* por Tom Coelho
* Tom Coelho, com formação em Economia
pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização
em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP,
é empresário, consultor, professor universitário,
escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual
do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail
atendimento@tomcoelho.com.br.
Visite:
www.tomcoelho.com.br.
“Você consegue muito mais com uma palavra
amável e um revólver
do que apenas com uma palavra amável.”
(Al Capone)
O senso comum sinaliza para que sejamos educados. Não
eventualmente, mas recorrentemente; não apenas com algumas pessoas,
mas indistintamente; não somente em alguns lugares, mas invariavelmente.
Esse comportamento educado assume formas diversas.
Manifesta-se no uso parcimonioso da palavra, pronunciada com intensidade
e velocidade adequadas, sabendo quando intervir e quando calar para
não apenas ouvir, mas também escutar. Revela-se no respeito
a outrem e na capacidade de exercer a paciência e até mesmo
a tolerância. Está presente no uso de expressões
mágicas como “por favor”, “com licença”
e “muito agradecido”.
Porém, há momentos em que estes expedientes
são todos infrutíferos e a única alternativa eficiente
e eficaz é perder a compostura. Isso acontece com freqüência
no mundo corporativo quando se fala em atendimento. Inexplicavelmente
as pessoas conferem maior atenção a quem lança
mão da rispidez, do grito ou da ameaça velada, para a
resolução de uma contenda.
Exemplo típico pode ser observado em qualquer
agência bancária do país. Em busca de uma mera informação,
você é encaminhado para uma fila após a outra, sendo
recepcionado por pessoas que além de não saberem como
esclarecer sua dúvida, também desconhecem quem tenha competência
para tal. Diante do desrespeito para com o seu tempo perdido, experimente
em dado momento levantar a voz exigindo a presença do gerente
geral. Num átimo ele abandonará o conforto de sua cadeira
para atendê-lo e resolver seu problema pessoalmente, qualquer
seja ele.
Tenho um número incontável de casos para
relatar. O mais recente aconteceu com um grande Portal que comercializa
produtos pela Internet.
Em fins do ano passado efetuei um pedido para aquisição
de dois CDs que tinham preço promocional. Três dias depois
de formalizada a compra recebi um telefonema para “confirmação
de dados cadastrais”. Mais dois dias e um novo contato para “confirmação
de dados” chegou por e-mail. Uma semana depois, sem receber a
encomenda ou qualquer outro contato, rastreei o pedido descobrindo que
o mesmo fora “cancelado por inconsistência nas informações
cadastrais”. Desisti da compra através daquele Portal,
transferindo-a para o Submarino que em 24 horas entregou-me o solicitado.
Não é por acaso que esta empresa seja uma das poucas a
apresentar lucro no mercado de comércio eletrônico, com
faturamento em alta e ações negociadas na Bolsa de Valores.
Recentemente voltei a efetuar uma compra naquele mesmo
Portal descrito no parágrafo anterior. Ou melhor, tentei efetuar
a compra. Curiosamente o processo se repetiu de modo que após
uma semana o pedido estava cancelado. Insatisfeito, contatei-os solicitando
esclarecimentos. Polido e educado ao telefone, fui tratado com desdém.
Resolvi fazer o que sei de melhor: escrever.
Redigi um e-mail relatando o problema, a começar
pelo ocorrido no ano passado. Enviei a mensagem com cópia para
os e-mails da diretoria, comercial, marketing, financeiro, atendimento,
reclamações, sugestões e pós-venda. Em minha
mensagem eu dizia, entre outras palavras: “Exijo a entrega do
produto ou um esclarecimento plausível no prazo de 24 horas a
contar do envio desta mensagem sob pena de fazer desta insólita
passagem tema para um artigo que percorrerá duas centenas de
veículos da mídia impressa e eletrônica em dez países,
mencionando textualmente o nome da empresa”.
Em menos de doze horas o status do pedido havia sido
alterado de “cancelado” para “em separação
no estoque”. Recebi um e-mail informando que a entrega seria concretizada
em, no máximo, 48 horas. E um telefonema em minha residência
para esclarecer que havia acontecido uma “falha no sistema”
(nestas situações, computadores são bodes expiatórios
perfeitos). Mais tarde, outro e-mail. E um novo telefonema, desta vez
no celular. O produto foi finalmente entregue. E mais e-mails e telefonemas
vieram. Por fim, uma carta registrada, com solicitação
reiterada de desculpas, um singelo brinde e um cupom de desconto para
uma compra futura.
A atitude corretiva da empresa foi profissional, admirável,
até exagerada. Mas não será suficiente para cativar-me.
Porque não há uma segunda chance para se causar uma primeira
boa impressão. Como sempre digo, não me importa o que
fizeram – tomando meu tempo, causando-me infortúnio –
mas o que ficou depois do que me fizeram – a sensação
de desrespeito e de que providências somente foram tomadas diante
de uma ação extremada de minha parte.
A lição serve para todos. Porque somos
clientes uns dos outros o tempo todo. Seja em casa, na escola ou na
empresa, estamos sempre atendendo e sendo atendidos. E cegos ao comportamento
de nossos interlocutores que podem ser educados, pacientes e tolerantes,
mas somente passam a ser dignos de nossa atenção quando
nos apontam um revólver, uma metáfora para algo capaz
de nos instigar o medo. “Vou contar para o papai...”, “Revelarei
seu segredo...”, “Você poderá ser despedido...”.
Em vez de agimos pela consciência, o fazemos
pelo instinto de preservação. E assim se instaura a corrupção
dos valores e dos princípios. Barganhas e acordos. De um lado,
o corruptor; do outro, o corrompido.