Então veja o que diz o professor Ben Shapiro,
da Universidade de Harvard, um dos maiores
especialistas
em vendas do mundo.
por Mikhail Lopes
Pequenas empresas Grandes Negócios
Ben Shapiro, o sujeito da foto ao lado, pode não entender
nada de gravatas - pelo menos a julgar pela que leva empertigada
ao pescoço -, mas é um dos maiores especialistas em
vendas do mundo. Professor de marketing da Harvard Business School
há mais de 30 anos, é também autor ou co-autor
de 14 livros, incluindo 'Conquistando Clientes' e 'Mantendo Clientes',
publicados no Brasil pela editora Makron (ambos esgotados). Ele
será um dos cinco palestrantes do II Fórum Mundial
de Marketing e Vendas, que ocorrerá em 28 e 29 de junho em
São Paulo, promovido pelo HSM Group.
Shapiro nasceu há 62 anos em Lynn, nas cercanias de Boston,
no estado americano de Massachusetts. É casado há
40 anos, tem um filho de 38 e uma neta de cinco. Formou-se em Engenharia
Química na Universidade de Michigan e concluiu um MBA com
distinção e um PhD em Administração
em Harvard. De seu escritório em Massachusetts, ele falou
por telefone a Pequenas Empresas & Grandes Negócios sobre
o perfil do vendedor competente, por que acredita que nem todos
os clientes são iguais e no que ele presta atenção
quando entra numa loja.
Qual o perfil do bom vendedor?
Existem três traços de personalidade que definem os
vendedores competentes. O primeiro deles é o ego de vendedor.
Trata-se de um senso de competitividade, uma vontade de vencer,
de fechar uma venda. A segunda característica é uma
capacidade de assimilar respostas negativas. Se há quatro
pessoas competindo para fazer uma venda, apenas uma ouvirá
um sim. Para ser um bom vendedor, você precisa ser durão
o bastante para se recuperar do não. O terceiro traço
é a empatia, que permite entender outras pessoas, saber como
elas reagirão ao que você disser. Isso ajuda a saber
o que dizer em uma situação de venda.
O senhor já escreveu artigos dizendo que não
é possível agradar a todos os clientes.
Por quê?
É improvável que uma empresa tenha produtos que todo
mundo queira. Você pode gostar de filé; eu gosto de
carneiro. Você pode ser um sujeito grande e precisar de roupas
grandes. Eu sou baixinho e preciso de roupas menores. Uma das tarefas
mais importantes de quem vende é avaliar que produtos vai
vender e para quais clientes. A esquizofrenia nos negócios
é fatal.
Então é preciso selecionar os clientes.
Como se faz isso?
O truque é pensar: para quais clientes eu consigo oferecer
algo muito, muito especial? Quem realmente precisa do que estou
vendendo? Se eu fosse alijado do negócio, quem sentiria a
minha falta? Quem choraria no meu funeral? Depois que descobrir
quem são esses clientes, deve se concentrar neles e não
perder tempo com os demais.
O senhor escreveu que um vendedor precisa dar razões
ao cliente para comprar e continuar comprando sempre. Por quê?
Depois que você vende, o próximo passo é continuar
a servir os clientes. E a melhor maneira de fazer isso é
oferecer um serviço muito bom. Um garçom em um bom
restaurante, por exemplo, pergunta se o filé está
no ponto que você pediu ou se a refeição está
boa. O vendedor deve estar constantemente presente para eliminar
qualquer desprazer. O natural é que o cliente não
consuma e a sua missão é fazer com que ele compre
e continue comprando. O vendedor tem de trabalhar para manter o
cliente entusiasmado, feliz.
Para conseguir isso, é importante se diferenciar
da concorrência, certo?
Quanto mais diferente dos concorrentes você for, maior probabilidade
terá de definir preços e ganhar mais dinheiro do que
qualquer um. Meu exemplo favorito para isso é a Dell Computer.
Quando Michael Dell começou a empresa, disse para si mesmo:
'todos os computadores são iguais. O que difere um fabricante
do outro é a forma como eles se relacionam com os consumidores.
É aí que eu serei diferente: venderei diretamente
aos compradores. Produzirei um computador somente depois que ele
tiver sido encomendado. Porque computadores são como bananas:
seu prazo de validade é curto'. Dell se saiu muito bem, porque
ele tinha claro que queria ser diferente. E porque era diferente,
conseguiu prosperar mais que outras empresas do ramo.
O senhor tem dito que a retenção de clientes
está intimamente ligada à retenção de
funcionários. Por quê?
Se você entra numa loja e os vendedores te conhecem, sabem
de antemão do que você gosta, podem ser muito mais
úteis. Mas se a rotatividade de funcionários é
grande, se eles estão sempre sendo substituídos por
gente nova, nunca poderão ser bem treinados. Eu vou a Nova
York uma vez por mês e sempre fico hospedado no mesmo lugar.
É um hotel pequeno e, quando o porteiro me vê, abre
a porta e diz: 'Senhor Shapiro, é muito bom vê-lo novamente'.
Eu gosto daquilo. Me faz sentir que sou bem-vindo. Por isso é
tão importante manter os funcionários. Eles detêm
as informações, os relacionamentos com os clientes.
Se você retém os funcionários, consegue reter
também os clientes.
Vendedor esperto é vendedor honesto?
É claro. A diferença entre um vendedor e um trambiqueiro
é a honestidade. Se você se relaciona com os mesmos
clientes regularmente, eles perceberão se você mentir.
Você se queima se disser que o produto será enviado
amanhã, e ele não for; se disser que o produto faz
algo que ele não faz... Uma das características mais
valiosas que um vendedor deve ter é um profundo senso de
integridade.
'É importante manter os funcionários porque são
eles que se relacionam com os clientes. Quando você faz isso,
então consegue reter também os clientes'
Em que o senhor presta atenção quando entra
em uma loja para comprar algo?
Muitas coisas. Primeiro, antes mesmo de entrar na loja, falo com
meus amigos para checar se eles a conhecem. Se eles me dizem que
os vendedores não falam a verdade, as mercadorias não
são de primeira, as entregas não são pontuais,
nem chego a ir à loja. O contrário ocorre se dizem
que é uma boa loja, onde os vendedores te dão toda
a atenção. O boca-a-boca é muito importante.
Quando estou dentro da loja, faço julgamentos o tempo todo.
Se é uma loja bagunçada, tenho a impressão
de que provavelmente não cuidarão bem do meu pedido.
É melhor que vendam muito barato para compensar. Se é
uma loja organizada, posso até topar pagar um pouco mais
porque imagino que a mercadoria e o serviço serão
melhores. Avalio também se consigo encontrar o que quero.
Além disso, se o vendedor é mal-humorado, rude, mentiroso,
o recado que a empresa me passa é que não sou importante.
Por outro lado, se eu entro numa butique e compro três ternos,
acho legal se o vendedor me ligar uma semana depois da entrega para
perguntar se gostei das roupas, se o corte estava de acordo... Se
isso acontece, é provável que eu volte à loja
no futuro e conte aos meus amigos como a experiência foi boa.
O senhor já trabalhou como vendedor?
No segundo grau, eu trabalhei numa farmácia. Depois fui vendedor
de roupas masculinas em uma loja de departamentos. Quando terminei
meu MBA, assumi como gerente de marketing de uma empresa muito pequena,
o que significava que na prática eu tinha de ir a campo falar
com os clientes e vender.
'Se o vendedor é mal-humorado, rude, mentiroso, o recado
que a empresa me passa é que não sou importante '
O que aprendeu com isso?
Primeiro, aprendi que realmente gosto de vender, o que eu nunca
pensei que gostaria, porque sou tímido. Mas descobri que
me agrada ajudar as pessoas a resolver seus problemas. Eu gostava
também de ganhar a competição para fechar uma
venda. E aprendi a ouvir melhor, porque percebi que precisava entender
profundamente o cliente. Foi uma grande experiência.
O senhor tem um filho e uma neta. Ensinou algo a eles sobre
como comprar e vender?
À medida que nosso filho foi crescendo e tínhamos
de decidir para onde ir nas férias, por exemplo, procuramos
envolvê-lo no processo. Acreditávamos que ele precisava
aprender como ser um bom consumidor, como medir o valor dos produtos
e serviços. Mas ele não tem o ego de vendedor: é
professor de Ciências no primário. Dias atrás
comemoramos o aniversário de cinco anos de minha neta e a
levamos para comprar uma bicicleta. Tentamos fazê-la entender
que ela deveria buscar fazer a melhor escolha possível, de
forma que ficasse feliz no final. Ela experimentou vários
modelos, mas se decidiu rápido, porque já sabia o
que queria: uma bicicleta roxa.
Ben Shapiro
Idade: 62 anos
O que faz: É professor de marketing da Harvard
Business School há mais de 30 anos e autor ou co-autor de
14 livros de negócios.
O que pensa: Diz que as empresas precisam saber
selecionar seus clientes e que o bom vendedor deve gostar de competir,
ter empatia com o freguês e saber ouvir não.