* por Luciano Pires
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Luciano Pires, formado em Comunicação
Social, diretor de Comunicação Corporativa da Dana, cartunista
premiado duas vezes no Salão de Humor de Piracicaba, colaborador
de várias revistas, jornais e sites, conferencista e escritor.
E-mail:
luciano@lucianopires.com.br
Internet:
http://www.lucianopires.com.br
Outro dia ouvi no rádio uma baita discussão
sobre a política econômica. Havia sido anunciada mais uma
vez a prévia da inflação da quadrissemana comparada
com a quadrissemana anterior e o índice apresentava crescimento.
O crescimento era de 0,02 por cento. Zero vírgula zero dois por
cento. Mais ou menos nada. Ninguém pergunta qual a margem de
erro desses levantamentos, vai logo colocando o zero vírgula
nada como indicador de crescimento ou queda. E se for pra pior, mais
destaque ainda.
A cada momento que somos expostos à mídia,
recebemos uma enxurrada de estatísticas: sobe o desemprego; cai
a capacidade de compra; aumenta a produção da indústria;
sobe o dólar; cai o dólar...São toneladas de estatísticas
que interpretam e controlam o mundo, criando verdades e simplificando
as coisas. E são elas que guiam nossas vidas.
O que chama a atenção é a forma
como a mídia funciona como um amplificador desses índices,
transformando números que pouco ou nada querem dizer em tendências
definitivas. Nada é mais forte, respeitável e verdadeiro
que um economista na televisão. Mesmo com argumentos apoiados
sobre zero vírgula nada por cento.
Você já reparou a distância que
existe entre os índices de inflação e os preços
que você paga no supermercado? Não é assustador?
E no que devemos acreditar? No índice divulgado, que mostra o
crescimento de zero nada da cesta básica ou no aumento de 25%
da carne?
Temos que ter cuidado. Jornalistas e economistas,
juntos, raramente dá coisa boa. E lá vamos nós
tomando decisões sobre probabilidades. Aliás, como somos
ruins para lidar com probabilidades! Nos preocupamos com a soja transgênica
ou com a doença exótica na África enquanto continuamos
fumando, o que representa um risco muito maior!
Deveria existir uma matéria no ensino básico,
tratando das probabilidades, ensinando as crianças a calcular
que impacto essas estatísticas podem ter em suas vidas, tornado-as
imunes ao desbunde estatístico da mídia.
Mas não. Parece que gostamos de não
aprender com o passado. Quer ver? Volte vinte anos atrás e me
diga qual a probabilidade de uma sexóloga da TV tornar-se prefeita
de São Paulo? Ou um ex-retirante nordestino, operário,
com um discurso raivoso, sem experiência administrativa, assumir
a presidência da república? Pois é...
Na próxima vez que você ouvir esse papo
de estatística e probabilidades, use os números: conte
até dez. E só então tome suas decisões.
E lembre-se: discursos pessimistas sempre parecem
mais inteligentes que os otimistas. E talvez sejam.
Mais ou menos zero vírgula nada por cento...