* por Gilberto Landim
* Gilberto Landim. Analista de sistemas. Formação:
FGV, PUC, UNESA, Xerox, Microsoft, Oracle entre outras. Autor de vários
trabalhos e do Projeto Venda$ Plu$, programa de treinamento apresentado
nas versões: Palestra, Seminário e Curso. Especialista
em vendas técnicas e varejo, ocupou posição de
gerência em vendas, marketing e informática. Atualmente
é Consultor de Treinamento da VENDA$ PLU$. Contatos através
do e-mail
vendasplus@gmail.com
ou pelo site
http://gilbertolandim.blogspot.com.br/.
Seja outro o que te louve, e não a tua boca;
o estrangeiro, e não os teus lábios.
(Provérbios 27:2)
-- Boa tarde, com quem deseja falar, por favor?
-- Professor José Bonan Tagon.
-- Ah, o Zé. Ele está desocupado pode
entrar.
-- Você é o Landim e você o Cáspio.
Eu sou o Zé.
-- Por favor não reparem, sou autodidata, mas
como tudo tem limite, não me atrevi a configurar esta rede local.
Vocês querem conhecer o colégio?
Andando pelas dependências do prédio,
verificamos uma automação equiparada aos padrões
da Europa e uma disciplina esplêndida, mesmo nos intervalos das
aulas. Tudo primava pela organização.
Onde o professor passava era saudado por empregados,
alunos e professores, com cumprimentos regados a carinho, respeito e
admiração. Uma particularidade: todos faziam questão
de pronunciar seu nome: Zé.
-- Antes que pudesse dar alguma mancada, arrisquei:
Zé, onde podemos ajudá-lo?
-- Landim, você e o Cáspio são
“marketeiros” mesmo! Em geral as pessoas chegam até
aqui, presenciam o mesmo que vocês e insistem que eu atenda pelo
nome de Professor José Tagon. Há quem até exagere,
chamando-me pelo sobrenome. Vamos lá, preciso arrumar esta rede,
aumentar a capacidade do servidor...
Acertados os detalhes alusivos a orçamento e
todos os atavios comerciais, interessei-me pelo Zé, pedindo-lhe
que falasse um pouco mais sobre sua vida.
-- Zé, você nos daria o prazer de contar
parte de sua história?
-- Rapaz, quem sou eu para ter história. Eu
morava na favela e era muito pobre. Comecei a pensar o que poderia fazer
para sair daquela vida além de trabalhar, pois isso já
era de praxe. Resolvi. Vou levar a sério o estudo. Essa decisão
me fez entrar na faculdade de matemática do estado. Como eu estava
indo bem, resolvi dar aula e arrisquei o vestibular para engenharia
da federal. Mesmo como matemático e engenheiro, na verdade eu
sou um autodidata, como lhes falava no início.
-- Como autodidata, já dava aula em alguns cursos,
tornando-me um consultor em educação. Algumas economias
guardadas, permitiram-me comprar esse colégio e administro outros.
Sabe o que é? Eu gosto!
-- Zé, porque a recepcionista não verificou
se você podia atender, simplesmente limitou-se a dizer que estava
desocupado e mandou entrar?
-- Veja. Não posso perder tempo, fingindo que
estou ocupado, impedindo que as pessoas entrem para falar comigo. Sou
o diretor, o dono. Tudo aqui funciona sem a minha presença. Não
preciso mostrar a ninguém o meu trabalho, que aliás nem
dá para ver, por que em geral é feito com o cérebro.
Pelo que eu saiba, ler pensamento só Deus – disse Zé.
-- Zé desculpe tomar ainda seu tempo. Eu nunca
vi ninguém fazer questão de ser chamado de Zé.
Por que contigo não acontece isso?
-- Não espalha. É uma estratégia
de marketing. Deu pra notar que todo mundo gosta de me chamar por esse
nome? Por que eu rejeitaria esse agrado?
Às vezes uma coisa simples, sobrepuja grandes
sofisticações e produzem resultados, capazes de surpreender
os mais capacitados profissionais.
Fizemos o trabalho para o Zé, que não
nos chamou mais. Acho que prestou tanta atenção, que acabou
por aprender. Ele sente um prazer maior do que todo o mundo em dizer
que é autodidata. Acho que vou seguir seu método.
Foi muito gostoso, conhecer o Zé!