* por Luciano Pires
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Luciano Pires, formado em Comunicação
Social, diretor de Comunicação Corporativa da Dana, cartunista
premiado duas vezes no Salão de Humor de Piracicaba, colaborador
de várias revistas, jornais e sites, conferencista e escritor.
E-mail:
luciano@lucianopires.com.br
Internet:
http://www.lucianopires.com.br
Não canso de me surpreender com a criatividade
que nossos conterrâneos revelam nos momentos mais inesperados.
Agora foi a tal Cartilha do Politicamente Correto, editada para evitar
que usemos termos, digamos, ofensivos a diversas categorias de pessoas.
Ela quer derrubar preconceitos.
Pela cartilha, não poderemos mais chamar um
mau motorista de barbeiro, pois é ofensivo aos profissionais
do corte de cabelo. Dizer que "a coisa está preta",
nem pensar. Homossexuais só poderão ser "entendidos".
"Comunista" é termo banido, pois remete
às vítimas do regime militar.
"Negão", "neguinha" e outras
formas de apontar a diferença de cor de pele, estarão
banidos. E por aí vai.
Lula ficou indignado. Não poderá mais
chamar seus colegas de "peões".
Pois eu acho a idéia da Cartilha excelente.
E acho reconfortante saber que temos gente preocupada em recolocar nos
trilhos nosso idioma tão maltratado e mal utilizado. Em vez de
criticar , deveríamos incentivar a iniciativa. Mas desde que
seja feita uma pequena mudança.
Em vez de termos "politicamente corretos"
a cartilha vai tratar de "moralmente corretos".
Vamos recolocar as coisas em seu devido lugar. Ninguém
mais vai poder dizer "violência, impunidade, vereador, deputado,
assessor parlamentar, fraudador do INSS, imposto, corrupção,
comissão, traição, nepotismo, marqueteiro, voto...."
e outros termos, impunemente.
Esses termos só poderão ser usados no
contexto moralmente correto, quando indicarem uma função
moralmente correta.
"Vereador", "deputado" e "senador",
por exemplo, só poderão ser usados para designar os políticos
que representam e trabalham em favor de suas comunidades. Os aproveitadores,
hipócritas e coronéis não podem usar.
"Comissão" só pode ser usado
para designar quantias pagas como retribuição a serviços
prestados com honestidade e mérito.
"Impunidade" só servirá como
atributo negativo, jamais como direito adquirido por quem tem poder
ou é amigo de quem tem poder.
"Imposto" só pode designar taxas cobradas
oferecer serviços essenciais.
Já pensou uma cartilha dessas? Devolvendo aos
brasileiros a capacidade de indignar-se? De perceber a diferença
entre o certo e o errado, o moral e o imoral? Deixando claros os limites
entre direitos e deveres? Entre público e privado?
Ah, mas numa cartilha assim, eles não pensam.
Nas cabeças confusas que hoje definem os rumos de nosso Brasil,
política vem sempre em primeiro.
Moral é apenas um detalhe.