem sido inseridas em
uma religião - geralmente na infância - quando
adultas abandonam a sua prática. Em nossa religião,
especificamente, àquelas que se autodenominam católicas..,
mas, não praticantes.
Porém, inspirado pela reflexão
de um trecho bíblico - que abaixo reproduzo - gostaria
de me dirigir hoje, particularmente, aos que, como eu, são
católicos praticantes: participando regulamente das
missas, recebendo os sacramentos, fazendo suas orações
diárias, lendo com freqüência a Palavra
de Deus enfim, procurando seguir bem a religião que
abraçaram, cumprindo os seus mandamentos.
Começo com esta questão: O
que é para nós católicos praticantes
seguirmos, na prática, a nossa religião? Ou
então: Qual seria a nossa concepção real
sobre o que é ser uma pessoa religiosa ou identificar-se
como um católico praticante?
Pergunto isso porque tenho observado, com
alegria, missas repletas de fiéis aos domingos e até
me surpreendo com a boa freqüência de público
em missas diárias durante a semana, pela manhã
ou à noite. Nestas celebrações percebo
ainda uma grande quantidade de pessoas nas filas de comunhão,
o que nos faz pressupor haver uma observância efetiva
deste sacramento entre nós católicos!
Além disso, sabemos que algumas editoras
católicas não têm conseguido atender a
procura mensal do público por Bíblias, o que
nos faz pensar que milhares de católicos estão
adquirindo a Palavra de Deus para a lerem em casa, nos círculos
bíblicos, em retiros ou em grupos de oração,
e isso, convenhamos, é um bom sinal!
Temos ciência ainda de que no Brasil
se fabricam, diariamente, centenas de milhares de terços
e que – por todo o país – existem incontáveis
grupos que propagam e estimulam a oração do
rosário, numa sublime devoção a Nossa
Senhora, além de outros grupos que difundem novenas,
trezenas, tríduos, orações e demais práticas
religiosas, que compõem a riquíssima e legítima
religiosidade do povo brasileiro.
Diante destas felizes constatações
pergunto: será que a observância disso tudo é,
efetivamente, a fiel prática da religião? Se
a resposta for positiva repergunto: por que é então
que, alheio ao crescimento da participação de
católicos em missas e o de tantas outras práticas
religiosas, o mal em seus desdobramentos, se multiplica, assustadoramente,
em velocidade e proporções muito maiores do
que antigamente?
Ou: por que é que a sociedade brasileira
– apesar de majoritariamente se identificar como católica
- se mostra cada vez mais egoísta, hedonista, materialista,
violenta, corrupta e insensível ao sofrimento humano,
disseminando, incentivando e apoiando práticas contrárias
à lei de Deus como: o aborto, o uso de fetos humanos
para pesquisa científica, a união carnal de
pessoas do mesmo sexo, entre tantas outras aberrações?
É comum nos depararmos com cristãos
perplexos diante de fatos aterradores que, diariamente, nos
são mostrados pela mídia, questionando: - Meu
Deus, mas que absurdo, onde é que nós vamos
parar? Com isso a impressão que fica é
que a influência da religião no comportamento
da humanidade - e incluo aqui outros grupos cristãos
- atualmente, está sendo inócua ou, no mínimo,
ineficaz. Isto sem falarmos da miséria que grassa pelo
mundo, atingindo quase 1/6 da humanidade atual.
Pois é, queridos amigos e amigas,
mais do que nunca - diria até: mais do que em qualquer
outro tempo da história da humanidade - o mundo precisa,
concreta e urgentemente, de Deus, pois só a Sua presença
real, no coração dos homens, poderá reverter
este terrível caos que ora estamos vivendo...
Mas, onde estaria Deus no meio desta parcela
significativa da humanidade que se diz religiosa? Afinal não
existe uma grande parte da população praticando
regularmente uma religião, como pudemos verificar?
Será que esta presença divina, entre os homens
e mulheres que se dizem cristãos e praticantes de uma
religião, é tão insignificante que Deus
se torna impotente diante de tanta maldade em nosso meio?
Talvez o problema esteja nesta “prática”
da religião que verificamos e acima relatamos. Prática
que, na realidade, parece ser muito mais teórica do
que prática propriamente dita, na verdadeira acepção
da palavra, e, por isso, não consiga neutralizar os
efeitos do mal, muito menos minimizar a miséria reinante...
Sim, amigos e amigas, porque a “prática”
da religião não pode ficar restrita ao interior
dos templos, às celebrações festivas,
às leituras bíblicas, à introspecção,
à oração, aos jejuns, às novenas,
aos terços ou à recepção dos sacramentos,
na busca constante de uma vida pessoal ilibada: isenta dos
pecados mundanos.
É evidente que tudo isso é
importante e necessário na prática da religião,
mas o imprescindível mesmo, perante Deus, é
colocarmos em prática tudo que aprendemos, ouvimos,
rezamos, recebemos e lemos, pelo exercício concreto
do amor ao próximo – mandamento maior do cristianismo
- a começar pelos mais necessitados e marginalizados
pela sociedade, como nos ensina a Palavra:
“A
religião pura e sem mácula aos olhos de Deus
e nosso Pai é esta: visitar os órfãos
e as viúvas nas suas aflições, e conservar-se
puro da corrupção deste mundo”. Tg 1,
27
Percebam que o texto bíblico não
exclui o exercício e o fortalecimento das virtudes
na busca da santidade - alcançada pela oração,
pelos jejuns e freqüência aos sacramentos - ao
afirmar que é necessário: conservar-se
puro da corrupção deste mundo, pois,
como eu já ressaltei, isto é importante e necessário.
Porém, gostaria de salientar que
o seu autor, São Tiago, em sua afirmação
prioriza - colocando à frente do exercício das
virtudes - o conceito divino da verdadeira religiosidade:
A religião pura e sem mácula aos olhos
de Deus e nosso Pai é esta: visitar os órfãos
e as viúvas nas suas aflições.
A partir daí podemos concluir que
a prática verdadeira da religião está
fundamentada em dois conceitos bastante distintos, um interior,
pessoal e introspectivo: conservar-se puro da corrupção
deste mundo, e outro exterior, comunitário
e solidário: visitar os órfãos
e as viúvas nas suas aflições.
Distintos, porém interdependentes, ou seja, um não
substitui ou dispensa o exercício do outro!
Ora, visitar os órfãos
e as viúvas em suas aflições,
era, no tempo de Jesus, voltar-se para as criaturas de Deus
mais injustamente marginalizadas pela sociedade vigente. Verificaremos
isto ao observarmos a cultura machista judaica - predominante
na época - que desprezava ostensivamente as mulheres,
tratando-as como simples objetos, e valorizava excessivamente
os homens.
Naquele tempo a mulher que, precocemente,
se tornasse viúva, se não encontrasse um irmão
ou outro parente do falecido, que a “adotasse”
como esposa, agregando-a ao seu harém, amargaria, juntamente
com os filhos pequenos, uma vida totalmente miserável
que, em pouco tempo, os conduziria à morte por inanição.
Se ela ainda possuísse o vigor da
juventude ou uma sensualidade atraente, poderia, talvez, sobreviver,
prostituindo-se por algumas moedas que garantiriam, a ela
e aos filhos, uma parca subsistência, também
miserável, além, naturalmente, do estigma que
receberiam por parte daquela sociedade, insensível
e hipócrita.
Mas se fosse velha ou não tivesse
atrativos sexuais suficientes para se tornar uma prostituta,
só lhe restaria mendigar à porta do templo,
juntamente com os filhos, até que a morte os levasse.
As viúvas e os órfãos prefiguravam os
excluídos daquela época, por isso esta observação
de Tiago: A religião pura e sem mácula
aos olhos de Deus e nosso Pai é esta: visitar os
órfãos e as viúvas nas suas aflições.
Para transportarmos esta orientação
bíblica até os nossos dias, basta substituirmos
no texto os órfãos e as viúvas
por todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, são
hoje os injustamente marginalizados por esta sociedade que
só valoriza o belo, o estético, o jovem, o útil
e o rico, em detrimento de todos aqueles que não se
enquadrarem nos parâmetros por ela estabelecidos.
Dentre os marginalizados de hoje persistem
ainda milhões de viúvas e órfãos
abandonados ao redor do mundo, ao lado de enfermos, pobres,
deficientes físicos e mentais, dependentes químicos,
pacientes terminais e tantos outros miseráveis a perambularem
por esta vida, sem encontrar quem os acolha, os socorra, os
sustente e os alivie de suas dores e de seus males.
É preciso que nossa religião
ultrapasse os limites do templo e transborde do interior de
nossos corações, chegando até os órfãos
e as viúvas do terceiro milênio. Existem
hoje, no mundo, milhares de instituições de
caridade tentando suprimir esta nossa deficiência. Organizações
sem fins lucrativos que necessitam de contingentes de voluntários,
para ajudá-las em seu trabalho junto aos excluídos
de hoje.
Além desta carência enorme
de pessoas, disponíveis e de boa vontade para trabalharem
voluntariamente, há, ainda, na maioria destas organizações,
uma grande escassez de recursos materiais, o que impede que
a ação e o alcance destas instituições
sejam mais abrangentes e mais eficazes.
A falta de recursos é tão
descomunal que mesmo elas existindo e atuando ininterruptamente
na sociedade, milhões e milhões de pessoas carentes
no mundo ainda não são atendidas em suas necessidades
básicas. E escassez de recursos significa falta de
dinheiro: para ampliar instalações; para equipar
melhor a organização; para capacitarem voluntários
e contratarem profissionais remunerados, que possam atender,
em suas especializações, estas pessoas carentes.
Infelizmente, estas instituições
são mantidas, às duras penas, apenas com as
esmolas que os católicos oferecem nos templos ou diretamente
à elas, por meio de doações. Naturalmente
existem honrosas exceções, mas, de uma maneira
geral, somos muito pouco generosos na devolução
de nosso dízimo a Deus, por intermédio de nossas
paróquias, e nas ofertas que fazemos às obras
de caridade e assistência.
Costumo dizer, em minhas pregações
sobre o dízimo, que se o católico se conscientizasse
verdadeiramente e devolvesse integralmente o dízimo
a Deus por intermédio de sua paróquia - como
fazem algumas denominações evangélicas
- nós erradicaríamos a miséria no mundo
em pouquíssimo tempo e instauraríamos, já
aqui na terra, o Reino de Deus tão almejado por tantos,
neutralizando a força do mal.
É simples provar isto estatisticamente:
somos, hoje, 125 milhões de católicos professos
no Brasil, quase 70% da população brasileira.
Imagine se a metade desta população católica
fosse verdadeiramente praticante e devolvesse integralmente
o dízimo (10% de seus rendimentos) a Deus, por intermédio
de sua paróquia!
Isto significaria disponibilizarmos à
Igreja Católica no Brasil 10% da receita auferida por
35% dos brasileiros que possuem renda mensal! Fazendo uma
projeção superficial deste valor – apenas
a partir dos dados oferecidos pelo IBGE e verificados no último
censo demográfico e econômico - teríamos
uma cifra acima de dois bilhões e meio de reais, mensais,
a disposição destas instituições!
Projetem agora o dízimo a nível
mundial, onde encontramos 1,5 bilhões de católicos
professos..! Certamente, amigos e amigas, não seria
a falta de recursos financeiros a causa que nos impediria
de assistirmos aos marginalizados do mundo inteiro, transformando
radicalmente a face da terra e promovendo a verdadeira justiça,
proposta por Jesus, quando de Sua presença no meio
de nós.
A prática da religião está
no exemplo do Bom Samaritano (Lc 11, 30-37), apontado por
Jesus como a síntese do amor cristão, onde o
samaritano - além de acolher, salvar e cuidar do “inimigo”
ferido - deu dinheiro, ao dono da hospedaria, para que ele
continuasse a tratar daquele homem, comprometendo-se ainda
a pagar-lhe quando voltasse, caso ele gastasse mais naquele
tratamento. Eis aí a verdadeira religião! Jesus
conclui a parábola ordenando-nos: “Vai
e faze tu o mesmo”. Lc 11,37.
Sugiro que a partir desta ordem de Jesus
e do ensino de Tiago: A religião pura e sem
mácula aos olhos de Deus e nosso Pai é esta:
visitar os órfãos e as viúvas nas suas
aflições, nós possamos rever
nossas posturas e atitudes de pessoas religiosas, procurando
nos conscientizarmos de que mais do que orar e participar
das celebrações e sacramentos, ser cristão
é ter Jesus como modelo de vida, procurando imitá-Lo
em seus gestos e seguir os Seus ensinamentos e ordens.
Caso contrário, correremos o sério risco de,
após a nossa morte, no momento de nosso encontro pessoal
com Deus - e com todos que já ressuscitaram - ouvirmos
de Jesus aquela advertência que Ele nos deixou, pela
narrativa do evangelista Mateus: “Nem todo aquele
que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus,
mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está
nos céus. Muitos nos dirão naquele dia: Não
pregamos nós em vosso nome e não foi em vosso
nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres?
E no entanto eu lhes direi: nunca vos conheci. Retirai-vos
de mim operários maus”. Mt 7, 21-23.
Para sermos bons operários do Reino
de Deus não basta apenas rezarmos e batermos no peito,
clamando o nome do Senhor, é preciso que saiamos de
nós mesmos, abrindo mão de nosso conforto e
de nosso comodismo, abandonando os nossos preconceitos para
visitarmos e assistirmos - com o nosso dízimo - aos
miseráveis deste mundo, para que, no dia do Juízo
Final, possamos ouvir do Mestre:
“Vinde benditos de meu Pai,
tomai posse do Reino que vos está preparado desde a
criação do mundo, porque tive fome e me destes
de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e
me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes;
estava na prisão e viestes a mim. Em verdade eu vos
declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus
irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes”.
Mt. 25, 34 – 36. 40.
Antonio Miguel Kater Filho |
QUE DEUS ABENÇOE
A TODOS NÓS!
Oh! meu Jesus, perdoai-nos,
livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o céu e socorrei principalmente
as que mais precisarem!
Graças e louvores
se dê a todo momento:
ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
Mensagem:
"O Senhor é meu pastor, nada me faltará!"
"O bem mais precioso que temos é o dia de hoje!
Este é o dia que nos fez o Senhor Deus!
Regozijemo-nos e alegremo-nos nele!".
( Salmos )
|
|
|