* por Tom Coelho
* Tom Coelho, com formação em Economia
pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização
em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP,
é empresário, consultor, professor universitário,
escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual
do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail
atendimento@tomcoelho.com.br.
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
“Por um cravo, perde-se a ferradura,
por uma ferradura, um cavalo,
e, por um cavalo, o cavaleiro.”
(Frei Luis de Granada)
Ambição é uma coisa boa. Ela nos
desperta desejos, promove o comprometimento, estimula a perseverança.
Torna-nos mais fortes e nos faz buscar a superação. Pela
ambição conquistamos mais posses e mais poder. Sentimo-nos
mais ricos, mais bonitos e até mais livres. O que a estraga é
a ganância.
Como tudo na vida que desgarra da ponderação
do equilíbrio, a ambição desmedida evolui feito
um pokémon para a ganância. Neste estágio, o desejo
vira cupidez; o comprometimento, obsessão; a perseverança,
teimosia. As posses denotam opulência e, o poder, prepotência.
A liberdade se esvai e renasce como fênix, enjaulada.
O problema é uma questão de medida. Na
escalada para o progresso, não sabemos – ou não
aceitamos – a hora de parar.
Tome como exemplo o mundo corporativo. Uma empresa
lança um produto ou serviço que é bem aceito pelo
mercado. Realiza um lucro considerável e resolve reinvesti-lo.
E, ao prosseguir sucessivamente neste processo, eleva ainda mais seu
volume de vendas e faturamento. Mas também seus custos. A cada
nova rodada mais matéria-prima e mais mão-de-obra são
necessárias. Os investimentos em marketing e infra-estrutura,
entre outros, são igualmente crescentes.
O que muitas vezes não se observa é que
há um determinado momento em que o processo deve ser interrompido
sob pena de se ingressar no que a teoria econômica chama de “deseconomia
de escala”. A matemática tem uma imagem singular para ilustrar
isso: o ponto de inflexão. Num gráfico cartesiano, é
o momento em que a curva muda sua concavidade, ou seja, se a linha era
crescente, passa a ser decrescente.
Em suma, isto significa que mais faturamento não
representará indefinidamente mais lucro. Ou seja, trabalha-se
mais para ganhar-se menos! E tudo porque a ambição, antes
saudável e responsável pela prosperidade do negócio,
visita o reino da ganância e não aceita simplesmente o
momento de parar quando o ótimo foi atingido.
Na vida pessoal não é diferente. Defendo
a tese de que relacionamentos amorosos, por exemplo, têm prazo
de validade. E me alinho aos votos sagrados de “até que
a morte os separe” juramentados na celebração dos
casamentos. O ponto é: de qual morte estamos falando? As pessoas
imaginam tratar-se da morte física. Prefiro interpretar como
a morte do sentimento.
Todo início de relacionamento é mágico.
É quando se pratica o jogo da conquista e da sedução.
Nossas ações são orquestradas e as palavras escolhidas
meticulosamente. Mostramos o que temos de melhor: nossa vida é
virtuosa, nossos valores são nobres e nossos feitos são
admiráveis. Vestimos as melhores roupas, usamos os mais agradáveis
perfumes. A pele tem viço; o olho, brilho; o sorriso, autenticidade.
Os ambientes por onde circulamos são aconchegantes.
A bebida parece sempre gelada, mesmo que seja um conhaque, e a comida
sempre saborosa, mesmo que não seja consumida.
Tudo isso acontece porque estamos envoltos numa atmosfera
de encantamento e sinergia, embevecidos pela eficiência do diálogo,
que corre fácil posto que há muito por se falar, anos
para se compartilhar. Queremos em um par de horas nos desnudar, não
apenas das roupas, mas de nossa história pessoal, mostrando quem
somos, de onde viemos e para onde queremos ir – e o destino reserva
lugar ao seu interlocutor, a figura amada, quase inanimada, que lhe
sorri.
O processo é o mesmo para homens e mulheres.
Diferem as estratégias, as táticas, mas não os
propósitos.
Transcorrida esta etapa consuma-se a conquista. Bocas
que se encontram, braços que se enlaçam, corpos que se
aquecem. E então, vive-se o romance que nutre e cega. O horizonte
se retrai.
A estabilidade leva a relação a mares
calmos e a ausência de ondas revela o que antes não se
podia enxergar. Descobrimos – e revelamos – que virtudes
carregam consigo defeitos, que amabilidade é temperada com eventual
intolerância e que gentilezas são bonificadas com fleuma.
É neste momento que se estabelecem os limites
entre paixão e amor. É quando a união amadurece.
É quando percebemos que o beijo ardente e o sexo prazeroso são
imprescindíveis, mas não únicos. O diálogo
ganha novos temas, mas não se perde. E notamos, como bem pontuou
Gabriel Garcia Márquez, que amamos quem está conosco não
por quem a pessoa é, mas por quem nos tornamos na presença
dela.
Agora, trata-se de manutenção. De conquistar
um pouco mais a cada dia. Ou tudo novamente.
Mas a natureza nos reservou um mundo dual. Dia e noite,
quente e frio, yin e yang. E, não raro, os relacionamentos não
apenas se desgastam, mas se esgotam. Não há mais calor
no beijo, os olhares se desviam, os diálogos são fúteis.
Primeiro, a discórdia. Depois, o conflito. Por fim, o confronto.
Transformamos nossas cabeças num cemitério de lembranças
e passamos a cultivar toda ordem de sentimentos negativos. O pacote
vem completo, com mágoas, ressentimentos, infidelidade, desamor
e tristeza. Esperamos resolutamente que um extremo seja alcançado
para tomar a decisão da separação que poderia ter
florescido quando ainda havia respeito e admiração mútuos.
Não sabemos terminar.