* por Tom Coelho
* Tom Coelho, com formação em Economia
pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização
em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP,
é empresário, consultor, professor universitário,
escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual
do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail
atendimento@tomcoelho.com.br.
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Vivemos
num mundo de aparências e de manipulação. Enron,
Parmalat e Banco Santos não são propriamente exceções
à regra. Nossa crise é de valores.
Transparência e Hipocrisia
“Nada nos torna mais tolerantes com o barulho
da festa do vizinho do que estar lá.”
(Franklin P. Adams)
Os anos oitenta marcaram o surgimento de um interessante
personagem chamado de yuppie. Trata-se de uma expressão reduzida
para “young urban professional”, ou seja, “jovem profissional
urbano”, representando uma classe de profissionais entre 20 e
35 anos, emergentes e em ascensão no mercado de trabalho, caracterizados
por serem gananciosos, buscando o sucesso a qualquer preço, além
de muito consumistas e pouco simpáticos. Excelentes exemplos
são Bud Fox, protagonista do filme “Wall Street –
Poder e Cobiça”, vivido por Charlie Sheen, e seu tutor,
o magnata Gordon Gekko (Michael Douglas, em uma de suas melhores atuações).
O crash da Bolsa de Nova Iorque em 1987 jogou esta
turma na berlinda e os anos noventa trouxeram-nos o culto à ética,
à responsabilidade social e ao politicamente correto.
Mas vivemos num mundo de aparências e de manipulação.
Enron, Parmalat e Banco Santos não são propriamente exceções
à regra. É lamentável, mas o fato é que
empresas idôneas, em especial as de pequeno porte, apenas podem
se credenciar ao crédito bancário “ajustando”
seus dados econômicos, informando faturamento maior do que o real
e apresentando demonstrações de resultado mais saudáveis
do que são. Pouco importa se o seu plano de negócios é
excepcionalmente bem estruturado, se a atividade é economicamente
viável, se você tem expertise e know-how para entrar no
jogo corporativo. Papel aceita tudo e é isso o que gerentes e
analistas de crédito desejam ver.
Participei de uma palestra ministrada pelo diretor
de um grande banco. E uma de suas tônicas era a transparência
nas informações prestadas pelo cliente. Balela. A instituição
financeira faz pose de parceira, mas na prática coloca sua máscara.
Recusa uma operação de crédito formada por um título
legítimo porque o valor é elevado (eles chamam isso de
“grande concentração”), mas acatam uma duplicata
sem lastro sacada pelo empresário contra a empresa de um amigo.
Vejo universitários que participam de Centros
Acadêmicos e outras atividades defendendo mudanças na estrutura
curricular, no corpo docente, no sistema de avaliação,
mas que enquanto estudantes negligenciam suas tarefas mais elementares
e apresentam desempenho medíocre.
Já presenciei em eventos sociais colegas que
se reencontram e trocam abraços efusivos, conversando animadamente
por horas e que, após se despedirem, disparam críticas
de toda ordem.
Relacionamentos conjugais capitulam e clientes outrora
fiéis passam para a concorrência porque as relações
tornam-se incongruentes. Discurso e prática não se alinham.
A propalada transparência não tem autenticidade. As pessoas
deixam de dizer a verdade, esquecendo-se de que não há
meias-mentiras. E a hipocrisia viceja.
Como disse Gordon Gekko, “Estou nesse negócio
desde 1969 e sei que esses caras que vêm de Harvard não
são ninguém. Quero gente esperta, ambiciosa e sem sentimentos.
Você ganha, você perde e continua lutando. E, se precisar
de um amigo, compre um cachorro”.
Nossa crise é de valores. Os yuppies eram pouco
agradáveis. Mas eram mais espontâneos.