Acompanhe
a seguir entrevista concedida por Tom Coelho à jornalista Patrícia
Bispo, Editora de Conteúdo do Portal RH.COM.BR..
RH.COM.BR - Saber liderar é
algo que nasce com a pessoa ou é possível aprender a
ser líder?
Tom Coelho - Todos temos características
inatas e outras que podem ser desenvolvidas. O mesmo se dá
com a liderança. Algumas pessoas nascem com este perfil e podem
exercê-lo, desenvolvê-lo ou até negligenciá-lo,
de acordo com os estímulos que recebe. Mas a liderança
pode ser ensinada, porque é uma técnica e uma arte.
Liderança é o processo de influenciar pessoas para obtenção
de resultados em benefício de uma coletividade.
RH - Como é possível
trabalhar e aprimorar a liderança?
Tom Coelho - A liderança
tem evoluído ao longo da história da humanidade. Vou
basear-me nos estudos de Jean Lipman-Blumen para ilustrar este conceito.
Num primeiro momento, que podemos chamar de "Era Física",
os líderes eram intrépidos, fortes e tinham como objetivo
conduzir seus seguidores. Num segundo estágio, a "Era
Geopolítica", os líderes adotaram postura autoritária
legitimada na defesa de suas ideologias e fronteiras geográficas.
Vivemos na "Era da Interdependência", comandada por
um novo tipo de líder com competências para identificar
e capitalizar aspectos comuns capazes de unir as pessoas. O que importa
hoje não é a pessoa, mas a causa. O aprimoramento da
liderança deve considerar esta sinalização.
RH - Atualmente, quais as principais
características que o mercado procura no líder?
Tom Coelho - Estudo realizado em
novembro de 2002, pela Fundação Dom Cabral, indicou
que o mercado procura líderes orientados para o resultado,
com capacidade para trabalhar em equipe, dotados de pensamento sistêmico
- visão do todo, comunicabilidade, bons negociadores e com
perfil empreendedor. Mas o mesmo estudo aponta que o perfil encontrado
corresponde a profissionais orientados, sim, para o resultado, mas
que valorizam garra, ambição e capacidade de por a "mão
na massa". Isso demonstra claramente que o mercado e os executivos
têm os mesmos objetivos, mas não compactuam dos mesmos
meios para atingi-los. Os profissionais adotam um discurso de trabalho
em equipe, mas permanecem individualistas em seu âmago.
RH - Uma grande cobrança
que tem sido feita ao líder é que ele mantenha sua equipe
sempre motivada. Qual a relação existente entre liderança
e motivação?
Tom Coelho - Vamos partir do princípio
fundamental de que a motivação é um processo
intrínseco, endógeno, unipessoal. Assim, o líder
pode atuar como facilitador, como um agenciador deste processo, estimulando
seus colaboradores. O cerne da questão é a falta de
comprometimento das pessoas com os propósitos e os valores
das suas empresas. E isso acontece porque tais aspectos não
são compartilhados. Todos estamos cansados de encontrar empresas
cuja carta de valores está afixada na parede da recepção,
numa placa de metal nobre com letras douradas, mas nenhum, absolutamente
nenhum funcionário, sabe dizer ou pratica o que ali está
escrito. Por favor, rasguem todas estas cartas, destruam todas estas
placas e convoquem seus funcionários a reescreverem visão,
missão e valores de sua empresa. Juntos.
RH - Como podemos identificar uma
liderança motivacional?
Tom Coelho - Harry Truman dizia
que um líder é alguém com a habilidade de levar
outras pessoas a fazerem o que elas não querem e, ainda, gostarem
disso. Penso que esta frase define bem o que seja um líder
motivacional. Alguém capaz de conduzir um grupo com igual empenho
e entusiasmo pelo mesmo objetivo. Alguém capaz de vislumbrar
e desenvolver qualidades extraordinárias em pessoas comuns,
alocando-as nas funções certas - aquelas em que podem
exercer seus talentos. Enfim, alguém capaz de inspirar as pessoas.
RH - É muito difícil
encontrar líderes que valorizem a motivação?
Tom Coelho - O mundo corporativo
nunca esteve tão concorrencial quanto agora. As empresas de
sucesso do passado habitam, em sua maioria, os livros de história.
A mundialização da economia impôs a necessidade
de decisões rápidas e de resultados imediatos. A panacéia
pela linha azul no balanço e pelo crescimento continuado, as
fusões e as incorporações, os lucros dos acionistas
estão eliminando a humanização das empresas.
Há quem defenda a tese de que no ambiente de trabalho não
se deve abordar temas de ordem pessoal e familiar, estou falando de
Judith Mair, de uma agência de publicidade da Alemanha, autora
do livro "Chega de Diversão", como se isso fosse
possível e recomendável considerando-se que um trabalhador
comum passa ao menos doze horas diárias envolvido com seu trabalho.
Não faltam líderes que valorizem a motivação.
Faltam empresas que o façam.
RH - Existem regras para ser um
líder motivador?
Tom Coelho - As regras são
compartilhar o poder, a informação, o compromisso e
o resultado. O bom líder sabe que sempre tem algo a aprender.
Por isso, cultiva a humildade. Ele mantém sua equipe informada,
planeja estrategicamente e define táticas em conjunto. Comemora
o sucesso e debate o fracasso. O limite é a tênue fronteira
na qual o relacionamento interpessoal propositivo passa a ser visto
como abertura para permissividade.
RH - Por trás de uma equipe
motivada sempre existe um bom líder ou vice-versa?
Tom Coelho - Acredito na primeira
assertiva. Boas equipes com uma liderança fraca ou se desintegram
ou têm a liderança substituída. Já um bom
líder é capaz de transformar discórdia em união,
apatia em entusiasmo, prejuízo em lucro, ressentimento em sorriso.
Mas não existem líderes solitários. Se o líder
está só, na verdade não está liderando
ninguém.
RH - Como a área de RH pode
trabalhar, para que os líderes tornem-se agentes multiplicadores
da motivação?
Tom Coelho - Abandonando os conceitos
de chefia, supervisão e gerência. São todos cargos
com ênfase na tarefa ou no produto, muito preocupados com organização
e controle, remetendo a uma orientação para fazer certo
as coisas, ou seja, doing things right. O líder, por sua vez,
tem ênfase na estratégia, em alinhar pessoas com a visão,
em estruturar e ajustar a organização à dinâmica
do jogo corporativo, remetendo a uma orientação para
fazer as coisas certas, ou seja, doing the right things.
RH - A pesquisa de clima organizacional
é o melhor recurso para avaliar a motivação?
Tom Coelho - A pesquisa de clima
é um bom recurso, mas deve ser muito bem conduzida para não
se mostrar tendenciosa. O segredo está em abordar não
apenas a percepção dos colaboradores em relação
à companhia e aos demais colegas, mas também seus anseios
pessoais. Quando se alinha vida pessoal e profissional, a motivação
dá-se por conseqüência.
22/12/2004