* por Tom Coelho
* Tom Coelho, com formação em Economia
pela FEA/USP, Publicidade pela ESPM/SP, especialização
em Marketing pela MMS/SP e em Qualidade de Vida no Trabalho pela FIA-FEA/USP,
é empresário, consultor, professor universitário,
escritor e palestrante. Diretor da Infinity Consulting e Diretor Estadual
do NJE/Ciesp. Contatos através do e-mail
atendimento@tomcoelho.com.br.
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http://www.tomcoelho.com.br.
Dicionários
e enciclopédias caíram em desuso e a internet está
formando estudantes que não lêem, não escrevem e
que usam de um comodismo por vezes travestido de oportunismo para fazer
pesquisa acadêmica.
Preguiça Acadêmica
“Nada fazer é o caminho certo para não
ser ninguém.”
(Nathiel Hower)
Ela foi lançada em 1964 e teve sua primeira
edição esgotada em apenas dez meses. Rapidamente tornou-se
não apenas um objeto de desejo, mas um instrumento singular de
apoio educacional. Nos anos setenta e até meados dos oitenta,
foi o melhor presente que pais poderiam conferir a seus filhos, muitas
vezes adquirida com dificuldade mediante pagamento parcelado. Estou
falando da Enciclopédia Barsa.
Lembro-me daquela coleção com dezesseis
livros de capas vermelhas e letras douradas que me auxiliava nas tarefas
escolares e me abria as portas para um mundo surpreendente esperando
para ser desvendado. O atlas geográfico suscitou-me a curiosidade
por países, bandeiras, moedas e idiomas. E as pesquisas aos diversos
verbetes estimulavam o prazer pela leitura e, por conseguinte, pela
escrita, uma vez que os temas consultados tinham que ser relatados num
caderno ou em atividade acadêmica para ser entregue.
Com o advento da internet as enciclopédias caíram
em desuso. Hoje, um estudante não precisa mais folhear páginas
a procura de uma informação. Basta acessar um site de
busca para localizar o tema de seu interesse, muitas vezes com milhares
de links relevantes. Depois, é copiar e colar o texto, imprimindo-o
e dando por encerrada a missão.
Neste processo, há muitas perdas. O prazer pela
leitura se dissipa. Jornais, revistas e livros são proporcionalmente
veículos menos utilizados. E o hábito da escrita também
se esvai. Papel e caneta são substituídos por processadores
de texto. A emoção e a personalidade presentes na caligrafia
dão lugar à frieza dos bits e bytes.
Mas a facilidade de acesso à informação
também trouxe consigo um efeito colateral: os jovens estão
ficando mais indolentes e apáticos. Quase diariamente recebo
mensagens de universitários solicitando artigos, ensaios, gráficos
ou qualquer tipo de material que possa ajudá-los em um trabalho
acadêmico ou na elaboração de sua monografia. Há
ocasiões em que estes pedidos chegam de forma serena e consciente,
deixando claro que minha eventual contribuição será
acessória, complementar à atividade que desenvolvem.
Todavia, há circunstâncias nas quais os
pedidos que me visitam vão desde a definição de
uma palavra que pode ser encontrada nos dicionários (estes, também
em desuso) até a mera transcrição, na íntegra,
de uma tarefa proposta, incluindo data para entrega e regras para apresentação.
Assim, o estudante encaminha as questões tal como lhe foram formuladas,
esperando respostas prontas que possam eximi-lo do trabalho de pesquisar,
ler, compilar, enfim, estudar.
Esta verdadeira febre assola também as chamadas
comunidades virtuais. Quem participa de grupos ou fóruns temáticos
de discussão, sabem o que estou dizendo. E, neste caso, a conduta
se estende também a profissionais à caça de planilhas,
testes de avaliação, dinâmicas de grupos, entre
outros.
Informação e conhecimento devem ser compartilhados.
Por isso, jamais deixo sem resposta um leitor, qualquer seja sua demanda.
Mas vejo com preocupação este comodismo, às vezes
travestido de oportunismo, porque me faz lembrar Confúcio que
dizia: “A preguiça anda tão devagar que a pobreza
facilmente a alcança".